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AGRONEGÓCIO




                                                           No início de 2006, em artigo publicado nesta                       da criação e pequenos e médios animais”. Aliás,
                                                       Revista Brasileira de Medicina Eqüina (nº3, ja-                        o próprio título desta rubrica ilustra a baixa priori-
                                                       neiro/fevereiro 2006), alertávamos sobre a neces-                      dade com a saúde de nossa tropa: até 2003 havia
                                                       sidade de iniciarmos pressões democráticas para                        um tópico exclusivo, denominado “Prevenção e
                                                       maior orçamento referente à prevenção, controle                        Controle de Doenças dos Eqüídeos”. A partir de
                                                       e erradicação das doenças da eqüideocultura.                           2004, os cavalos, muares e asininos passaram a
                                                       Neste início de 2007, retomamos o tema, pois as                        disputar atenção e recursos com ovinos, caprinos
                                                       preocupações são crescentes e, se antes a opor-                        e pequenos e médios animais.
                                                       tunidade da discussão estava associado ao ano                             Nos últimos anos, apenas parte da dotação
                                                       eleitoral, agora o foco é na elaboração do Plano                       autorizada pelo Orçamento da União para defesa
                                                       Plurianual do Ministério da Agricultura, Pecuária                      animal tem sido efetivamente executada. No caso
                                                       e Abastecimento (MAPA) para os próximos qua-                           das doenças da eqüinocultura, o orçamento tem
                                                       tro anos (a partir de 2008).                                           sido bastante modesto: R$ 1.000.000 anual, nos
                                                           No Plano Plurianual 2004-2007, a referência                        anos de 2004 e 2005 e apenas R$ 124.000 em
                                                       aos eqüinos na defesa animal foi muito tímida. En-                     2006. Para as atividades de prevenção, controle
                                                       quadrado no tópico “Desenvolvimento da Capri-                          e erradicação, a proposta da Lei Orçamentária
                                                       nocultura, Equideocultura e Ovinocultura”, prati-                      de 2007 é retornar a dotação para R$ 1.000.000.
                                                       camente não há referência aos eqüinos. Nas jus-                           A Figura 1 mostra a despesa liquidada nos
                                                       tificativas e indicadores fala-se apenas de capri-                     anos de 2004 a 2006, de acordo com as últimas
                                                       nos e ovinos. No subitem ações é que surge a                           informações disponíveis pelo SIAFI (Sistema In-
                                                       citação da “Prevenção, controle e erradicação das                      tegrado de Administração Financeira do Governo
                                                       doenças da eqüideocultura, da caprinocultura e                         Federal).
    Fonte: http://www.tesouro.fazenda.gov.br/siafi/.




                                                         Figura 1: Brasil - Evolução mensal da despesa empenhada referente à prevenção, controle e erradi-
                                                         cação das doenças da eqüinocultura, acumulada, nos anos de 2004 a 2006, em milhões de reais.
                                                         Nota: O valor acumulado em 2006 considera apenas 11 meses, de janeiro a novembro.
O principal instrumento do Governo Federal
                                                                                                                                           Tabela 1 – Brasil: Casos de raiva por 1.000.000 cabeças, em
                                                                               para sanidade da tropa brasileira é o Programa                  rebanhos de bovinos, eqüídeos, caprinos e ovinos.
                                                                               Nacional de Sanidade de Eqüídeos, o PNSE. Este
                                                                               tem como objetivos:                                     Tipo de rebanho 1996          1997      1998       1999      2000      2001   2002   2003   2004
                                                                               • Elaborar e propor atualização da legislação re-       Bovino              20,1      16,5      17,1       18,3      36,5      12,7   13,5   14,7   9,3
                                                                               lativa às normas e procedimentos técnicos;
                                                                                                                                       Eqüídeo             24,1      31,1      29,5       68,4      57,3      37,6   30,6   24,3   18,1
                                                                               • Propor e acompanhar estudos epidemiológicos;
                                                                               • Realizar vigilância epidemiológica e sanitária das    Ovino/caprino       1,4       2,0       0,3        0,4       1,2       0,5    0,7    2,3    0,9
                                                                               principais doenças dos eqüídeos, tais como o
                                                                               Mormo e a Anemia Infecciosa Eqüina, visando a          mo. No entanto, sabe-se que a doença ocorre tam-
                                                                               profilaxia, o controle e a erradicação destas do-      bém em outras regiões (como no Estado de Santa
                                                                               enças em todos os Estados da Federação;                Catarina).
                                                                               • Divulgar as ações do PNSE e das doenças cujo             Medidas aparentemente simples, como cam-
                                                                               controle e erradicação estão normatizados pelo         panhas de vacinação, sofrem com a falta de re-
                                                                               MAPA.                                                  cursos. O resultado é a maior dificuldade de con-
                                                                                   Na realidade, o foco de atuação do PNSE é a        trole. A Tabela 1 mostra a evolução do número
                                                                               Anemia Infecciosa Eqüina e o Mormo. As de-             de casos de raiva por 1.000.000 de cabeças de
                                                                               mais doenças, existentes ou potencias (como a          algumas espécies animais. Observa-se que a fre-
                                                                               Febre do Nilo, discutida na edição anterior desta      qüência relativa de casos em eqüídeos era 94%
                                                                               Revista), recebem pouca ou nenhuma atenção. A          maior que em bovinos em 2004, sendo que em
                                                                               falta de recursos orçamentários explica em gran-       1996 era apenas 19% maior.
                                                                               de parte esta perigosa omissão. Mesmo as referi-           Considerando que o Complexo do Agronegó-
                                                                               das duas doenças nas quais o PNSE tem atuado,          cio do Cavalo no Brasil movimenta financeiramente
                                                                               as informações são deficientes. Por exemplo, se-       R$ 7,3 bilhões anuais, uma dotação orçamentária
                                                                               gundo o site do MAPA, na página do PNSE (atu-          de R$ 1.000.000 representa 0,014%. Muito pou-
                                                                               alizada em 1/11/2006, conforme acesso realizado        co para prevenção, controle e erradicação das
                                                                               em 2/1/2007), apenas os Estados indicados na Fi-       doenças da eqüideocultura brasileira, que conta
                                                                               gura 2 teriam apresentado ocorrência de Mor-           com mais de oito milhões de cabeças.
                                                                                                                                          Como reverter este quadro? Com maior en-
                                                                                                                                      volvimento dos profissionais ligados ao cavalo,
                                                                                                                                      pressionando tanto o Poder Executivo quanto
                                                                                                                                      o Congresso, para elaboração de um Plano Plu-
Fonte: Elaborado a partir de dados obtidos em http://www.agricultura.gov.br.




