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Corpos estranhos na face
                                                        Foreign bodies in the face
                                                                                                                  Aline Rose Cantarelli Morosolli1
                                                                                                                            Luiz César de Moraes]
                                                                                                                           Edmundo Mediei Fiiho'
                                                                                                                      Mari Eli Leonelli de Morees'
                                                                                                                           Márcia Rejane Brücker'




                                                                                                              cujo objetivo é aprofundar os co-
                                                        Introdução                                            nhecimentos sobre corpos estra-
                                                                                                              nhos nos maxilares e tecidos mo-
                                                          Corpo estranho é todo e qual-
                                                                                                              les da face.
                                                    quer objeto ou estrutura que, de
                                                    alguma forma, esteja fora de seu
                                                    local de costume.                                         Revisão da
                                                         A presença de corpos estra-
                                                    nhos em determinada região do                             literatura
                                                    corpo pode ser conseqüência de                                 Corpos estranhos nos tecidos
                                                    trauma ou, até mesmo, a sua in-                          moles da face e nos ossos maxila-
                                                    serção pode ter sido feita com al-                       res são freqüentemente encontra-
                                                    guma finalidade útil. Há uma ínti-                       dos em exames radiográficos de
                                                    ma relação entre o agente trauma-                        rotina, pois, na sua maioria, não
                                                    tizante e a área receptara, poden-                       apresentam sintomatologia. Pro-
                                                    do ocorrer ou não alterações nos                         vavelmente, os tecidos moles da
                                                    tecidos de natureza tão delicada                         face contêm mais corpos estranhos
                                                    que mal causam modificaçõesana-                          do que os tecidos de outras partes
                                                    tômicas nas partes consideradas.                         do corpopor estarem expostos, não
                                                    São alterações que nem sempre                            sendo cobertos por vestimenta que
                                                    estarão visíveis ao exame clínico,                       constitua uma forma de proteção à
                                                    havendo, em sua maioria, a neces-                        pele (STAFNEe GIBILISCO, 1986;
                                                    sidade de solicitação de exame                           GANDRA,1988).Corpos estranhos
                                                    radiográfico para a sua localização                      comumente encontrados dentro
                                                    e confirmação; porém, em muitos                          dos maxilares são amálgama de
                                                    casos, só são descobertos aciden-                        prata, guta-percha, cimento, ins-
                                                    talmente durante a realização de                         trumentos dentários fraturados,
                                                    um exame radiográfico de rotina.                         tais comomandris, curetas, brocas
                                                         Em virtude da alta incidência                       e agulhas. Nos tecidos moles são
                                                    dessas alterações nos dias de hoje,                      mais frequentemente encontradas
                                                    causadas pelos mais variados trau-                       agulhas hipodérmicas, alfinetes,
                                                    matismos e tratamentos odontoló-                         agulhas de costura, projéteis de ar-
                                                    gicos que utilizam substâncias di-                       mas de fogo,munição de armas de
                                                    versas, justifica-se esta pesquisa,                      caça e de pequeno calibre e uma


                                                    I   Aluna-do curso de pós-graduação em Biopatologia Bucal, área de concentração Radiologia Odontológica/
                                                        Faculdade de Odontologia       de São José dos Campos - Unesp.
                                                    2   Professor Titular da disciplina de Radiologia! Faculdade de Odontologia de São José dos Campos - Unesp.
                                                    3   Professor Titular da disciplina de Radiologia! Faculdade de Odontologia de São José dos Campos - Unesp.
                                                    4   Professora Doutora da disciplina de Radiologia! Faculdade de Odontologia      de São José dos Campos -
                                                        Unesp.
                                                    5   Professora Doutora Titular das disciplinas de Radiologia! Faculdade de Odontologia da PUCRS.



                                                                                   Recebido em: 01-04-2003 / aceito em: 21-10-03


Passo Fundo, v. 9, n. 1, p. 12-15, jan./jun. 2004                                                                                                                 47
variedade de fragmentos metálicos       LIMA, 2000; CANTO et al., 2002;        (ZIKK, 1991). Por exemplo, a inges-
     ou estilhaços de vidro, muitos dos     HORLE e KUBA, 2002).                    tão de uma prótese dental pode ser
     quais em decorrência de acidentes            Amada do twinkle, a exemplo       uma experiência dolorosa para o
      de trânsito. Em alguns casos, dis-     dos dentes confeccionados em           paciente em razão das seqüelas,
     positivos dentários encontrados no     ouro, os quais eram sinônimos de        uma vez que pode resultar em per-
     interior ou à volta dos maxilares      riqueza e vaidade, apresenta-se         furação de estruturas internas e,
     foram colocados originalmente na       como uma forma alternativa e con-       concomitantemente, em infecção
     boca com alguma finalidade e tor-      servadora, preservando a saúde          (TRESKA e SMITH, 1991).
     naram-se corpos estranhos em de-       dos tecidos bucais, uma vez que              Geralmente, nos casos de fra-
     corrência de traumas na face           sua aplicação é feita por dentistas,   turas dentárias, pode ocorrer a in-
     (STAFNE e GIBILISCO,1986).             utilizando a técnica de colagem,       trodução de fragmentos nos tecidos
            Corpos estranhos são bastan-    como a utilizada na colocação de        moles dos lábios e bochechas, em
     te freqüentes na clínica odontope-     braquetes ortodônticos. O fato de       razão de acidentes com esportes e
     diátrica, principalmente na faixa      ser uma técnica reversível e de não    brincadeiras, como patins, bicicle-
     etária entre dois a quatro anos de     causar danos ao dente torna esse       ta e skate; nesses casos, as radio-
     idade, em razão do hábito das crian-   método alternativo uma boa opção       grafias são essenciais para a loca-
     ças de colocar objetos na boca ou      para a clínica (CANTO et al., 2002).   lização do objeto sem evidência clí-
     no nariz. Esses objetos incluem cas-         As radiografias são muito        nica. Freqüentemente, pode ocor-
     cas, grãos, nozes, lápis, parafusos,   úteis na localização de corpos es-     rer inalação ou aspiração de raízes
     pregos, madeira, botões e papel.       tranhos; as características      das   pelo paciente durante o ato cirúr-
     Tem sido relatado, de forma idên-      imagens radiográficas variam de        gico, ou aspiração de dente decíduo
     tica, em crianças com fendas la-       acordo com a natureza do objeto,       por estar levemente preso à gen-
     biopalatais (FAGAN e MATHEW-           porém imagens nem sempre estão         giva (KURATA e OHMORI, 1992).
