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A Antropologia do desenvolvimento:
    É possível falar de uma subdisciplina
                 verdadeira?1

                    Peter Schröder2
       AGEE e ZPW, Universidade de Köln, Alemanha



RESUMO: Este artigo trata de um ramo da antropologia que cresceu con-
sideravelmente nos últimos quinze anos. Desde o início dos anos 80, vá-
rios autores negaram, repetidas vezes, a existência de uma subdisciplina
com esse nome, alegando a falta de teorias, métodos e assuntos específi-
cos que podiam caraterizá-la. Até hoje, não se conseguiu encontrar uma
resposta adequada a esta questão. Os atuantes (ou praticantes) deste ramo
da antropologia aplicada, no entanto, não parecem se preocupar muito com
isto: para eles, a antropologia do desenvolvimento é um conjunto de pro-
fissionais que fazem qualquer trabalho ligado às questões do “desenvol-
vimento”. Nem por isso, nos últimos dez anos, a antropologia do desen-
volvimento começou a se distinguir, progressivamente, dos outros
domínios da disciplina pelo enfoque em temas científicos especiais e em
certos tipos de trabalho prático.

PALAVRAS-CHAVE: antropologia do desenvolvimento, antropologia
aplicada, antropologia prática.
PETER SCHRÖDER. A ANTROPOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO



Um ramo da antropologia aplicada, a antropologia do desenvolvimen-
to, cresceu consideravelmente nos últimos quinze anos, especialmen-
te na Europa e na América do Norte. A imagem da antropologia, que
por muito tempo não era ou mal era associada com as aplicações de
seus conhecimentos, está progressivamente mudando. Um censo de
novos PhD’s em antropologia nos Estados Unidos, ainda em 1986,
revelou que 51% dos profissionais praticava trabalho “aplicado”, não
acadêmico (Givens, 1987). O mercado de trabalho, por um lado, e as
especializações sucessivas dentro da disciplina, pelo outro, são respon-
sáveis pelo fato que um número cada vez maior de antropólogos tem
descoberto “o desenvolvimento” tanto como campo de pesquisa bem
como de atuação e de trabalho.
   Assim, em muitos países, o mercado de trabalho acadêmico tem
encolhido consideravelmente para os antropólogos, fazendo-os pro-
curar alternativas de emprego. Nesta situação muitos antropólogos
abandonaram as antigas reservas contra as várias formas da antro-
pologia aplicada, como o trabalho para órgãos de desenvolvimento.
Nos Estados Unidos, por exemplo, foi observado que, depois de ter
diminuído o número de vagas universitárias e em museus, a partir de
meados dos anos 70, aumentou a disposição de muitos antropólo-
gos para trabalhar para órgãos governamentais, como US-AID, an-
tes considerados instrumentos do establishment e do Big Brother
(Hoben, 1982). Em muitos países da América Latina, porém, a situ-
ação estava bem diferente. Havia países com grandes tradições de
antropologia aplicada de cunho indigenista, como o caso do Méxi-
co, enquanto havia outros, em que a atuação antropológica estava
emperrada pelo controle de regimes militares.
   Além dessas questões pragmáticas, muitos antropólogos percebe-
ram a necessidade heurística de se especializar em problemas de polí-
ticas de desenvolvimento, depois de descobrirem que estas criam rea-
lidades sócio-culturais bem especiais. Estas realidades se caraterizam


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REVISTA DE ANTROPOLOGIA, SÃO PAULO, USP, 1997, V. 40 nº2.



