Em matéria publicada pela revista “The Atlantic Daily”, em 9 de abril de 2017, o autor especula sobre a possibilidade dos ataques realizados pelos EUA à Síria poderem simbolizar uma “travessia do Rubicão” do Presidente Trump. Até o momento não há indícios fortes de que essa possibilidade se concretize, felizmente. Entretanto, existem outros “Rubicões” metafóricos que podem ser cruzados no futuro próximo.
1. 201768 A Travessia do Rubicão (A Metáfora para uma possível guerra sistêmica no mundo atual) CEIRI NEWSPAPER
http://www.jornal.ceiri.com.br/travessiadorubicaometaforaparaumapossivelguerrasistemicanomundoatual/#comment70454 1/5
O destroyer USS Ross lançando um míssil Tomahawk contra a base aérea de Shayrat, na Síria. Fonte: Wikipedia
ATravessiadoRubicão(AMetáforaparaumapossívelguerra
sistêmicanomundoatual)
Leonam Guimarães - Colaborador Voluntário Sênior 3 dias ago
Em matéria publicada pela revista “The Atlantic Daily”, em 9 de abril de 2017, o autor especula sobre a possibilidade
dos ataques realizados pelos EUA à Síria poderem simbolizar uma “travessia do Rubicão” do Presidente Trump. Até o
momento não há indícios fortes de que essa possibilidade se concretize, felizmente. Entretanto, existem outros
“Rubicões” metafóricos que podem ser cruzados no futuro próximo.
No ano 49 AC, Júlio César, à frente de suas tropas, chegou às margens do rio Rubicão, no norte da Itália. De acordo
com uma antiga lei, nenhum general romano tinha permissão para atravessar este rio com um Exército. César fez
uma pausa, confrontado com a terrível perspectiva de uma guerra civil. Então, de acordo com o historiador Suetônio,
ele disse a célebre frase: “A sorte está lançada!” e marchou para o sul com suas tropas em direção a Roma. A guerra
civil ocorreu e ele foi vitorioso. Séculos mais tarde, o Subsecretário de Estado americano, George Ball, afirmou,
referindose à intervenção dos EUA no Vietnam: “Depois de montar num tigre, não há garantia de que possamos escolher
quando descer dele”.
As guerras quase sempre se iniciam de forma inesperada, resultante de uma combinação da psicologia, pressões
políticas internas e interações estratégicas. Os psicólogos descobriram que, após tomar uma decisão, os formuladores
de políticas podem se tornar muito seguros de si mesmos, se convencendo de terem feito a escolha certa. Um estudo
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2. 201768 A Travessia do Rubicão (A Metáfora para uma possível guerra sistêmica no mundo atual) CEIRI NEWSPAPER
http://www.jornal.ceiri.com.br/travessiadorubicaometaforaparaumapossivelguerrasistemicanomundoatual/#comment70454 2/5
Júlio César parado nas margens
do Rubicão. Fonte: Wikipedia
Veículo anfíbio da Marinha dos
Estados Unidos desembarcando
em Beirute, 1982. Fonte:
Wikipedia
famoso na década de 1960 mostrou que, depois de apostar em corridas de cavalos, as pessoas se tornavam
imediatamente mais confiantes na vitória de seu cavalo.
A partir desta ideia, os psicólogos Anja Achtziger e Peter Gollwitzer
desenvolveram o chamado “Modelo Rubicão de Fases de Ação”, referindose a
César. No início, quando as pessoas avaliam várias soluções, elas tendem a
ser objetivas e lúcidas. Entretanto, uma vez que a decisão é tomada, elas
começam a acreditar com otimismo excessivo nas suas chances de sucesso e,
confrontados com possibilidades de insucesso, fazem aquilo que os franceses
chamam “fuite em avant”, ou seja, reorientam seus objetivos iniciais. Tendo atravessado o Rubicão, todas as dúvidas
que poderiam existir se dissipam e dão lugar a uma confiança irracional. Tornase assim quase impossível “desmontar
do tigre”.
A ação coordena aspectos do comportamento humano como percepção, pensamento, emoção e habilidades para
classificar os objetivos como atingíveis ou inalcançáveis e, em seguida, engajarse ou desengajarse da tentativa de
atingir esses objetivos. De acordo com Heckhausen & Heckhausen, a pesquisa baseada neste modelo forneceu uma
riqueza de evidências empíricas de que os recursos mentais e comportamentais são orquestrados dessa maneira. O
engajamento e desengajamento num objetivo afeta a angústia pessoal sobre o inalcançável. Por ter novos objetivos
disponíveis e reengajar nesses novos objetivos, uma pessoa pode reduzir sua angústia enquanto continua a derivar
um sentido de propósito na vida, encontrando outras formas de buscar valor, segundo Wrosch; Scheier; Milller,
Schulz e Carver.
