Este documento apresenta uma lista de 100 discos marcantes da década de 2000, organizados de forma não-cronológica e sem ordem de importância. O autor critica listas anteriores por terem critérios baseados em tendências e jabá, em vez da qualidade musical. A lista inclui diversos gêneros como pop, rock, metal, hip hop e folk, com no máximo 2 discos por artista.
2. 100 GRANDES DISCOS DOS
2000
ANOS
Slides feitos por: Adolfo Ifanger
Em 04 de março de 2013.
Conheça meu portfolio online com textos sobre
música, cinema, televisão, literatura, história, curiosidades e futebol americano:
www.adolfoifanger.com
3. Introdução:
Se tem uma coisa que eu prezo muito é não criar listas de melhores e piores. Andei dando uma olhada
nas listas dos melhores da década de 2000 em publicações conceituadas, como Rolling
Stone, Billboard e Pitchfork. Afinal de contas, quais são os critérios utilizados por esses “especialistas”
ao dizerem que Chris Brown é melhor do que Metallica? Ou que Rolling Stones, por exemplo, não
mereceu sequer uma menção nessas listas?
Uma coisa é fato: ninguém ouviu a TODOS os discos lançados na década para poder escolher os
melhores. Nota-se que os critérios têm muito mais a ver com jabá de gravadora e tendência do
mercado do que com música de qualidade. A revista Rolling Stone, por exemplo, colocou todos os
discos que o Radiohead lançou na década. Realmente, todos foram bons, mas e aí, não vamos deixar
espaço então para outros artistas tão bons quanto? Outra coisa que reparei nessas listas: a falta de
memória. É incrível como tem uma tonelada de discos lançados de 2005 pra cá; os lançados antes
dessa data aparecem em muito menor escala. Isso significa que só teve coisa ruim no começo da
década? Não, quer dizer que é importante manter a chama acesa.
Portanto, é com muito orgulho que apresento a minha lista de 100 Grandes Discos da Década de
2000, e não os melhores. Eu sei que faltou muita coisa. Muito mais do que algo pessoal, minha
intenção foi criar uma retrospectiva desta década com 100 álbuns marcantes, organizados de forma
não-cronológica e nem por ordem de importância. Ou seja, não significa que os 10 primeiros discos
listados são melhores que os 10 últimos. Usei como principal critério constar, no máximo, 2 discos por
artista, para não parecer lista de fã (como fez a Rolling Stone) e nem ficar injusto com ninguém.
Pop, rock, metal, hip hop, folk e outros gêneros aparecem na lista.
4. Chegou a ser ofensivo quando o System of a
Down foi rotulado de “New Metal”. A música do
quarteto californiano não é de fácil rotulação.
Não é o tipo de banda que você consegue
guardar numa gaveta. Suas raízes estão
fincadas no trash metal do Slayer (uma de
suas maiores influências), mas dá cabo a uma
salada musical sem precedentes. “Toxicity” foi
lançado em 4 de setembro de 2001, cinco dias
antes dos atentados ao World Trade Center.
Seus integrantes, por serem de descendência
armênia, foram vistos como inimigos dos
Estados Unidos. Para ajudar, o alvo principal
nas letras politizadas da dupla Serj Tankian e
Daron Malakian era justamente o capitalismo
sufocante dos norte-americanos e sua (má?)
System of a Down influência para o restante do planeta. Acabou
Toxicity (2001) sendo proibido, boicotado em diversas rádios
daquele país, perseguido pelo FBI e entrou
para a lista das bandas que a América passou
a repudiar após o 9/11. Um álbum histórico e
001 inquieto, a mais perfeita imagem daqueles
tempos sombrios para o mundo ocidental.
5. E foi com o The Strokes que a década ganhou
cores. Este é o disco mais importante e
influente dos anos 2000.
Seu estrondoso sucesso puxou uma corrente
musical como não acontecia desde o
movimento grunge. Depois dos cinco moleques
esporrentos de Nova York, muita coisa mudou
no rock. Seu sucesso abriu as portas para o
surgimento (e a posterior exploração) de
bandas do mesmo gênero – rock de garagem
cru e primitivo, com ar de anos 60, roupas dos
anos 70 e 80, ideias e distorções dos anos 90.
Foi o maior acontecimento do rock, e se hoje
temos bandas como Arctic Monkeys, Franz
Ferdinand e Kings of Leon, é por causa do The
The Strokes Strokes.
Is This It (2001)
002
6. Sexo, deserto, bebedeiras, drogas, óvnis, rock
n‟ roll. A junção desses ingredientes resultou no
mais bacana, viciante, criativo, ousado e
chapado disco da década. Por trás desse
monstro estão Josh Homme e Nick
Olivieri, dois gênios que inventaram o Stoner
Rock no início dos anos 90, com o Kyuss.
Quando o álbum foi lançado, o Queens of the
Stone Age apareceu em praticamente todas as
publicações como a maior revelação desde
Nirvana.
Todos esperavam que a banda fosse explodir e
revolucionar o rock, mas
Homme, esperto, ficou na sua e não se deixou
levar pelo lado mais fácil do sucesso. A
parceria entre Homme e Olivieri terminaria
Queens of the Stone Age alguns anos depois, o que só faz com que
Rated R (2000) “Rated R” mantenha o mesmo frescor de
novidade de quando foi lançado. Um disco de
difícil assimilação para grande parte do
público. Mas, uma vez preso no universo
003 insano do Queens of the Stone Age, fica difícil
de encontrar uma saída.
7. O que fazer quando sua banda atinge o auge
do reconhecimento, depois de vender quase
10 milhões de cópias e receber uma avalanche
de prêmios? Continua a fazer o mesmo
trabalho para garantir sucesso e
dinheiro, certo? Para o Radiohead, não. Três
anos após abalar o mundo com o genial “Ok
Computer” (1997), o quinteto britânico cometeu
suicídio comercial com “Kid A”, provavelmente
um dos álbuns mais indigestos já lançados.
Frio, robótico, triste, desesperado e
angustiante – “Kid A” se tornou o perfeito
retrato do medo e da paranoia da virada do
Século. A voz melancólica de Thom Yorke
sangra letras desconexas sob texturas
formadas por sintetizadores gelados, guitarras
Radiohead desafinadas, bateria eletrônica e muitos efeitos
Kid A (2000) sonoros. Não existe melodia, não existem
canções pop, não existe luz para iluminar a
ironia de clássicos como “Idioteque”, “How to
Disappear Completely” e “Everything Is In It‟s
004 Right Place”.
8. Blues Rock tosco e orgânico, levado às últimas
conseqüências. A dupla formada por Jack e
Meg White apareceu de repente em 1999 e
atingiu seu ápice criativo com “Elephant”. É
desse disco “Seven Nation Army”, uma das
canções mais memoráveis da
década, atualmente cantada em coro por
praticamente todas as torcidas de futebol do
mundo.
Rock garageiro sem maiores pretensões, sem
soar apelativo ou comercial – a ironia foi o seu
estrondoso sucesso, arrancando a 5ª posição
da Billboard, levando o Grammy de melhor
disco de rock alternativo do ano..
The White Stripes
Elephant (2003)
005
9. Como bem disse um critico americano, o som
do BellRays soa como se Tina Turner tivesse
se juntado aos Ramones. Punk/ Soul
barulhento, com guitarras socando nossa
cabeça como serras-elétrica, enquanto a
carismática vocalista Lisa Kekaula vomita
simplesmente a melhor e mais poderosa voz
feminina dentro do rock n‟ roll desde Janis
Joplin. Canções como “Too Many Houses in
There” e “Stupid Fuckin‟ People” são
explosivas, infernais.
A maior influência é mesmo Ramones, mas há
espaço para o rock barulhento do Nirvana, a
rebeldia politizada dos Sex Pistols e as
guitarras espertas da soul music da
Motown, de nomes como Marvin Gaye. Ainda
The BellRays pouco conhecido do público brasileiro, o The
Grand Fury (2001) BellRays cravou seu nome na história do rock
garageiro com este disco genial.
.
006
10. Álbum de estreia dessa fantástica banda
britânica. Conceitual, todas as composições
giram em torno da agitada vida dos clubbers
que infestam as pistas de dança no norte da
Inglaterra. Debaixo de uma chuva de guitarras
dançantes, riffs tortos e bateria
oitentista, somos levados pelas letras escritas
em primeira-pessoa, sarcásticas observações
sobre a vida desses jovens baladeiros.
Pegou todo mundo de surpresa, vendeu
incríveis 360 mil cópias em apenas 1
semana, tornando-se o disco de estreia
britânico que mais cópias vendeu em pouco
tempo. Dentre os destaques, estão ótimas
faixas como “I Bet You Look Good on the
Dancefloor”, “Fake Takes of San
Arctic Monkeys Francisco”, “Dancing Shoes”, “Perhaps
Whatever People Say, That’s Vampires Is a Bit Strong But…” e “A Certain
Romance”, esta última eleita uma das músicas
What I’m Not (2006) mais influentes da década.
.
