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Conte algo que não sei
_
‘Morro de medo ao entrar em cena’_
Helen Varley Jamieson, cyberperformer
Pioneira em misturar palco e internet e adepta do “teatro feminino”, neozelandesa veio ao Rio para o festival MultiCidade, voltado para a criação cênica de mulheres
“Tenho 49 anos e nasci em
Dunedin, Aotearoa, nome
nativo da Nova Zelândia.
Moro em Munique com
minha companheira alemã.
Graduei-me em literatura
inglesa e teatro e me engajei
no teatro feminino. Depois
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digitais e internet no âmbito
do teatro. Tomei gosto e
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ENTREVISTA A:
CARLOS ALBERTO TEIXEIRA
cat@oglobo.com.br
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Sou uma atriz, mas cada per-
formance para mim é um sacri-
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então me acalmei.
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ção política?
Minha graduação em literatu-
ra inglesa e teatro foi confusa.
Abandonei tudo e retornei mais
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tório. O governo implantava ta-
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luta foi em vão: a taxa ficou.
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çãoprincipaléfeminina.Aideia
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mulheres participavam de festi-
vais na Europa, mas eram sem-
pre homens que tocavam a cria-
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pante tinha um personagem
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dia ser movido. Ao se digitar,
aparecia um balão de texto.
Chamavam de Desktop Thea-
ter (DT), era ao vivo e com re-
sultados inesperados.
l É mesmo teatro?
Foi esse o meu questiona-
mento por muito tempo... Uns
diziam que não, já que não há
um corpo físico. Quando en-
veredei por esse caminho, eu
me perguntava: o que eu es-
tou fazendo?
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havia muitos livros em casa.
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uma em preto e branco. Minha
mãeerapianistaecoralista.Meu
pai me levava a teatro e cineclu-
beseeutocavaumpequenosin-
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te de unir teatro e internet. Sem-
pre dou um jeitinho depois de
chegar junto e, baixinho, expli-
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mo preconiza a escola clássi-
ca do bom jornalismo. Nem
todas as questões que envol-
vem a tragédia estão esclare-
cidas ainda. Esta é uma histó-
ria que as repórteres preten-
dem ainda seguir. l
ARQUIVO PESSOAL
Loterias
l
O leitor deve checar os resultados em agências oficiais e no
site da CEF porque, com os horários de fechamento do jornal, os
números aqui publicados, divulgados sempre no fim da noite
pela CEF, podem eventualmente estar defasados.
QUINA 3.930
l13 l25 l34
l46 l61
DUPLA SENA 1.436
1º Sorteio 2º sorteio
l05 l07 l20 l29 l45 l49 l03 l13 l19 l26 l42 l48
|
Panorama
político
|
_
NO CLIMA DA CRISE. Auditores da Receita e defensores
públicos que atuam em todo o país estão entre os
que não receberam proposta de reajuste do governo.
_
Com Amanda Almeida, sucursais e correspondentes
panoramapolitico@oglobo.com.br
_
ILIMAR FRANCO
Ilimar@bsb.oglobo.com.br_
PT contra Levy
A despeito das declarações
públicas de seus dirigentes
nacionais, o PT atua para
derrubar o ministro
Joaquim Levy (Fazenda).
Ontem, na página do PT, os
petistas colocaram no ar o
bate-papo “Pergunte ao
Pochmann”. O economista
Márcio Pochmann (foto) é
militante petista, e a chamada era sugestiva:
“Cansado de ‘tudo isso que está aí’?”.
REPRODUÇÃO DO FACEBOOK
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“Não podemos adotar a mesma
agenda em 2016. Devemos dar
prioridade à crise. O PMDB tem
uma proposta para o país. O PSDB
não tem um projeto definido”
Silvio Torres, secretário-geral do PSDB,
sobre a campanha pelo impeachment
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Rejeitada proposta de Paulinho
Os tucanos não consideram favas contadas a
unidade da oposição para derrubar Cunha. Não
sabem se serão acompanhados pelo DEM. Mas já
sabem que não contarão com o Solidariedade, de
Paulinho da Força. Ele foi apontado como um
defensor intransigente de Cunha. E um tucano
relatou que Paulinho propôs trocar os votos do
PSDB no Conselho de Ética pela aprovação do
pedido de impeachment por Cunha. A proposta
não foi aceita porque predomina a avaliação de que
o presidente da Câmara não tem mais autoridade
política. Seus deputados avaliam que ele sequer
tem condições de encaminhar a votação dos
projetos importantes para a economia do país.
Dentro de casa
Há petistas fazendo o discurso da oposição de que
o país está ingovernável. Um deles comentou que a
presidente Dilma entregou os pontos e ficou sem
condições de governar. E explicou: “Sabe aquele
lutador de boxe que está nocauteado e em pé?”.
Da estrada para a Justiça
O governo avalia que a greve dos caminhoneiros
não terá o mesmo peso que a anterior. Desta vez,
nenhum sindicato participou. A AGU está só
esperando o final do movimento para entrar com
ações judiciais por danos aos bens públicos.
Quem tem a força?
Isolado e com uma bancada de apenas 62
deputados, o PT não se conforma em perder os
postos-chave das CPIs. A da Funai, que deve ser
instalada hoje, será presidida pelo ruralista Alceu
Moreira (PMDB). O mais cotado para relator é
Nilson Leitão (PSDB). Isso já ocorreu nas CPIs do
BNDES e dos Fundos de Pensão.