     SON, 1990; RANALLI et aI., 1990;       presentes. Objetos radiolúcidos,             De acordo com Langland e
     WAHBEH et aI., 2002). Existem,         tais como lascas de madeira e fios     Langlais (1989), os objetos localiza-
     ainda, determinadas crenças reli-      de sutura de seda, não podem ser       dos nos tecidos moles, quando su-
     giosas que levam os indivíduos a       vistos radiograficamente. Lembra-      perpostos a estruturas ósseas, pa-
     usar adornos em algumas regiões        se que objetos radiolúcidos, como      recerão estar introduzidos no osso.
     da face (LOH,1989). Relatos evi-       o vidro, não são necessariamente       Por isso, para localizar um corpo
     denciam a presença de corpos es-       radiolúcidos como os vitrais e frag-   estranho são necessárias, no míni-
     tranhos aspirados ou deglutidos        mentos de vidro de pára-brisa de       mo, duas radiografias. O ideal é
     acidentalmente, tais como próte-       automóveis (FAGAN e MATHEW-            que sejam feitas três incidências
     ses removíveis, dentes e raízes        SON, 1990;GASPARINIet al., 2002).      radiográficas, uma em direção a
     avulsionadas e, até mesmo, restau-           A área craniofacial é freqüen-   cada plano facial de referência (pla-
     rações dentárias (NIMMO et al.,        temente exposta a risco de injúrias    nos frontal, sagital e horizontal).
     1988).                                 causadas por acidentes automobi-             Sinais clínicos, comorinorréia
           A exemplo de uma massifi-        lísticos, de trabalho e esportivos;    crônica, odor nasal, halitose, cefa-
     cada e repetida difusão por meio       no caso de objetos radiopacos loca-    léia, espirros e epistaxes, podem
     dos instrumentos de comunicação,       lizados na orofaringe, podem ser       ser indícios da presença de corpo
     como rádio e televisão, modas co-      detectados radiograficamente para      estranho, trazendo como possível
     mo piercing são também absorvi-        se determinar se foram deglutidos      conseqüência a formação de abs-
     das pelos adolescentes; o piercing     ou aspirados (WUEHRMANN e              cesso com lise óssea (KITTLE,
     de língua e o de lábio constituem      MANSON-HING,1977).                     1991). Tendo em vista que a pre-
     formas de arte concentradas na               Corpos estranhos radiopacos      sença de corpo estranho, em sua
     região bucal em grande parte do        podem ser introduzidos como meio       maior parte, é assintomática, seu
     mundo. Sabe-se que opiercing bu-       de contraste auxiliares de diagnós-    achado pode ser acidental quando
     cal pode causar conseqüências co-      tico, como o lipiodol, injetado no     do exame clínico e/ou exame radio-
     mo dor, edema, aumento de saliva-      interior do seio maxilar, ou meio      gráfico de rotina (NIMMO et al.,
     ção, abrasão dental, formação de       terapêutica, como fios metálicos       1988; RANALLI et al., 1990).
     abcesso, dificuldade na fonação e      utilizados em procedimentos cirúr-           Objetos metálicos no interior
     na mastigação, septicemia, infec-      gicos na redução de fraturas na        dos tecidos moles localizados na re-
     ção disseminada pelos tecidos (an-     face; ou, ainda, com algum propó-      gião mandibular são facilmente
     gina de Ludwig), danos a estrutu-      sito útil, como a cartilagem ou        identificados quando visualizados
     ras profundas (como veias e ner-       silicone, que são implantados na       em radiografia panorâmica. Mui-
     vos), fraturas dentárias, recessão     superfície anterior da mandíbula       tos dos corpos estranhos são mate-
     gengivallocalizada, risco potencial    por razões estéticas (LOH, 1989).      riais e instrumentais dentários; o
     de aspiração das partes que com-             Em geral, objetos estranhos      mais comum é o amálgama de pra-
     põem o adereço, além da possibili-     que tenham sido ingeridos podem        ta que freqüentemente cai no al-
     dade cancerígena atribuída ao trau-    passar imperceptíveis através do       véolo durante a extração de um
     ma local ( BOTCHWAY e KUC,             sistema gastrointestinal; se estive-   dente logo após uma restauração,
     1988; PERKINS et aI., 1997;            rem alojados no esôfago , a en-        por exemplo. As radiografias pós-
     BETHKE e REICHART, 1999;               doscopia é geralmente solicitada       operatórias revelarão a presença


48                                                                                         Revista da Faculdade de Odontologia
deles, que, então, podem ser remo-              Figuras 7, 2, 3: A seqüência de radiografias lateral de cabeça cefalométrica, frontal e panorâ-
    vidos com facilidade antes da cica-                              mica mostra possíveis localizações dos projéteis em região de tecido mole e
                                                                     parede posterior do seio maxilar, lado esquerdo
    trização do alvéolo (STAFNE e
    GIBILISCO, 1986).Os autores afir-
    mam ainda que a presença de mu-
    nição de arma de caça e projéteis
    de pequeno calibre não é um acha-
    do incomum. No caso de munição
    de arma de caça, a configuração do
    grão de chumbo, fornece um indí-
    cio quanto a sua localização. Se o
    grão de chumbo não for alterado,
    provavelmente estará situado no
    tecido mole da face. Com uma pe-
    netração profunda e o impacto so-
    bre o osso, a forma do grão de
    chumbo é alterada e fragmenta-se.