007
11. Assim como aconteceu com o Arctic
Monkeys, a estreia do Franz Ferdinand foi um
estrondoso sucesso. Obteve críticas
maravilhosas, foi prontamente saudado como
um dos grandes discos da década e, além de
tudo, nos brindou com hits grudentos como
“Jacqueline”, “Take me Out” e “The Dark of the
Matineé”. Influenciados pelo new wave do
Talking Heads e outros grupos dos anos 80, o
som do Franz Ferdinand transita entre o
dançante descompromissado com letras de
amor e músicas mais sombrias e
intensas, típico do rock alternativo dos anos
2000.
Um álbum cheio de personalidade, cuja
sonoridade se tornaria mais reforçada no
Franz Ferdinand recente disco “Tonight: Franz
Franz Ferdinand (2004) Ferdinand”, lançado ano passado.
008
12. Após tomar um pé na bunda da mulher, Dave
Ghrol se trancou em seu próprio mundo e saiu
de lá com o disco mais sério e impactante do
Foo Fighters. O álbum tem o amor (a falta de
crença nele) como tema, o que pode ser
facilmente visto desde sua arte gráfica. Menos
pesado que os dois primeiros álbuns – “Foo
Fighters” (1995) e “The Colour and The Shape”
(1997) – e bem menos pop radiofônico que o
apelativo “There Is Nothing Left to Lose”
(1999), “One By One” mostra uma coleção de
músicas nervosas, apoiadas por letras sérias e
reflexivas.
“Disenchanted Lullabye” e “Burn Away” são
exemplos do que Dave Ghrol é capaz de fazer
quando está com o coração na mão. Sucessos
Foo Fighters como a faixa-título, “Times Like These” e “Tired
One By One (2002) of You” (esta última com a participação de
Brian May, do Queen) são bonitas e sinceras,
breves momentos em que Ghrol deixou de lado
o lado pop de arena de sua banda.
009
13. Último suspiro antes de Chris Martin & CIA
virarem anjinhos da UNICEF e heróis dos
pobres e oprimidos pelo mundo. Último suspiro
antes de eles transformarem sua música em
protestinhos panfletários que não convencem
nem o Didi. Mesmo mostrando veia engajada e
letras politizadas (a maravilhosa “Politik” já diz
tudo), o quarteto britânico ainda se preocupava
mais com suas baladas do que com as
desgraças do mundo.
Visceral e melancólico, o disco prima pela bela
coleção de baladas que enxuga boa parte do
rock britânico dos últimos tempos, indo de
Beatles a Radiohead, tudo tocado com alma.
“Clocks”, “Green Eyes” e “In My Place” são
outros destaques deste grande disco, que
Coldplay consegue causar impacto a cada nova
A Rush of Blood to the Head audição.
(2002)
010
14. Oriundos de Nova York, o esporrento trio
liderado pela bocuda Karen O chegou
causando caos no rock alternativo. Seu
primeiro álbum é um missel sem direção, onze
musiquinhas barulhentas e curtas na medida
certa para torcer pescoços.
Dance-punk, indie rock e art rock se contorcem
em uma pista de dança frenética, baseada em
vocais gritados, uma guitarra fazendo todo o
trabalho sujo possível e bateria minimalista.
Sim, não há o som gostoso do baixo para
costurar tudo, detalhe que deixa o som do
Yeah Yeah Yeahs ainda mais selvagem.
Yeah Yeah Yeahs
Fever to Tell (2003)
011
15. Michael Amott é um dos caras mais
respeitados do heavy metal. Após integrar o
cultuado Carcass entre 1990 e 1993, fundou o
Spiritual Beggars em 1994 e o Arch Enemy em
1996. Mas, ao contrário do metal tradicionalista
do Carcass e Arch Enemy, Amott mostra
versatilidade com seu Spiritual Beggars, que
pega carona pelos escaldantes desertos do
Stoner Rock.
Músicas pesadas, atmosféricas, cadenciadas e
chapadas. Órgãos climáticos, guitarras
sujas, riffs para bater a cabeça na parede.
Destaque absoluto para “Dying Everyday”, que
começa heavy metal, vira blues, se transforma
em um rock progressivo à lá Pink Floyd e volta
para o metal do início. Tudo isso costurado por
Spiritual Beggars nuances guitarras swingadas, uma das
Demons (2005) principais características do Stoner Rock.
012
16. “Bem, talvez eu seja um americano idiota/ Não
faço parte de uma agenda preconceituosa”.
Assim o Green Day abre sua primeira ópera-
rock, altamente influenciada por “Tommy” (The
Who, 1969), “Close to the Edge” (Yes, 1972) e
“The Wall” (Pink Floyd, 1979).
O punk-rock adolescente e engraçadinho dos
primeiros trabalhos cede espaço para fortes
críticas à administração de George W. Bush.
Em diversas entrevistas, o trio concordou em
descrever “American Idiot” como uma atitude
clássica americana: protestar e comentar.
Instrumentalmente, o disco mostra novas
influências e experimenta novas
direções, como na longa “Jesus of
Suburbia”, onde quatro canções distintas
Green Day constroem uma suíte de quase dez minutos de
American Idiot (2004) duração. Foi indicado a 7 Grammy, recebendo
o de Melhor Disco de Rock. Dentre os
sucessos, estão as bonitas “Boulevard of
Broken Dreams” e “Wake me Up When
013 September Ends”, esta última acabou virando
um eventual tributo às vítimas do furacão
Katrina, que devastou New Orleans em 2005.
17. Disco mais vendido de 2007, “Back to Black” é
o segundo petardo soul da britânica nascida
em 1983. O álbum foi um tremendo fenômeno,
vendendo mais de 12 milhões de cópias,
recebendo seis indicações ao Grammy e
transformando a vida de Amy num verdadeiro
big brother de brigas, escândalos, overdoses,
internações e outras birutices.
A fama lhe fez mal, tão mal que há quase três
anos ela tenta completar seu novo disco de
estúdio. Seu abuso com drogas está tão
descontrolado que, se não conseguir dar a
volta por cima logo, poderá entrar para o
mesmo time de Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim
Morrison. Suas músicas são uma swingada
mistura de soul, R&B, pop e rock, diluídos em
Amy Winehouse letras que falam descaradamente sobre
Black to Black (2006) drogas, sexo e traição. Tudo muito pessoal e
honesto, o que torna Amy em um nome ainda
mais digno de aplausos. Sem duvida, o nome
que mais causou frisson na década.
014
18. Seguindo os passos de Neil Young, Bruce
Springsteen, Goo Goo Dolls e outros, o Sonic
Youth realizou uma epopeia musical tendo
como pano de fundo os atentados de 11 de
setembro de 2001. Mais melódico e
melancólico que os demais trabalhos, “Murray
Street” é um primor, desde sua bela capa, cuja
foto foi tirada em um bairro próximo ao World
Trade Center.
A veia punk pode ser melhor compreendida em
“Plastic Sun”, gritada pela loira maluca Kim
Gordon, mas o restante do disco passeia por
ambientes neutros e nublados. “The Empty
Page” e “Disconnection Notice” são baladas
bonitas, enraizadas nos amigos do
R.E.M., enquanto a longa “Karen Revisited”
Sonic Youth mostra a boa e velha fórmula de
Murray Street (2002) melodia, experimentos e microfonias
ensurdecedoras de sempre.
015
19. Tirando o lado andrógino e as polêmicas
envolvendo o suposto hermafrodita Brian
Molko (até onde isso é verdade?), o Placebo
inundou a década com seu rock ousado e
repleto de sexualidade. Guitarras
sujas, composições intensas e a mescla de
barulho+melodia+eletrônico transformaram o
trio britânico em um dos nomes mais
festejados dos últimos dez anos. “Sleeping
With Ghosts” foi lançado como um CD
duplo, sendo o segundo de covers – boas
versões para clássicos como “Where‟s My
Mind?” (Pixies) e “Bigmouth Strikes Again”
(The Smiths) – enquanto o primeiro disco
mostra a banda em boa forma.
São 12 músicas que sintetizam o desespero, o
Placebo amor e o suicídio. Temas que se tornariam
Sleeping With Ghosts (2003) batidos até pelo próprio Placebo, mas que em
“Sleeping With Ghosts” ainda soa impactante.
016
20. Provavelmente a banda alemã que mais se
destacou fora de seu país. Poucas bandas de
metal podem se orgulhar de fazer um som tão
rígido e frio, mas ao mesmo tempo cheio de
teclados, orquestrações épicas e melodias
assobiáveis.
Vindos da escola do metal industrial, o
Rammstein registrou seu melhor momento em
“Mutter”, um álbum pesado e maravilhoso do
início ao fim. Todo o peso do metal se
concentra em um tubo de ensaio que contém
ainda música eletrônica, tecno e até momentos
que nos levam aos anos 80. “Mein Herz
brennt” acabou virando música-tema do filme
dinamarquês “Para Sempre Lilya”, lançado em
2002.
Rammstein
Mütter (2001)
017
21. Ahhh, os anos 60! Época boa de
Beatles, Turtles, Kinks e... Raconteurs? Pois
é, ouvir “Broken Boy Soldiers” é como se
deparar com um desconhecido grupo dos anos
60 que você deveria ter conhecido muito tempo
antes.