                                                                                                                                      rianual (o que ocorrerá neste ano*) e Leis Or-
                                                                                                                                      çamentárias (anuais) mais responsáveis com a
                                                                                                                                      saúde animal. Um orçamento mais realista fa-
                                                                                                                                      voreceria não só as empresas e veterinários di-
                                                                                                                                      retamente envolvidos, mas todo Agronegócio
                                                                                                                                      do Cavalo que ocupa mais de 3,2 milhões de
                                                                                                                                      pessoas.


                                                                                                                                        * Vide artigo publicado na edição número 3 (janeiro/fevereiro 2006) desta
                                                                                                                                          Revista Brasileira de Medicina Eqüina para maiores detalhes sobre como
                                                                                                                                          é elaborado o Orçamento.




                                                                                                                                                    Roberto A. de Souza Lima
                                                                                 Figura 2: Brasil - Estados com ocorrência de            Professor doutor da Escola Superior de
                                                                                 Mormo segundo informações disponíveis do                      Agricultura “Luiz de Queiroz” da
                                                                                 PNSE.                                                 Universidade de São Paulo (ESALQ/USP)
                                                                                                                                                          raslima@esalq.usp.br

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  • 1. AGRONEGÓCIO No início de 2006, em artigo publicado nesta da criação e pequenos e médios animais”. Aliás, Revista Brasileira de Medicina Eqüina (nº3, ja- o próprio título desta rubrica ilustra a baixa priori- neiro/fevereiro 2006), alertávamos sobre a neces- dade com a saúde de nossa tropa: até 2003 havia sidade de iniciarmos pressões democráticas para um tópico exclusivo, denominado “Prevenção e maior orçamento referente à prevenção, controle Controle de Doenças dos Eqüídeos”. A partir de e erradicação das doenças da eqüideocultura. 2004, os cavalos, muares e asininos passaram a Neste início de 2007, retomamos o tema, pois as disputar atenção e recursos com ovinos, caprinos preocupações são crescentes e, se antes a opor- e pequenos e médios animais. tunidade da discussão estava associado ao ano Nos últimos anos, apenas parte da dotação eleitoral, agora o foco é na elaboração do Plano autorizada pelo Orçamento da União para defesa Plurianual do Ministério da Agricultura, Pecuária animal tem sido efetivamente executada. No caso e Abastecimento (MAPA) para os próximos qua- das doenças da eqüinocultura, o orçamento tem tro anos (a partir de 2008). sido bastante modesto: R$ 1.000.000 anual, nos No Plano Plurianual 2004-2007, a referência anos de 2004 e 2005 e apenas R$ 124.000 em aos eqüinos na defesa animal foi muito tímida. En- 2006. Para as atividades de prevenção, controle quadrado no tópico “Desenvolvimento da Capri- e erradicação, a proposta da Lei