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Catástrofechilena» RODRIGO CRAVEIRO
“A
gora mesmo houve
outro abalo forte. San-
to Deus, nos ajude!”,
afirmou ao Correio a
professora Elsa Echeverria, 53
anos,às16h20(horadeBrasília)de
ontem. Moradora de Iquique, na
região deTarapacá, ela ainda ten-
tava se acostumar com as réplicas
doterremotode8,2grausnaesca-
la Richter (aberta, raramente che-
gaa9)quesacudiuonortedoChi-
le às 20h46 de terça-feira e provo-
couumtsunamicomondasdeaté
2,5m. Até o fechamento desta edi-
ção, o Serviço Geológico dos Esta-
dos Unidos (USGS, pela sigla em
inglês) tinha registrado 48 abalos
secundários, sete deles com mag-
nitudeigualousuperiora5,5graus.
Às 23h43 de ontem, uma forte ré-
plicade7,8grausforçounovareti-
radadasáreascosteiras.Umalerta
de tsunami voltou a ser emitido
para o Chile e o Peru. Até o fecha-
mentodessaedição,nãohaviano-
tíciassobremortosouferidos.
A presidente chilena, Michelle
Bachelet, visitou as áreas afetadas
e decretou zonas de catástrofe as
regiões deTarapacá, Arica e Pari-
nacota. A medida deve agilizar a
liberação de verbas. No início da
tarde, em Iquique, a mandatária
elogiou as autoridades munici-
pais e regionais no gerenciamen-
to pós-desastre. “Elas enfrenta-
ram essa tarefa titânica e, de mo-
do exemplar, deram resposta a
um terremoto e a um tsunami”,
declarou.“Estamos aqui para nos
inteirar da difícil situação vivida
pelos chilenos. (…) O governo es-
tá aqui para apoiá-los.” Ao con-
trário do terremoto de 27 de feve-
reiro de 2010, que matou cerca de
700 pessoas, a reação do Palácio
de La Moneda ao abalo de an-
teontemfoirápida,comoaciona-
mento de um alerta de tsunami
que vigorou por mais de seis ho-
ras.Às18h05,Bacheletdesembar-
cou em Arica, onde pernoitaria e
receberia relatórios atualizados
sobreoimpactodotremor.
De acordo com o Escritório
Nacional de Emergências do
Chile (Onemi), o terremoto de
anteontem deixou pelo menos
seis mortos, sendo três por en-
farte, dois por esmagamento e
um por acidente automobilísti-
co durante a remoção para áreas
mais afastadas da costa. No to-
tal, 972.456 pessoas foram reti-
radas de suas casas. Grandes
fendas se abriram no solo, dani-
ficando oito rodovias.
Pesadelo
ElsaEcheverriatalvezjamaisvá
se esquecer do que sentiu.“Na es-
curidão total, nós escutávamos as
TSUNAMI/Terremotode8,2grausnaescalaRichterdeixouseismortosecausoudestruição.Maisde970mil
pessoasforamremovidasanteavançodomar.Réplicade7,8grausdisseminouopâniconofimdanoitedeontem
CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, quinta-feira, 3 de abril de 2014 • Mundo • 15
VIOLÊNCIA
Tiroteiomataquatroem
basemilitardoTexas
EUA
Justiça
ampliauso
deverbasem
campanha
» GABRIELA FREIRE VALENTE
A Suprema Corte dos Esta-
dosUnidosderrubou,ontem,o
limite imposto às contribui-
ções privadas para campanhas
eleitoraisfederais.Adecisãovai
permitir que doadores apli-
quem recursos em quantos
candidatos, partidos e comitês
desejarem. A medida, aprova-
da por 5 votos a favor e 4 con-
tra, é vista como uma oportu-
nidade para a ampliação do
poder político dos norte-ame-
ricanos mais ricos, ao intensifi-
car o financiamento de deter-
minadas campanhas. O presi-
dente Barack Obama defendia
a manutenção das regras e, se-
gundo o porta-voz da Casa
Branca, Josh Earnest, o gover-
no ficou“desapontado” com o
resultado da votação.“Estamos
revendoosdetalhesdadecisão,
mas a Procuradoria-Geral de-
fendeu a constitucionalidade
dalei;então,estamosdesapon-
tadoscomoanúncio”,declarou
Earnesta jornalistas.
