Este documento discute como os produtos locais contribuem para a identidade territorial. Apresenta os produtos locais como salvaguardas da herança cultural e gastronômica dos lugares, e como aglutinadores das memórias, saberes e histórias dos territórios. Também destaca que os produtos locais fazem parte da identidade dos lugares, transportando a história e o patrimônio cultural dos antepassados através das gerações.
Beginners Guide to TikTok for Search - Rachel Pearson - We are Tilt __ Bright...
Solsticio 01
1. Projecto "Ninho"
Os produtos locais na identidade territorial
O Ciclo do Queijo: do pasto à mesa
Serra da Gardunha – palimpsesto de paisagens
Albufeira de Santa Águeda: Um oásis para as aves migratórias
Crónica lírica de São Vicente da Beira
3. ASSOCIATIVISMO ACONTECEU EM DESTAQUE /
Associativismo Juvenil... HELDER CARVALHO SALVADO
uma escola de cidadania.
Projecto “Ninho”...
As Associações Juvenis têm na sociedade portuguesa, impondo- JANEIRO
-se como agentes de dinamização sociocultural, de desenvolvi-
mento local e de socialização principalmente dos jovens. 5 HÁ QUE SE CHÁ
em honra aos Reis Magos . Tinalhas
Em particular, estas organizações têm sido responsáveis por gran-
de parte da educação cívica da juventude portuguesa, bem como
10 FESTA DAS PAPAS
em honra a São Sebastião . Póvoa da Atalaia
da aprendizagem do exercício democrático e da difusão de va- 17 BODO (Festa dos Cascoréis)
em honra a São Sebastião . Lardosa NINHO é um projecto musical de altíssima qualidade feito por ções e como a linha de investigação que segue o seu Doutora-
lores positivos, que norteiam e regem a vida das comunidades.
20 SÃO SEBASTIÃO
Celebração Religiosa . Sobral do Campo
artistas que têm uma relação profunda com a região.
Trata-se de um magnífico percurso pela música tradicional por-
mento tem a ver, igualmente, com a recolha, edição e difusão
do património ibero-americano, teve a feliz ideia de formar um
23 CASCORÉIS E FILHOSES
em honra a São Sebastião . Soalheira e Louriçal do Campo tuguesa e pela música de autores consagrados como Eric Satie, grupo para reproduzir estas músicas de tradição oral.
Jacques Ibert, ou Carlos Paredes, tendo como pano de fundo a As músicas são, assim, originárias da Serra da Gardunha, ou-
paisagem mediterrânica. Tem como mentor o músico beirão Mi- tras da sua própria autoria ou de autores consagrados já acima
ABRIL
guel Carvalhinho (guitarra de 10 cordas) que com Irene Ferreira referidos, sempre procurando a influência das raízes musicais
5 SENHORA DA ENCARNAÇÃO
Romaria e Celebração Religiosa . Póvoa de Rio de Moinhos
(voz e violino), Pedro Ladeira (clarinete), Sérgio Chitas (bando-
lim), Fernando Gordo (baixo) e Aldovino Munguambe (percus-
tradicionais beirãs.
O projecto é já um sucesso nacional contando com actuações
SENHORA DA SERRA
Celebração Religiosa . Serra da Gardunha . Castelo Novo são) dão corpo ao projecto. Todos os músicos estão ligados à em todo o distrito de Castelo Branco, tais como no Cine-Teatro
11 SENHORA DAS NECESSIDADES
Romaria e Celebração Religiosa . Soalheira
Escola Superior de Artes Aplicadas do Instituto Politécnico de
Castelo Branco, sendo professores, alunos, ex-alunos ou cola-
Avenida de Castelo Branco, no teatro clube de Alpedrinha e no
programa Viva a Música, da Antena 1.
17 SENHORA DAS PRECES
Celebração Religiosa . Cortiçada . Vale de Prazeres boradores desta instituição.
Por outro lado, os poderes públicos têm vindo a entregar às asso-
MAIO
...
ciações um conjunto de intervenções nos domínios social, cultu-
ral e desportivo, no que tem constituído um dos mais interessan-
(31)›2 FEIRA DO QUEIJO
Soalheira
Os temas são originais ou
tes fenómenos de transferência (ou desconcentração) efectiva de
poder para a esfera civil por parte da administração pública. 23 SENHORA DA ORADA
Romaria e Celebração Religiosa . São Vicente da Beira inspirados em melodias
Como consequência deste apoio efectivo que o Estado tem vindo
a destinar ao movimento associativo, começa agora a surgir uma
JUNHO
da Serra da Gardunha e
nova realidade com o aparecimento de numerosos grupos juvenis
de carácter informal, denominados “segunda geração” de asso-
5 SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS recebem influências das
IMAGEM DA CAPA DO ÁLBUM "nNINHO"
Sobral do Campo
ciações, caracterizadas por uma maior especialização ao nível das
actividades organizadas, que traduzem uma nova mentalidade e 10 SANTA ÁGUEDA
Romaria e Celebração Religiosa . Barragem de Santa Águeda raízes tradicionais musicais
que procuram responder às novas exigências de uma sociedade
actual, onde os jovens não devem ser encarados como um pro-
13 SANTO ANTÓNIO
Festa Popular . Soalheira
beirãs.
blema, mas sim como parte activa e interessada na solução. 19/20 FEIRA DE GASTRONOMIA E ARTESANATO
São Vicente da Beira
Atento a esta nova realidade está particularmente o Instituto Por-
24 SÃO JOÃO
Festas Populares . Atalaia do Campo
...
tuguês da Juventude, entidade responsável pela implementação
e execução das políticas públicas de juventude definidas pelo Miguel Carvalhinho nasceu em Gonçalo, município da Guarda O belíssimo CD que tem na capa um ninho de uma cegonha
Governo, promovendo e dinamizando acções no âmbito da Edu- JULHO e viveu alguns anos, a Sul da Gardunha, na aldeia histórica de (dando nome a todo o projecto) contou com a edição de 200
cação Não Formal, na preparação e formação complementar das Castelo Novo e em Ninho do Açor, onde recolheu pelas aldeias esculturas numeradas, que acompanham o CD, da autoria de
novas gerações, estimulando o exercício da cidadania activa por 25 SÃO SEBASTIÃO
Celebração Religiosa .Vale de Prazeres e vilas vizinhas: Alpedrinha, Soalheira, Casal da Serra, Louriçal José Simão e tem ainda imagens de Rui Monteiro, que é designer
parte de todos os jovens. do Campo, São Vicente da Beira, Souto da Casa e Alcongosta e faz as projecções nos concertos ao vivo, estando à venda em
várias músicas que compõem este disco, tais como: Viradinho todo o país, pela módica quantia de 10 euros.
