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INTRODUÇÃO
1. O Autor.
2. Interpretação do livro.
3. Conteúdo do Livro.
4. Canonicidade do Livro.
5. Data do Livro.
6. O Valor do livro na Opinião dos Críticos.
RESUMO DO LIVRO
PRIMEIRO ESTUDO - COMO ENCONTRAR SOLUÇÕES PARA OS
PROBLEMAS HUMANOS - 1:1-1:23
I - INTRODUÇÃO (1: 1-11) - Sempre a Mesma Coisa
1. O Título
2. O Porquê do Discurso ou dos Discursos (1: 2 e 3)
3. A Vida É um Círculo Vicioso (1: 4-6)
4. Um Círculo Vicioso Ilustrado (1:7-11)
II. O FRACASSO DAS TENTATIVAS HUMANAS (1: 12-2:23)
1. Uma Tentativa Filosófica (1: 12-18)
1) A Experiência do Pregador (vv. 12 e 16).
2) Uma Observação (v. 14).
3) Um Exame Introspectivo (v. 17).
4) O muito estudar é enfado da carne (vv. 13-18).
2. Um Recurso à Carnalidade (2: 1 e 2)
3. Experiência Noutros Prazeres (2: 3-11)
1) O prazer do vinho (v. 3).
2) O prazer das construções (vv. 4-6).
3) O prazer de uma grande família (v. 7).
4) Foi um grande criador, um fazendeiro (v. 7).
5) Era um homem muito rico (v. 8)
6) Era um homem de festas (v. 8).
7) Mulheres e mulheres (v. 8)
8) Salomão era um homem alegre e feliz (v. 10).
4. Uma Análise Cultural (2:12-17)
1) Um exame pessoal (vv. 12 e 13).
2) O valor do sábio (vv. 14-16).
3) Aborrecimento da vida, não vale.
5. Filosofia do Trabalho (2:18-23)
1) O aborrecimento do seu trabalho (v. 18).
2) Um recurso ao desespero (vv. 20 e 21).
SEGUNDO ESTUDO - UMA SÉRIE DE INDAGAÇÕES SEM RESPOSTA - 2:24-
4:3
1. Introdução (2:24-26)
2. A Sabedoria do Criador (3:1-8)
1) Como escapar do dilema (vv. 1-3).
2) O princípio da sabedoria é o temor de Deus (Sal. 111: 10; Prov. 1:7)
3. A Sabedoria de Deus no Tempo (3:9-15)
4. A Justiça Divina - O Destino dos Mortos (3:16-21)
1) Uma prova de fogo (vv. 18-21).
2) Todos os animais vão para o mesmo lugar - a cova (vv. 19-21).
5. Que Deseja Ensinar o Autor do Eclesiastes? (3:21-43)
UMA PERGUNTA IMPERTINENTE
TERCEIRO ESTUDO - A VIDA E SUAS COMPLICAÇÕES - 4:4.16
1. A Indústria e a Inveja (4:4)
2. A Inveja Conduz à Vaidade (4:4-6)
3. A Solidão e a Sociedade (4:7-12)
4. Da Popularidade no Convívio (4:13-16)
QUARTO ESTUDO - A VIDA RELIGIOSA E SUAS OBRIGAÇÕES - 5:1-8:17
1. Cuidados Quanto ao Adorar no Culto (5:1-7)
1) Cuidado com os votos feitos (vv. 2-5).
2) O que seria o mundo se todos dizimassem.
3) Desculpas não convencem (vv. 6 e 7).
2. O Magistério Divino (5:8 e 9)
3. O Problema das Riquezas - Uma Filosofia do Dinheiro (5: 10 e 11).
1) Da aquisição das riquezas (vv. 10-12).
4. Filosofia do Trabalho e da Riqueza (5:12-20)
5. Determinação do Problema da Riqueza (6: 1-6)
6. O Destino Final do Homem (6:7-12)
7. Uma Filosofia da Vida e da Morte (7:1-14)
1) O dia da morte é melhor do que o do nascimento (vv. 1-4).
2) A paciência é também uma boa mezinha para a vida (vv. 5-8).
3) Cuidado com a pressa (vv. 9 e 10).
4) Nova filosofia da sabedoria (vv. 11-14).
8. Problemas Criados Pela Sabedoria (7:15-22)
1) A relatividade das coisas (vv. 15-18).
9. Crítica da Razão Pura (7:23-28)
10. Uma Conclusão Infeliz (7:29).
11. Poderes para Controlar (8: 1-9)
12. As Desigualdades da Vida (8:10-17)
QUINTO ESTUDO - GRANDES SOLUÇÕES PARA GRANDES PROBLEMAS (9:1-
10:20)
1. O Homem Ignora o Caminho a Percorrer (9: 1-7)
1) Este é o mal que há em tudo que se faz debaixo do sol (v. 3).
2) Para o que está entre os vivos há esperança, porque mais vale um
cão vivo que um leão morto.
3) Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não
sabem coisa nenhuma (v. 5).
2. Uma Recompensa para os Imprevistos da Vida (9:8-10)
1) Goza a vida com a mulher que amas todos os dias da tua vida fugaz (v.
9).
2) Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças,
porque no além, para onde tu vais, não há obra, nem projetos, nem
conhecimento, nem sabedoria alguma (v. 10).
3. Em Busca de uma Solução - Opções Negativas (9: 11-18)
4. Uma Ilustração Oportuna (9: 13-18)
5. Em Busca de uma Solução - A Sabedoria é Preferível (10:1-7)
6. Cálculos dos Riscos (10:8-11)
7. Nada de Bravatas nem Arrogâncias (10: 12-20)
1) Contrastes (vv. 12-15).
2) A preguiça dos reis (vv. 16-19).
3) Não fales mal do rei (v. 20).
SEXTO ESTUDO - NORMAS PARA UM TÉRMINO DE VIDA IDEAL (11:1-
12:14)
1. Uma Nova Dialética para a Vida (11: 1-6)
1) lançar o pão sobre as águas é crer na providência.
2) Ensina Igualmente a doutrina da fé.
3) Esperança.
4) Observe-se a natureza (vv. 3 e 4).
5) Uma doutrina difícil (vv. 5 e 6).
2. Para Recordar (11: 7 e 8)
3. Um Conselho à Juventude (11:9 e 10)
1) O conselho sadio (vv. 9 e 10).
2) Nada de tristezas (v. 10).
4. A Velhice Vem - Lembra-te... (12:1-8)
1) Antes que venham os dias maus (v. 1).
2) Antes que se escureçam o sol, a lua e as estrelas do esplendor da
tua vida (v. 2).
3) Antes que tornem a vir as nuvens depois do aguaceiro (v. 2).
4) Antes do dia em que tremerem os guardas da casa, os teus
braços (v. 3).
5) Antes de se curvarem os homens outrora fortes, as tuas pernas
(v. 3).
6) Antes de cessarem os teus moedores da boca, por já serem
poucos (v. 3).
7) Antes de se escureceram os teus olhos (v. 3),
8) Antes de se fecharem as janelas (v. 3),
9) Antes de se fecharem os teus lábios, como portas das ruas (v. 4),
10) Antes de todas as harmonias, filhas da música, te diminuírem (v.
4).
11) Antes também de temeres o que é alto (v. 5).
12) Antes que te espantes do caminho (v. 5).
13) Antes que te embranqueças como quando floresce a
amendoeira (v. 5).
14) Antes de te perecer o apetite (v. 5).
15) Antes que se rompa o fio de prata e se despedace o copo de
ouro (v. 6).
16) Antes que o cântaro se quebre junto à fonte e se despedace a
roda junto ao poço (v. 6).
17) Antes que o pó volte à terra (v.7).
FINIS (12:9-14)
A TEORIA E A PRÁTICA
1. O Pregador, Além de Sábio, Ainda Ensinou ao Povo o Conhecimento...
(v. 9).
2. Procurou o Qoheleth Achar Palavras Agradáveis e Escrever com Retidão
(v. 11).
3. O Dever de Todo Homem (vv. 13 e 14)
1) Temer a Deus (v. 13).
2) Guardar os seus mandamentos (v. 13).
4. O Supremo Bem (vv. 12 e 14).
APÊNDICE I - A DOUTRINA DA TRINDADE
1. A Doutrina da Trindade no Velho Testamento
2. A Doutrina da Trindade no Novo Testamento
APÊNDICE II - A SOBREVIVÊNCIA DA ALMA HUMANA
1. A Natureza da Alma e Sua Felicidade
2. Um Argumento sem Sentido
3. A Alma É Imortal, e, Portanto, Existe Depois da Morte do Corpo
4. A Alma Humana Tem de Existir e Sobreviver.
5. A Alma Tem de Subsistir e Existir para Responder pela Verdade e
Mentiras Vividas na Terra.
APÊNDICE III - A RESSURREIÇÃO FINAL
1. Que diz a Bíblia?
2. Como Se Processará a Ressurreição?
3. Depois da Ressurreição
4. E Depois?
APRESENTAÇÃO
Todos os livros que o Pastor Mesquita tem escrito nos últimos vinte anos
eu tenho lido. Leio palavra por palavra, colocando acentos onde são
precisos, fazendo sugestões, que quase sempre são aceitas, procurando
entregar o manuscrito à Publicadora em condições de não dar muito
trabalho.
O que isso significa para mim não precisa ser dito, pois, mesmo
aposentada, tenho os meus afazeres como dona-de-casa e esposa de
pastor. Sou, presumo, uma mulher bastante ocupada.
Todavia, a despeito de tudo isso, cooperar com o meu marido para que o
povo ledor da boa literatura tenha uma obra tão perfeita quanto possível
é um dos penhores que conservo como honraria, pois, servindo ao povo,
sirvo ao meu Senhor igualmente.
O livro sobre o Eclesiastes é qualquer coisa que me fascinou. O próprio
Eclesiastes é um fascínio, mesmo que nele se encontrem coisas difíceis de
entender e até aparentemente algumas contradições, segundo o nosso
modo de pensar e falar. Não foi à toa que Renan disse que o Eclesiastes
era o único livro que os hebreus tinham produzido digno de figurar em
qualquer biblioteca. Mesmo que esse ponto de vista de um filósofo
francês não seja para nós uma palavra final, ainda assim vale por uma
confissão de um grande filósofo e escritor dos mais lidos no mundo
ocidental.
Estou bem certa de que os que lerem esta obra da pena do Pastor
Mesquita só terão a lucrar, pois a linguagem simples, mas segura, os
conceitos bem expostos, a interpretação ortodoxa e o lado controversial
encarado com seriedade e profundeza fazem desta obra, a meu ver, uma
das melhores obras que ele já escreveu.
Waldemira Almeida de Mesquita
Rio de Janeiro, maio de 1974
UMA PALAVRA AO LEITOR
Foi com muita relutância que empreendi o Estudo no Livro de Eclesiastes.
O livro é deveras difícil e tem 'muito de incompreensível ao nosso gosto e
cultura. O livro é considerado único entre os muitos do Velho
Testamento. De fato, se ponderarmos todos os seus ensinos, se
esmiuçarmos todo o complexo doutrinário, filosófico e social,
concluiremos que não é um livro, e, sim, uma biblioteca. Acontece que
por sua natureza e por se tratar de um tipo de literatura fora do nosso
campo de cogitações, não é muito lido pelo povo. Então, por que
empreender um Estudo sobre um livro que o povo não lê? O certo é que
o povo não o lê porque não o entende, e porque não o entende não o
aprecia. Esta parece ser a verdade a respeito de Eclesiastes - O
PREGADOR. O outro livro, seu companheiro, Cantares de Salomão,
também não é lido pelos crentes.
Apesar de todas estas observações, e levando em conta que esta espécie
de literatura deve ser divulgada, atirei-me ao Estudo. Verifiquei que o
livro merece uma divulgação especial, pelos muitos ensinos que contém e
por diversas doutrinas que encerra, especialmente a que se refere à
imortalidade da alma humana. Infelizmente algumas seitas procuram
fundamentar-se no livro de Eclesiastes a fim de construirem o seu credo
sobre a mortalidade da alma, colocando o homem no mesmo plano dos
brutos. Só por este motivo, merece uma divulgação especial, pois, se há
livro onde se ensina que de tudo quanto o homem fizer dará contas a
Deus, é o Eclesiastes.
Procurei tornar o estudo prático, popular. Os versetos que tratam de
assuntos fora do nosso dia, os deixei de parte, tanto quanto possível, sem
prejuízo do todo, isto é, não lhes dei muita atenção. Eclesiastes é
aparentado com Provérbios. Os dois são da mesma época e versam sobre
os mesmos princípios.
Se o esforço feito, as horas e os dias gastos no seu manuseio valerem
alguma coisa para o povo, estarei compensado. Caso contrário, será mais
um livro do Velho Testamento interpretado pelo autor.
Como sempre, em meus livros, há uma referência especial à minha
esposa, que tem paciência de ler o manuscrito, fazer valiosas observações
e correções e colocar a pontuação em ordem, fato de que não desejo dar
conta.
O Autor
INTRODUÇÃO
1. O Autor.
Quem teria sido o autor deste livro? No primeiro verso, lê-se: PALAVRA
DO PREGADOR, FILHO DE DAVI, REI DE JERUSALÉM. Dai se conclui o autor,
que se chama de pregador, ser filho de Davi e rei de Jerusalém. Portanto,
esse filho de Davi só poderia ser Salomão, sendo assim que muitos
interpretam a declaração inicial, e o povo, em geral, sempre aceitou
Salomão como o escritor do livro. Lutero chamou o autor do livro de
SALOMÃO, FILHO DE DAVI. O autor diz tendo sido ou fui rei de Jerusalém
(1: 12), ou como traduz a Versão Revista e Atualizada da SBB, venho sendo
rei de Israel em Jerusalém. Isto leva-nos, sem dúvida, a admitir que se
trata de Salomão. No corpo do nosso estudo demonstraremos que bem
podia ter sido um amanuense que escreveria o livro, ou ditado por
Salomão, como foi o caso de Paulo, que apenas escreveu uma carta sua
das 13 que lhe são atribuídas Gálatas. Antigamente não havia os
escrúpulos e as garantias autorais de nossa época, e um escritor poderia
escrever um livro e creditá-lo a outra pessoa sem que isso fosse
considerado crime. Não contestamos a possibilidade de Salomão escrever
este livro; apenas, no estado em que ele veio até nós, parece que não foi.
O termo pregador vem de uma palavra que se translitera como Coheleth
(1: 12). Esta palavra vem da raiz hebraica, Qal, que significa chamar,
convidar, tirar de fora para dentro, o mesmo sentido do verbo Calco, no
grego, em referência à chamada para o serviço religioso. Portanto, o
termo Eclesiastes, em nossa língua, significa pregador, o que chama o
povo a ouvir a mensagem que tem para lhe entregar, fato muito parecido
com a missão de um pregador moderno, chamando o povo ao evangelho,
o que todos conhecemos. Jerônimo, o tradutor da Vulgata, chama o
Eclesiastes de um homem que se dirige a uma congregação, supondo
alguns que se trate de uma congregação no átrio do templo, e, de dentro,
o pregador se dirige a esta gente lá fora. Não há, todavia, qualquer
referência a uma congregação reunida no átrio do templo, para ouvir um
discurso ou discursos, a não ser quando os sacerdotes se dirigiam ao povo
em solenidades festivas. Se é isso o de que trata o livro ou se é outra
espécie de congregação, não se sabe. O fato de o termo Coheleth ser
feminino também tem levantado dúvidas quanto a tratar-se de um
pregador no sentido comum, não obstante, Isaías 40:9, usar este vocábulo
também, porém referindo-se a Sião, que faz a proclamação, e não a um
homem. Sião é o evangelista, e aqui é um pregador, ou uma pregadora,
que se dirige ao povo. Não nos parece que o fato do termo ser feminino
deva merecer muita discussão. Por estas informações, recolhidas de
muitos intérpretes, ficamos mesmo sem saber quem teria sido o Coheleth,
o pregador, se Salomão, filho de Davi, ou se outro, que lhe tomou o nome
para dar corpo e forma ao seu livro. Acreditamos que estas dúvidas em
nada desmerecem o valor da obra, pois o que interessa ao estudo é a
doutrina, os ensinamentos, mais mesmo do que o autor. Temos muitos
livros cujos nomes são desconhecidos, e nem por isso os ditos livros
merecem menos a nossa apreciação (Ecl. 1: 12).
2. Interpretação do livro.
Tem parecido a muitos que o livro não contém uma série de mensagens
devidamente ordenadas, ou discursos formalmente concatenados, mas
um grupo de discursos de variados sentidos doutrinários, sem qualquer
conexão entre si. Isso vale por dizer, tratar-se de uma obra de
compilação, e não de um tratado rigorosamente delineado para
apresentar uma mensagem uniforme e contínua. Nessa conformidade,
poderíamos dizer que o livro consta de uma série de discursos falados ao
povo e depois reunidos em volume, como aconteceu com a maioria dos
profetas, que fizeram seus discursos ao povo e depois os mesmos foram
colecionados, sem observância cronológica ou mesmo lógica. Os hebreus
não estavam dominados pelo sentimento ocidental de obedecerem a um
critério cronológico na concatenação de suas obras. O que lhes
interessava mais era a doutrina exposta e não a ordem em que seria
apresentada. Assim, bem poderia Salomão ter sido o autor de muitos
discursos, ou de todos, e, depois, um dos seus assessores teria tido a
incumbência de os enfeixar num livro, como a mensagem do PREGADOR
ao seu povo. Esta opinião não tem o endosso da maioria dos intérpretes
do livro, é mais um parecer deste autor. Voltamos a dizer que nem a
autoria do livro e nem a ordem em que a matéria está exposta
enfraquecem o seu valor, que é permanente, para o tempo e para a
eternidade. É isso que nos interessa. Se nos faltasse na Sagrada Bíblia, este
livro maravilhoso, estaríamos privados de muitas lições práticas para o
viver, sem as quais o homem, especialmente os jovens, estariam à mercê
das contingências ordinárias da vida, sem uma bússola que os orientasse e
lhes mostrasse os valores dessa mesma vida em relação a Deus e à
eternidade. Como veremos adiante, na exposição doutrinária do livro e
ainda nesta introdução, o Eclesiastes representa uma espécie de
catecismo doutrinário prático em que a vida do dia-a-dia, com as suas
lutas e seus contratempos, as suas desilusões e interpretações, os valores
das coisas terrenas, em contraposição às de valor eterno, são postas
frontalmente umas às outras. Nem o hedonismo grego, nem o misticismo
religioso dos hebreus bastam para uma efetiva interpretação da vida, sem
prejuízo de qualquer das suas partes. Uma confrontação de gozos e
dissabores, o valor de cada um, fornecem o conjunto doutrinário desta
grande obra. É assim que nós vamos interpretar o livro e dele extrair as
lições práticas, que muitas vezes escapam à argúcia dos mais entendidos
em matéria de convivência religioso-social.
O Pregador sabe que o mundo, durante todo o tempo, tem um valor
positivo, e por essa causa destrói os chamados valores secundários,
dissipando todas as esperanças vãs e ilusórias, que povoam as mentes de
muitos. Para encontrarmos a verdadeira ventura, ele derriba,
impiedosamente, a falsa felicidade, que muitos buscam encontrar nos
prazeres da carne. Com isso não destrói os valores sociais, nem os
prazeres que proporcionam; antes dá-lhes o valor que têm, e nada mais
do que Isso. Segundo esse critério, o mundo pode proporcionar muito
prazer, mas sem a devida consideração pelos outros valores, podendo
levar o homem à deriva (ver 2:24; 3:12,22; 5:18; 9:7).
O mundo, no seu verdadeiro significado, pode tornar-se um intérprete de
Deus e do seu programa para o mesmo, pois a bondade e a sabedoria
divinas, e a sua justiça, só podem ser conhecidas e fruidas quando o
homem se integra na plenitude do plano divino. O mundo não é uma
finalidade em si, porém um meio de proporcionar ao homem os gozos e as
alegrias que lhe foram destinados pelo bondoso Criador. Ganhar o mundo
e perder a vida é mau negócio, como nos ensina o Senhor Jesus (Mar. 8:36
e 37). Assim, há um caminho debaixo do sol, com as suas perdas e seus
ganhos, mesmo na sua aparente Irracionalidade, com as muitas injustiças,
em que o homem se realiza sem prejuízo de qualquer das suas partes
constitutivas. isso não é pessimismo. E realismo. Vivemos uma vida de
realidades e não de ficções ou quimeras de gozos fictícios. Eclesiastes é
um livro cético no sentido em que coloca o homem no seu verdadeiro
lugar, rejeitando as pretensões do saber humano contra a sabedoria
divina (3:11; 8:17). A Bíblia não despreza esta vida, e Jesus mesmo deu
provas disso, indo a festas de casamento, aceitando convites e até se
oferecendo para banquetes, comendo com publicamos e pecadores,
arrostando a crítica dos seus contemporâneos. Entretanto, a Bíblia
também ensina a viver pela fé, como Jesus ilustrou com os passarinhos e
os lírios do campo, sustentando ser precípuo buscar o reino de Deus e a
sua justiça, na certeza de que as outras coisas seriam acrescentadas. O
pregador se levanta contra toda e qualquer imoralidade carnal. A vida é
vivida debaixo do sol, é o refrão contínuo do pregador, e debaixo do sol há
de tudo, bons e maus. Saber escolher, pois, parece ser a nota do livro. O
homem não é como os irracionais, que carecem de cabresto e freios para
serem governados. Ele tem inteligência e se pende demais para um lado,
desprezando o outro. Então deve levar as conseqüências. Em tudo deve
haver DEUS (3:10,11,13,14,15 etc.). Quando o Eclesiastes compara o
homem aos animais, o faz para mostrar que, de um lado, temos uma vida
animal, mas, de outro, temos uma vida espiritual (3: 19). O pregador tinha
uma vasta experiência destas ocorrências e colocou os dois lados da vida
em balança, a fim de, a cada lado, ser dado o peso correspondente.
O que nos parece razoável afirmar é que o livro procura tirar desta vida o
suprassumo de tudo, como se este tudo estivesse nos poucos dias que
vivemos aqui. Então o autor nos leva a ver que a vida tem muita coisa boa
em si, mas não é tudo. Viver, gozar são apenas um dos seus muitos lados;
os valores maiores, porém, estão na vida em conformidade com Deus e o
destino eterno do homem. Destruir a idéia de que esta vida é tudo,
parece ser outro alvo do autor. Por isso o refrão contínuo: Vaidade de
vaidades, tudo é vaidade. Isto no sentido terreno, porque de tudo que o
homem fizer, de todos os gozos que fruir, uma coisa é segura: dará contas
a Deus. O mais ficará aqui mesmo no chão. Nisso parece a muitos ser o
livro um defensor de pessimismo, mas nada disso. Os hedonistas, sim,
pensam que esta vida e seus gozos são tudo, e, portanto, comer, gozar e
viver, eis o total da vida.
Parece que outro fim do Coheleth é levar o leitor a descobrir qual é o valor
da vida que vivemos nesta terra. Trata então dos prazeres, das riquezas,
da sabedoria, de tudo quanto encanta o homem, para afinal concluir que
tudo é vaidade debaixo do sol. Não parece que o livro esteja induzindo o
leitor a abandonar o esforço por coisas boas nesta vida, nem a desprezar
os gozos que a vida oferece, mas a balancear estas coisas com outras, que
estão além dos horizontes terrenos, e desta avaliação resultará então um
balanço justo de valores que farão a vida realizar o seu ideal. O trabalho
não é inútil nem fastidioso; é útil e bom, embora deva ser usado com
sabedoria e para a felicidade. Um homem que trabalha e se afadiga, mas
goza dos frutos do seu trabalho, e aproveita a sua vida com todos os reais
valores é um sábio. É o termo médio que se deve procurar, evitando os
dois extremos, como ensina o autor em 2:24 e 7:16 e 17. E aí há um
ensino que o homem não deve perder de vista: o lugar que Deus deve
exercer na vida. Se o pregador conseguir levar alguém a plantar jardins,
colher flores, comer e beber bem, e não se esquecer de Deus, terá
realizado o seu ideal. Noutra linguagem: há valores permanentes. Os
gozos da vida não são eternos, porque depois da morte não há nem
lembrança deles, como afirma o autor (2:16). A muita sabedoria é um
grande ornamento para a vida, todavia, também é loucura colocar todo o
valor da vida na inteligência (2:15). Até que ponto o hedonismo teria
influído no autor, não sabemos; mas a verdade é que, se não há Deus,
então tudo se resume no comer, beber e gozar; se há Deus, então tudo
mais deve ser condicionado a este supremo valor. A vida deve ser bem
vivida, e para tal deve o homem considerar que, depois de viver, trabalhar
e gozar, vai para a sepultura como vão os animais irracionais. Portanto, é
bom avaliar os dois lados da vida, e não apenas um. O livro parece
mostrar em certos lugares que com a morte termina tudo (3: 19), mas em
muitos outros prova justamente o contrário: o espírito velo de Deus e para
ele voltará. Vale dizer que viemos de Deus e voltaremos para ele.
Portanto, este lado da vida deve receber a devida consideração nas lutas
pela mesma vida, no estudar, no comer, no brincar e tudo mais. A
doutrina da imortalidade é aqui ensinada, mesmo com algumas aparentes
contradições, em um estilo maior do que em qualquer outro livro do
Velho Testamento. Realçar o valor da vida em suas relações com o
Criador é uma das notas culminantes do livro. Há o apelo à mocidade para
que goze e viva, porém se lembre que de todas estas coisas dará contas a
Deus(11:9). Só esta verdade vale por todo o livro, pois a tentação do
jovem é gozar a vida, como se Deus não existisse. O chamamento à
realidade vale por uma grande descoberta.