A Corte deu razão ao em-
presário Shaun McCutcheon,
do estado do Alabama, que de-
sejava contribuir com um va-
lor maior do que era autoriza-
do. Antes da determinação do
tribunal, a legislação america-
napermitiaqueumúnicodoa-
dor contribuísse com até US$
48,6 mil diretamente para can-
didatos à Câmara dos Deputa-
dos ou ao Senado, sem ultra-
passar o limite de US$ 5,2 mil
para cada postulante. A Justiça
eliminou a restrição ao total de
financiamento,masmanteveo
teto das doações para cada
candidato. A partir de agora, o
limite de doações aos comitês
dos partidos aumenta de US$
74,6 mil para US$ 1 milhão a
cada ciclo eleitoral de dois
anos. De acordo com a agência
Reuters,asnovasregraspermi-
tem que um único doador in-
vista até US$ 6 milhões em ca-
da período eleitoral.
Oligarquias
Steffen Schmidt, professor
de ciência política da Universi-
dadeEstadualdeIowa,acredita
queadeterminaçãovaiampliar
a influência política das cama-
das mais ricas do país e trazer
reflexosparaadisputapelasca-
deiras da Câmara dos Deputa-
dos e do Senado, marcadas pa-
ra novembro.“Agora, os oligar-
cas de toda parte dos EUA po-
dem oferecer fundos para os
candidatos preferidos. Isso é
ruim para a democracia ameri-
cana e perigoso para o futuro”,
pondera. O estudioso observa
que os doadores do Partido Re-
publicano são considerados os
mais ricos e motivados.“Eu es-
tou quase certo de que os repu-
blicanosvãoconquistaramaio-
ria no Senado e, certamente,
controlaraCâmara”,opinou.
Schmidtalertaqueafaltade
limites na aplicação da verba
tem “profunda influência cor-
ruptora na política”. O argu-
mento sustenta a oposição de
Obama à eliminação das restri-
ções. O chefe da Suprema Cor-
te,JohnRoberts,alegaqueote-
todasdoaçõescontribuiupou-
coparaenfrentaracorrupçãoe
o suborno, além de ter“restrin-
gido a participação no proces-
so democrático”.
A mudança nas regras foi
anunciada três anos depois de
amáximainstânciajudicialdos
EUA ter suspendido o teto para
financiamento de campanha
por parte de empresas e de sin-
dicatos, em uma decisão forte-
mente criticada por Obama.
US$ 6
MILHÕES
Estimativa de quanto um
indivíduo poderá investir
em campanhas eleitorais a
cada ciclo de dois anos.
O presidente Barack Obama: “Estamos com o coração partido”
Asondasde2,5mdealturadanificaramváriosbarcosnacidadedeIquique:tsunamiprovocadopelotremorlevousustoeprejuízoaospescadores
sirenes de tsunami sem que pu-
déssemos olhar pela janela”, con-
tou.Estudantededesenhográfico
na UniversidadeTecnológica do
Chile, Fernanda Andrea Cornejo,
25 anos, lembra-se da sensação
“horrível”. “Eu pensei que seria
apenas mais um tremor, quando,
derepente,aminhacasacomeçou
a se mover. Foi tão forte, que algu-
mascoisascaíramsobremeuspés.
Eu ouvia o barulho de vidros se
quebrando e de móveis caindo”,
relatou à reportagem a moradora
de Iquique. Ela e o noivo saíram à
rua o mais rápido que puderam.
“Quando pensávamos que o tre-
mor tinha passado, ele veio forte e
pior. As pessoas gritavam e podía-
mosouviraterrasemovendo.”
Em Arica, o funcionário públi-
coSergioAbarcaDelgado,31anos,
afirmou que o tsunami de 2,1m
destruiu barracas à beira-mar e
avançou 50m terra adentro.“Com
azonadecatástrofe,ogovernovai
poder injetar e mobilizar recursos
para fazer frente à emergência. Is-
soénecessárioporcausadoalerta
de tsunami”, afirmou ao Correio,
pela internet. Por sua vez, o estu-
dante de direito Carlos Alberto Al-
tamirano, 26 anos, disse que em
Arica não houve o acionamento
de alarmes.“Uma rádio informa-
va ou desinformava, produto do
caos”, criticou.“A parte central da
cidade sofreu muitos danos. Dois
restaurantes à beira-mar ficaram
completamentedestruídos.”
Povo fala
JoséAlfredoMoralesDonaire,
25 anos, jornalista,
morador de Iquique
“Esseéoquarto
terremotoque
enfrento,apósdois
nazonanorte
(2005e2007)eum
emSantiago(2010).
Essetremorfoio
maisforteeintensoquesenti.Foi
delargaduraçãoe,
imediatamente,aeletricidadefoi
cortada.Aspessoassemoveramàs
áreassegurasrapidamente.Houve
muitopânico.Tivemuitomedo.”
