2. Lucinda estava no
oitavo mês de
gravidez, estava
enorme pois o
médico do lugar
disse que ela
esperava gêmeos,
só não se sabia se
eram dois
meninos, duas
meninas,
ou meio a meio,
porque só se
descobriam o sexo
dos bebês depois que
nasciam; de uma certa
forma era melhor
assim, as futuras
mamães ficavam na
expectativa e
geralmente rezavam
por meninas e os
futuros papais só
queriam meninos.
3. De todo modo as senhoras se
preveniam
De todo modo as senhoras
se preveniam e ao preparar
as roupinhas, faziam três
enxovais: um com todas as
peças cor de rosa para o
caso de nascer menina,
outro todo em azul para
menino e o terceiro todo
amarelinho porque amarelo
serve para os dois sexos;
depois de tudo pronto é só
esperar o tempo passar e
rezar para Nossa Senhora
do Bom Parto providenciar
uma boa e feliz hora para a
parturiente.
4. Lucinda já tomara todas essas
providencias e como só faltavam
quatro semanas para o grande
evento ela só queria descansar bem
e comer melhor ainda, para isso
retirou-se para a fazenda do Pilão
Arcado de propriedade de seu pai,
onde sua mãe preparava seus
pratos e doces preferidos e depois
de se fartar com aquelas
gostosuras ela ia para seu lugar
predileto e se acomodava como um
obeso Buda naquela posição de
repouso e serenidade.
5. O lugar escolhido por Lucinda para
descansar era sobre um baú de reforçado
couro cru, todo tacheado com grandes
pregos de cobre e como o baú era bem
alto, dois irmãos a colocavam em cima
dele e a deixavam em paz descasando e
sonhando com seu bebê, quando ela se
cansava do descanso os irmãos a
retiravam de cima do baú e a levavam
para um passeio pelo lindo jardim da
fazenda.
6. Os dia passavam e a rotina da futura
mamãe era sempre a mesma, mas sempre
acontece alguma coisa para promover
mudanças, aquele alegre domingo seria o
dia em que coisas diferentes aconteceriam,
e foi assim: Lucinda almoçou um frango
caipira com mandioca delicioso, exagerou
na sobremesa de doce de leite com queijo
minas e depois de um saboroso cafezinho,
foi colocada pelos irmãos em cima do
amado baú.
7. Mas estava escrito que aquele não
seria um domingo como os outros,
porque logo depois do almoço a Olinda
Lingüeta chegou para fazer uma visita e
desejar felicidades a coitada da
Lucinda; ela se colocou em frente ao
baú e como era seu costume começou
a falar sem parar em voz alta e
estridente: falou mal do marido, falou
nos sete filhos e contou em detalhes os
horrores dos sete partos.
8. Ela falava, falava e ninguém
percebeu que Lucinda estava
ficando tonta com aquele
falatório, mas de repente a
grávida perdeu os sentidos e
desabou lá do alto do baú, foi
uma correria danada: uns
correram para socorrer a
redonda Lucinda e o marido da
mesma agarrou a Lingüeta pelos
cabelos e a jogou escada abaixo
depois de bem estapeada,
felizmente ela caiu de pé e ficou
bem.
9. Horas depois nasceram dois
meninos lindos e fortes e o
assunto foi esquecido pela
família que até já conseguia
achar uma certa graça no
assustador episodio, mas a
Olinda Lingüeta não se
esqueceu jamais dos trancos
que levou do marido de
Lucinda e dizia: que culpa
tenho eu se aquela maluca se
empoleirou em cima daquele
baú se esquecendo de seu
estado interessante, ora essa.
10. CREDITOS
TEXTO DE VÓ FIA
FORMATADO POR VÓ FIA
MÚSICA-SOLOS DE VIOLA
CHITAÕZNHO E XORORÓ
NEPOMUCENO MG
TEXTO REGISTRADO NO
EDA
27/04/08