SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 3
Baixar para ler offline
Orelha



D. PEDRO

Alexandre Herculano



Pela encosta do Líbano, rugindo,
O noto furioso
Passou um dia, arremessando à terra
O cedro mais frondoso;
Assim te sacudiu da morte o sopro
Do carro da vitória,
Quando, ébrio de esperanças, tu sorrias,
Filho caro da glória.
Se, depois de procela em mar de escolhos,
A combatida nave
Vê terra e vento abranda, o porto aferra,
Com júbilo suave.
Também tu demandaste o Céu sereno,
Depois de uma árdua lida:
Deus te chamou: o prémio recebeste
Dos méritos da vida.
Que é esta? Um ermo de espinhais cortado,
Donde foge o prazer:
Para o justo ela existe além da campa:
Teme o ímpio o morrer.
Plante-se a acácia, o símbolo do livre,
Junto às cinzas do forte:
Ele foi rei – e combateu tiranos –
Chorai, chorai-lhe a morte!
Regada pelas lágrimas de um povo,
A planta crescerá;
E à sombra dela a fronte do guerreiro
Plácida pousará.
Essa fronte das balas respeitada,
Agora a traga o pó:
Do valente, do bom, do nosso Amigo
Restam memórias só;
Mas estas, entre nós, com a saudade
Perenes viverão,
Enquanto, à voz de pátria e liberdade.
Ansiar um coração.
Nas orgias de Roma, a prostituta,
Folga, vil opressor:
Folga com os hipócritas do Tibre;
Morreu teu vencedor.
Envolto em maldições, em susto, em crimes
Fugiste, desgraçado:
Ele, subindo ao Céu, ouviu só gueixas,
E um choro não comprado:
Encostado na borda do sepulcro,
O olhar atrás volveu,
As suas obras contemplou passadas,
E em paz adormeceu:
Os teus dias também serão contados,
Covarde foragido;
Mas será de remorso tardo e inútil
Teu último gemido:
Do passamento o cálix lhe adoçaram
Uma filha, urna esposa:
Quem, tigre cru, te cercará o leito,
Nessa hora pavorosa?
Deus, tu és bom: e o virtuoso em breve
Chamas ao gozo eterno,
E o ímpio deixas saciar de crimes,
Para o sumir no Inferno?
Alma gentil, que assim nos hás deixado,
Entregues à alta dor,
Anjo das preces nos serás, perante
O trono do Senhor:
E quando, cá na Terra, o poderoso
As Leis aos pés calcar,
Junto do teu sepulcro irá o opresso
Seus males deplorar:
Assim, no Oriente, de Albuquerque às cinzas
O desvalido indiano
Mais de urna vez foi demandar vingança
De um déspota inumano.
Mas quem ousará à pátria tua e nossa
Curvar nobre cerviz?
Quem roubará ao lusitano povo
Um povo ser feliz?
Ninguém! Por tua glória os teus soldados
Juram livres viver.
Ai do tirano que primeiro ousasse
Do voto escarnecer!
Nesse abraço final, que nos legaste,
Legaste o génio teu:
Aqui – no coração – nós o guardámos;
Teu génio não morreu.
Jaz em paz: essa terra, que te esconde,
O monstro abominado
Só pisará ao baquear sobre ela
Teu último soldado.

Eu também combati: nus pátrias lides
Também colhi um louro:
O prantear o Companheiro extinto
Não me será desdouro.
Para o Sol do Oriente outros se voltem,
Calor e luz buscando:
Que eu pelo belo Sol, que jaz no ocaso,
Cá ficarei chorando.