Orçamentária nocultura, Equideocultura e Ovinocultura”, prati- de 2007 é retornar a dotação para R$ 1.000.000. camente não há referência aos eqüinos. Nas jus- A Figura 1 mostra a despesa liquidada nos tificativas e indicadores fala-se apenas de capri- anos de 2004 a 2006, de acordo com as últimas nos e ovinos. No subitem ações é que surge a informações disponíveis pelo SIAFI (Sistema In- citação da “Prevenção, controle e erradicação das tegrado de Administração Financeira do Governo doenças da eqüideocultura, da caprinocultura e Federal). Fonte: http://www.tesouro.fazenda.gov.br/siafi/. Figura 1: Brasil - Evolução mensal da despesa empenhada referente à prevenção, controle e erradi- cação das doenças da eqüinocultura, acumulada, nos anos de 2004 a 2006, em milhões de reais. Nota: O valor acumulado em 2006 considera apenas 11 meses, de janeiro a novembro.
  • 2. O principal instrumento do Governo Federal Tabela 1 – Brasil: Casos de raiva por 1.000.000 cabeças, em para sanidade da tropa brasileira é o Programa rebanhos de bovinos, eqüídeos, caprinos e ovinos. Nacional de Sanidade de Eqüídeos, o PNSE. Este tem como objetivos: Tipo de rebanho 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 • Elaborar e propor atualização da legislação re- Bovino 20,1 16,5 17,1 18,3 36,5 12,7 13,5 14,7 9,3 lativa às normas e procedimentos técnicos; Eqüídeo 24,1 31,1 29,5 68,4 57,3 37,6 30,6 24,3 18,1 • Propor e acompanhar estudos epidemiológicos; • Realizar vigilância epidemiológica e sanitária das Ovino/caprino 1,4 2,0 0,3 0,4 1,2 0,5 0,7 2,3 0,9 principais doenças dos eqüídeos, tais como o Mormo e a Anemia Infecciosa Eqüina, visando a mo. No entanto, sabe-se que a doença ocorre tam- profilaxia, o controle e a erradicação destas do- bém em outras regiões (como no Estado de Santa enças em todos os Estados da Federação; Catarina). • Divulgar as ações do PNSE e das doenças cujo Medidas aparentemente simples, como cam- controle e erradicação estão normatizados pelo panhas de vacinação, sofrem com a falta de re- MAPA. cursos. O resultado é a maior dificuldade de con- Na realidade, o foco de atuação do PNSE é a trole. A Tabela 1 mostra a evolução do número Anemia Infecciosa Eqüina e o Mormo. As de- de casos de raiva por 1.000.000 de cabeças de mais doenças, existentes ou potencias (como a algumas espécies animais. Observa-se que a fre- Febre do Nilo, discutida na edição anterior desta qüência relativa de casos em eqüídeos era 94% Revista), recebem pouca ou nenhuma atenção. A maior que em bovinos em 2004, sendo que em falta de recursos orçamentários explica em gran- 1996 era apenas 19% maior. de parte esta perigosa omissão. Mesmo as referi- Considerando que o Complexo do Agronegó- das duas doenças nas quais o PNSE tem atuado, cio do Cavalo no Brasil movimenta financeiramente as informações são deficientes. Por exemplo, se- R$ 7,3 bilhões anuais, uma dotação orçamentária gundo o site do MAPA, na página do PNSE (atu- de R$ 1.000.000 representa 0,014%. Muito pou- alizada em 1/11/2006, conforme acesso realizado co para prevenção, controle e erradicação das em 2/1/2007), apenas os Estados indicados na Fi- doenças da eqüideocultura brasileira, que conta gura 2 teriam apresentado ocorrência de Mor- com mais de oito milhões de cabeças. Como reverter este quadro? Com maior en- volvimento dos profissionais ligados ao cavalo, pressionando tanto o Poder Executivo quanto o Congresso, para elaboração de um Plano Plu- Fonte: Elaborado a partir de dados obtidos em http://www.agricultura.gov.br. rianual (o que ocorrerá neste ano*) e Leis Or- çamentárias (anuais) mais responsáveis com a saúde animal. Um orçamento mais realista fa- voreceria não só as empresas e veterinários di- retamente envolvidos, mas todo Agronegócio do Cavalo que ocupa mais de 3,2 milhões de pessoas. * Vide artigo publicado na edição número 3 (janeiro/fevereiro 2006) desta Revista Brasileira de Medicina Eqüina para maiores detalhes sobre como é elaborado o Orçamento. Roberto A. de Souza Lima Figura 2: Brasil - Estados com ocorrência de Professor doutor da Escola Superior de Mormo segundo informações disponíveis do Agricultura “Luiz de Queiroz” da PNSE. Universidade de São Paulo (ESALQ/USP) raslima@esalq.usp.br