por situações sociais específicas (as arenas dos projetos locais, por
exemplo), por pensamentos, rituais, linguagens e símbolos dife-
rentes de outras realidades. Por exemplo, o desenvolvimento pla-
nejado pode ser analisado pelos conceitos da antropologia soci-
al, como demonstrou Robertson (1984). Este autor mostrou
particularmente a importância de saber aplicar as palavras-chave
dos discursos dos órgãos de desenvolvimento. Um dos clous do
livro é uma instrução para criar 38.000 diferentes programas de
desenvolvimento, só por recorrer a essas palavras-chave – e esta
instrução cabe em apenas uma página (:139).
   Ou, para citar outro exemplo: uma colega trabalhava há dois anos
num projeto de agroflorestação em Bénin. Confrontada com a tarefa
de analisar aquela situação social, ela a descreveu por um contraste
entre dois grupos sociais que ela chamava “a população local” e “o pro-
jeto” (o pessoal do órgão de desenvolvimento, que trabalhava ao ní-
vel local, e os counterparts (homologues) nacionais). Quando lhe ex-
pliquei que era necessário, para uma melhor compreensão e para fins
analíticos, explicitar as duas categorias dicotômicas, ela teve grandes
dificuldades de fazer isto. Os dois símbolos já tinham virado parte dos
pensamentos e da linguagem cotidianos dela (e dos outros colegas
locais), de tal maneira que ela mal conseguiu traduzi-los.
   A preocupação crescente com os impactos sócio-culturais de polí-
ticas de desenvolvimento, particularmente de cunho assistencialista, e
com a dimensão moral subjacente destas políticas, que favorecem
objetivos estratégicos e políticos, em vez de humanitários, também
levou muitos antropólogos a realizarem estudos críticos dessas polí-
ticas ou de medidas singulares delas (Gow, 1988). Esta abordagem crí-
tica, denunciando a falta de consideração dos aspectos sócio-culturais
em muitos projetos e programas, pode ser observada particularmente
nos países latinoamericanos e em vários países africanos. Antropólo-
gos estudaram, por exemplo, os impactos destrutivos de grandes proje-


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PETER SCHRÖDER. A ANTROPOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO



tos para as culturas e sociedades indígenas e não indígenas, como nos
casos do Programa Grande Carajás, do Polonoroeste, e dos proje-
tos hidrelétricos e de irrigação no Vale do São Francisco –
Sobradinho, Itaparica e Codevasf (Scott & Sá, 1990; Sá, 1990) – e
no rio Paraná (Ribeiro, 1994).
   Quando se fala de antropologia e desenvolvimento, o primeiro pro-
blema é este mesmo conceito. Dependendo dos contextos, o termo pode
ter significados completamente diferentes, assim levando a mal-enten-
dimentos profundos. A palavra “desenvolvimento”, no caso especial do
Brasil, por exemplo, muitas vezes tem sido associada com a “política
desenvolvimentista” do regime militar, assim tendo conotações muito
negativas. Na Alemanha, pelo contrário, o termo, por muito tempo, ti-
nha várias conotações positivas, sendo associado com programas de
apoio a famintos ou refugiados de guerra, com apoio técnico ou finan-
ceiro para regiões pobres ou com a exportação dos modelos de ensino
profissional. O conceito do desenvolvimento e os resultados da política
de desenvolvimento só começaram a ser questionados a partir dos anos
70, primeiro pela esquerda, por ambientalistas e por alguns cientistas
sociais. Até surgiram propostas de substitui-lo pelo conceito da trans-
formação, imitando a aplicação do conceito dos países em transforma-
ção para os países ex-comunistas.
   Atualmente, há um grande número de profissionais que declaram
estar empenhados em questões de política de desenvolvimento e que
se auto-definem “antropólogos do desenvolvimento”. Existem insti-
tutos especializados em antropologia do desenvolvimento, por exem-
plo, nos Estados Unidos (Institute for Development Anthropology,
IDA, em Boston) ou na Grã-Bretanha (Center for Development
Studies em Swansea, Wales, ou Institute of Development Studies em
Brighton, Inglaterra). Na França, pesquisas antropológicas que têm a
ver com questões do desenvolvimento, em geral, são realizadas no
âmbito do ORSTOM, do CNRS (Centre Nacional de la Recherche
Scientifique) e de algumas universidades. Muitos aspectos e proble-

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REVISTA DE ANTROPOLOGIA, SÃO PAULO, USP, 1997, V. 40 nº2.