Então podemos concluir que o livro não é um negativismo filosófico; não é
o apostolado da negação da vida e dos seus valores. Ao contrário. O
autor sabe que o mundo tem um valor positivo e tem muita coisa boa que
se deve aproveitar, advertindo, porém, dos perigos de dar todo o valor ao
mundo e nada a Deus. Dissipar as esperanças falsas e destacar as
verdadeiras, eis o que significa viver. Através do livro, com os seus altos e
baixos, o leitor é levado a verificar que as coisas da terra são ilusórias e
falsas, como ilusória e quase falsa foi a vida de Salomão que, depois de se
tornar o homem mais sábio do mundo e ter todo poder que qualquer
potentado pode fruir, tornou-se um símbolo de derrota e vergonha.
Quem sabe o autor do livro teria mesmo em mente deixar esta lição para
a posteridade? A significação do mundo é que ele não é mau em si, mas
pode tornar-se mau pelo uso que se fizer daquilo que nele há. Noutra
linguagem, as coisas do mundo não são más, porém podem tornar-se más
pelo seu mau uso. As injustiças, a má distribuição da riqueza, a quase
irracionalidade da vida, são meios de que o Criador se vale para orientar o
homem no seu verdadeiro caminho. Eclesiastes é um livro cético, até o
ponto de rejeitar as pretensões da sabedoria humana, para elucidar a obra
de Deus. É uma tentativa para menosprezar a obra humana e destacar a
criação divina. É nesse sentido que o trabalho, o saber, os gozos e tudo
mais, são apenas vaidade de vaidades. O pregador sabia que devemos
andar mais pela fé do que pela vista; e, para conseguir isso, procurou
diminuir todos os valores para exaltar apenas um: O TEMOR DE DEUS.
Jesus veio mais tarde dizer-nos que nada adianta um homem ganhar o
mundo e perder a sua vida (Mat. 8:36).
3. Conteúdo do Livro.
Bem poucos estudiosos são capazes de se aproximar do livro com a
convicção de que se trata de uma obra de alto valor literário e filosófico,
sem paralelo em toda a literatura hebraica. Muitos o têm comparado com
as mais celebradas obras literárias da nossa geração, embora essas
comparações sejam de pouca valia; apenas ajudam a compreender que se
trata de uma grande obra. Intrinsecamente nada há na Bíblia nem fora
dela que se compare ao Eclesiastes; é um livro com uma mensagem única
para o povo dos seus dias e para a atualidade. Renan, filósofo francês,
achava que era o único livro de valia que os hebreus escreveram, se bem
que isso seja uma opinião pessoal. Outros acham que a sua aparente
contradição de partes se deve a que o livro não teria sido composto de
uma coleção total de discursos, mas apenas de alguns, mutilando-se assim
o sentido de excertos reunidos. Não achamos que haja contradições entre
os diversos ensinamentos dos discursos registrados, pois, o que ele
aparentemente contradiz aqui e ali, é reafirmado adiante. No capítulo
2:24-26 parece que o autor ensina o pessimismo e acha que o que se deve
fazer é comer e beber, porque o fim é igual para todos, sábios e estultos.
Entretanto, no capítulo 11 verso 9, mostra que de tudo o homem dará
contas a Deus. Assim, se num lugar parece desconsiderar os valores da
vida, em outro exalta esses valores. Isto, porém, não quer dizer que é um
livro confuso e contraditório, como pensam muitos, mas um livro que dá
os dois lados da vida: o prazer de viver e de gozar, e a certeza de que de
tudo o mesmo homem dará contas a Deus. Assim são contrabalançados
os dois rumos da vida no que ela tem de prático. Têm sido estas
aparentes contradições que têm levado muitos a negar a autoria
salomônica. Nós, porém, não temos' necessidade de fazer vir Salomão do
seu túmulo para nos falar das suas experiências da vida, porque qualquer
um de nós igualmente passa pelas experiências de Salomão, menos
quanto à riqueza e o fausto a que ele se refere no capítulo 2: 1-11 e
referências. Qualquer filósofo seria capaz de reviver as experiências de
Salomão, mesmo que não tivesse sido seu contemporâneo. Todas estas
considerações são puramente teóricas e de pouca valia para a vida. Há
verdades mais profundas, no livro e fora dele, que nos devem interessar.
Qual teria sido então o ideal do autor, ao escrever este ensaio sobre a
vida, se assim o podemos chamar? Que finalidade teria em vista face às
contradições da vida mesma, em que uns se afadigam e pouco colhem,
enquanto outros levam a vida flanando e enchem as suas arcas? Esta
pesquisa, esta busca, deve constituir o fundamento do livro e a sua razão
de ser.
Quando Jesus disse perder o mundo, quis dizer o mundo com tudo que ele
tem. Por isso o maior valor da vida está na fé e no temor de Deus. Isso é
permanente e eterno. Onde o livro expressa o sentido de que a morte é o
ponto final de tudo, deve ser contrastado com outros pontos, em que o
final é o Temor de Deus, a quem vamos prestar as nossas contas. O livro
não ensina a mortalidade da alma, como crêem os Testemunhas de Jeová,
e, sim, o contrário. De tudo que o homem fizer dará contas a Deus; logo, a
morte não é o fim, e, sim, o começo. O Salmista deu-nos a Interpretação
do significado da morte em Eclesiastes (Sal. 1; 49:12), sendo que morte ou
aniquilamento é apenas um meio de Deus nos fazer refletir no significado
da vida, conforme o mesmo Salmo, verso 15. Se não fôssemos advertidos
de que a morte é certa e põe um fim a tudo, então os homens, em seus
devaneios, julgariam que o valor da vida estava mesmo em comer e beber
e gozar. O homem que está em honra e não tem entendimento é
semelhante aos animais que perecem (Sal. 49:12). E a falta de
entendimento a que se referiu o Salmista é o que o autor de Eclesiastes
procura destacar, e não que a morte seja o fim de tudo.
Concluímos estas considerações dizendo que o Livro de Eclesiastes é o
maior regulador da vida, colocando os dois lados do ser humano nos seus
verdadeiros lugares, e não, como ensina a filosofia mundana dos sem
Deus, que viver é gozar e depois morrer, como se após a morte viesse o
NADA.
4. Canonicidade do Livro.
Houve muita discussão entre os rabinos sobre a autoria do livro e até
discussões quanto à sua teologia; todavia, jamais foi posta em dúvida a
sua canonicidade, isto é, o seu lugar na coleção sagrada. Faz parte da
primeira tradução dos textos hebraicos feita em 280 a. C., e depois dessa
data jamais foi considerado inferior a qualquer outro livro sagrado. Como
livro de Sabedoria, faz parte da coleção dos Ketuvhim, que vem na terceira
parte da coleção hebraica.
5. Data do Livro.
É impossível precisá-la. Se não for de Salomão, pelo menos no seu estado
atual, não podemos saber a que data atribuí-lo. O cânone foi fechado
pouco depois da volta dos filhos de Israel do cativeiro babilônico, e
quando isso sucedeu, já se considerava o Eclesiastes como uma de suas
partes. Em nossa opinião, deve pertencer ao período pós-cativeiro,
quando os livros Sagrados foram colecionados e divididos em três grupos.
Portanto, nem o autor nem a data podem ser determinados, o que tem
valor secundário, pois muitos dos livros da Bíblia, como Josué, Samuel e
Reis, não têm autores conhecidos nem datas determinadas.
6. O Valor do livro na Opinião dos Críticos.
Para Renan, filósofo francês, Eclesiastes é o único livro digno produzido
pelos hebreus. É fascinante. Lyman Abbott diz: "O Livro de Eclesiastes é
um monólogo dramático, apresentando as complicadas experiências da
vida: essas vozes estão em conflito, porque apresentam ou retratam o
conflito de uma alma simples em guerra consigo mesma." (1) Outros
eruditos opinam, uns de um modo e alguns de outro, mas todos
reconhecendo que o livro ora em estudo é uma tentativa hebraica de dar
à humanidade uma interpretação dos valores da vida e ao mesmo tempo
as suas conotações. É uma luta do homem consigo mesmo e com o meio
em que vive. (2)
(1) Veja Introdução ao Velho Testamento, de Clyde T. Francisco, Edição
JUERP, 1969.
(2) Frank Delitzsch, Comentary on Song of Songs and Eclesiastes, Edinburg,
T. and Clark, 1889, p. 91.
RESUMO DO LIVRO
CAPÍTULO I
No capitulo primeiro, o autor, depois da Introdução (1: 1-3), dá uma série
de provérbios em que tudo é nada, e o começo é o fim, quando diz: O que
foi é o que há de ser (v. 9). Todos os rios correm para o mar, e o mar não
se enche (v. 7). Como se vê, são ditos vulgares no seu dia e que nenhuma
doutrina nova trazem.
Nos versos 12-18, ele nos Informa que aplicou o coração a esquadrinhar as
coisas, e chegou à conclusão de que tudo dá no mesmo, tanto faz o sábio
como o estulto, e que a sabedoria pouco adianta, porque é o mesmo que
correr atrás do vento.
CAPÍTULO II
O verso 11, já nos dá alguma doutrina, que apreciamos longamente em
nossos comentários. O autor coloca o monólogo na boca de Salomão e
entra numa discussão do que fez, plantando jardins em Jerusalém, árvores
frutíferas e outras realizações, alegando que amontoou riquezas sem
conta, engrandeceu-se sobremaneira (v. 9), para concluir com uma frase
pessimista: eis que tudo era vaidade (v. li). A lição que o autor deseja
comunicar aos leitores é que esta vida é uma procura louca de algo que
não existe, que é a felicidade perpétua, pois tudo termina na cova. Não se
julgue o escritor sagrado pelo lado comum da leitura; procure-se o fundo
filosófico do ensino, para se concluir a naturalidade da mesma doutrina.
Esta igual fatuidade das coisas terrenas é discutida nos versos 12-17, em
que até a sabedoria é assunto de causar fadigas, sem deixar um ressaibro
de valia para a vida futura. O ensino que se tira de todo o arrazoado do
livro encontra-se no capítulo 11:9, quando o homem é advertido de que
vai dar contas da sua vida a Deus. Tudo mais é secundário, como comer,
beber, folgar e depois morrer. Neste lnterregno, entre o nascer e o
morrer, há uma luta contínua em muitas direções, como a vaidade das
possessões, a vaidade da sabedoria e finalmente a vaidade do trabalho.
Ora, nenhum homem sensato poderia afirmar, como verdade normal da
vida, que tudo isto seja mesmo vaidade, pois não se entende a vida sem
esforço, sem estudo e sem trabalho. O fundo da mina está em que estas
coisas necessárias à vida não são fundamentais, e louco é o homem que
julga encontrar o sumo bem em qualquer destas atividades. O sumo bem
é a comunhão com Deus, é o temor de Deus, como também nos ensinam
o Salmista e Provérbios (Sal. 111:10 e Prov. 14:27 e ss.). O tema desta
grande Escritura é o temor que se deve a Deus e o dever de todo homem
lutar e trabalhar para cumprir a sua missão diante de Deus. Tudo mais é
contingente e comum.
CAPÍTULO III
O capítulo 3 entra noutro campo filosófico. É uma séria advertência ao
modo de viver, em vista do fato de que nesta vida são difíceis as
diferenças de comportamento, havendo um tempo para cada evento, e
cada um tendo o seu lugar em nossa vida. É assim que há tempo de
semear e tempo de colher, tempo de plantar e tempo de arrancar o
plantado... (vv. 1-8). Se dermos a cada coisa o devido lugar e não nos
esquecemos de qualquer delas, estaremos alcançando o gol da vida.
Isto é tanto verdade que nada conhecemos de tempos determinados (vv.
9-15), quando entramos na rotina da vida como uma espécie de "vira-
mundo", e só Deus está certo no que realiza e por que o faz (v. 14). Nada
sabemos do dia de amanhã, e seguimos pela vida como cegos, tateando
para achar o nosso lugar. Portanto, nada melhor do que comer, beber e
regozijarmo-nos (v.13). O autor não nos ensina o pessimismo da vida, uma
espécie de faquirismo. Ensina-nos a tirar da vida tudo de bom que tem
para nos dar, recordando sempre que no final prestaremos as nossas
contas ao Criador (11:9). Qualquer Indivíduo que seguir esta filosofia
terminará bem, pois a vida tem muitos encantos, muita coisa boa (v. 11), e
tudo Deus colocou neste mundo para nosso proveito e felicidade.
Como refrão de tudo quanto vem ensinando, chama a nossa atenção para
a cova, para onde todos vamos, e nesta doutrina, como veremos no
estudo deste texto (vv. 16-22), somos igualados aos irracionais, no sentido
de que todos terminamos na sepultura. Se este é o fim de todos nós,
independente do destino eterno do homem, então vale a pena aproveitar
os dias de vida que temos aqui sabiamente. O autor, como se vê das
notas do Estudo, não está ensinando a mortalidade da alma, porque
noutros textos é muito franco e até um tanto apaixonado em afirmar o
contrário, como em 11: 9 e 12:1-7. Reafirmamos a nossa compreensão do
ensino divino do livro como uma grave e tremenda admoestação quanto
ao modo como gastamos os dias que Deus nos dá sobre a terra.
CAPÍTULO IV
A vida é muito incerta. Uns nada fazem, e são vitoriosos, outros lutam, e
terminam em nada. Uns são faltosos, e triunfam, enquanto os ativos e
laboriosos nem sempre vêem o produto do seu trabalho. Há na vida
muitas injustiças, e todas elas são filhas da fraqueza humana. Uma série
de provérbios em 4:7-16, vale por um estudo acurado. Por causa destas
desigualdades, o autor termina por achar melhor a modalidade de quem
ainda não nasceu, e ter por felizes os que já morreram (vv. 2 e 3). Isto
pode parecer uma nota de desânimo face às lutas da vida, mas é a
maneira de ver tudo na sua realidade. Quantos de nós têm chegado à
mesma conclusão de que os que já se foram estão livres das injustiças
desta vida, e os que não nasceram livres estão igualmente. Fatos tais
como um rei velho e Insensato ser pior do que o jovem pobre e sábio (v.
13). Contrastes da vida.
CAPÍTULO V e VI
A doutrina do capítulo 5 é muito severa a respeito do culto devido a Deus
e dos votos que se fazem e não se cumprem; nos versos 8-20 temos outra
vez a doutrina da vaidade das riquezas, em que muitos se perdem.
Salomão foi o homem mais rico da terra, no seu tempo, e também o mais
sábio. A sua experiência é válida, mesmo que não tenha sido ele o escritor
do livro na forma que velo até nós. Cuidado com o dinheiro I. quem ama o
dinheiro jamais se fartará, e quem ama a abundância nunca se farta da
renda (5: 10). É um conselho sábio aos que apenas pensam em ajuntar
dinheiro e se esquecem dos outro deveres da vida. Estes estão contra o
que Jesus ensinou: a primeira coisa é buscar o Reino de Deus; tudo mais
será acrescentado (Mat. 6:33). Vê-se, então, que Eclesiastes não está
contra os ensinos do Novo Testamento. É certo que nada levamos desta
vida, e que na cova, para onde vamos, não se gozam estas coisas. Só os
gozos do espírito prevalecem. É loucura, pois, gastar a vida ajuntando,
para depois deixarmos tudo para os outros, que não trabalharam na nossa
seara.
CAPÍTULO VII
Aqui se faz o contraste entre a sabedoria e a loucura. O saber é coisa
muito boa, e por ele damos tudo que temos; no entanto, até nisto deve
haver moderação. Os versos 1-14 constam de uma série de provérbios
comuns na vida israelita, transportados para este livro. Nem todos têm
aplicação ao nosso viver comum, mas ainda assim nos servem. Há, porém,
uma verdade central, que estabelece a superioridade da sabedoria à tolice
(v. 12). Salomão, homem sábio, vivendo num meio ilustre, como
supomos, deveria lutar, e era mais do que natural que estas combinações
fossem estabelecidas.
Os versos 15-21 estabelecem ainda uma série de contrastes e
recomendações, muito úteis e importantes, com uma séria e constante
recomendação no verso 13, a fim de se atentar para as obras de Deus.
Os versos 23-29 contêm uma série de preceitos sociais, visando a mulher,
entre os quais há essa observação: entre mil homens houve um que valia,
mas entre tantas mulheres, nenhuma.
CAPÍTULO VIII
Os versos 1-8 são mais uma série de provérbios de difícil Interpretação, se
bem que num ponto estejamos de acordo quanto ao respeito que se deve
à autoridade (vv. 2-4). Aconselha, a seguir, que não devemos ser
apressados em tomar decisões, uma vez que não temos o comando dos
elementos naturais que trabalham contra nós.
Os versos 10-17 são uma observação ao fato de que muitas coisas
acontecem na vida contra os nossos desejos, e até contra os nossos
princípios; porém não detemos o comando do mundo, temos de ter
paciência e esperar (v. 17).
CAPÍTULO IX
Contém uma série de conselhos para que aceitemos as desigualdades da
vida, especialmente a espera da justiça para os justos, cuja recompensa
demora muito mais do que a nossa paciência permite (vv. 2 e 3). Em face
destas desigualdades, o pregador acha que bom é comer e beber e
esperar. Ante as adversidades da vida, os versos 9 e 10 são uma boa
receita para gozarmos a vida e fazermos tudo quanto vier às nossas mãos
(v. 10). Um apelo veemente, sem oportunidade ao comodismo, tão em
voga em nossos dias.
Uma ficha de consolação encontra-se nos versos 11 e 12, especialmente
para os apressados, os que não podem esperar que a roda pare em nosso
lugar.
Os versos 13-18 são uma Ilustração interessante, que todos podemos
aproveitar, com resultados inigualáveis.
CAPÍTULO X
Consiste este de um hino à sabedoria, que noutros lugares é igualada à
tolice, por não produzir os efeitos desejados e esperados. No meio dos
muitos provérbios deste capítulo, há variada Instrução prática, que, se
observada, produziria uma sociedade diferente da que somos. Termina
por aconselhar cuidado com a língua, até mesmo no leito, porque as aves
do céu podem levar as palavras.
CAPÍTULO XI
Este capítulo é o que poderíamos chamar capítulo da esperança, quando
aconselha: Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias
o acharás (v. 1). É uma lição para os egoístas, os que só pensam no seu
estômago. Esta verdade é ainda ilustrada nos versos 4 e 5, quanto à nossa
incapacidade de entender muita coisa, e somos aconselhados a depender
de Deus. Finalmente surge o grande verso, alentadamente estudado no
corpo deste comentário, sobre a nossa responsabilidade diante de Deus e
o cuidado que devemos ter com a nossa vida.
CAPÍTULO XII
Este é o capítulo do LEMBRA-TE, com 17 motivos para nos recordarmos do
nosso Deus, antes que as verdades dos versos 1-7 aconteçam, para, a
seguir, oferecer um apêndice ou epílogo, onde somos Informados uma vez
mais de que Deus trará a juízo todas as obras, até as que estão
escondidas. Com essa declaração fica vindicada a doutrina da
sobrevivência da alma, tão discutida em 3:16-22.
PRIMEIRO ESTUDO - COMO ENCONTRAR SOLUÇÕES PARA OS
PROBLEMASHUMANOS - 1:1-1:23
Não sendo o livro um tratado ordenado sobre a vida, com
desenvolvimento gradual, não é possível fazer uma divisão lógica das
diversas secções. Assim, apreciaremos os versos ou grupos de versos à
medida que prosseguirmos em nossa análise. Evitaremos toda discussão
julgada dispensável ao esclarecimento do texto sagrado, para não tornar o
trabalho cansativo e a obra demasiado massuda. Este Estudo será
enfeixado como o de Provérbios.
I - INTRODUÇÃO (1: 1-11) - Sempre a Mesma Coisa
O que aqui oferecemos não é bem o que o termo Indica, e, sim, uma
apreciação que nos parece lndicativa do plano do autor, mesmo que não
tenha pretendido isso.
1. O Título
Na introdução nos demoraremos um pouco, apreciando as diversas
opiniões oferecidas a respeito do PREGADOR. O escritor se diz "filho de
Davi, rei de Jerusalém". Portanto, parece fora de dúvida tratar-se de
Salomão. Todavia, o texto Inteiro e suas interpretações levam os
estudiosos a ver que não se trata de S alomão, mas de alguém que,
desejando engrandecer a sua obra, a atribui ao grande Salomão, Mo de
Davi. Tal costume não seria possível em nossa época, pois seria
considerado crime; na antigüidade, porém, era comum uma pessoa
escrever um trabalho e lançá-lo como sendo de outra. Na Introdução
adiantamos que Salomão poderia ter escrito alguns dos discursos
constantes do livro, ou mesmo todos, todavia, pelo arranje, a forma como
o livro chegou até nós, parece não ser da atitoria de Salomão. Ainda mais,
não seria Impossível Salomão o escrever e ordenar tal como o temos, ou
que escrevesse os capítulos e outro os pusesse na forma em que se
encontram. Adiantamos que os profetas Isaías, Jeremias e outros
escreveram os seus discursos isoladamente e depois alguém os enfeixou
na forma em que chegaram até nós; por isso os diversos capítulos não
obedecem a uma ordem cronológica, isto é, não se encontram na ordem
em que foram entregues ao povo. Há capítulos que deveriam preceder
outros, assim como há os que deveriam estar noutros lugares do livro. Os
antigos não tinham as preocupações nossas, na coordenação de seus
trabalhos, oferecendo os artigos ou capítulos na ordem em que foram
escritos ou pronunciados. O povo em geral prefere aceitar Salomão como
o autor do livro tal como o lemos em nossa Bíblia. Nada temos contra
esta opinião. Apenas nos parece que algumas partes, pelo menos, não
apresentam o gênio e a capacidade literária de Salomão. Temos alguns
dos seus discursos, como em I Reis 8:12-61, onde os pensamentos estão
perfeitamente ordenados.
2. O Porquê do Discurso ou dos Discursos (1: 2 e 3)
Vaidade de vaidades, diz o pregador... tudo é vaidade. Como poderia
Salomão ou outro qualquer escritor afirmar que tudo na vida é vaidade?
Parece então que se trata de uma fórmula literária que serve de palco à
discussão da obra. Nenhum literato pode afirmar não haver na vida
qualquer coisa de valia, e o mesmo autor demonstra, nas páginas
seguintes, que há muitos grandes valores, até os destacando com
bastante ênfase. Não vamos, pois, aceitar a frase como uma Indicação
pessimista do autor, uma desilusão de sua própria vida, como sendo
fórmula válida. Se o autor quiser dizer que da vida nada se leva e que
tudo quanto o homem ajuntar aqui fica, então poderemos aceitar o
conceito. Ainda assim, todos nós gozamos do muito que ajuntamos, que
nos dá muito prazer. Não há homem, e jamais houve, que chegasse ao
ponto de desprezar tudo que fez, que ganhou, que fruiu, julgando-o de
nenhuma valia. Bem certo que muitas coisas são de pouca valia, mas não
todas, nem o todo da vida de qualquer pessoa.
O verso 3 parece conformar-se com o 22, em que tudo é mesmo vaidade,
quando afirma que o homem não tem qualquer proveito do fruto do seu
trabalho com que se fadiga dia e noite. É verdade que o mundo valoriza a
vida em termos de lucro e perda; e um homem que se afadiga, ajunta
dinheiro, depois morre e deixa tudo para os outros parece que
efetivamente trabalhou debalde. Mas não é verdade que tudo tenha sido
em vão, pois o mesmo homem gozou do seu trabalho, teve dele o seu
prêmio, e, se deixou alguma coisa para alguém, isso é um dever de
trabalharmos uns para os outros. O pai entesoura para os filhos, estes
para os seus filhos, e nisto estão construindo casa-a-casa. Se cada um de
nós levasse para o túmulo tudo quanto granjeou, então não haveria as
grandes fortunas, que são quase um patrimônio da sociedade humana.
Não só isso: Os cientistas trabalham mais para os outros do que para si
mesmos, esses homens que se sepultam vivos em seus laboratórios à
busca de micróbios causadores de doenças e de morte. Se o autor quer
ensinar que não se deve dar demasiada atenção às coisas desta vida,
poderia ser aceita a tese, como o homem rico da parábola, que ajuntou
muito e não se lembrou de uma razão única e mais importante: deveria
dar contas a Deus (Luc. 12:20). Vemos então que o ensino deve ser outro,
além da mera letra. A verdade é que nós somos construtores da família
humana e trabalhamos para ela; Infeliz da pessoa que passa pela vida sem
deixar de si qualquer coisa que valha para os seus descendentes ou para a
família humana.
Parece claro, então, que devemos entender as palavras do pregador num
sentido limitado, pois todos nós temos proveito no que fazemos e
produzimos. Se entendêssemos o dito do pregador de não levarmos para
o outro lado da vida o que ajuntamos aqui, então estaria dizendo uma
realidade banal. Todos estamos certos de que nada levaremos desta vida,
senão o que construímos espiritualmente. Pensam alguns comentadores
que o sentido das palavras do pregador é não adiantar construir
mausoléus, grandes fazendas, grandes nomes, pois tudo se deixa aqui.
Neste sentido, se alguém quiser valorizar-se pelo que ajuntou aqui,
perdeu o seu tempo, pois tudo fica deste lado da vida. Os que buscam a
aparente glória desta vida, imaginando-se muito grandes, deveriam
lembrar-se que os seus passos se perdem nas areias do deserto do viver,
e, além de um enterro suntuoso, missa de corpo-presente ou de 72 e 302
dia, pouco ou nada sobra. Esta gente, porém, por muito numerosa que
seja, não é o todo. Um grande número dedica-se a construir para a
posteridade; e graças a esta gente é que a vida possui grandes valores.
Ai de nós se não tivesse havido um Pasteur, um Sabin! Estaríamos
condenados à morte antes do tempo, como acontecia antigamente. Os
nossos avós acendiam as suas lâmpadas e se alumiavam com azeite de
oliva ou de qualquer outro óleo. Agora tocamos num interruptor e com
um dedo enchemos de luz a casa. A quem devemos isso? A alguém que
viveu e lutou para servir. Aceitamos a doutrina do pregador, no sentido
de que não adianta lutar e trabalhar só para esta vida, pois tudo vai ficar
para os outros.