ao Norte, Anabela, Senhora da Serra, Loureiro Verde Loureiro,
Miguel Nascimento
Director Regional do Centro | Instituto Português da Juventude entre outras. O compositor começou a fazer recolhas de can-
4 5
4. IDENTIDADE
HUGO LANDEIRO DOMINGUES*
OS PRODUTOS
Ao longo dos anos, a identidade dos territórios fez parte das Os produtos locais são, por isso, a salvaguarda da herança cul-
alterações e mutações, na criação ou recriação de um con- tural, gastronómica e artesanal dos lugares e das suas gentes,
junto de ideias apreendidas através da aplicação nas nossas tão importante no desenvolvimento local. Comportam-se como
LOCAIS
actividades diárias, dos saberes e dos conhecimentos passa- aglutinadores das memórias, dos saberes e das histórias dos
dos de geração em geração. territórios.
O Homem imaginou, criou, inventou e reinventou, colmatou as
NA IDENTIDADE
Identidade territorial que se foi construindo e adaptando aos suas necessidades com objectos de ritual, instrumentos musi-
tempos, através de uma panóplia de factos e acontecimentos cais, iguarias gastronómicas e outras soluções que facilitaram a
naturais, sociais ou culturais, que transportam a história, o pa- sua vida. Criações que sobrevivem e resistem ao tempo, porque
TERRITORIAL
trimónio e a memória dos nossos antepassados nas suas vivên- foram utilizados e se mantiveram genuínos, úteis e vivos duran-
cias, medos, crenças e rituais. te séculos, tornando-se, por isso, intemporais.
...
É preciso acreditar que uma boa ideia local, desenvolvida
com base na responsabilidade social, cultural e ambiental,
pode transformar-se num produto global de grande qualidade
e de grande retorno económico e social.
...
A procura de justificação para os fenómenos naturais, o instinto Um infindável saber endógeno que resiste ao tempo muitas ve-
de sobrevivência e a descoberta de novas formas de alimento, zes em pequenos lugares onde, quase tudo, o que faz parte
obrigaram o Homem a descobrir e a criar inúmeras soluções do quotidiano nasceu do cerne da cultura e das ideias locais.
para os problemas do dia-a-dia. Soluções que são hoje artefac- Não devemos esquecer que estes produtos, parte da identidade
tos, instrumentos, construções ou mesmo receitas e iguarias de de cada lugar, são memórias vivas e pedaços da cultura e da
inigualável valor. Ideias, saberes e experiências ancestrais que história do território a que pertencem. Além disso, têm uma
chegaram até hoje porque, mais do que essenciais para a nossa importância imensa porque respeitam o Homem, a Natureza e
sobrevivência, foram, e ainda são, parte da identidade dos luga- a sustentabilidade do território e dos seus recursos.
res e dos povos que os descobriram, utilizaram e transformaram
em fenómenos sociais e culturais de pertença. É positivo acreditar que um produto é melhor que os outros,
mas é preferível distinguir um produto pela sua diferença, espe-
Esses produtos, elementos identitários dos territórios, demons- cificidade e sustentabilidade. É preciso acreditar que uma boa
tram grande importância como poderosos mensageiros agre- ideia local, desenvolvida com base na responsabilidade social,
gadores desse conhecimento, cultura e história, capazes de cultural e ambiental, pode transformar-se num produto global
guardar, agregar e transportar o património genético dos lugares de grande qualidade e de grande retorno económico e social.
onde foram criados e manipulados durante séculos. Conjugam
a essência dos valores genuínos dos povos, da cultura e do ima-
Ana Fazenda
ginário de cada lugar, demonstrando a sua missão de afirmação *
Licenciatura em Design de Comunicação (Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa)
e distinção da identidade territorial. P. G. Comunicação e Imagem (IADE) e P. G. Marketing de Eventos e Produtos Turísticos (U.B.I.)
6 7
5. PRODUTO LOCAL
ANA MARGARIDA FAZENDA MARIA DE JESUS CARVALHO
Licenciada em Turismo (I.P.L) Licenciada em Ambiente (I.P.C.B.)
Em terras de transição, entre o Norte e o Sul do interior de Portugal, onde pontos
e pontes de passagem de pastores e rebanhos transumantes transportam os se-
gredos da arte de fazer queijo conjungam-se, numa simbíose de saberes, práticas,
técnicas e experiências milenares capazes de criar este delicioso produto local.
Uma arte tão antiga como a prática de domesticação de animais e a criação de reba-
nhos para obter alimentos como a carne ou o leite.
Os Gregos acreditavam que Aristeu, filho de Apolo e Cirene, descobrira o queijo numa
viagem pelo deserto. Este teria levado, para se alimentar, tâmaras secas e leite num
cantil feito de estômago de carneiro. Dias depois, o leite transformara-se numa pasta
sólida de agradável sabor que daria origem ao queijo. Os gregos reconheceram-lhe tal
importância que o queijo passou a ser um alimento dos deuses, presente nas célebres
cerimónias e súplicas, como oferenda no Monte Olimpo.
Também, é certo que nas sociedades pré-romanas o queijo seria fundamental na dieta
Alexandre Azevedo
alimentar dos "Lusitanos", nas suas comunidades de subsistência agro-pastoril.
Mais tarde, os romanos, aperfeiçoaram a produção e a maturação do queijo, que
passou a ser frequente na alimentação dos nobres, de soldados e atletas. As casas de
habitação da Roma Antiga já possuíam um espaço que seria utilizado como queijaria,
para o fabrico e a cura desta iguaria.
A confecção do queijo, próxima de como hoje a conhecemos, remonta à Idade Média,
em grande parte da responsabilidade das ordens religiosas que transportaram o co-
nhecimento aos camponeses. A agricultura e pequenas indústrias rudimentares, eram
da responsabilidade dos monges cristãos que se especializaram no fabrico do queijo,
transformando-a numa verdadeira arte.
8 9 9
8
6. PRODUTO LOCAL
O CICLO DO QUEIJO: DO PASTO À MESA.
A produção de queijo fazia parte da rotina diária dos pastores como o retirar e o acon-
chegar o rebanho do bardo ao amanhecer e ao anoitecer, respectivamente. Era no bardo
que, no princípio e no final de cada dia de pastoreio, se procedia à ordenha, retirando o
leite da urbe dos animais para a confecção do queijo. Após a ordenha o leite era levado
para casa onde, a mulher, conhecedora de todos os segredos guardados e herdados dos
seus antepassados, prosseguia empiricamente com o seu fabrico.