mas da antropologia do desenvolvimento são intensamente discutidos
nos Estados Unidos, na Grã-Bretanha, nos Países Baixos, na Suécia,
na Noruega, na Suíça, na Alemanha, no Brasil, na Argentina, no Mé-
xico e em vários outros países da América Latina e da África Ociden-
tal e Meridional, sem dispor, na maioria destes países, de instituições
formais. Em alguns países (Grã-Bretanha, França, Alemanha), tenta-
se compensar esta desvantagem pela fundação de associações espe-
cializadas, para organizar conferências, publicar revistas e realizar
outras atividades. Um exemplo, ao nível nacional, é a AGEE
(Arbeitsgemeinschaft Entwicklungsethnologie), na Alemanha, outro,
ao nível internacional, a APAD (Association euro-africaine pour
l'anthropologie du changement social et du développement) que reú-
ne, principalmente, antropólogos da França e dos países da África
francófona. Vários boletins, revistas e newsletters informam regu-
larmente sobre a antropologia do desenvolvimento e sobre a sua si-
tuação no contexto mais amplo da disciplina. Para só alegar uns
exemplos: o Development Anthropology Network (Bulletin of the
Institute for Development Anthropology) do IDA nos Estados
Unidos, o Bulletin de l'APAD na França, a Entwicklungsethnologie
na Alemanha e, ainda mais especializado, e muito importante por
causa da rede mundial de distribuição, o Indigenous Knowledge &
Development Monitor, publicado na Holanda e de cunho expres-
samente antropológico.
   No Brasil, vários antropólogos se especializaram em questões de
“antropologia e desenvolvimento” (grifo do autor), por exemplo, nos
departamentos respetivos da UnB, da UFPE ou da UFRGS, no entan-
to, sem se auto-denominar “antropólogos do desenvolvimento”. Nas
reuniões bianuais da ABA há grupos de trabalho sobre os impactos
sócio-culturais de políticas e programas de desenvolvimento. Vários
antropólogos, especialmente aqueles ligados a ONGs, participam em
pequenos projetos locais, entre grupos indígenas e não indígenas, como
alguns colegas do Instituto Sócio-Ambiental (ISA) de São Paulo.

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PETER SCHRÖDER. A ANTROPOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO



Quanto ao tema deste artigo, o Brasil atualmente é um dos paí-
ses mais interessantes.
   As reações ao surgimento deste ramo da disciplina, até agora, têm
sido muito diferentes. Vão das mais positivas de aprovação e apoio
prático até à rejeição completa, alegando que cada aproximação aos
órgãos de desenvolvimento seja o “Pecado Original” da antropologia.
Não obstante destas posições controversas, o interesse nas questões
teóricas e práticas da antropologia do desenvolvimento não está aca-
bando, como indicam os seguintes números. Entre a pequena comu-
nidade de antropólogos alemães, o número de membros da AGEE, da
Associação de Antropologia do Desenvolvimento, chegou a mais de
250, enquanto o órgão central dos antropólogos, a DGV, organiza-
ção paralela à ABA, tem cerca de 650 membros (dados verificados pelo
autor). A associação euro-africana APAD, em 1995, teve mais de 500
membros (comunicação informal da APAD).
   O número de pessoas interessadas, particularmente da nova gera-
ção de profissionais, não reflete de modo nenhum as condições re-
ais do mercado de trabalho. Até hoje, nem os grandes órgãos de de-
senvolvimento nacionais e internacionais, nem as ONGs, nem as
consultancies ofereceram muitas vagas para antropólogos ou outros
cientistas sociais, e em nenhuma destas entidades e empresas os an-
tropólogos conseguiram desempenhar um papel decisivo. Assim, em
muitos casos, o grupo profissional ficou marginalizado. Apesar dis-
so, muitos cientistas sociais admitem que as contribuições dos an-
tropólogos seriam essenciais para o planejamento, a implantação e
a avaliação de projetos e programas (Hyde, 1991:183). As experi-
ências do Banco Mundial, o órgão de desenvolvimento que empre-
ga o maior número de antropólogos e sociólogos, comprovam este
ponto de vista (Cernea, 1994).
   Para evitar um malentendimento: antropólogos especializados em
questões do “desenvolvimento” não são um fenômeno recente, dos


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REVISTA DE ANTROPOLOGIA, SÃO PAULO, USP, 1997, V. 40 nº2.