3. A Vida É um Círculo Vicioso (1: 4-6)
Geração vai e geração vem, nasce o Sol e põe-se o Sol, assim até o fim. O
filósofo pregador está apenas dizendo o que todos sabemos e levando-nos
a pensar na frivolidade da vida. Todavia, não acreditamos, senão
filosoficamente, que uma geração sucedendo a outra, o pôr-do sol e o seu
levantar, o vento correndo de um lado para outro, sejam o sentido da
vida. Em verdade, nada há novo debaixo do céu (vv. 9 e 10), senão as
coisas melhoradas. Os inventos não trazem à tona tudo quanto
significam. Quando o Sr. Bell inventou a linha telefônica, para duas
pessoas se comunicarem a curta distancia, jamais imaginaria que
atualmente falamos a grandes distâncias, por meio do DDD (Discagem a
longa distancia). O Sr. Bell começou, outros trabalharam no seu Invento.
Tudo é assim. Pasteur, já referido, descobriu os micróbios, mas os
laboratórios se encarregaram de preparar as vacinas antitíficas,
antivariólicas e outras, que Pasteur não poderia ter feito. Todos
trabalhamos como quem usa seara alheia. Estamos certos de não ser a
inutilidade do esforço humano que o pregador está desejando inculcar, e,
sim, que é inútil trabalhar pensando nos resultados do nosso labor só para
nós. Como conceito filosófico, vamos aceitar a tese do pregador. Só isso.
Salomão mesmo construiu o grande templo em Jerusalém. Para quê? Ele
morreu e o templo ficou aí para os outros.
4. Um Círculo Vicioso Ilustrado (1:7-11)
Se uma geração ficasse para sempre, qual seria o progresso da
humanidade? A estagnação. Logo, o nascer e o morrer fazem parte do
progresso. Assim tudo mais no curso desta vida que parece tão banal,
mas não é. O que parece banalidade é uma necessidade da vida e do
progresso, mesmo que aparentemente uma geração não tenha lembrança
dos fatos que a precederam (v. 11). Instintivamente, porém, é baseada no
passado que a sociedade avança e progride. Uma coisa banal torna-se,
então, fundamental.
Todos os rios correm para o mar, e o mar não se enche... (v. 7). Antes que
os rios corram para o mar, já as suas águas fecundaram as terras dos
montes e dos vales, Indo para o mar, a fim de voltarem a percorrer o
circuito b~ da natureza. O mar não se enche, em parte, porque as águas
que para lá vão voltam em forma de vapor de água, que as nuvens
acolhem e despejam outra vez sobre as montanhas e vales. É um círculo
vicioso, mas sem Isso não haveria vida, nem progresso, nem humanidade.
O que o Pregador diz, todos sabem, se bem que não parem a fim de
pensar nesses fatos banais, filosóficos.
Os olhos não se fartam de ver... (v. 8), mas os que perdem a vista sentem-
se frustrados e são una infelizes. Os olhos foram feitos pelo Criador para
com eles apreciarmos as belezas da natureza; e, quanto mais vemos, mais
queremos ver. Então onde está a vaidade destas coisas? Ninguém se
cansa de ver os rios deslizarem no seu leito, serpeando por entre
penhascos e ribanceiras, em demanda do seu destino, que nem sabemos
onde está, embora a vista se alegre de ver, e até nos alegramos de tomar
o nosso banho nessas águas, que vão para o mar, para depois voltarem.
Parece mesmo que a vida consiste em ir e vir, em andar e desandar.
Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, Isso é novo? (v. 10). Sim, das
coisas velhas é que nascem as novas. Antigamente construíam-se casas
de adobe ou morava-se nas cavernas. Depois construíram-se as casas de
alvenaria e, ainda mais tarde, de concreto armado. Tudo são casas, mas
umas sucedem as outras; e o que uma geração fez, a outra melhora.
Assim é certo que, o que agora vemos, já foi, se bem que noutro sentido.
O novo procede das coisas velhas, apenas aprimorado. Se não fosse
assim, teríamos de estar começando sempre as mesmas coisas; mas não,
nós nos baseamos no que os outros fizeram, e sobre isso assentamos as
bases das melhoras. Isso é progresso, e não vaidade. O que o Pregador
diz, nós já sabíamos, porém não tínhamos prestado atenção; vejamos, no
entanto, que ele não está "chovendo no molhado", mas Insistindo para
que raciocinemos e vejamos como é a vida. Uma coisa depende da outra,
mesmo que pareça o contrário, conforme o verso 11. Já não há
lembrança das coisas que precederam... (v. 11) É certo que a memória do
povo é fraca, e logo esquece o bem e o mal; todavia, fica um resíduo
lndestrutível de tudo que passou. Os grandes homens passaram e
deixaram um memorial, que poucos sabem aproveitar; mas quem pode
esquecer todo o passado? O Pregador está apenas obrigando o leitor a
pensar. Há uma ponte invisível, desde Adão até o maior técnico de nossos
dias, pela qual têm passado todos os viventes, que cuidam da sua parte na
continuação da sociedade da vida, no que ela tem de progressista.
Qualquer que seja a fração esquecida através dessa ponte, uma coisa
ficou, para sobre ela se construir outra qualquer.
... e das coisas posteriores também não haverá memória... (v. 11). Os que
hão de vir depois delas esquecerão muita coisa, mas muita será lembrada,
de modo que a filosofia do Pregador tem um fundo de verdade, sem
esgotar o assunto. Salomão mesmo morreu há muitos séculos. A sua
obra monumental ainda hoje é falada, e, se muita coisa ficou no
esquecimento, o templo, as galas do culto, os hinos, que embeveceram
gerações e foram até a eternidade, não podem ser esquecidos. Não
acreditamos que Salomão, caso tenha dito ou escrito estas palavras,
tivesse em mente a idéia de que tanto o passado como o presente e o
futuro, tudo está depositado no porão do subconsciente. Muito vai para
lá, mas outro tanto aí fica, animando os porvindouros. Há, pois, um
resíduo de verdade no sagrado escrito, mas não se pode tomar ao pé da
letra o que é apenas um conceito filosófico, uma maneira de ver os fatos
pelo ângulo da correria da vida. As coisas vistas à superfície do
observador são justamente como o Pregador nos Informa; entretanto,
mais para lá da observação fica muita coisa a examinar. Quando
passamos de trem ou avião ou mesmo de burro por uma paisagem, vemos
muita coisa, porém muito mais fica por ver; e o que ficou por ser ou não
visto, não Interessa ao viandante, se bem que o que viu fosse muito
pouco. Não acreditamos que o autor do nosso livro esteja querendo
ensinar que não adianta lutar e trabalhar, pelo simples fato de que logo
tudo será esquecido. Ele está vendo as coisas pelo lado superficial,
humano, embora soubesse não estar esgotado o vaso dos conhecimentos,
da sabedoria de Deus e dos homens. A humanidade nem pára a fim de
pensar no que vai suceder depois; continua a sua marcha para o invisível,
sem dar conta do que ficou, e se será mesmo visto por outros. Obedece
ao seu programa de vida e vai indo sempre e sempre. O livro que estamos
estudando oferece-nos um tipo de filosofia da vida vista à distancia, sem
as preocupações da profundidade, e talvez seja até um apelo a um exame
mais profundo das banalidades da vida, como a corrida do rio para o mar
e da sua volta para o mesmo lugar. Isso é banalidade, mas quantas lições
nos traz! Quanta coisa científica e prática nos oferece! Será que não há
possibilidade de se escrever um romance sobre a vista? Sobre os cuidados
que temos com ela, procurando o oculista para que nos conserve cada vez
melhor a faculdade de ver? Quanto se pode dizer a respeito dessa
banalidade! Todavia, os olhos não se cansam de ver, porque nos foram
dados para ver as belezas do Criador e contemplar as grandes maravilhas
do gênero humano. Assim como os rios correm para o mar e os olhos
servem para ver mais e melhor, todo o resto da conceituação humana fica
dentro dessa filosofia. Um homem trabalha denodadamente, esforçasse e
constrói alguma coisa. Outros vêm depois e esquecem o que ele fez, mas
se valem do que encontraram e até podem destruir a obra de quem lhes
precedeu. Então, que fazer? Vamos parar? Ensarilhar as armas e ficar
quietos? Nada disso, porque o mundo não pára e nem nós com ele. Nós
somos uma partícula do grande todo, e a nossa parte nesse todo nem
sempre será apreciada, e nem é por causa dela que nos esforçamos, e,
sim, como quem se sente tangido por um destino cruel, marchamos para a
frente, como quem vai sem destino, mas vai.
Parece-nos que esta é a filosofia do Pregador; e, se não for, então também
o que estamos escrevendo é correr atrás do vento. Jesus mesmo ensinou
a Nicodemos que o vento sopra, e não se sabe de onde vem nem para
onde vai; todavia, Jesus não mandou o vento parar de soprar. Ordenou a
Nicodemos para pensar noutras coisas. Esta é a grande lei da vida.
II. O FRACASSO DAS TENTATIVAS HUMANAS (1: 12-2:23)
Esta seção é uma das mais discutidas do livro de Eclesiastes, visto como
parece ensinar que não adianta fazer força para prosseguir, pois tudo
resulta em vaidade. Estudar, construir, fazer força para vencer, tudo vai
dar em nada. Todavia, uma análise mais profunda dos ensinos do
Pregador nos levará a ver que assim é em determinado sentido e em certa
proporção, embora ainda fique muita coisa a respigar, a considerar como
ganho.
1. Uma Tentativa Filosófica (1: 12-18)
O mundo não vai parar e nós não pararemos tampouco. Ninguém fica
satisfeito com uma vida Inativa. Dentro do homem há um Instinto de
avanço para o desconhecido, que o impele a prosseguir mesmo no escuro
da vida. Deus implantou este instinto no homem, e é irresistível. Se o
homem pensa, age; se age, prossegue; e, quanto maior for o obstáculo,
tanto mais o esforço para vencer. No tabuleiro da vida, com pedras de
todos os lados, umas contrariando as outras, o homem não desiste, sejam
quais forem os obstáculos a vencer, seja querendo fazer direito o que está
torto, seja abrindo caminho no escuro, onde nada enxergue. Quanto mais
se luta, mais se verifica que é preciso dobrar o labor; e é fato notário que
só há esforço quando há obstáculos a vencer. Nesta luta do dia-a-dia o
homem se convence de que nada sabe, que é preciso saber mais e nessa
ânsia se atira contra tudo e contra todos para sair vitorioso. O que está
pela frente, não se sabe, e parece até não interessar saber, pois o que o
homem deseja é prosseguir, avançar. O oleiro faz o vaso de barro e
depois o quebra e faz outro, para talvez ainda quebrá-lo e tentar fazer
outro, até conseguir o vaso que deseja. Conta-se que o Inventor da
porcelana moderna imaginou dar brilho ao barro das peças que fabricava.
Aqueceu o forno ao rubro, mas o material não se dissolvia; botou mais
lenha e mais lenha, até consumir todo o estoque, enquanto o material
permanecia Inalterável. Não tendo mais o que queimar, arrancou as
tábuas do soalho da casa e jogou tudo no forno, enquanto a esposa
gritava e pedia socorro aos vizinhos, porquanto o marido havia
enlouquecido. Quando a última tábua do soalho entrou pela boca do
forno a dentro, ele viu estarrecido o material liquefazer-se e escorrer por
cima dos vasos. Estava descoberta a porcelana. É assim que os homens
lutam e vencem, pouco importando as derrotas, que parecem até são um
incentivo a maiores esforços. Se isso é a filosofia da vida, bem estamos, se
não é, então que se explique por que ninguém pára de lutar, até que a
morte ponha um fim a tudo.
1. Uma Tentativa Filosófica (1: 12-18)
1) A Experiência do Pregador (vv. 12 e 16).
Eu, o Pregador, fui rei de Israel em Jerusalém (v. 12). Trata-se, sem
dúvida, de Salomão. Estudou ou aplicou a sabedoria que Deus lhe deu,
segundo somos informados em I Reis 3:10-15. Decidiu de coração
estudar. Foi botânico, zoólogo, filósofo, tudo quanto um homem poderia
desejar na vida em matéria de inteligência. Construiu o mais majestoso
templo da história e engrandeceu-se sobremaneira. Compilou muitos
provérbios (Prov. 10-20), onde a sabedoria extravasa; tinha tudo quanto
se pode imaginar de conhecimentos práticos para a vida. Ninguém o
sobrepujou em saber e discernir. No final de tudo, concluiu que era pura
canseira. Foi como se um homem estudasse direito, depois medicina,
depois engenharia, depois teologia, depois zoologia, depois outras
ciências e terminasse enfadado, nada aproveitando de todo o
conhecimento adquirido. A experiência de Salomão parece ter sido esta:
tudo que tinha estudado só servira para lhe causar aborrecimento e
fadiga, parecendo-lhe estar correndo atrás do vento. Para ele, talvez
fosse assim, pois os homens notáveis não se dão conta de seu valor, e
quanto mais se conhecem menos julgam saber. Só os tolos pensam que
sabem. As muitas letras são mesmo fadiga do espírito; todavia, se nos
esquecêssemos das experiências de Salomão e verificássemos o bem que
ele nos deixou, então poderíamos dizer-lhe: Salomão, você está
enganado; tudo quanto você estudou e lhe causou tanta fadiga e
desilusão tem sido a riqueza da humanidade.
Conta-se que a vida de Pasteur foi um rosário de sofrimentos e escárnios,
dos que o julgavam louco, em busca do lnexistente; mas não fosse ele, ou
outro no seu lugar, ainda estaríamos morrendo de tifo e varíola.
Admiramos esses homens como Salomão, que se cansam, mas deixam
alguma coisa que os vindouros não esquecem totalmente (1: 11).
Salomão se teria sentido fatigado e até desiludido, porque a sua imensa
sabedoria não bastou para lhe evitar os últimos desgostos da vida.
Quando velho, levado por suas mulheres a adorar outros deuses, teria
visto a ruína de todo o castelo construído por quarenta anos. A
experiência de Salomão é a de muitos de nós. Trabalhamos, nos
cansamos e verificamos depois que somos esquecidos e o nosso trabalho
deu em nada, embora isso seja ilusão. Se não houvesse um Salomão, não
teríamos o Livro de Eclesiastes, caso seja de sua autoria. Não, a vida não
pára e ninguém pode sopitar os impulsos colocados pelo divino Criador.
Aceitemos, pois, com as devidas restrições., a experiência desse grande
sábio e a de tantos outros.
1. Uma Tentativa Filosófica (1: 12-18)
2) Uma Observação (v. 14).
Os estultos, parece, levam melhor a vida do que os sábios, como os
preguiçosos, melhor do que os que se esforçam, no final, porém, cada um
colhe o que plantou. O sábio pode afadigar-se das suas muitas letras,
como o trabalhador de seu muito esforço; mas, no final, poucos querem
ser ignorantes e poucos desejam ser preguiçosos. Logo, o estudar e o
trabalhar correspondem a uma lei que nem sempre pode ser apreciada.
Conheço um homem que poderia passear, gastar o seu tempo olhando e
dando trabalho à vista; todavia, prefere ficar amarrados sua máquina,
dizendo umas tantas coisas, a andar acima e abaixo, nada fazendo.
Mesmo que julguemos inútil ou fátuo o que realizamos, há dentro de nós
todos um sentimento de recompensa que nos conforta e compensa pelos
esforços feitos. Temos, pois, que a nossa luta pode não nos interessar, e
até a desprezarmos, embora faça bem aos outros; e nenhum de nós quer
ser louco ou tolo e malandro.
Em todas estas buscas atrás da felicidade, o supremo alvo dos homens,
Salomão verificou tratar-se de miragem, que talvez pudesse ser
encontrada noutros campos, pois as suas buscas tinham resultados
infrutíferos. Parece que o vemos lutando contra o invisível, numa
tentativa experimental, que chegava às raias da loucura. A sua sabedoria
não tinha bastado para condicionar os seu problemas, e a tentativa de
contrastar a sabedoria com a loucura, para ver das duas qual seria a mais
útil, também resultou em fracasso, pois era como correr atrás do vento.
Esta frase, "correr atrás do vento", deve ser entendida como um aforismo,
corrente entre os filósofos. A ciência aumenta a tristeza, porque o sábio
não consegue realizar o máximo pedido pela mente humana, e então
desespera-se e tenta julgar tudo um fracasso.
3) Um Exame Introspectivo (v. 17).
Fala o homem que se cansa de aumentar a riqueza e a cultura. Admitimos
que, se Salomão fosse mais medíocre, talvez não tivesse chegado a tais
conclusões. Ele comparou o saber à loucura ou à ignorância, e verificou
que o tolo pode ser tão feliz como o sábio, isto, dependendo do ponto de
vista de cada um. A cultura cansa, como tudo mais na vida. Os que se
dedicam a estudos profundos terminam dando de ombros a tais
indagações e reconhecendo que com muito menos também se pode viver.
A sabedoria aumenta o enfado e torna-se um peso na vida, pois quem
aumenta ciência, aumenta tristeza (v. 18). Todavia, não deixamos de
estudar e progredir, e cada dia procuramos maior soma de
conhecimentos. Diziam os latinos que a virtude está no meio, Isto é, entre
os dois extremos. Acreditamos e repetimos, metade da cultura de
Salomão talvez lhe tivesse poupado os últimos dias desgovernados da
vida. Ele teria acordado tarde demais. A sua demência, ou quase isso,
que o levou e ao seu reino à ruína, poderia ser evitada, tivesse ele
dedicado mais tempo às coisas práticas do Estado.
4) O muito estudar é enfado da carne (vv. 13-18).
No seu pessimismo particular chegou a admitir Deus castigar o homem
que quer saber demais, tornando enfadonho o trabalho dos filhos dos
homens (v. 13). É uma força de expressão, pois Deus deu ao homem o
instinto do progresso, e este progresso não vem se ficarmos deitados de
papo para o ar. Há coisas que a cultura não resolve, tais como: o bom
senso da medida, o tino e a capacidade de esquadrinhar os inconvenientes
da vida, o fato de que o que nasce torto não se endireita (v. 15); todavia,
pode modificar-se o jeito das coisas tortas e tirar-se delas as lições que a
experiência indicar. Finalmente, se expurgarmos o discurso de Salomão
dos seus extremos, vamos encontrar muita coisa construtiva e de alto
valor. Era um homem amargurado e cansado de tudo, porque de tudo
tinha em extremo, e os extremos não convêm. Se isso aproveitar aos
leitores destas despretenciosas notas, muito bem, se não...
2. Um Recurso à Carnalidade (2: 1 e 2)
Por que perturbar a mente dando ensanchas à carne'? Os prazeres
sexuais fatigam. Os modernos hipies confessam que depois das suas
bacanais sentem-se frustrados e enojados. O prazer sexual moderado,
controlado, ajuda a viver, mas o seu abuso destrói a saúde e a felicidade.
O sexo é como tudo mais: o excesso é demasia. Os prazeres sexuais são
como certas flores que, quando se lhes tocam, murcham. Há uma planta
que se chama sensitiva; toca-se nela, e ela murcha as folhas.
3. Experiência Noutros Prazeres (2: 3-11)
1) O prazer do vinho (v. 3).
As bebidas são como as serpentes: lindas à vista, mas perigosas quando
tocadas. Milhões são gastos anualmente na compra de bebidas, e, por
causa delas, se destroem vidas e lares. Salomão experimentou beber em
demasia, mas logo verificou que era outra loucura. É um prazer sem
sentido, porque tira os sentidos.
3. Experiência Noutros Prazeres (2: 3-11)
2) O prazer das construções (vv. 4-6).
Salomão dedicou-se a construir, e os relatos que nos vêm dos seus dias
são mesmo fantásticos. A construção do templo do Senhor em Jerusalém,
como nos informam os livros dos Reis e Crônicas (I Reis 6:1-7:50 e II Crôn.
3:1-5:1), é o relato da mais grandiosa obra dos séculos. Depois Salomão
construiu seu palácio (II Crôn. 8), fez jardins em Jerusalém, conforme o
relatam as crônicas, trouxe água da Fonte da Virgem para regar os seus
jardins, como ele mesmo diz, plantou árvores frutíferas de todas as
espécies, fez um açude para coletar a água para os jardins. A sua casa do
bosque era qualquer sonho de assombrar um faraó, e por mais que demos
asas à imaginação, somos incapazes de realizar, mentalmente, tudo
quanto fez, e as Crônicas não no-lo contam, porque muito já
desaparecera, até da memória dos seus contemporâneos. Não sabemos
quantos filhos e netos teria tido, porque as Crônicas que temos não o
dizem, mas teria muitos e seria um agradável prazer ver as crianças
brincando nesses jardins. No final de tudo, verificou que não passava de
pura vaidade (v. 11).
3) O prazer de uma grande família (v. 7).
Teve mil mulheres, entre esposas e concubinas (I Reis 11:3), que lhe
deram muitos filhos e netos; e, não contente com esta gente, ainda
comprou escravos e outros nasceram em sua casa. O pessoal de Salomão
que comia da sua mesa deve ter andado pela casa dos 25.000. Nem
mesmo os Luis da França tiveram tantos criados e comensais. Esse povo
devia gostar de festas e haveria músicos e danças continuamente; quem
não ignora, porém, como estas coisas enfastiam e terminam por tornar a
vida um pesadelo? Ele mesmo confessa que nada disto lhe valeu o gozo
de uma vida feliz e calma.
4) Foi um grande criador, um fazendeiro (v. 7).
Os reis de Israel e Judá eram importantes criadores. Josafá foi também
um grande fazendeiro. Esses reis não viviam dos salários que o erário
público lhes pagava; eles mesmos tinham suas rendas, como ainda tem,
atualmente, a família real inglesa. Os seus pastos ficavam lá para o sul,
nas imediações do Neguebe; e como seria agradável a um homem de
estado ver bezerrinhos pulando e os carneiros e bois mugindo! Isso deve
ter sido um encanto. Todavia, tudo farta e até a fartura faz mal.
5) Era um homem muito rico (v. 8)
O ouro e a prata eram tanto, que esta última nem tinha cotação em
Jerusalém, e, não satisfeito com as riquezas que lhe vinham dos diversos
estados, com os quais mantinha relações políticas e econômicas, ainda
tinha a sua marinha mercante, que ia a Ofir e outros lugares, buscar mais
ouro. Ele mesmo diz: Amontoei para num prata e ouro, e tesouros de reis
e de províncias (v. 8). Isso não é figura de linguagem, pois, se mantinha
relações políticas com todo mundo de então, era natural que todos
gostassem de lhe presentear. A sua riqueza envergonharia a qualquer
potentado dos nossos dias. Nem sabemos que destino teria tomado essa
dinheirama, esse ouro pesado às arrobas, se bem que no final tudo aquilo
fosse vaidade e correr atrás do vento (v. 11). Ora, convenhamos não ser
tanto assim, pois os faustos do palácio, a criadagem, a riqueza, deveriam
produzir certa euforia e segurança. Entretanto, ele confessa, para todos
nós, que nada disso o contentou. Admitimos que tivesse terminado a vida
enfadado.
Uma análise, mesmo superficial, da vida de Salomão nos convence de que
tivera uma velhice de enfado e aborrecimento. Isso admitimos, sem
esforço, conhecendo a maneira como ele terminou a sua vida, cheio de
desgostos, causados pelos ciúmes e desavenças do mulherio e pelos seus
grandes pecados ao deixar o seu Deus, bondoso e providencial, para se
virar para os deuses dos povos vizinhos, ao ponto de arruinar o reino. Se
registrou estas crônicas, então o deveria ter feito já depois dos 30 anos de
governo; e se não foi ele quem as escreveu alguém ouviu os seus
lamentos, as suas queixas no fim da vida, e as registrou nesse
monumental livro. Admitimos mesmo que, para Salomão, a vida terminou
com amargura, porque os seus excessos teriam sido tantos, que
terminaram por enfastiá-lo e legar-nos então um tratado de pessimismo,
que tem feito mal a muita gente. Um bom entendimento do livro de
Eclesiastes deve levar em conta a vida particular de Salomão, e não tomar,
os desapontamentos que nos revela, como regra para a vida de todos nós.
6) Era um homem de festas (v. 8).
Provi-me de cantores e cantoras e das delícias dos filhos dos homens. O
que esta linguagem meio sibilina significa, não sabemos. Cantores e
cantoras, sim, pois um conjunto de cortesãos como os de Salomão não
poderia viver sem festas. As danças, as orquestras, o gosto pela música,
que teria herdado do pai Davi, seriam um encanto no palácio real. Nos
primeiros anos do seu reinado, Jerusalém regurgitaria de artistas, atraídos
pela fama do rei, fama que atingia os quatro cantos do mundo de então.
Uns seriam contratados, outros oferecidos, e quem não gostaria de fazer
parte do grande número de cortesãos apenas pela comida? As suas
palavras, pois, devem ser entendidas como significando uma orgia de arte
de estontear.
7) Mulheres e mulheres (v. 8)
Não acreditamos que Salomão fizesse esta confissão, mesmo sendo
verdadeira. Parece-nos termos aqui a pena de um cortesão qualquer que,
ao descrever a vida nababesca do rei, teria ido um tanto longe na sua
apreciação. Já sabemos que no harém de Salomão havia nada menos que
1.000 mulheres: 700 esposas e 300 concubinas. Este autor por muitas
vezes, em suas aulas, pretendeu reduzir ao normal, o que significaria todo
esse mulherio. Os leitores mais apressados levam o fato para os domínios
sexuais; nós, porém, preferimos encaminhá-lo para o terreno da política,
pois não há nem nunca houve homem que pudesse dedicar-se a tantas
mulheres, ou tivesse a tentação de as buscar. O seus tratados de amizade
com os reis vizinhos seriam sempre selados com a vinda de uma princesa.