Dá a impressão de que o disco foi todo
gravado ao vivo dentro de uma garagem úmida
e esfumaçada, com pôsteres de Janis
Joplin, Led Zeppelin e Beatles decorando as
paredes com infiltrações e goteiras que
transbordam baldes.
The Raconteurs
Broken Boy Soldiers (2006)
018
22. Mesmo tendo sido recebido friamente pela
crítica, este álbum do quarteto britânico
acabou por se tornar o preferido dos fãs. Não é
a toa: os irmãos Gallagher adentram a década
mais sombrios, introspectivos e experimentais.
Não existem baladas fáceis ou músicas
explosivas.
Abre com uma faixa instrumental, calcada no
tecno (“Fuckin‟ In The Bushes”) e cai para o
single “Go Let it Out”, a coisa mais pop que
você encontrará por aqui. “Who Feels Love?”
absorve as drogas e o lado indiano dos Beatles
de sua fase psicodélica (1966-1968); “Put Yer
Money Where Yer Mouth Is” soa como se o
The Doors tivesse ouvido a sujeira do Nirvana.
Mas o que mais chama a atenção são as letras
Oasis viscerais e as baladas que só o Oasis
Standing on the Shoulder of conseguia compor: “Gas Panic!”, “Little James”
e “Sunday Morning Call” são algumas delas.
Giants (2000)
019
23. Uma das mais potentes vozes dos anos 90, o
americano Mark Lanegan é o tipo de cara que
topa tudo. Construiu sua carreira ao lado do
Screaming Trees, grupo seminal para se
entender o movimento grunge de Seattle.
Paralelo a sua carreira-solo que teve início em
1989, Lanegan carrega um histórico de
colaborações: Queens of the Stone Age, The
Gutter Twins, The Twilight Singers, Soulsavers,
dupla com Isobel Campbell (Belle & Sebastian)
e por aí vai. Em “Field Songs”, Mark incorpora
um trovador que passeia de pub em pub atrás
de amores, amigos, bebidas e histórias
incompletas.
Baladas para se ouvir em um lugar
esfumaçado e silencioso, com um bom whisky
Mark Lanegan do lado e um maço de cigarros para degustar.
Field Songs (2001) Seu vozeirão de cinzeiro transforma canções
simples como “Miracle” em grandes viagens.
Bonito e intenso.
020
24. Já pelo berrinho desafinado que abre o disco
dá pra sacar o que vem nos próximos minutos:
rock n‟ roll barulhento e festivo, divertido e
orgânico. A atriz Juliette Lewis, de filmes
cultuados como “Cabo do Medo” (1991),
“Kalifornia” (1993), “Assassinos por Natureza”
(1994) e “Um Drink no Inferno” (1996), mostra
que sua veia roqueira não é nada falsificada,
como costuma acontecer com ator que se
mete a cantar.
O negócio dela é berrar pelos cotovelos e tocar
sua guitarra como se fosse a última coisa de
sua vida. Faixas como “Sticky Honey”, “Death
Of A Whore”, “Purgatory Blues” e “Hot Kiss”
são músicas pouco lapidadas, feitas sem
maiores pretensões, para agradar em cheio a
Juliette and the Licks todos que gostam de rock dos bons.
Four On The Floor (2006)
021
25. Todo mundo lembra dos Jay-Z da vida e
esquece de pérolas como Probot. Não dá pra
entender esses “especialistas” em música.
Desde os tempos do Nirvana, Dave Ghrol
amava heavy metal, mas nunca encontrava
espaço para provar seu amor. No Foo Fighters,
muito menos. Em um dia qualquer, Ghrol se
enfiou em seu estúdio caseiro, compôs 12
músicas, gravou todos os instrumentos e
mandou cada faixa para um vocalista de metal
que ele gostava.
Era pegar ou largar. O resultado dessa
brincadeira foi um dos mais bacanas discos de
heavy metal da década: Cronos (Venom); Max
Cavalera (Sepultura); Lemmy Kilmister
(Motorhead); Mike Dean (C.O.C.); Kurt Brecht
Probot (D.R.I.); Lee Dorrian (Napalm Death); Wino
Probot (2004) (Saint Vitus); Tom G. Warrior (Celtic Frost);
Snake (Voivod); Eric Wagner (Trouble); King
Diamond e até Jack Black (Tenacious D) foram
os escolhidos. Dentre os destaques, as
022 porradas “Red War”, “Centuries of Sin” e “My
Tortured Soul”.
26. Herói dos headbanghers, o tiozão Ozzy
Osbourne saiu do túmulo após seis anos para
mostrar a essa molecada sem graça o que é
heavy metal. “Gets Me Through”, “Facing Hell”,
“No Easy Way Out”, “Black Illusion” e “Junkie”
são verdadeiros socos na cara, apoiados pelo
monopólio do guitarrista Zakk Wylde: é
inegável sua influência na sonoridade de Ozzy.
Do lado mela-cueca, estão as lindas
“Dreamer”, “Running Out of Time” e “You Know
(Part 1)”. Como todo álbum do britânico, um
perfeito equilíbrio entre peso e belas melodias.
Ozzy Osbourne
Down to Earth (2001)
023
27. Ouvir Portishead é entrar em um filme de
ficção científica, dramático e violento, com
viagens por dimensões desconhecidas,
silenciosas naves espaciais e robôs
superinteligentes. A voz levemente rouca da
chaminé ambulante Beth Gibbons soa ainda
mais triste e amargurada, como se estivesse
morrendo afogada pelos samples,
sintetizadores e batidas gélidas que inundam o
ambiente.
Precursores do trip hop, os britânicos do
Portishead atingiram seu ápice criativo com
“Third”, recebendo elogios até mesmo do
pessoal do Radiohead. Não é um disco fácil de
gostar logo na primeira audição. Para quem
nunca experimentou dessa viagem
Portishead claustrofóbica antes, fica aqui um conselho:
Third (2008) não feche os olhos.
024
28. Em seu quarto álbum de estúdio, os
finlandeses do Nightwish – uma das maiores
bandas de Symphonic Metal de todos os
tempos – registra um disco onde o misticismo
encontra o power metal, resultando em
músicas atmosféricas, pesadas e recheadas
por riffs destruidores.
“Bless the Child” e “Slaying the Dreamer” (não
tem como ficar indiferente a essa paulada) são
apenas duas das melhores faixas do disco,
que traz também “Dead to the World”, a
climática “Beauty of the Beast” e uma versão
maravilhosa para “The Phantom of the Opera”,
baseado no clássico romance francês de
Gaston Leroux, de 1910.
Nightwish
Century Child (2002)
025
29. Bebendo de uma fonte muito mais hardcore do
que o usual, a dupla californiana formada pelos
ex-System of a Down, Daron Malakian
(guitarra/ voz) e John Delaway (bateria),
estrearam com um disco veloz, sem maiores
frescuras. Malakian apela nas suas letras
politizadas, sobrando até mesmo um mal-
educado “filho da puta” dirigido ao então
presidente americano, George W. Bush.
Um álbum explosivo e mais coerente que a
estreia solo de Serj Tankian, ex-líder do
System of a Down. “Exploding/ Reloading”,
“Insane”, “Kill Each Other/ Live Forever” e o
single “They Say” são apenas uma amostra do
poder de fogo dessa grande dupla, que ao vivo
é escoltada pelos malucos Franky Perez
Scars on Broadway (guitarra), Dominic Cifarelli (baixo), Danny
Scars on Broadway (2008) Shamoun (teclados/ percussão) e Brad Delson
(guitarra).
026
30. Josh Homme (Queens of the Stone Age), John
Paul Jones (Led Zeppelin) e Dave Ghrol
(Nirvana, Foo Fighters), juntos? Pois é: eis o
time dos sonhos de qualquer roqueiro. O Them
Crooked Vultures é, sem dúvida, o melhor
supergrupo de 2009 e um dos mais bacanas
surgidos na década.
Stoner rock pulsante, com raízes blueseiras e
toda a vibração de estarmos diante de um
disco instantaneamente histórico. Viajante,
desértico, quente, espacial: todos os
ingredientes mais legais que você pode
imaginar dentro do rock reunidos, prontos para
invadir seu cérebro.
Them Crooked Vultures
Them Crooked Vultures
(2009)
027
31. A britânica Dido tem um jeito muito especial de
cantar e compor. Mais de 12 milhões de cópias
vendidas, “Life for Rent” flagra sua voz
melancólica em um momento muito íntimo,
amortecida por baladas suaves, construídas a
partir de muitos instrumentos de cordas
(violões, principalmente) e belíssimas
orquestrações.
Há um lado trip hop em seu som, baseado em
discretas batidas eletrônicas. Um pop
condensado e gostoso de ouvir, cujo
romantismo impresso em cada canção soa
humano, longe da banalização imposta pelo
pop mundial.
