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O REI DOS
                     SOLDADOS
   Era uma vez um rei que gostava muito de desfiles e
paradas. Até lhe chamavam o rei dos soldados ou
rei-soldado, embora ele fosse o general de todos os
generais.
   Quando passava revista à guarda de honra, cerimónia a
que se dedicava várias vezes ao dia, tinha por hábito
estacar de tantos em tantos homens, para dirigir, cara na
cara, ao soldado perfilado à sua frente as seguintes
perguntas:
   – Que idade tens?
   O magala respondia.
   – Há quanto tempo estás ao meu serviço?
   O magala respondia.
   – O soldo e o rancho satisfazem-te?

                            1
O magala, já se vê, respondia que ambos o satisfaziam.
  Bem impressionado com as respostas, o rei prosseguia,
de peito inchado e queixo alto, muito orgulhoso do seu
exército de luzidos soldados.
  Ora entrou para o serviço militar um rapaz vindo de
longe, de uma região onde não se falava a mesma língua da
cidade. Tinha por isso muita dificuldade em perceber as
ordens e em fazer-se entender. Os colegas troçavam dele,
mas o rapaz não se importava.
  Pelo sim pelo não, o sargento ensinou-o a pronunciar as
respostas convenientes às perguntas que o rei costumava
fazer. Como a fiada de perguntas era sempre igual e pela
mesma ordem, caso lhe calhasse em sorte ser interrogado
pelo rei, o novo soldado não daria parte fraca.
  E calhou.
  Logo por azar, dessa vez o rei alterou a ordem das
perguntas. Começou assim:
  – Há quanto tempo estás ao meu serviço?
  – Vinte anos – respondeu o rapaz, imperturbável.
  O rei encarou o jovem tarata com estranheza e fez-lhe a
segunda pergunta:
  – E que idade tens?
  – Dois meses, Majestade.
  Mais se admirou o rei, que comentou:
  – Isso não faz sentido. Um de nós está maluco.
  O rapaz, julgando que estava a responder à terceira
pergunta, sorriu com cortesia e disse:
  – Ambos, Majestade.

  FIM


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  • 1. O REI DOS SOLDADOS Era uma vez um rei que gostava muito de desfiles e paradas. Até lhe chamavam o rei dos soldados ou rei-soldado, embora ele fosse o general de todos os generais. Quando passava revista à guarda de honra, cerimónia a que se dedicava várias vezes ao dia, tinha por hábito estacar de tantos em tantos homens, para dirigir, cara na cara, ao soldado perfilado à sua frente as seguintes perguntas: – Que idade tens? O magala respondia. – Há quanto tempo estás ao meu serviço? O magala respondia. – O soldo e o rancho satisfazem-te? 1
  • 2. O magala, já se vê, respondia que ambos o satisfaziam. Bem impressionado com as respostas, o rei prosseguia, de peito inchado e queixo alto, muito orgulhoso do seu exército de luzidos soldados. Ora entrou para o serviço militar um rapaz vindo de longe, de uma região onde não se falava a mesma língua da cidade. Tinha por isso muita dificuldade em perceber as ordens e em fazer-se entender. Os colegas troçavam dele, mas o rapaz não se importava. Pelo sim pelo não, o sargento ensinou-o a pronunciar as respostas convenientes às perguntas que o rei costumava fazer. Como a fiada de perguntas era sempre igual e pela mesma ordem, caso lhe calhasse em sorte ser interrogado pelo rei, o novo soldado não daria parte fraca. E calhou. Logo por azar, dessa vez o rei alterou a ordem das perguntas. Começou assim: – Há quanto tempo estás ao meu serviço? – Vinte anos – respondeu o rapaz, imperturbável. O rei encarou o jovem tarata com estranheza e fez-lhe a segunda pergunta: – E que idade tens? – Dois meses, Majestade. Mais se admirou o rei, que comentou: – Isso não faz sentido. Um de nós está maluco. O rapaz, julgando que estava a responder à terceira pergunta, sorriu com cortesia e disse: – Ambos, Majestade. FIM 2