Mapa de circulação proibição de giros rua 13 de maio e rua dos palmares
A Pizza Cai Na Folia
1. Capa
Tem confete
nessa pizza
SÁTIRA | Alvos preferidos para as brincadeiras dos foliões,
políticos preparam sapatos e ouvidos para o carnaval da eleição
Por Ivo Dantas Palmeiras, enfim resolvida durante o jantar homens do povo são o alvo preferido dos foli-
em uma pizzaria. Daí não demorou para cair ões, ainda mais em ano de eleição.
A sabedoria popular não deixa barato
para a classe política. “No Brasil, tudo
acaba em pizza”, diz o ditado originado
no gosto do povo, que tratou de expandir a
expressão para todos os causos políticos.
Se no dia-dia eles já sofrem com as brin-
Responsável durante os últimos anos
por um dos dias mais aguardados do car-
naval recifense, o bloco Quanta Ladeira
de uma reportagem publicada pelo jornal cadeiras, no carnaval não poderia ser diferen- perde o amigo, mas não perde a piada.
paulista Gazeta Esportiva, na década de te. Seja no sobe-desce das ladeiras de Olinda, Atirando como uma metralhadora giratória
60. A matéria falava sobre o fim de uma nas pontes e bailes do Recife ou nas troças o bloco de músicos pernambucanos, como
longa crise interna na Sociedade Esportiva espalhadas pelo interior de Pernambuco, os Alceu Valença, Lenine, Lula Queiroga,
20 > > fevereiro
2. Alexandre Albuquerque
dentre outros, não perdoa
ninguém.
De Obama ao ex-
prefeito João Paulo
(PT), muitos já sofre-
ram com as paródias
do bloco desde que foi
criado em Olinda, no car-
naval de 1995. No ano seguinte, os mú-
sicos fizeram um encontro antes mesmo
dos dias de folia na casa do compositor
Zé da Flauta, onde começaram a fazer
as músicas. “Eu morava no Alto da Sé e
escutei um grupo de turistas cantando
Guantanamera, mas eu entendia Quanta
Ladeira. Aí surgiu o hino do bloco”, conta
Lula Queiroga.
Segundo ele, a primeira prévia contou n De Ulysses Guimarães à Dilma: não faltam opções
com apenas 50 pessoas e a atração prin-
cipal era a dupla Caju e Castanha. Em seu ano. É como uma grande confraternização, na meia vão aparecer. “Não tem como
13º ano, o bloco já arrasta mais de 35 mil onde a gente se junta para extravasar”, diz deixar passar. Todo ano dão motivo para
pessoas nos shows que acontecem todo o músico pernambucano. a gente brincar. Estamos pensando em
ano no palco do RecBeat, em frente ao Para este ano os músicos ainda não levar umas faixas com algumas sátiras
shopping Paço Alfândega. “Não esperá- se reuniram, mas é certo que temas como para ficarem no meio do público, mas
vamos que fosse crescer tanto. Hoje, dá a polêmica do mensalão de Brasília, em não decidimos ainda”, adianta. Até as
muito trabalho, quando era para ser ape- que o presidente da Câmara Legislativa cirurgias plásticas feitas pela candidata
nas uma brincadeira. Não temos nem o do Distrito Federal, Leonardo Prudente do PT, Dilma Rousseff, têm espaço ga-
nome registrado e vai quem pode, cada (DEM), foi flagrado colocando dinheiro rantido na brincadeira.
Alexandre Albuquerque Nos mais de dez anos do bloco, Quei-
roga conta que já aconteceram situações
engraçadas com a presença de políticos.
Em 2007, o ex-prefeito João Paulo estava
perto do palco assistindo ao show quando
os músicos começaram a parodiar a de-
cisão do executivo municipal de reajustar
em 47% o salário dos servidores.
“47% eu também quero, também
quero, também quero...”, dizia a letra.
“Levei a situação na alegria, pois admiro
toda essa criatividade natural do carna-
val”, responde o petista sobre o momento
constrangedor. A polêmica não parou no
palco. “Nos dias que se seguiram o re-
ajuste foi derrubado por causa da forte
pressão dos jornais”, lembra Queiroga.
Outro tema preferido do Quanta Ladeira é
o parque Dona Lindu, que este ano deve
ganhar mais uma versão.
O Siri na Lata abriu alas para as sátiras
de 2010 com o tema “O Brasil é um circo”,
uma homenagem aos grandes escândalos
que serão munição para os dois lados na
disputa eleitoral que marcará os próximos
meses. Nas caricaturas criadas pelo cartu-
nista pernambucano Lailson, presentes na
n Vane Cabús: Lula mais uma vez como campeão de vendas prévia do bloco, Serra, Dilma, Ciro, u uu
fevereiro > > 21
3. Capa que o carnaval não é o período adequado
para se falar de política. “O nosso foco é o
folião, seja ele de direita, de esquerda ou
Marina Silva e, claro, Lula fi- sem partido. Nunca nos interessamos em
zeram a diversão dos misturar política com carnaval, acho até
foliões. “O presidente que não combina”. Segundo ele, nomes
assume um lugar todo importantes já passaram pelo bloco, mas
especial este ano como
anfitrião da festa, sua pre-
É certo que como foliões. “Desde o primeiro ano o Bai-
le recebe muitos políticos, Eduardo Cam-
sença, em forma de charge, temas como pos, João Paulo, João da Costa, André
é garantida no palco”, diz o Campos, Maurício Rands, Paulo Rubens
jornalista Ricardo Carvalho, um dos orga- a polêmica Santiago, Tereza Leitão, Roberto Andrade,
nizadores do Siri. Sergio Leite”, cita.
