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PROF. MONIZ PEREIRA
COMISSÃO MUNICIPAL DE TOPONÍMIA
Desportista
1921-2016
Junho 2017
O Prof. Mário Moniz Pereira é um símbolo maior do desporto nacional.
A sua dedicação ao desenvolvimento do Desporto e do Atletismo em
Portugal, da qual resultou, entre outros feitos, a obtenção pelos atletas
que treinou da primeira medalha de Atletismo a nível internacional e da
primeira medalha de ouro nos Jogos Olímpicos, granjeou- lhe o epíteto de
“Senhor Atletismo”. Também a sua ligação ao Fado, enquanto compositor,
ficará para sempre na memória colectiva.
Assim, a Câmara Municipal de Lisboa tem a honra de homenagear este
ilustre lisboeta numa das ruas da nossa cidade recordando que a sua vida,
como se canta num tema seu, “Valeu a pena”.
Lisboa, junho de 2017
Catarina Vaz Pinto
Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa
2
3
MONIZ PEREIRA
Mário Alberto Freire Moniz Pereira nasceu em Lisboa no dia 11 de feve-
reiro de 1921 e foi um desportista que se destacou como atleta, treinador,
dirigente e professor, conhecido como Senhor Atletismo, para além de ter
sido também autor de música e de letras de canções e fados.
Nascido numa família abastada, cujo pai se dedicava à importação de au-
tomóveis, Mário Moniz Pereira já era atleta do Sporting quando escolheu
estudar no INEF – Instituto Nacional de Educação Física 1 onde comple-
tou a sua licenciatura em Educação Física e nesse estabelecimento de ensi-
no passou a ter funções docentes durante 27 anos, apesar de contrariar o
seu avô, que como conta o Professor (…) era à antiga portuguesa, dizia: “O
Nuno é oficial do Exército e o Mário anda a estudar para palhaço!” (risos) O
Instituto Nacional de Educação Física era uma fantochada para ele, mas não
fiquei muito ofendido porque também gosto de palhaços. 2
Após concluir a licenciatura cumpriu o serviço militar, onde praticou mo-
dalidades como Equitação, Tiro, Esgrima e Natação, chegando também a
ser professor nos Pupilos do Exército 3.
Ele próprio um atleta, praticou diversas modalidades como o Ténis de Mesa
(desde 1939 no Sporting Clube de Portugal), o Andebol, o Basquetebol, o
Futebol, a Ginástica no Sporting, o Hóquei em Patins (no Hóquei Clube de
Sintra e no Sporting Clube de Portugal na época de 1942/43), o Voleibol e o
Atletismo, sendo nestas duas últimas modalidades que mais se notabilizou.
No Voleibol foi campeão de Lisboa pelo Ginásio Clube de Lisboa, campeão
de Portugal pelo Sporting Clube de Portugal em 1954 e 1956, campeão da
I Divisão ao serviço do CDUL. Foi capitão da equipa leonina e depois trei-
(1) Hoje é a Faculdade de Motricidade Humana.
(2) (2013), «Moniz Pereira: ‘Eu derrotei os impossíveis’».
(3) A Rotunda Pupilos do Exército está fixada na freguesia de São Domingos de Benfica
desde a publicação do Edital de 24/09/2009.
4
nador das equipas masculina e feminina. Foi ainda treinador de voleibol do
CDUL, na época que o seu filho jogava neste clube, para o qual ele próprio
contribuíra para a fundação.
No Atletismo, sagrou-se Campeão Universitário de Portugal no Triplo Sal-
to, bem como recordista nacional, campeão regional e nacional de salto em
altura, triplo salto e salto em comprimento.
Continuou como praticante de Atletismo até à categoria de Veteranos onde
foi recordista ibérico de salto em comprimento, medalha de bronze na pro-
va de salto em comprimento e triplo salto no Campeonato Mundial de Ve-
teranos em 1977 (Gotemburgo), assim como no Campeonato Europeu de
1982 (Estrasburgo), como ele próprio recordou: E fiz melhor marca do que
quando tinha 17 e era aluno do Liceu Camões, ficando em quarto lugar no
comprimento, com 5,64 metros. Aos 58 anos fiz 5,90 metros 4.
A sua ligação ao Sporting Clube de Portugal, do qual já era sócio desde
1922 5, também foi muito alimentada por um vizinho seu, conforme Moniz
Pereira salientou: Devo muito a um senhor chamado José Salazar Carreira
(…) Vivia na Avenida da República, ao pé do Saldanha, onde eu morei du-
(4) (2013), «Moniz Pereira: ‘Eu derrotei os impossíveis’».
(5) Ou seja, desde o seu 2º ano de vida.
Moniz Pereira na Pista Municipal de Atletismo Prof. Moniz Pereira em 2012
5
rante uns 25 anos. Era médico e tinha sido atleta do Sporting no voleibol, no
atletismo, no andebol e no rugby, sendo depois treinador destas modalidades
todas. Nas traseiras do prédio tínhamos um vaivém em que ele me empresta-
va revistas estrangeiras. Metia num saco e eu puxava, de varanda em varan-
da. Depois tocava uma campainha para avisar e devolvia-lhe. Se não fosse
6
ele, não teria feito nada do que consegui. Foi muito meu amigo e fiquei muito
triste quando ele faleceu. Pouco antes, ele disse à filha:
“Chamas cá o Mário, ele vai à biblioteca e escolhe os livros que quiser.”
Enchi o meu Volkswagen de livros muito importantes. Ainda tenho alguns
cá em casa. 6
Considerado o principal responsável pelas enormes conquistas conseguidas
no Atletismo português após o 25 de Abril, o Prof. Moniz Pereira tornou-
-se uma figura maior do atletismo de alta competição, defendendo ele que
apenas cumprira o lema que partilhava com o seu clube, o Sporting Clube
de Portugal: esforço, dedicação, devoção e glória.
