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EXCLUSIVO/ATP: REDUÇÃO DE TAXA NO CANAL DO PANAMÁ PODE DESONERAR US$ 129
MIL POR NAVIO DE GRÃO PARA CHINA
Por: Leticia Pakulski
São Paulo, 12/12/2020 - A Associação de Terminais Portuários Privados (ATP) trabalha para
tornar viável o transporte marítimo de grãos brasileiros para a China pelo Canal do Panamá.
Além de ter participado da conferência internacional Brazil Global Connection no Panamá, o
diretor-presidente da ATP, Murillo Barbosa, negocia com a administração do canal a assinatura
de um acordo de cooperação. A ideia é discutir a redução de taxas para utilização do Canal do
Panamá para navios que levam grãos dos portos do Arco Norte brasileiro, principalmente do
Amazonas, Maranhão e Pará, até a China. Uma diminuição na tarifa poderia gerar economia de
US$ 129 mil por navio destinado ao país asiático, na estimativa da ATP.
Atualmente, os navios graneleiros viajam grandes distâncias em direção à China, principal
mercado consumidor da soja brasileira, passando pelo Cabo da Boa Esperança, na África. Esse é
um trajeto mais demorado e demanda maior consumo de combustível quando comparado com
a passagem pelo Canal do Panamá, segundo a ATP. Porém, a alternativa do Canal do Panamá
não é praticada hoje no caso dos grãos, que têm baixo valor agregado, em razão das altas tarifas
cobradas para uso do canal.
Segundo estimativa da associação, a economia da rota pelo Canal do Panamá é de quatro dias e
13 horas, saindo da região do Arco Norte e indo para a China, o que equivale a uma redução de
US$ 129.356,11 no custo do frete, considerando uma diminuição nas despesas com navio e
combustível. Mas as taxas cobradas pelo canal ainda tornam inviável seu uso, deixando a viagem
pelo Cabo da Boa Esperança US$ 160 mil mais barata por navio.
Barbosa destaca que os portos do Arco Norte têm sido uma alternativa para escoamento de
parte da produção brasileira de grãos em relação aos portos do Sul e Sudeste. Segundo o
Estatístico Aquaviário da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), a participação
do Arco Norte no escoamento de soja e de milho para os mercados consumidores internacionais
chegou a 28% em 2018, com 29,6 milhões de toneladas transportadas. Entretanto, se o navio
segue dos portos do Arco Norte para a China pelo Cabo da Boa Esperança a distância percorrida
é maior do que se saísse pelo Sul e Sudeste. O uso do Canal do Panamá poderia encurtar o trajeto
ao menos para parte do território chinês, reduzindo o custo logístico. “O que acontece é que,
no canal do Panamá, as taxas são muito altas para o grão, porque é um canal que visa muito
contêineres, granel líquido, que são cargas mais nobres, e o nosso grão é muito barato”, afirma
Barbosa.
Entretanto, segundo ele, a ampliação do canal criou uma oportunidade para o Brasil. Isso
porque as novas reclusas, destinadas a navios maiores, os Neopanamax, de até 150 mil
toneladas, estão muito demandadas. Mas as antigas reclusas, para navios tipo Panamax, de até
70 mil toneladas, muito usados para transporte de grãos, estão com capacidade ociosa. “Pode
ser que haja um caminho para negociação de taxas melhores dessas reclusas antigas que possa
viabilizar parte da nossa produção ser escoada pelo Canal do Panamá”, disse Barbosa. “Essa é
uma negociação muito longa e estamos no início, mas acho que em algum momento poderemos
chegar a um bom entendimento.”
A ATP discute com a administração do canal a assinatura de um acordo de cooperação para
discutir o tema “com profundidade maior”, segundo Barbosa. “Dos 29 associados da ATP, 10
trabalham com agronegócio, então para nós é um segmento importante, por isso, temos um
olhar especial para esse lado da logística do grão”, afirmou. O representante lembra que os
principais concorrentes do Brasil na exportação de grãos são EUA e Argentina, que têm custo
logístico menor comparado com o nacional. “O nosso ganho é na tecnologia de produção. Se
conseguirmos ir aos poucos reduzindo o custo logístico, nosso campo vai ficar imbatível, vamos
cada vez produzir mais de acordo com a demanda mundial.”
Segundo Barbosa, ainda não há um prazo para conclusão das negociações, mas o Canal do
Panamá vem demonstrando interesse no escoamento dos grãos brasileiros. Ele comenta que,
há dois anos, na primeira vez que foi ao Panamá, autoridades do canal já haviam feito uma
apresentação citando especificamente a produção do norte de Mato Grosso como uma
possibilidade para reduzir a ociosidade da utilização das reclusas antigas. “Obviamente, se eles
sentem que há uma oportunidade, temos que trabalhar em cima disso”, conclui.