Dido
Life For Rent (2003)
028
32. O Metallica teve que descer ao mais profundo
dos infernos pessoais para, no momento da
colisão, ressurgir cheio de energia e fúria. Em
2003, o quarteto americano deu um tapa em
todo mundo com o também fantástico “Saint
Anger”, disco experimental, amado e odiado
em proporções iguais.
Observando hoje, eles tiveram que praticar tal
aborto sonoro, tiveram que expor suas
intimidades para as câmeras (o documentário
“Some Kind of Monster”, 2005), tiveram que se
reconciliar com Dave Mustaine (Megadeth)
para, por último, se reconciliar com eles
próprios. “Death Magnetic” é a redenção
definitiva da melhor banda de heavy metal de
todos os tempos.
Metallica
Death Magnetic (2008)
029
33. Como o título indica, este segundo trabalho
solo de Jerry Cantrell (ex-Alice In Chains) é
uma tortuosa viagem por dentro do sombrio
universo das drogas químicas e de toda a
degradação física e mental proporcionada por
elas. Lançado dois meses após a trágica morte
por overdose de Layne Staley (líder do Alice In
Chains), “Degradation Trip” é um tributo
sincero para o amigo de tantos anos e de
tantas alegrias e tristezas.
O baterista Mike Bordin (Faith No More) e o
baixista Robert Trujilo (Metallica e Ozzy
Osbourne) acompanham com mão de ferro a
viagem de Cantrell. Pesado, intenso,
distorcido, longo: ao fim das 14 cacetadas, nos
encontramos sem muita luz.
Jerry Cantrell
Degradation Trip (2002)
030
34. Elliott Smith sempre foi um sujeito esquisito.
Era extremamente fechado, falava pouco,
aparecia pouco. Até mesmo ao cometer
suicídio, em 2003, Smith foi excêntrico: enfiou
uma faca no estômago. Sua música pode ser
comparada a outro gênio de vida curta, Nick
Drake (1948-1974), que também se matou por
causa da depressão.
Ambos tinham uma voz frágil e quebradiça,
ambos faziam canções silenciosas, boa parte
delas levadas por dedilhados de violão. O
diferencial era que Smith ainda gostava de ter
uma banda como apoio em diversos
momentos, como em “Son of Sam”. Sua
fórmula, porém, eram as baladas tristes de
imagens surreais, que o levaria à morte.
Elliott Smith
Figure 8 (2000)
031
35. O Octavia Sperati foi formado em Bergen,
Noruega, no ano de 2000. Era uma banda
basicamente formada por mulheres, e tal
tradição só foi cortada com a posterior entrada
do baterista Ivar Alver. Em 2002, lançaram
uma demo de pouquíssima repercussão,
"Guilty". O álbum de estreia viria somente três
anos mais tarde, com o excelente "Winter
Enclosure". Representado por 11 grandes
canções, o disco une peso, melodias épicas e
a bela voz de Wergeland colando tudo em uma
mescla de ambientes sombrios.
Em 2007, lançaram o segundo - e último -
álbum de estúdio: "Grace Submerged", ainda
mais bonito, melodioso e agridoce. Em 2008,
mesmo crescendo cada vez mais no cenário
Octavia Sperati gótico, o Octavia Sperati anunciou seu fim. Um
Grace Submerged (2007) ano mais tarde, Silje anunciou sua entrada no
The Gathering, enterrando qualquer chance de
sua banda-mãe voltar.
032
36. Último disco com a vocalista Anneke van
Giersbergen, que um ano mais tarde
anunciaria sua saída da banda para se lançar
com o projeto Agua de Annique. O The
Gathering surgiu da cena death metal que
pulsou na Holanda durante o começo dos anos
90. Mas com a entrada de Anneke em 1994, o
som ganhou outras cores, longe do pesadelo
gutural mostrado em “Always” (1992) e “Almost
a Dance” (1993).
Foram taxados de gothic metal, sem sucesso.
Rock alternativo é a melhor definição para a
música eclética desta grande banda. “Home”
se comporta como o álbum mais eletrônico e
sombrio de sua carreira, repleto de belas
músicas como “Alone” e a maravilhosa
The Gathering “Shortest Day”. Marca o fim de uma era para o
Home (2006) The Gathering, atualmente contando com Silje
Wergeland nos vocais.
033
37. Em seu segundo – e último álbum de estúdio
até o momento – a inglesa Lily Allen apresenta
canções ainda mais inspiradas do que na
contundente estreia.
Com a língua afiada como nunca, Allen é um
desses personagens que salvam o pop do
lugar-comum, cantando letras com uma visão
corrosiva, sarcástica e irônica sobre coisas da
vida. Vendeu quase 3 milhões de cópias e seu
principal sucesso foi a bela balada “The Fear”,
uma das melhores faixas do disco.
Outros destaques vão para o country “Not
Fair”, sobre quando o cara broxa na cama;
“22”, que fala sobre gastar a vida com coisas
fúteis; e a ofensiva “Fuck You”, onde Allen
Lily Allen critica a sociedade britânica, o padrão de
It’s Not Me, It’s You (2009) beleza estabelecido pela mídia e até o ex-
presidente dos Estados Unidos George W.
Bush.
034
38. Logo no primeiro murro na bateria, ficamos
entregues ao denso barulho do Smashing
Pumpkins, banda fundamental dos anos 90,
mas que foi se desintegrando ano após ano,
até entrar em um hiato no começo desta
década. Da clássica formação, restaram
apenas o líder Billy Corgan e o baterista Jimmy
Chamberlin. “Zeitgeist” foi gerado em meio a
processos judiciais e críticas dos antigos
integrantes, o guitarrista James Iha e a baixista
D‟arcy Wretzky.
Aquecimento global e a paranoia americana
pós-11/09 estão entre os principais temas.
“Doomsday Clock”, “Tarantula” e a apocalíptica
“United States” são só algumas das músicas
deste grande trabalho.
Smashing Pumpkins
Zeitgeist (2007)
035
39. “By The Way” veio das experiências do
guitarrista John Frusciante com as drogas. Em
1992, Frusciante largou o Chili Peppers na
mão, virou mendigo e foi encontrado pelos
amigos anos depois, sem os dentes, sujo e
completamente perdido. “Californication”
(1999) foi seu retorno triunfal ao mundo da
música, tornando-se um fenômeno mundial de
vendas e singles radiofônicos.
Ainda amargando a vida desgarrada que
tivera, Frusciante escreveu todas as faixas e
compôs todas as linhas de guitarra e baixo
para “By The Way”, lançado como um disco
mais introspectivo. Até mesmo na arte gráfica
e nas fotos do encarte podemos notar que
aqueles moleques bagunceiros que
Red Hot Chili Peppers mesclavam funk com punk rock não eram mais
By The Way (2002) os mesmos.
036
40. O Opeth é uma banda sueca de death metal
que apresenta todos os elementos do gênero:
vocal gutural, bateria à velocidade da luz,
guitarras serra-elétrica e por aí vai. Mas, em
“Damnation”, a banda liderada pelo carismático
Mikael Äkerfeldt decidiu homenagear o Rock
Progressivo.
Tinha tudo para ser o disco mais odiado pelos
fãs, mas acabou sendo recebido como a vinda
Cristo à Terra. Também, pudera:
provavelmente é o álbum progressivo mais
bonito e impecável da década. “In My Time of
Need” é de chorar de tão linda. Guitarras
limpas, orquestrações, pianos, violões
acústicos e bateria minimalista escrevem a
poesia melancólica de “Damnation”.
Opeth
Damnation (2003)
037
41. Pouco antes de ser expulso do Queens of the
Stone Age por bater na namorada, o careca
Nick Olivieri cuspiu toda sua ira nesta bomba
nuclear que mescla stoner rock com punk.
Como o título sugere, Olivieri glorifica a
cocaína como a melhor coisa da sua vida.
Outros temas abordados: o divórcio pelo qual
sofria (com outra mulher, diga-se de
passagem) e a morte de seu pai. Pesado,
vomitado e gritado, como qualquer genuíno
clássico punk deve ser soar. Destaque para a
balada “Four Corners”, com a sempre bem-
vinda participação do trovador Mark Lanegan.
Mondo Generator
A Drug Problem That Never
Existed (2003)
038
42. Cansado de tantos processos judiciais e
críticas vindas de todos os lados, Michael
Jackson ficou quase dez anos longe da mídia.
Retornou com “Invincible”, cujo sucesso
devastador das primeiras semanas foi cortada
bruscamente depois de desentendimentos
entre Jackson e sua gravadora, a Sony. A
gravadora então decidiu boicotar a divulgação
do álbum, que acabou vendendo abaixo do
esperado para os padrões do cantor (“apenas”
10 milhões de cópias).
As coisas realmente não estavam nada bem
para o Rei do Pop. Musicalmente, este é seu
disco mais forte já registrado, no qual ele fala,
pela primeira vez, sobre seu abuso com
comprimidos e drogas sintéticas. Batidas
Michael Jackson tintensas, influências de rap e hip hop, músicas
Invencible (2001) avassaladoras como “Unbreakable” e “You
Rock My World”: ninguém imaginava que este
seria o canto do cisne de Michael Jackson. Foi-
se em grande estilo.