As últimas grandes guerras ocorridas no mundo, Afeganistão e Iraque,
deveriam ser intervenções relâmpago para derrubar regimes, antes de
degenerarem em campanhas de contrainsurgência caras e longas. Algumas
operações humanitárias e de manutenção da paz, em menor escala, também
têm sido objeto de escalada. Por exemplo, a intervenção dos EUA no Líbano,
em 1982, fazia parte, inicialmente, de um esforço multinacional cujo objetivo
era supervisionar a retirada dos combatentes sírios e a Organização de
Libertação da Palestina (OLP) de Beirute. Essa parte da missão ocorreu sem problemas, novas metas foram definidas,
e os Estados Unidos se tornaram protagonistas da guerra civil libanesa, até que um caminhãobomba matou 241
americanos num quartel dos “marines”. Nesses casos havia uma intervenção no terreno, mas, e no caso de campanhas
limitadas a bombardeios aéreos? Mais uma vez, elas provam como é arriscado montar o tigre.
Em 1999, a OTAN realizou ataques aéreos para forçar a Sérvia a retirar suas forças do Kosovo. O Presidente sérvio
respondeu através da exploração de refugiados, aterrorizando os civis kosovares e conduziuos através da fronteira,
na esperança de minar a coalizão criada pela Aliança. A guerra aérea durou meses e a OTAN estava se preparando
para a perspectiva sombria de uma ofensiva terrestre quando Milosevic repentinamente cedeu. Na Líbia, em 2011,
uma campanha aérea lançada para proteger os civis rapidamente se transformou em uma guerra para derrubar
Gaddafi.
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3. 201768 A Travessia do Rubicão (A Metáfora para uma possível guerra sistêmica no mundo atual) CEIRI NEWSPAPER
http://www.jornal.ceiri.com.br/travessiadorubicaometaforaparaumapossivelguerrasistemicanomundoatual/#comment70454 3/5
Soldado do governo sírio em um
posto de controle na capital
Damasco, em 2012. Fonte:
Wikipedia
Além da Síria, no mundo atual podemos identificar outros “Rubicões” metafóricos, tais como a Coreia do Norte, Iran,
a fronteira oriental dos países da OTAN, as fronteiras indopaquistanesas, dentre outras, cujas consequências de
serem cruzados poderiam ser muito maiores que o “Rubicão Sírio”. Esperase que as decisões dos “Césares”
envolvidos sejam prudentes e que não os façam “montar em tigres”, pois os momentos são complexos e só encontram
similaridades com crises ocorridas durante a Guerra Fria.
Os Estados Unidos, a Rússia e a China estão modernizando suas forças
nucleares. Avanços na tecnologia significam que as armas nucleares táticas
estão se tornando cada vez mais sofisticadas e precisas. Isso levanta a
possibilidade de que essas armas também se tornem mais utilizáveis. A
mudança tecnológica também está sendo acompanhada por mudanças na
doutrina. Em particular, as capacidades de negação da área, bem como
sistemas de defesa de mísseis balísticos confiáveis, estão encorajando algumas
potências nucleares a contemplar o emprego de armas nucleares táticos para ataques limitados em situações de
conflito convencional.
As armas nucleares táticas permanecem entre os elementos menos transparentes dos arsenais nucleares das
principais potências. Isso aumenta o risco de que programas de modernização promovam uma nova corrida
armamentista e prejudiquem a estabilidade estratégica. A comunidade internacional deve aumentar a pressão sobre
as potências nucleares para promover uma maior transparência em torno desta classe de armas nucleares. “A sorte
está lançada”!
———————————————————————————————–
Fontes das Imagens:
Imagem 1 “O destroyer USS Ross lançando um míssil Tomahawk contra a base aérea de Shayrat, na
Síria” (Fonte):
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ataque_de_m%C3%ADsseis_à_base_militar_de_Shayrat_em_2017#/media/File:USS_Ross_201
N-FQ994-031.jpg
Imagem 2 “Júlio César parado nas margens do Rubicão” (Fonte):
https://en.wikipedia.org/wiki/Crossing_the_Rubicon
Imagem 3 “Um veículo anfíbio da Marinha dos Estados Unidos desembarcando em Beirute, 1982”
(Fonte):
https://pt.wikipedia.org/wiki/Força_Multinacional_no_L%C3%ADbano
Imagem 4 “Um soldado do governo sírio em um posto de controle na capital Damasco, em 2012”
(Fonte):
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4. 201768 A Travessia do Rubicão (A Metáfora para uma possível guerra sistêmica no mundo atual) CEIRI NEWSPAPER
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https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Civil_S%C3%ADria
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Fonte Consultada:
Avaliação de Leonam dos Santos Guimarães: Doutor em Engenharia, Diretor de Planejamento,
Gestão e Meio Ambiente da Eletrobrás Eletronuclear e membro do Grupo Permanente de Assessoria
do Diretor-Geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
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Comments (3)
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· 2 days ago
A falta de transparência em relação a produção de armas nucleares e sua amplitude tecnológica é o maior perigo da atualidade em se
tratando da nova corrida armamentista.
· 1 day ago
Caro Tiago,
Sobre o balanço das armas nucleares existentes, veja
https://www.sipri.org/research/armament-and-disar...
Sobre modernização de armas nucleares veja
https://www.sipri.org/media/press-release/2016/gl...
https://www.sipri.org/sites/default/files/FS%2016...
Grande abraço!
Leonam
· 1 day ago
Análise sensata e equilibrada. Estamos em um mundo onde "pequenas loucuras" tornaram-se possíveis e até prováveis. Uma
pequena bomba atômica é o novo risco.
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