Sabemos isso pela história do Egito. Não somente isso, mas também não
faltaria quem lhe oferecesse uma mulher bonita encontrada algures.
Vimos que, quando Abraão teve de emigrar lá para as bandas dos
amalequitas, precisou fazer um acordo com Sara, para ela confessar que
era sua irmã, porque, doutra maneira, matariam Abraão, para lhe tirar a
mulher. O mesmo aconteceu com Isaque. Isso seria costume oriental;
onde houvesse uma mulher bonita, não faltaria quem a cobiçasse, para
fazer dela um presente ao potentado. Foram essas mulheres que
arruinaram a vida espiritual de Salomão e concorreram para que ele nos
deixasse o Eclesiastes.
8) Salomão era um homem alegre e feliz (v. 10).
Tudo quanto desejaram os meus olhos... nem privei o meu coração de
alegria alguma, pois eu me alegrava com todas as minhas fadigas. Era um
homem alegre no meio das suas responsabilidades públicas, que não
seriam pequenas. Tudo o que é em demasia faz mal. Todavia, verifique-
se que Salomão era um homem feliz, mesmo afadigado com muitas
obrigações e responsabilidades, e se, no meio de tudo, verificou isso não
passar de correr atrás do vento, saiba-se, ser esta uma verdade
corriqueira. Quem não entende, qualquer excesso ser prejudicial?
Excedia-se demasiado em tudo: na conquista de riquezas, na conquista
política, na conquista de tudo mais. Então aceite-se que o mal da doutrina
de Eclesiastes não está nos gozos bons da vida, mas nos seus excessos.
Quando um homem vai chegando ao fim da vida e olha para trás, verifica
mesmo que muita coisa que fez não deveria ter realizado e muito deveria
ter sido evitado. Esta é a nossa experiência, e por isso devemos aceitar a
confissão de Salomão, ou de quem lhe escreveu a biografia, como o
resultado de qualquer vida igual à sua. Se, mesmo agora, 2000 anos
depois, alguém desejasse escrever a biografia de Salomão, usando apenas
os parcos elementos dados pelas Escrituras, poderia escrever um grosso
volume, e então concordaria em que o nosso Eclesiastes não diz demais;
talvez diga de menos. Com esta seção termina uma parte da confissão
meio trágica da vida de Salomão, que ainda continua. Damos talvez mais
espaço a essas considerações do que deveríamos, se bem que o façamos
para mostrar que não há nada demais na vivência de Salomão que
qualquer outro homem do seu tempo e do seu porte não fizesse. Salomão
morreu moço, pois começou a reinar antes dos 30 e reinou 40 anos. Aos
70 era um decrépito. Porquê? Resultado dos excessos, sejam de que
natureza forem.
4. Uma Análise Cultural (2:12-17)
Já no capitulo primeiro (vv. 12-18), Salomão deu a sua palavra neste
terreno cultural, mas volta ao assunto, como se uma força oculta o
impelisse para este campo, que era, sem qualquer dúvida, o centro da sua
vida, não obstante considerar essa busca um fracasso do ponto de vista de
prazer para a vida.
Por causa desse fracasso, virou-se, como vimos antes, para uma
diversidade de atividades, como se nelas estivesse o ideal que buscava. O
que nos parece é que Salomão desejava aquilo que o ser mortal jamais
encontrará na face da terra - a felicidade perfeita. Isso é miragem, que
parece ter ofuscado a mente de Salomão. Não se contentava com meios
termos, queria o todo, se bem que isso não fosse possível; e podemos até
afirmar que o aparente pessimismo do livro reflete esta tentativa de
buscar e achar o que não existe a felicidade perfeita. Qualquer homem
que se devota a uma ciência e pela mesma dá tudo logo descobre não lhe
proporcionar o que busca. Se então se atirar a outras e outras, chegará à
conclusão de que já na primeira fracassou. O homem culto é aquele que
aproveita ao máximo o que a cultura lhe pode dar, para com ela manusear
o problema e dele tirar tudo, e não mais do que lhe pode oferecer. As
desilusões do sábio e do ignorante são nada existir completo e perfeito
nesta vida; e o máximo que se pode encontrar reside numa reflexão calma
e racional de que tudo na vida é relativo e nenhum ser humano consegue
tirar dele o máximo para o seu governo. Muitos se contentam com pouco;
outros, porém, querem tudo; e, parece, Salomão era dessa classe. Tudo
ou nada. Isso poucos conseguem realizar. Depois de um dia de labor
profícuo, quando a mente pede sossego, vem a pergunta: Será que realizei
o meu ideal? Cumpri todo o meu dever? A mente, assim acutilada, verga-
se à evidência de que ninguém realizou o ideal, e este só existe na
filosofia, não na prática. Embora a cultura seja superior à estultícia,
muitos chegam ao ponto de descoroçoar dos seus livros e dos seus cursos,
e até invejam o operário, que sai de madrugada para o seu emprego,
depois de atravessar distancias, apinhado na sua condução, a fim de pegar
numa picareta e arrebentar o chão, para à noite voltar a casa nas mesmas
condições da manhã. Então deita-se morto de cansaço e dorme, dorme
sem problemas, sem dividas a pagar, sem credores à porta, sem outro
objetivo senão o de na manhã seguinte seguir a mesma rota. Todavia,
nem este está satisfeito e inveja a outro que amanhece cercado de livros e
de problemas intelectuais, e diz consigo: "Quem me dera ser como aquele
homem de gravata e paletó, camisa engomada, sem ter que pegar 'no
pesado'." Assim, ninguém está satisfeito, e Salomão muito menos.
Argüiríamos: Se todos fossem doutores, quem cavaria o solo para tirar
dele o nosso alimento'? Se todos fossem operários, quem escreveria
livros e buscaria a ciência das coisas, para o melhoramento do homem?
Deus fez tudo bem: deu uns para a enxada e picareta, e outros para os
livros e a ciência. Nisso está o equilíbrio social, e, no fim, se cada um se
contentar com a sua sorte, a vida correrá melhor para todos. O que
prejudicou Salomão e prejudica a muita gente agora é não se contentar
com a sua cota, nos problemas da vida, e querer mais e mais, até se
esfalfar para alcançar ESSE MAIS E MAIS.
Essas considerações preliminares vêm como forma explicativa do que se
encontra nos versos 12-14 do capítulo 2. O Livro dos Provérbios nos dá
muitas lições com que melhor poderemos interpretar o Eclesiastes. O
senso da medida, a prudência, o controle e tudo mais um bom estudante
lá encontrará.
4. Uma Análise Cultural (2:12-17)
1) Um exame pessoal (vv. 12 e 13).
O sábio Pregador, depois de considerar nulas todas as invenções da sua
vida, suas obras, seus jardins, seus banquetes, suas músicas, suas
mulheres, chegou à conclusão de que tudo é vaidade (v. 11), isto é,
nenhuma destas coisas permanece por muito tempo (2:16), e o que passa
é vaidade. Deu-se então a considerar os valores da inteligência e os da
loucura, entre outros, o de seguir o rei, e também verificou que estas
coisas eram muito banais. Nada fica para sempre, e a vida não passa de
uma rotina, realizando uns o que outros já fizeram. Nisso estava certo. A
vida é mesmo uma roda-gigante: enquanto uns sobem outros descem,
para subir outra vez, e assim até a eternidade. No meio dessa
vulgaridade, comparou a inteligência à tolice, e viu que aquela é mais
proveitosa do que esta, tanto quanto a luz é mais apreciada que as trevas.
Mesmo que, de modo geral, sinta-se enfastiado da sua sabedoria, sempre
achou melhor ser sábio do que estulto. Do ponto de vista prático, nós
podemos igualmente tirar as nossas conclusões. A cultura é custosa, dá
muito trabalho para ser adquirida, mas a maioria dos homens e mulheres
lhe aderem, pagando o seu preço; e ai se não houvesse gente culta,
porque a mediocridade parece ser mesmo o destino da humanidade, e
esses medíocres são os que mais avançam na vida, passando para trás os
mais bem educados! Eles se valem do sentimento de frustração, e fazem
força para avançar, enquanto os inteligentes, como elementos satisfeitos,
contentam-se com as galas adquiridas. Os leitores que decidam esta
questão.
2) O valor do sábio (vv. 14-16).
O estulto vive em trevas, mas o sábio tem os olhos na cabeça. Outros
diriam que o tolo tem os olhos no estômago, enquanto o sábio os tem na
testa. Todavia, o Pregador verificou que, o que acontece ao insensato
sucede ao sábio. Por que então procurar ser sábio? Na verdade, todos
vamos para o mesmo fim, e, depois da morte do sábio, como já vimos em
1: 11, ninguém se lembra dos seus feitos, e os do tolo nem mesmo são
mencionados. É o destino de todos nós, lutarmos, para depois darmos em
nada. Todavia, alguma coisa fica e serve e ajuda aos que vêm depois. Diz-
se que a vida de um livro é de dez anos; agora deve ser de muitos anos,
graças a velocidade da vida e dos conhecimentos humanos. Então um
homem que escreveu livros pode esperar apenas que meia geração se
ocupe das suas obras. Esta é uma triste verdade. Quem se lembra dos
estudos de Humberto de Campos, Machado de Assis e muitos outros?
Livrinhos de estorietas enchem as bancas de jornais, bem assim de
histórias em quadrinhos, fantasias banais; mas um livro clássico poucos o
procuram. Digamos a era dos romancistas já haver passado e que agora
estamos na era da tecnologia; certo, embora a tecnologia esteja longe de
resolver todos os problemas para a vida humana. Soluciona planos
industriais, aprimora os grandes complexos comerciais, mas o que ajuda e
Inspira a vida os técnicos não resolvem; e nós vivemos de inspiração, de
alguma coisa que levante o nosso nariz acima da cabeça, para
descobrirmos que, antes de tudo e depois de tudo há uma vida espiritual a
merecer atenção. Isso de coisas espirituais numa época materialista e
sexualista soa estranho, e por isso mesmo a sociedade vive a reboque dos
mais extravagantes princípios, e é levada para longe, cujo fim não se
alcança. Se for certo que a inteligência não resolve os nossos problemas,
pergunta-se: O que os resolverá? Salomão ficou fatigado da sua
sabedoria, mas nunca pensou na inspiração que a sua cultura deu ao
tempo e aos porvindouros. Mesmo que as coisas não durem para sempre
(v. 16) e que depois de um pouco de tempo tudo caia no esquecimento,
ainda vale a pena estudar; e se esta página puder entusiasmar algum
leitor a por de parte alguns momentos roubados às novelas, para se
dedicar à leitura, nos sentiremos gratificados. Certo que para tudo há um
limite, e este deve ser observado para se manter o bom equilíbrio da
mente e do corpo, pois a este equilíbrio cabe uma devida atenção à
inteligência. Nós não vamos concordar com Salomão ao afirmar: assim
como morre o sábio morre o estulto (v. 16). Se bem que todos morram
mesmo, há uma diferença: o sábio lega alguma bênção aos seus
semelhantes, enquanto o estulto nada deixa. Apenas isso. Então, viva o
sábio. È certo que pela inteligência apenas nunca se construíram grandes
empórios Industriais, grandes usinas, grandes conglomerados, como se
fala atualmente; se nos faltassem, porém, as bibliotecas, seríamos em
pouco reduzidos a um número de zeros à esquerda de um algarismo.
Quando Deus criou o homem, não fez um comerciante, um industriário,
um técnico qualquer, mas um homem à SUA IMAGEM E SEMELHANÇA,
com capacidade para pensar, discernir e verificar o valor de tudo no seu
conjunto.
Para não divagar demasiado, ponhamos a linguagem do Eclesiastes nos
seus devidos termos, isto é, nem tudo para a inteligência e desprezo para
os outros valores do corpo, como a esbeltez física, os cuidados com a
saúde, etc. Tudo isso compreende o homem, e não o sábio.
3) Aborrecimento da vida, não vale.
Pelo que aborreci a vida, diz o pregador (v. 17) Em face da pouca
valorização que algumas vezes se dá aos pendores intelectuais, chega-se a
pensar: o melhor é treinar na bola e dar um bom jogador; mas se todos
fôssemos Pelé, que seria da platéia? Nem todos podemos ser isso ou
aquilo, pois na vida e na sociedade há lugar para todos e para todas as
atividades. Muitos estudiosos se queixam, como Salomão, gastarem anos
em universidades, para depois verificarem que não podem nem concorrer
a um lugar de auxiliar de escritório, porque não sabem escrever a
máquina, não são estenógrafos, etc. Temos de possuir administradores
de empresas, como temos de ter assessores disto e daquilo; tão útil será
um como o outro. Nós não concordamos que tudo isso seja apenas correr
atrás do vento. Foi um modo de apreciar a vida por um ângulo só. Os
pessimistas nunca criaram muita coisa, e os queixosos igualmente. O bom
é que cada qual verifique as suas tendências e qualidades, e se dedique ao
seu desenvolvimento. Isto é o que constrói. Nada de queixumes nem
lamúrias, dizemos a quem ler esta página. Se alguém enveredou errado
pela vida e verificou que chegou a um beco sem saída, tenha paciência e
volte, se tiver tempo; se não, aja igualmente, porque o mundo carece de
todos, tanto dos mais como dos menos cultos, dos sábios e dos
ignorantes. Precisamos de gente para varrer a rua, e um médico não iria
fazer isso. Necessitamos de um homem que fique na boca do forno uma
noite inteira, para de manhã termos o pão fresco para o café. Precisamos
de soldados, para vigiarem as nossas casas, e até quem apanhe pedaços
de papel na rua e o vá vender a quilos. Dependemos de todos e de tudo.
Ninguém sobra, especialmente numa era quando tanto se carece de
gente, ainda que seja para limpar a graxa de uma máquina. Deixemos as
lamúrias de Salomão para lá.
O sábio, depois de um dia de trabalho e de usar seus poderes mentais,
pergunta: Valeu a pena? Calma e refletidamente volta-se para si mesmo e
é capaz de compreender que fez o que pode e atendeu a tudo que devia.
Aí o pensamento o acutila, e pergunta ainda: Terei conseguido o que
desejava e o que devia? Vai mais longe, e diz consigo: Não será que o tolo
conseguiu mais do que eu, pois, pelo menos ficou descansando e eu me
fatiguei? Os que me viram atarefado o dia todo pensarão que fiz alguma
coisa de valia? Neste ínterim a morte bate à sua porta e, se tem tempo,
ainda: Valeu a pena a minha canseira? Os que aí ficam gozarão algo do
que fiz, e reconhecerão que fui um laborioso batalhador pela melhoria da
comunidade? Diz-se que o tolo é como o gafanhoto, vive para o momento
presente; a formiga vive para o Inverno futuro. A verdade é que não
temos o comando da vida, nem podemos conciliar um grande número de
fatores, todavia, uma voz dentro de nós nos diz: Prossegue, e não
desfaleças, mesmo que pareça a preguiça ser mais compensadora do que
a atividade. Não te glories do dia de amanhã, porque não sabes o que
trará à luz.
Ao finalizar esta seção, perguntamos: Será o livro de Eclesiastes um hino à
tolice, uma ode à estultícia? De modo nenhum. O livro inspirado, com
todas as suas Incógnitas, leva-nos a uma conclusão que fará bem a todos.
O temor do Senhor é a fonte da vida (Prov. 14:27; Sal. 111: 10 ss.).
5. Filosofia do Trabalho (2:18-23)
Qual a sabedoria que nos poderia levar a uma compreensão melhor do
problema humano do trabalho? Se ela existe, não é conhecida por nós.
Estamos colocados no centro de um círculo, cujos raios escapam à nossa
vista e compreensão; os extremos e o centro não podem ser ocupados por
nós, porque não temos o dom da ubiqüidade. Essa é uma característica
do Criador. Só ele pode ver os extremos desse círculo e só ele entende o
que se passa em todos os raios do mesmo. Talvez, por meio de uma nova
sabedoria, que nos afaste ao máximo dos centros de nossos interesses e
observações, sejamos capazes de ver as coisas por outro prisma; isso
porém, só será possível quando a sabedoria de Deus, que supera a deste
mundo (I Cor. 2:7), dominar a vida. Enquanto houver proletariado,
assalariados e empresários, todos se movendo ao redor de um círculo
quase vicioso, cada qual defendendo os seus Interesses estreitos, não
haverá possibilidade de uma outra compreensão.
Parece que foi esse entender de Salomão que prejudicou todo o seu
trabalho, pensando ele que tudo ficaria para os outros, que nada lhe
tinham feito (vv. 18 e 21). Salomão não compreendeu que somos partes
de um todo e estamos unidos uns aos outros por laços de sangue, de
afinidades raciais e humanas, e, assim sendo, devemos dar a nossa
partilha de serviços para o consumo de todos. Se cada qual pensasse:
"Ora, eu não me vou dedicar muito, porque não quero que os outros tirem
proveito do meu esforço", que sucederia? Os pais não plantariam para os
filhos, nem estes para os netos, e assim até o fim. Quantos benefícios
gozamos hoje, resultado da dedicação dos que já passaram há muitos
anos? Já referimos o caso de Mr. Bell, esticando uma linha e colocando
cada extremidade no ouvido de alguém. O que um dizia, o outro ouvia.
Hoje falamos à distância, interestadual e internacional pelo telefone. Foi
preciso que alguém desse o ponto de partida. O que dizemos de Mr. Bell,
poderíamos dizer de uma infinidade de homens, que viveram e morreram
e deixaram o produto do seu trabalho para os porvindouros. Esta é a lei
do Criador, que nos uniu a todos de tal modo que ninguém vive para si ou
morre para si (Rom. 14:7). Nós todos somos devedores a outros; alguém
que viveu, morreu e nos deixou alguma coisa, para encetarmos a nossa
carreira neste planeta. Há egoístas, e muitos; mas há igualmente muitos
filantropos, amigos da humanidade, e, com uns e outros vamos recebendo
e dando alguma ajuda. Esta é a grande lei da vida. *
Como foi que Salomão não aprendeu esta grande lição, ignoramos; ou, se
aprendeu, não o disse bem no seu livro. Nas palavras da apreciação do
texto referido no tópico, examinaremos a sua filosofia e o que ela quer
ensinar a respeito do trabalho. Seria isso que entendia do trabalho?
1) O aborrecimento do seu trabalho (v. 18).
Os motivos de Salomão se enfadar do seu serviço e de saber que tudo ia
ficar ai para os outros, que nada tinham feito por ele, não sabemos.
Porventura não estaria lembrado dos esforços feitos pelo seu pai, Davi,
para deixar bastante riqueza e materiais para o futuro templo? Não
reconheceria as lutas de Moisés, Josué e tantos outros, que trabalharam
para construir a nação, que ele agora governava como rei poderoso e
rico? Certamente estas reflexões não poderiam estar ausentes de seu
pensamento, e temos de ler as suas palavras com um outro espírito e
sentido.
Há duas maneiras de trabalhar. Uma com o ideal de construir para a
posteridade, de fazer algo que fique, mesmo que não seja esse ideal o
motivo supremo; a outra é trabalhar com o fim de ajuntar para si. O
primeiro caso espelha o idealismo da razão, o sentido do grupamento, da
coletividade; o segundo é o egoísmo, o desejo de realizar tudo para nós e
só para nós. Não acreditamos que este fosse o espírito de Salomão; não é
possível admitir que não tivesse aquele senso de obrigação coletiva, pois
ele mesmo tinha feito tanta coisa à custa dos outros. O templo construído
custou o suor de muitos milhares, que se embrenhavam no Líbano,
cortando madeira e trazendo-a por mar, em forma de jangadas, para
depois ser usada na construção. Estaria ele esquecido disso? Certamente
não. A sua cultura o seu discernimento das coisas não lhe dariam tal
conceito de trabalho.
Então por que a sua lamentação de se afadigar debaixo do sol, sabendo
que o seu ganho iria deixar a outrem, que nada havia feito a seu favor?
Aqui está a sua filosofia egoísta do trabalho. Ele se coloca entre os que
trabalham e amaldiçoam o trabalho; debuxa o retrato dum trabalhador
Insatisfeito e raivoso como tantos, por saber que isso valerá para os
outros. É o trabalho escravo. Que interesse teria um escravo em trabalhar
a fazenda do seu senhor de sol a sol e com uma chibata lhe esperando na
entrada da porteira? Nenhum certamente. O trabalho do escravo não
tem alvo nem esperança; é trabalho forçado. Este não seria em nenhum
caso o de Salomão.
Aqui está então a condenação dos que trabalham por obrigação física ou
por mero egoísmo, como o rico da parábola, o qual encheu as suas arcas
ao ponto de dizer à sua alma (note-se bem, à sua alma): "Minha alma,
tens em depósito muitos bens para muitos anos, descansa, come e bebe,
e regala-te" (Luc. 12: 19). Este é o trabalho que Salomão está fustigando,
egoísmo dos que se afadigam, para os outros comerem do fruto de seu
trabalho. Se podemos interpretar o discurso do Pregador, é isto que está
considerando. Ele mesmo faz esta amarga pergunta: E quem poderá dizer
se será sábio ou estulto? Contudo, ele terá domínio sobre todo o ganho
das minhas mãos (v. 19). Como diria o egoísta: Depois de mim virá alguém
que talvez seja um tolo, um estulto, mas de qualquer maneira terá o
domínio de tudo quanto estou ajuntando. Os que trabalham com tal
pensamento serão sempre infelizes, pois lhes parece que o melhor seria
levarem tudo para a sepultura, nada deixando para os outros. Para os tais
tudo é vaidade mesmo.
*Nota: Leia um capítulo em A Vida Cristã no Mundo Hoje, Hans Burki,
pp. 30-47, editado pela JUERP, à venda na Casa Publicadora Batista, 1972.
2) Um recurso ao desespero (vv. 20 e 21).
Salomão, baseando a sua filosofia no fato de que alguém trabalha para
quem nada faz, então dá largas ao seu coração, para que se desse a tudo,
menos ao trabalho, pois este seria útil para os que nada fizeram, e indo
adiante, afirma: Porque há homem cujo trabalho é feito com sabedoria,
ciência e destreza; contudo deixará o seu ganho como porção a quem por
ele não se esforçou (v. 21). O homem que trabalha na persuasão de que
outros é que vão lucrar do seu esforço, terminará por ser um preguiçoso,
um vadio, pois trabalhar para quem nada faz é estultícia. Esta é a filosofia
do homem que só pensa em si, no seu ganho, no seu estômago. Não é a
filosofia dos homens que construíram este mundo, com grandes cidades e
grandes prédios para outros morarem. Há um bairro no Rio de Janeiro,
antigamente um prolongamento da Lapa, local de vadios e bêbados. Um
homem imaginou construir ali os maiores prédios do Rio. Conseguiu, e
depois morreu; entretanto, ainda hoje o nome Serrador lá está, num
grande hotel construído por ele. Por que esse português, Serrador, se
preocupou em construir em bairro elegante, sabendo que depois iria
morrer e deixaria tudo para os outros? Esse o espírito dos que trabalham
para a posteridade. O lado negativo dessa filosofia: o serviço dos egoístas,
que Salomão tão admiravelmente representa no seu escrito. Se um
homem trabalha só para si, logo se convence de que é pura vaidade, pois
depressa morre e outros vão ficar com o produto do seu vigor. Todo
esforço é penoso, todo trabalho traz canseira. De dia e de noite o seu
coração se cansa nessa luta. Para quê? (v. 22). Logo morre, e para quem
ajuntou ele? Para quem nada faz, para um vadio, talvez. Esta é a
realidade do trabalho só para si. Quantos homens tudo fazem com esse
ideal? Bem poucos.
Não foi esse o alvo posto por Deus no coração humano quando lhe deu o
jardim para cultivar, plantar e deixar depois para os filhos. Não é só no
homem que Deus pós este ideal. As abelhas vão muito longe, adejar
sobre as flores, colher o pólen e trazê-lo nas patinhas, que depois é
amassado, por um processo que elas nunca ensinaram a nenhum sábio,
para então termos o mel. Elas mesmas pouco comem dele. Somos nós os
comedores do mel feito com tanta fadiga das abelhinhas. Os passarinhos
e a natureza toda, idem. Todos trabalham para o futuro: é a lei divina.
Então aprenda-se a lição do Pregador Salomão, de que todos os que
trabalham apenas para si são uns tolos, e o seu serviço, pura vaidade
debaixo do sol. Uma canseira sem finalidade.
Se tivermos conseguido mostrar a finalidade dessas diversas digressões
salomônicas, isto é, que está procurando mostrar o que a vida representa
para as criaturas egoístas, sem visão do conjunto, tipos que vegetam à
margem da vida e da sociedade humana, e formam realmente a escória, o
lado negativo da vida, então teremos entendido todo o livro, no que ele
tem de misterioso. Um espírito lúcido, capaz de enxergar muita coisa no
escuro da vida, não iria supor que os ensinos de Eclesiastes realmente
representam o pensamento do grande sábio Salomão. Ele se fez eco de
uma parcela humana, que não se considera parte de um grande todo da
mesma família, e então esvazia-se de si, dos seus conhecimentos, das suas
obras, para falar como se fora um tolo, um egoísta, que espera receber
dos seus parcos labores todos os proventos da sua loucura ou da sua
operação. É um tipo de filosofia do escândalo de uns poucos, que só
pensam em si, como se isso valesse por um código de ética social ou
representasse o estilo de sabedoria divina, tão elevadamente expresso
através da Bíblia. Salomão, o grande sábio, não iria dar à posteridade uma
série de interrogações sem resposta, como se isso fosse a sua verdadeira
concepção da vida. Não, ele não poderia fazer Isso, se quisesse. Então
entendemos o Livro de Eclesiastes como uma resposta sarcástica aos que
só pensam em si, para logo se convencerem de que tudo é vaidade, não
adianta esforço, o melhor é comer e beber e depois morrer. Cada qual
que se cuide e tire o melhor que puder dos seus poucos e sofridos dias de
vida debaixo do sol, pois tudo é como correr atrás do vento. Vanitas
vanitatum et omnia vanitas.