039
43. Faltam palavras para descrever o ataque
sonoro de “Songs for the Deaf”. Dave Ghrol na
bateria pela primeira vez desde o fim do
Nirvana, participações de Mark Lanegan, Nick
Olivieri ainda comandando o baixo, álbum
dedicado aos Ramones. Dá uma magnífica
sensação de liberdade ouvir clássicos como
“Go With the Flow” e “No One Knows”, esta
última dona do “melhor riff de guitarra da
década”, segunda uma conceituada publicação
americana.
Conceitual, o disco tem um programa de rádio
mexicano como pano de fundo, que interliga
todas as faixas através de vinhetas malucas.
Os pedaços mais infernais ficam para o capeta
Nick Olivieri; o gênio Josh Homme fica com as
Queens of the Stone Age chapações lisérgicas (“The Sky is Falling”, por
Songs for the Deaf (2002) exemplo); e Mark Lanegan comanda as mais
quebradas, caso de “A Song for the Dead”,
trilha sonora perfeita para quando a Terra for
pro saco.
040
44. A poderosa sonoridade do Autumn foge
completamente do chamado “A bela e a fera” –
nome dado ao dueto entre voz masculina
gutural e voz feminina lírica, preferindo apoiar-
se em canções vigorosas, intensas, melódicas
e marcantes.
Em muitos momentos, parecemos estar diante
de uma (ótima) banda de rock, sem pertencer
a nenhum rótulo pré-definido. Fundado em
1995, o Autumn contou durante vários anos
com a vocalista Nienke de Jong, que anunciou
sua saída por volta de 2008 por causa das
famosas diferenças musicais. Com a entrada
de Welman, o som ganhou novas luzes e vem
conquistando cada vez mais público por toda a
Europa. Aqui no Brasil, o Autumn é um tanto
Autumn desconhecido ainda, como é de se esperar
Altitude (2009) vindo do país do funk carioca...
041
45. Eis o melhor exemplo do que podemos rotular
como pós-grunge, que tem também o Creed
como outro nome conhecido. Terceiro disco de
estúdio, “Silver Side Up” foi o primeiro a sair do
Canadá para varrer o mundo, apoiado pelos
sucessos “Never Again”, que fala sobre
violência contra mulheres, “How You Remind
Me?” e a pessoal “Too Bad”, que trata do fato
de o pai do vocalista, Chad Kroeger, tê-lo
abandonado quando este tinha apenas dois
anos de idade.
Os dois últimos singles, aliás, viraram febre no
Brasil: não tinha quem não conhecesse
Nickelback por volta de 2002. Aonde quer que
eu fosse, sempre via carros com alguma
dessas músicas no último volume. Uma febre
Nickelback que me deixou bastante nostálgico.
Silder Side Up (2001)
042
46. Quando foi lançado, o clipe da canção
“American Life” determinou o enorme fiasco
comercial do novo disco de Madonna nos
Estados Unidos. Também, não era para
menos: tendo a guerra entre Estados Unidos e
Iraque como pano de fundo, a cantora
comparou a guerra a um mero desfile de moda
contando com um monte de celebridades. Até
o George W. Bush aparece, interpretado por
um sósia. Outra polêmica: o tom antiamericano
permeava todo o trabalho.
Além da tensão pré-guerra, a cantora fala
também sobre religião e política, sendo este o
seu disco mais incomum. Uma joia rara,
incompreendido na época de seu lançamento,
dono de canções como a faixa-título, “Die
Madonna Another Day” (tema do filme “007: Um Novo
American Life (2003) Dia Para Morrer”) e “Hollywood”. Emergindo
como uma figura antipatriótica, Madonna
mostrou coragem e ousadia, em um momento
dos Estados Unidos em que o país se
043 mostrava fechado e intolerante.
47. A primeira coisa que salta aos ouvidos é o
banho de produção que o Meat Puppets
tomou. Nem parece aquela banda tosca e
desafinada de hardcore que permaneceu no
anonimato durante os anos 80, tendo sua
carreira alavancada pelo Nirvana em seu “MTV
Unplugged” (1993).
Não, o que ouvimos aqui é uma banda
competente e cheia de boas ideias. “Armed
and Stupid”, “I Quit”, “Lamp” (muito bonita) e
“Tarantula” são apenas alguns bons
momentos.
Meat Puppets
Golden Lies (2000)
044
48. Heavy Metal sem firulas, como Zakk Wylde
adora definir. Cinco faixas acabaram entrando
depois de terem sido rejeitadas pelo titio Ozzy
Osbourne (“Bleed for Me”,
“Life/Birth/Blood/Doom”, “Demise of Sanity”,
“Bridge to Cross” e “I‟ll Find the Way”). Motivo:
Ozzy considerou as músicas citadas como
“muito Black Label Society”, o que não deixa
de ser verdade.
Mas também, se ouvirmos ao último trabalho
de Ozzy, “Black Rain” (2007), podemos defini-
lo como um disco de Zakk Wylde com
participação especial de Ozzy nos vocais. Ou
seja, dá tudo na mesma. O desenho da capa
foi baseada em uma propaganda nazista,
enquanto o disco todo foi escrito para o pai de
Black Label Society Zakk.
1919 Eternal (2002)
045
49. Trilha sonora ambiente do filme “As Virgens
Suicidas”, dirigido por Sofia Coppola e lançado
em 1999. Há uma segunda trilha, que reúne
diversos grupos como Heart e Todd Rundgren.
A dupla francesa Air, formada por Nicolas
Godin e Jean-Benoit Dunckel, donos do
colante hit de 1998 “Sexy Boy”, aqui se mostra
inspirada e cria lindas atmosferas para
absorver a melancólica história de Coppola.
Temas etéreos, instrumentais em sua maioria,
leves e distantes. “Playground Love”,
“Afternoon Sister” e “Dead Bodies” são bonitas,
tornando-se ainda mais impactantes se
assistirmos ao filme.
Air
The Virgin Suicides (2000)
046
50. Uma das mulheres mais respeitadas do rock
alternativo, a magrela PJ Harvey misturou folk,
blues, indie e dream pop neste que é
considerado seu melhor trabalho. A despeito
de ser uma artista underground, o disco fez
grande sucesso: abocanhou o 8º lugar na lista
das mulheres mais essenciais do rock n‟ roll
(Rolling Stone); e foi consideradoo pela Q
Magazine como o melhor álbum de rock já
lançado por uma mulher.
Nas paradas, porém, conseguiu arranhar
apenas a 42ª posição nos Estados Unidos e a
23ª na Inglaterra, seu país natal. Destaques: “A
Place Called Home”, “One Line” (tema do
episódio final da primeira temporada do
seriado “Gilmore Girls”) e “The Mess We‟re In”,
PJ Harvey que conta com a voz triste de Thom Yorke, do
Stories From the City, Stories Radiohead.
From the Sea (2000)
047
51. Cabeludos, barbudos, caipiras e meio hippies,
os caras do Kings of Leon foram um sopro de
novidade em meio a tantas bandas iguais.
Apresentaram à nova geração o southern rock,
gênero que se popularizou com Creedence
Clearwater Revival (1968-1972) e Lynyrd
Skynyrd (1973).
Nascidos em Nashville (Tennessee), a música
desse quarteto mostra influências das duas
bandas citadas acima, mais Beatles, Rolling
Stones e acrescentaram a fórmula do indie
rock moderno, dando um contraste muito
peculiar.
Kings of Leon
Youth and Young Manhood
(2003)
048
52. Após sua saída do The Gathering, a cantora e
compositora holandesa Anneke van
Giersbergen montou o Agua de Annique,
fachada para sua carreira-solo. Se orientou
pelo pop/ rock e rock alternativo, chamou três
camaradas e nos brindou com uma coleção de
lindas baladas, como “Come Wander With Me”,
que prima pelo charme medieval.
Outro destaque vai para a barulhenta
“Witness”, que diz: “Eu quero saber como é
possível que eu me sente aqui em meu quarto,
assistindo a TV, pensando no nado e em nada/
E eu não sei como faz qualquer um ter a
coragem de vir à minha porta e vender o
mundo de Deus”.
Agua de Annique
Air (2007)
049
53. Para encerrar a década com um belo de um
chute na porta, o Arch Enemy selecionou a
dedo as melhores faixas dos três primeiros
álbuns de estúdio – Black Earth (1996),
Stigmata (1998) e Burning Bridges (1999) – e
as regravou com mais fúria, com mais urgência
e com a vocalista Angela Gossow não só
substituinto à altura os ótimos vocais de Johan
Liiva como imprimindo uma dose a mais de
insanidade.
O som? Death Metal Melódico de primeira
qualidade, com porradas como “Beast of Man”,
“Demonic Science”, “Dark Insanity” e
“Silverwing”. De inédito mesmo, só a faixa-
título, na verdade uma introdução com
remixes de uma outra instrumental,
Arch Enemy
“Demoniality”. Obrigatório.
The Root of All Evil (2009)
050
54. Como o integrante mais calmo e espiritual dos
Beatles, George Harrison levou 14 anos para
concluir este disco. Durante esse tempo,
participou de vários projetos beneficentes,
apareceu em shows, foi atacado por um fã
maluco em dezembro de 1999, e lutou, sem
sucesso, contra um câncer de pulmão.