Mais conteúdo relacionado

Destaque

Sistemas de control de versiones: Git
Sistemas de control de versiones: GitSistemas de control de versiones: Git
Sistemas de control de versiones: Gitpablozacrosuarez
 
Cadete preferente 1516
Cadete preferente 1516Cadete preferente 1516
Cadete preferente 1516mariodelasanta
 
Apresentação institucional Valor
Apresentação institucional ValorApresentação institucional Valor
Apresentação institucional Valorflpgonzalez
 
Fire and Ice - SNOMED is bound to model - Koray Atalag
Fire and Ice - SNOMED is bound to model - Koray AtalagFire and Ice - SNOMED is bound to model - Koray Atalag
Fire and Ice - SNOMED is bound to model - Koray AtalagHL7 New Zealand
 
hasil observasi
hasil observasihasil observasi
hasil observasiIrma Afni
 
Avidaquotidianadosromanos 100521130731-phpapp01
Avidaquotidianadosromanos 100521130731-phpapp01Avidaquotidianadosromanos 100521130731-phpapp01
Avidaquotidianadosromanos 100521130731-phpapp01Luis Raposo
 
Fire and Ice - FHIR in New Zealand - David Hay
Fire and Ice - FHIR in New Zealand - David HayFire and Ice - FHIR in New Zealand - David Hay
Fire and Ice - FHIR in New Zealand - David HayHL7 New Zealand
 
Gracias a Fermín Alvarado se construye la Casa de la Cultura Universitaria en...
Gracias a Fermín Alvarado se construye la Casa de la Cultura Universitaria en...Gracias a Fermín Alvarado se construye la Casa de la Cultura Universitaria en...
Gracias a Fermín Alvarado se construye la Casa de la Cultura Universitaria en...Diputado Fermín Alvarado
 
Como Hacer una Monografia-Item 4 modelo de agradecimiento
Como Hacer una Monografia-Item 4 modelo de agradecimientoComo Hacer una Monografia-Item 4 modelo de agradecimiento
Como Hacer una Monografia-Item 4 modelo de agradecimientoManuel Juan Calonge Merino
 
Sistemas de control de versiones: CVS
Sistemas de control de versiones: CVSSistemas de control de versiones: CVS
Sistemas de control de versiones: CVSpablozacrosuarez
 
Presentación Crisis Migratoria en Europa 2015
Presentación Crisis Migratoria en Europa 2015Presentación Crisis Migratoria en Europa 2015
Presentación Crisis Migratoria en Europa 2015Vanesa López
 
Lesion Coverage: Insights from the Bench Top | Maciej Lesiak, M.D.
Lesion Coverage: Insights from the Bench Top | Maciej Lesiak, M.D.Lesion Coverage: Insights from the Bench Top | Maciej Lesiak, M.D.
Lesion Coverage: Insights from the Bench Top | Maciej Lesiak, M.D.trytonmedical
 
Apache Tomcat 8: integración con Apache Server (con mod_jk)
Apache Tomcat 8: integración con Apache Server (con mod_jk)Apache Tomcat 8: integración con Apache Server (con mod_jk)
Apache Tomcat 8: integración con Apache Server (con mod_jk)pablozacrosuarez
 
Dieter Rams - Less, But Better
Dieter Rams - Less, But BetterDieter Rams - Less, But Better
Dieter Rams - Less, But BetterInsub Lee
 
Metodología Morris Asimow
Metodología Morris AsimowMetodología Morris Asimow
Metodología Morris AsimowEsteban Lozano
 

Destaque (20)

Untitled Presentation
Untitled PresentationUntitled Presentation
Untitled Presentation
 
Untitled Presentation
Untitled PresentationUntitled Presentation
Untitled Presentation
 
Sistemas de control de versiones: Git
Sistemas de control de versiones: GitSistemas de control de versiones: Git
Sistemas de control de versiones: Git
 
Cadete preferente 1516
Cadete preferente 1516Cadete preferente 1516
Cadete preferente 1516
 
Apresentação institucional Valor
Apresentação institucional ValorApresentação institucional Valor
Apresentação institucional Valor
 
Fire and Ice - SNOMED is bound to model - Koray Atalag
Fire and Ice - SNOMED is bound to model - Koray AtalagFire and Ice - SNOMED is bound to model - Koray Atalag
Fire and Ice - SNOMED is bound to model - Koray Atalag
 
