SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 1
Baixar para ler offline
18/04/2016 15:19:16 - EMPRESAS E SETORES
MERCADO DE CRÉDITO PRIVADO PRECISARÁ MAIS DO QUE
IMPEACHMENT PARA GANHAR TRAÇÃO
São Paulo, 18/04/2016 - O mercado de crédito privado terá de ver um pouco mais do que a aprovação
da admissibilidade do impeachment na Câmara dos Deputados para ganhar tração e ver aumentar os
volumes de emissões de debêntures, tradicionalmente os papéis mais utilizados para funding local
pelas empresas. Profissionais dizem que as sinalizações de mudanças estruturais, com potencial de
promover o crescimento econômico são, na verdade, o que se aguarda para uma retomada.
"Nossas dificuldades são estruturais e não será apenas uma mudança de humor que vai resolver",
disse o executivo de alto escalão de banco estrangeiro que preferiu não se identificar. "Mercado de
capitais está parado, custo de crédito alto, assim como o risco de inadimplência, portanto, há muito o
que reverter em tão pouco tempo", acrescentou.
Por enquanto, o mercado de crédito privado está concentrado em operações de certificados de
recebíveis do agronegócio (CRA), em algumas debêntures emitidas para bancos para reestruturação
de dívidas, fundos de investimento em direitos creditórios (FIDC) e certificados de recebíveis
imobiliários (CRIs) customizados para desafogar o caixa das empresas.
"O investidor de crédito privado continuará procurando por operações de emissores de primeira linha
e estruturas com seguro", comentou Felipe Ribeiro, coordenador de relações com investidores da
Gaia Securitizadora. Segundo ele, alguns investidores mais sofisticados têm, por exemplo, comprado
certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) estruturados para eles, especificamente. Essas
estruturas carregam, normalmente, fortes garantias, como ativos reais e aval dos cedentes dos
recebíveis. Ele nota que o investidor está privilegiando mais a segurança do que o prêmio. "O
investidor não está disposto a correr risco para ter retorno alto, está optando por uma estrutura forte",
observou.
O chefe de mercado de capitais da XP Investimentos, Tomaz Gouvêa, observou em seminário
realizado na sexta-feira sobre debêntures, haver poucos investidores olhando para o crédito
corporativo e que o impeachment já está precificado nos papéis de dívida das empresas. Para Gouvêa
as rolagens de dívida das empresas, o que tem envolvido renegociações de covenants, tem deixado
o cenário bastante desafiador e levado muitas assets a comprometer boa parte de seu tempo em
assembleias de renegociação.
A restrição de crédito também tem atraído emissores para os FIDCs, de acordo com Alexandre Costa
Rangel, sócio da Costa Rangel Advogados. "É curioso que um canal complexo como esse tenha sido
escolhido como interessante diante das necessidades de financiamento das companhias", afirmou
durante o mesmo seminário sobre debêntures.
De janeiro a março deste ano, foram emitidas R$ 5,2 bilhões em operações, menos do que a metade
do mesmo período do ano passado, quando foram emitidos R$ 11,08 bilhões, de acordo com o boletim
de abril da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima).
As emissões de FIDCs somaram R$ 1 bilhão no mesmo período, de R$ 932 milhões entre janeiro e
março de 2014.
CRA
Na contramão, o forte interesse de investidores e originadores nos CRAs tem atraído até empresas
não diretamente ligadas ao agronegócio. "Emissões de CRA tomaram característica de debênture,
mas são operações corporativas no fim do dia", observou Gouvêa da XP, lembrando que o risco de
muitas estruturas é corporativo. Até agora, o total de emissões anunciadas já supera R$ 4 bilhões,
contra R$ 6,3 bilhões emitidos em 2015. Entre as empresas utilizando o instrumento estão a de
logística JSL, de restaurantes Burger King, de alimentos BRF, de energia Raízen e as de papel e
celulose Suzano e Fibria. (Cynthia Decloedt - cynthia.decloedt@estadao.com)

Mais conteúdo relacionado

Destaque

Social Media Marketing Trends 2024 // The Global Indie Insights
Social Media Marketing Trends 2024 // The Global Indie InsightsSocial Media Marketing Trends 2024 // The Global Indie Insights
Social Media Marketing Trends 2024 // The Global Indie Insights
Kurio // The Social Media Age(ncy)
 

