1. AO AMOR DA MINHA VIDA
De verdade, meu bem, eu não acredito que você exista. E se já comecei pensando assim,
boa coisa não vai sair dessa minha carta. O fato é que eu ando meio desacreditado,
achando que toda a minha vida amorosa e essas coisas que a gente pode englobar nela
são todas umas fraudes. Eu sou uma fraude, pra ser exato. Escrevo sobre amor, faço os
outros acreditarem e nem eu mesmo acredito numa única palavra que sai da minha boca.
Mas hoje eu estava pensando e cheguei à conclusão de que, se não for por amor, que
seja por você.
Que eu te encontre num dia ensolarado, nublado, chuvoso, com névoa e te diga alguma
coisa. Que eu te reconheça no momento exato em que puser meus olhos em você. E que
você saiba que houve um encontro ali. Que você esteja vestida de vermelho, amarelo,
azul, verde, preto e branco. Que você me ache engraçadinho, pelo menos. Quem sabe
tímido, quem sabe babaca demais, quem sabe charmoso, quem sabe eu nem te chame a
atenção. Mas que você me veja com bons olhos e eles encontrem os meus. Que eu
acerte a cor dos seus olhos numa brincadeira qualquer. E que aí você perceba o quanto
eu te enxergo em tão pouco tempo. Que você seja amiga de algum amigo, ou a gerente
do banco, ou a colega de faculdade, ou a menina bonita da balada, ou filha da amiga da
minha mãe. Que você se encante comigo de alguma maneira. Que você se permita me
conhecer melhor e saber que eu sou legal, ou que sou interessante, ou que não tenho
nada a acrescentar a você, ou que eu sou um completo egoísta, ou que eu tenho um blog
bacana que fala dessas coisas bonitas que as pessoas acreditam. Mas que você não seja
um ponto final. Que seja as aspas, as reticências, o parágrafo, o travessão. Que você
seja.
Que você saiba como eu sou complicado, ou que eu sou desajeitado, ou que eu sei
dançar muito bem, ou que eu piso no seu pé porque não sei andar em linha reta, ou que
eu detesto o cheiro de queijo ralado. Mas que você decida ficar e me conhecer mais, seja
por curiosidade ou porque acha que pode se encontrar no meio da minha bagunça. Que
a gente se conheça aos poucos, aos muitos, aos tantos, aos beijos, aos toques, aos
olhares, aos filmes de fim de tarde, aos cheiros de perfume novo, aos dias de dormir de
conchinha, aos minutos de ligações intermináveis. Que você possa contar comigo,
possa dormir comigo, possa brigar comigo. Que você não se arrependa naqueles
momentos em que a gente questiona o amor, que você tenha orgulho de me mostrar pras
suas amigas e que elas tenham inveja de você. Que eu possa te trazer café na cama, te
dar um beijo de surpresa, te ver sem maquiagem, te morder até você ficar sem graça.
Que eu não seja odiado pelos seus pais, que eles não me chamem de filho, que seu
irmão torça pro mesmo time que eu. Que você me queira como pai dos seus filhos, que
você se orgulhe de mim, que você esteja linda quando entrar na igreja.
Que eu possa te fazer sonhar. Que eu possa realizar os teus maiores sonhos e te consolar
caso alguma coisa dê errado no meio do caminho. Que eu não saia nunca do seu lado,
nem quando você pedir. Que os seus dias de TPM sejam lembrados com risadas e
justifiquem aqueles quilos a mais que você ganhar com o brigadeiro. Que você chore
bastante. Chore de rir, chore de saudades, chore de alegria. Que eu possa garantir que
você não vai se machucar. Que o nosso filho tenha os seus olhos, a sua boca, o seu
nariz. Que ele me lembre todos os dias de você. Que a gente caia um pouco na rotina e
não mude por isso. Que a gente saia da rotina e se encante com algumas aventuras de
2. vez em quando. Que a gente saiba reconhecer o valor da companhia do outro. Que eu te
ame como nunca amei ninguém e que você me modifique da maneira que o seu amor
quiser.
Mais importante que isso tudo: que você exista. E que não demore tanto pra chegar na
minha vida.