Hoje, embora não sejam utilizadas ferramentas e acessórios tão rudimentares, o proces-
so é muito semelhante. As queijarias seguem as etapas de confecção do saber tradicio-
nal mas usam as normas de higiene recomendadas. Também o processo de obtenção
do leite é idêntico, embora seja realizado de forma mecânica.
...
É uma alimentação variada, com
base na vegetação natural endémica,
que dá origem ao leite de excepcional
qualidade desta região.
...
Preparar
A obtenção de um queijo de qualidade parte dos cuidados que são dados aos animais
que produzem o leite, ao local da sua produção, à época do ano e, por isso, à qualidade
das pastagens que os alimentam.
A Sul da Gardunha, a interacção do clima com as características do solo, são a aliança
Jorge Firmino
prefeita para que os pastagens sejam propícias à dieta dos rebanhos de ovelhas.
Numa região onde, os invernos são longos e suaves e os verões são extremamente
quentes e secos, predominam as culturas forrageiras e as culturas de cereais de se-
queiro, alternadas com o pousio. As pastagens intencionalmente semeadas valorizam
a dieta dos ruminantes. O valor nutricional das culturas reflecte-se na qualidade e na
quantidade da matéria-prima do queijo, na medida em que as ovelhas produzem mais e
melhor leite. É uma alimentação variada com base na vegetação natural endémica que
dá origem ao leite de excepcional qualidade desta região. No Verão, alguns pastores
Transumância
praticavam a transumância dos seus rebanhos, movendo-se para as pastagens de alti-
É um tipo de migração ancestral, um
movimento sazonal e reversivo, que tude na montanha, garantindo assim uma melhor alimentação.
se deve às características oro-climá-
ticas nacionais e às alterações nas
estações do ano.
Os seres transumantes passaram, mas os saberes ficaram e os novos rebanhos do Sul
Praticavam-se dois deslocamentos
distintos: a estival quando os reba- da Gardunha, produzem a matéria-prima que permite confeccionar queijos de sabor
nhos eram conduzidos para os pastos
distinto com base nos saberes ancestrais deixados ao longo do tempo.
Jorge Firmino
de montanha no Verão e Outono;
e a invernal quando desciam para a
planície, no Inverno e Primavera.
HD
10 11
7. PRODUTO LOCAL
O CICLO DO QUEIJO: DO PASTO À MESA.
Fazer
O fabrico tradicional do queijo começava com a preparação do leite para gerar a coa-
lhada. O leite era vertido, para um recipiente, onde se atava um pano branco. Neste
coador era deitado o coalho, de origem vegetal (cardo) ou animal, que se misturava
com o líquido enquanto este era derramado.
Para finalizar esta etapa, o pano era espremido a fim de aproveitar todas as essências e
Cardo (Cynara cardunculus L.)
propriedades do coalho, que potencia a coagulação do leite. Ao calor da lareira, o leite
O cardo é uma planta espinhosa
era mexido com a "fataca" até coalhar, por cerca de meia hora a três quartos de hora. semelhante a uma alcachofra, de
sabor amargo.
Daqui resultavam dois produtos distintos, um sólido, a coalhada, e uma líquida, o soro.
A sua flor, de cor lilás, é recolhida
A coalhada era retirada e colocada pouco a pouco no "cincho", uma forma ou aro durante o Verão, sendo depois seca
e moída.
circular furado, onde as mãos frias, quase gélidas, pressionavam a massa com maior
O pó de cardo tem a propriedade de
ou menor força, fazendo com que o soro escorresse pela "francela" até ser esgotado. coalho quando se mistura com o leite
originando uma pasta solidificada,
O soro excedente era recolhido, para posteriormente fazer travia ou requeijão, e comer denominada coalhada.
HD
HD
como uma “sopa” doce ou mesmo para acompanhar com broa.
Quando a coalhada se tornava consistente e firme, procedia-se à salga do queijo.
O sal contribui para o amadurecimento da côdea e a libertação do excesso de água,
além de regular os processos fermentativos. Ainda no "cincho" colocava-se sal na face
superior. Passado um dia, o queijo era salgado dos lados e na face inferior, voltava-se e
recolocava-se na mesma forma, que era retirada quando o queijo se encontrasse mais
seco e com forma mais definida. Posteriormente aconchegava-se, envolvendo os lados
num pano branco, chamada a cinta ou "empesga". Para finalizar, o queijo era colocado
nas tábuas da queijaria cobertas por um pano branco, onde a circulação do ar facilitava
a cura. Uma vez aqui, as limpezas e lavagens para eliminar e libertar as impurezas eram
regulares. Passado um mês o queijo adquire uma “côdea” e uma cor amarela estando
pronto a ser consumido.
...
Quando a coalhada se tornava
consistente e firme, procedia-se
à salga do queijo.
...
Nesta região produzem-se três tipos de queijo com Denominação de Origem Protegida
(DOP): o Queijo Amarelo da Beira Baixa (DOP) deve maturar entre os 10ºC e os 18ºC
num ambiente com 50% a 70% de humidade durante cerca de 40 dias; o Queijo de
Castelo Branco (DOP), que deve maturar a temperaturas entre 8ºC e 14ºC num am-
biente com 80% a 90% de humidade, durante no mínimo 40 dias; o Queijo Picante da
Beira Baixa (DOP) com maturação de pelo menos 6 meses que deve ser efectuada a
Jorge Firmino
temperaturas entre 10ºC e 18ºC num ambiente com 70 a 80% de humidade.
12 13
8. PRODUTO LOCAL
O CICLO DO QUEIJO: DO PASTO À MESA.
A Denominação de Origem Protegida obriga a seguir um conjunto de regras e requisitos, que Servir
incluem desde as condições de produção do leite, higiene, conservação, fabrico e à rotulagem do
produto. Como entrada ou para terminar agradavelmente qualquer refeição, antes da fruta ou dos doces, é
Como referimos anteriormente, as características organolépticas únicas, relacionadas com tipo de de bom grado servir um prato ou uma tábua, composto de diversos queijos, afastados entre si.
leite, processo de fabrico, aparência, consistência, aroma e sabor justificam a classificação DOP Deverão ser apresentados sem invólucro ou embalagem. Escolhidos consoante a época ou gosto
em três produtos distintos: o Queijo de Castelo Branco ("Ovelha"), o Queijo Amarelo da Beira pessoal, devem ser colocados por ordem, de sabor suave, intermédio e intenso, no sentido dos
Baixa ("Mistura") e o Queijo Picante da Beira Baixa ("Queimoso"). ponteiros do relógio.