          No entanto, não se pode ter
                                                       Fig. 1- Radiografia lateral de cabeça       Fig. 2 - Radiografia frontal
    apenas como base o local de entra-
    da do projétil, mas, sim, seu tama-
    nho, seu desvio, sua fragmentação
    e sua localização real. Tomando
   por base o local de entrada, a dis-
   tância do disparo e sinais e sinto-
   mas, como hematomas, edemas,
   limitações funcionais, entre ou-
   tros, pode-se sugerir sua localiza-
   ção. Contudo, sem dúvida alguma,
   a medida mais acertada será, além
   desses critérios, que sempre de-
   vem ser adotados, a de se obter
   uma imagem radiográfica o mais
   fiel possível para que se possa loca-
   lizar o projétil como mínimo de erro.               Fig. 3 - Radiografia panorâmica
         A imagem do projétil em sua
   parte principal e de seus fragmen-
   tos, na maior parte das vezes, po-
   derá apresentar distorções na ima-
   gem radiográfica, decorrentes de                       Na literatura concernente, há               e lateral de cabeça são de grande
   sua localização em relação ao fei-               relatos de corpos estranhos locali-               valia (NICODEMO e MÉDICI-FI-
   xe central dos raios X (Fig.1, 2 e 3).           zados no interior do seio maxilar,                LHO, 2000). Uma desvantagem da
   Portanto, uma vez localizado o                   tais como raízes residuais, mate-                tomografia computadorizada é a
   projétil pelas radiografias básicas,             riais de impressão, agulhas de su-               impossibilidade de identificação de
   devem-se realizar outras, de ma-                 tura e outros objetos, que foram                  artefatos quando uma variedade de
   neira a obter uma noção mais exa-                forçados, acidentalmente,      para               corpos estranhos metálicos tenha
   ta do tamanho, da forma e situação               dentro do seio maxilar (Fig. 4, 5 e               penetrado na face (GASPARINI et
   do corpo estranho. Para isso, utili-             6). Alguns desses relatos indicam                 al., 2002; WAHBEH et aL, 2002).
   zam-se técnicas especiais, tais                  a remoção desses objetos; outros,                 Os mesmos autores consideram
   como dissociação com deslocamen-                 a expulsão espontânea do interior                que a tomografia computadorizada
   to horizontal (Clark), axiais, late-             do seio maxilar, através do óstium               tridimensional mostra corpos es-
   rais oblíquas, panorâmicas, xeror-               (BARCLAY,    1987;WESTERMARK,                    tranhos de uma estrutura tridi-
   radiografias e tomografias (GAN-                 1989).                                           mensional, como ferimentos na
   DRA,1988).                                             Para localizar corpos estra-               região de órbita, e que a ressonân-
                                                    nhos 110 interior do seio maxilar, o             cia magnética, quando comparada
                                                    exame ideal é a tomografia compu-                com a tomografia computadoriza-
                                                    tadorizada. Porém, as técnicas in-               da, permite melhor avaliação dos
                                                    trabucais periapical e oclusal e,                tecidos moles, de tal modo que ob-
                                                    principalmente, as extrabucais                   jetos com menor densidade pode-
                                                    póstero-anterior para seio maxilar               rão ser observados.



Passo Fundo, v. 9, n. 1, p. 47-51, jan./jun. 2004                                                                                                     49
Figuras 4, 5 e 6: Caso clínico de introdução acidental do terceiro molar superior no seio maxi-   ção de fístula e edema. Entretan-
                       lar esquerdo                                                                    to, é válido lembrar que cálculos
                                                                                                       salivares podem ser confundidos
                                                                                                       com corpos estranhos; por isso, no
                                                                                                       mínimo duas projeções radiográ-
                                                                                                       ficas são essenciais para o diagnós-
                                                                                                       tico diferencial também com le-
                                                                                                       sões, como odontomas, lesões api-
                                                                                                       cais ou até flebólitos relacionados
                                                                                                       com hemangiomas         cavernosos
                                                                                                       (RASPALL e GONZALEZ, 1990).


                                                                                                       Considerações finais
     Fig. 4 - Radiografia panorâmica     inicial
                                                                                                              A solicitação de radiografias
                                                                                                       para determinado caso é feita par-
                                                                                                       tindo-se de um diagnóstico clínico
                                                                                                       preestabelecido. Os exames radio-
                                                                                                       gráficos mais adequados auxiliarão
                                                                                                       na confirmação do diagnóstico,
                                                                                                       bem como na documentação do ca-
                                                                                                       so, e fornecerão informações adi-
                                                                                                       cionais a respeito do mesmo.
                                                                                                              Há necessidade de o radiolo-
                                                                                                       gista possuir conhecimentos de
                                                                                                       anatomia normal, de suas varian-
                                                                                                       tes e de patologia geral e bucal. É
                                                                                                       válido considerar que radiografias
                                                                                                       são imagens bidimensionais de es-
     Fig. 5 - Radiografia panorâmica    pós-operatória
                                                                                                       truturas tridimensionais e que, por
                                                                                                       isso, apresentam muitas superpo-
                                                                                                       sições, que mostram tonalidades
                                                                                                       do branco ao preto, passando por
                                                                                                       variados graus intermediários de
                                                                                                       cinza. Dessa forma, quanto melhor
                                                                                                       for a qualidade das imagens a se-
                                                                                                       rem avaliadas, maior fidelidade
                                                                                                       terá a hipótese de diagnóstico.
                                                                                                              Quando solicitados, os exa-
                                                                                                       mes radiográficos deverão sempre
                                                                                                       se complementar, formando ângu-
                                                                                                       los retos entre si, para que se pos-
                                                                                                       sa ter uma idéia da real localização
                                                                                                       dos objetos a serem investigados.
                                                                                                       Sempre que necessário, deve-se
                                                                                                       lançar mão de meios auxiliares de
                                                                                                       diagnóstico mais avançados para
                                                                                                       esclarecer as dúvidas que as ra-
                                                                                                       diografias obtidas pelo método
     Fig. 6 - Radiografia póstero-anterior   para seios maxilares (Waters)
                                                                                                       convencional não lograram identi-
                                                                                                       ficar.