SEGUNDO ESTUDO - UMA SÉRIE DE INDAGAÇÕES SEM RESPOSTA - 2:24-
4:3
1. Introdução (2:24-26)
Este nosso Estudo começa por uma declaração muito Importante, qual
seja a de ser Deus quem tudo dá, Inclusive o comer, o alegrar-se, o fazer
qualquer outra coisa na vida, debaixo do céu. Deus dá ao homem a
oportunidade e a sabedoria para fazer as coisas que deve realizar,
persuasão por onde o autor do Eclesiastes prossegue na sua dissecação
dos problemas da vida humana. A aceitação do fato de que Deus é tudo e
dele tudo vem já nos ajuda a compreender que não estamos lidando com
um cético, um incrédulo na existência divina. Há Deus. Isso ajuda a
resolver muita coisa. Se há Deus, não há motivo para ceticismo, pois tudo
Eclesiastes, a n de mesquita (1)
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Eclesiastes, a n de mesquita (1)

  • 1.
  • 2. INTRODUÇÃO 1. O Autor. 2. Interpretação do livro. 3. Conteúdo do Livro. 4. Canonicidade do Livro. 5. Data do Livro. 6. O Valor do livro na Opinião dos Críticos. RESUMO DO LIVRO PRIMEIRO ESTUDO - COMO ENCONTRAR SOLUÇÕES PARA OS PROBLEMAS HUMANOS - 1:1-1:23 I - INTRODUÇÃO (1: 1-11) - Sempre a Mesma Coisa 1. O Título 2. O Porquê do Discurso ou dos Discursos (1: 2 e 3) 3. A Vida É um Círculo Vicioso (1: 4-6) 4. Um Círculo Vicioso Ilustrado (1:7-11)
  • 3. II. O FRACASSO DAS TENTATIVAS HUMANAS (1: 12-2:23) 1. Uma Tentativa Filosófica (1: 12-18) 1) A Experiência do Pregador (vv. 12 e 16). 2) Uma Observação (v. 14). 3) Um Exame Introspectivo (v. 17). 4) O muito estudar é enfado da carne (vv. 13-18). 2. Um Recurso à Carnalidade (2: 1 e 2) 3. Experiência Noutros Prazeres (2: 3-11) 1) O prazer do vinho (v. 3). 2) O prazer das construções (vv. 4-6). 3) O prazer de uma grande família (v. 7). 4) Foi um grande criador, um fazendeiro (v. 7). 5) Era um homem muito rico (v. 8) 6) Era um homem de festas (v. 8). 7) Mulheres e mulheres (v. 8) 8) Salomão era um homem alegre e feliz (v. 10). 4. Uma Análise Cultural (2:12-17) 1) Um exame pessoal (vv. 12 e 13).
  • 4. 2) O valor do sábio (vv. 14-16). 3) Aborrecimento da vida, não vale. 5. Filosofia do Trabalho (2:18-23) 1) O aborrecimento do seu trabalho (v. 18). 2) Um recurso ao desespero (vv. 20 e 21). SEGUNDO ESTUDO - UMA SÉRIE DE INDAGAÇÕES SEM RESPOSTA - 2:24- 4:3 1. Introdução (2:24-26) 2. A Sabedoria do Criador (3:1-8) 1) Como escapar do dilema (vv. 1-3). 2) O princípio da sabedoria é o temor de Deus (Sal. 111: 10; Prov. 1:7) 3. A Sabedoria de Deus no Tempo (3:9-15) 4. A Justiça Divina - O Destino dos Mortos (3:16-21) 1) Uma prova de fogo (vv. 18-21). 2) Todos os animais vão para o mesmo lugar - a cova (vv. 19-21).
  • 5. 5. Que Deseja Ensinar o Autor do Eclesiastes? (3:21-43) UMA PERGUNTA IMPERTINENTE TERCEIRO ESTUDO - A VIDA E SUAS COMPLICAÇÕES - 4:4.16 1. A Indústria e a Inveja (4:4) 2. A Inveja Conduz à Vaidade (4:4-6) 3. A Solidão e a Sociedade (4:7-12) 4. Da Popularidade no Convívio (4:13-16) QUARTO ESTUDO - A VIDA RELIGIOSA E SUAS OBRIGAÇÕES - 5:1-8:17 1. Cuidados Quanto ao Adorar no Culto (5:1-7) 1) Cuidado com os votos feitos (vv. 2-5). 2) O que seria o mundo se todos dizimassem. 3) Desculpas não convencem (vv. 6 e 7). 2. O Magistério Divino (5:8 e 9) 3. O Problema das Riquezas - Uma Filosofia do Dinheiro (5: 10 e 11).
  • 6. 1) Da aquisição das riquezas (vv. 10-12). 4. Filosofia do Trabalho e da Riqueza (5:12-20) 5. Determinação do Problema da Riqueza (6: 1-6) 6. O Destino Final do Homem (6:7-12) 7. Uma Filosofia da Vida e da Morte (7:1-14) 1) O dia da morte é melhor do que o do nascimento (vv. 1-4). 2) A paciência é também uma boa mezinha para a vida (vv. 5-8). 3) Cuidado com a pressa (vv. 9 e 10). 4) Nova filosofia da sabedoria (vv. 11-14). 8. Problemas Criados Pela Sabedoria (7:15-22) 1) A relatividade das coisas (vv. 15-18). 9. Crítica da Razão Pura (7:23-28) 10. Uma Conclusão Infeliz (7:29). 11. Poderes para Controlar (8: 1-9) 12. As Desigualdades da Vida (8:10-17)
  • 7. QUINTO ESTUDO - GRANDES SOLUÇÕES PARA GRANDES PROBLEMAS (9:1- 10:20) 1. O Homem Ignora o Caminho a Percorrer (9: 1-7) 1) Este é o mal que há em tudo que se faz debaixo do sol (v. 3). 2) Para o que está entre os vivos há esperança, porque mais vale um cão vivo que um leão morto. 3) Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma (v. 5). 2. Uma Recompensa para os Imprevistos da Vida (9:8-10) 1) Goza a vida com a mulher que amas todos os dias da tua vida fugaz (v. 9). 2) Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque no além, para onde tu vais, não há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma (v. 10). 3. Em Busca de uma Solução - Opções Negativas (9: 11-18) 4. Uma Ilustração Oportuna (9: 13-18) 5. Em Busca de uma Solução - A Sabedoria é Preferível (10:1-7) 6. Cálculos dos Riscos (10:8-11) 7. Nada de Bravatas nem Arrogâncias (10: 12-20)
  • 8. 1) Contrastes (vv. 12-15). 2) A preguiça dos reis (vv. 16-19). 3) Não fales mal do rei (v. 20). SEXTO ESTUDO - NORMAS PARA UM TÉRMINO DE VIDA IDEAL (11:1- 12:14) 1. Uma Nova Dialética para a Vida (11: 1-6) 1) lançar o pão sobre as águas é crer na providência. 2) Ensina Igualmente a doutrina da fé. 3) Esperança. 4) Observe-se a natureza (vv. 3 e 4). 5) Uma doutrina difícil (vv. 5 e 6). 2. Para Recordar (11: 7 e 8) 3. Um Conselho à Juventude (11:9 e 10) 1) O conselho sadio (vv. 9 e 10). 2) Nada de tristezas (v. 10).
  • 9. 4. A Velhice Vem - Lembra-te... (12:1-8) 1) Antes que venham os dias maus (v. 1). 2) Antes que se escureçam o sol, a lua e as estrelas do esplendor da tua vida (v. 2). 3) Antes que tornem a vir as nuvens depois do aguaceiro (v. 2). 4) Antes do dia em que tremerem os guardas da casa, os teus braços (v. 3). 5) Antes de se curvarem os homens outrora fortes, as tuas pernas (v. 3). 6) Antes de cessarem os teus moedores da boca, por já serem poucos (v. 3). 7) Antes de se escureceram os teus olhos (v. 3), 8) Antes de se fecharem as janelas (v. 3), 9) Antes de se fecharem os teus lábios, como portas das ruas (v. 4), 10) Antes de todas as harmonias, filhas da música, te diminuírem (v. 4). 11) Antes também de temeres o que é alto (v. 5). 12) Antes que te espantes do caminho (v. 5). 13) Antes que te embranqueças como quando floresce a amendoeira (v. 5). 14) Antes de te perecer o apetite (v. 5). 15) Antes que se rompa o fio de prata e se despedace o copo de ouro (v. 6).
  • 10. 16) Antes que o cântaro se quebre junto à fonte e se despedace a roda junto ao poço (v. 6). 17) Antes que o pó volte à terra (v.7). FINIS (12:9-14) A TEORIA E A PRÁTICA 1. O Pregador, Além de Sábio, Ainda Ensinou ao Povo o Conhecimento... (v. 9). 2. Procurou o Qoheleth Achar Palavras Agradáveis e Escrever com Retidão (v. 11). 3. O Dever de Todo Homem (vv. 13 e 14) 1) Temer a Deus (v. 13). 2) Guardar os seus mandamentos (v. 13). 4. O Supremo Bem (vv. 12 e 14). APÊNDICE I - A DOUTRINA DA TRINDADE 1. A Doutrina da Trindade no Velho Testamento
  • 11. 2. A Doutrina da Trindade no Novo Testamento APÊNDICE II - A SOBREVIVÊNCIA DA ALMA HUMANA 1. A Natureza da Alma e Sua Felicidade 2. Um Argumento sem Sentido 3. A Alma É Imortal, e, Portanto, Existe Depois da Morte do Corpo 4. A Alma Humana Tem de Existir e Sobreviver. 5. A Alma Tem de Subsistir e Existir para Responder pela Verdade e Mentiras Vividas na Terra. APÊNDICE III - A RESSURREIÇÃO FINAL 1. Que diz a Bíblia? 2. Como Se Processará a Ressurreição? 3. Depois da Ressurreição 4. E Depois?
  • 12. APRESENTAÇÃO Todos os livros que o Pastor Mesquita tem escrito nos últimos vinte anos eu tenho lido. Leio palavra por palavra, colocando acentos onde são precisos, fazendo sugestões, que quase sempre são aceitas, procurando entregar o manuscrito à Publicadora em condições de não dar muito trabalho. O que isso significa para mim não precisa ser dito, pois, mesmo aposentada, tenho os meus afazeres como dona-de-casa e esposa de pastor. Sou, presumo, uma mulher bastante ocupada. Todavia, a despeito de tudo isso, cooperar com o meu marido para que o povo ledor da boa literatura tenha uma obra tão perfeita quanto possível é um dos penhores que conservo como honraria, pois, servindo ao povo, sirvo ao meu Senhor igualmente. O livro sobre o Eclesiastes é qualquer coisa que me fascinou. O próprio Eclesiastes é um fascínio, mesmo que nele se encontrem coisas difíceis de entender e até aparentemente algumas contradições, segundo o nosso modo de pensar e falar. Não foi à toa que Renan disse que o Eclesiastes era o único livro que os hebreus tinham produzido digno de figurar em qualquer biblioteca. Mesmo que esse ponto de vista de um filósofo francês não seja para nós uma palavra final, ainda assim vale por uma confissão de um grande filósofo e escritor dos mais lidos no mundo ocidental. Estou bem certa de que os que lerem esta obra da pena do Pastor Mesquita só terão a lucrar, pois a linguagem simples, mas segura, os conceitos bem expostos, a interpretação ortodoxa e o lado controversial encarado com seriedade e profundeza fazem desta obra, a meu ver, uma das melhores obras que ele já escreveu. Waldemira Almeida de Mesquita Rio de Janeiro, maio de 1974
  • 13. UMA PALAVRA AO LEITOR Foi com muita relutância que empreendi o Estudo no Livro de Eclesiastes. O livro é deveras difícil e tem 'muito de incompreensível ao nosso gosto e cultura. O livro é considerado único entre os muitos do Velho Testamento. De fato, se ponderarmos todos os seus ensinos, se esmiuçarmos todo o complexo doutrinário, filosófico e social, concluiremos que não é um livro, e, sim, uma biblioteca. Acontece que por sua natureza e por se tratar de um tipo de literatura fora do nosso campo de cogitações, não é muito lido pelo povo. Então, por que empreender um Estudo sobre um livro que o povo não lê? O certo é que o povo não o lê porque não o entende, e porque não o entende não o aprecia. Esta parece ser a verdade a respeito de Eclesiastes - O PREGADOR. O outro livro, seu companheiro, Cantares de Salomão, também não é lido pelos crentes. Apesar de todas estas observações, e levando em conta que esta espécie de literatura deve ser divulgada, atirei-me ao Estudo. Verifiquei que o livro merece uma divulgação especial, pelos muitos ensinos que contém e por diversas doutrinas que encerra, especialmente a que se refere à imortalidade da alma humana. Infelizmente algumas seitas procuram fundamentar-se no livro de Eclesiastes a fim de construirem o seu credo sobre a mortalidade da alma, colocando o homem no mesmo plano dos brutos. Só por este motivo, merece uma divulgação especial, pois, se há livro onde se ensina que de tudo quanto o homem fizer dará contas a Deus, é o Eclesiastes. Procurei tornar o estudo prático, popular. Os versetos que tratam de assuntos fora do nosso dia, os deixei de parte, tanto quanto possível, sem prejuízo do todo, isto é, não lhes dei muita atenção. Eclesiastes é aparentado com Provérbios. Os dois são da mesma época e versam sobre os mesmos princípios.
  • 14. Se o esforço feito, as horas e os dias gastos no seu manuseio valerem alguma coisa para o povo, estarei compensado. Caso contrário, será mais um livro do Velho Testamento interpretado pelo autor. Como sempre, em meus livros, há uma referência especial à minha esposa, que tem paciência de ler o manuscrito, fazer valiosas observações e correções e colocar a pontuação em ordem, fato de que não desejo dar conta. O Autor
  • 15. INTRODUÇÃO 1. O Autor. Quem teria sido o autor deste livro? No primeiro verso, lê-se: PALAVRA DO PREGADOR, FILHO DE DAVI, REI DE JERUSALÉM. Dai se conclui o autor, que se chama de pregador, ser filho de Davi e rei de Jerusalém. Portanto, esse filho de Davi só poderia ser Salomão, sendo assim que muitos interpretam a declaração inicial, e o povo, em geral, sempre aceitou Salomão como o escritor do livro. Lutero chamou o autor do livro de SALOMÃO, FILHO DE DAVI. O autor diz tendo sido ou fui rei de Jerusalém (1: 12), ou como traduz a Versão Revista e Atualizada da SBB, venho sendo rei de Israel em Jerusalém. Isto leva-nos, sem dúvida, a admitir que se trata de Salomão. No corpo do nosso estudo demonstraremos que bem podia ter sido um amanuense que escreveria o livro, ou ditado por Salomão, como foi o caso de Paulo, que apenas escreveu uma carta sua das 13 que lhe são atribuídas Gálatas. Antigamente não havia os escrúpulos e as garantias autorais de nossa época, e um escritor poderia escrever um livro e creditá-lo a outra pessoa sem que isso fosse considerado crime. Não contestamos a possibilidade de Salomão escrever este livro; apenas, no estado em que ele veio até nós, parece que não foi. O termo pregador vem de uma palavra que se translitera como Coheleth (1: 12). Esta palavra vem da raiz hebraica, Qal, que significa chamar, convidar, tirar de fora para dentro, o mesmo sentido do verbo Calco, no grego, em referência à chamada para o serviço religioso. Portanto, o termo Eclesiastes, em nossa língua, significa pregador, o que chama o povo a ouvir a mensagem que tem para lhe entregar, fato muito parecido com a missão de um pregador moderno, chamando o povo ao evangelho, o que todos conhecemos. Jerônimo, o tradutor da Vulgata, chama o Eclesiastes de um homem que se dirige a uma congregação, supondo alguns que se trate de uma congregação no átrio do templo, e, de dentro, o pregador se dirige a esta gente lá fora. Não há, todavia, qualquer referência a uma congregação reunida no átrio do templo, para ouvir um
  • 16. discurso ou discursos, a não ser quando os sacerdotes se dirigiam ao povo em solenidades festivas. Se é isso o de que trata o livro ou se é outra espécie de congregação, não se sabe. O fato de o termo Coheleth ser feminino também tem levantado dúvidas quanto a tratar-se de um pregador no sentido comum, não obstante, Isaías 40:9, usar este vocábulo também, porém referindo-se a Sião, que faz a proclamação, e não a um homem. Sião é o evangelista, e aqui é um pregador, ou uma pregadora, que se dirige ao povo. Não nos parece que o fato do termo ser feminino deva merecer muita discussão. Por estas informações, recolhidas de muitos intérpretes, ficamos mesmo sem saber quem teria sido o Coheleth, o pregador, se Salomão, filho de Davi, ou se outro, que lhe tomou o nome para dar corpo e forma ao seu livro. Acreditamos que estas dúvidas em nada desmerecem o valor da obra, pois o que interessa ao estudo é a doutrina, os ensinamentos, mais mesmo do que o autor. Temos muitos livros cujos nomes são desconhecidos, e nem por isso os ditos livros merecem menos a nossa apreciação (Ecl. 1: 12). 2. Interpretação do livro. Tem parecido a muitos que o livro não contém uma série de mensagens devidamente ordenadas, ou discursos formalmente concatenados, mas um grupo de discursos de variados sentidos doutrinários, sem qualquer conexão entre si. Isso vale por dizer, tratar-se de uma obra de compilação, e não de um tratado rigorosamente delineado para apresentar uma mensagem uniforme e contínua. Nessa conformidade, poderíamos dizer que o livro consta de uma série de discursos falados ao povo e depois reunidos em volume, como aconteceu com a maioria dos profetas, que fizeram seus discursos ao povo e depois os mesmos foram colecionados, sem observância cronológica ou mesmo lógica. Os hebreus não estavam dominados pelo sentimento ocidental de obedecerem a um critério cronológico na concatenação de suas obras. O que lhes interessava mais era a doutrina exposta e não a ordem em que seria apresentada. Assim, bem poderia Salomão ter sido o autor de muitos
  • 17. discursos, ou de todos, e, depois, um dos seus assessores teria tido a incumbência de os enfeixar num livro, como a mensagem do PREGADOR ao seu povo. Esta opinião não tem o endosso da maioria dos intérpretes do livro, é mais um parecer deste autor. Voltamos a dizer que nem a autoria do livro e nem a ordem em que a matéria está exposta enfraquecem o seu valor, que é permanente, para o tempo e para a eternidade. É isso que nos interessa. Se nos faltasse na Sagrada Bíblia, este livro maravilhoso, estaríamos privados de muitas lições práticas para o viver, sem as quais o homem, especialmente os jovens, estariam à mercê das contingências ordinárias da vida, sem uma bússola que os orientasse e lhes mostrasse os valores dessa mesma vida em relação a Deus e à eternidade. Como veremos adiante, na exposição doutrinária do livro e ainda nesta introdução, o Eclesiastes representa uma espécie de catecismo doutrinário prático em que a vida do dia-a-dia, com as suas lutas e seus contratempos, as suas desilusões e interpretações, os valores das coisas terrenas, em contraposição às de valor eterno, são postas frontalmente umas às outras. Nem o hedonismo grego, nem o misticismo religioso dos hebreus bastam para uma efetiva interpretação da vida, sem prejuízo de qualquer das suas partes. Uma confrontação de gozos e dissabores, o valor de cada um, fornecem o conjunto doutrinário desta grande obra. É assim que nós vamos interpretar o livro e dele extrair as lições práticas, que muitas vezes escapam à argúcia dos mais entendidos em matéria de convivência religioso-social. O Pregador sabe que o mundo, durante todo o tempo, tem um valor positivo, e por essa causa destrói os chamados valores secundários, dissipando todas as esperanças vãs e ilusórias, que povoam as mentes de muitos. Para encontrarmos a verdadeira ventura, ele derriba, impiedosamente, a falsa felicidade, que muitos buscam encontrar nos prazeres da carne. Com isso não destrói os valores sociais, nem os prazeres que proporcionam; antes dá-lhes o valor que têm, e nada mais do que Isso. Segundo esse critério, o mundo pode proporcionar muito prazer, mas sem a devida consideração pelos outros valores, podendo levar o homem à deriva (ver 2:24; 3:12,22; 5:18; 9:7).
  • 18. O mundo, no seu verdadeiro significado, pode tornar-se um intérprete de Deus e do seu programa para o mesmo, pois a bondade e a sabedoria divinas, e a sua justiça, só podem ser conhecidas e fruidas quando o homem se integra na plenitude do plano divino. O mundo não é uma finalidade em si, porém um meio de proporcionar ao homem os gozos e as alegrias que lhe foram destinados pelo bondoso Criador. Ganhar o mundo e perder a vida é mau negócio, como nos ensina o Senhor Jesus (Mar. 8:36 e 37). Assim, há um caminho debaixo do sol, com as suas perdas e seus ganhos, mesmo na sua aparente Irracionalidade, com as muitas injustiças, em que o homem se realiza sem prejuízo de qualquer das suas partes constitutivas. isso não é pessimismo. E realismo. Vivemos uma vida de realidades e não de ficções ou quimeras de gozos fictícios. Eclesiastes é um livro cético no sentido em que coloca o homem no seu verdadeiro lugar, rejeitando as pretensões do saber humano contra a sabedoria divina (3:11; 8:17). A Bíblia não despreza esta vida, e Jesus mesmo deu provas disso, indo a festas de casamento, aceitando convites e até se oferecendo para banquetes, comendo com publicamos e pecadores, arrostando a crítica dos seus contemporâneos. Entretanto, a Bíblia também ensina a viver pela fé, como Jesus ilustrou com os passarinhos e os lírios do campo, sustentando ser precípuo buscar o reino de Deus e a sua justiça, na certeza de que as outras coisas seriam acrescentadas. O pregador se levanta contra toda e qualquer imoralidade carnal. A vida é vivida debaixo do sol, é o refrão contínuo do pregador, e debaixo do sol há de tudo, bons e maus. Saber escolher, pois, parece ser a nota do livro. O homem não é como os irracionais, que carecem de cabresto e freios para serem governados. Ele tem inteligência e se pende demais para um lado, desprezando o outro. Então deve levar as conseqüências. Em tudo deve haver DEUS (3:10,11,13,14,15 etc.). Quando o Eclesiastes compara o homem aos animais, o faz para mostrar que, de um lado, temos uma vida animal, mas, de outro, temos uma vida espiritual (3: 19). O pregador tinha uma vasta experiência destas ocorrências e colocou os dois lados da vida em balança, a fim de, a cada lado, ser dado o peso correspondente.
  • 19. O que nos parece razoável afirmar é que o livro procura tirar desta vida o suprassumo de tudo, como se este tudo estivesse nos poucos dias que vivemos aqui. Então o autor nos leva a ver que a vida tem muita coisa boa em si, mas não é tudo. Viver, gozar são apenas um dos seus muitos lados; os valores maiores, porém, estão na vida em conformidade com Deus e o destino eterno do homem. Destruir a idéia de que esta vida é tudo, parece ser outro alvo do autor. Por isso o refrão contínuo: Vaidade de vaidades, tudo é vaidade. Isto no sentido terreno, porque de tudo que o homem fizer, de todos os gozos que fruir, uma coisa é segura: dará contas a Deus. O mais ficará aqui mesmo no chão. Nisso parece a muitos ser o livro um defensor de pessimismo, mas nada disso. Os hedonistas, sim, pensam que esta vida e seus gozos são tudo, e, portanto, comer, gozar e viver, eis o total da vida. Parece que outro fim do Coheleth é levar o leitor a descobrir qual é o valor da vida que vivemos nesta terra. Trata então dos prazeres, das riquezas, da sabedoria, de tudo quanto encanta o homem, para afinal concluir que tudo é vaidade debaixo do sol. Não parece que o livro esteja induzindo o leitor a abandonar o esforço por coisas boas nesta vida, nem a desprezar os gozos que a vida oferece, mas a balancear estas coisas com outras, que estão além dos horizontes terrenos, e desta avaliação resultará então um balanço justo de valores que farão a vida realizar o seu ideal. O trabalho não é inútil nem fastidioso; é útil e bom, embora deva ser usado com sabedoria e para a felicidade. Um homem que trabalha e se afadiga, mas goza dos frutos do seu trabalho, e aproveita a sua vida com todos os reais valores é um sábio. É o termo médio que se deve procurar, evitando os dois extremos, como ensina o autor em 2:24 e 7:16 e 17. E aí há um ensino que o homem não deve perder de vista: o lugar que Deus deve exercer na vida. Se o pregador conseguir levar alguém a plantar jardins, colher flores, comer e beber bem, e não se esquecer de Deus, terá realizado o seu ideal. Noutra linguagem: há valores permanentes. Os gozos da vida não são eternos, porque depois da morte não há nem lembrança deles, como afirma o autor (2:16). A muita sabedoria é um grande ornamento para a vida, todavia, também é loucura colocar todo o
  • 20. valor da vida na inteligência (2:15). Até que ponto o hedonismo teria influído no autor, não sabemos; mas a verdade é que, se não há Deus, então tudo se resume no comer, beber e gozar; se há Deus, então tudo mais deve ser condicionado a este supremo valor. A vida deve ser bem vivida, e para tal deve o homem considerar que, depois de viver, trabalhar e gozar, vai para a sepultura como vão os animais irracionais. Portanto, é bom avaliar os dois lados da vida, e não apenas um. O livro parece mostrar em certos lugares que com a morte termina tudo (3: 19), mas em muitos outros prova justamente o contrário: o espírito velo de Deus e para ele voltará. Vale dizer que viemos de Deus e voltaremos para ele. Portanto, este lado da vida deve receber a devida consideração nas lutas pela mesma vida, no estudar, no comer, no brincar e tudo mais. A doutrina da imortalidade é aqui ensinada, mesmo com algumas aparentes contradições, em um estilo maior do que em qualquer outro livro do Velho Testamento. Realçar o valor da vida em suas relações com o Criador é uma das notas culminantes do livro. Há o apelo à mocidade para que goze e viva, porém se lembre que de todas estas coisas dará contas a Deus(11:9). Só esta verdade vale por todo o livro, pois a tentação do jovem é gozar a vida, como se Deus não existisse. O chamamento à realidade vale por uma grande descoberta. Então podemos concluir que o livro não é um negativismo filosófico; não é o apostolado da negação da vida e dos seus valores. Ao contrário. O autor sabe que o mundo tem um valor positivo e tem muita coisa boa que se deve aproveitar, advertindo, porém, dos perigos de dar todo o valor ao mundo e nada a Deus. Dissipar as esperanças falsas e destacar as verdadeiras, eis o que significa viver. Através do livro, com os seus altos e baixos, o leitor é levado a verificar que as coisas da terra são ilusórias e falsas, como ilusória e quase falsa foi a vida de Salomão que, depois de se tornar o homem mais sábio do mundo e ter todo poder que qualquer potentado pode fruir, tornou-se um símbolo de derrota e vergonha. Quem sabe o autor do livro teria mesmo em mente deixar esta lição para a posteridade? A significação do mundo é que ele não é mau em si, mas pode tornar-se mau pelo uso que se fizer daquilo que nele há. Noutra
  • 21. linguagem, as coisas do mundo não são más, porém podem tornar-se más pelo seu mau uso. As injustiças, a má distribuição da riqueza, a quase irracionalidade da vida, são meios de que o Criador se vale para orientar o homem no seu verdadeiro caminho. Eclesiastes é um livro cético, até o ponto de rejeitar as pretensões da sabedoria humana, para elucidar a obra de Deus. É uma tentativa para menosprezar a obra humana e destacar a criação divina. É nesse sentido que o trabalho, o saber, os gozos e tudo mais, são apenas vaidade de vaidades. O pregador sabia que devemos andar mais pela fé do que pela vista; e, para conseguir isso, procurou diminuir todos os valores para exaltar apenas um: O TEMOR DE DEUS. Jesus veio mais tarde dizer-nos que nada adianta um homem ganhar o mundo e perder a sua vida (Mat. 8:36).