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REDUÇÃO DE TAXA NO CANAL DO PANAMÁ PODE DESONERAR US$ 129 MIL POR NAVIO DE GRÃO PARA CHINA

  • 1. EXCLUSIVO/ATP: REDUÇÃO DE TAXA NO CANAL DO PANAMÁ PODE DESONERAR US$ 129 MIL POR NAVIO DE GRÃO PARA CHINA Por: Leticia Pakulski São Paulo, 12/12/2020 - A Associação de Terminais Portuários Privados (ATP) trabalha para tornar viável o transporte marítimo de grãos brasileiros para a China pelo Canal do Panamá. Além de ter participado da conferência internacional Brazil Global Connection no Panamá, o diretor-presidente da ATP, Murillo Barbosa, negocia com a administração do canal a assinatura de um acordo de cooperação. A ideia é discutir a redução de taxas para utilização do Canal do Panamá para navios que levam grãos dos portos do Arco Norte brasileiro, principalmente do Amazonas, Maranhão e Pará, até a China. Uma diminuição na tarifa poderia gerar economia de US$ 129 mil por navio destinado ao país asiático, na estimativa da ATP. Atualmente, os navios graneleiros viajam grandes distâncias em direção à China, principal mercado consumidor da soja brasileira, passando pelo Cabo da Boa Esperança, na África. Esse é um trajeto mais demorado e demanda maior consumo de combustível quando comparado com a passagem pelo Canal do Panamá, segundo a ATP. Porém, a alternativa do Canal do Panamá não é praticada hoje no caso dos grãos, que têm baixo valor agregado, em razão das altas tarifas cobradas para uso do canal. Segundo estimativa da associação, a economia da rota pelo Canal do Panamá é de quatro dias e 13 horas, saindo da região do Arco Norte e indo para a China, o que equivale a uma redução de US$ 129.356,11 no custo do frete, considerando uma diminuição nas despesas com navio e combustível. Mas as taxas cobradas pelo canal ainda tornam inviável seu uso, deixando a viagem pelo Cabo da Boa Esperança US$ 160 mil mais barata por navio. Barbosa destaca que os portos do Arco Norte têm sido uma alternativa para escoamento de parte da produção brasileira de grãos em relação aos portos do Sul e Sudeste. Segundo o Estatístico Aquaviário da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), a participação do Arco Norte no escoamento de soja e de milho para os mercados consumidores internacionais chegou a 28% em 2018, com 29,6 milhões de toneladas transportadas. Entretanto, se o navio segue dos portos do Arco Norte para a China pelo Cabo da Boa Esperança a distância percorrida é maior do que se saísse pelo Sul e Sudeste. O uso do Canal do Panamá poderia encurtar o trajeto ao menos para parte do território chinês, reduzindo o custo logístico. “O que acontece é que, no canal do Panamá, as taxas são muito altas para o grão, porque é um canal que visa muito contêineres, granel líquido, que são cargas mais nobres, e o nosso grão é muito barato”, afirma Barbosa. Entretanto, segundo ele, a ampliação do canal criou uma oportunidade para o Brasil. Isso porque as novas reclusas, destinadas a navios maiores, os Neopanamax, de até 150 mil toneladas, estão muito demandadas. Mas as antigas reclusas, para navios tipo Panamax, de até 70 mil toneladas, muito usados para transporte de grãos, estão com capacidade ociosa. “Pode ser que haja um caminho para negociação de taxas melhores dessas reclusas antigas que possa viabilizar parte da nossa produção ser escoada pelo Canal do Panamá”, disse Barbosa. “Essa é uma negociação muito longa e estamos no início, mas acho que em algum momento poderemos chegar a um bom entendimento.”
  • 2. A ATP discute com a administração do canal a assinatura de um acordo de cooperação para discutir o tema “com profundidade maior”, segundo Barbosa. “Dos 29 associados da ATP, 10 trabalham com agronegócio, então para nós é um segmento importante, por isso, temos um olhar especial para esse lado da logística do grão”, afirmou. O representante lembra que os principais concorrentes do Brasil na exportação de grãos são EUA e Argentina, que têm custo logístico menor comparado com o nacional. “O nosso ganho é na tecnologia de produção. Se conseguirmos ir aos poucos reduzindo o custo logístico, nosso campo vai ficar imbatível, vamos cada vez produzir mais de acordo com a demanda mundial.” Segundo Barbosa, ainda não há um prazo para conclusão das negociações, mas o Canal do Panamá vem demonstrando interesse no escoamento dos grãos brasileiros. Ele comenta que, há dois anos, na primeira vez que foi ao Panamá, autoridades do canal já haviam feito uma apresentação citando especificamente a produção do norte de Mato Grosso como uma possibilidade para reduzir a ociosidade da utilização das reclusas antigas. “Obviamente, se eles sentem que há uma oportunidade, temos que trabalhar em cima disso”, conclui.