                                                                                                              Na maior parte dos casos, os
           Corpos estranhos em glându-                   ma, casca de cereais e outros
                                                                                                       exames radiográficos confirmam o
     las salivares são de ocorrência                     (KURATA e ORMORI, 1992;
                                                                                                       exame clínico e a anamnese, mas
     rara; geralmente, quando presen-                    NIMMO et al., 1988; RASPALL e
                                                                                                       numa parte significativa desses é
     tes, localizam-se    no dueto de                    GONZALEZ, 1990). Os mesmos
                                                                                                       o exame radiográfico de rotina que
     Wharton. Os corpos estranhos re-                    autores relatam que corpos estra-
                                                                                                       descobre os corpos estranhos que
     latados incluem lascas de madeira,                  nhos no dueto induzirão à forma-
                                                                                                       não apresentam sintomatologia.
     fragmentos de dentes, folha de gra-                 ção de cálculos salivares ou à ocor-
                                                                                                       Por isso, rotineiramente, deve-se
                                                         rência de sialoadenites com forma-


50                                                                                                            Revista da Faculdade de Odontologia
incluir no exame clínico o exame                                                                  FREITAS, A; ROSA, J. E.; SOUZA, L F.
    radiográfico e sobretudo ao pacien-
                                                      Referências                                     Radiologia odontológiea. 5. ed. São Pau-
                                                                                                      lo: Artes Médicas, 2000. p. 179-198.
    te da clínica odontopediátrica, pois,
                                                      BARCLAY, J. K. Root in the maxillary            NIMMO, S. S. et al. Ingestion of a unila-
    conforme as referências descritas
                                                      sinus. Oral Surg Oral Méd Oral Pathol,          teral removable partial denture causing
    nesta pesquisa, há grande incidên-                v. 64, n. 2, p. 162-164, Aug. 1987.             serious complications.    Oral Surg Oral
    cia da presença de corpos estra-                  BETHKE, G.; REICHART, P. A. Risk of
                                                                                                      Med Oral Pathol, v. 69, n. 1, p. 24-25, Jan.
    nhos na região orofacial, a fim de                                                                1988.
                                                      oral piercing. Mund Kiefer Gesichtschir,
    prevenir complicações futuras.                    v. 3, n. 2, p. 98-101, Mar. 1999.               PERKINS, C. S. et al. A complication of
                                                      BOTCHWAY, C.; KUC, I. Tongue pier-              tongue piercing. Br Dent J, v. 182, n. 4,
                                                                                                      p. 147-148, Feb. 1997.
                                                      cing and associated tooth fracture. J Can
    Abstract                                          Dent Assoc, v. 64, n. 11, p. 803-805, Dec.      RANALLI, D. N. et al. Tooth and foreign
                                                      1988.                                           object in the nasal fossa of a child a cleft:
         The aim of this study is to                  CANTO, G. L. et aI. "Piercing" bucal: o         case reporto Pediatric Dent, v. 12, n. 3,
                                                                                                      p. 182-183, May/June 1990.
    make a literature review about                    que os dentistas devem saber. Rev Assoe
    foreign bodies present in maxillary               Paul Cir Dent, v. 56, n. 5, p. 345-349, set./   RASPALL, G.; GONZALEZ, J. An unu-
                                                      out. 2002.                                      sual case of intraparotid foreign body. J
    bones and soft tissues of the face,                                                               Oral Maxillofac Surg, v. 48, n. 6, p. 628-
    showing how they appear and their                 FAGAN, T.; MATHEWSON, R. Unusual
                                                                                                      630, June 1990.
                                                      nasal foreign body detected by panoramic
    consequences. The radiographic                    dental radiography. Pediatric Dent, v. 12,      STAFNE, E.; GIBILISCO, J. A.        Corpos
    aspects and the main incidences                   n. 1, p. 43-44, Feb. 1990.                      estranhos dentro e em torno dos     maxila-
    for their localization is the focus of            GANDRA, Y. R. A radiologia na avalia-           res. In: __ . Diagnóstico bucal.     Rio de
    our discussion. The conclusion                                                                    Janeiro: Interamericana.  1986.     p. 343-
                                                      ção das lesões da face por corpos estra-
                                                                                                      348.
    showed radiographs must be done                   nhos. In: FREITAS, A; ROSA, J. E.; SOU-
                                                      ZA, r. F. Radiologia odontológiea. 5. ed.       TRESKA, T. P; SMITH, C. C. Swallowed
    in such a way they complement
                                                      São Paulo:Artes Médicas, 2000. p. 591-60l.      partial denture. Oral Surg Oral Méd
    each other and form right angles,                                                                 Oral Pathol, v. 72, n. 6, p. 756-757, Dec.
                                                      GASPARINI, G. et al. Maxillofacial trau-
    so that we may have an idea on the                mas. J Craniofae Surg , v. 13, n. 5, p. 645-
                                                                                                      1991.
    reallocalization ofthe investigated               649, Sept. 2002.                                WAHBEH, G. et al. Foreign body inges-
    objects. In most cases, the radio-                HOERLE, S.; KUBA, G. B. Complications           tion in infants and children: location.
    graphic image confirms the clinical                                                               Clin Pediatr, v. 41, n. 9, p. 633-640, Nov./
                                                      following eyebrow piercing. Ophthalmo-
                                                                                                      dec. 2002.
    examination, but in a great num-                  loge, v. 99, n. 3, p. 200-202, Mar. 2002.
    ber of cases the dental radiogra-                                                                 WESTERMARK, A H. Spontaneous re-
                                                      KITTLE, P. E. Incidental finding of an
                                                                                                      moval offoreign bodies from the maxilla-
    phic routine examination is the                   intranasal  foreign body discovered on
                                                                                                      ry sinus: report of case. J Oral Maxillo-
    one that discovers the foreign bo-                routine dental examination: case reporto
                                                                                                      fac Surg, v. 47, n. 1, p. 75-77, Jan. 1989.