"Ovelha"
"Queimoso"
Queijo Picante da Beira-Baixa (DOP)
à mesa.
Feito da mistura do leite de ovelha, cabra e/ou vaca Para acompanhar são ideais pão escuro, branco, centeio, com sementes, torrado, bolachas de
Queijo de Castelo-Branco (DOP)
e coalho animal, feito à "cabreira", resulta na pasta água de sal, mini tostas, azeitonas, e para um gosto mais requintado com tomate cereja, frutos
Queijo curado de pasta semidura ou semimole, com "Mistura" dura ou semidura, de cor branca-acinzentada, sem secos, fatias de maçã ou pêra, uvas, figos, mel ou geleia. No caso de servir queijo fresco, é neces-
alguns olhos pequenos, fabricado a partir do leite de olhos ou com pequenos olhos irregulares. sário, colocar à disposição sal, pimenta e cominhos.
Queijo Amarelo da Beira-Baixa (DOP)
ovelha puro e coalho vegetal, feito à "ovelheira". É característico o aroma bastante activo e o sabor Para melhor aproveitar o sabor e a textura, é aconselhável que os queijos estejam à temperatura
Durante a cura adquire um aroma acentuado e um É fabricado com a mistura de leites de ovelha, cabra acentuadamente picante. ambiente, antes de serem consumidos e nunca directamente do frigorífico. É importante ter em
sabor levemente picante. ou apenas com leite de ovelha e coalho animal, feito É comercializado com um diâmetro entre 10 e 15 atenção a dureza do queijo, já que os mais duros levam mais tempo a ficar à temperatura do ar.
Inicialmente possui uma crosta maleável, passando à "cabreira". cêntimetros, uma altura entre 3 e 5 cêntimetros e peso O corte no queijo, define todo um "saber de gourmet", deve ser regular, desde o centro até a
posteriormente a dura, de tom amarelado. Curado de pasta semidura, com alguns olhos irregula- entre 400 e 1000 gramas. casca, e este, voltado para baixo enquanto não são utilizados, para prevenir a oxidação e alteração
É comercializado com 12 e 16 cêntimetro de diâmetro, res, obtém a cor amarela-torrada que o caracteriza. do sabor. A faca utilizada para o corte deve ser de gume liso e nunca de serrilha. Caso o queijo
e 5 a 8 cêntimetro de altura e entre 800 e 1300 O seu sabor apesar de intenso é limpo e levemente seja de pasta dura e semidura o ideal é recorrer a uma faca de cabo duplo e de gume largo. Ao
gramas de peso. acidulado. O aroma intenso mas muito agradável. contrário de um queijo de pasta mole, é conveniente usar uma faca de gume estreito.
É comercializado com um diâmetro entre 12 e 16 Ao servir queijo a crianças a melhor opção é cortar previamente em pedaços, cubos ou até mes-
cêntimetros, uma altura entre 3 e 5 cêntimetros e peso mo triângulos, se for queijo fresco.
entre 600 e 1000 gramas.
14 15
9. TERRITÓRIO
PEDRO MIGUEL SALVADO *
Serra da Gardunha
palimpsesto d e paisagens.
I - A PROPÓSITO DE UMA GRAVURA OITOCENTISTA
A Serra da Gardunha assume-se como um relevo cultural de transição, um autêntico marcador geológico de
encontro entre distintas correntes civilizacionais. Estamos perante uma orografia de destinos e de milenares
passagens e diante de uma paisagem em continuada construção que expressa determinadas concep-
ções de vida. Paisagem que vai irradiar, ao longo do tempo, um peculiar significado e
sentido ora como limite, ora como porosa zona de passagem e de contac-
to entre horizontes mais setentrionais ou mais meridionais.
16 17
10. TERRITÓRIO
SERRA DA GARDUNHA - PALIMPSESTO DE PAISAGENS
Ana Fazenda
Primeiro as vagas pré e proto-históricas do Este longínquo e do comunidades estabelecerem e marcarem linhas, mais palpáveis da utilização das águas, vão transformar o grão das subsistên- de conduzir, sazonalmente, os gados da montanha para os re-
Sul; séculos depois, as ideias e a cultura sopradas do mediterrâ- ou mais invisíveis, para desenvolver e aplicar os seus actos, ges- cias dos quotidianos, pontuando a serra de sociabilidades uni- levos aplanados do Sul. A presença de ricos filões metalíferos
neo clássico, mais tarde, reflexo das contínuas apropriações por tos, poderes, dinâmicas e vontades. das por caminhos. À água que escorria do cimo da montanha, na região também deve ter sido um dos factores determinantes
parte dos pólos religiosos medievais dominantes na Península Numa primeira apreensão, a Serra caracteriza-se por uma varia- juntava-se-lhe o suor do corpo e as ânsias do futuro das gentes. nas orgânicas económicas e sociais de então. Estes povoados,
– a Serra foi barreira e ponte. bilidade de altitudes escalonadas. A sua matriz é preenchida pe- de que são bons exemplos, o de São Brás (Freguesia de Fun-
las texturas dos plutónicos granitos e pelas nuances das urzes, O tempo longo da história antrópica desta Serra só agora co- dão) e o do Castelo Velho (Freguesia de São Vicente da Beira)
Todos esses momentos expressaram-se com maior ou com me- dos ervedeiros, das carqueijas, das caldoneiras, das marcelas, meça a ser descodificada. A primeira grande transformação articulavam-se com outros construindo uma rede de comple-
nor enraizamento na paisagem indefinidamente mutante num dos rosmaninhos que todas as primaveras enchem a serra de produziu-se na passagem de uma economia móvel aos primei- mentaridades e de solidariedades formando, no seu conjunto, o
duradouro, mais activo ou mais adormecido, processo continu- cromias e de cheiros num apelo à renovação. ros processos de sedentarização das comunidades humanas. mais antigo fenómeno de territorialização conhecido na região.