ElsaEcheverria,
53 anos, professora,
moradora de Iquique
“Eu estava com
minha família em
um prédio de
frente ao mar, no
23º andar. Foi
terrível, pois não
podíamos ficar de
pé. Pensamos que o edifício
cairia. As cerâmicas do piso se
soltaram e começou a cair
estuque (argamassa) do teto.
Nunca na minha vida senti tanto
medo.”
ClaudiaMiranda,
35 anos, cantora,
moradora de Iquique
“Aqui, em Iquique,
as pessoas estão
assustadas e
preocupadas. Já
temos
eletricidade, mas o
abastecimento de
água ainda não foi restabelecido.
No porto, houve perdas de até
80% dos barcos de pescadores e
das lanchas. A avenida que une a
comuna de Hospício à cidade
está cortada.”
CarlosAlbertoR.Altamirano,
26 anos, estudante de direito,
morador de Arica
“O terremoto de
terça-feira à noite
começou com um
leve movimento e
ficou mais intenso.
Quinze segundos
depois, era
fortíssimo. Os carros
estacionados se moviam. O
tremor durou cerca de 90
segundos. As pessoas reagiram
em massa, com temor, mas não vi
ninguém com ataque de pânico.”
Fotos:Arquivopessoal
Fotos: Aldo Solimano/AFP
Moradorescaminhamaoladodefendaemrodovianamesmaregião
Larry Downing/Reuters
“Um ótimo lugar.” A inscri-
ção na placa na entrada de Fort
Hood (Texas), a maior base mili-
tar dos Estados Unidos, contras-
tava ontem com a segunda tra-
gédia em menos de cinco anos.
Um tiroteio no local, que reúne
70 mil pessoas, incluindo um
efetivo de 42 mil homens, ma-
tou pelo menos quatro pessoas
e deixou 16 feridas. Entre os
mortos, estaria o atirador, iden-
tificado como o soldado Ivan
López, 34 anos, de origem his-
pânica. Ele teria cometido suicí-
dio após o ataque.
De acordo com a rede de tevê
CNN, uma avaliação inicial
apontava que causa do inciden-
te teria sido uma briga entre
dois soldados, no prédio da Bri-
gada Médica de Fort Hood. Ló-
pez, motorista de um caminhão
militar, usou uma pistola se-
miautomática e vestia um uni-
forme de camuflagem. Em 5 de
novembro de 2009, o major Ni-
dal Hassan disparou no mesmo
local, provocando a morte de 13
colegas, antes de ser executado
por um policial civil.
“Estamos com o coração par-
tido pelo fato de algo como isso
ter voltado a ocorrer. (…) Eu
apenas espero que todos os
americanos mantenham as fa-
mílias e a comunidade de Fort
Hood em seus pensamentos e
em suas orações”, declarou o
presidente dos Estados Unidos,
Barack Obama. De acordo com
ele, o tiroteio “reabre a dor do
que aconteceu em Fort Hood,
cinco anos atrás”.
O secretário de Defesa norte-
americano, Chuck Hagel, classi-
ficou o novo tiroteio de uma
“terrível tragédia”. “Quando te-
mos esse tipo de tragédia em
nossas bases, algo não está fun-
cionando. (…) Toda vez que vo-
cê perde seu pessoal para esse
tipo de tragédia, é um proble-
ma”, disse. O perfil oficial de Fort
Hood no microblog Twitter fez
uma recomendação aos milita-
res: “Todo o pessoal no posto
deve se abrigar no local”.
“Amo você”
Às 16h46 (18h46 em Brasí-
lia), Natalie Ybarra recebeu um
telefonema do marido, sargen-
to em Fort Hood. “Eu vou para
casa tarde hoje. Há alguém ati-
rando no posto. Vou pegar
meus soldados e voltar à com-
panhia. Eu amo você”, disse o
marido, segundo ela relatou ao
Correio, por meio da internet.
A ligação ocorreu 20 minutos
após o início do tiroteio. “Logo
depois, Fort Hood foi ‘tranca-
da’. Eu recebi uma mensagem
do capitão dizendo que ele es-
tava a salvo. E passei a telefo-
nar para outras esposas”, acres-
centou. Natalie acredita que
não conhecia Ivan López. “Foi
apenas uma altercação entre
soldados. Alguém ficou maluco
com alguma coisa e começou a
atirar. Deve ter ocorrido duran-
te um treinamento, porque não
é comum eles carregarem ar-
mas fora de simulações de
combate”, opinou. Segundo
ela, às 20h53 (22h53 em Brasí-
lia), as sirenes deixaram de
soar, indicando que a situação
estava sob controle. (RC)