O Senhor Atletismo foi um fazedor de campeões da modalidade, em que
somou os nomes de Carlos Lopes, Fernando Mamede, dos irmãos Do-
mingos e Dionísio Castro, Naide Gomes ou Álvaro Dias, Aniceto Simões,
Armando Aldegalega, Hélder de Jesus, José Carvalho e Manuel de Oliveira 7,
entre outros, cujos feitos colocaram Portugal na ribalta do desporto mun-
dial. Carlos Lopes que ganhara três Campeonatos Mundiais de Corta Mato
conseguiu ainda a 1ª medalha olímpica (prata) do Atletismo português, em
1976, em Montreal, assim como o 1º ouro olímpico para Portugal, na Ma-
ratona de Los Angeles de 13 de agosto de 1984. Fernando Mamede bateu o
recorde mundial dos 10000 metros por 9 segundos em Estocolmo (a 2 de
julho de 1984).
A emoção que o país sentiu com Carlos Lopes foi partilhada por Moniz
Pereira que confessou Chorei que nem uma Madalena no dia em que acon-
teceu. Toda a gente dizia que era impossível e eu derrotei os impossíveis, re-
cordando ainda que Uma vez perguntaram-me o meu objectivo número um
e eu disse: “Que um dia um atleta treinado por mim vá aos Jogos Olímpicos
ganhar a medalha de ouro e que eu ouça o hino português ouvido em toda
a parte do Mundo.” Responderam que era maluco, mas disse que ia tentar.
Demorou 39 anos. 8
(6) José Salazar Carreira chegou a ser Presidente do Sporting Clube de Portugal de 1925 a 1927.
(7) Foi nos Jogos Olímpicos de Roma, em 1956, e bateu o recorde de Portugal dos 5000 metros.
(8) (2013), «Moniz Pereira: ‘Eu derrotei os impossíveis’».
7
O Prof. Moniz Pereira pugnou por melhores condições para os atletas para
garantir o aumento do seu rendimento desportivo, situação que ele próprio
narra: A única vez que o Governo português me deu a responsabilidade de fa-
zer a preparação dos Jogos Olímpicos foi em 1975, antes de Montreal. Fizeram
tudo o que lhes disse. Os atletas que trabalhavam tinham de ser pagos pelo
Estado para poderem treinar duas vezes por dia. 9
O Senhor Atletismo impunha uma disciplina rígida de treinos mas que
motivava os atletas, como ele explicou: Percebi que acreditavam em mim e
faziam sempre tudo quanto eu desejei fazer. Nunca faltaram aos treinos e eu
nisso era intransigente. Nunca faltei a um treino e nunca cheguei depois das
nove da manhã. Dava o exemplo. (…). Se estivesse a chover torrencialmente
eu não ficava nas bancadas. Eles chegavam, iam para a bancada e viam: “Lá
está o gajo.” 10
Assim criava o Prof. Moniz Pereira uma empatia única com os atletas que
treinava. No início de cada sessão, a primeira pergunta era sempre a mes-
ma: Continuamos todos contentes por termos nascido?
Na Federação Portuguesa de Atletismo desempenhou as funções de diretor
(9) (2013), «Moniz Pereira: ‘Eu derrotei os impossíveis’».
(10) Idem (9).
Tributo a Moniz Pereira em 23 de maio de 2011
8
técnico e Selecionador Nacional de Atletismo. E foi também nessa qualida-
de que esteve presente em 12 edições dos Jogos Olímpicos, de 1948 a 2012,
em 5 Campeonatos do Mundo, 13 Campeonatos da Europa, 15 Taças da
Europa e em 22 Campeonatos do Mundo de Crosse.
Desde 1945 que o Prof. Moniz Pereira era treinador da equipa de Atletismo
do Sporting, e para o seu clube conquistou 30 Campeonatos Nacionais de
Pista Masculinos (entre 1946 e 1988), 24 Campeonatos Nacionais de Pista
Femininos (entre 1946 e 1987), 33 Campeonatos Nacionais de Corta Mato -
Masculinos (entre 1948 e 1991) e 12 Taças dos Clubes Campeões Europeus
de Corta Mato (entre 1977 e 1992). Como Moniz Pereira reconhece Foi o
atletismo que deu a conhecer ao Mundo o nome do Sporting e isso não se pode
apagar da nossa história. 11
Na cidade de Lisboa, desempenhou ainda funções de técnico de Atletismo
no Ginásio Clube de Lisboa, no Centro Desportivo Universitário de Lisboa
e no Ginásio Clube Português 12.
(11) SANTOS, Norberto (2012), «Moniz Pereira».
(12) Lisboa tem uma Praça Ginásio Clube Português, desde a publicação do Edital de
10/08/1981, fronteira à sede desse clube.
9
(13) Fernando Vaz dá nome a uma Rua da Freguesia do Lumiar desde a publicação do Edital
de 29/12/1989.
No seu clube do coração, também desempenhou funções dirigentes. Pri-
meiro, como Secretário Técnico da Direção de Góis Mota, depois com João
Rocha como vice-presidente do Conselho Diretivo do Sporting para as Mo-
dalidades Amadoras, cargo que desempenhou de 2 de junho de 1995 até 26
de março de 2011. Integrou ainda a Comissão de Honra do Centenário do
Sporting Clube de Portugal.
No Voleibol, foi Selecionador Nacional, Presidente da Comissão Central de
Árbitros de Voleibol e Árbitro Internacional no Campeonato do Mundo de
Paris (1956).
Como preparador físico também chegou a ser Campeão Nacional em Fu-
tebol, com a equipa do Sporting em 1970/71 e com a Seleção Nacional,
quando esta foi liderada por Fernando Vaz 13.
Mas o Prof. Moniz Pereira desempenhou ainda mais funções na área do
desporto no nosso país, como quando dirigiu o Estádio Nacional (1976 a
1983) e presidiu à Comissão de Apoio à Alta Competição (1982).
Moniz Pereira no Museu do Desporto
10
O Senhor Atletismo foi ainda o autor dos livros Lições de desportos atléti-
cos (1946), Corridas de estafetas (1952), Manual de Atletismo do Conselho
Providencial de Educação Física de Angola (1961) e Carlos Lopes e a Escola
Portuguesa do Meio Fundo (1981).