Destaque (20)

PEPSICO Presentation to CAGNY Conference Feb 2024
PEPSICO Presentation to CAGNY Conference Feb 2024PEPSICO Presentation to CAGNY Conference Feb 2024
PEPSICO Presentation to CAGNY Conference Feb 2024
 
Content Methodology: A Best Practices Report (Webinar)
Content Methodology: A Best Practices Report (Webinar)Content Methodology: A Best Practices Report (Webinar)
Content Methodology: A Best Practices Report (Webinar)
 
How to Prepare For a Successful Job Search for 2024
How to Prepare For a Successful Job Search for 2024How to Prepare For a Successful Job Search for 2024
How to Prepare For a Successful Job Search for 2024
 
Social Media Marketing Trends 2024 // The Global Indie Insights
Social Media Marketing Trends 2024 // The Global Indie InsightsSocial Media Marketing Trends 2024 // The Global Indie Insights
Social Media Marketing Trends 2024 // The Global Indie Insights
 
Trends In Paid Search: Navigating The Digital Landscape In 2024
Trends In Paid Search: Navigating The Digital Landscape In 2024Trends In Paid Search: Navigating The Digital Landscape In 2024
Trends In Paid Search: Navigating The Digital Landscape In 2024
 
5 Public speaking tips from TED - Visualized summary
5 Public speaking tips from TED - Visualized summary5 Public speaking tips from TED - Visualized summary
5 Public speaking tips from TED - Visualized summary
 
ChatGPT and the Future of Work - Clark Boyd
ChatGPT and the Future of Work - Clark Boyd ChatGPT and the Future of Work - Clark Boyd
ChatGPT and the Future of Work - Clark Boyd
 
Getting into the tech field. what next
Getting into the tech field. what next Getting into the tech field. what next
Getting into the tech field. what next
 
Google's Just Not That Into You: Understanding Core Updates & Search Intent
Google's Just Not That Into You: Understanding Core Updates & Search IntentGoogle's Just Not That Into You: Understanding Core Updates & Search Intent
Google's Just Not That Into You: Understanding Core Updates & Search Intent
 
How to have difficult conversations
How to have difficult conversations How to have difficult conversations
How to have difficult conversations
 
Introduction to Data Science
Introduction to Data ScienceIntroduction to Data Science
Introduction to Data Science
 
Time Management & Productivity - Best Practices
Time Management & Productivity -  Best PracticesTime Management & Productivity -  Best Practices
Time Management & Productivity - Best Practices
 
The six step guide to practical project management
The six step guide to practical project managementThe six step guide to practical project management
The six step guide to practical project management
 
Beginners Guide to TikTok for Search - Rachel Pearson - We are Tilt __ Bright...
Beginners Guide to TikTok for Search - Rachel Pearson - We are Tilt __ Bright...Beginners Guide to TikTok for Search - Rachel Pearson - We are Tilt __ Bright...
Beginners Guide to TikTok for Search - Rachel Pearson - We are Tilt __ Bright...
 
Unlocking the Power of ChatGPT and AI in Testing - A Real-World Look, present...
Unlocking the Power of ChatGPT and AI in Testing - A Real-World Look, present...Unlocking the Power of ChatGPT and AI in Testing - A Real-World Look, present...
Unlocking the Power of ChatGPT and AI in Testing - A Real-World Look, present...
 
12 Ways to Increase Your Influence at Work
12 Ways to Increase Your Influence at Work12 Ways to Increase Your Influence at Work
12 Ways to Increase Your Influence at Work
 
ChatGPT webinar slides
ChatGPT webinar slidesChatGPT webinar slides
ChatGPT webinar slides
 
More than Just Lines on a Map: Best Practices for U.S Bike Routes
More than Just Lines on a Map: Best Practices for U.S Bike RoutesMore than Just Lines on a Map: Best Practices for U.S Bike Routes
More than Just Lines on a Map: Best Practices for U.S Bike Routes
 
Ride the Storm: Navigating Through Unstable Periods / Katerina Rudko (Belka G...
Ride the Storm: Navigating Through Unstable Periods / Katerina Rudko (Belka G...Ride the Storm: Navigating Through Unstable Periods / Katerina Rudko (Belka G...
Ride the Storm: Navigating Through Unstable Periods / Katerina Rudko (Belka G...
 