ado de criação. Os ecossistemas serranos eram dominados por uma densa e Fixação humana que remontará ao Bronze Final com as suas
A Serra da Gardunha afirma, igualmente, os vínculos e as rela- variada vegetação de espécies caducifólias (carvalhos e casta- morfologias da existência, em determinadas cotas, de locais Um segundo momento antrópico desenvolveu-se durante o lar-
ções entre os ancestrais quadros culturais das comunidades de nheiros) de que já só subsistem a memória e a toponímia. Esse amuralhados que dominavam os horizontes. O espaço foi, go processo romanizador. As cotas que bordejavam o maciço
montanha com as da planície, concentrando neste ponto do manto verde “espontâneo” foi, em vários momentos, altera- paulatinamente, apropriado e os grupos humanos projectando- foram densamente ocupadas através da instalação de pequenos
Portugal central todas as redes estabelecidas entre a matricial do com a introdução de novas espécies como foi o caso, por -se e identificando-se com e no território. Na paisagem pré-ro- casais e granjas de vocação agrícola. Mais tarde, ricas ‘villae’,
Estrela e os mundos sonhados do Tejo que conduziam ao mar. exemplo durante a Idade Média, do plantio de castanheiros ou mana destacavam-se então os povoados com as suas cinturas com os seus mosaicos e estruturas termais, reforçam a aptidão
A paisagem deste autêntico palimpsesto cultural, sempre atra- da tão custosa e metódica construção e cultivo, nas vertentes, amuralhadas onde viviam populações sustentadas numa eco- agrícola da região ao tempo dos romanos. Os solos foram in-
vessado por gentes, animais e esperanças, também resulta e de pequenas folhas de pão onde, até ao início do século XX, nomia essencialmente de base agro-pastoril. Estes aglomerados tensamente cultivados e largas zonas da floresta primitiva terão
se teceu do equilíbrio e dos vincos de várias fronteiras, umas crescia o centeio. A fluida rede hídrica permitiu a instalação nos vivenciais utilizavam a altitude como forma de afirmação de po- sido destruídas através de queimadas para facilitar o surgimento
de alcance alargado, outras mais domésticas que, ao longo da pequenos vales de espécies diferenciadas mais dependentes do der e de controlo das vias de comunicação que sulcavam a flo- dos pastos e um aumento das áreas de cultivo de cereal e da
História, se justificaram, por aquela necessidade intrínseca das teor de humidade. O surgimento de azenhas, engenhos sábios resta primitiva. Estas vias tiveram a sua origem na necessidade
18 19
11. TERRITÓRIO
SERRA DA GARDUNHA - PALIMPSESTO DE PAISAGENS
expansão da oliveira. A exploração mineira dos coutos limítro- domésticos. A partir dos afloramentos das geologias dominan-
fes do maciço terá sido incrementada com a territorialização do tes, o xisto e o granito, os seixos arredondados, as areias, vão
poder e com o controlo dos recursos locais, ligando a região erguer casas, muros, poços, solares, capelas, igrejas. São comu-
aos grandes centros através da materialização de firmes vias de nidades expansivas que com as suas hortas bordejando os rios,
comunicação. Este período de intensa construção paisagística domesticam a altitude construindo socalcos e casais dispersos
terá começado a desvanecer-se a partir do século VIII d. C. As na paisagem serrana. A nova reorganização territorial a que se
convulsões políticas, sociais e demográficas, e as novas cen- procedeu, fez emergir assim uma nova rede de povoamento for-
tralidades dos poderes emergentes noutras escalas e latitudes, mada por pequenos núcleos onde se cruzam funções religiosas
...
Na escassez de uma firme permanência humana,
as antigas vias e trilhos eram, contudo, periodicamente,
remarcados em tempos de paz atravessadas pelos rebanhos
transumantes,
...
transformaram o activo pequeno mundo da Gardunha ‘post’ ro- e administrativas, económicas e vivenciais com uma restrita área
mana numa área repulsiva e algo periférica. A floresta primitiva de influência. São, contudo, terras unidas através de itinerários
avançou e o verde denso e cerrado voltou a dominar, durante por onde circulam pequenos fluxos de gentes e de capitais. A
séculos. Na escassez de uma firme permanência humana, as ciclicidade dos trabalhos e dos dias é marcada pelo ciclo festi-
antigas vias e trilhos eram, contudo, periodicamente, remar- vo e religioso tradicional. A floresta assumirá uma importância
cados em tempos de paz atravessadas pelos rebanhos transu- vital para a fruste economia camponesa em expansão com a
mantes, débil base económica regional que apesar de todas as destruição da mesma para área de cultivo. Era um provedor de
circunstâncias terá continuado. Mas foi a passagem cíclica de combustível, era a fonte do pão de castanha. Com os níveis de
movimentos de guerreiros cristãos e islâmicos que deu outros cota antrópica sempre em expansão, o uso e o entendimento
sons e rumos de fixação à quietude da natureza. cultural dos cumes foi outro. Aí eram os místicos, sentidos e
temidos domínios do sagrado protector que dominavam, locais
Os finais do século XII, até ao século XV constituíram uma fase a que se ia em sentida e rogada peregrinação em determinados
de antropização complexa, caracterizada por uma intensa e pro- dias do ano quebrando-se os silêncios do perfil serrano.
gressiva transformação do habitat natural. Na serra de Ocaia,
como então se designava a Gardunha, os tempos posteriores à Durante a segunda metade do século XIX, e todo o século XX,
“Reconquista” criaram formas paisagísticas muito diferenciadas assistiu-se a uma alteração profunda dos conceitos económi-
como as que resultaram da criação do concelhos de S. Vicente cos e dos quadros vivenciais da Gardunha. O processo migra-
da Beira em 1195 ou de Alpreade (Castelo Novo) em 1202. A tório, o abandono dos campos, a introdução de novas culturas
atractividade da região, com a fixação de agregados familiares e espécies como o pessegueiro ou a cada vez mais dominante
de outras paragens, permitiu uma mutabilidade acelerada. Se o cerejeira, a doença dos castanheiros, a multiplicação de redes
castelo dos poderes dominantes ou a casa torre dos senhores de acessibilidades, a destruição dos cocurutos geológicos e as
dominaram a silhueta de algumas comunidades, será à volta do sucessivas vagas de incêndios – tudo isto criou uma nova pai-
campanário da nova geografia devocional, entretanto marcada sagem.
na paisagem, que as populações vão construir os seus espaços
20 21
12. TERRITÓRIO
SERRA DA GARDUNHA - PALIMPSESTO DE PAISAGENS
...