Winnebago
WinnebagoWinnebago
Winnebago
 
hasil observasi
hasil observasihasil observasi
hasil observasi
 
Ensino à distância
Ensino à distânciaEnsino à distância
Ensino à distância
 
Avidaquotidianadosromanos 100521130731-phpapp01
Avidaquotidianadosromanos 100521130731-phpapp01Avidaquotidianadosromanos 100521130731-phpapp01
Avidaquotidianadosromanos 100521130731-phpapp01
 
Fire and Ice - FHIR in New Zealand - David Hay
Fire and Ice - FHIR in New Zealand - David HayFire and Ice - FHIR in New Zealand - David Hay
Fire and Ice - FHIR in New Zealand - David Hay
 
Gracias a Fermín Alvarado se construye la Casa de la Cultura Universitaria en...
Gracias a Fermín Alvarado se construye la Casa de la Cultura Universitaria en...Gracias a Fermín Alvarado se construye la Casa de la Cultura Universitaria en...
Gracias a Fermín Alvarado se construye la Casa de la Cultura Universitaria en...
 
Como Hacer una Monografia-Item 4 modelo de agradecimiento
Como Hacer una Monografia-Item 4 modelo de agradecimientoComo Hacer una Monografia-Item 4 modelo de agradecimiento
Como Hacer una Monografia-Item 4 modelo de agradecimiento
 
Sistemas de control de versiones: CVS
Sistemas de control de versiones: CVSSistemas de control de versiones: CVS
Sistemas de control de versiones: CVS
 
Presentación Crisis Migratoria en Europa 2015
Presentación Crisis Migratoria en Europa 2015Presentación Crisis Migratoria en Europa 2015
Presentación Crisis Migratoria en Europa 2015
 
Lesion Coverage: Insights from the Bench Top | Maciej Lesiak, M.D.
Lesion Coverage: Insights from the Bench Top | Maciej Lesiak, M.D.Lesion Coverage: Insights from the Bench Top | Maciej Lesiak, M.D.
Lesion Coverage: Insights from the Bench Top | Maciej Lesiak, M.D.
 
Apache Tomcat 8: integración con Apache Server (con mod_jk)
Apache Tomcat 8: integración con Apache Server (con mod_jk)Apache Tomcat 8: integración con Apache Server (con mod_jk)
Apache Tomcat 8: integración con Apache Server (con mod_jk)
 
Dieter Rams - Less, But Better
Dieter Rams - Less, But BetterDieter Rams - Less, But Better
Dieter Rams - Less, But Better
 
Metodología Morris Asimow
Metodología Morris AsimowMetodología Morris Asimow
Metodología Morris Asimow
 
Presentacion Alma
Presentacion AlmaPresentacion Alma
Presentacion Alma
 

Semelhante a Alexandre herculano dom pedro (20)

Alexandre herculano a vitória e a piedade
Alexandre herculano   a vitória e a piedadeAlexandre herculano   a vitória e a piedade
Alexandre herculano a vitória e a piedade
 
Alexandre herculano a cruz mutilada
Alexandre herculano   a cruz mutiladaAlexandre herculano   a cruz mutilada
Alexandre herculano a cruz mutilada
 
O navio negreiro e outros poema castro alves
O navio negreiro e outros poema   castro alvesO navio negreiro e outros poema   castro alves
O navio negreiro e outros poema castro alves
 
Os lusiadas
Os lusiadasOs lusiadas
Os lusiadas
 
Os lusiadas
Os lusiadasOs lusiadas
Os lusiadas
 
Lusiadas
LusiadasLusiadas
Lusiadas
 
Os lusiadas
Os lusiadasOs lusiadas
Os lusiadas
 
Os lusíadas, Luís de Camões
Os lusíadas, Luís de CamõesOs lusíadas, Luís de Camões
Os lusíadas, Luís de Camões
 
