1. Oficina de dramaturgia
Texto 1 – caravaccio
ESPERA
Personagem sentado em frente a um aparelho semelhante ao micro-ondas – silencio e prazer
acompanhados com sons de campainha de porta e de preparo de micro-ondas.
Congelamento – blackout
As cenas sobrem interferências sonoras.
Personagem entra em cena, desconfiado. Tenta falar, balbucia algo. Pega a cadeira senta-se
de frente para o aparelho. Incomodado vira-se para o publico. Acende um cigarro lentamente.
Fuma. Apaga o cigarro. Inicia a roer unhas. Para olha para o objeto. Fica de costas.
(O ator deverá ter bem claro o incomodo do objeto que passou a fazer parte de sua rotina, com
interferências em seus pensamentos, em seus diálogos, na leitura de seus livros. é o incomodo
de ter o outro invadindo seu espaço vital sem ser convidado. O ator poderá também
acrescentar seus incômodos pessoais.) O ator pode estender bem o tempo.
Personagem - Com um impulso interno levanta-se para sair.
“Nada”
Antes de sair o som do objeto interrompe seu objetivo.
Parado por uns instantes. Acende outro cigarro. Encara o objeto e o desafia com o olhar.
“O endereço? O que você quer de mim?”
Silencio. Conversa tumultuada.
“Ela me observava no… (som do aparelho),
Aquela outro era bem leg… (som do aparelho),
tem um que é importante, mas não sei...(som do aparelho)
Poderia ser aquele que sempre sonhei… não… não é just…(som do aparelho)”
Lentamente o personagem levanta-se buscando em sua mente endereços perdidos. Raiva da
insistência do aparelho. Digitação sem olhar. afasta-se lentamente.
“Não tem como cancelar... eis o que pedes a meses...”
Personagem lentamente ajeita a cadeira de frente para o publico, afastado do aparelho, sem
perdê-lo de vista. senta-se. acende um cigarro. traga uma ou três vezes... desenhando a
fumaça... levanta olha para a janela, volta a sentar, roem as unhas, volta até a janela.
Repete as ações um pouco mais rápido, até a ultima ação. Pausa.
2. Repete mais rápido e depois mais rápido. Pausa.
“ Manual!”
Sai de cena alguns segundos. Sons de procura. Falas distorcidas... antes da entradas.
“Gavetas... armários, colchão… lixo… lixeiro… não… mãe… pai… santos?”
Retorna arrasado, arrumando-se. Senta-se cabisbaixo.
“Emprestei para aquele…”
Acende um cigarro continuando a fala e balbuciando coisas não audíveis.
Reinicia as ações anteriores lentamente entre um pensamento e outro, interrompido pelos sons
do aparelho. As ideias não podem ser concluídas. Podendo ter experiências e vivencias do ator.
“ Deveria ter comprado o… “ Acende o cigarro
“Aquela carta dela foi tão…” vai até a janela
“Ainda não consertou essa…” som do aparelho
“… sinto tanta falta… senta-se e roem unhas
Era minha preferida…” Vai até a janela
Som do aparelho.
Movimentos podem ser repetidos varias vezes. Senta em silencio. O aparelho dá sinal de
pronto. O personagem assusta, levantando repentinamente, com as pernas bambas. Olha o
aparelho aflito. Inicia o impulso de ir até o aparelho ver o resultado. A campainha da porta
toca. Outro susto. Senta-se extasia. Pensamento confuso. Respira fundo. Acomoda-se na
cadeira, acende outro cigarro. Sorri satisfeito pela nova rotina de sua casa.
Blackout.
Thais Lopes