Harrison partiu em 30 de novembro de 2001, e
suas cinzas foram depositadas em um rio
sagrado da Índia, o Yamuna.
Seus últimos dias de vida foram bastante
emotivos. Poucos dias antes de morrer,
chamou os velhos amigos, Paul McCartney e
Ringo Starr, para lhes dar a notícia de que
estava morrendo. “Não estarei aqui no Natal”,
disse a um Paul McCartney com lágrimas nos
George Harrison olhos. “Eu não vou sair daqui até o fim”, disse
Brainwashed (2002) Ringo. “Tudo bem meu amigo, eu estou em
Paz”, respondeu Harrison. “Brainwashed” foi
terminado pelo seu filho, Dhani Harrison, e
coleta as 12 últimas canções de um dos
051 maiores gênios da História da Música.
55. No dia 15 de maio de 2003, a esposa de Cash,
a também cantora June Carter, morreu devido
a complicações decorrentes de uma cirurgia no
coração. Para o cantor, a morte de sua esposa
determinou também sua própria morte. Cash
faleceu pouco menos de quatro meses depois,
devido à diabetes e a uma acentuada
depressão. Deixou a tristeza de ter perdido o
grande amor de sua vida devidamente
guardado neste quinto e último volume da série
“American Records”, iniciado em 1994. É para
ser ouvido aos poucos, apreciando a voz
carregada de emoção e o violão sempre
venenoso. Destaque maior para “On The
Evening Train” (Hank Williams), uma das
músicas mais tristes já feitas: “Rezei para que
Deus me desse coragem/ Para continuar a
Johnny Cash procurá-la de novo/ É duro saber que ela se foi
American V: A Hundred para sempre/ Eles a estão carregando no trem
da noite”.
Highways (2006)
052
56. Coitado dos caras do Metallica. Todo mundo
entendeu errado e sacrificou a banda por um
disco de gravação tão precária (a bateria
parece ter sido gravada dentro de um forno),
sem as competentes melodias, sem os solos
de Kirk Hammet. “Saint Anger” é conceitual
sobre o ódio – ódio esse explosivo e, como tal,
não teria lugar a fórmula Metallica de compor.
Não há baladas épicas como “Fade to Black”,
muito menos canções radiofônicas como
“Enter Sandman”. Furioso, tosco, angustiante:
um retrato perfeito da época sombria que o
quarteto americano atravessava.
Metallica
St. Anger (2003)
053
57. Em sua estreia em um trabalho independente,
a banda de Edmonton, Kentucky, traz um
discaço cujo título do álbum não poderia ter
uma definição melhor. Em suas 10 faixas nós
ouvimos a um rock n‟ roll sem firulas,
empolgante, repleto de riffs e distorções
pesadas.
“Sissy Bitch”, “Redneck”, “Amen Nation” e
“America” são algumas das pérolas de um
álbum perfeito. Stoner, Southern e Hard Rock
formam a base para o quarteto liderado pelo
vocalista Chris Robertson cuspir suas músicas
para quem gosta de Motörhead, Kyuss ou
Nashville Pussy.
A única coisa chata é que foi só o Black Stone
Black Stone Cherry Cherry ir para uma grande gravadora que o
Rock N’ Roll Tape (2003) rock pesado deu lugar a um xerox sem graça
das piores baladas do Nickelback.
054
58. Nenhuma banda da nova geração é tão
obcecada pelo livro dos anos 60 como este
projeto paralelo de Alex Turner (Arctic
Monkeys), Miles Kane (The Rascals) e James
Ford (Simian Mobile Disco). Os cabelos, as
roupas, os videoclipes, as músicas, as letras:
tudo nos remete àquela década que serviu de
base para, pelo menos, 70% das bandas
norte-americanas e britânicas atuais.
É incrível como o rock é capaz de se reciclar
através dos tempos, incorporando-se a outras
ideias, em busca da sonoridade perfeita.
Turner e Kane mostram uma ótima química em
seus duos, assim como Beatles e Beach Boys
já fizeram. A faixa-título, “Standing Next to Me”
(o clipe desta parece ter sido gravado em
The Last Shadow Puppets 1964), “My Mistakes Were Made for You” e “In
The Age of Understatement My Room” carregam paixão e poesia, rebeldia
contida de tempos que, muito longe da Guerra
(2008) do Vietnã, vislumbram o assombro da Guerra
do Iraque.
055
59. “Se vocês gostam de som pesado, com muita
porrada e energia, ouçam o som da nossa
banda e chutem as cabeças de quem vocês
não gostam”. Esse foi o recado que Jeff
Hirshberg, guitarrista e vocalista do
Speedealer, deu aos brasileiros numa
entrevista de 2001.
E é isso que você vai encontrar neste disco:
músicas porradas, pesadas e velozes. Trash
metal que se confunde com stoner rock,
criando o rock pesado perfeito. Para melhor
referência, vale lembrar do Motörhead,
influência decisiva na vida desse quarteto de
Lubbock (Texas). Uma coisa bacana em
relação aos caras é sua paixão por animais,
principalmente bichos típicos do deserto
Speedealer texano, provando que não é preciso ser um
Bleed (2003) imbecil e cruel para fazer trash metal dos bons.
056
60. Mais uma grande banda que surgiu e sumiu
nesta década. Combinando hard rock dos anos
70 com rock alternativo atual, o Audioslave
difundiu uma sonoridade muito própria.
Chris Cornell (ex-Soundgarden), antes de partir
para o pop escandaloso (leia-se “Scream”,
lançado no começo de 2009), explode sua voz
forte e intensa nas vibrantes “Cochise”, “Show
Me How to Live” e “What You Are”. No lado das
baladas, “Like a Stone”, “I Am The Highway” e
“Light My Way” são belíssimas e perfeitas para
serem tocadas numa viagem de carro sem
destino, passando por desertos, estradas
empoeiradas e bares caindo aos pedaços.
Audioslave
Audioslave (2002)
057
61. Em 1998, na cidade de Palm Desert
(Califórnia), Jesse Hughes tentava introduzir
Josh Homme (Queens of the Stone Age) no
death metal. Homme detestava o gênero, mas
aceitou ouvir uma banda polonesa chamada
Vader. “Eles são os Eagles (banda dos anos
70, famosa pelo clássico „Hotel Califórnia‟) do
Death Metal”, descreveu Homme a Hughes,
que adorou o nome. Como frontman perfeito,
temos Jesse “The Devil” Hughes, que se veste
como um Freddie Mercury querendo ser o
Capitão América.
O cara é engraçado, palhaço e sabe interagir
com o público como poucos. Na bateria, temos
Josh “Baby Duck” Homme, mal-humorado
como sempre, mostrando batidas retas e
Eagles of Death Metal secas em seu mini-kit de bateria. O som?
Peace Love Death Metal Muito longe do death metal: rockabilly bêbado
e cravado em Elvis Presley; e letras sobre a
(2004) trinca mais conhecida dos cabeludos (sexo,
drogas e rock n‟ roll).
058
62. “Once” marcou uma significativa mudança no
som do Nightwish, que acrescentou ao seu
Symphonic Metal instrumentos inusitados,
orquestrações raivosas e experimentos
ousados para os padrões do metal. Novos
universos abrem-se diante de nossos olhos,
enquanto a banda crava uma abertura
matadora com “Dark Chest of Wonders”, “Wish
I Had na Angel” e o sucesso “Nemo” – canções
tão poderosas que até hoje são obrigatórias
nos shows.
Em “Creek Mary‟s Blood”, temos contato com
um canto nativo-americano, em uma das
baladas mais bonitas dos finlandeses. Outros
destaques: a porrada “Romanticide”, a
atmosférica “Ghost Love Scene” e a linda
Nightwish “Higher Than Hope”, cuja introdução levada
Once (2004) por um violão solitário em meio a ventos nos
levam a uma Europa selvagem, época de
vikings e grandes guerreiros.
059
63. Se o fim do Oasis for mesmo uma notícia real
(sabe como é, os Gallagher já brigaram tantas
vezes que fica difícil de acreditar), “Dig Out
Your Soul” é o último disco de estúdio desse
quarteto britânico. E que disco! Talvez
prevendo que este seria o canto de cisne, o
Oasis passou o rodo em tudo o que já
aprontou, escrevendo um álbum que une todas
as alucinações poéticas do grupo.
Há rock n‟ roll para se cantar em estádios
(“The Schock of the Lightning”), psicodelia
(“Waiting For the Rupture”, “(Gett Off Your)
High Horse Lady”, “To Be Where There‟s Life”),
baladas (“I‟m Outta Time”), experimentos
sonoros (“Soldier On”) e pop radiofônico (“Bag
It Up”): 14 anos de carreira em apenas um
Oasis disco recheado por ótimas canções.
