1. Brasil Você acredita em dança da chuva?
Fonte: Gazeta Mercantil / Finanças e Mercados (pag.3)
Por Andre Delben Silva (sócio responsável pela gestão na empresa Advisor Asset
Management)
São Paulo, 15 de Fevereiro de 2008 - Você acredita em dança da chuva? Com
certeza não, afinal, não faz sentido acreditar que alguém seja capaz de fazer chover.
Embora possa parecer óbvio, muitos investidores, e principalmente gestores de
fundos, acreditam na dança da chuva. A história é mais ou menos assim: após dois
anos de resultados excepcionais, os gestores de um fundo de small caps se
convencem de que essa é a melhor estratégia e que sempre vão obter resultados
melhores do que outras estratégias. Com essa certeza na cabeça, proclamam ao
mundo, em sua carta mensal, que descobriram a fórmula do sucesso. Eles se
esquecem que o mercado e as diversas estratégias apresentam resultados cíclicos e
que aquilo que funcionou nos últimos dois anos (ou mesmo dez anos), não
necessariamente vai continuar funcionando no futuro. É isso que chamo de dança da
chuva, porque se você seguir sempre a mesma estratégia, uma hora vai dar certo. O
mesmo pode ser dito dos famosos profetas do apocalipse, que sempre acham que
tudo está errado e que a bolsa vai desabar a qualquer momento. Quando isso
finalmente acontece, eles anunciam com todo o orgulho: "Não te falei que isso ia
acontecer?"
Duas comparações:
Para ilustrar meu ponto, é possível fazer duas comparações entre estratégias muito
comuns no mercado acionário. A primeira mostra o desempenho das empresas de
alto crescimento (growth) em relação às empresas baratas (value). A segunda faz a
comparação entre empresas grandes (large caps) e pequenas (small caps). A
comparação do desempenho das estratégias nos mostra que, em períodos mais
longos (neste exemplo 1995-2007), todas proporcionaram praticamente o mesmo
retorno ao investidor. No primeiro exemplo, as empresas com growth viveram um
bom momento até 2000, alimentadas pelo otimismo com o crescimento das
companhias ligadas à internet. Com o estouro da bolha, essas foram as que mais
sofreram. Por outro lado, as empresas value foram muito menos afetadas pela crise
de 2000-2002, mantiveram seu ritmo de crescimento, e foram capazes de igualar o
desempenho no período. O mesmo ocorreu no segundo exemplo e pelos mesmos
motivos, com as large caps largando na frente (em geral, as empresas de
telecomunicações, mídia e tecnologia beneficiadas pela bolha de internet), porém
sendo mais afetadas pela crise que se seguiu. Apesar de serem apenas dois
exemplos e cobrirem um período de tempo específico, existem muito mais exemplos
e épocas onde uma suposta estratégia vencedora não durou para sempre. Portanto,
da próxima vez que um gestor de fundos ou investidor insistir que a sua estratégia é
a melhor, desconfie. Ele pode ser apenas mais um dos diversos praticantes da dança
da chuva.
Avaliando estratégias
2. A estratégia growth refere-se à escolha de um portfólio de ações com grande
potencial de crescimento das receitas e dos lucros, potencial este superior ao de seus
pares setoriais. Já a estratégia conhecida como Value se baseia na escolha de papéis
que em geral apresentam múltiplos baixos, ou seja, que podem ser considerados
baratos.
Empresas small caps são aquelas que possuem um valor de mercado pequeno,
geralmente vinculadas à atividade econômica local.
O índice Russell 2000 representa o desempenho das 2000 empresas com menor
valor de mercado, pertencentes ao índice amplo Russell 3000 (este último reflete o
desempenho de cerca de 98% das ações que são negociadas nos EUA). As ações do
Russell 2000 representam cerca de 8% do valor de mercado total dos Russell 3000.
Já as large caps são aquelas que apresentam um valor de mercado bastante
elevado.
O S&P 100 captura o movimento das 100 maiores empresas americanas por valor de
mercado.
kicker: Estratégias apresentam resultados cíclicos e aquilo que já funcionou pode não
continuar funcionando no futuro.