1. ESCOLA MUNICIPAL MANOEL MONTEIRO
O desenho de Robertinho
Texto de Marco Aurélio Dias
São Lourenço, MG, setembro de 2005
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O DESENHO DE ROBERTINHO
N
a Escola Municipal Manoel Monteiro tive uma das maiores lições da
minha vida. E aprendi que a relação professor-aluno é uma via de mão
dupla. Além de ter que ensinar, o professor tem que aprender os pontos
de vista do aluno.
Certa tarde, eu estava na secretaria da Escola Municipal Manoel Monteiro,
onde trabalhava na secretaria, quando a supervisora pedagógica pediu que eu
ficasse um pouco numa turma de PA enquanto a professora participava de uma
reunião.
Fiquei com as crianças. Distribui papel e lápis. Depois pedi a cada uma que
desenhasse sua casa. Fizeram o que pedi e ficaram ocupadas. Quando me
entregaram os desenhos, notei que Robertinho foi o único aluno que fez um
desenho que não se parecia com uma casa. Achei que ele não sabia ainda
rabiscar a forma de uma casa, pois não vi nenhum telhado. Tratava-se de
alguns riscos desencontrados dentro de um quadrado. Falei para Robertinho
que uma casa não era daquele jeito e que iria ensiná-lo a desenhar uma casa.
Com o giz na mão, já ia me dirigindo para o quadro negro. Robertinho, porém,
me respondeu que aquele desenho era uma casa sim. Disse que aquela era a
sua casa, e colocou o dedinho no desenho dizendo: aqui é o meu quarto, aqui
a sala, aqui o quarto de papai e mamãe, e foi falando enquanto eu, desarmado,
descobria que ela tinha desenhado a casa por dentro e não por fora. Ela tinha
feito uma planta da casa onde morava.
Recolhi os desenhos, mas guardei aquele comigo. Logo a professora
chegou. Eu voltei para a secretaria. Estava quase na hora de bater o sinal.
No contato com as crianças estamos condicionados a ensinar e não a
aprender, e enquanto não descobrirmos o ponto de vista delas, acharemos que
estão erradas nas suas colocações. Numa educação mais zelosa o educador
tem que ensinar, mas precisa tomar cuidado para não impor seus pontos de
vista e bloquear a espontaneidade do aluno. Eu nunca deveria ter dito ao
Robertinho que iria ensiná-lo a desenhar uma casa, alegando que ele não
sabia. Eu poderia até ensinar-lhe o meu modo de desenhar, sem, contudo,
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A crônica “O DESENHO DE ROBERTINHO” tem um fundo pedagógico e seu
objetivo é mostrar que quando nos propomos a ensinar, estamos também aprendendo.
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O desenho de Robertinho
Texto de Marco Aurélio Dias
São Lourenço, MG, setembro de 2005
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desfazer do seu modo de desenhar, nem dizer que ele não sabia desenhar.
Ora, uma casa não se desenha assim ou assado. Desenha-se como o
desenhista quiser. Se eu não desse para Robertinho a chance de se explicar
ou se ele não quisesse me explicar o desenho, certamente eu teria ficado com
a impressão de que ele não sabia desenhar uma casa com telhadinho, e ele,
por sua vez, poderia armazenar no seu inconsciente aquele acontecimento
como uma repressão que viria a funcionar, mais tarde, como um bloqueio na
hora de enfrentar determinadas situações.
Quando terminei meu horário, saí da escola. A casa de Robertinho era no
caminho que eu sempre fazia. Fui andando. A mãe do menino estava sentada
na varanda. Parei para conversar um pouco. Mostrei-lhe o desenho do filho e
perguntei se realmente a casa dela tinha aqueles cômodos desenhados no
papel. Ela confirmou que era daquele jeito a casa por dentro.
Infelizmente, depois de algum tempo, procurei o desenho de Robertinho,
porém não o achei mais...
Desde então (logo após o acontecimento narrado) procuro sempre entender
o que a outra pessoa está tentando me comunicar.
Marco Aurélio Dias
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A crônica “O DESENHO DE ROBERTINHO” tem um fundo pedagógico e seu
objetivo é mostrar que quando nos propomos a ensinar, estamos também aprendendo.
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