Na sua vida somou inúmeras e diversas distinções que enumeramos por
ordem cronológica:
• 1964 – Prémio Stromp na categoria Técnico Amador de Atletismo;
• 1976 - Medalha de Mérito Desportivo;
• 1981 – Comenda da Ordem do Infante D. Henrique (9 de abril);
• 1984 – Medalha de Mérito Desportivo; Comenda da Ordem da Instrução
Pública (26 de outubro);
• 1985 – Medalha Municipal de Mérito, Grau Ouro da Câmara Municipal
de Lisboa; Sócio Honorário da Associação Internacional de Treinadores
de Atletismo; Conselheiro da Universidade Técnica de Lisboa;
• 1988 – Ordem Olímpica;
• 1991 – Grande-Oficialato da Ordem do Infante D. Henrique (26 de
março);
• 2000 – Leão de Ouro com Palma (30 de outubro), o mais alto galardão do
Sporting Clube de Portugal;
• 2001 - Emblema de Ouro da Associação Europeia de Atletismo, a mais
alta condecoração individual na modalidade; o seu nome atribuído à pista
de atletismo do antigo Estádio José Alvalade; Doutor Honoris Causa em
Desporto, pela Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de
Lisboa;
• 2007 – Medalha de Honra da Cidade de Lisboa;
• 2007 - O seu nome atribuído à Pista Municipal de Atletismo de Lisboa, na
freguesia de Santa Clara 14;
• 2010 – Sandra Guimarães publica Mário Moniz Pereira – A História de
uma Vida;
• 2012 – O seu nome atribuído ao Centro de Alto Rendimento do Atletismo,
que estava projetado para funcionar no Complexo Desportivo de Odivelas,
embora não se tenha concretizado o espaço (30 de setembro);
(14) Na Rua João Amaral.
11
• 2013 – Globo de Ouro na categoria de Mérito e Excelência, organização
da revista Caras, SIC e SIC Caras;
• 2015 - Prémio Leões Honoris Sporting na categoria Honra Especial (1 de
julho);
• 2015 – Homenagem na Sporting TV;
• 2016 - Fernando Correia publica Moniz Pereira – Vida e obra do Senhor
Atletismo (24 de agosto);
• 2016 – Mural de Arte Urbana na Pista de Atletismo Municipal Professor
Moniz Pereira, da autoria do artista Nomen (setembro);
• 2016 – Prémio Stromp na categoria Saudade (dezembro);
• 2017 – O seu nome foi atribuído ao Meeting Mário Moniz Pereira,
promovido pela Federação Portuguesa de Atletismo.
Nos últimos anos, Mário Moniz Pereira abandonou o seu ritmo frenético e
foi ficando mais em casa, no Bairro de São Miguel, dedicando mais do seu
tempo a ouvir música. E assim, em 31 de julho de 2016, o sócio n.º 2 do
Sporting Clube de Portugal faleceu vítima de pneumonia, aos 95 anos de
idade, no Hospital Curry Cabral, em Lisboa.
Falta ainda abordar uma faceta de Mário Moniz Pereira, homem dedicado
firmemente ao desporto mas também profundamente empenhado na vida
e na realidade à sua volta que até o levou até a ser colaborador da Rádio Re-
nascença nos anos oitenta do séc. XX: a de compositor, que o acompanhou
toda a vida.
Moniz Pereira com Tozé Brito e Carlos Lopes
12
A Sociedade Portuguesa de Autores regista 114 temas da sua autoria, entre
músicas e letras, sendo a maioria fados.
Moniz Pereira era senhor de um apurado sentido musical, tendo aprendido
a tocar de ouvido. Aos 5 anos de idade surpreendeu a família ao pegar num
violino e tocar quase sem erros. Ao longo da vida, usou o piano herdado
da família para compor. Mário Moniz contou em 2013 um episódio dessa
paixão antiga: Um dos meus avós, Raul Lopes Freire, era dono do Central
Cinema, ao fim da Avenida da Liberdade. Passavam filmes alemães e eu ali
não pagava nada. Entrava e saía quando me apetecia. De alemão não per-
cebia nada, mas chegava a casa e tocava ao piano a música que ouvira. 15»
Frequentador do meio fadista alfacinha, desde a Toca 16 ao Faia 17, ambos
no Bairro Alto, num dia da década de 50 do séc. XX, estava no restaurante
A Viela 18 e após ouvir um fado de que gostou muito levantou-se da mesa e
repetiu-o nas teclas do piano ao canto da sala, de que resultou o desafio feito
por muitos presentes de compor e escrever fado.
(15) (2013), «Moniz Pereira: ‘Eu derrotei os impossíveis’».
(16) Era a casa de Fados de Carlos Ramos, na Travessa do Fiéis de Deus nº 34.
(17) Era a casa de Fados de Lucília do Carmo, mãe de Carlos do Carmo, no nº 60 da Rua
da Barroca.
(18) Era na Rua das Taipas.
Moniz Pereira no Museu do Desporto
13
Alguns dos fados de Moniz Pereira, como Fado Varina, Rosa da
Madragoa, Rosa da Noite, Não me Conformo ou Leio em Teus Olhos, foram
interpretados por nomes conhecidos do panorama nacional como Ada de
Castro, Amália Rodrigues 19, Camané, Carlos do Carmo, Carlos Ramos,
CelesteRodrigues,DeolindaRodrigues,FernandoTordo,JoanaAmendoeira,
João Braga, Lucília do Carmo 20, Maria Armanda, Maria da Fé, Paulo de
Carvalho, Pedro Moutinho, Rodrigo ou Tony de Matos.
Em 2002 foi mesmo editada uma compilação intitulada Moniz Pereira:
40 Anos de Música, onde assinou a música de todos os 22 temas, incluindo
letras de outros autores como Ary dos Santos, Emílio Vasco, Fernando Tordo,
João Dias, Júlio de Sousa, Rosa Lobato Faria ou Vasco de Lima Couto 21.