Correndo atrás do voto
Indiferente à campanha para derrubá-lo, o
ministro Joaquim Levy (Fazenda) continua no seu
esforço diário de aprovar o ajuste fiscal. Ontem,
almoçou com um grupo de senadores. E, à noite,
jantou na casa do líder do PMDB, Eunício Oliveira.
A próxima parada
O pato de 12 metros com o logotipo “Não Vou
Pagar o Pato” vai desfilar em Salvador no sábado.
O protesto contra o aumento de impostos, além
do presidente da Fiesp, Paulo Skaf, reunirá
empresários locais e o prefeito ACM Neto (DEM).
Além de rever sua posição de apoio ao
presidente da Câmara, Eduardo Cunha, a
bancada do PSDB proibiu seus integrantes de
aceitarem convites para ir à casa ou se reunir
isoladamente com Cunha. Decidiu que todos
os contatos, a partir de agora, terão que ser
públicos. Depois de meses em cima do muro,
os tucanos querem radicalizar e buscam hoje
o apoio dos demais partidos de oposição.
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  • 1. Conte algo que não sei _ ‘Morro de medo ao entrar em cena’_ Helen Varley Jamieson, cyberperformer Pioneira em misturar palco e internet e adepta do “teatro feminino”, neozelandesa veio ao Rio para o festival MultiCidade, voltado para a criação cênica de mulheres “Tenho 49 anos e nasci em Dunedin, Aotearoa, nome nativo da Nova Zelândia. Moro em Munique com minha companheira alemã. Graduei-me em literatura inglesa e teatro e me engajei no teatro feminino. Depois experimentei tecnologias digitais e internet no âmbito do teatro. Tomei gosto e estou nessa até hoje” _ ENTREVISTA A: CARLOS ALBERTO TEIXEIRA cat@oglobo.com.br l Conte algo que não sei. Sou uma atriz, mas cada per- formance para mim é um sacri- fício. Morro de medo ao entrar em cena. Em 2002, em Belgrado, estávamos preparando uma apresentaçãoon-line,e,minutos antes, caiu o sistema. Em vez de me desesperar, fiquei aliviada, pois não teria que atuar. 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Hoje, o projeto Magdalena, fundado no País de Gales, já es- tá presente em 50 países. l Qual foi sua primeira expe- riência com a rede? Nas salas de chat. Quando morei em Edimburgo, em 1999, um grupo usava uma sa- la visual, chamada The Palace, para fazer performances. Pare- cia um cartum: cada partici- pante tinha um personagem desenhado, um avatar que po- dia ser movido. Ao se digitar, aparecia um balão de texto. Chamavam de Desktop Thea- ter (DT), era ao vivo e com re- sultados inesperados. l É mesmo teatro? Foi esse o meu questiona- mento por muito tempo... Uns diziam que não, já que não há um corpo físico. Quando en- veredei por esse caminho, eu me perguntava: o que eu es- tou fazendo? l Sua infância foi ousada? Meus pais eram bibliotecários, havia muitos livros em casa. Aprendi a ser curiosa. E não tí- nhamos TV! Só aos 15 anos, quando já havia descoberto o punk, herdei de meu padrinho uma em preto e branco. Minha mãeerapianistaecoralista.Meu pai me levava a teatro e cineclu- beseeutocavaumpequenosin- tetizador preto monofônico cheio de botões, minha primeira ligação com tecnologia. l Como era seu visual? Tinha cabelos muito longos, não sabia se cortava. Minha mãe ficoudesacocheioedisse:“Cor- tesómetade!”Fiqueicomolado esquerdo curto e o direito com- pridão por mais de um ano! l Se você tivesse uma máqui- na do tempo, aonde iria? Voltaria à escola para apren- der línguas. Sou a única que só fala inglês no grupo. Eu me sinto muito burra por isso. Es- tou aprendendo alemão agora, mas é muito difícil. l Que tal ser uma pioneira? Como luto contra a escassez de dinheiro, meu trabalho ainda não teve grande alcance mundi- al.E,àsvezes,dourisadaemfes- tivais nos quais a estrela sobe ao palco dizendo-se pioneira na ar- te de unir teatro e internet. Sem- pre dou um jeitinho depois de chegar junto e, baixinho, expli- car que já faço isso há quase vin- te anos. Sorrio e digo “tchau”. LEO MARTINS 2 l O GLOBO Quarta-feira 11.11.2015 Página 2 Leia também _ País Número de mortos em barragem chega a seis, entre eles uma menina de 5 anos PÁGINAS 8, 9 e Zuenir Ventura Rio Blitz flagra até academia de ginástica em presídio para policiais instalado em Niterói PÁGINA 10 Esportes Brasil jogará em Brasília e em Salvador pela primeira fase do futebol olímpico masculino PÁGINA 32 Economia Infraero terá que demitir 4 mil funcionários após privatização de mais quatro aeroportos PÁGINA 22 Mundo STF autoriza executivo venezuelano processado por Caracas a ir para prisão domiciliar PÁGINA 31 Sociedade Novo Atlas dos Municípios da Mata Atlântica mostra contrastes entre 3.429 cidades com bioma PÁGINA 27 O drama nos escombros Desafio. 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