últimos 20 anos. Apenas o termo “antropologia do desenvolvi-
mento” existe há pouco mais de 25 anos. Pouco tempo depois da
criação de órgãos e programas de desenvolvimento em vários
países, na época pós-guerra dos anos 40 e 50, alguns antropólo-
gos começaram a pesquisar os impactos de certos programas e
projetos ou participaram deles.
   Mas também é possível identificar as origens da antropologia
do desenvolvimento em outras orientações e épocas históricas da
disciplina. Nos Estados Unidos, por exemplo, estas são as abor-
dagens da Action Anthropology, como concebido no caso do Fox
Project de Sol Tax, e as experiências de algumas universidades
com projetos de community development (Hoben, 1982). Na Grã-
Bretanha e na Holanda, pelo contrário, é possível traçar linhas
históricas que remontam ao envolvimento da antropologia apli-
cada na política colonial.
   Na América Latina, as tradições das antropologias indigenistas
são marcadas, entre outras coisas, por várias orientações que di-
zem respeito ao “desenvolvimento” dos povos indígenas. Estas, na
maioria dos casos, representam objetivos emancipatórios, promo-
vendo a articulação de visões de futuro pelos próprios indígenas,
como manifestado no conceito do etnodesarrollo/etnodesenvo-
lvimento (mas, em alguns casos, também continuam a defender os
velhos objetivos integracionistas).
   Em vista da grande quantidade de antropólogos que, de alguma
forma, se especializaram em questões do “desenvolvimento” é legí-
timo perguntar se existe uma subdisciplina que justamente pode ser
chamada de antropologia do desenvolvimento.
   O primeiro que levantou esta questão, foi Allen Hoben (1982),
numa revisão excelente, tratando do papel de antropólogos no tra-
balho de desenvolvimento. Depois de Glynn Cochrane, como primei-
ro antropólogo empregado pelo Banco Mundial, ter cunhado o ter-


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PETER SCHRÖDER. A ANTROPOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO



mo development anthropology, há uma década atrás (Cochrane,
1971), Hoben constatou:
     “Anthropologists working in development have not created an academic
     subdiscipline, ‘development anthropology’, for their work is not
     characterized by a coherent or distinctive body of theory, concepts, and
     methods. Development anthropology has, however, become an incipient
     profession and a field of study.” [Hoben, 1982:349]

   Até hoje esta afirmação foi repetida várias vezes.
   Mas será que a existência ou não existência de tal subdisciplina cons-
tituiria um problema? Por um lado, há uma questão da organização in-
terna. Como definir este ramo da antropologia face às outras “aplica-
ções” da disciplina3, como Action Anthropology, Advocacy
Anthropology ou Cultural Brokarage? E quais seriam os objetivos
específicos de tal ramo?
   Por outro lado, há a questão das relações externas da disciplina.
Seja qual for a “aplicação”, a partir de certo momento sempre vai
surgir a pergunta, se se tratava ainda de antropologia. Os profissio-
nais que trabalham fora dos meios acadêmicos, em geral, têm pro-
blemas com a identidade profissional, porque na maioria dos casos
falta um “capital simbólico” para se identificarem como antropólo-
gos. Isto vale particularmente para os antropólogos que trabalham
no setor de desenvolvimento, muitas vezes isolados dos outros co-
legas. A formação de uma subdisciplina incitaria muitos antropólo-
gos “acadêmicos” e “do desenvolvimento” a manter contatos regu-
lares, para o enriquecimento e crescimento das duas orientações, e
para superar, pelo menos parcialmente, aquela antiquada divisão
ideológica, muitas vezes preconceituosa, entre a antropologia “bá-
sica”, “abstrata”, “pura”, “acadêmica” e a outra, “aplicada”, “práti-
ca” e “suja” (quer dizer, comprometida). Para reforçar a posição da
antropologia no contexto de políticas e medidas de desenvolvimen-
to é necessário recorrer aos conhecimentos atuais da disciplina. No


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REVISTA DE ANTROPOLOGIA, SÃO PAULO, USP, 1997, V. 40 nº2.