Valeu a Pena, o fado cuja letra e música criou em 1964, foi talvez o seu tema
mais popular, com inúmeros fadistas a interpretá-lo, e aqui reproduzimos
a sua letra por ser representativa da forma de estar na vida do Prof. Moniz
Pereira:
Com voz serena
perguntaram-me ao ouvido
valeu a pena
vir ao mundo e ter nascido
com lealdade
vou responder, mas primeiro
consultei meu travesseiro
sobre a verdade
tive porém, que lembrar o meu passado
horas boas do meu fado
e as más também
Valeu a pena
ter vivido o que vivi
(19) O Jardim Amália Rodrigues existe desde a publicação do Edital de municipal de
18/04/2000, no topo do Parque Eduardo VII.
(20) Lucília do Carmo dá nome a uma Rua de Caselas desde 20/09/1999.
(21) Vasco de Lima Couto está perpetuado numa artéria do Bairro dos Sete Céus desde a
publicação do Edital de 30/01/1987.
14
valeu a pena
ter sofrido o que sofri
valeu a pena
ter amado quem amei
ter beijado quem beijei
valeu a pena
Valeu a pena
ter sonhado o que sonhei
valeu a pena
ter passado o que passei
valeu a pena
conhecer quem conheci
ter sentido o que senti
(22) A Rua Francisco Stromp nasceu do Edital municipal de 26/03/1971
valeu a pena
valeu a pena
ter cantado o que cantei
ter chorado o que chorei
valeu a pena
Valeu a pena
ter amado quem amei
ter beijado quem beijei
valeu a pena
valeu a pena
ter cantado o que cantei
ter chorado o que chorei
valeu a pena
Refira-se finalmente que a sua neta Carmo também lhe seguiu as pisadas no
Fado, conhecida que é pelo nome de Carminho.
Moniz Pereira viveu a vida com paixão, aquela que transmitia nos treinos
quando a primeira pergunta que fazia era Continuamos todos contentes por
termos nascido?, com a paixão adubada pela felicidade que confessou: Toda
a vida fiz aquilo que gosto, e ainda por cima pagavam-me.
A edilidade lisboeta entendeu dar o nome do Prof. Mário Moniz Pereira
a uma Rua da freguesia do Lumiar, junto ao Estádio de Alvalade e à Rua
Francisco Stromp 22, inserido numa homenagem conjunta ao Sporting
Clube de Portugal, na freguesia onde nasceu o clube, com a inauguração
simultânea também da Rotunda Visconde de Alvalade.
15
BIBLIOGRAFIA
DOCUMENTAL:
• Voto de Pesar apresentado pelo Grupo Municipal do PS da Assembleia Municipal de
Lisboa, aprovado por unanimidade na Reunião de 13 de setembro de 2016
• Comunicado do Presidente da CML, Fernando Medina, de 2 de agosto de 2016, a manifestar
a intenção de atribuir o nome do Prof. Moniz Pereira a um arruamento da cidade
• Proposta subscrita pela Vereadora Catarina Vaz Pinto para atribuir a Rua Moniz
Pereira ao arruamento circundante ao Estádio de Alvalade, aprovada por unanimidade, na
Sessão de Câmara de 31 de maio de 2017
PUBLICADA:
• (s/d), «Moniz Pereira», Sporting Canal, acedido em fevereiro de 2017 em http://www.
sportingcanal.com/?p=1251
• (2008), «Moniz Pereira», wikiSporting, 10 de julho de 2008, acedido em fevereiro de 2017
em http://www.forumscp.com/wiki/index.php?title=Moniz_Pereirahttp://www.forumscp.
com/wiki/index.php?title=Moniz_Pereira
• (2013), «Moniz Pereira: ‘Eu derrotei os impossíveis’», Correio da Manhã, 16 de junho de
2013
• (2016) Declarações de Bruno de Carvalho sobre Prof. Mário Moniz Pereira, acedido em
fevereiro de 2017 em https://www.youtube.com/watch?v=4oTvqOToEWE
• (2016), «1997/02/18 | Conversa com Mário Moniz Pereira», acedido em fevereiro de 2017
em https://www.youtube.com/watch?v=w9T67EVaCX0
• (2016), «Mário Moniz Pereira», Museu do Fado, agosto de 2016, acedido em fevereiro de
2017 em http://www.museudofado.pt/personalidades/detalhes.php?id=433
• (2016), , «Morreu o “Sr. Atletismo”. Moniz Pereira tinha 95 anos», Rádio Renascença, 31 de
julho de 2016, acedido em fevereiro de 2017 em http://rr.sapo.pt/noticia/60308/morreu_o_
sr_atletismo_moniz_pereira_tinha_95_anos
• DIAS, João de Almeida (2016), «Morreu Moniz Pereira, o histórico do Atletismo»,
Observador , 31 de julho de 2016
• MARTINS, Filomena (2016), «Autor de ‘Valeu a Pena’ Além de Fazedor de campeões, era
músico e compositor», Observador , 31 de julho de 2016
• PIMENTEL, Tiago (2016), «Moniz Pereira (1921-2016), o homem que fez Portugal
acreditar em ‘coisas impossíveis’ », Público, 31 de julho de 2016
• RPS (2016), «Moniz Moniz Pereira. O Senhor Atletismo chegou à meta», É Desporto,
1 de agosto de 2016
• SANTOS, Norberto (2012), «Moniz Pereira», Record, 28 de julho de 2012
FICHA TÉCNICA
Edição | Câmara Municipal de Lisboa
Presidente | Fernando Medina
Pelouro da Cultura | Catarina Vaz Pinto
Direção Municipal de Cultura | Manuel Veiga
Departamento do Património Cultural | Jorge Ramos de Carvalho
Título | Moniz Pereira
Textos | Paula Machado
Design | Ernesto Matos
Tiragem | 250
Ano | 2017
Depósito Legal | 427852/17
Execução gráfica | Imprensa Municipal de Lisboa
Agradecimento | Ao Sporting Clube de Portugal pela cedência das fotografias
RUA PROF. MONIZ PEREIRA
Início (sul)
38°45’37.2”N 9°09’34.0”W
38.760332, -9.159445
Fim (norte)
38°45’44.8”N 9°09’36.0”W
38.762447, -9.159985
Senhor Atletismo Moniz Pereira

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Senhor Atletismo Moniz Pereira

  • 1. PROF. MONIZ PEREIRA COMISSÃO MUNICIPAL DE TOPONÍMIA Desportista 1921-2016 Junho 2017
  • 2.
