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As interrogações                                               Prémio Nobel da Paz
                       de Liu Xiaobo                                                        2010


                       «Eu não tenho inimigos,
                       nem odeio ninguém. Nem                                        Dia Escolar da
os polícias que me vigiaram, prenderam e me
interrogaram, nem os advogados que me pro-                                           Não Violência
cessaram, nem os juízes que me condenaram,
são meus inimigos. Embora eu não possa acei-
tar a vigilância, prisão, processos ou condena-                                          e da Paz
ção, respeito as suas profissões e as suas perso-
nalidades. O ódio corrói a consciência e sabedo-                                       30 de Janeiro
ria das pessoas; a mentalidade de hostilidade
pode envenenar o espírito de uma nação, incitar
a uma vida violenta e a conflitos de morte, des-
trói a tolerância e humanidade de uma socieda-
de, e bloqueia o progresso de uma nação na sen-
da da liberdade e democracia.
  Contudo, eu tenho esperança de conseguir
transcender as minhas vicissitudes […] de
denunciar a hostilidade do regime com a melhor
das intenções, e de acabar com o ódio através
do amor.
  Eu não me sinto culpado por seguir os meus
direitos constitucionais e o direito de liberdade    Escola Secundária de Vagos
de expressão, e por exercer em pleno a minha
responsabilidade social como cidadão chinês.
Mesmo que esteja acusado por causa disso, não
tenho queixas.
  A reforma política da China deve ser gradual,
pacífica, ordenada e controlável, e deve ser inte-
ractiva, desde cima a baixo e de baixo a cima.
[…]                                                  Avenida Padre Alírio de Mello
Por isso oponho-me a sistemas de governo que         3840-404 VAGOS
                                                                                        Liu Xiaobo
sejam ditaduras ou monopólios. Isto não é inci-      Tel: 234793774
tar à subversão do poder do Estado. Oposição         Fax: 234792643
                                                     http://www.esvagos.edu.pt/             BE/CRE - 2011
não é equivalente a subversão.»
Retalhos da Vida de um Nobel da Paz
Biografia                                 Activista Político                             Poeta
                                          Liu tem sido, acima de tudo, crítico do Par-   «A poesia é por vezes excessivamente direc-
                                                                                         ta, sendo mera reprodução de um lamento,
                                          tido Comunista da China e alcançou fama
Liu Xiaobo nasceu em Changchun, na                                                       de uma atitude. A poesia, segundo os princí-
                                          com o Manifesto que o levou de imediato
                                                                                         pios pelos quais a concebo, deve ser mais do
província de Jilin, em 1955, numa famí-   para trás das grades: a Carta de 2008, um      que isso. Deve ser a busca por aquilo que
lia de intelectuais, a 28 de dezembro     documento de apoio aos direitos humanos        esta ínsito, aquilo que os olhos não vêem mas
de 1955. É um crítico literário, escri-   e às reformas democráticas na China, con-      o coração sente, a invenção de uma lingua-
tor, professor, intelectual e activista   tra a repressão do regime, que recebeu         gem que adivinha todas as compreensões do
pelos direitos humanos e por reformas     milhares de assinaturas pelo mundo fora.       mundo. »
na República Popular da China.
                                          Liu Xiaobo foi nomeado Prémio Nobel da                                                     Liu Xiaobo
Anos 80 – Liu Xiaobo tornou-se conhe-     Paz de 2010, distinguido pela sua luta pela
cido no meio académico após escrever      liberdade, uma notícia muito censurada na
uma série de teses criticando a filoso-
fia de Li Zehou.                          China. Por se encontrar preso em Pequim e
                                          impedido de se fazer representar na ceri-
Finais de 80 – professor convidado        mónia de entrega do prémio Nobel da Paz,
em várias universidades fora da China,    deixou a sua cadeira vazia em Oslo a 10 de
como as Universidades de Colômbia,        Outubro de 2010, onde o comité norueguês
Oslo e Havai.                             colocou a medalha e o diploma que o aca-       UM PEQUENO RATO NA PRISÃO
                                          démico chinês receberia se estivesse pre-      para a pequena Xia
Em 1989 – quando os Protestos da
                                          sente.                                         um pequeno rato passa através das barras de ferro,
Praça Tian An Men ocorreram, Liu
                                                                                         anda para trás e para a frente no parapeito da janela,
estava fora do país, mas voltou à China
                                                                                         os muros sem casca vigiam-no,
para se juntar ao movimento.                                                             os mosquitos cheios de sangue vigiam-no,
                                                                                         ele até desenha a lua do seu céu,
10 de Dezembro de 2010 – Entre crí-                                                      a sombra de prata que desencoraja a beleza
ticas ao regime chinês e ovações a Liu                                                   como se esta voasse
Xiaobo, repetiram-se na cerimónia de
atribuição do Nobel da Paz os apelos à                                                   um homem muito nobre o rato esta noite,
libertação do dissidente e à democrati-                                                  não come nem bebe nem range os dentes quando
                                                                                         olha
zação na China.                                                                          fixamente com olhos cintilantes e dissimulados
                                                                                         passeando ao luar.