                                                      Pediatric Dent, v. 13, n. 1, p. 49-51, Jan./
    dies that don't have any symptoms.                Feb. 1991.                                      WUEHRMANN, A; MANSON-HING, L.
       Q

                                                      KURATA, K.; OHMORI, r. Inhalation of            R. Doenças de importância radiográfica.
   Key words: foreign bodies, radio-                  an avulsed primary tooth. Oral Sug, v.
                                                                                                      In: __  . Radiologia Dentária. Rio de Ja-
   graph.                                                                                             neiro: Guanabara Koogan, 1977. p. 309-
                                                      71, n. 2, p. 128-129, Jan. 1992.
                                                                                                      78.
                                                      LANGLAND, O.; LANGLAIS, R . Special
                                                                                                      ZIKK, D. Inhalation of dental prothesis.
                                                      panoramic techniques. Panoramic radio-
                                                                                                      Oral Surg Oral Med Oral Pahol, v. 71,
                                                      logy. In: __ . Philadelphia: Lea & Febger,
                                                                                                      n. 2, p. 126-127, Jan. 1991.
                                                      1989. p. 102-123.
                                                      LIMA, r. C. A moda do "piercing"pode ser
                                                      perigosa. J Assoe Paul Cir Dent, v. 35,           Endereço    para correspondência
                                                      n. 522, p. 37-38, out. 2000.
                                                                                                       .AlineRoseCantareiiMorosolli
                                                                                                                         l
                                                      LOH, F. C. Talisman in the orofacial re-
                                                                                                        RuaAfonsoCésarde Siqueira,212/53
                                                      gion. Oral Surg Oral Méd Oral Pathol,             VilaAdyanna
                                                      v. 68, n. 2, p. 252-255, Sep. 1989.               CEP12243-710- SãoJosédos Campos- SP
                                                      NICODEMO, R. A; MÉDICI, FILHO, E.                 Fone:(12)39237217
                                                                                                        E-mail: rmorosolli@yahoo.com.br
                                                                                                              a
                                                      Métodos de localização radiográfica. In:




Passo Fundo, v. 9, n. 1, p. 47-51, jan./jun.   2004                                                                                                   51

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Corpos estranhos na face: revisão da literatura

  • 1. Corpos estranhos na face Foreign bodies in the face Aline Rose Cantarelli Morosolli1 Luiz César de Moraes] Edmundo Mediei Fiiho' Mari Eli Leonelli de Morees' Márcia Rejane Brücker' cujo objetivo é aprofundar os co- Introdução nhecimentos sobre corpos estra- nhos nos maxilares e tecidos mo- Corpo estranho é todo e qual- les da face. quer objeto ou estrutura que, de alguma forma, esteja fora de seu local de costume. Revisão da A presença de corpos estra- nhos em determinada região do literatura corpo pode ser conseqüência de Corpos estranhos nos tecidos trauma ou, até mesmo, a sua in- moles da face e nos ossos maxila- serção pode ter sido feita com al- res são freqüentemente encontra- guma finalidade útil. Há uma ínti- dos em exames radiográficos de ma relação entre o agente trauma- rotina, pois, na sua maioria, não tizante e a área receptara, poden- apresentam sintomatologia. Pro- do ocorrer ou não alterações nos vavelmente, os tecidos moles da tecidos de natureza tão delicada face contêm mais corpos estranhos que mal causam modificaçõesana- do que os tecidos de outras partes tômicas nas partes consideradas. do corpopor estarem expostos, não São alterações que nem sempre sendo cobertos por vestimenta que estarão visíveis ao exame clínico, constitua uma forma de proteção à havendo, em sua maioria, a neces- pele (STAFNEe GIBILISCO, 1986; sidade de solicitação de exame GANDRA,1988).Corpos estranhos radiográfico para a sua localização comumente encontrados dentro e confirmação; porém, em muitos dos maxilares são amálgama de casos, só são descobertos aciden- prata, guta-percha, cimento, ins- talmente durante a realização de trumentos dentários fraturados, um exame radiográfico de rotina. tais comomandris, curetas, brocas Em virtude da alta incidência e agulhas. Nos tecidos moles são dessas alterações nos dias de hoje, mais frequentemente encontradas causadas pelos mais variados trau- agulhas hipodérmicas, alfinetes, matismos e tratamentos odontoló- agulhas de costura, projéteis de ar- gicos que utilizam substâncias di- mas de fogo,munição de armas de versas, justifica-se esta pesquisa, caça e de pequeno calibre e uma I Aluna-do curso de pós-graduação em Biopatologia Bucal, área de concentração Radiologia Odontológica/ Faculdade de Odontologia de São José dos Campos - Unesp. 2 Professor Titular da disciplina de Radiologia! Faculdade de Odontologia de São José dos Campos - Unesp. 3 Professor Titular da disciplina de Radiologia! Faculdade de Odontologia de São José dos Campos - Unesp. 4 Professora Doutora da disciplina de Radiologia! Faculdade de Odontologia de São José dos Campos - Unesp. 5 Professora Doutora Titular das disciplinas de Radiologia! Faculdade de Odontologia da PUCRS. Recebido em: 01-04-2003 / aceito em: 21-10-03 Passo Fundo, v. 9, n. 1, p. 12-15, jan./jun. 2004 47