  • 3. O Prof. Mário Moniz Pereira é um símbolo maior do desporto nacional. A sua dedicação ao desenvolvimento do Desporto e do Atletismo em Portugal, da qual resultou, entre outros feitos, a obtenção pelos atletas que treinou da primeira medalha de Atletismo a nível internacional e da primeira medalha de ouro nos Jogos Olímpicos, granjeou- lhe o epíteto de “Senhor Atletismo”. Também a sua ligação ao Fado, enquanto compositor, ficará para sempre na memória colectiva. Assim, a Câmara Municipal de Lisboa tem a honra de homenagear este ilustre lisboeta numa das ruas da nossa cidade recordando que a sua vida, como se canta num tema seu, “Valeu a pena”. Lisboa, junho de 2017 Catarina Vaz Pinto Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa
  • 4. 2
  • 5. 3 MONIZ PEREIRA Mário Alberto Freire Moniz Pereira nasceu em Lisboa no dia 11 de feve- reiro de 1921 e foi um desportista que se destacou como atleta, treinador, dirigente e professor, conhecido como Senhor Atletismo, para além de ter sido também autor de música e de letras de canções e fados. Nascido numa família abastada, cujo pai se dedicava à importação de au- tomóveis, Mário Moniz Pereira já era atleta do Sporting quando escolheu estudar no INEF – Instituto Nacional de Educação Física 1 onde comple- tou a sua licenciatura em Educação Física e nesse estabelecimento de ensi- no passou a ter funções docentes durante 27 anos, apesar de contrariar o seu avô, que como conta o Professor (…) era à antiga portuguesa, dizia: “O Nuno é oficial do Exército e o Mário anda a estudar para palhaço!” (risos) O Instituto Nacional de Educação Física era uma fantochada para ele, mas não fiquei muito ofendido porque também gosto de palhaços. 2 Após concluir a licenciatura cumpriu o serviço militar, onde praticou mo- dalidades como Equitação, Tiro, Esgrima e Natação, chegando também a ser professor nos Pupilos do Exército 3. Ele próprio um atleta, praticou diversas modalidades como o Ténis de Mesa (desde 1939 no Sporting Clube de Portugal), o Andebol, o Basquetebol, o Futebol, a Ginástica no Sporting, o Hóquei em Patins (no Hóquei Clube de Sintra e no Sporting Clube de Portugal na época de 1942/43), o Voleibol e o Atletismo, sendo nestas duas últimas modalidades que mais se notabilizou. No Voleibol foi campeão de Lisboa pelo Ginásio Clube de Lisboa, campeão de Portugal pelo Sporting Clube de Portugal em 1954 e 1956, campeão da I Divisão ao serviço do CDUL. Foi capitão da equipa leonina e depois trei- (1) Hoje é a Faculdade de Motricidade Humana. (2) (2013), «Moniz Pereira: ‘Eu derrotei os impossíveis’». (3) A Rotunda Pupilos do Exército está fixada na freguesia de São Domingos de Benfica desde a publicação do Edital de 24/09/2009.
  • 6. 4 nador das equipas masculina e feminina. Foi ainda treinador de voleibol do CDUL, na época que o seu filho jogava neste clube, para o qual ele próprio contribuíra para a fundação. No Atletismo, sagrou-se Campeão Universitário de Portugal no Triplo Sal- to, bem como recordista nacional, campeão regional e nacional de salto em altura, triplo salto e salto em comprimento. Continuou como praticante de Atletismo até à categoria de Veteranos onde foi recordista ibérico de salto em comprimento, medalha de bronze na pro- va de salto em comprimento e triplo salto no Campeonato Mundial de Ve- teranos em 1977 (Gotemburgo), assim como no Campeonato Europeu de 1982 (Estrasburgo), como ele próprio recordou: E fiz melhor marca do que quando tinha 17 e era aluno do Liceu Camões, ficando em quarto lugar no comprimento, com 5,64 metros. Aos 58 anos fiz 5,90 metros 4. A sua ligação ao Sporting Clube de Portugal, do qual já era sócio desde 1922 5, também foi muito alimentada por um vizinho seu, conforme Moniz Pereira salientou: Devo muito a um senhor chamado José Salazar Carreira (…) Vivia na Avenida da República, ao pé do Saldanha, onde eu morei du- (4) (2013), «Moniz Pereira: ‘Eu derrotei os impossíveis’». (5) Ou seja, desde o seu 2º ano de vida. Moniz Pereira na Pista Municipal de Atletismo Prof. Moniz Pereira em 2012
  • 7. 5 rante uns 25 anos. Era médico e tinha sido atleta do Sporting no voleibol, no atletismo, no andebol e no rugby, sendo depois treinador destas modalidades todas. Nas traseiras do prédio tínhamos um vaivém em que ele me empresta- va revistas estrangeiras. Metia num saco e eu puxava, de varanda em varan- da. Depois tocava uma campainha para avisar e devolvia-lhe. Se não fosse