Os “lugares saudosos” tecidos com materialidades e com Hoje, em grandes áreas da sua extensão, a cinza e o acastanha- a narrativa expositiva da Orologia: a penha da Senhora da Serra.
do são as cores dominantes. Contudo, todas as Primaveras se O principal elemento da rede fluvial desta encosta, a Ribeira de
espiritualidades sentidas, indagadas, veneradas que este vai espalhando, numa eclosão de flores e sons, o sentido de Alpreada é apontado, indicando-se os topónimos das fontes do
renovação periódica da paisagem nesta verdura aromática em Corisco e do Couto, cujas águas também criam e desenvolvem
autor quis resgatar à voraz passagem do tempo e dos todas as suas gamas. Aqui e além, num território fustigado pelo esta linha líquida da face oriental da serra.
fogo destruidor, são estes ‘oásis de resistência’, onde a sombra Estamos perante uma figuração espacial que interpreta a leitura
subadjacentes e terríveis esquecimentos. convive com a água, que ainda convocam o ancestral espírito empírica da totalidade de uma realidade observada e de uma tem-
da paisagem e que nos fazem sentir todo o valor da altitude poralidades interrogadas por José Inácio Cardoso na organicidade
... libertadora, da tal linha de contacto entre a rocha e os deuses. desta parcela da paisagem serrana. Paralelamente aos modos de
Tal como ontem, a Gardunha nunca foi local de imutáveis quie- habitar, de viver e de circular como são os casos de Alpedrinha,
tudes. Pelo contrário. Foi sim sempre um sítio de convergência de Castelo Novo, de Vale de Prazeres, do lugar da Cortiçada, uni-
dos tempos, dos trabalhos, das passagens, dos esquecimentos dos pela estrada de Castelo Branco ou pela estrada Real, também
e dos sonhos: do passado e do futuro. se representam elementos de uma cartografia do sagrado regio-
Daí a importância que assume para sua História, a existência de nal, ligação religiosa muito presente ao longo do texto.
uma representação, das primeiras imagens desta serra até à data Convergem, assim, na gravura sensações emitidas e percepcio-
identificadas, incluída na importantíssima obra de José Inácio nadas a partir de uma geografia pessoal, criando uma imagem
Cardoso “Orologia da Gardunha ou breve descripção topográfica mental relacionada com o sistema de valorização e de iden-
da Serra da Gardunha considerada no seu estado actual”, editada tificação do espaço vivido e interiorizado por alguém que se
em Lisboa, em 1848. Trata-se de um elemento bibliográfico pio- considerava um “curioso indagador” das distintas espessuras,
...
Hoje, em grandes áreas da sua extensão, a cinza
e o acastanhado são as cores dominantes.
...
neiro nos estudos regionais sobre formas do relevo que se desen- dimensões e transformações da sua paisagem doméstica. Neste
volvem nas paisagens da Beira. A Orologia considerada como a caso, a paisagem envolve e são também lugares, carregados de
ciência do conhecimento das montanhas foi, de um modo muito significações. Os “lugares saudosos” tecidos com materialida-
particular e sentido, desenvolvida pelo autor que tentou descodi- des e com espiritualidades sentidas, indagadas, veneradas que
ficar o espaço envolvente do seu quotidiano vital, carregando-o este autor quis resgatar à voraz passagem do tempo e dos su-
de significados. A introdução da gravura na totalidade da obra badjacentes e terríveis esquecimentos. A Orologia foi a certeza
reforça a descrição literária do espaço, fornecendo ao leitor uma da afirmação de uma memória para a Serra. Como escreveu, em
visualidade complementar da realidade que se quis apontar. 1874, o grande geógrafo Humboldt “existe ao lado do mundo
O debuxo imagético apresenta a seguinte legenda: «Serra da real ou exterior, um mundo ideal ou interior, cheio de mitos fan-
Gardunha. Vista oriental» e a sua feitura captou e deseja repre- tásticos e, algumas vezes, simbólicos e de formas cujas partes
sentar um conjunto de realidades físicas e humanas. Evidencie- heterógeneas foram tomadas do mundo actual ou dos restos
-se o perfil e o tipo de traço que o litógrafo Figueiras que assi- de gerações extintas”. É tudo isto que devemos considerar ao
na a peça, realizada na Litografia de Santos que se situava no contemplarmos hoje esta Serra de união cultural.
Largo Conde Barão, em Lisboa, desenvolveu para interpretar as
convulsões do relevo. O recorte do horizonte gizado, dando a
sensação de volume, releva o ponto de maior altitude da Gardu-
nha. Também individualiza o sítio da Portela e, de uma feição *PEDRO MIGUEL SALVADO
Licenciado em História (U.C.). Mestre em Culturas Regionais (U.N.L.). Doutorando (USAL).
desproporcionada, o local centralizador e congregador de toda Divisão de Cultura da Câmara Municipal do Fundão. Membro da equipa da Gardunha XXI.
22 23
13. NATUREZA
SAMUEL INFANTE
Presidente do Núcleo da Quercus de Castelo Branco
Albufeira
de Santa Águeda:
Um oásis
para as aves
migratórias.
Alfredo Abrantes
A albufeira de Santa Águeda está localizada no rio Ocreza, abrangendo os municípios de Castelo Branco e Fundão. Esta infra-
ALBUFEIRA DE SANTA ÁGUEDA -estrutura entrou em funcionamento em 1990 e ocupa uma área com cerca de 634 ha. A albufeira encontra-se classificada como
Localização: albufeira de águas públicas protegidas, cuja água é utilizada para abastecimento de populações e cuja protecção é ditada por
Concelhos de Castelo Branco e Fundão, Freguesias de Lardosa, Louriçal do Campo,
Póvoa de Rio de Moinhos, Ninho do Açor, Tinalhas, Sobral do Campo e Soalheira razões de defesa ecológica.
Área: 634 ha Capacidade total: 37200 (x1000 m3) Capacidade útil: 34200 (x1000 m3)
24 25
24 25
14. NATUREZA
ALBUFEIRA DE SANTA ÁGUEDA: UM OÁSIS PARA AS AVES MIGRATÓRIAS
A albufeira foi construída num local onde existiam bosques de Carvalho Negral (Quercus pyrenaica), ecossistemas cada vez mais Cegonha Branca (Ciconia ciconia) onde actualmente conta com uma colónia com cerca de 40 casais reprodutores, já a mais rara
raros na Beira interior Sul, e que possuem uma grande biodiversidade. Com a construção da albufeira foram alteradas as condições Cegonha Preta (Ciconia nigra), também pode ser avistada na albufeira mas apenas raras vezes e apenas alimentando-se, pois prefere
ecológicas do local, sendo que algumas delas favoreceram o aparecimento de outras espécies, em particular de aves pouco frequentes nidificar em zonas mais isoladas.
na região. Com o aparecimento de um plano de água permanente de grandes dimensões foram criadas condições para que diversos
grupos de aves, que passavam pela região nas suas migrações, pudessem parar ou mesmo passar o inverno na albufeira. Desta forma a Actualmente a albufeira é um local privilegiado para um contacto com a natureza, para passeios a pé ou de bicicleta, ou mesmo para
albufeira passou a ser um ponto de passagem anual na migração de mais de 25 espécies de aves que percorrem milhares de quilómetros a pesca. Os bosques de carvalhal que bordeiam o espelho de água, e os caminhos existentes podem ser percorridos em busca de um
para o norte da Europa. reencontro com a natureza.
