1. O PÚBLICO e as pressões de Miguel Relvas
18.05.2012 - 22:50 Por Direcção Editorial
Uma jornalista do PÚBLICO que tem acompanhado o caso das secretas foi alvo
de uma pressão por parte do ministro dos Assuntos Parlamentares, Miguel
Relvas, que a direcção do PÚBLICO considerou inaceitável e que motivou um
protesto da direcção do jornal, apresentado esta sexta-feira pela directora do
PÚBLICO, Bárbara Reis. O ministro pediu em seguida desculpa ao jornal.
Num telefonema à editora de política do jornal, na quarta-feira, Miguel Relvas
ameaçou fazer um blackout noticioso do Governo contra o jornal e divulgar
detalhes da vida privada da jornalista Maria José Oliveira, de quem tinha
recebido nesses dias um conjunto de perguntas relativas a contradições nas
declarações que prestara, no dia anterior, na Comissão de Assuntos
Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias.
O PÚBLICO perguntou ao ministro Miguel Relvas se apagara as mensagens
electrónicas que recebera do antigo director do SIED, Silva Carvalho.
Perguntou também porque é que tinha dito ter recebido um clipping de uma
notícia sobre uma viagem de George W. Bush ao México, uma vez que Bush já
não era presidente dos Estados Unidos à data em que o ministro dos Assuntos
Parlamentares disse ter conhecido Silva Carvalho (depois de 2010). E ainda por
que razão Silva Carvalho lhe enviara um SMS com propostas de nomeações
para os serviços secretos e qual a data destas mensagens.
Estes factos tinham sido já noticiados na edição impressa do jornal. A
informação nova em relação aos factos já conhecidos era apenas uma: o
ministro não aceitou responder.
Por isso, a direcção entendeu que não havia matéria publicável e que o
trabalho seria continuado no sentido de procurar novos factos. Essa foi
também a avaliação de três editores, do online e do papel, sem terem
comunicado entre si, antes de o ministro Miguel Relvas ter telefonado à editora
de política.
Até hoje nenhuma notícia sobre o caso das secretas deixou de ser publicada e
nenhum facto relevante sobre esta matéria deixou de ser do conhecimento dos
leitores. O PÚBLICO tem dado ao tema um destaque particular, com inúmeras
manchetes.
Foi no seguimento da investigação jornalística do PÚBLICO que o envio de um
e-mail e de SMS de Jorge Silva Carvalho, ex-chefe do SIED, foi conhecido, o
que resultou na convocação de Miguel Relvas para prestar esclarecimentos no
Parlamento.
A posição do PÚBLICO, ao longo dos anos, tem sido a de não reagir ou
2. denunciar publicamente a ameaças ou pressões feitas a jornalistas. Não se
trata de desvalorizar essas pressões. Esta prática foi seguida sempre que
estivemos sob fortes pressões, como aconteceu recentemente no caso do
Sporting. É devido ao debate público entretanto gerado que a Direcção do
jornal faz hoje esta nota.
As excepções à regra de não divulgação das pressões apenas devem ser
consideradas quando existam violações da lei. A direcção consultou o advogado
do jornal, Francisco Teixeira da Mota, que considerou não ser esse o caso.
A Direcção