  • 8. 6 ele, não teria feito nada do que consegui. Foi muito meu amigo e fiquei muito triste quando ele faleceu. Pouco antes, ele disse à filha: “Chamas cá o Mário, ele vai à biblioteca e escolhe os livros que quiser.” Enchi o meu Volkswagen de livros muito importantes. Ainda tenho alguns cá em casa. 6 Considerado o principal responsável pelas enormes conquistas conseguidas no Atletismo português após o 25 de Abril, o Prof. Moniz Pereira tornou- -se uma figura maior do atletismo de alta competição, defendendo ele que apenas cumprira o lema que partilhava com o seu clube, o Sporting Clube de Portugal: esforço, dedicação, devoção e glória. O Senhor Atletismo foi um fazedor de campeões da modalidade, em que somou os nomes de Carlos Lopes, Fernando Mamede, dos irmãos Do- mingos e Dionísio Castro, Naide Gomes ou Álvaro Dias, Aniceto Simões, Armando Aldegalega, Hélder de Jesus, José Carvalho e Manuel de Oliveira 7, entre outros, cujos feitos colocaram Portugal na ribalta do desporto mun- dial. Carlos Lopes que ganhara três Campeonatos Mundiais de Corta Mato conseguiu ainda a 1ª medalha olímpica (prata) do Atletismo português, em 1976, em Montreal, assim como o 1º ouro olímpico para Portugal, na Ma- ratona de Los Angeles de 13 de agosto de 1984. Fernando Mamede bateu o recorde mundial dos 10000 metros por 9 segundos em Estocolmo (a 2 de julho de 1984). A emoção que o país sentiu com Carlos Lopes foi partilhada por Moniz Pereira que confessou Chorei que nem uma Madalena no dia em que acon- teceu. Toda a gente dizia que era impossível e eu derrotei os impossíveis, re- cordando ainda que Uma vez perguntaram-me o meu objectivo número um e eu disse: “Que um dia um atleta treinado por mim vá aos Jogos Olímpicos ganhar a medalha de ouro e que eu ouça o hino português ouvido em toda a parte do Mundo.” Responderam que era maluco, mas disse que ia tentar. Demorou 39 anos. 8 (6) José Salazar Carreira chegou a ser Presidente do Sporting Clube de Portugal de 1925 a 1927. (7) Foi nos Jogos Olímpicos de Roma, em 1956, e bateu o recorde de Portugal dos 5000 metros. (8) (2013), «Moniz Pereira: ‘Eu derrotei os impossíveis’».
  • 9. 7 O Prof. Moniz Pereira pugnou por melhores condições para os atletas para garantir o aumento do seu rendimento desportivo, situação que ele próprio narra: A única vez que o Governo português me deu a responsabilidade de fa- zer a preparação dos Jogos Olímpicos foi em 1975, antes de Montreal. Fizeram tudo o que lhes disse. Os atletas que trabalhavam tinham de ser pagos pelo Estado para poderem treinar duas vezes por dia. 9 O Senhor Atletismo impunha uma disciplina rígida de treinos mas que motivava os atletas, como ele explicou: Percebi que acreditavam em mim e faziam sempre tudo quanto eu desejei fazer. Nunca faltaram aos treinos e eu nisso era intransigente. Nunca faltei a um treino e nunca cheguei depois das nove da manhã. Dava o exemplo. (…). Se estivesse a chover torrencialmente eu não ficava nas bancadas. Eles chegavam, iam para a bancada e viam: “Lá está o gajo.” 10 Assim criava o Prof. Moniz Pereira uma empatia única com os atletas que treinava. No início de cada sessão, a primeira pergunta era sempre a mes- ma: Continuamos todos contentes por termos nascido? Na Federação Portuguesa de Atletismo desempenhou as funções de diretor (9) (2013), «Moniz Pereira: ‘Eu derrotei os impossíveis’». (10) Idem (9). Tributo a Moniz Pereira em 23 de maio de 2011
  • 10. 8 técnico e Selecionador Nacional de Atletismo. E foi também nessa qualida- de que esteve presente em 12 edições dos Jogos Olímpicos, de 1948 a 2012, em 5 Campeonatos do Mundo, 13 Campeonatos da Europa, 15 Taças da Europa e em 22 Campeonatos do Mundo de Crosse. Desde 1945 que o Prof. Moniz Pereira era treinador da equipa de Atletismo do Sporting, e para o seu clube conquistou 30 Campeonatos Nacionais de Pista Masculinos (entre 1946 e 1988), 24 Campeonatos Nacionais de Pista Femininos (entre 1946 e 1987), 33 Campeonatos Nacionais de Corta Mato - Masculinos (entre 1948 e 1991) e 12 Taças dos Clubes Campeões Europeus de Corta Mato (entre 1977 e 1992). Como Moniz Pereira reconhece Foi o atletismo que deu a conhecer ao Mundo o nome do Sporting e isso não se pode apagar da nossa história. 11 Na cidade de Lisboa, desempenhou ainda funções de técnico de Atletismo no Ginásio Clube de Lisboa, no Centro Desportivo Universitário de Lisboa e no Ginásio Clube Português 12. (11) SANTOS, Norberto (2012), «Moniz Pereira». (12) Lisboa tem uma Praça Ginásio Clube Português, desde a publicação do Edital de 10/08/1981, fronteira à sede desse clube.