Espécies como a Garça Vermelha (Ardea purpurea), o Colhereiro (Platalea leucorodia) podem ser observadas na sua migração ou-
tonal. Diversas espécies de aves aquáticas como o Mergulhão de Crista (Podiceps cristatus), o Pato-trombeteiro (Anas clypeata) Agarrar numa máquina fotográfica ou binóculos,
invernam na albufeira e chegam a ocorrer em bandos de várias centenas de indivíduos.
Muitas outras espécies passaram a nidificar nas margens da albufeira, como as Garças Boieiras (Bulbucus íbis), a Garça Real (Ardea pode ser um desafio para uma tarde ou um dia em busca
cinerea), a Garça Branca (Egretta garzetta), ou a Galinha d’Água (Gallinula chloropus).
dos encantos da natureza, neste oásis aqui tão perto...
Desde 1997 que a Quercus realizou alguns trabalhos científicos de inventariação de fauna e flora, tendo sido registados 117 espécies
de aves, 32 espécies de mamíferos, 16 espécies de anfíbios e répteis, 8 espécies de peixes e 153 espécies de plantas. Entre os mamí-
feros é possível observar a tímida lontra, o texugo e a raposa. Uma das espécies de aves mais emblemáticas da área da albufeira é a
Cegonha branca (Ciconia ciconia)
Peso: 3000 a 3500g
Comprimento: 90 a 115cm Envergadura: 195 a 215cm Garça Real (Ardea cinerea)
Postura: 3 a 5 ovos Incubação: 29 a 30 dias Peso: 600 a 1200g
Crescimento: 2 meses Longevidade: 26 anos Comprimento: 90 a 98cm Envergadura: 175 a 195cm
Voo: planante e longo, pescoço esticado, patas projectadas Postura: 4 a 5 ovos Incubação: 26 dias
Voz: espécie de sopro gutural e batimentos com o bico Crescimento: 2 meses Longevidade: 25 anos Colhereiro (Platalea leucorodia)
Dieta: anfíbios. répteis, peixes, pequenos mamíferos e insectos Voo: pescoço retraído, asas arqueadas com batimento lento Peso: 1100 a 2000g Galinha d'Água (Gallinula chloropus)
Voz: crocito ruidoso e áspero, geralmente ao anoitecer Comprimento: 80 a 90cm Envergadura: 120 a 135cm Peso: 250 a 400g
Dieta: pequenos peixes e mamíferos, insectos, crustáceos, Postura: 3 a 5 ovos Incubação: 22 a 25 dias Comprimento: 32 a 37cm Envergadura: 50 a 55cm
e répteis
Mergulhão de Crista (Podiceps cristatus) Crescimento: 7 semanas Longevidade: 10 a 15 anos Pato-trombeteiro (Anas clypeata) Postura: 5 a 12 ovos Incubação: 19 a 22 dias
Peso: 750 a 1200g Voo: pescoço esticado, asas arqueadas, batimentos regulares Peso: 400 a 1000g Crescimento: 7 semanas Longevidade: 15 anos
Comprimento: 46 a 51cm Envergadura: 85 a 90cm Voz: emite apenas sons guturais, grunhidos e grasnados Comprimento: 35 a 46cm Envergadura: 85 a 90cm Voo: difícil. baixo, normalmente circular de patas pendentes
Postura: 2 a 5 ovos Incubação: 28 a 30 dias Dieta: insectos e larvas, pequenos peixes, moluscos, crustá- Postura: 5 a 12 ovos Incubação: 22 a 23 dias Voz: variada, repentina, cacarejar rápido, chilreante e nasal
ceos, rãs, minhocas, sangessugas e algum material vegetal
Crescimento: 2 meses Longevidade: 10 anos Crescimento: 1,5 meses Longevidade: 12 anos Dieta: insectos aquáticos, larvas, aranhas, moluscos, semen-
tes e rebentos de plantas
Voo: esguio e alongado, algo trémulo, de patas projectadas Voo: lento com o ruído das asas sibilante
Voz: gralhar ruidoso nasal, trinado e lentamente repetitivo Voz: grasnar ruidoso, grave e nasal, geralmente repetitivo
Dieta: pequenos peixes, moluscos, insectos aquáticos e algas Dieta: plâncton, moluscos, insectos e vegetação aquática
26 27
15. TERRA A TERRA
MARIA DO CARMO RAMOS PRATA
Professora do Ensino Básico
CRONICA LIRICA
DE SAO VICENTE DA BEIRA
Ao sul, no regaço da Gardunha Ó vila medieval tens pergaminhos
Embalada no acalanto dos pinhais Paisagens de encanto e sedução:
Aconchega-se um lugar de sortilégios Cantigas da ribeira aos passarinhos
Que resiste ao tempo e aos vendavais: Narram lendas de tempos que lá vão.
São Vicente da Beira os privilégios Que se inscrevem, além, nos escaninhos
Que te cercam acolhem a quem chegar. E por vales e serras ecoarão.
São Vicente da Beira, vila antiga Há páginas de coragem em tua História
Geografia serrana de encantar. Ressonâncias de valentia e glória.
HD
28 29
28
16. TERRA A TERRA
CRÓNICA LÍRICA DE SÃO VICENTE DA BEIRA
Jprge Firmino
HD
HD
Certamente já vens de tempos mouros Se episódios de infância e de amargura No prado aceso, silêncio palpitante São quatro faces, - sempre viva memória
Antiga povoação já existia. A crónica vicentina assinalaram Ouvem-se flautas - avenas pastoris: Pássaro e barca, o escudo, a cruz florida
Assim como houve e há, nas cercanias Não levaram por certo a formosura Será a brisa, serão águas da fonte Que testemunham na pedra a tua história.
Um Castelo lendário e seus tesouros Saqueando-lhe honras e foral Ou são folgares de amores pueris? Eternamente dirão da tua vida.