“development business”, os antropólogos precisam de “ferramentas”
especiais e de conhecimentos concretos, para esclarecer e defender
sua abordagem e seu pensamento específicos. Isto requer, para não
esquecer este aspecto, programas especiais de ensino que já existem em
alguns países, como nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha.
   Minha tese é a seguinte: 25 anos depois de cunhar o conceito ainda
não é possível falar de uma subdisciplina “antropologia do desenvolvi-
mento”. Porém, há muitos indícios que ela está em vias de se formar4,
particularmente, no que se refere ao domínio metodológico e aos assun-
tos de pesquisa e tipos de trabalho prático.
   Os critérios para falar de uma subdisciplina, geralmente, são os se-
guintes: um ou vários objetos de pesquisa, um ou vários objetivos defi-
nidos e um corpus especializado de conceitos, teorias e métodos. No
âmbito da antropologia, por exemplo, a antropologia cognitiva, a an-
tropologia política ou a antropologia ecológica cumprem estas condi-
ções. Em casos que dizem respeito às aplicações dos conhecimentos de
uma disciplina, pode ser introduzido um critério adicional: os tipos de
trabalho. Quanto à aplicação desses critérios à antropologia do desen-
volvimento, é notável que os “atuantes/ praticantes” (the practicioners/
les praticiens) deste ramo da disciplina não se preocupem muito com a
questão: para eles, a antropologia do desenvolvimento é um conjunto
de profissionais que faz qualquer trabalho que tenha a ver com proble-
mas do “desenvolvimento”. Ninguém formulou esta postura tão nitida-
mente como Thayer Scudder (1990). Para ele, a antropologia do desen-
volvimento é a totalidade das pessoas que a praticam de qualquer forma,
isto é, todas as pessoas e instituições que queiram aplicar politicamente
seus resultados de pesquisa. Hoben, finalmente, resumiu:
     “It is not evident from this [development] literature that anthropologists,
     by virtue of their training or knowledge, have a distinctive or even a shared
     vision of degree, direction, and pace of social, technological, economic,
     or political change that is to be desired ... [The] commitment [to liberal,
     humanistic values] is not peculiar to anthropologists, and it is not clear


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PETER SCHRÖDER. A ANTROPOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO



     how substantive progress toward these goals is to be reconciled with the
     equally prevalent anthropological commitment to the preservation or at
     least protection of diverse indigenous beliefs, values, and practices.”
     [1982:366-7]

   Para encontrar uma resposta à questão da subdisciplina é necessá-
rio, em primeiro lugar, rever algumas definições, espalhadas na litera-
tura. Existem poucas. Uma das mais conhecidas é de um manual de
1984, editado pela American Anthropological Association (AAA):
     “Development anthropology is scientific research with significant
     applications within the development project cycle. Its objective is to
     enhance benefits and to mitigate negative consequences for the human
     communities involved in and affected by development efforts.”
     [Partridge & Warren, 1984:1]

   Eis uma visão muito restrita que não diz respeito a uma conceituação
antropológica do desenvolvimento e que só fala de empenhamentos no
âmbito de projetos. Ela oferece, somente, uma resposta muito insufici-
ente. Uma definição mais ampla foi dada por Frank Bliss (1988), num
artigo da revista Current Anthropology. Para ele, a antropologia do
desenvolvimento engloba, na seguinte ordem: (1) pesquisa básica
(axiomática), (2) pesquisa no âmbito de projetos e programas e (3) tra-
balho de educação e relações públicas (de conscientização, por exem-
plo). Neste caso, a definição se baseia em tipos de trabalho, o que im-
plica também uma visão unilateral e restrita.
   Uma terceira definição liga a antropologia do desenvolvimento a
outras áreas da disciplina. No modelo de Kievelitz (1988), ela cons-
titui um aspecto importante da antropologia prática, pode ser reali-
zada em vários campos de ação (Applied/ Action/ Policy Anthro-
pology) e tem relações com a antropologia teórica (no que se refere
às pesquisas básicas). Neste caso, o ponto de vista central é a posi-
ção dentro da disciplina. Todas essas definições são insuficientes para
delinear uma subdisciplina, mas representam indícios úteis para com-
provar a tese aventada acima.

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REVISTA DE ANTROPOLOGIA, SÃO PAULO, USP, 1997, V. 40 nº2.



  Vamos voltar aos critérios da subdisciplina e ver quais são cumpridos:
  (1) O objeto de pesquisa fica indefinido ou só é definido muito
superficialmente. Em quase todos os textos da antropologia do de-
senvolvimento, o conceito do “desenvolvimento” não é explicitado.
E quando já foi tentada uma definição, ela sempre ficou muito im-
precisa e sem compromisso. Pode-se citar o exemplo da associa-
ção alemã AGEE:
     “Para nós, o desenvolvimento é o melhoramento da situação dos gru-
     pos atingidos, segundo os seus próprios critérios, sendo preciso levar
     em conta necessidades globais.” [tradução do alemão]