  • 11. 9 (13) Fernando Vaz dá nome a uma Rua da Freguesia do Lumiar desde a publicação do Edital de 29/12/1989. No seu clube do coração, também desempenhou funções dirigentes. Pri- meiro, como Secretário Técnico da Direção de Góis Mota, depois com João Rocha como vice-presidente do Conselho Diretivo do Sporting para as Mo- dalidades Amadoras, cargo que desempenhou de 2 de junho de 1995 até 26 de março de 2011. Integrou ainda a Comissão de Honra do Centenário do Sporting Clube de Portugal. No Voleibol, foi Selecionador Nacional, Presidente da Comissão Central de Árbitros de Voleibol e Árbitro Internacional no Campeonato do Mundo de Paris (1956). Como preparador físico também chegou a ser Campeão Nacional em Fu- tebol, com a equipa do Sporting em 1970/71 e com a Seleção Nacional, quando esta foi liderada por Fernando Vaz 13. Mas o Prof. Moniz Pereira desempenhou ainda mais funções na área do desporto no nosso país, como quando dirigiu o Estádio Nacional (1976 a 1983) e presidiu à Comissão de Apoio à Alta Competição (1982). Moniz Pereira no Museu do Desporto
  • 12. 10 O Senhor Atletismo foi ainda o autor dos livros Lições de desportos atléti- cos (1946), Corridas de estafetas (1952), Manual de Atletismo do Conselho Providencial de Educação Física de Angola (1961) e Carlos Lopes e a Escola Portuguesa do Meio Fundo (1981). Na sua vida somou inúmeras e diversas distinções que enumeramos por ordem cronológica: • 1964 – Prémio Stromp na categoria Técnico Amador de Atletismo; • 1976 - Medalha de Mérito Desportivo; • 1981 – Comenda da Ordem do Infante D. Henrique (9 de abril); • 1984 – Medalha de Mérito Desportivo; Comenda da Ordem da Instrução Pública (26 de outubro); • 1985 – Medalha Municipal de Mérito, Grau Ouro da Câmara Municipal de Lisboa; Sócio Honorário da Associação Internacional de Treinadores de Atletismo; Conselheiro da Universidade Técnica de Lisboa; • 1988 – Ordem Olímpica; • 1991 – Grande-Oficialato da Ordem do Infante D. Henrique (26 de março); • 2000 – Leão de Ouro com Palma (30 de outubro), o mais alto galardão do Sporting Clube de Portugal; • 2001 - Emblema de Ouro da Associação Europeia de Atletismo, a mais alta condecoração individual na modalidade; o seu nome atribuído à pista de atletismo do antigo Estádio José Alvalade; Doutor Honoris Causa em Desporto, pela Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa; • 2007 – Medalha de Honra da Cidade de Lisboa; • 2007 - O seu nome atribuído à Pista Municipal de Atletismo de Lisboa, na freguesia de Santa Clara 14; • 2010 – Sandra Guimarães publica Mário Moniz Pereira – A História de uma Vida; • 2012 – O seu nome atribuído ao Centro de Alto Rendimento do Atletismo, que estava projetado para funcionar no Complexo Desportivo de Odivelas, embora não se tenha concretizado o espaço (30 de setembro); (14) Na Rua João Amaral.
  • 13. 11 • 2013 – Globo de Ouro na categoria de Mérito e Excelência, organização da revista Caras, SIC e SIC Caras; • 2015 - Prémio Leões Honoris Sporting na categoria Honra Especial (1 de julho); • 2015 – Homenagem na Sporting TV; • 2016 - Fernando Correia publica Moniz Pereira – Vida e obra do Senhor Atletismo (24 de agosto); • 2016 – Mural de Arte Urbana na Pista de Atletismo Municipal Professor Moniz Pereira, da autoria do artista Nomen (setembro); • 2016 – Prémio Stromp na categoria Saudade (dezembro); • 2017 – O seu nome foi atribuído ao Meeting Mário Moniz Pereira, promovido pela Federação Portuguesa de Atletismo. Nos últimos anos, Mário Moniz Pereira abandonou o seu ritmo frenético e foi ficando mais em casa, no Bairro de São Miguel, dedicando mais do seu tempo a ouvir música. E assim, em 31 de julho de 2016, o sócio n.º 2 do Sporting Clube de Portugal faleceu vítima de pneumonia, aos 95 anos de idade, no Hospital Curry Cabral, em Lisboa. Falta ainda abordar uma faceta de Mário Moniz Pereira, homem dedicado firmemente ao desporto mas também profundamente empenhado na vida e na realidade à sua volta que até o levou até a ser colaborador da Rádio Re- nascença nos anos oitenta do séc. XX: a de compositor, que o acompanhou toda a vida. Moniz Pereira com Tozé Brito e Carlos Lopes
  • 14. 12 A Sociedade Portuguesa de Autores regista 114 temas da sua autoria, entre músicas e letras, sendo a maioria fados. Moniz Pereira era senhor de um apurado sentido musical, tendo aprendido a tocar de ouvido. Aos 5 anos de idade surpreendeu a família ao pegar num violino e tocar quase sem erros. Ao longo da vida, usou o piano herdado da família para compor. Mário Moniz contou em 2013 um episódio dessa paixão antiga: Um dos meus avós, Raul Lopes Freire, era dono do Central Cinema, ao fim da Avenida da Liberdade. Passavam filmes alemães e eu ali não pagava nada. Entrava e saía quando me apetecia. De alemão não per- cebia nada, mas chegava a casa e tocava ao piano a música que ouvira. 15» Frequentador do meio fadista alfacinha, desde a Toca 16 ao Faia 17, ambos no Bairro Alto, num dia da década de 50 do séc. XX, estava no restaurante A Viela 18 e após ouvir um fado de que gostou muito levantou-se da mesa e repetiu-o nas teclas do piano ao canto da sala, de que resultou o desafio feito por muitos presentes de compor e escrever fado. (15) (2013), «Moniz Pereira: ‘Eu derrotei os impossíveis’». (16) Era a casa de Fados de Carlos Ramos, na Travessa do Fiéis de Deus nº 34. (17) Era a casa de Fados de Lucília do Carmo, mãe de Carlos do Carmo, no nº 60 da Rua da Barroca. (18) Era na Rua das Taipas. Moniz Pereira no Museu do Desporto
  • 15. 13 Alguns dos fados de Moniz Pereira, como Fado Varina, Rosa da Madragoa, Rosa da Noite, Não me Conformo ou Leio em Teus Olhos, foram interpretados por nomes conhecidos do panorama nacional como Ada de Castro, Amália Rodrigues 19, Camané, Carlos do Carmo, Carlos Ramos, CelesteRodrigues,DeolindaRodrigues,FernandoTordo,JoanaAmendoeira, João Braga, Lucília do Carmo 20, Maria Armanda, Maria da Fé, Paulo de Carvalho, Pedro Moutinho, Rodrigo ou Tony de Matos. Em 2002 foi mesmo editada uma compilação intitulada Moniz Pereira: 40 Anos de Música, onde assinou a música de todos os 22 temas, incluindo letras de outros autores como Ary dos Santos, Emílio Vasco, Fernando Tordo, João Dias, Júlio de Sousa, Rosa Lobato Faria ou Vasco de Lima Couto 21. Valeu a Pena, o fado cuja letra e música criou em 1964, foi talvez o seu tema mais popular, com inúmeros fadistas a interpretá-lo, e aqui reproduzimos a sua letra por ser representativa da forma de estar na vida do Prof. Moniz Pereira: Com voz serena perguntaram-me ao ouvido valeu a pena vir ao mundo e ter nascido com lealdade vou responder, mas primeiro consultei meu travesseiro sobre a verdade tive porém, que lembrar o meu passado horas boas do meu fado e as más também Valeu a pena ter vivido o que vivi (19) O Jardim Amália Rodrigues existe desde a publicação do Edital de municipal de 18/04/2000, no topo do Parque Eduardo VII. (20) Lucília do Carmo dá nome a uma Rua de Caselas desde 20/09/1999. (21) Vasco de Lima Couto está perpetuado numa artéria do Bairro dos Sete Céus desde a publicação do Edital de 30/01/1987.