  • 2. variedade de fragmentos metálicos LIMA, 2000; CANTO et al., 2002; (ZIKK, 1991). Por exemplo, a inges- ou estilhaços de vidro, muitos dos HORLE e KUBA, 2002). tão de uma prótese dental pode ser quais em decorrência de acidentes Amada do twinkle, a exemplo uma experiência dolorosa para o de trânsito. Em alguns casos, dis- dos dentes confeccionados em paciente em razão das seqüelas, positivos dentários encontrados no ouro, os quais eram sinônimos de uma vez que pode resultar em per- interior ou à volta dos maxilares riqueza e vaidade, apresenta-se furação de estruturas internas e, foram colocados originalmente na como uma forma alternativa e con- concomitantemente, em infecção boca com alguma finalidade e tor- servadora, preservando a saúde (TRESKA e SMITH, 1991). naram-se corpos estranhos em de- dos tecidos bucais, uma vez que Geralmente, nos casos de fra- corrência de traumas na face sua aplicação é feita por dentistas, turas dentárias, pode ocorrer a in- (STAFNE e GIBILISCO,1986). utilizando a técnica de colagem, trodução de fragmentos nos tecidos Corpos estranhos são bastan- como a utilizada na colocação de moles dos lábios e bochechas, em te freqüentes na clínica odontope- braquetes ortodônticos. O fato de razão de acidentes com esportes e diátrica, principalmente na faixa ser uma técnica reversível e de não brincadeiras, como patins, bicicle- etária entre dois a quatro anos de causar danos ao dente torna esse ta e skate; nesses casos, as radio- idade, em razão do hábito das crian- método alternativo uma boa opção grafias são essenciais para a loca- ças de colocar objetos na boca ou para a clínica (CANTO et al., 2002). lização do objeto sem evidência clí- no nariz. Esses objetos incluem cas- As radiografias são muito nica. Freqüentemente, pode ocor- cas, grãos, nozes, lápis, parafusos, úteis na localização de corpos es- rer inalação ou aspiração de raízes pregos, madeira, botões e papel. tranhos; as características das pelo paciente durante o ato cirúr- Tem sido relatado, de forma idên- imagens radiográficas variam de gico, ou aspiração de dente decíduo tica, em crianças com fendas la- acordo com a natureza do objeto, por estar levemente preso à gen- biopalatais (FAGAN e MATHEW- porém imagens nem sempre estão giva (KURATA e OHMORI, 1992). SON, 1990; RANALLI et aI., 1990; presentes. Objetos radiolúcidos, De acordo com Langland e WAHBEH et aI., 2002). Existem, tais como lascas de madeira e fios Langlais (1989), os objetos localiza- ainda, determinadas crenças reli- de sutura de seda, não podem ser dos nos tecidos moles, quando su- giosas que levam os indivíduos a vistos radiograficamente. Lembra- perpostos a estruturas ósseas, pa- usar adornos em algumas regiões se que objetos radiolúcidos, como recerão estar introduzidos no osso. da face (LOH,1989). Relatos evi- o vidro, não são necessariamente Por isso, para localizar um corpo denciam a presença de corpos es- radiolúcidos como os vitrais e frag- estranho são necessárias, no míni- tranhos aspirados ou deglutidos mentos de vidro de pára-brisa de mo, duas radiografias. O ideal é acidentalmente, tais como próte- automóveis (FAGAN e MATHEW- que sejam feitas três incidências ses removíveis, dentes e raízes SON, 1990;GASPARINIet al., 2002). radiográficas, uma em direção a avulsionadas e, até mesmo, restau- A área craniofacial é freqüen- cada plano facial de referência (pla- rações dentárias (NIMMO et al., temente exposta a risco de injúrias nos frontal, sagital e horizontal). 1988). causadas por acidentes automobi- Sinais clínicos, comorinorréia A exemplo de uma massifi- lísticos, de trabalho e esportivos; crônica, odor nasal, halitose, cefa- cada e repetida difusão por meio no caso de objetos radiopacos loca- léia, espirros e epistaxes, podem dos instrumentos de comunicação, lizados na orofaringe, podem ser ser indícios da presença de corpo como rádio e televisão, modas co- detectados radiograficamente para estranho, trazendo como possível mo piercing são também absorvi- se determinar se foram deglutidos conseqüência a formação de abs- das pelos adolescentes; o piercing ou aspirados (WUEHRMANN e cesso com lise óssea (KITTLE, de língua e o de lábio constituem MANSON-HING,1977). 1991). Tendo em vista que a pre- formas de arte concentradas na Corpos estranhos radiopacos sença de corpo estranho, em sua região bucal em grande parte do podem ser introduzidos como meio maior parte, é assintomática, seu mundo. Sabe-se que opiercing bu- de contraste auxiliares de diagnós- achado pode ser acidental quando cal pode causar conseqüências co- tico, como o lipiodol, injetado no do exame clínico e/ou exame radio- mo dor, edema, aumento de saliva- interior do seio maxilar, ou meio gráfico de rotina (NIMMO et al., ção, abrasão dental, formação de terapêutica, como fios metálicos 1988; RANALLI et al., 1990). abcesso, dificuldade na fonação e utilizados em procedimentos cirúr- Objetos metálicos no interior na mastigação, septicemia, infec- gicos na redução de fraturas na dos tecidos moles localizados na re- ção disseminada pelos tecidos (an- face; ou, ainda, com algum propó- gião mandibular são facilmente gina de Ludwig), danos a estrutu- sito útil, como a cartilagem ou identificados quando visualizados ras profundas (como veias e