Dig Out Your Soul (2008)
060
64. Depois de cometerem suicídio comercial,
assassinarem o pop e se tornarem nome de
culto quase messiânico, o Radiohead decidiu
fazer as pazes com a melodia. Há mais
guitarras que os dois álbuns anteriores (“Kid A”
e “Amnesiac”), e há mais piano do que
qualquer outro disco.
Mas, o multi-instrumentista Jonny Greenwood
continua brincando com seus instrumentos
caseiros e malucos, além de comandar batidas
eletrônicas, samples, viola, xylophone,
glockenspiel, ondes Martenot, banjo e gaita.
Podemos encontrar até mesmo canções
bastante assobiáveis como “There There”
(dona de um clipe viajante) e “2+2=5”. Claro,
sobra espaço para baladas corta-pulso (“Sail to
Radiohead the Moon”, We Suck Young Blood”, “I Will”) e
Hail to the Thief (2003) bizarrices sonoras que só o Radiohead comete
(“Myxomatosis”, “Sit Down, Stand Up”).
061
65. O nome do disco reflete a vontade em dizer
que as músicas aqui presentes são mais
importantes do que a própria banda em si. No
encarte, há a mensagem: “Estas canções
pertencem a vocês agora”. Baladas
encharcadas de romantismo, poesia e sonhos
adolescentes. Permaneceu quatro semanas
consecutivas no topo da Billboard e vendeu em
quatro semanas o que o premiado e elogiado
álbum anterior, “The Man Who” (1999), vendeu
em 26. Formado em 1995, os escoceses do
Travis acreditam no amor incondicional, na
paixão eterna, nos bons momentos e nas
pequenas coisas da vida. Sua música, porém,
é um contraste melancólico a tantas alegrias.
Ouça “Flowers In The Windows”, “Sing” e
Travis “Follow the Light” e saia assobiando por aí,
The Invisible Band (2002) cumprimentando desde o vizinho rabugento
até o sabiá que canta no telhado da sua casa.
062
66. Com 24 anos de idade, a galesa Duffy deixou
todo mundo embasbacado com “Mercy”, seu
primeiro single de divulgação. Depois de
conquistar o topo das paradas em 12 países
diferentes, o território foi preparado para
receber o disco de estreia da cantora, que
prega o soul e o blues como suas raízes.
“Rockferry” fez todo o barulho que prometia:
vendeu 6 milhões de cópias e ganhou um total
de 37 discos de platina e 8 discos de ouro ao
redor do planeta.
Duffy
Rockferry (2008)
063
67. Segundo álbum de estúdio desta banda
holandesa de gothic metal, “Mother Earth” foi
um enorme sucesso na Europa. Vendeu mais
de 400 mil cópias e ganhou certificado de
platina na Holanda e Alemanha, além de ouro
na Bélgica. Vocais guturais masculinos duelam
com a bela voz operística de Sharon den Adel,
em um estilo que fez muito sucesso no heavy
metal entre os anos 90 e 2000.
Escombros macabros, vampirismo, atmosfera
sobrenatural, escuridão: a cartilha para se
entender o mundo gótico está aqui. Boa parte
das canções foi escrita tendo como base a
música celta, cuja influência veio da trilha-
sonora do filme norte-americano “Coração
Valente” (1995), com Mel Gibson.
Within Temptation
Mother Earth (2000)
064
68. Lembro bem do fenômeno “B.Y.O.B.”, primeiro
sucesso deste disco. Tocava em tudo quanto
era lugar, e até os mais radicais dos
headbanghers acabavam se rendendo ao som
inusitado do System of a Down. Também,
“B.Y.O.B.” é um primor, instrumentalmente
falando, com mais de sete variações de tempo
e melodia. Crentes de que o mundo estava
cada vez mais podre, o System of a Down
lançou seu disco mais urgente, explícito e
crítico.
Não sobra nada na reta dos caras: governo,
saúde, cigarro, pornografia, televisão,
alienação, Guerra do Iraque... Destaque
absoluto para o baterista John Delaway, que
mostra um salto espetacular com suas batidas
System of a Down cada vez mais complexas. As músicas se
Mezmerize (2005) mostram bastante melódicas, arriscando novos
experimentos como samples (“Old School
Hollywood‟) e polka (“Radio/ Video”). Foi
lançado seis meses antes de “Hypnotize”, que
065 fecha em grande estilo a discografia desta
banda seminal.
69. Vestindo ternos e usufruindo daquele cheirão
de hype, o The Hives deu o que falar no
começo da década. O título do disco veio de
um discurso de Julio César, depois deste
conquistar a Ásia Menor em 47 a.C.. César
disse: “Veni, vidi, vici” (Eu vim, eu vi, eu venci).
É claro que o Hives brincou, fazendo um
esperto trocadilho com “vicious”, que significa
viciado.
Punk rock puro, que rendeu sucessos como
“Die, All Right!”, “Main Offender”, “Hate to Say I
Told You So” (essa tocou até em novela da
Globo) e “Suplly and Demand”. É uma pena
que hoje em dia o Hives não seja mais tão
festejado, pois sua música tinha tudo para
continuar chacoalhando o rock dos anos 2000.
The Hives
Veni Vidi Vicious (2000)
066
70. Mesmo coletando críticas boas e ruins, este
nono disco do Slayer chegou à 28ª posição da
Billboard e sua música “Disciple” foi indicada
ao Grammy. Nada mal para uma banda de
Trash Metal que critica a religião católica em
todos os seus trabalhos. O guitarrista Kerry
King escreveu 80% do material, tocando em
assuntos como religião, vingança, autocontrole
e assassinatos.
A despeito da leve mudança de sonoridade já
apresentada no criticado “Diabolus in Musica”
(1998), as músicas apostam mais no peso do
que na rapidez, e canções como a citada
“Disciple”, “New Faith” (uma das melhores),
“Bloodline” e a faixa-título são destruidoras.
Destaque para Tom Araya (voz/ baixo), que
Slayer berra como se alguém estivesse enfiando uma
God Hates Us All (2001) faca no seu crânio.
067
71. Segundo álbum de estúdio (primeiro, se
levarmos em conta que o anterior “Origin” é
uma demo) desta banda gótica americana. O
Evanescence foi, de longe, a banda desse
estilo que mais causou furor no mundo:
“Fallen” ficou 100 semanas consecutivas na
Billboard Top 200, e vendeu incríveis 15
milhões de cópias.
Mesmo assim, a banda é detestada pelos fãs
mais radicais do gothic metal, pois seus flertes
com o pop foram determinantes para resultar
no sucesso que alcançaram. Muitos hits
espalhados (“Going Under”, “Bring Me to Life”,
“Everybody‟s Fool”, “My Immortal”, “Whisper”)
em um disco marcado pelo lirismo vocal de
Amy Lee, pelas guitarras à lá new metal e
Evanescence pelas intervenções de música eletrônica e até
Fallen (2003) rap.
068
72. Psicodelia e stoner rock empoeirado formam o
muro sônico do Nebula, uma das bandas mais
barulhentas do movimento americano.
Lançado pelo histórico selo Sub Pop,
“Charged” é cru e urgente até as últimas
consequências.
Assim como ocorre com outra grande banda
stoner, Fu Manchu, o Nebula é amado por
quem pratica esportes radicais em geral
(principalmente Skatistas), tamanha a
identificação desse tipo de público com as
músicas cheias de adrenalina. “Giant”, por
exemplo, acabou entrando para a trilha-sonora
dos games “Tom Hawk‟s Pro Skater 4” e “NHL
2K7”, este último da liga americana de hóquei
no gelo.
Nebula
Charged (2001)
069
73. Fundado por Tommy Jorgensen, Lars Magnus
Jenssen, Bjornar "Bernhard" Jenssen e a
vocalista Kristin Fjelseth, o Pale Forest deixou
uma pequena discografia que conta com dois
Eps - "Layer One" (1998) e "Anonymous
Caesar" (2003) - e três discos de estúdio:
"Transformation Hymns" (1998), "Of Machines
and Men" (2000) e "Exit Mould" (2001).
Suas canções são normalmente comparadas
com as do The Gathering, embora menos
eletrônico. Todos seus álbuns são obrigatórios,
tendo como alguns dos destaques a belíssima
"Exit Mould", a canção; "Stigmata"; "Tristesse"
(que acabou se tornando o único videoclipe da
carreira); "We Have Died"; e "These Old Rags".
Todas ótimas músicas.
Pale Forest
Exit Mould (2001)
070
74. Em seu terceiro disco solo, a finlandesa Tarja
Turunen mostra seu vozeirão soprano lírico-
spinto, de amplitude de três oitavas, e encanta
com um repertório baseado por intensas
melodias que se enquadrariam perfeitamente
em uma sinfonia, mas sem esquecer do heavy
metal que a consagrou enquanto esteve
comandando o Nightwish, entre 1996 e 2005.
“What Lies Beneath” é um ótimo disco, prato
cheio tanto para os fãs do Nightwish quanto
para os fãs de Tarja e Gothic Metal em geral.