Os Lusiadas
Os LusiadasOs Lusiadas
Os Lusiadas
 
Os Lusiadas
Os LusiadasOs Lusiadas
Os Lusiadas
 
Luiz de Camôes - Os Lusiadas
Luiz de Camôes - Os LusiadasLuiz de Camôes - Os Lusiadas
Luiz de Camôes - Os Lusiadas
 
Os Lusiadas
Os LusiadasOs Lusiadas
Os Lusiadas
 
25
2525
25
 
Canto iii (1)
Canto iii (1)Canto iii (1)
Canto iii (1)
 
Alexandre herculano a semana santa
Alexandre herculano   a semana santaAlexandre herculano   a semana santa
Alexandre herculano a semana santa
 
Luís Vaz de Camões - Os lusíadas
Luís Vaz de Camões - Os lusíadasLuís Vaz de Camões - Os lusíadas
Luís Vaz de Camões - Os lusíadas
 
Os Lusíadas canto I
Os Lusíadas   canto IOs Lusíadas   canto I
Os Lusíadas canto I
 
Os Lusíadas
Os LusíadasOs Lusíadas
Os Lusíadas
 
104
104104
104
 
Lusiadas, de Luis de Camões
Lusiadas, de Luis de CamõesLusiadas, de Luis de Camões
Lusiadas, de Luis de Camões
 

Mais de Tulipa Zoá

MATEMÁTICA FINANCEIRA - REGRA DE TRÊS SIMPLES / JUROS SIMPLES
MATEMÁTICA FINANCEIRA - REGRA DE TRÊS SIMPLES / JUROS SIMPLESMATEMÁTICA FINANCEIRA - REGRA DE TRÊS SIMPLES / JUROS SIMPLES
MATEMÁTICA FINANCEIRA - REGRA DE TRÊS SIMPLES / JUROS SIMPLESTulipa Zoá
 
Artur azevedo o chapéu
Artur azevedo   o chapéuArtur azevedo   o chapéu
Artur azevedo o chapéuTulipa Zoá
 
Artur azevedo o califa da rua sabão
Artur azevedo   o califa da rua sabãoArtur azevedo   o califa da rua sabão
Artur azevedo o califa da rua sabãoTulipa Zoá
 
Artur azevedo o barão de pitiaçu
Artur azevedo   o barão de pitiaçuArtur azevedo   o barão de pitiaçu
Artur azevedo o barão de pitiaçuTulipa Zoá
 
Artur azevedo o badejo
Artur azevedo   o badejoArtur azevedo   o badejo
Artur azevedo o badejoTulipa Zoá
 
Artur azevedo o asa-negra
Artur azevedo   o asa-negraArtur azevedo   o asa-negra
Artur azevedo o asa-negraTulipa Zoá
 
Artur azevedo o 15 e o 17
Artur azevedo   o 15 e o 17Artur azevedo   o 15 e o 17
Artur azevedo o 15 e o 17Tulipa Zoá
 
Artur azevedo nova viagem a lua
Artur azevedo   nova viagem a luaArtur azevedo   nova viagem a lua
Artur azevedo nova viagem a luaTulipa Zoá
 
Artur azevedo na horta
Artur azevedo   na hortaArtur azevedo   na horta
Artur azevedo na hortaTulipa Zoá
 
Artur azevedo na exposição
Artur azevedo   na exposiçãoArtur azevedo   na exposição
Artur azevedo na exposiçãoTulipa Zoá
 
Artur azevedo morta que mata
Artur azevedo   morta que mataArtur azevedo   morta que mata
Artur azevedo morta que mataTulipa Zoá
 
Artur azevedo mal por mal
Artur azevedo   mal por malArtur azevedo   mal por mal
Artur azevedo mal por malTulipa Zoá
 
Artur azevedo joão silva
Artur azevedo   joão silvaArtur azevedo   joão silva
Artur azevedo joão silvaTulipa Zoá
 