ner- silicone, que são implantados na em radiografia panorâmica. Mui- vos), fraturas dentárias, recessão superfície anterior da mandíbula tos dos corpos estranhos são mate- gengivallocalizada, risco potencial por razões estéticas (LOH, 1989). riais e instrumentais dentários; o de aspiração das partes que com- Em geral, objetos estranhos mais comum é o amálgama de pra- põem o adereço, além da possibili- que tenham sido ingeridos podem ta que freqüentemente cai no al- dade cancerígena atribuída ao trau- passar imperceptíveis através do véolo durante a extração de um ma local ( BOTCHWAY e KUC, sistema gastrointestinal; se estive- dente logo após uma restauração, 1988; PERKINS et aI., 1997; rem alojados no esôfago , a en- por exemplo. As radiografias pós- BETHKE e REICHART, 1999; doscopia é geralmente solicitada operatórias revelarão a presença 48 Revista da Faculdade de Odontologia
  • 3. deles, que, então, podem ser remo- Figuras 7, 2, 3: A seqüência de radiografias lateral de cabeça cefalométrica, frontal e panorâ- vidos com facilidade antes da cica- mica mostra possíveis localizações dos projéteis em região de tecido mole e parede posterior do seio maxilar, lado esquerdo trização do alvéolo (STAFNE e GIBILISCO, 1986).Os autores afir- mam ainda que a presença de mu- nição de arma de caça e projéteis de pequeno calibre não é um acha- do incomum. No caso de munição de arma de caça, a configuração do grão de chumbo, fornece um indí- cio quanto a sua localização. Se o grão de chumbo não for alterado, provavelmente estará situado no tecido mole da face. Com uma pe- netração profunda e o impacto so- bre o osso, a forma do grão de chumbo é alterada e fragmenta-se. No entanto, não se pode ter Fig. 1- Radiografia lateral de cabeça Fig. 2 - Radiografia frontal apenas como base o local de entra- da do projétil, mas, sim, seu tama- nho, seu desvio, sua fragmentação e sua localização real. Tomando por base o local de entrada, a dis- tância do disparo e sinais e sinto- mas, como hematomas, edemas, limitações funcionais, entre ou- tros, pode-se sugerir sua localiza- ção. Contudo, sem dúvida alguma, a medida mais acertada será, além desses critérios, que sempre de- vem ser adotados, a de se obter uma imagem radiográfica o mais fiel possível para que se possa loca- lizar o projétil como mínimo de erro. Fig. 3 - Radiografia panorâmica A imagem do projétil em sua parte principal e de seus fragmen- tos, na maior parte das vezes, po- derá apresentar distorções na ima- gem radiográfica, decorrentes de Na literatura concernente, há e lateral de cabeça são de grande sua localização em relação ao fei- relatos de corpos estranhos locali- valia (NICODEMO e MÉDICI-FI- xe central dos raios X (Fig.1, 2 e 3). zados no interior do seio maxilar, LHO, 2000). Uma desvantagem da Portanto, uma vez localizado o tais como raízes residuais, mate- tomografia computadorizada é a projétil pelas radiografias básicas, riais de impressão, agulhas de su- impossibilidade de identificação de devem-se realizar outras, de ma- tura e outros objetos, que foram artefatos quando uma variedade de neira a obter uma noção mais exa- forçados, acidentalmente, para corpos estranhos metálicos tenha ta do tamanho, da forma e situação dentro do seio maxilar (Fig. 4, 5 e penetrado na face (GASPARINI et do corpo estranho. Para isso, utili- 6). Alguns desses relatos indicam al., 2002; WAHBEH et aL, 2002). zam-se técnicas especiais, tais a remoção desses objetos; outros, Os mesmos autores consideram como dissociação com deslocamen- a expulsão espontânea do interior que a tomografia computadorizada to horizontal (Clark), axiais, late- do seio maxilar, através do óstium tridimensional mostra corpos es- rais oblíquas, panorâmicas, xeror- (BARCLAY, 1987;WESTERMARK, tranhos de uma estrutura tridi- radiografias e tomografias (GAN- 1989). mensional, como ferimentos na DRA,1988). Para localizar corpos estra- região de órbita, e que a ressonân- nhos 110 interior do seio maxilar, o cia magnética, quando comparada exame ideal é a tomografia compu- com a tomografia computadoriza- tadorizada. Porém, as técnicas in- da, permite melhor avaliação dos trabucais periapical e oclusal e, tecidos moles, de tal modo que ob- principalmente, as extrabucais jetos com menor densidade pode- póstero-anterior para seio maxilar rão ser observados. Passo Fundo, v. 9, n. 1, p. 47-51, jan./jun. 2004 49
  • 4. Figuras 4, 5 e 6: Caso clínico de introdução acidental do terceiro molar superior no seio maxi- ção de fístula e edema. Entretan- lar esquerdo to, é válido lembrar que cálculos salivares podem ser confundidos com corpos estranhos; por isso, no mínimo duas projeções radiográ- ficas são essenciais para o diagnós- tico diferencial também com le- sões, como odontomas, lesões api- cais ou até flebólitos relacionados com hemangiomas cavernosos (RASPALL e GONZALEZ, 1990). Considerações finais Fig. 4 - Radiografia panorâmica inicial A solicitação de radiografias para determinado caso é feita par- tindo-se de um diagnóstico clínico preestabelecido. Os exames radio- gráficos mais adequados auxiliarão na confirmação do diagnóstico, bem como na documentação do ca- so, e fornecerão informações adi- cionais a respeito do mesmo. Há necessidade de o radiolo- gista possuir conhecimentos de anatomia normal, de suas varian- tes e de patologia geral e bucal. É válido considerar que radiografias são imagens bidimensionais de es- Fig. 5 - Radiografia panorâmica pós-operatória truturas tridimensionais e que, por isso, apresentam muitas superpo- sições, que mostram tonalidades do branco ao preto, passando por variados graus intermediários de cinza. Dessa forma, quanto melhor for a qualidade das imagens a se- rem avaliadas, maior fidelidade terá a hipótese de diagnóstico. Quando solicitados, os exa- mes radiográficos