1. TUMULTO NO BAILE*
(Cláudio Vieira)
O emici Pindoba saracoteou, rodopiou no início do palco e cumprimentou a galera:
– É isso aí, JB!
O funkeiro que plantava bananeiras na primeira fila se aborreceu:
– Qual é, emici? Eu leio O DIA, Mané.
Pindoba deu outro rodopio e curvou-se sobre o microfone:
– Não é nada disso, cumpade, JB quer dizer Gente Boa, tá sabendo? – deu mais um rodopio,
cerrou os punhos e esticou os braços para o ar: – Alalaô! Alalaê!
Todo mundo:
– Hummmmmmm!!!
Emici Pindoba deu três pulinhos:
– Como eu ia dizendo na abertura de dos trabalho, todo mundo aqui é CB.
O funkeiro das piruetas se aborreceu novamente:
– Qual é emici? Só compro nas Sendas.
Pindoba já estava perdendo a paciência:
– Parece até que tu é alemão, heim, ô! CB quer dizer Çangue Bão, percebe?
Rodopiou: – Alalaô! Alalaê!
Todo mundo:
– Hummmmmmm!!!
Uma gatinha da Rocinha tirando uma onda com outra gatinha, da De Deus:
– Conheço o Pindoba desde o tempo do Siep – mostrou um chaveirinho que ganhou do
emici.
A gatinha da De Deus ficou em dúvida:
– Mas, Ciep não é com C?
A da Rocinha:
– É que a gente matava aula, tá sabendo?
Chegou a hora do emici pregar a paz:
– Manja o rep da alegria / Que é muitio maneiro / Virou até mania / Da gente falarmos
brasileiro / ... Alalaô! Alalaô! ... Salve a galera do Borel / E da Praia do Dendê / E a turma da Vila
Kenedê ... / Salve os amigos que se foi / E os amigos que se vai / Viva a galera lá do Boi / E de
Jacarepaguai...
No melhor da festa, o estouro da boiada. A galera da Rocinha saía por uma porta, a De Deus
por outra, a da Vila Kenedê pelos fundos, uma confusão desgraçada. No palco, emici Pindoba dava as
coordenadas:
– Corre, que ela vem aí! Corre, JB!
Um funkeiro, escondido atrás das caixas de som:
– Pior, Çangue Bão. É a professora de Português!
(Crônica publicada no Jornal O Dia, na década de 90, na coluna ROMANCE POLICIAL)