Onde um gato de pedra guarda ouros As grandezas remotas não levaram E nas longínquas fragas tão serenas Mais não te digo e ouso que não sei
Sentinela velando noite e dia. Nem o orgulho da vila medieval: O vento passa, acordando açucenas Pois sendo vila, fundada por um rei
As lendas são tesouros da História Casario silencioso de telhados Há contradanças, Cantares, concertinas Tem tua história silêncios conventuais
Da rama às raízes da memória. Pelos séculos dos séculos patinados. Pelos pinhais, com cheiro de resinas. Pausas e falhas nocturnas, sepulcrais.
Tanto assim, sendo terra de valia Ruazinhas secretas nos seduzem Natais de neve, filhoses e fogueira:
Há oito séculos tu foste fundada Por rotas de segredos e oferendas Ó amada terra, querida São Vicente
HD
Quando Afonso Henriques agradecia A fontes e monumentos nos conduzem De romarias, desfolhadas nas eiras
Ajuda que na guerra lhe foi dada Ó Vila que nos recebes e festejas: Antigas cenas, mundo de antigamente. Ó São Vicente,
Por castelão que aos mouros combatia: Aqui um chafariz nos mata a sede De procissões e colchas nas varandas
Com insignias e honras assinalada Além uma capela se desvenda. A mesa farta, cavacas, tigeladas vila de sempre, acesa
Salve, salve, da Beira, ó São Vicente E os sinos do poente e madrugadas Bolos de azeite, amêndoas, figos, vinho
Terra da melhor cepa e melhor gente. Contrapõem-se ao silêncio das veredas. E passam anjos, asas leves de arminho. Ó minha pátria,
ó chão da minha vida
Depois, a São Vicente consagrada A charneca acende os candelabros Ó vila antiga mundo de antigamente,
Tiveste tua heráldica e padroado De giestas e sol e primavera: A cada passo, marcos em cada esquina. Ó São Vicente da Beira,
À capital do reino irmanada: E nas minas, à fimbria do crepúsculo De oito séculos, marcando a tua sina
Na crónica e nos anais do teu passado Sinfonia de grilos nos espera. Idade Média perpétua no presente. minha casa.
De Lisboa Pequena então chamada Cheiro agreste de urzes e pinheiros Em alguns solares e casa vicentinas
Conforme rezam versos do teu fado Saragaço, pampilho e amieiro Brasões de armas, mapas de neblinas:
Jprge Firmino
Da rama às raízes da memória Estevas, margaça e rosmaninho São oito séculos que um capitel coroa
Há seiva de tua fama na História. Musgo e heras e amoras no caminho. Do Pelourinho que te guarda e abençoa.
30 31
17. SABOREAR
... TEXTO:
SOFIA LOURENÇO
FOTOGRAFIAS:
Na região sul da Gardunha há um restaurante que serve JORGE FIRMINO
sabores tradicionais que se misturam entre si de forma
pouco convencional, sabores da terra, sabores de dias
de festa e sabores de todos os dias...
...
GARDUNHA RESTAURANTE RURAL
Falar de comida é também falar de memórias, de afectos, de Depois das entradas com produtos típicos da região o prato
tradições, de valores, de sabores, de cheiros e de sentidos. principal:
Come-se com os olhos, com o nariz, com as mãos e até com Polvo à lagareiro com batatinhas a murro.
a boca… Lombinhos de porco preto com molho de manga e um toque
Na região sul da Gardunha há um restaurante que serve sa- de caril acompanhado de arroz basmat e arroz selvagem
bores tradicionais que se misturam entre si de forma pouco Barrosã com batata do Louriçal do Campo.
convencional, sabores da terra, sabores de dias de festa e Não faltou a salada mista temperada com azeite da região e
sabores de todos os dias, tem também sabores diferentes sa- vinagre de framboesa.
bores de outras paragens.... O vinho de Monsaraz fez as honras da casa.
Os doces.
Dividido em vários espaços que vão desde a esplanada ao RG Os doces não podiam ser mais gulosos e não fosse o dia estar
Bar, espaço Chill Out, sala Tília e a sala Rural ou sala principal, tão quente tinham sabido ainda melhor…
Rural Gardunha é um restaurante que nos leva a viajar pelos pa- Arroz doce com canela e cacau, tigelada da Gardunha, mousse
ladares da Beira Baixa e que explora o que de melhor a Serra tem de chocolate com amêndoa lascada regada com vinho do
para oferecer: cereja da Gardunha, queijo da Beira Baixa, pão de Porto LBV e ainda creme de maçã com doce de natas coberto
cereais: trigo e centeio, cozido na hora e servido ainda quente, com doce de cereja.
azeite da região, batata do Louriçal do Campo… O repasto entrou pela tarde, a simpatia do Ricardo Ambrósio
O dia estava quente e a hora de almoço ia avançada, nada que fez-nos companhia durante todo o almoço.
um sumo de maracujá bem fresco não fizesse esquecer. A chefe Maria Otília merece uma visita.
Foi assim no restaurante Gardunha Rural:
Pão caseiro de sementes com paté de atum e queijo fresco com RESTAURANTE RURAL GARDUNHA
Rua Dr. Daniel Proença de Carvalho, Lote 5 Soalheira
flor de sal foram o início de uma vasta refeição. T. 272 419 410 M. 966 567 063
http://ruralgardunha.com.sapo.pt
O queijo da "Soalheira" (queijo misto curado: amarelo da Beira Bai-
GPS: (N) 40.032206º (W) 7.0487043º
xa) com doce de cereja e lascas de amêndoa, fez as delícias da mesa. 25Km de Castelo Branco 18Km do Fundão
32 33
18. Solar
TEXTO:
SOFIA LOURENÇO
FOTOGRAFIAS:
JORGE FIRMINO
dos Caldeira
e Bourbon
Património histórico, envolvente natural, simpatia e hospitalidade
são bons motivos para visitar o Solar dos Caldeira e Bourbon.
Perde-se na memória dos tempos a origem do Solar dos Caldeira e Bourbon.
Foi recuperado por volta de 1867, mas por esta altura a Casa Senhorial já existia.
Ana Maria Caldeira de Bourbon herdou a casa do seu bisavô João José Caldeira Pinto Giraldes
de Bourbon que morreu em 1929.
O pai de João José de seu nome Albano descende dos Caldeiras da Sertã, cujo nome lhe foi atribuído por Dom
João I quando este tomou aos Castelhanos um caldeirão que ofereceu ao Rei.
A mãe Emília, irmã do Marquês da Graciosa e descendente pelo lado Bourbon dos Condes de Avintes, Condes dos Arcos, Duques
de Bourbon, de Bourgogne e do Rei Luis de França.
Conta a história que a pedra de armas que a Casa Senhorial ostenta na fachada principal tem neles a sua origem.
34 35
34 35