deverão sempre se complementar, formando ângu- los retos entre si, para que se pos- sa ter uma idéia da real localização dos objetos a serem investigados. Sempre que necessário, deve-se lançar mão de meios auxiliares de diagnóstico mais avançados para esclarecer as dúvidas que as ra- diografias obtidas pelo método Fig. 6 - Radiografia póstero-anterior para seios maxilares (Waters) convencional não lograram identi- ficar. Na maior parte dos casos, os Corpos estranhos em glându- ma, casca de cereais e outros exames radiográficos confirmam o las salivares são de ocorrência (KURATA e ORMORI, 1992; exame clínico e a anamnese, mas rara; geralmente, quando presen- NIMMO et al., 1988; RASPALL e numa parte significativa desses é tes, localizam-se no dueto de GONZALEZ, 1990). Os mesmos o exame radiográfico de rotina que Wharton. Os corpos estranhos re- autores relatam que corpos estra- descobre os corpos estranhos que latados incluem lascas de madeira, nhos no dueto induzirão à forma- não apresentam sintomatologia. fragmentos de dentes, folha de gra- ção de cálculos salivares ou à ocor- Por isso, rotineiramente, deve-se rência de sialoadenites com forma- 50 Revista da Faculdade de Odontologia
  • 5. incluir no exame clínico o exame FREITAS, A; ROSA, J. E.; SOUZA, L F. radiográfico e sobretudo ao pacien- Referências Radiologia odontológiea. 5. ed. São Pau- lo: Artes Médicas, 2000. p. 179-198. te da clínica odontopediátrica, pois, BARCLAY, J. K. Root in the maxillary NIMMO, S. S. et al. Ingestion of a unila- conforme as referências descritas sinus. Oral Surg Oral Méd Oral Pathol, teral removable partial denture causing nesta pesquisa, há grande incidên- v. 64, n. 2, p. 162-164, Aug. 1987. serious complications. Oral Surg Oral cia da presença de corpos estra- BETHKE, G.; REICHART, P. A. Risk of Med Oral Pathol, v. 69, n. 1, p. 24-25, Jan. nhos na região orofacial, a fim de 1988. oral piercing. Mund Kiefer Gesichtschir, prevenir complicações futuras. v. 3, n. 2, p. 98-101, Mar. 1999. PERKINS, C. S. et al. A complication of BOTCHWAY, C.; KUC, I. Tongue pier- tongue piercing. Br Dent J, v. 182, n. 4, p. 147-148, Feb. 1997. cing and associated tooth fracture. J Can Abstract Dent Assoc, v. 64, n. 11, p. 803-805, Dec. RANALLI, D. N. et al. Tooth and foreign 1988. object in the nasal fossa of a child a cleft: The aim of this study is to CANTO, G. L. et aI. "Piercing" bucal: o case reporto Pediatric Dent, v. 12, n. 3, p. 182-183, May/June 1990. make a literature review about que os dentistas devem saber. Rev Assoe foreign bodies present in maxillary Paul Cir Dent, v. 56, n. 5, p. 345-349, set./ RASPALL, G.; GONZALEZ, J. An unu- out. 2002. sual case of intraparotid foreign body. J bones and soft tissues of the face, Oral Maxillofac Surg, v. 48, n. 6, p. 628- showing how they appear and their FAGAN, T.; MATHEWSON, R. Unusual 630, June 1990. nasal foreign body detected by panoramic consequences. The radiographic dental radiography. Pediatric Dent, v. 12, STAFNE, E.; GIBILISCO, J. A. Corpos aspects and the main incidences n. 1, p. 43-44, Feb. 1990. estranhos dentro e em torno dos maxila- for their localization is the focus of GANDRA, Y. R. A radiologia na avalia- res. In: __ . Diagnóstico bucal. Rio de our discussion. The conclusion Janeiro: Interamericana. 1986. p. 343- ção das lesões da face por corpos estra- 348. showed radiographs must be done nhos. In: FREITAS, A; ROSA, J. E.; SOU- ZA, r. F. Radiologia odontológiea. 5. ed. TRESKA, T. P; SMITH, C. C. Swallowed in such a way they complement São Paulo:Artes Médicas, 2000. p. 591-60l. partial denture. Oral Surg Oral Méd each other and form right angles, Oral Pathol, v. 72, n. 6, p. 756-757, Dec. GASPARINI, G. et al. Maxillofacial trau- so that we may have an idea on the mas. J Craniofae Surg , v. 13, n. 5, p. 645- 1991. reallocalization ofthe investigated 649, Sept. 2002. WAHBEH, G. et al. Foreign body inges- objects. In most cases, the radio- HOERLE, S.; KUBA, G. B. Complications tion in infants and children: location. graphic image confirms the clinical Clin Pediatr, v. 41, n. 9, p. 633-640, Nov./ following eyebrow piercing. Ophthalmo- dec. 2002. examination, but in a great num- loge, v. 99, n. 3, p. 200-202, Mar. 2002. ber of cases the dental radiogra- WESTERMARK, A H. Spontaneous re- KITTLE, P. E. Incidental finding of an moval offoreign bodies from the maxilla- phic routine examination is the intranasal foreign body discovered on ry sinus: report of case. J Oral Maxillo- one that discovers the foreign bo- routine dental examination: case reporto fac Surg, v. 47, n. 1, p. 75-77, Jan. 1989. Pediatric Dent, v. 13, n. 1, p. 49-51, Jan./ dies that don't have any symptoms. Feb. 1991. WUEHRMANN, A; MANSON-HING, L. Q KURATA, K.; OHMORI, r. Inhalation of R. Doenças de importância radiográfica. Key words: foreign bodies, radio- an avulsed primary tooth. Oral Sug, v. In: __ . Radiologia Dentária. Rio de Ja- graph. neiro: Guanabara Koogan, 1977. p. 309- 71, n. 2, p. 128-129, Jan. 1992. 78. LANGLAND, O.; LANGLAIS, R . Special ZIKK, D. Inhalation of dental prothesis. panoramic techniques. Panoramic radio- Oral Surg Oral Med Oral Pahol, v. 71, logy. In: __ . Philadelphia: Lea & Febger, n. 2, p. 126-127, Jan. 1991. 1989. p. 102-123. LIMA, r. C. A moda do "piercing"pode ser perigosa. J Assoe Paul Cir Dent, v. 35, Endereço para correspondência n. 522, p. 37-38, out. 2000. .AlineRoseCantareiiMorosolli l LOH, F. C. Talisman in the orofacial re- RuaAfonsoCésarde Siqueira,212/53 gion. Oral Surg Oral Méd Oral Pathol, VilaAdyanna v. 68, n. 2, p. 252-255, Sep. 1989. CEP12243-710- SãoJosédos Campos- SP NICODEMO, R. A; MÉDICI, FILHO, E. Fone:(12)39237217 E-mail: rmorosolli@yahoo.com.br a Métodos de localização radiográfica. In: Passo Fundo, v. 9, n. 1, p. 47-51, jan./jun. 2004 51