  • 16. 14 valeu a pena ter sofrido o que sofri valeu a pena ter amado quem amei ter beijado quem beijei valeu a pena Valeu a pena ter sonhado o que sonhei valeu a pena ter passado o que passei valeu a pena conhecer quem conheci ter sentido o que senti (22) A Rua Francisco Stromp nasceu do Edital municipal de 26/03/1971 valeu a pena valeu a pena ter cantado o que cantei ter chorado o que chorei valeu a pena Valeu a pena ter amado quem amei ter beijado quem beijei valeu a pena valeu a pena ter cantado o que cantei ter chorado o que chorei valeu a pena Refira-se finalmente que a sua neta Carmo também lhe seguiu as pisadas no Fado, conhecida que é pelo nome de Carminho. Moniz Pereira viveu a vida com paixão, aquela que transmitia nos treinos quando a primeira pergunta que fazia era Continuamos todos contentes por termos nascido?, com a paixão adubada pela felicidade que confessou: Toda a vida fiz aquilo que gosto, e ainda por cima pagavam-me. A edilidade lisboeta entendeu dar o nome do Prof. Mário Moniz Pereira a uma Rua da freguesia do Lumiar, junto ao Estádio de Alvalade e à Rua Francisco Stromp 22, inserido numa homenagem conjunta ao Sporting Clube de Portugal, na freguesia onde nasceu o clube, com a inauguração simultânea também da Rotunda Visconde de Alvalade.
  • 17. 15 BIBLIOGRAFIA DOCUMENTAL: • Voto de Pesar apresentado pelo Grupo Municipal do PS da Assembleia Municipal de Lisboa, aprovado por unanimidade na Reunião de 13 de setembro de 2016 • Comunicado do Presidente da CML, Fernando Medina, de 2 de agosto de 2016, a manifestar a intenção de atribuir o nome do Prof. Moniz Pereira a um arruamento da cidade • Proposta subscrita pela Vereadora Catarina Vaz Pinto para atribuir a Rua Moniz Pereira ao arruamento circundante ao Estádio de Alvalade, aprovada por unanimidade, na Sessão de Câmara de 31 de maio de 2017 PUBLICADA: • (s/d), «Moniz Pereira», Sporting Canal, acedido em fevereiro de 2017 em http://www. sportingcanal.com/?p=1251 • (2008), «Moniz Pereira», wikiSporting, 10 de julho de 2008, acedido em fevereiro de 2017 em http://www.forumscp.com/wiki/index.php?title=Moniz_Pereirahttp://www.forumscp. com/wiki/index.php?title=Moniz_Pereira • (2013), «Moniz Pereira: ‘Eu derrotei os impossíveis’», Correio da Manhã, 16 de junho de 2013 • (2016) Declarações de Bruno de Carvalho sobre Prof. Mário Moniz Pereira, acedido em fevereiro de 2017 em https://www.youtube.com/watch?v=4oTvqOToEWE • (2016), «1997/02/18 | Conversa com Mário Moniz Pereira», acedido em fevereiro de 2017 em https://www.youtube.com/watch?v=w9T67EVaCX0 • (2016), «Mário Moniz Pereira», Museu do Fado, agosto de 2016, acedido em fevereiro de 2017 em http://www.museudofado.pt/personalidades/detalhes.php?id=433 • (2016), , «Morreu o “Sr. Atletismo”. Moniz Pereira tinha 95 anos», Rádio Renascença, 31 de julho de 2016, acedido em fevereiro de 2017 em http://rr.sapo.pt/noticia/60308/morreu_o_ sr_atletismo_moniz_pereira_tinha_95_anos • DIAS, João de Almeida (2016), «Morreu Moniz Pereira, o histórico do Atletismo», Observador , 31 de julho de 2016 • MARTINS, Filomena (2016), «Autor de ‘Valeu a Pena’ Além de Fazedor de campeões, era músico e compositor», Observador , 31 de julho de 2016 • PIMENTEL, Tiago (2016), «Moniz Pereira (1921-2016), o homem que fez Portugal acreditar em ‘coisas impossíveis’ », Público, 31 de julho de 2016 • RPS (2016), «Moniz Moniz Pereira. O Senhor Atletismo chegou à meta», É Desporto, 1 de agosto de 2016 • SANTOS, Norberto (2012), «Moniz Pereira», Record, 28 de julho de 2012
  • 18. FICHA TÉCNICA Edição | Câmara Municipal de Lisboa Presidente | Fernando Medina Pelouro da Cultura | Catarina Vaz Pinto Direção Municipal de Cultura | Manuel Veiga Departamento do Património Cultural | Jorge Ramos de Carvalho Título | Moniz Pereira Textos | Paula Machado Design | Ernesto Matos Tiragem | 250 Ano | 2017 Depósito Legal | 427852/17 Execução gráfica | Imprensa Municipal de Lisboa Agradecimento | Ao Sporting Clube de Portugal pela cedência das fotografias
  • 19. RUA PROF. MONIZ PEREIRA Início (sul) 38°45’37.2”N 9°09’34.0”W 38.760332, -9.159445 Fim (norte) 38°45’44.8”N 9°09’36.0”W 38.762447, -9.159985