  • 22. 3. Conteúdo do Livro. Bem poucos estudiosos são capazes de se aproximar do livro com a convicção de que se trata de uma obra de alto valor literário e filosófico, sem paralelo em toda a literatura hebraica. Muitos o têm comparado com as mais celebradas obras literárias da nossa geração, embora essas comparações sejam de pouca valia; apenas ajudam a compreender que se trata de uma grande obra. Intrinsecamente nada há na Bíblia nem fora dela que se compare ao Eclesiastes; é um livro com uma mensagem única para o povo dos seus dias e para a atualidade. Renan, filósofo francês, achava que era o único livro de valia que os hebreus escreveram, se bem que isso seja uma opinião pessoal. Outros acham que a sua aparente contradição de partes se deve a que o livro não teria sido composto de uma coleção total de discursos, mas apenas de alguns, mutilando-se assim o sentido de excertos reunidos. Não achamos que haja contradições entre os diversos ensinamentos dos discursos registrados, pois, o que ele aparentemente contradiz aqui e ali, é reafirmado adiante. No capítulo 2:24-26 parece que o autor ensina o pessimismo e acha que o que se deve fazer é comer e beber, porque o fim é igual para todos, sábios e estultos. Entretanto, no capítulo 11 verso 9, mostra que de tudo o homem dará contas a Deus. Assim, se num lugar parece desconsiderar os valores da vida, em outro exalta esses valores. Isto, porém, não quer dizer que é um livro confuso e contraditório, como pensam muitos, mas um livro que dá os dois lados da vida: o prazer de viver e de gozar, e a certeza de que de tudo o mesmo homem dará contas a Deus. Assim são contrabalançados os dois rumos da vida no que ela tem de prático. Têm sido estas aparentes contradições que têm levado muitos a negar a autoria salomônica. Nós, porém, não temos' necessidade de fazer vir Salomão do seu túmulo para nos falar das suas experiências da vida, porque qualquer um de nós igualmente passa pelas experiências de Salomão, menos quanto à riqueza e o fausto a que ele se refere no capítulo 2: 1-11 e referências. Qualquer filósofo seria capaz de reviver as experiências de Salomão, mesmo que não tivesse sido seu contemporâneo. Todas estas considerações são puramente teóricas e de pouca valia para a vida. Há
  • 23. verdades mais profundas, no livro e fora dele, que nos devem interessar. Qual teria sido então o ideal do autor, ao escrever este ensaio sobre a vida, se assim o podemos chamar? Que finalidade teria em vista face às contradições da vida mesma, em que uns se afadigam e pouco colhem, enquanto outros levam a vida flanando e enchem as suas arcas? Esta pesquisa, esta busca, deve constituir o fundamento do livro e a sua razão de ser. Quando Jesus disse perder o mundo, quis dizer o mundo com tudo que ele tem. Por isso o maior valor da vida está na fé e no temor de Deus. Isso é permanente e eterno. Onde o livro expressa o sentido de que a morte é o ponto final de tudo, deve ser contrastado com outros pontos, em que o final é o Temor de Deus, a quem vamos prestar as nossas contas. O livro não ensina a mortalidade da alma, como crêem os Testemunhas de Jeová, e, sim, o contrário. De tudo que o homem fizer dará contas a Deus; logo, a morte não é o fim, e, sim, o começo. O Salmista deu-nos a Interpretação do significado da morte em Eclesiastes (Sal. 1; 49:12), sendo que morte ou aniquilamento é apenas um meio de Deus nos fazer refletir no significado da vida, conforme o mesmo Salmo, verso 15. Se não fôssemos advertidos de que a morte é certa e põe um fim a tudo, então os homens, em seus devaneios, julgariam que o valor da vida estava mesmo em comer e beber e gozar. O homem que está em honra e não tem entendimento é semelhante aos animais que perecem (Sal. 49:12). E a falta de entendimento a que se referiu o Salmista é o que o autor de Eclesiastes procura destacar, e não que a morte seja o fim de tudo. Concluímos estas considerações dizendo que o Livro de Eclesiastes é o maior regulador da vida, colocando os dois lados do ser humano nos seus verdadeiros lugares, e não, como ensina a filosofia mundana dos sem Deus, que viver é gozar e depois morrer, como se após a morte viesse o NADA.
  • 24. 4. Canonicidade do Livro. Houve muita discussão entre os rabinos sobre a autoria do livro e até discussões quanto à sua teologia; todavia, jamais foi posta em dúvida a sua canonicidade, isto é, o seu lugar na coleção sagrada. Faz parte da primeira tradução dos textos hebraicos feita em 280 a. C., e depois dessa data jamais foi considerado inferior a qualquer outro livro sagrado. Como livro de Sabedoria, faz parte da coleção dos Ketuvhim, que vem na terceira parte da coleção hebraica.
  • 25. 5. Data do Livro. É impossível precisá-la. Se não for de Salomão, pelo menos no seu estado atual, não podemos saber a que data atribuí-lo. O cânone foi fechado pouco depois da volta dos filhos de Israel do cativeiro babilônico, e quando isso sucedeu, já se considerava o Eclesiastes como uma de suas partes. Em nossa opinião, deve pertencer ao período pós-cativeiro, quando os livros Sagrados foram colecionados e divididos em três grupos. Portanto, nem o autor nem a data podem ser determinados, o que tem valor secundário, pois muitos dos livros da Bíblia, como Josué, Samuel e Reis, não têm autores conhecidos nem datas determinadas. 6. O Valor do livro na Opinião dos Críticos. Para Renan, filósofo francês, Eclesiastes é o único livro digno produzido pelos hebreus. É fascinante. Lyman Abbott diz: "O Livro de Eclesiastes é um monólogo dramático, apresentando as complicadas experiências da vida: essas vozes estão em conflito, porque apresentam ou retratam o conflito de uma alma simples em guerra consigo mesma." (1) Outros eruditos opinam, uns de um modo e alguns de outro, mas todos reconhecendo que o livro ora em estudo é uma tentativa hebraica de dar à humanidade uma interpretação dos valores da vida e ao mesmo tempo as suas conotações. É uma luta do homem consigo mesmo e com o meio em que vive. (2) (1) Veja Introdução ao Velho Testamento, de Clyde T. Francisco, Edição JUERP, 1969. (2) Frank Delitzsch, Comentary on Song of Songs and Eclesiastes, Edinburg, T. and Clark, 1889, p. 91.
  • 26. RESUMO DO LIVRO CAPÍTULO I No capitulo primeiro, o autor, depois da Introdução (1: 1-3), dá uma série de provérbios em que tudo é nada, e o começo é o fim, quando diz: O que foi é o que há de ser (v. 9). Todos os rios correm para o mar, e o mar não se enche (v. 7). Como se vê, são ditos vulgares no seu dia e que nenhuma doutrina nova trazem. Nos versos 12-18, ele nos Informa que aplicou o coração a esquadrinhar as coisas, e chegou à conclusão de que tudo dá no mesmo, tanto faz o sábio como o estulto, e que a sabedoria pouco adianta, porque é o mesmo que correr atrás do vento. CAPÍTULO II O verso 11, já nos dá alguma doutrina, que apreciamos longamente em nossos comentários. O autor coloca o monólogo na boca de Salomão e entra numa discussão do que fez, plantando jardins em Jerusalém, árvores frutíferas e outras realizações, alegando que amontoou riquezas sem conta, engrandeceu-se sobremaneira (v. 9), para concluir com uma frase pessimista: eis que tudo era vaidade (v. li). A lição que o autor deseja comunicar aos leitores é que esta vida é uma procura louca de algo que não existe, que é a felicidade perpétua, pois tudo termina na cova. Não se julgue o escritor sagrado pelo lado comum da leitura; procure-se o fundo filosófico do ensino, para se concluir a naturalidade da mesma doutrina. Esta igual fatuidade das coisas terrenas é discutida nos versos 12-17, em que até a sabedoria é assunto de causar fadigas, sem deixar um ressaibro de valia para a vida futura. O ensino que se tira de todo o arrazoado do livro encontra-se no capítulo 11:9, quando o homem é advertido de que
  • 27. vai dar contas da sua vida a Deus. Tudo mais é secundário, como comer, beber, folgar e depois morrer. Neste lnterregno, entre o nascer e o morrer, há uma luta contínua em muitas direções, como a vaidade das possessões, a vaidade da sabedoria e finalmente a vaidade do trabalho. Ora, nenhum homem sensato poderia afirmar, como verdade normal da vida, que tudo isto seja mesmo vaidade, pois não se entende a vida sem esforço, sem estudo e sem trabalho. O fundo da mina está em que estas coisas necessárias à vida não são fundamentais, e louco é o homem que julga encontrar o sumo bem em qualquer destas atividades. O sumo bem é a comunhão com Deus, é o temor de Deus, como também nos ensinam o Salmista e Provérbios (Sal. 111:10 e Prov. 14:27 e ss.). O tema desta grande Escritura é o temor que se deve a Deus e o dever de todo homem lutar e trabalhar para cumprir a sua missão diante de Deus. Tudo mais é contingente e comum. CAPÍTULO III O capítulo 3 entra noutro campo filosófico. É uma séria advertência ao modo de viver, em vista do fato de que nesta vida são difíceis as diferenças de comportamento, havendo um tempo para cada evento, e cada um tendo o seu lugar em nossa vida. É assim que há tempo de semear e tempo de colher, tempo de plantar e tempo de arrancar o plantado... (vv. 1-8). Se dermos a cada coisa o devido lugar e não nos esquecemos de qualquer delas, estaremos alcançando o gol da vida. Isto é tanto verdade que nada conhecemos de tempos determinados (vv. 9-15), quando entramos na rotina da vida como uma espécie de "vira- mundo", e só Deus está certo no que realiza e por que o faz (v. 14). Nada sabemos do dia de amanhã, e seguimos pela vida como cegos, tateando para achar o nosso lugar. Portanto, nada melhor do que comer, beber e regozijarmo-nos (v.13). O autor não nos ensina o pessimismo da vida, uma espécie de faquirismo. Ensina-nos a tirar da vida tudo de bom que tem
  • 28. para nos dar, recordando sempre que no final prestaremos as nossas contas ao Criador (11:9). Qualquer Indivíduo que seguir esta filosofia terminará bem, pois a vida tem muitos encantos, muita coisa boa (v. 11), e tudo Deus colocou neste mundo para nosso proveito e felicidade. Como refrão de tudo quanto vem ensinando, chama a nossa atenção para a cova, para onde todos vamos, e nesta doutrina, como veremos no estudo deste texto (vv. 16-22), somos igualados aos irracionais, no sentido de que todos terminamos na sepultura. Se este é o fim de todos nós, independente do destino eterno do homem, então vale a pena aproveitar os dias de vida que temos aqui sabiamente. O autor, como se vê das notas do Estudo, não está ensinando a mortalidade da alma, porque noutros textos é muito franco e até um tanto apaixonado em afirmar o contrário, como em 11: 9 e 12:1-7. Reafirmamos a nossa compreensão do ensino divino do livro como uma grave e tremenda admoestação quanto ao modo como gastamos os dias que Deus nos dá sobre a terra. CAPÍTULO IV A vida é muito incerta. Uns nada fazem, e são vitoriosos, outros lutam, e terminam em nada. Uns são faltosos, e triunfam, enquanto os ativos e laboriosos nem sempre vêem o produto do seu trabalho. Há na vida muitas injustiças, e todas elas são filhas da fraqueza humana. Uma série de provérbios em 4:7-16, vale por um estudo acurado. Por causa destas desigualdades, o autor termina por achar melhor a modalidade de quem ainda não nasceu, e ter por felizes os que já morreram (vv. 2 e 3). Isto pode parecer uma nota de desânimo face às lutas da vida, mas é a maneira de ver tudo na sua realidade. Quantos de nós têm chegado à mesma conclusão de que os que já se foram estão livres das injustiças desta vida, e os que não nasceram livres estão igualmente. Fatos tais como um rei velho e Insensato ser pior do que o jovem pobre e sábio (v. 13). Contrastes da vida.
  • 29. CAPÍTULO V e VI A doutrina do capítulo 5 é muito severa a respeito do culto devido a Deus e dos votos que se fazem e não se cumprem; nos versos 8-20 temos outra vez a doutrina da vaidade das riquezas, em que muitos se perdem. Salomão foi o homem mais rico da terra, no seu tempo, e também o mais sábio. A sua experiência é válida, mesmo que não tenha sido ele o escritor do livro na forma que velo até nós. Cuidado com o dinheiro I. quem ama o dinheiro jamais se fartará, e quem ama a abundância nunca se farta da renda (5: 10). É um conselho sábio aos que apenas pensam em ajuntar dinheiro e se esquecem dos outro deveres da vida. Estes estão contra o que Jesus ensinou: a primeira coisa é buscar o Reino de Deus; tudo mais será acrescentado (Mat. 6:33). Vê-se, então, que Eclesiastes não está contra os ensinos do Novo Testamento. É certo que nada levamos desta vida, e que na cova, para onde vamos, não se gozam estas coisas. Só os gozos do espírito prevalecem. É loucura, pois, gastar a vida ajuntando, para depois deixarmos tudo para os outros, que não trabalharam na nossa seara. CAPÍTULO VII Aqui se faz o contraste entre a sabedoria e a loucura. O saber é coisa muito boa, e por ele damos tudo que temos; no entanto, até nisto deve haver moderação. Os versos 1-14 constam de uma série de provérbios comuns na vida israelita, transportados para este livro. Nem todos têm aplicação ao nosso viver comum, mas ainda assim nos servem. Há, porém, uma verdade central, que estabelece a superioridade da sabedoria à tolice (v. 12). Salomão, homem sábio, vivendo num meio ilustre, como supomos, deveria lutar, e era mais do que natural que estas combinações fossem estabelecidas.
  • 30. Os versos 15-21 estabelecem ainda uma série de contrastes e recomendações, muito úteis e importantes, com uma séria e constante recomendação no verso 13, a fim de se atentar para as obras de Deus. Os versos 23-29 contêm uma série de preceitos sociais, visando a mulher, entre os quais há essa observação: entre mil homens houve um que valia, mas entre tantas mulheres, nenhuma. CAPÍTULO VIII Os versos 1-8 são mais uma série de provérbios de difícil Interpretação, se bem que num ponto estejamos de acordo quanto ao respeito que se deve à autoridade (vv. 2-4). Aconselha, a seguir, que não devemos ser apressados em tomar decisões, uma vez que não temos o comando dos elementos naturais que trabalham contra nós. Os versos 10-17 são uma observação ao fato de que muitas coisas acontecem na vida contra os nossos desejos, e até contra os nossos princípios; porém não detemos o comando do mundo, temos de ter paciência e esperar (v. 17). CAPÍTULO IX Contém uma série de conselhos para que aceitemos as desigualdades da vida, especialmente a espera da justiça para os justos, cuja recompensa demora muito mais do que a nossa paciência permite (vv. 2 e 3). Em face destas desigualdades, o pregador acha que bom é comer e beber e esperar. Ante as adversidades da vida, os versos 9 e 10 são uma boa receita para gozarmos a vida e fazermos tudo quanto vier às nossas mãos (v. 10). Um apelo veemente, sem oportunidade ao comodismo, tão em voga em nossos dias.
  • 31. Uma ficha de consolação encontra-se nos versos 11 e 12, especialmente para os apressados, os que não podem esperar que a roda pare em nosso lugar. Os versos 13-18 são uma Ilustração interessante, que todos podemos aproveitar, com resultados inigualáveis. CAPÍTULO X Consiste este de um hino à sabedoria, que noutros lugares é igualada à tolice, por não produzir os efeitos desejados e esperados. No meio dos muitos provérbios deste capítulo, há variada Instrução prática, que, se observada, produziria uma sociedade diferente da que somos. Termina por aconselhar cuidado com a língua, até mesmo no leito, porque as aves do céu podem levar as palavras. CAPÍTULO XI Este capítulo é o que poderíamos chamar capítulo da esperança, quando aconselha: Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás (v. 1). É uma lição para os egoístas, os que só pensam no seu estômago. Esta verdade é ainda ilustrada nos versos 4 e 5, quanto à nossa incapacidade de entender muita coisa, e somos aconselhados a depender de Deus. Finalmente surge o grande verso, alentadamente estudado no corpo deste comentário, sobre a nossa responsabilidade diante de Deus e o cuidado que devemos ter com a nossa vida. CAPÍTULO XII Este é o capítulo do LEMBRA-TE, com 17 motivos para nos recordarmos do nosso Deus, antes que as verdades dos versos 1-7 aconteçam, para, a
  • 32. seguir, oferecer um apêndice ou epílogo, onde somos Informados uma vez mais de que Deus trará a juízo todas as obras, até as que estão escondidas. Com essa declaração fica vindicada a doutrina da sobrevivência da alma, tão discutida em 3:16-22.
  • 33. PRIMEIRO ESTUDO - COMO ENCONTRAR SOLUÇÕES PARA OS PROBLEMASHUMANOS - 1:1-1:23 Não sendo o livro um tratado ordenado sobre a vida, com desenvolvimento gradual, não é possível fazer uma divisão lógica das diversas secções. Assim, apreciaremos os versos ou grupos de versos à medida que prosseguirmos em nossa análise. Evitaremos toda discussão julgada dispensável ao esclarecimento do texto sagrado, para não tornar o trabalho cansativo e a obra demasiado massuda. Este Estudo será enfeixado como o de Provérbios. I - INTRODUÇÃO (1: 1-11) - Sempre a Mesma Coisa O que aqui oferecemos não é bem o que o termo Indica, e, sim, uma apreciação que nos parece lndicativa do plano do autor, mesmo que não tenha pretendido isso. 1. O Título Na introdução nos demoraremos um pouco, apreciando as diversas opiniões oferecidas a respeito do PREGADOR. O escritor se diz "filho de Davi, rei de Jerusalém". Portanto, parece fora de dúvida tratar-se de Salomão. Todavia, o texto Inteiro e suas interpretações levam os
  • 34. estudiosos a ver que não se trata de S alomão, mas de alguém que, desejando engrandecer a sua obra, a atribui ao grande Salomão, Mo de Davi. Tal costume não seria possível em nossa época, pois seria considerado crime; na antigüidade, porém, era comum uma pessoa escrever um trabalho e lançá-lo como sendo de outra. Na Introdução adiantamos que Salomão poderia ter escrito alguns dos discursos constantes do livro, ou mesmo todos, todavia, pelo arranje, a forma como o livro chegou até nós, parece não ser da atitoria de Salomão. Ainda mais, não seria Impossível Salomão o escrever e ordenar tal como o temos, ou que escrevesse os capítulos e outro os pusesse na forma em que se encontram. Adiantamos que os profetas Isaías, Jeremias e outros escreveram os seus discursos isoladamente e depois alguém os enfeixou na forma em que chegaram até nós; por isso os diversos capítulos não obedecem a uma ordem cronológica, isto é, não se encontram na ordem em que foram entregues ao povo. Há capítulos que deveriam preceder outros, assim como há os que deveriam estar noutros lugares do livro. Os antigos não tinham as preocupações nossas, na coordenação de seus trabalhos, oferecendo os artigos ou capítulos na ordem em que foram escritos ou pronunciados. O povo em geral prefere aceitar Salomão como o autor do livro tal como o lemos em nossa Bíblia. Nada temos contra esta opinião. Apenas nos parece que algumas partes, pelo menos, não apresentam o gênio e a capacidade literária de Salomão. Temos alguns dos seus discursos, como em I Reis 8:12-61, onde os pensamentos estão perfeitamente ordenados.
  • 35. 2. O Porquê do Discurso ou dos Discursos (1: 2 e 3) Vaidade de vaidades, diz o pregador... tudo é vaidade. Como poderia Salomão ou outro qualquer escritor afirmar que tudo na vida é vaidade? Parece então que se trata de uma fórmula literária que serve de palco à discussão da obra. Nenhum literato pode afirmar não haver na vida qualquer coisa de valia, e o mesmo autor demonstra, nas páginas seguintes, que há muitos grandes valores, até os destacando com bastante ênfase. Não vamos, pois, aceitar a frase como uma Indicação pessimista do autor, uma desilusão de sua própria vida, como sendo fórmula válida. Se o autor quiser dizer que da vida nada se leva e que tudo quanto o homem ajuntar aqui fica, então poderemos aceitar o conceito. Ainda assim, todos nós gozamos do muito que ajuntamos, que nos dá muito prazer. Não há homem, e jamais houve, que chegasse ao ponto de desprezar tudo que fez, que ganhou, que fruiu, julgando-o de nenhuma valia. Bem certo que muitas coisas são de pouca valia, mas não todas, nem o todo da vida de qualquer pessoa. O verso 3 parece conformar-se com o 22, em que tudo é mesmo vaidade, quando afirma que o homem não tem qualquer proveito do fruto do seu trabalho com que se fadiga dia e noite. É verdade que o mundo valoriza a vida em termos de lucro e perda; e um homem que se afadiga, ajunta dinheiro, depois morre e deixa tudo para os outros parece que efetivamente trabalhou debalde. Mas não é verdade que tudo tenha sido em vão, pois o mesmo homem gozou do seu trabalho, teve dele o seu prêmio, e, se deixou alguma coisa para alguém, isso é um dever de trabalharmos uns para os outros. O pai entesoura para os filhos, estes para os seus filhos, e nisto estão construindo casa-a-casa. Se cada um de nós levasse para o túmulo tudo quanto granjeou, então não haveria as grandes fortunas, que são quase um patrimônio da sociedade humana. Não só isso: Os cientistas trabalham mais para os outros do que para si mesmos, esses homens que se sepultam vivos em seus laboratórios à
  • 36. busca de micróbios causadores de doenças e de morte. Se o autor quer ensinar que não se deve dar demasiada atenção às coisas desta vida, poderia ser aceita a tese, como o homem rico da parábola, que ajuntou muito e não se lembrou de uma razão única e mais importante: deveria dar contas a Deus (Luc. 12:20). Vemos então que o ensino deve ser outro, além da mera letra. A verdade é que nós somos construtores da família humana e trabalhamos para ela; Infeliz da pessoa que passa pela vida sem deixar de si qualquer coisa que valha para os seus descendentes ou para a família humana. Parece claro, então, que devemos entender as palavras do pregador num sentido limitado, pois todos nós temos proveito no que fazemos e produzimos. Se entendêssemos o dito do pregador de não levarmos para o outro lado da vida o que ajuntamos aqui, então estaria dizendo uma realidade banal. Todos estamos certos de que nada levaremos desta vida, senão o que construímos espiritualmente. Pensam alguns comentadores que o sentido das palavras do pregador é não adiantar construir mausoléus, grandes fazendas, grandes nomes, pois tudo se deixa aqui. Neste sentido, se alguém quiser valorizar-se pelo que ajuntou aqui, perdeu o seu tempo, pois tudo fica deste lado da vida. Os que buscam a aparente glória desta vida, imaginando-se muito grandes, deveriam lembrar-se que os seus passos se perdem nas areias do deserto do viver, e, além de um enterro suntuoso, missa de corpo-presente ou de 72 e 302 dia, pouco ou nada sobra. Esta gente, porém, por muito numerosa que seja, não é o todo. Um grande número dedica-se a construir para a posteridade; e graças a esta gente é que a vida possui grandes valores. Ai de nós se não tivesse havido um Pasteur, um Sabin! Estaríamos condenados à morte antes do tempo, como acontecia antigamente. Os nossos avós acendiam as suas lâmpadas e se alumiavam com azeite de oliva ou de qualquer outro óleo. Agora tocamos num interruptor e com um dedo enchemos de luz a casa. A quem devemos isso? A alguém que viveu e lutou para servir. Aceitamos a doutrina do pregador, no sentido
  • 37. de que não adianta lutar e trabalhar só para esta vida, pois tudo vai ficar para os outros. 3. A Vida É um Círculo Vicioso (1: 4-6) Geração vai e geração vem, nasce o Sol e põe-se o Sol, assim até o fim. O filósofo pregador está apenas dizendo o que todos sabemos e levando-nos a pensar na frivolidade da vida. Todavia, não acreditamos, senão filosoficamente, que uma geração sucedendo a outra, o pôr-do sol e o seu levantar, o vento correndo de um lado para outro, sejam o sentido da vida. Em verdade, nada há novo debaixo do céu (vv. 9 e 10), senão as coisas melhoradas. Os inventos não trazem à tona tudo quanto significam. Quando o Sr. Bell inventou a linha telefônica, para duas pessoas se comunicarem a curta distancia, jamais imaginaria que atualmente falamos a grandes distâncias, por meio do DDD (Discagem a longa distancia). O Sr. Bell começou, outros trabalharam no seu Invento. Tudo é assim. Pasteur, já referido, descobriu os micróbios, mas os laboratórios se encarregaram de preparar as vacinas antitíficas, antivariólicas e outras, que Pasteur não poderia ter feito. Todos trabalhamos como quem usa seara alheia. Estamos certos de não ser a inutilidade do esforço humano que o pregador está desejando inculcar, e, sim, que é inútil trabalhar pensando nos resultados do nosso labor só para nós. Como conceito filosófico, vamos aceitar a tese do pregador. Só isso. Salomão mesmo construiu o grande templo em Jerusalém. Para quê? Ele morreu e o templo ficou aí para os outros.
