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DUPLO SILÊNCIO
 (Lenda Judaica)
Dois amigos cultivavam o mesmo campo de
 trigo, trabalhando arduamente a terra com
amor e dedicação, numa luta estafante, às
   vezes inglória, à espera de um resultado
                compensador.
Passam-se anos de pouco ou nenhum
  retorno. Até que um dia, chegou a
grande colheita. Perfeita, abundante,
    magnífica, satisfazendo os dois
     agricultores que a repartiram
        igualmente, eufóricos.

    Cada um seguiu o seu rumo.
À noite, já no leito, cansado da brava lida
   daqueles últimos dias, um deles pensou:
  "Eu sou casado, tenho filhos fortes e bons,
 uma companheira fiel e cúmplice. Eles me
ajudarão no fim da minha vida. O meu amigo
   é sozinho, não se casou, nunca terá um
   braço forte a apoiá-lo. Com certeza, vai
 precisar muito mais do dinheiro da colheita
                   do que eu".

  Levantou-se silencioso para não acordar
ninguém, colocou metade dos sacos de trigo
       recolhidos na carroça e saiu.
Ao mesmo tempo, em sua casa, o outro não
          conciliava o sono, questionando:
 "Para que preciso de tanto dinheiro se não tenho
   ninguém para sustentar, já estou idoso para ter
 filhos e não penso mais em me casar. As minhas
necessidades são muito menores do que as do meu
  sócio, com uma família numerosa para manter".

Não teve dúvidas, pulou da cama, encheu a sua
carroça com a metade do produto da boa terra e
saiu pela madrugada fria, dirigindo-se à casa do
outro. O entusiasmo era tanto que não dava para
              esperar o amanhecer.
Na estrada escura e nebulosa daquela
   noite de inverno, os dois amigos
   encontraram-se frente a frente.

Olharam-se espantados. Mas não foram
   necessárias as palavras para que
    entendessem a mútua intenção.
Amigo é aquele que no seu
silêncio escuta o silêncio do outro.
         Colaboração: Sophia H. B. P. de C. Ferreira

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Duplo silencio

  • 2. Dois amigos cultivavam o mesmo campo de trigo, trabalhando arduamente a terra com amor e dedicação, numa luta estafante, às vezes inglória, à espera de um resultado compensador.
  • 3. Passam-se anos de pouco ou nenhum retorno. Até que um dia, chegou a grande colheita. Perfeita, abundante, magnífica, satisfazendo os dois agricultores que a repartiram igualmente, eufóricos. Cada um seguiu o seu rumo.
  • 4. À noite, já no leito, cansado da brava lida daqueles últimos dias, um deles pensou: "Eu sou casado, tenho filhos fortes e bons, uma companheira fiel e cúmplice. Eles me ajudarão no fim da minha vida. O meu amigo é sozinho, não se casou, nunca terá um braço forte a apoiá-lo. Com certeza, vai precisar muito mais do dinheiro da colheita do que eu". Levantou-se silencioso para não acordar ninguém, colocou metade dos sacos de trigo recolhidos na carroça e saiu.
  • 5. Ao mesmo tempo, em sua casa, o outro não conciliava o sono, questionando: "Para que preciso de tanto dinheiro se não tenho ninguém para sustentar, já estou idoso para ter filhos e não penso mais em me casar. As minhas necessidades são muito menores do que as do meu sócio, com uma família numerosa para manter". Não teve dúvidas, pulou da cama, encheu a sua carroça com a metade do produto da boa terra e saiu pela madrugada fria, dirigindo-se à casa do outro. O entusiasmo era tanto que não dava para esperar o amanhecer.
  • 6. Na estrada escura e nebulosa daquela noite de inverno, os dois amigos encontraram-se frente a frente. Olharam-se espantados. Mas não foram necessárias as palavras para que entendessem a mútua intenção.
  • 7. Amigo é aquele que no seu silêncio escuta o silêncio do outro. Colaboração: Sophia H. B. P. de C. Ferreira