1. Aluno sob anonimato
Carta de Amor?
Ainda me recordo de quando passavas dias inteiros a segredar-me promessas ao ouvido, de
como me deixavas embaraçado por não saber o que te responder.
Sabiam-me a pouco esses momentos, era raro passarem duas míseras horas enquanto
trocávamos mimos ou apenas palavras...
Contou-me um amigo meu que já havia decorado os lábios da sua “outra metade” de tanto os
beijar, o “traço”, o que sentia ao tocar-lhes, até o sabor me descrevia sem sequer hesitar uma
única vez... Eu, mesmo num esforço absurdo, não consigo recordar-me do mesmo. Sempre
foquei a minha atenção nas tuas palavras (ultrapassava qualquer outro tipo de atracção), tinha
uma fixação pelo que me dizias e retive na memória tudo o que ouvi, essas afirmações de
amor tão claras, tão sinceras... Parece que nunca me sairão da memória.
Este passado, o “nosso” passado, é como uma tortura de que não me consigo livrar, por muito
que tente há algo que não me deixa largar estas lembranças que me sufocam dia após dia.
E esta dor faz das minhas vinte primaveras, vinte invernos gelados.