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Crescenúmero de quem se diz 'preto'e
'pardo';grupochegaa 53%no país
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Paula Bianchi e Taís Vilela
Do UOL, no Rio
18/09/201410h00 > Atualizada 22/09/201413h39
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 Fabio Teixeira/UOL
A atriz Jana Guinond, 43, conta que passou por um longo processo de aceitação até começar
a responder preto à pesquisa. "Me tornei negra, foi um processo", diz
Em dez anos, a população autodeclarada preta no país cresceu 2,1 pontos
percentuais, passando de 5,9% do total de brasileiros em 2004 para 8% em 2013,
segundo dados da Pnad (Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílios) 2013. O
material foi divulgado na quinta-feira (18) e corrigido no dia seguinte após
reconhecimento de erro do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os
dados divulgados originalmente apontavam crescimento de 2,2 pontos percentuais.
Além dos pretos, cresceu também o número de pessoas autodeclaradas pardas.
Juntos, os conceitos de pardo e preto formam a população negra do país, que passou
de 48,1% em 2004 para 53% em 2013.
O uso do termo "preto" costuma ser criticado nas redes sociais como supostamente
preconceituoso, mas é a terminologia oficial da pesquisa do IBGE. O grupo mais
genérico de "negros" reúne as cores específicas, "preta" e "parda", explica o IBGE.
Maria Lúcia Vieira, gerente da pesquisa, vê a mudança na forma como os brasileiros
enxergam o ser preto no Brasil como uma das principais hipóteses para o crescimento
do número de pessoas que se autodeclaram pretas no país.
"Isso tem muita relação com as políticas de autoafirmação. As pessoas podem ter uma
consciência maior da sua cor. Também há a possibilidade da questão das cotas
[estudantis] influenciar essa decisão", afirma.
Para se ter uma ideia, a diferença entre os autodeclarados pretos em 2004 e em 2013
é de 5,2 milhões de pessoas. Isso equivale a cerca de duas vezes a população
de Salvador.
A atriz Jana Guinond, 43, conta que passou por um longo processo de aceitação até
começar a responder preto à pesquisa. "Me tornei negra, foi um processo", diz.
"Eu sempre usava variações do termo mulata. Hoje, pelo amor de Deus, não me
chamem de mulata! Isso era fruto de o que eu aprendia como sendo o negro na escola
e nas ruas. E o que eu aprendia é que ser negro era muito ruim."
A pesquisadora aponta ainda a miscigenação da população como outra hipótese que
pode explicar o crescimento da população parda no país. O crescimento da população
preta foi mais acentuado nas regiões Norte e Nordeste do país, chegando a um
aumento de 3,3 e 3,2 pontos percentuais, respectivamento –de 4,1% em 2004 para
7,4% 2013 e de 6,4% para 9,6%.
Ao mesmo tempo, a região Sudeste foi a que mais perdeu "brancos". Nos últimos dez
anos, o percentual da população autodeclarada branca, que era de 61,2% em 2004,
caiu 6,9 pontos percentuais, chegando a 54,3% em 2013, enquanto o número de
pardos subiu 5,3 pontos percentuais (representando 36,4% da população) e o de
pretos, 1,6 pontos percentuais (8,6%).
No Sul, o movimento se repetiu, porém de forma menos acentuada. A população
autodeclarada branca diminuiu 6,4 pontos percentuais, passando de 82,8% do total
em 2004 para 76,4% em 2013. Ao mesmo tempo, a população parda teve um
aumento de 5,6 pontos percentuais, chegando a 18,9%.
O Centro-Oeste teve a menor variação. Em dez anos a população autodeclarada preta
cresceu 1,9 ponto percentual e a parda 2,7 pontos percentuais.
Por ser uma pesquisa por amostra, as variáveis divulgadas pela Pnad estão dentro de
um intervalo numérico, que é o chamado "erro amostral". Segundo o IBGE, não há
uma margem de erro específica para toda a amostra. Para a Pnad 2013, foram
ouvidas 362.555 pessoas em 148.697 domicílios pelo país.
http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2014/09/18/ibge-n-de-autodeclarados-
pretos-e-pardos-sobe-e-negros-sao-45-no-pais.htm

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  • 2. O uso do termo "preto" costuma ser criticado nas redes sociais como supostamente preconceituoso, mas é a terminologia oficial da pesquisa do IBGE. O grupo mais genérico de "negros" reúne as cores específicas, "preta" e "parda", explica o IBGE. Maria Lúcia Vieira, gerente da pesquisa, vê a mudança na forma como os brasileiros enxergam o ser preto no Brasil como uma das principais hipóteses para o crescimento do número de pessoas que se autodeclaram pretas no país. "Isso tem muita relação com as políticas de autoafirmação. As pessoas podem ter uma consciência maior da sua cor. Também há a possibilidade da questão das cotas [estudantis] influenciar essa decisão", afirma. Para se ter uma ideia, a diferença entre os autodeclarados pretos em 2004 e em 2013 é de 5,2 milhões de pessoas. Isso equivale a cerca de duas vezes a população de Salvador. A atriz Jana Guinond, 43, conta que passou por um longo processo de aceitação até começar a responder preto à pesquisa. "Me tornei negra, foi um processo", diz. "Eu sempre usava variações do termo mulata. Hoje, pelo amor de Deus, não me chamem de mulata! Isso era fruto de o que eu aprendia como sendo o negro na escola e nas ruas. E o que eu aprendia é que ser negro era muito ruim." A pesquisadora aponta ainda a miscigenação da população como outra hipótese que pode explicar o crescimento da população parda no país. O crescimento da população preta foi mais acentuado nas regiões Norte e Nordeste do país, chegando a um aumento de 3,3 e 3,2 pontos percentuais, respectivamento –de 4,1% em 2004 para 7,4% 2013 e de 6,4% para 9,6%. Ao mesmo tempo, a região Sudeste foi a que mais perdeu "brancos". Nos últimos dez anos, o percentual da população autodeclarada branca, que era de 61,2% em 2004, caiu 6,9 pontos percentuais, chegando a 54,3% em 2013, enquanto o número de pardos subiu 5,3 pontos percentuais (representando 36,4% da população) e o de pretos, 1,6 pontos percentuais (8,6%). No Sul, o movimento se repetiu, porém de forma menos acentuada. A população autodeclarada branca diminuiu 6,4 pontos percentuais, passando de 82,8% do total em 2004 para 76,4% em 2013. Ao mesmo tempo, a população parda teve um aumento de 5,6 pontos percentuais, chegando a 18,9%. O Centro-Oeste teve a menor variação. Em dez anos a população autodeclarada preta cresceu 1,9 ponto percentual e a parda 2,7 pontos percentuais. Por ser uma pesquisa por amostra, as variáveis divulgadas pela Pnad estão dentro de um intervalo numérico, que é o chamado "erro amostral". Segundo o IBGE, não há
  • 3. uma margem de erro específica para toda a amostra. Para a Pnad 2013, foram ouvidas 362.555 pessoas em 148.697 domicílios pelo país. http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2014/09/18/ibge-n-de-autodeclarados- pretos-e-pardos-sobe-e-negros-sao-45-no-pais.htm