Criado para ser uma forma de critica do mensalão
social ainda durante a Ditadura Militar,
o Bloco Anárquico Armorial Siri na Lata
de Brasília COM A CARA DELES
Proprietária de uma das
construiu sua história em cima de sátiras
aos “poderosos do dia”, como faz questão
vão aparecer lojas de fantasia mais an-
tigas do Recife, Jane Ca-
de lembrar Carvalho. “Nunca aceitamos Roberto Magalhães (comunista). “Trouxe- bús conta que nos vinte
apoio oficial de nenhum político, partido mos ainda a marchinha do Bolsa Família, anos em que atua nesse
ou governo como uma forma de preservar composta por Vasco Vasconcelos, do Dis- mercado as máscaras
a nossa liberdade”. trito Federal, e cantada por Almir Rouche”, de políticos importantes
A independência do bloco só foi ame- lembra Carvalho. do cenário nacional nun-
açada uma vez, na década de 90. Nem na As sátiras não ficaram restritas ao tra- ca deixaram de vender. “Sempre tivemos
ditadura o Siri teve que se calar. “O único dicional baile. No ano passado, o Siri saiu uma boa saída desse tipo de material,
problema que enfrentamos foi quando fi- da lata e foi bater nas portas da Câmara até porque sempre dão razão para o povo
zemos críticas à Igreja e teve uma verea- dos Vereadores do Recife com sambistas brincar”.
dora que nos colocou na Justiça, mas não em referência ao Escândalo das Notas A grande procura por esse tipo de fan-
existia nem a marca registrada”, conta o Frias, que assombrava o legislativo munici- tasia pode ser explicada, segundo a coorde-
jornalista. pal. O ato deu no que falar e ganhou a capa nadora do Núcleo de Estudos Folclóricos da
Na edição de 2007 o bloco inovou a dos jornais no dia seguinte. Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Rúbia
crítica política com a criação do Troféu Mas nem todos os blocos acreditam na Lóssio, pelo fato de possuirem um valor que
Falso Brilhante. Foram dez os escolhidos, sátira carnavalesca como uma boa ferra- pode ir do trágico ao cômico, dependendo
dentre eles: Lula (trabalhador), Raul Jung- menta de crítica aos políticos. Um dos di- de quem as usa. “Políticos, celebridades e
man (modesto), Carlos Eduardo Cadoca retores do Baile Pirata, que em 2010 com- personagens tem bastante destaque nas
(petista), Hugo Chavez (democrata) e pleta cinco anos, Gilberto Kabbaz, acredita fábricas de máscaras. Acredito que a más-
Alexandre Albuquerque cara tanto tem o valor de tributo como de
desobediência. E não há nada melhor do que
usar um disfarce com máscara de políticos
nesse período”.
Para 2010 a empresária da Comercial
Cabús espera um incremento de 20% nas
vendas da loja, incluindo as fantasias po-
líticas. “O povo adora fazer sátira. Parece
que quanto mais crises surgem o povo
quer botar tudo para fora, e o carnaval é
esse momento de extravasar”, conta Jane
apostando, mais uma vez, no presidente
Lula como um dos maiores sucessos de
venda.
No mostruário não faltam opções para
quem quer cair no passo do frevo à moda
do Congresso Nacional. Só de Lula são
quatro modelos, o sindical, o candidato, o
presidente e a novidade, com a barba bran-
n Lula Queiroga perde o amigo mas não perde a piada ca feita com tecido. Nomes de antigos co-
22 > > fevereiro
4. Alexandre Albuquerque
Planalto, a ministra
Dilma Rousseff,
tem vaga garan-
tida na prateleira,
apesar de ser um
desastre de ven-
das. Perguntado sobre
quem seriam os políticos estampados nas
máscaras, um dos vendedores da Comer-
cial Cabús, que fica na Rua das Calçadas,
soube o nome de todos, menos da ministra
do PT, que ganhou um simples “aquela que
anda sempre ao lado de Lula, só não sei
como se chama”, dando prova de que a
candidatura de Dilma ainda corre o risco do
desconhecimento.
Com fornecedores das máscaras insta-
lados fora do Estado, Jane Cabús reclama
da falta de fantasias que retratem políticos
locais. “Temos nomes importantes que
poderiam ser retratados, como o senador
Jarbas Vasconcelos e o governador Eduar-
do Campos. É uma pena, vou sugerir aos
fabricantes para colocá-los no pacote para
o próximo ano”, diz.