Artur azevedo ingenuidade
Artur azevedo   ingenuidadeArtur azevedo   ingenuidade
Artur azevedo ingenuidadeTulipa Zoá
 
Artur azevedo in extremis
Artur azevedo   in extremisArtur azevedo   in extremis
Artur azevedo in extremisTulipa Zoá
 
Artur azevedo história vulgar
Artur azevedo   história vulgarArtur azevedo   história vulgar
Artur azevedo história vulgarTulipa Zoá
 
Artur azevedo história de um soneto
Artur azevedo   história de um sonetoArtur azevedo   história de um soneto
Artur azevedo história de um sonetoTulipa Zoá
 
Artur azevedo história de um dominó
Artur azevedo   história de um dominóArtur azevedo   história de um dominó
Artur azevedo história de um dominóTulipa Zoá
 
Artur azevedo herói a força
Artur azevedo   herói a forçaArtur azevedo   herói a força
Artur azevedo herói a forçaTulipa Zoá
 
Artur azevedo fritzmac
Artur azevedo   fritzmacArtur azevedo   fritzmac
Artur azevedo fritzmacTulipa Zoá
 

Mais de Tulipa Zoá (20)

MATEMÁTICA FINANCEIRA - REGRA DE TRÊS SIMPLES / JUROS SIMPLES
MATEMÁTICA FINANCEIRA - REGRA DE TRÊS SIMPLES / JUROS SIMPLESMATEMÁTICA FINANCEIRA - REGRA DE TRÊS SIMPLES / JUROS SIMPLES
MATEMÁTICA FINANCEIRA - REGRA DE TRÊS SIMPLES / JUROS SIMPLES
 
Artur azevedo o chapéu
Artur azevedo   o chapéuArtur azevedo   o chapéu
Artur azevedo o chapéu
 
Artur azevedo o califa da rua sabão
Artur azevedo   o califa da rua sabãoArtur azevedo   o califa da rua sabão
Artur azevedo o califa da rua sabão
 
Artur azevedo o barão de pitiaçu
Artur azevedo   o barão de pitiaçuArtur azevedo   o barão de pitiaçu
Artur azevedo o barão de pitiaçu
 
Artur azevedo o badejo
Artur azevedo   o badejoArtur azevedo   o badejo
Artur azevedo o badejo
 
Artur azevedo o asa-negra
Artur azevedo   o asa-negraArtur azevedo   o asa-negra
Artur azevedo o asa-negra
 
Artur azevedo o 15 e o 17
Artur azevedo   o 15 e o 17Artur azevedo   o 15 e o 17
Artur azevedo o 15 e o 17
 
Artur azevedo nova viagem a lua
Artur azevedo   nova viagem a luaArtur azevedo   nova viagem a lua
Artur azevedo nova viagem a lua
 
Artur azevedo na horta
Artur azevedo   na hortaArtur azevedo   na horta
Artur azevedo na horta
 
Artur azevedo na exposição
Artur azevedo   na exposiçãoArtur azevedo   na exposição
Artur azevedo na exposição
 
Artur azevedo morta que mata
Artur azevedo   morta que mataArtur azevedo   morta que mata
Artur azevedo morta que mata
 
Artur azevedo mal por mal
Artur azevedo   mal por malArtur azevedo   mal por mal
Artur azevedo mal por mal
 
Artur azevedo joão silva
Artur azevedo   joão silvaArtur azevedo   joão silva
Artur azevedo joão silva
 
Artur azevedo ingenuidade
Artur azevedo   ingenuidadeArtur azevedo   ingenuidade
Artur azevedo ingenuidade
 
Artur azevedo in extremis
Artur azevedo   in extremisArtur azevedo   in extremis
Artur azevedo in extremis
 
Artur azevedo história vulgar
Artur azevedo   história vulgarArtur azevedo   história vulgar
Artur azevedo história vulgar
 