                                                                                                                                     Liu Xiaobo

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  • 1. As interrogações Prémio Nobel da Paz de Liu Xiaobo 2010 «Eu não tenho inimigos, nem odeio ninguém. Nem Dia Escolar da os polícias que me vigiaram, prenderam e me interrogaram, nem os advogados que me pro- Não Violência cessaram, nem os juízes que me condenaram, são meus inimigos. Embora eu não possa acei- tar a vigilância, prisão, processos ou condena- e da Paz ção, respeito as suas profissões e as suas perso- nalidades. O ódio corrói a consciência e sabedo- 30 de Janeiro ria das pessoas; a mentalidade de hostilidade pode envenenar o espírito de uma nação, incitar a uma vida violenta e a conflitos de morte, des- trói a tolerância e humanidade de uma socieda- de, e bloqueia o progresso de uma nação na sen- da da liberdade e democracia. Contudo, eu tenho esperança de conseguir transcender as minhas vicissitudes […] de denunciar a hostilidade do regime com a melhor das intenções, e de acabar com o ódio através do amor. Eu não me sinto culpado por seguir os meus direitos constitucionais e o direito de liberdade Escola Secundária de Vagos de expressão, e por exercer em pleno a minha responsabilidade social como cidadão chinês. Mesmo que esteja acusado por causa disso, não tenho queixas. A reforma política da China deve ser gradual, pacífica, ordenada e controlável, e deve ser inte- ractiva, desde cima a baixo e de baixo a cima. […] Avenida Padre Alírio de Mello Por isso oponho-me a sistemas de governo que 3840-404 VAGOS Liu Xiaobo sejam ditaduras ou monopólios. Isto não é inci- Tel: 234793774 tar à subversão do poder do Estado. Oposição Fax: 234792643 http://www.esvagos.edu.pt/ BE/CRE - 2011 não é equivalente a subversão.»
  • 2. Retalhos da Vida de um Nobel da Paz Biografia Activista Político Poeta Liu tem sido, acima de tudo, crítico do Par- «A poesia é por vezes excessivamente direc- ta, sendo mera reprodução de um lamento, tido Comunista da China e alcançou fama Liu Xiaobo nasceu em Changchun, na de uma atitude. A poesia, segundo os princí- com o Manifesto que o levou de imediato pios pelos quais a concebo, deve ser mais do província de Jilin, em 1955, numa famí- para trás das grades: a Carta de 2008, um que isso. Deve ser a busca por aquilo que lia de intelectuais, a 28 de dezembro documento de apoio aos direitos humanos esta ínsito, aquilo que os olhos não vêem mas de 1955. É um crítico literário, escri- e às reformas democráticas na China, con- o coração sente, a invenção de uma lingua- tor, professor, intelectual e activista tra a repressão do regime, que recebeu gem que adivinha todas as compreensões do pelos direitos humanos e por reformas milhares de assinaturas pelo mundo fora. mundo. » na República Popular da China. Liu Xiaobo foi nomeado Prémio Nobel da Liu Xiaobo Anos 80 – Liu Xiaobo tornou-se conhe- Paz de 2010, distinguido pela sua luta pela cido no meio académico após escrever liberdade, uma notícia muito censurada na uma série de teses criticando a filoso- fia de Li Zehou. China. Por se encontrar preso em Pequim e impedido de se fazer representar na ceri- Finais de 80 – professor convidado mónia de entrega do prémio Nobel da Paz, em várias universidades fora da China, deixou a sua cadeira vazia em Oslo a 10 de como as Universidades de Colômbia, Outubro de 2010, onde o comité norueguês Oslo e Havai. colocou a medalha e o diploma que o aca- UM PEQUENO RATO NA PRISÃO démico chinês receberia se estivesse pre- para a pequena Xia Em 1989 – quando os Protestos da sente. um pequeno rato passa através das barras de ferro, Praça Tian An Men ocorreram, Liu anda para trás e para a frente no parapeito da janela, estava fora do país, mas voltou à China os muros sem casca vigiam-no, para se juntar ao movimento. os mosquitos cheios de sangue vigiam-no, ele até desenha a lua do seu céu, 10 de Dezembro de 2010 – Entre crí- a sombra de prata que desencoraja a beleza ticas ao regime chinês e ovações a Liu como se esta voasse Xiaobo, repetiram-se na cerimónia de atribuição do Nobel da Paz os apelos à um homem muito nobre o rato esta noite, libertação do dissidente e à democrati- não come nem bebe nem range os dentes quando olha zação na China. fixamente com olhos cintilantes e dissimulados passeando ao luar. Liu Xiaobo