Para Cristina Almeida, que possui uma
loja de artesanato no Mercado Eufrásio Bar-
n Rúbia Léssio: máscaras vão do
bosa, em Olinda, a falta de máscaras polí-
trágico ao cômico
ticas produzidas em Pernambuco pode ser
nhecidos do povo, como os ex-presidentes explicada pelo trabalho delicado realizado
José Sarney, Fernando Henrique Cardoso e pelos artistas locais. “Temos muitos pro-
Fernando Collor e o oposicionista da Dita- dutores de fantasias em papel machê, mas
dura, Ulisses Guimarães, falecido em 1992, que exigem mais trabalho e resultam em um
também fazem parte da Coleção 2010. produto melhor. Não acredito que alguém
Até a candidata do Partido dos Tra- fosse gastar R$ 60 para satirizar um político.
balhadores (PT) a assumir o Palácio do As de plástico são mais baratas”. u uu
Alexandre Albuquerque
n Silvio Botelho e o boneco de João Paulo (PT)
fevereiro > > 23
5. Capa “O político quer estar
onde o povo está. Onde
Pai dos bonecos gigantes de Olinda, o
artista plástico Sílvio Botelho foi na contra-
a massa está o político
mão e não aceitou nenhuma encomenda
de políticos para este ano. Segundo ele, o
quer aparecer. Vai para
motivo foi a correria com o grande número aparecer” Maria de Oliveira
de pedidos com figuras do universo cultural.
“Preferi dar preferência a esse tipo de ima- No ateliê de Botelho, porém, não fal- partido. “Já fiz de Sér-
gem neste ano. Fiz apenas a da candidata do tam políticos remanescentes de outros gio Guerra, Jarbas Vascon-
PV, Marina Silva, porque foi com muita ante- carnavais, como a figura de João Paulo celos, Miguel Arraes, José Mú-
cedência”, mas adianta que após os quatro (PT), que, segundo o artista, é apenas uma cio, Lula e, em breve, Eduardo Campos.
dias de folia o trabalho será intenso para dar diante da grande quantidade que já teve São mais de cem bonecos para políticos
conta da demanda para as eleições. que produzir para o ex-prefeito a pedido do ao longo dos últimos 25 anos”, conta.
Passarela da folia Alexandre Albuquerque
Quem disse que as campanhas co-
meçam a esquentar após o carnaval? Para
conseguirem boas votações neste ano, os
políticos pernambucanos prometem quei-
mar a sola dos sapatos subindo e descendo
ladeira. Convites não faltam para os nomes
mais importantes do cenário estadual, que
ainda disputam com seus aliados de outras
regiões o privilégio de contar com uma pas-
sadinha dos principais concorrentes nacio-
nais, como o presidente Lula, os tucanos
Aécio Neves e José Serra, além da ministra
Dilma Rousseff.
Filho de carnavalesco, o ex-prefeito do
Recife João Paulo não perde um carnaval. n Jarbas e João Paulo: em comum apenas o gosto pela folia do carnaval
Durante os oito anos em que esteve à frente
do executivo o petista fez sucesso com suas massa está o político quer aparecer, se fazer histórias políticas. Quem não pode con-
fantasias originais durante o Baile Municipal. presente. Vai para aparecer. Ele não tem o car- viver com isso, é melhor nem entrar na
Neste ano até chegou a cogitar que não iria naval como ‘palanque’, mas sim, como notorie- política”.
para a festa organizada pela atual primeira dade. O Galo da Madrugada, por exemplo, com Já o deputado federal André de Pau-
dama, Marília Bezerra. O motivo seria os de- milhões de pessoas, qual o político que não la (DEM) promete apertar a agenda para
sentendimentos com o seu sucessor. Não quer aparecer em pleno ano de eleição?”, ana- cumprir o maior número possível compro-
demorou e, pelo bem das alianças políticas, lisa a doutora em comunicação social Maria de missos. Grande entusiasta do carnaval, o
ele confirmou à imprensa que estará pre- Oliveira, autora de um trabalho sobre a crítica parlamentar teve de mudar o jeito de brin-
sente e, como de costume, fantasiado. social no carnaval de Olinda. car desde que entrou na política. “Não dá
Já o atual comandante, João da Costa, Do lado da oposição o senador Jarbas Vas- para fazer como antes de me tornar um su-
ainda tenta trazer Dilma, mas admite que concelos (PMDB) é folião assíduo e garante não jeito público. É muita correria, pois temos
será difícil, já que ela marcou presença no se intimidar com as sátiras que devem tomar que ir a grandes eventos nos municípios
ano passado, onde posou ao lado do gover- conta dos quatro dias de festa nesse ano. “Car- onde está a base eleitoral e ainda percor-
nador Eduardo Campos durante o carnaval naval é isso: brincadeira, bom humor, paródia. rer os blocos no Recife e Olinda. Tem que
olindense, deixando os aliados baianos que Essa é a tradição do carnaval brasileiro e não achar um jeito de dar conta”, diz, esperan-
a queriam por lá de mãos abanando. “O po- começou hoje, vem lá de trás. Muitas músicas do um aumento no número de convites por
lítico quer estar onde o povo está. Onde a foram feitas em cima de episódios envolvendo ser um ano eleitoral. n
24 > > fevereiro