  • 38. 4. Um Círculo Vicioso Ilustrado (1:7-11) Se uma geração ficasse para sempre, qual seria o progresso da humanidade? A estagnação. Logo, o nascer e o morrer fazem parte do progresso. Assim tudo mais no curso desta vida que parece tão banal, mas não é. O que parece banalidade é uma necessidade da vida e do progresso, mesmo que aparentemente uma geração não tenha lembrança dos fatos que a precederam (v. 11). Instintivamente, porém, é baseada no passado que a sociedade avança e progride. Uma coisa banal torna-se, então, fundamental. Todos os rios correm para o mar, e o mar não se enche... (v. 7). Antes que os rios corram para o mar, já as suas águas fecundaram as terras dos montes e dos vales, Indo para o mar, a fim de voltarem a percorrer o circuito b~ da natureza. O mar não se enche, em parte, porque as águas que para lá vão voltam em forma de vapor de água, que as nuvens acolhem e despejam outra vez sobre as montanhas e vales. É um círculo vicioso, mas sem Isso não haveria vida, nem progresso, nem humanidade. O que o Pregador diz, todos sabem, se bem que não parem a fim de pensar nesses fatos banais, filosóficos. Os olhos não se fartam de ver... (v. 8), mas os que perdem a vista sentem- se frustrados e são una infelizes. Os olhos foram feitos pelo Criador para com eles apreciarmos as belezas da natureza; e, quanto mais vemos, mais queremos ver. Então onde está a vaidade destas coisas? Ninguém se cansa de ver os rios deslizarem no seu leito, serpeando por entre penhascos e ribanceiras, em demanda do seu destino, que nem sabemos onde está, embora a vista se alegre de ver, e até nos alegramos de tomar o nosso banho nessas águas, que vão para o mar, para depois voltarem. Parece mesmo que a vida consiste em ir e vir, em andar e desandar.
  • 39. Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, Isso é novo? (v. 10). Sim, das coisas velhas é que nascem as novas. Antigamente construíam-se casas de adobe ou morava-se nas cavernas. Depois construíram-se as casas de alvenaria e, ainda mais tarde, de concreto armado. Tudo são casas, mas umas sucedem as outras; e o que uma geração fez, a outra melhora. Assim é certo que, o que agora vemos, já foi, se bem que noutro sentido. O novo procede das coisas velhas, apenas aprimorado. Se não fosse assim, teríamos de estar começando sempre as mesmas coisas; mas não, nós nos baseamos no que os outros fizeram, e sobre isso assentamos as bases das melhoras. Isso é progresso, e não vaidade. O que o Pregador diz, nós já sabíamos, porém não tínhamos prestado atenção; vejamos, no entanto, que ele não está "chovendo no molhado", mas Insistindo para que raciocinemos e vejamos como é a vida. Uma coisa depende da outra, mesmo que pareça o contrário, conforme o verso 11. Já não há lembrança das coisas que precederam... (v. 11) É certo que a memória do povo é fraca, e logo esquece o bem e o mal; todavia, fica um resíduo lndestrutível de tudo que passou. Os grandes homens passaram e deixaram um memorial, que poucos sabem aproveitar; mas quem pode esquecer todo o passado? O Pregador está apenas obrigando o leitor a pensar. Há uma ponte invisível, desde Adão até o maior técnico de nossos dias, pela qual têm passado todos os viventes, que cuidam da sua parte na continuação da sociedade da vida, no que ela tem de progressista. Qualquer que seja a fração esquecida através dessa ponte, uma coisa ficou, para sobre ela se construir outra qualquer. ... e das coisas posteriores também não haverá memória... (v. 11). Os que hão de vir depois delas esquecerão muita coisa, mas muita será lembrada, de modo que a filosofia do Pregador tem um fundo de verdade, sem esgotar o assunto. Salomão mesmo morreu há muitos séculos. A sua obra monumental ainda hoje é falada, e, se muita coisa ficou no esquecimento, o templo, as galas do culto, os hinos, que embeveceram gerações e foram até a eternidade, não podem ser esquecidos. Não acreditamos que Salomão, caso tenha dito ou escrito estas palavras, tivesse em mente a idéia de que tanto o passado como o presente e o
  • 40. futuro, tudo está depositado no porão do subconsciente. Muito vai para lá, mas outro tanto aí fica, animando os porvindouros. Há, pois, um resíduo de verdade no sagrado escrito, mas não se pode tomar ao pé da letra o que é apenas um conceito filosófico, uma maneira de ver os fatos pelo ângulo da correria da vida. As coisas vistas à superfície do observador são justamente como o Pregador nos Informa; entretanto, mais para lá da observação fica muita coisa a examinar. Quando passamos de trem ou avião ou mesmo de burro por uma paisagem, vemos muita coisa, porém muito mais fica por ver; e o que ficou por ser ou não visto, não Interessa ao viandante, se bem que o que viu fosse muito pouco. Não acreditamos que o autor do nosso livro esteja querendo ensinar que não adianta lutar e trabalhar, pelo simples fato de que logo tudo será esquecido. Ele está vendo as coisas pelo lado superficial, humano, embora soubesse não estar esgotado o vaso dos conhecimentos, da sabedoria de Deus e dos homens. A humanidade nem pára a fim de pensar no que vai suceder depois; continua a sua marcha para o invisível, sem dar conta do que ficou, e se será mesmo visto por outros. Obedece ao seu programa de vida e vai indo sempre e sempre. O livro que estamos estudando oferece-nos um tipo de filosofia da vida vista à distancia, sem as preocupações da profundidade, e talvez seja até um apelo a um exame mais profundo das banalidades da vida, como a corrida do rio para o mar e da sua volta para o mesmo lugar. Isso é banalidade, mas quantas lições nos traz! Quanta coisa científica e prática nos oferece! Será que não há possibilidade de se escrever um romance sobre a vista? Sobre os cuidados que temos com ela, procurando o oculista para que nos conserve cada vez melhor a faculdade de ver? Quanto se pode dizer a respeito dessa banalidade! Todavia, os olhos não se cansam de ver, porque nos foram dados para ver as belezas do Criador e contemplar as grandes maravilhas do gênero humano. Assim como os rios correm para o mar e os olhos servem para ver mais e melhor, todo o resto da conceituação humana fica dentro dessa filosofia. Um homem trabalha denodadamente, esforçasse e constrói alguma coisa. Outros vêm depois e esquecem o que ele fez, mas se valem do que encontraram e até podem destruir a obra de quem lhes precedeu. Então, que fazer? Vamos parar? Ensarilhar as armas e ficar quietos? Nada disso, porque o mundo não pára e nem nós com ele. Nós
  • 41. somos uma partícula do grande todo, e a nossa parte nesse todo nem sempre será apreciada, e nem é por causa dela que nos esforçamos, e, sim, como quem se sente tangido por um destino cruel, marchamos para a frente, como quem vai sem destino, mas vai. Parece-nos que esta é a filosofia do Pregador; e, se não for, então também o que estamos escrevendo é correr atrás do vento. Jesus mesmo ensinou a Nicodemos que o vento sopra, e não se sabe de onde vem nem para onde vai; todavia, Jesus não mandou o vento parar de soprar. Ordenou a Nicodemos para pensar noutras coisas. Esta é a grande lei da vida. II. O FRACASSO DAS TENTATIVAS HUMANAS (1: 12-2:23) Esta seção é uma das mais discutidas do livro de Eclesiastes, visto como parece ensinar que não adianta fazer força para prosseguir, pois tudo resulta em vaidade. Estudar, construir, fazer força para vencer, tudo vai dar em nada. Todavia, uma análise mais profunda dos ensinos do Pregador nos levará a ver que assim é em determinado sentido e em certa proporção, embora ainda fique muita coisa a respigar, a considerar como ganho. 1. Uma Tentativa Filosófica (1: 12-18) O mundo não vai parar e nós não pararemos tampouco. Ninguém fica satisfeito com uma vida Inativa. Dentro do homem há um Instinto de avanço para o desconhecido, que o impele a prosseguir mesmo no escuro
  • 42. da vida. Deus implantou este instinto no homem, e é irresistível. Se o homem pensa, age; se age, prossegue; e, quanto maior for o obstáculo, tanto mais o esforço para vencer. No tabuleiro da vida, com pedras de todos os lados, umas contrariando as outras, o homem não desiste, sejam quais forem os obstáculos a vencer, seja querendo fazer direito o que está torto, seja abrindo caminho no escuro, onde nada enxergue. Quanto mais se luta, mais se verifica que é preciso dobrar o labor; e é fato notário que só há esforço quando há obstáculos a vencer. Nesta luta do dia-a-dia o homem se convence de que nada sabe, que é preciso saber mais e nessa ânsia se atira contra tudo e contra todos para sair vitorioso. O que está pela frente, não se sabe, e parece até não interessar saber, pois o que o homem deseja é prosseguir, avançar. O oleiro faz o vaso de barro e depois o quebra e faz outro, para talvez ainda quebrá-lo e tentar fazer outro, até conseguir o vaso que deseja. Conta-se que o Inventor da porcelana moderna imaginou dar brilho ao barro das peças que fabricava. Aqueceu o forno ao rubro, mas o material não se dissolvia; botou mais lenha e mais lenha, até consumir todo o estoque, enquanto o material permanecia Inalterável. Não tendo mais o que queimar, arrancou as tábuas do soalho da casa e jogou tudo no forno, enquanto a esposa gritava e pedia socorro aos vizinhos, porquanto o marido havia enlouquecido. Quando a última tábua do soalho entrou pela boca do forno a dentro, ele viu estarrecido o material liquefazer-se e escorrer por cima dos vasos. Estava descoberta a porcelana. É assim que os homens lutam e vencem, pouco importando as derrotas, que parecem até são um incentivo a maiores esforços. Se isso é a filosofia da vida, bem estamos, se não é, então que se explique por que ninguém pára de lutar, até que a morte ponha um fim a tudo.
  • 43. 1. Uma Tentativa Filosófica (1: 12-18) 1) A Experiência do Pregador (vv. 12 e 16). Eu, o Pregador, fui rei de Israel em Jerusalém (v. 12). Trata-se, sem dúvida, de Salomão. Estudou ou aplicou a sabedoria que Deus lhe deu, segundo somos informados em I Reis 3:10-15. Decidiu de coração estudar. Foi botânico, zoólogo, filósofo, tudo quanto um homem poderia desejar na vida em matéria de inteligência. Construiu o mais majestoso templo da história e engrandeceu-se sobremaneira. Compilou muitos provérbios (Prov. 10-20), onde a sabedoria extravasa; tinha tudo quanto se pode imaginar de conhecimentos práticos para a vida. Ninguém o sobrepujou em saber e discernir. No final de tudo, concluiu que era pura canseira. Foi como se um homem estudasse direito, depois medicina, depois engenharia, depois teologia, depois zoologia, depois outras ciências e terminasse enfadado, nada aproveitando de todo o conhecimento adquirido. A experiência de Salomão parece ter sido esta: tudo que tinha estudado só servira para lhe causar aborrecimento e fadiga, parecendo-lhe estar correndo atrás do vento. Para ele, talvez fosse assim, pois os homens notáveis não se dão conta de seu valor, e quanto mais se conhecem menos julgam saber. Só os tolos pensam que sabem. As muitas letras são mesmo fadiga do espírito; todavia, se nos esquecêssemos das experiências de Salomão e verificássemos o bem que ele nos deixou, então poderíamos dizer-lhe: Salomão, você está enganado; tudo quanto você estudou e lhe causou tanta fadiga e desilusão tem sido a riqueza da humanidade. Conta-se que a vida de Pasteur foi um rosário de sofrimentos e escárnios, dos que o julgavam louco, em busca do lnexistente; mas não fosse ele, ou outro no seu lugar, ainda estaríamos morrendo de tifo e varíola. Admiramos esses homens como Salomão, que se cansam, mas deixam alguma coisa que os vindouros não esquecem totalmente (1: 11). Salomão se teria sentido fatigado e até desiludido, porque a sua imensa sabedoria não bastou para lhe evitar os últimos desgostos da vida.
  • 44. Quando velho, levado por suas mulheres a adorar outros deuses, teria visto a ruína de todo o castelo construído por quarenta anos. A experiência de Salomão é a de muitos de nós. Trabalhamos, nos cansamos e verificamos depois que somos esquecidos e o nosso trabalho deu em nada, embora isso seja ilusão. Se não houvesse um Salomão, não teríamos o Livro de Eclesiastes, caso seja de sua autoria. Não, a vida não pára e ninguém pode sopitar os impulsos colocados pelo divino Criador. Aceitemos, pois, com as devidas restrições., a experiência desse grande sábio e a de tantos outros. 1. Uma Tentativa Filosófica (1: 12-18) 2) Uma Observação (v. 14). Os estultos, parece, levam melhor a vida do que os sábios, como os preguiçosos, melhor do que os que se esforçam, no final, porém, cada um colhe o que plantou. O sábio pode afadigar-se das suas muitas letras, como o trabalhador de seu muito esforço; mas, no final, poucos querem ser ignorantes e poucos desejam ser preguiçosos. Logo, o estudar e o trabalhar correspondem a uma lei que nem sempre pode ser apreciada. Conheço um homem que poderia passear, gastar o seu tempo olhando e dando trabalho à vista; todavia, prefere ficar amarrados sua máquina, dizendo umas tantas coisas, a andar acima e abaixo, nada fazendo. Mesmo que julguemos inútil ou fátuo o que realizamos, há dentro de nós todos um sentimento de recompensa que nos conforta e compensa pelos esforços feitos. Temos, pois, que a nossa luta pode não nos interessar, e até a desprezarmos, embora faça bem aos outros; e nenhum de nós quer ser louco ou tolo e malandro.
  • 45. Em todas estas buscas atrás da felicidade, o supremo alvo dos homens, Salomão verificou tratar-se de miragem, que talvez pudesse ser encontrada noutros campos, pois as suas buscas tinham resultados infrutíferos. Parece que o vemos lutando contra o invisível, numa tentativa experimental, que chegava às raias da loucura. A sua sabedoria não tinha bastado para condicionar os seu problemas, e a tentativa de contrastar a sabedoria com a loucura, para ver das duas qual seria a mais útil, também resultou em fracasso, pois era como correr atrás do vento. Esta frase, "correr atrás do vento", deve ser entendida como um aforismo, corrente entre os filósofos. A ciência aumenta a tristeza, porque o sábio não consegue realizar o máximo pedido pela mente humana, e então desespera-se e tenta julgar tudo um fracasso.
  • 46. 3) Um Exame Introspectivo (v. 17). Fala o homem que se cansa de aumentar a riqueza e a cultura. Admitimos que, se Salomão fosse mais medíocre, talvez não tivesse chegado a tais conclusões. Ele comparou o saber à loucura ou à ignorância, e verificou que o tolo pode ser tão feliz como o sábio, isto, dependendo do ponto de vista de cada um. A cultura cansa, como tudo mais na vida. Os que se dedicam a estudos profundos terminam dando de ombros a tais indagações e reconhecendo que com muito menos também se pode viver. A sabedoria aumenta o enfado e torna-se um peso na vida, pois quem aumenta ciência, aumenta tristeza (v. 18). Todavia, não deixamos de estudar e progredir, e cada dia procuramos maior soma de conhecimentos. Diziam os latinos que a virtude está no meio, Isto é, entre os dois extremos. Acreditamos e repetimos, metade da cultura de Salomão talvez lhe tivesse poupado os últimos dias desgovernados da vida. Ele teria acordado tarde demais. A sua demência, ou quase isso, que o levou e ao seu reino à ruína, poderia ser evitada, tivesse ele dedicado mais tempo às coisas práticas do Estado.
  • 47. 4) O muito estudar é enfado da carne (vv. 13-18). No seu pessimismo particular chegou a admitir Deus castigar o homem que quer saber demais, tornando enfadonho o trabalho dos filhos dos homens (v. 13). É uma força de expressão, pois Deus deu ao homem o instinto do progresso, e este progresso não vem se ficarmos deitados de papo para o ar. Há coisas que a cultura não resolve, tais como: o bom senso da medida, o tino e a capacidade de esquadrinhar os inconvenientes da vida, o fato de que o que nasce torto não se endireita (v. 15); todavia, pode modificar-se o jeito das coisas tortas e tirar-se delas as lições que a experiência indicar. Finalmente, se expurgarmos o discurso de Salomão dos seus extremos, vamos encontrar muita coisa construtiva e de alto valor. Era um homem amargurado e cansado de tudo, porque de tudo tinha em extremo, e os extremos não convêm. Se isso aproveitar aos leitores destas despretenciosas notas, muito bem, se não...
  • 48. 2. Um Recurso à Carnalidade (2: 1 e 2) Por que perturbar a mente dando ensanchas à carne'? Os prazeres sexuais fatigam. Os modernos hipies confessam que depois das suas bacanais sentem-se frustrados e enojados. O prazer sexual moderado, controlado, ajuda a viver, mas o seu abuso destrói a saúde e a felicidade. O sexo é como tudo mais: o excesso é demasia. Os prazeres sexuais são como certas flores que, quando se lhes tocam, murcham. Há uma planta que se chama sensitiva; toca-se nela, e ela murcha as folhas. 3. Experiência Noutros Prazeres (2: 3-11) 1) O prazer do vinho (v. 3). As bebidas são como as serpentes: lindas à vista, mas perigosas quando tocadas. Milhões são gastos anualmente na compra de bebidas, e, por causa delas, se destroem vidas e lares. Salomão experimentou beber em demasia, mas logo verificou que era outra loucura. É um prazer sem sentido, porque tira os sentidos.
  • 49. 3. Experiência Noutros Prazeres (2: 3-11) 2) O prazer das construções (vv. 4-6). Salomão dedicou-se a construir, e os relatos que nos vêm dos seus dias são mesmo fantásticos. A construção do templo do Senhor em Jerusalém, como nos informam os livros dos Reis e Crônicas (I Reis 6:1-7:50 e II Crôn. 3:1-5:1), é o relato da mais grandiosa obra dos séculos. Depois Salomão construiu seu palácio (II Crôn. 8), fez jardins em Jerusalém, conforme o relatam as crônicas, trouxe água da Fonte da Virgem para regar os seus jardins, como ele mesmo diz, plantou árvores frutíferas de todas as espécies, fez um açude para coletar a água para os jardins. A sua casa do bosque era qualquer sonho de assombrar um faraó, e por mais que demos asas à imaginação, somos incapazes de realizar, mentalmente, tudo quanto fez, e as Crônicas não no-lo contam, porque muito já desaparecera, até da memória dos seus contemporâneos. Não sabemos quantos filhos e netos teria tido, porque as Crônicas que temos não o dizem, mas teria muitos e seria um agradável prazer ver as crianças brincando nesses jardins. No final de tudo, verificou que não passava de pura vaidade (v. 11).
  • 50. 3) O prazer de uma grande família (v. 7). Teve mil mulheres, entre esposas e concubinas (I Reis 11:3), que lhe deram muitos filhos e netos; e, não contente com esta gente, ainda comprou escravos e outros nasceram em sua casa. O pessoal de Salomão que comia da sua mesa deve ter andado pela casa dos 25.000. Nem mesmo os Luis da França tiveram tantos criados e comensais. Esse povo devia gostar de festas e haveria músicos e danças continuamente; quem não ignora, porém, como estas coisas enfastiam e terminam por tornar a vida um pesadelo? Ele mesmo confessa que nada disto lhe valeu o gozo de uma vida feliz e calma. 4) Foi um grande criador, um fazendeiro (v. 7). Os reis de Israel e Judá eram importantes criadores. Josafá foi também um grande fazendeiro. Esses reis não viviam dos salários que o erário público lhes pagava; eles mesmos tinham suas rendas, como ainda tem, atualmente, a família real inglesa. Os seus pastos ficavam lá para o sul, nas imediações do Neguebe; e como seria agradável a um homem de estado ver bezerrinhos pulando e os carneiros e bois mugindo! Isso deve ter sido um encanto. Todavia, tudo farta e até a fartura faz mal.
  • 51. 5) Era um homem muito rico (v. 8) O ouro e a prata eram tanto, que esta última nem tinha cotação em Jerusalém, e, não satisfeito com as riquezas que lhe vinham dos diversos estados, com os quais mantinha relações políticas e econômicas, ainda tinha a sua marinha mercante, que ia a Ofir e outros lugares, buscar mais ouro. Ele mesmo diz: Amontoei para num prata e ouro, e tesouros de reis e de províncias (v. 8). Isso não é figura de linguagem, pois, se mantinha relações políticas com todo mundo de então, era natural que todos gostassem de lhe presentear. A sua riqueza envergonharia a qualquer potentado dos nossos dias. Nem sabemos que destino teria tomado essa dinheirama, esse ouro pesado às arrobas, se bem que no final tudo aquilo fosse vaidade e correr atrás do vento (v. 11). Ora, convenhamos não ser tanto assim, pois os faustos do palácio, a criadagem, a riqueza, deveriam produzir certa euforia e segurança. Entretanto, ele confessa, para todos nós, que nada disso o contentou. Admitimos que tivesse terminado a vida enfadado. Uma análise, mesmo superficial, da vida de Salomão nos convence de que tivera uma velhice de enfado e aborrecimento. Isso admitimos, sem esforço, conhecendo a maneira como ele terminou a sua vida, cheio de desgostos, causados pelos ciúmes e desavenças do mulherio e pelos seus grandes pecados ao deixar o seu Deus, bondoso e providencial, para se virar para os deuses dos povos vizinhos, ao ponto de arruinar o reino. Se registrou estas crônicas, então o deveria ter feito já depois dos 30 anos de governo; e se não foi ele quem as escreveu alguém ouviu os seus lamentos, as suas queixas no fim da vida, e as registrou nesse monumental livro. Admitimos mesmo que, para Salomão, a vida terminou com amargura, porque os seus excessos teriam sido tantos, que terminaram por enfastiá-lo e legar-nos então um tratado de pessimismo, que tem feito mal a muita gente. Um bom entendimento do livro de Eclesiastes deve levar em conta a vida particular de Salomão, e não tomar, os desapontamentos que nos revela, como regra para a vida de todos nós.