Artur azevedo história de um soneto
Artur azevedo   história de um sonetoArtur azevedo   história de um soneto
Artur azevedo história de um soneto
 
Artur azevedo história de um dominó
Artur azevedo   história de um dominóArtur azevedo   história de um dominó
Artur azevedo história de um dominó
 
Artur azevedo herói a força
Artur azevedo   herói a forçaArtur azevedo   herói a força
Artur azevedo herói a força
 
Artur azevedo fritzmac
Artur azevedo   fritzmacArtur azevedo   fritzmac
Artur azevedo fritzmac
 

Alexandre herculano dom pedro

  • 1. Orelha D. PEDRO Alexandre Herculano Pela encosta do Líbano, rugindo, O noto furioso Passou um dia, arremessando à terra O cedro mais frondoso; Assim te sacudiu da morte o sopro Do carro da vitória, Quando, ébrio de esperanças, tu sorrias, Filho caro da glória. Se, depois de procela em mar de escolhos, A combatida nave Vê terra e vento abranda, o porto aferra, Com júbilo suave. Também tu demandaste o Céu sereno, Depois de uma árdua lida: Deus te chamou: o prémio recebeste Dos méritos da vida. Que é esta? Um ermo de espinhais cortado, Donde foge o prazer: Para o justo ela existe além da campa: Teme o ímpio o morrer. Plante-se a acácia, o símbolo do livre, Junto às cinzas do forte: Ele foi rei – e combateu tiranos – Chorai, chorai-lhe a morte! Regada pelas lágrimas de um povo, A planta crescerá; E à sombra dela a fronte do guerreiro Plácida pousará. Essa fronte das balas respeitada, Agora a traga o pó: Do valente, do bom, do nosso Amigo Restam memórias só; Mas estas, entre nós, com a saudade Perenes viverão, Enquanto, à voz de pátria e liberdade. Ansiar um coração. Nas orgias de Roma, a prostituta, Folga, vil opressor: Folga com os hipócritas do Tibre; Morreu teu vencedor. Envolto em maldições, em susto, em crimes
  • 2. Fugiste, desgraçado: Ele, subindo ao Céu, ouviu só gueixas, E um choro não comprado: Encostado na borda do sepulcro, O olhar atrás volveu, As suas obras contemplou passadas, E em paz adormeceu: Os teus dias também serão contados, Covarde foragido; Mas será de remorso tardo e inútil Teu último gemido: Do passamento o cálix lhe adoçaram Uma filha, urna esposa: Quem, tigre cru, te cercará o leito, Nessa hora pavorosa? Deus, tu és bom: e o virtuoso em breve Chamas ao gozo eterno, E o ímpio deixas saciar de crimes, Para o sumir no Inferno? Alma gentil, que assim nos hás deixado, Entregues à alta dor, Anjo das preces nos serás, perante O trono do Senhor: E quando, cá na Terra, o poderoso As Leis aos pés calcar, Junto do teu sepulcro irá o opresso Seus males deplorar: Assim, no Oriente, de Albuquerque às cinzas O desvalido indiano Mais de urna vez foi demandar vingança De um déspota inumano. Mas quem ousará à pátria tua e nossa Curvar nobre cerviz? Quem roubará ao lusitano povo Um povo ser feliz? Ninguém! Por tua glória os teus soldados Juram livres viver. Ai do tirano que primeiro ousasse Do voto escarnecer! Nesse abraço final, que nos legaste, Legaste o génio teu: Aqui – no coração – nós o guardámos; Teu génio não morreu. Jaz em paz: essa terra, que te esconde, O monstro abominado Só pisará ao baquear sobre ela Teu último soldado. Eu também combati: nus pátrias lides Também colhi um louro: O prantear o Companheiro extinto Não me será desdouro. Para o Sol do Oriente outros se voltem, Calor e luz buscando:
  • 3. Que eu pelo belo Sol, que jaz no ocaso, Cá ficarei chorando.