Barbie - Brand Strategy Presentation
Barbie - Brand Strategy PresentationBarbie - Brand Strategy Presentation
Barbie - Brand Strategy Presentation
 

20160418 - Mercado de Crédito Privado precisará mais do que Impeachment para ganhar tração - Broadcast

  • 1. 18/04/2016 15:19:16 - EMPRESAS E SETORES MERCADO DE CRÉDITO PRIVADO PRECISARÁ MAIS DO QUE IMPEACHMENT PARA GANHAR TRAÇÃO São Paulo, 18/04/2016 - O mercado de crédito privado terá de ver um pouco mais do que a aprovação da admissibilidade do impeachment na Câmara dos Deputados para ganhar tração e ver aumentar os volumes de emissões de debêntures, tradicionalmente os papéis mais utilizados para funding local pelas empresas. Profissionais dizem que as sinalizações de mudanças estruturais, com potencial de promover o crescimento econômico são, na verdade, o que se aguarda para uma retomada. "Nossas dificuldades são estruturais e não será apenas uma mudança de humor que vai resolver", disse o executivo de alto escalão de banco estrangeiro que preferiu não se identificar. "Mercado de capitais está parado, custo de crédito alto, assim como o risco de inadimplência, portanto, há muito o que reverter em tão pouco tempo", acrescentou. Por enquanto, o mercado de crédito privado está concentrado em operações de certificados de recebíveis do agronegócio (CRA), em algumas debêntures emitidas para bancos para reestruturação de dívidas, fundos de investimento em direitos creditórios (FIDC) e certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) customizados para desafogar o caixa das empresas. "O investidor de crédito privado continuará procurando por operações de emissores de primeira linha e estruturas com seguro", comentou Felipe Ribeiro, coordenador de relações com investidores da Gaia Securitizadora. Segundo ele, alguns investidores mais sofisticados têm, por exemplo, comprado certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) estruturados para eles, especificamente. Essas estruturas carregam, normalmente, fortes garantias, como ativos reais e aval dos cedentes dos recebíveis. Ele nota que o investidor está privilegiando mais a segurança do que o prêmio. "O investidor não está disposto a correr risco para ter retorno alto, está optando por uma estrutura forte", observou. O chefe de mercado de capitais da XP Investimentos, Tomaz Gouvêa, observou em seminário realizado na sexta-feira sobre debêntures, haver poucos investidores olhando para o crédito corporativo e que o impeachment já está precificado nos papéis de dívida das empresas. Para Gouvêa as rolagens de dívida das empresas, o que tem envolvido renegociações de covenants, tem deixado o cenário bastante desafiador e levado muitas assets a comprometer boa parte de seu tempo em assembleias de renegociação. A restrição de crédito também tem atraído emissores para os FIDCs, de acordo com Alexandre Costa Rangel, sócio da Costa Rangel Advogados. "É curioso que um canal complexo como esse tenha sido escolhido como interessante diante das necessidades de financiamento das companhias", afirmou durante o mesmo seminário sobre debêntures. De janeiro a março deste ano, foram emitidas R$ 5,2 bilhões em operações, menos do que a metade do mesmo período do ano passado, quando foram emitidos R$ 11,08 bilhões, de acordo com o boletim de abril da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima). As emissões de FIDCs somaram R$ 1 bilhão no mesmo período, de R$ 932 milhões entre janeiro e março de 2014. CRA Na contramão, o forte interesse de investidores e originadores nos CRAs tem atraído até empresas não diretamente ligadas ao agronegócio. "Emissões de CRA tomaram característica de debênture, mas são operações corporativas no fim do dia", observou Gouvêa da XP, lembrando que o risco de muitas estruturas é corporativo. Até agora, o total de emissões anunciadas já supera R$ 4 bilhões, contra R$ 6,3 bilhões emitidos em 2015. Entre as empresas utilizando o instrumento estão a de logística JSL, de restaurantes Burger King, de alimentos BRF, de energia Raízen e as de papel e celulose Suzano e Fibria. (Cynthia Decloedt - cynthia.decloedt@estadao.com)