Destaque absoluto para a maravilhosa balada
“Underneath”; para as pesadonas “Until My
Last Breath”, “In For a Kill” e “Little Lies”; e
para as atmosféricas “I Feel Immortal”, “Dark
Star” e “The Archive of Lost Dreams”, que junto
Tarja Turunen com a citada “Underneath” costuram os dois
What Lies Beneath (2010) momentos mais poéticos, bonitos, iluminados e
inesquecíveis de “What Lies Beneath”.
071
75. Estreia desta banda nova-iorquina de pós-
punk. Sente-se influências vindas de Joy
Division (principalmente) e The Chameleons.
“Untitled” abre o disco magistralmente – nessa
hora, já ficamos rendidos pelo vocal arrastado
de Paul Banks e pelo instrumental trêmulo de
Daniel Kessler, Carlos D e Samuel Fogarino.
“Obstacle 1” foi parar no game “Guitar Hero
World Tour”.
Outros sucessos: “NYC” e “PDA”. Permaneceu
73 semanas consecutivas em 5º lugar na
Billboard Independent Albuns.
Interpol
Turn on the Bright Lights
(2002)
072
76. Produzido por Jacknife Lee (Snow Patrol, U2,
Bloc Party, The Hives), “Accelerate” foi uma
ruptura importante no som do R.E.M. Vindos
de uma série de discos marcados por canções
pop, a banda de Michael Stipe decidiu sentir
novamente o cheiro de uma garagem. As
músicas estão mais rápidas, tocadas por
guitarras distorcidas, transportando-nos ao
tempo em que o R.E.M. era uma das principais
bandas pós-punk do cenário underground dos
anos 80.
É claro que isso não significa que “Accelerate”
seja um disco pesado, pois o pop ainda
bombeia o coração de seus integrantes. Uma
boa faixa que representa sua atmosfera é “I‟m
Gonna DJ”, que encerra o disco com barulhos
R.E.M. e microfonias.
Accelerate (2008)
073
77. Engraçado notar que todo mundo babou por
este álbum, e ele passou longe de qualquer
lista tida como “importante” dos melhores da
década. Como eu não tenho memória curta,
The Horrors não poderia ficar ausente.
Extremamente original e de personalidade
forte. Mesmo que o visual e as melodias
venham do rock gótico que permeou a virada
dos anos 70-80, os garotos do Horrors
mostram muita genialidade precoce e nos
entregam um banquete tentador de ecos,
pesadelos, sonhos desfeitos e quartos
assombrados. Guitarras dissonantes, órgãos
de cemitério, bateria afundada por reverb.
The Horrors
Primary Colors (2009)
074
78. Em seu primeiro e mais aclamado álbum, a
cantora, compositora e pianista Norah Jones
mostrou ao mundo como o jazz
contemporâneo pode muito bem se infiltrar em
diferentes tribos e diferentes classes sociais.
Com um total de 23 milhões de cópias
vendidas mundialmente, o álbum contém 14
canções, sendo apenas uma de autoria de
Jones (a belíssima faixa-título) e duas escritas
em parceria com Jesse Harris.
Nas demais faixas, Jones esbanja simpatia
com releituras fieis de alguns dos maiores
clássicos da música norte-americana de raiz:
Hank Williams (“Cold, Cold Heart”), John D.
Loudermilk (“Turn Me On”), a dupla Hoagy
Carmichael e Ned Washington (“The Nearness
Norah Jones of You”), entre outros. Conseguiu a proeza de
Come Away With Me (2002) bater “Kind of Blue” (1959), de Miles Davis,
como o álbum de jazz mais vendido em todos
os tempos.
075
79. Um dos maiores representantes do gothic
metal mundial, a banda italiana Lacuna Coil
chegou ao seu terceiro álbum cheio de
inspiração. De explosiva criatividade, o álbum
alcançou uma boa 28ª posição nas paradas
independentes.
A mistura de heavy metal tradicional,
elementos eletrônicos, atmosfera gótica e o
perfeito duo entre o gutural masculino de
Andrea Ferro e o feminino lírico de Cristina
Scabbia soam equilibrados, algo raro no
gênero. Eis alguns destaques: “Swamped”,
“Heaven‟s a Lie”, Daylight Dancer” (tema dos
dois filmes de terror “A Caverna” e “Alone In
The Dark”), “Aeon” e a vibrante “Entwined”.
Lacuna Coil
Comalies (2002)
076
80. Cansados da velha fórmula grunge de compor,
o Pearl Jam deu um tempo no fim dos anos 90.
Eddie Vedder & CIA queriam algo novo,
queriam experimentar novas sonoridades.
Utilizaram uma técnica de gravação chamada
binaural recordings e experimentaram novos
instrumentos. Até mesmo as letras soam
diferentes, mais sombrias. Abre com uma
trinca de ferro (“Breakerfall”, “God‟s Dice” e
“Evacuation”), rápidas e sujonas, que
ressuscitam a excitação oitentista do pós-punk.
A partir de “Light Years” (grande sucesso, por
sinal), somos redirecionados a outros túneis.
Há neopsicodelia (“Nothing As it Seems”), folk
rock (“Soon Forget”), baladas com ar de
classic rock (“Parting Ways”) e
Pearl Jam experimentações nada convencionais aos
Binaural (2000) padrões do Pearl Jam (as esquisitas
“Insignificance”, “Of the Girl” e “Rival”). Foi o
primeiro disco do grupo a não receber disco de
platina, o que o torna ainda mais obrigatório.
077
81. O Midlake faz um folk rock viajante, perfeito
para se ouvir no topo de uma montanha com
uma cerveja na mão. Músicas calmas, com
poucas eventuais distorções, letras
enigmáticas, refrões marcantes e um universo
de melodias criado com muita criatividade.
Dentre os destaques, a maravilhosa trinca que
abre o disco (“Acts of Man”, “Winter Dies” e
“Small Mountain”), além de “Fortune”, “Rulers,
Ruling All Things” e a faixa-título. Uma banda
diferente, vinda do rock psicodélico em seus
primeiros trabalhos, aqui buscando caminhos
em busca de vilas medievais e histórias para
contar.
Midlake
The Courage of Others (2010)
078
82. O que torna o Weezer uma banda tão bacana
é o jeito nerd dos integrantes, com aquele
emblema de Buddy Holly, e o rock “pra cima”
feito pelo quarteto. Por detrás de uma parede
de guitarras, ouvimos a uma penca de hits
imediatos, de refrões grudentos, ritmo para
acompanhar batendo o pé no chão: não tem
como não gostar.
E o mais legal de tudo é que os caras não são
pop, e sim, um dos líderes do rock alternativo.
Também conhecido como “The Green Album”,
este disco acabou sendo, sem querer, o maior
sucesso comercial do Weezer: foi direto ao 4º
lugar da Billboard e rendeu três grudentíssimos
hits: “Hash Pipe”, “Island in the Sun” e
“Photograph”. Para quem sempre imaginou
Weezer que o Beatles poderia ser mais “punk”.
Weezer (2001)
079
83. O que poderia resultar uma parceria entre
Robert Plant, eterno líder do Led Zeppelin, e a
cantora de bluegrass Alison Kraus? No melhor
disco de 2007, no mínimo.
Mais que isso, resultou em um dos álbuns mais
bonitos e poéticos lançado nos últimos anos –
onde folk, country e rock se fundem para criar
paisagens bucólicas e passeios solitários. Fora
ter sido aclamado e recebido o Grammy de
Álbum do Ano em 2008, “Rising Sand” não
precisava de nada disso: ele soa perfeito por si
só. Ouça “Rich Woman”, “Polly Come Here” e
“Please Read the Letter”.
Robert Plant & Alison Kraus
Rising Sand (2007)
080
84. Todo amante do movimento grunge ficou mais
feliz com o retorno triunfal do Alice In Chains
ao cenário musical. É um álbum muito
importante para a vida da banda: é o primeiro
de estúdio em 14 anos; o primeiro a ser
lançado após a trágica morte do vocalista
Layne Staley por overdose, em 2002; e o
primeiro com um novo vocalista, o ótimo
William DuVall.
Quem conheceu a banda no início dos anos 90
vai sentir o mesmo impacto ao ouvir clássicos
imediatos como “Check My Brain”, “Your
Decision”, “Looking in View” e “Private Hell”. O
rock estava mesmo precisando do Alice In
Chains novamente.
Alice In Chains
Black Gives Way to Blue (2009)
081
85. Bons tempos de new metal! “Iowa” é um triunfo
do gênero. Agressivo, violento e absolutamente
confuso – metal alternativo e rap metal são
apenas a ponta do iceberg de um universo
aparentemente deslocado.
O vocalista Corey Taylor se sobressai com
seus urros primitivos e subumanos, debaixo de
muitas percussões, bateria tijolo, baixo
pulsante e toneladas de guitarras sujas e
velozes. Iron Maiden fica parecendo cantiga de
ninar perto de vômitos sonoros do fedor de
“People = Shit”, “My Plague”, “The Heretic
Anthem”, “Left Behind” e “Metabolic”. Ao vivo, o
Slipknot faz jus à música apresentada em
estúdio: os shows são caóticos, bagunçados e
ensurdecedores. Uma das mais bacanas
Slipknot bandas de metal do mundo.
Iowa (2001)
082