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Ciberativismo, o amplo poder da
Internet

Por Lainy Costa | Yahoo! Contributor Network – sex, 28 de dez de 2012

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Será que a Primavera Árabe, teria ocorrido sem a Internet. Em história, não existe o
"se", mas é certo que antes da era digital, qualquer campanha ou manifestação tinha
limitações físicas e financeiras. Agora, gastando pouco (ou nada, é possível atingir um
maior número de pessoas em poucos minutos. Ideias podem reunir pessoas que não se
conhecem e vivem em continentes diferentes. Será que o ativismo tornou-se totalmente
digital?

A resposta é não. Segundo a doutora Jussara Borges, professora da UFBA, ainda não é
possível falar em virtualização da organizações civis, pois existem muitas limitações
estruturais e humanas que ainda persistem, sem falar na exclusão digital. Pesquisando
algumas organizações de Salvador, ela constatou que 80% apresentaram mudanças por
influência da internet, empregando-a em muitas atividades, principalmente na atuação
política, mas basicamente para facilitar tarefas como comunicação e atualização de
notícias. A pesquisa revelou que a tecnologia transformou antigas formas de
participação em ciberativismo, mas isso não significou uma revolução. Das 44
organizações por ela pesquisada, 6 praticam esse ciberativismo, mas somente 1 faz uso
das redes sociais e ganhou visibilidade da mídia e de personalidades artísticas e
políticas.

Marco Antônio Villa, Historiador da UFSCAR , declarou em entrevista à TV Cultura
que a internet tem um papel fundamental nas reivindicações, pois a disseminação dos
acontecimentos se dá com grande velocidade e penetração por meio das redes sociais.
Mesmo com este avanço, nem tudo está resolvido. O sociólogo Demétrio Magnoli,
colunista do jornal O Estado de São Paulo, vê um exagero quanto ao papel da internet,
ainda que ela seja uma ferramenta importante. "As manifestações ainda são feitas pelas
pessoas e não pela Internet", completou.

A revolução digital também inclui na defesa das causas os participantes ocasionais, que
não estariam defendendo aquela assunto se não fosse pela circunstância e facilidade.
Digitalmente, é fácil reunir centenas ou até milhares de pessoas, mas trazer do mundo
virtual o desejo por mudanças nem sempre é fácil.

Na campanha do "Occupy Wall Street", dezenas de milhões de pessoas declararam
solidariedade mas, após algumas semanas de manifestação, poucas dezenas de pessoas
se reuniam no centro financeiro de Nova Iorque. Outro exemplo aconteceu no protesto
contra o cancelamento das obras do metrô da estação Angélica em São Paulo. Cerca de
50 mil pessoas confirmaram presença através do facebook, mas somente 4 mil
compareceram.

Por outro lado, outras reuniões formuladas virtualmente deram resultado. A Marcha
Contra a Corrupção, ocorrida em Brasília, chegou a reunir cerca de 20 mil
manifestantes; a já citada Primavera Árabe, iniciada pelo tunisiano Mohamed Bouazizi
que ao atear fogo ao próprio corpo em reivindicação ao descaso do governo com a
população, ganhou força nas redes sociais e, além de gerar uma onda de protestos no
Oriente Médio e Norte da África, levou o então presidente tunisiano, Zine El-Abdini
Bem Ali, no poder desde 1987, a renunciar e fugir para a Arábia Saudita.

A tecnologia, como sempre não é boa nem ruim. Ela depende de qual o uso que se faz
dela. O engajamento social através de redes e suportes digitais sem dúvida trouxe
muitas facilidades para as pessoas se reunirem ao redor de ideais comuns. Só que no
coração das mudanças, estão as pessoas. Tudo continua dependendo 100% das ações
que elas tomam

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