  • 52. 6) Era um homem de festas (v. 8). Provi-me de cantores e cantoras e das delícias dos filhos dos homens. O que esta linguagem meio sibilina significa, não sabemos. Cantores e cantoras, sim, pois um conjunto de cortesãos como os de Salomão não poderia viver sem festas. As danças, as orquestras, o gosto pela música, que teria herdado do pai Davi, seriam um encanto no palácio real. Nos primeiros anos do seu reinado, Jerusalém regurgitaria de artistas, atraídos pela fama do rei, fama que atingia os quatro cantos do mundo de então. Uns seriam contratados, outros oferecidos, e quem não gostaria de fazer parte do grande número de cortesãos apenas pela comida? As suas palavras, pois, devem ser entendidas como significando uma orgia de arte de estontear. 7) Mulheres e mulheres (v. 8) Não acreditamos que Salomão fizesse esta confissão, mesmo sendo verdadeira. Parece-nos termos aqui a pena de um cortesão qualquer que, ao descrever a vida nababesca do rei, teria ido um tanto longe na sua apreciação. Já sabemos que no harém de Salomão havia nada menos que 1.000 mulheres: 700 esposas e 300 concubinas. Este autor por muitas vezes, em suas aulas, pretendeu reduzir ao normal, o que significaria todo esse mulherio. Os leitores mais apressados levam o fato para os domínios sexuais; nós, porém, preferimos encaminhá-lo para o terreno da política, pois não há nem nunca houve homem que pudesse dedicar-se a tantas mulheres, ou tivesse a tentação de as buscar. O seus tratados de amizade com os reis vizinhos seriam sempre selados com a vinda de uma princesa. Sabemos isso pela história do Egito. Não somente isso, mas também não
  • 53. faltaria quem lhe oferecesse uma mulher bonita encontrada algures. Vimos que, quando Abraão teve de emigrar lá para as bandas dos amalequitas, precisou fazer um acordo com Sara, para ela confessar que era sua irmã, porque, doutra maneira, matariam Abraão, para lhe tirar a mulher. O mesmo aconteceu com Isaque. Isso seria costume oriental; onde houvesse uma mulher bonita, não faltaria quem a cobiçasse, para fazer dela um presente ao potentado. Foram essas mulheres que arruinaram a vida espiritual de Salomão e concorreram para que ele nos deixasse o Eclesiastes. 8) Salomão era um homem alegre e feliz (v. 10). Tudo quanto desejaram os meus olhos... nem privei o meu coração de alegria alguma, pois eu me alegrava com todas as minhas fadigas. Era um homem alegre no meio das suas responsabilidades públicas, que não seriam pequenas. Tudo o que é em demasia faz mal. Todavia, verifique- se que Salomão era um homem feliz, mesmo afadigado com muitas obrigações e responsabilidades, e se, no meio de tudo, verificou isso não passar de correr atrás do vento, saiba-se, ser esta uma verdade corriqueira. Quem não entende, qualquer excesso ser prejudicial? Excedia-se demasiado em tudo: na conquista de riquezas, na conquista política, na conquista de tudo mais. Então aceite-se que o mal da doutrina de Eclesiastes não está nos gozos bons da vida, mas nos seus excessos. Quando um homem vai chegando ao fim da vida e olha para trás, verifica mesmo que muita coisa que fez não deveria ter realizado e muito deveria ter sido evitado. Esta é a nossa experiência, e por isso devemos aceitar a confissão de Salomão, ou de quem lhe escreveu a biografia, como o resultado de qualquer vida igual à sua. Se, mesmo agora, 2000 anos depois, alguém desejasse escrever a biografia de Salomão, usando apenas os parcos elementos dados pelas Escrituras, poderia escrever um grosso
  • 54. volume, e então concordaria em que o nosso Eclesiastes não diz demais; talvez diga de menos. Com esta seção termina uma parte da confissão meio trágica da vida de Salomão, que ainda continua. Damos talvez mais espaço a essas considerações do que deveríamos, se bem que o façamos para mostrar que não há nada demais na vivência de Salomão que qualquer outro homem do seu tempo e do seu porte não fizesse. Salomão morreu moço, pois começou a reinar antes dos 30 e reinou 40 anos. Aos 70 era um decrépito. Porquê? Resultado dos excessos, sejam de que natureza forem. 4. Uma Análise Cultural (2:12-17) Já no capitulo primeiro (vv. 12-18), Salomão deu a sua palavra neste terreno cultural, mas volta ao assunto, como se uma força oculta o impelisse para este campo, que era, sem qualquer dúvida, o centro da sua vida, não obstante considerar essa busca um fracasso do ponto de vista de prazer para a vida. Por causa desse fracasso, virou-se, como vimos antes, para uma diversidade de atividades, como se nelas estivesse o ideal que buscava. O que nos parece é que Salomão desejava aquilo que o ser mortal jamais encontrará na face da terra - a felicidade perfeita. Isso é miragem, que parece ter ofuscado a mente de Salomão. Não se contentava com meios termos, queria o todo, se bem que isso não fosse possível; e podemos até afirmar que o aparente pessimismo do livro reflete esta tentativa de buscar e achar o que não existe a felicidade perfeita. Qualquer homem que se devota a uma ciência e pela mesma dá tudo logo descobre não lhe proporcionar o que busca. Se então se atirar a outras e outras, chegará à conclusão de que já na primeira fracassou. O homem culto é aquele que aproveita ao máximo o que a cultura lhe pode dar, para com ela manusear o problema e dele tirar tudo, e não mais do que lhe pode oferecer. As
  • 55. desilusões do sábio e do ignorante são nada existir completo e perfeito nesta vida; e o máximo que se pode encontrar reside numa reflexão calma e racional de que tudo na vida é relativo e nenhum ser humano consegue tirar dele o máximo para o seu governo. Muitos se contentam com pouco; outros, porém, querem tudo; e, parece, Salomão era dessa classe. Tudo ou nada. Isso poucos conseguem realizar. Depois de um dia de labor profícuo, quando a mente pede sossego, vem a pergunta: Será que realizei o meu ideal? Cumpri todo o meu dever? A mente, assim acutilada, verga- se à evidência de que ninguém realizou o ideal, e este só existe na filosofia, não na prática. Embora a cultura seja superior à estultícia, muitos chegam ao ponto de descoroçoar dos seus livros e dos seus cursos, e até invejam o operário, que sai de madrugada para o seu emprego, depois de atravessar distancias, apinhado na sua condução, a fim de pegar numa picareta e arrebentar o chão, para à noite voltar a casa nas mesmas condições da manhã. Então deita-se morto de cansaço e dorme, dorme sem problemas, sem dividas a pagar, sem credores à porta, sem outro objetivo senão o de na manhã seguinte seguir a mesma rota. Todavia, nem este está satisfeito e inveja a outro que amanhece cercado de livros e de problemas intelectuais, e diz consigo: "Quem me dera ser como aquele homem de gravata e paletó, camisa engomada, sem ter que pegar 'no pesado'." Assim, ninguém está satisfeito, e Salomão muito menos. Argüiríamos: Se todos fossem doutores, quem cavaria o solo para tirar dele o nosso alimento'? Se todos fossem operários, quem escreveria livros e buscaria a ciência das coisas, para o melhoramento do homem? Deus fez tudo bem: deu uns para a enxada e picareta, e outros para os livros e a ciência. Nisso está o equilíbrio social, e, no fim, se cada um se contentar com a sua sorte, a vida correrá melhor para todos. O que prejudicou Salomão e prejudica a muita gente agora é não se contentar com a sua cota, nos problemas da vida, e querer mais e mais, até se esfalfar para alcançar ESSE MAIS E MAIS. Essas considerações preliminares vêm como forma explicativa do que se encontra nos versos 12-14 do capítulo 2. O Livro dos Provérbios nos dá muitas lições com que melhor poderemos interpretar o Eclesiastes. O
  • 56. senso da medida, a prudência, o controle e tudo mais um bom estudante lá encontrará. 4. Uma Análise Cultural (2:12-17) 1) Um exame pessoal (vv. 12 e 13). O sábio Pregador, depois de considerar nulas todas as invenções da sua vida, suas obras, seus jardins, seus banquetes, suas músicas, suas mulheres, chegou à conclusão de que tudo é vaidade (v. 11), isto é, nenhuma destas coisas permanece por muito tempo (2:16), e o que passa é vaidade. Deu-se então a considerar os valores da inteligência e os da loucura, entre outros, o de seguir o rei, e também verificou que estas coisas eram muito banais. Nada fica para sempre, e a vida não passa de uma rotina, realizando uns o que outros já fizeram. Nisso estava certo. A vida é mesmo uma roda-gigante: enquanto uns sobem outros descem, para subir outra vez, e assim até a eternidade. No meio dessa vulgaridade, comparou a inteligência à tolice, e viu que aquela é mais proveitosa do que esta, tanto quanto a luz é mais apreciada que as trevas. Mesmo que, de modo geral, sinta-se enfastiado da sua sabedoria, sempre
  • 57. achou melhor ser sábio do que estulto. Do ponto de vista prático, nós podemos igualmente tirar as nossas conclusões. A cultura é custosa, dá muito trabalho para ser adquirida, mas a maioria dos homens e mulheres lhe aderem, pagando o seu preço; e ai se não houvesse gente culta, porque a mediocridade parece ser mesmo o destino da humanidade, e esses medíocres são os que mais avançam na vida, passando para trás os mais bem educados! Eles se valem do sentimento de frustração, e fazem força para avançar, enquanto os inteligentes, como elementos satisfeitos, contentam-se com as galas adquiridas. Os leitores que decidam esta questão. 2) O valor do sábio (vv. 14-16). O estulto vive em trevas, mas o sábio tem os olhos na cabeça. Outros diriam que o tolo tem os olhos no estômago, enquanto o sábio os tem na testa. Todavia, o Pregador verificou que, o que acontece ao insensato sucede ao sábio. Por que então procurar ser sábio? Na verdade, todos vamos para o mesmo fim, e, depois da morte do sábio, como já vimos em 1: 11, ninguém se lembra dos seus feitos, e os do tolo nem mesmo são mencionados. É o destino de todos nós, lutarmos, para depois darmos em nada. Todavia, alguma coisa fica e serve e ajuda aos que vêm depois. Diz- se que a vida de um livro é de dez anos; agora deve ser de muitos anos, graças a velocidade da vida e dos conhecimentos humanos. Então um homem que escreveu livros pode esperar apenas que meia geração se
  • 58. ocupe das suas obras. Esta é uma triste verdade. Quem se lembra dos estudos de Humberto de Campos, Machado de Assis e muitos outros? Livrinhos de estorietas enchem as bancas de jornais, bem assim de histórias em quadrinhos, fantasias banais; mas um livro clássico poucos o procuram. Digamos a era dos romancistas já haver passado e que agora estamos na era da tecnologia; certo, embora a tecnologia esteja longe de resolver todos os problemas para a vida humana. Soluciona planos industriais, aprimora os grandes complexos comerciais, mas o que ajuda e Inspira a vida os técnicos não resolvem; e nós vivemos de inspiração, de alguma coisa que levante o nosso nariz acima da cabeça, para descobrirmos que, antes de tudo e depois de tudo há uma vida espiritual a merecer atenção. Isso de coisas espirituais numa época materialista e sexualista soa estranho, e por isso mesmo a sociedade vive a reboque dos mais extravagantes princípios, e é levada para longe, cujo fim não se alcança. Se for certo que a inteligência não resolve os nossos problemas, pergunta-se: O que os resolverá? Salomão ficou fatigado da sua sabedoria, mas nunca pensou na inspiração que a sua cultura deu ao tempo e aos porvindouros. Mesmo que as coisas não durem para sempre (v. 16) e que depois de um pouco de tempo tudo caia no esquecimento, ainda vale a pena estudar; e se esta página puder entusiasmar algum leitor a por de parte alguns momentos roubados às novelas, para se dedicar à leitura, nos sentiremos gratificados. Certo que para tudo há um limite, e este deve ser observado para se manter o bom equilíbrio da mente e do corpo, pois a este equilíbrio cabe uma devida atenção à inteligência. Nós não vamos concordar com Salomão ao afirmar: assim como morre o sábio morre o estulto (v. 16). Se bem que todos morram mesmo, há uma diferença: o sábio lega alguma bênção aos seus semelhantes, enquanto o estulto nada deixa. Apenas isso. Então, viva o sábio. È certo que pela inteligência apenas nunca se construíram grandes empórios Industriais, grandes usinas, grandes conglomerados, como se fala atualmente; se nos faltassem, porém, as bibliotecas, seríamos em pouco reduzidos a um número de zeros à esquerda de um algarismo. Quando Deus criou o homem, não fez um comerciante, um industriário, um técnico qualquer, mas um homem à SUA IMAGEM E SEMELHANÇA,
  • 59. com capacidade para pensar, discernir e verificar o valor de tudo no seu conjunto. Para não divagar demasiado, ponhamos a linguagem do Eclesiastes nos seus devidos termos, isto é, nem tudo para a inteligência e desprezo para os outros valores do corpo, como a esbeltez física, os cuidados com a saúde, etc. Tudo isso compreende o homem, e não o sábio. 3) Aborrecimento da vida, não vale. Pelo que aborreci a vida, diz o pregador (v. 17) Em face da pouca valorização que algumas vezes se dá aos pendores intelectuais, chega-se a pensar: o melhor é treinar na bola e dar um bom jogador; mas se todos fôssemos Pelé, que seria da platéia? Nem todos podemos ser isso ou aquilo, pois na vida e na sociedade há lugar para todos e para todas as atividades. Muitos estudiosos se queixam, como Salomão, gastarem anos em universidades, para depois verificarem que não podem nem concorrer a um lugar de auxiliar de escritório, porque não sabem escrever a máquina, não são estenógrafos, etc. Temos de possuir administradores de empresas, como temos de ter assessores disto e daquilo; tão útil será um como o outro. Nós não concordamos que tudo isso seja apenas correr atrás do vento. Foi um modo de apreciar a vida por um ângulo só. Os
  • 60. pessimistas nunca criaram muita coisa, e os queixosos igualmente. O bom é que cada qual verifique as suas tendências e qualidades, e se dedique ao seu desenvolvimento. Isto é o que constrói. Nada de queixumes nem lamúrias, dizemos a quem ler esta página. Se alguém enveredou errado pela vida e verificou que chegou a um beco sem saída, tenha paciência e volte, se tiver tempo; se não, aja igualmente, porque o mundo carece de todos, tanto dos mais como dos menos cultos, dos sábios e dos ignorantes. Precisamos de gente para varrer a rua, e um médico não iria fazer isso. Necessitamos de um homem que fique na boca do forno uma noite inteira, para de manhã termos o pão fresco para o café. Precisamos de soldados, para vigiarem as nossas casas, e até quem apanhe pedaços de papel na rua e o vá vender a quilos. Dependemos de todos e de tudo. Ninguém sobra, especialmente numa era quando tanto se carece de gente, ainda que seja para limpar a graxa de uma máquina. Deixemos as lamúrias de Salomão para lá. O sábio, depois de um dia de trabalho e de usar seus poderes mentais, pergunta: Valeu a pena? Calma e refletidamente volta-se para si mesmo e é capaz de compreender que fez o que pode e atendeu a tudo que devia. Aí o pensamento o acutila, e pergunta ainda: Terei conseguido o que desejava e o que devia? Vai mais longe, e diz consigo: Não será que o tolo conseguiu mais do que eu, pois, pelo menos ficou descansando e eu me fatiguei? Os que me viram atarefado o dia todo pensarão que fiz alguma coisa de valia? Neste ínterim a morte bate à sua porta e, se tem tempo, ainda: Valeu a pena a minha canseira? Os que aí ficam gozarão algo do que fiz, e reconhecerão que fui um laborioso batalhador pela melhoria da comunidade? Diz-se que o tolo é como o gafanhoto, vive para o momento presente; a formiga vive para o Inverno futuro. A verdade é que não temos o comando da vida, nem podemos conciliar um grande número de fatores, todavia, uma voz dentro de nós nos diz: Prossegue, e não desfaleças, mesmo que pareça a preguiça ser mais compensadora do que a atividade. Não te glories do dia de amanhã, porque não sabes o que trará à luz.
  • 61. Ao finalizar esta seção, perguntamos: Será o livro de Eclesiastes um hino à tolice, uma ode à estultícia? De modo nenhum. O livro inspirado, com todas as suas Incógnitas, leva-nos a uma conclusão que fará bem a todos. O temor do Senhor é a fonte da vida (Prov. 14:27; Sal. 111: 10 ss.). 5. Filosofia do Trabalho (2:18-23) Qual a sabedoria que nos poderia levar a uma compreensão melhor do problema humano do trabalho? Se ela existe, não é conhecida por nós. Estamos colocados no centro de um círculo, cujos raios escapam à nossa vista e compreensão; os extremos e o centro não podem ser ocupados por nós, porque não temos o dom da ubiqüidade. Essa é uma característica do Criador. Só ele pode ver os extremos desse círculo e só ele entende o que se passa em todos os raios do mesmo. Talvez, por meio de uma nova sabedoria, que nos afaste ao máximo dos centros de nossos interesses e observações, sejamos capazes de ver as coisas por outro prisma; isso porém, só será possível quando a sabedoria de Deus, que supera a deste mundo (I Cor. 2:7), dominar a vida. Enquanto houver proletariado, assalariados e empresários, todos se movendo ao redor de um círculo quase vicioso, cada qual defendendo os seus Interesses estreitos, não haverá possibilidade de uma outra compreensão. Parece que foi esse entender de Salomão que prejudicou todo o seu trabalho, pensando ele que tudo ficaria para os outros, que nada lhe tinham feito (vv. 18 e 21). Salomão não compreendeu que somos partes
  • 62. de um todo e estamos unidos uns aos outros por laços de sangue, de afinidades raciais e humanas, e, assim sendo, devemos dar a nossa partilha de serviços para o consumo de todos. Se cada qual pensasse: "Ora, eu não me vou dedicar muito, porque não quero que os outros tirem proveito do meu esforço", que sucederia? Os pais não plantariam para os filhos, nem estes para os netos, e assim até o fim. Quantos benefícios gozamos hoje, resultado da dedicação dos que já passaram há muitos anos? Já referimos o caso de Mr. Bell, esticando uma linha e colocando cada extremidade no ouvido de alguém. O que um dizia, o outro ouvia. Hoje falamos à distância, interestadual e internacional pelo telefone. Foi preciso que alguém desse o ponto de partida. O que dizemos de Mr. Bell, poderíamos dizer de uma infinidade de homens, que viveram e morreram e deixaram o produto do seu trabalho para os porvindouros. Esta é a lei do Criador, que nos uniu a todos de tal modo que ninguém vive para si ou morre para si (Rom. 14:7). Nós todos somos devedores a outros; alguém que viveu, morreu e nos deixou alguma coisa, para encetarmos a nossa carreira neste planeta. Há egoístas, e muitos; mas há igualmente muitos filantropos, amigos da humanidade, e, com uns e outros vamos recebendo e dando alguma ajuda. Esta é a grande lei da vida. * Como foi que Salomão não aprendeu esta grande lição, ignoramos; ou, se aprendeu, não o disse bem no seu livro. Nas palavras da apreciação do texto referido no tópico, examinaremos a sua filosofia e o que ela quer ensinar a respeito do trabalho. Seria isso que entendia do trabalho?
  • 63. 1) O aborrecimento do seu trabalho (v. 18). Os motivos de Salomão se enfadar do seu serviço e de saber que tudo ia ficar ai para os outros, que nada tinham feito por ele, não sabemos. Porventura não estaria lembrado dos esforços feitos pelo seu pai, Davi, para deixar bastante riqueza e materiais para o futuro templo? Não reconheceria as lutas de Moisés, Josué e tantos outros, que trabalharam para construir a nação, que ele agora governava como rei poderoso e rico? Certamente estas reflexões não poderiam estar ausentes de seu pensamento, e temos de ler as suas palavras com um outro espírito e sentido. Há duas maneiras de trabalhar. Uma com o ideal de construir para a posteridade, de fazer algo que fique, mesmo que não seja esse ideal o motivo supremo; a outra é trabalhar com o fim de ajuntar para si. O primeiro caso espelha o idealismo da razão, o sentido do grupamento, da coletividade; o segundo é o egoísmo, o desejo de realizar tudo para nós e só para nós. Não acreditamos que este fosse o espírito de Salomão; não é possível admitir que não tivesse aquele senso de obrigação coletiva, pois ele mesmo tinha feito tanta coisa à custa dos outros. O templo construído custou o suor de muitos milhares, que se embrenhavam no Líbano, cortando madeira e trazendo-a por mar, em forma de jangadas, para depois ser usada na construção. Estaria ele esquecido disso? Certamente não. A sua cultura o seu discernimento das coisas não lhe dariam tal conceito de trabalho. Então por que a sua lamentação de se afadigar debaixo do sol, sabendo que o seu ganho iria deixar a outrem, que nada havia feito a seu favor? Aqui está a sua filosofia egoísta do trabalho. Ele se coloca entre os que trabalham e amaldiçoam o trabalho; debuxa o retrato dum trabalhador Insatisfeito e raivoso como tantos, por saber que isso valerá para os outros. É o trabalho escravo. Que interesse teria um escravo em trabalhar
  • 64. a fazenda do seu senhor de sol a sol e com uma chibata lhe esperando na entrada da porteira? Nenhum certamente. O trabalho do escravo não tem alvo nem esperança; é trabalho forçado. Este não seria em nenhum caso o de Salomão. Aqui está então a condenação dos que trabalham por obrigação física ou por mero egoísmo, como o rico da parábola, o qual encheu as suas arcas ao ponto de dizer à sua alma (note-se bem, à sua alma): "Minha alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos, descansa, come e bebe, e regala-te" (Luc. 12: 19). Este é o trabalho que Salomão está fustigando, egoísmo dos que se afadigam, para os outros comerem do fruto de seu trabalho. Se podemos interpretar o discurso do Pregador, é isto que está considerando. Ele mesmo faz esta amarga pergunta: E quem poderá dizer se será sábio ou estulto? Contudo, ele terá domínio sobre todo o ganho das minhas mãos (v. 19). Como diria o egoísta: Depois de mim virá alguém que talvez seja um tolo, um estulto, mas de qualquer maneira terá o domínio de tudo quanto estou ajuntando. Os que trabalham com tal pensamento serão sempre infelizes, pois lhes parece que o melhor seria levarem tudo para a sepultura, nada deixando para os outros. Para os tais tudo é vaidade mesmo. *Nota: Leia um capítulo em A Vida Cristã no Mundo Hoje, Hans Burki, pp. 30-47, editado pela JUERP, à venda na Casa Publicadora Batista, 1972.
  • 65. 2) Um recurso ao desespero (vv. 20 e 21). Salomão, baseando a sua filosofia no fato de que alguém trabalha para quem nada faz, então dá largas ao seu coração, para que se desse a tudo, menos ao trabalho, pois este seria útil para os que nada fizeram, e indo adiante, afirma: Porque há homem cujo trabalho é feito com sabedoria, ciência e destreza; contudo deixará o seu ganho como porção a quem por ele não se esforçou (v. 21). O homem que trabalha na persuasão de que outros é que vão lucrar do seu esforço, terminará por ser um preguiçoso, um vadio, pois trabalhar para quem nada faz é estultícia. Esta é a filosofia do homem que só pensa em si, no seu ganho, no seu estômago. Não é a filosofia dos homens que construíram este mundo, com grandes cidades e grandes prédios para outros morarem. Há um bairro no Rio de Janeiro, antigamente um prolongamento da Lapa, local de vadios e bêbados. Um homem imaginou construir ali os maiores prédios do Rio. Conseguiu, e depois morreu; entretanto, ainda hoje o nome Serrador lá está, num grande hotel construído por ele. Por que esse português, Serrador, se preocupou em construir em bairro elegante, sabendo que depois iria morrer e deixaria tudo para os outros? Esse o espírito dos que trabalham para a posteridade. O lado negativo dessa filosofia: o serviço dos egoístas, que Salomão tão admiravelmente representa no seu escrito. Se um homem trabalha só para si, logo se convence de que é pura vaidade, pois depressa morre e outros vão ficar com o produto do seu vigor. Todo esforço é penoso, todo trabalho traz canseira. De dia e de noite o seu coração se cansa nessa luta. Para quê? (v. 22). Logo morre, e para quem ajuntou ele? Para quem nada faz, para um vadio, talvez. Esta é a realidade do trabalho só para si. Quantos homens tudo fazem com esse ideal? Bem poucos.
  • 66. Não foi esse o alvo posto por Deus no coração humano quando lhe deu o jardim para cultivar, plantar e deixar depois para os filhos. Não é só no homem que Deus pós este ideal. As abelhas vão muito longe, adejar sobre as flores, colher o pólen e trazê-lo nas patinhas, que depois é amassado, por um processo que elas nunca ensinaram a nenhum sábio, para então termos o mel. Elas mesmas pouco comem dele. Somos nós os comedores do mel feito com tanta fadiga das abelhinhas. Os passarinhos e a natureza toda, idem. Todos trabalham para o futuro: é a lei divina. Então aprenda-se a lição do Pregador Salomão, de que todos os que trabalham apenas para si são uns tolos, e o seu serviço, pura vaidade debaixo do sol. Uma canseira sem finalidade. Se tivermos conseguido mostrar a finalidade dessas diversas digressões salomônicas, isto é, que está procurando mostrar o que a vida representa para as criaturas egoístas, sem visão do conjunto, tipos que vegetam à margem da vida e da sociedade humana, e formam realmente a escória, o lado negativo da vida, então teremos entendido todo o livro, no que ele tem de misterioso. Um espírito lúcido, capaz de enxergar muita coisa no escuro da vida, não iria supor que os ensinos de Eclesiastes realmente representam o pensamento do grande sábio Salomão. Ele se fez eco de uma parcela humana, que não se considera parte de um grande todo da mesma família, e então esvazia-se de si, dos seus conhecimentos, das suas obras, para falar como se fora um tolo, um egoísta, que espera receber dos seus parcos labores todos os proventos da sua loucura ou da sua operação. É um tipo de filosofia do escândalo de uns poucos, que só pensam em si, como se isso valesse por um código de ética social ou representasse o estilo de sabedoria divina, tão elevadamente expresso através da Bíblia. Salomão, o grande sábio, não iria dar à posteridade uma série de interrogações sem resposta, como se isso fosse a sua verdadeira concepção da vida. Não, ele não poderia fazer Isso, se quisesse. Então entendemos o Livro de Eclesiastes como uma resposta sarcástica aos que só pensam em si, para logo se convencerem de que tudo é vaidade, não adianta esforço, o melhor é comer e beber e depois morrer. Cada qual que se cuide e tire o melhor que puder dos seus poucos e sofridos dias de
  • 67. vida debaixo do sol, pois tudo é como correr atrás do vento. Vanitas vanitatum et omnia vanitas. SEGUNDO ESTUDO - UMA SÉRIE DE INDAGAÇÕES SEM RESPOSTA - 2:24- 4:3 1. Introdução (2:24-26) Este nosso Estudo começa por uma declaração muito Importante, qual seja a de ser Deus quem tudo dá, Inclusive o comer, o alegrar-se, o fazer qualquer outra coisa na vida, debaixo do céu. Deus dá ao homem a oportunidade e a sabedoria para fazer as coisas que deve realizar, persuasão por onde o autor do Eclesiastes prossegue na sua dissecação dos problemas da vida humana. A aceitação do fato de que Deus é tudo e dele tudo vem já nos ajuda a compreender que não estamos lidando com um cético, um incrédulo na existência divina. Há Deus. Isso ajuda a resolver muita coisa. Se há Deus, não há motivo para ceticismo, pois tudo