   Além desta frase não explicar nada, é necessário esclarecer cinco
conceitos: melhoramento, situação, grupos atingidos, critérios e ne-
cessidades globais. E para ainda complicar mais, “melhoramento”, por
exemplo, pode ter pelo menos quatro significados: mudança geral,
inovação, restauração ou revitalização.
   Aliás, os antropólogos se esforçaram muito mais para verificar e es-
clarecer idéias autóctones de desenvolvimento, como o fez Streiffeler
(1993) para grupos da população rural em Zaire. Partindo do concei-
to do etnodesarrollo, por exemplo, vários antropólogos peruanos trou-
xeram à tona as idéias indígenas do “desenvolvimento” entre grupos
de campesinos andinos, estas idéias sendo imagens de um futuro me-
lhorado, batizado pelos antropólogos “la utopía andina” (Salas, 1992).
   (2) Não existe consenso quanto aos objetivos da antropologia do de-
senvolvimento. Mas antes de ser um fenômeno especial, ele é típico
para muitas antropologias chamadas “aplicadas”. Apenas poucos pro-
fissionais empenham-se em formular objetivos, de caráter mais ou
menos programático, por exemplo Poeschke e outros:
     “As anthropologists we should not take the role of ‘development
     facilitators’, but study all modes of transformation and widen the agenci-
     es‘ perspective for indigenous knowledge, local solutions and different ways
     of reaching goals. Otherwise we will not be able to influence worldwide
     development processes in favor of the underprivileged.” [1992:9]

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PETER SCHRÖDER. A ANTROPOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO



    (3) Os conceitos aplicados na antropologia do desenvolvimento não
foram criados dentro deste ramo da disciplina, mas emprestados de
outras subdisciplinas da antropologia, particularmente da antropologia po-
lítica. Palavras-chave típicas são: arena, estratégias, negociações ou poder.
    (4) A antropologia em geral delineou poucas teorias de desenvol-
vimento, algumas delas de cunho evolucionista ou dependencialista.
A vasta bibliografia de Menzel (1995) sobre a história das teorias de
desenvolvimento, atualmente considerada uma das melhores obras de
referência para o tema, cita poucas publicações antropológicas. Dos
autores, vale mencionar Elman Service, Morton Fried, Darcy Ribeiro
(1988) e, para citar uma obra mais recente, Allen W. Johnson e
Timothy Earle (1987). Geralmente, estas publicações são de uso res-
trito para questões práticas. Uma característica que marca a discipli-
na há mais de duas décadas é a falta de continuação em esboçar e aper-
feiçoar teorias de mudança cultural.
    (5) No âmbito da antropologia do desenvolvimento foram inventa-
dos e experimentados vários métodos especiais. Um exemplo é ECRIS,
um método de levantamento coletivo para a identificação rápida de
conflitos sociais e de grupos estratégicos (Bierschenk e Olivier de
Sardan, 1995). Mais importante do que estes métodos é a influência
que a antropologia teve nas metodologias de levantamento e planeja-
mento das agências e dos órgãos de desenvolvimento, especialmente
na formação de diagnósticos participativos (PRA; Schönhuth e
Kievelitz, 1994), hoje em dia, obrigatórios tanto nos grandes órgãos
nacionais e internacionais quanto nas ONGs.
    Em resumo: segundo todos estes critérios só é possível falar de uma
subdisciplina do ponto de vista metodológico e, perifericamente, teórico.
    Resta falar de outros indícios para demonstrar que a antropologia do
desenvolvimento está em formação de uma subdisciplina: certos campos
temáticos e de trabalho.
    Primeiro os de trabalho. É possível distinguir, pelo menos, cinco tipos:
    • pesquisa (no meio universitário, em institutos especializados ou

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REVISTA DE ANTROPOLOGIA, SÃO PAULO, USP, 1997, V. 40 nº2.



patrocinado por órgãos de desenvolvimento, os últimos por meio de
contratos especiais);
   • trabalho consultivo (por meio de contratos variados);
   • trabalho em projetos e programas (em todas as etapas do ciclo de
projeto, dos preparativos à avaliação);
   • trabalho de educação e relações públicas (por meio de emprego
ou contratos com órgãos e instituições em vários níveis políticos);
   • trabalho em organizações e campanhas de direitos humanos e de
meio ambiente.
   Além disso, os antropólogos até agora têm pesquisado e escrito
sobre muitos temas que têm relevância para as políticas de desenvol-
vimento, entre outros:
   • análises de sistemas locais de produção;
   • conhecimentos locais/ local knowledge, especialmente as relações
entre conhecimentos, práticas e representações; atualmente, trata-se
de um dos temas mais animadores e instigadores, como demonstra, por
exemplo, o grande número de contribuições na coletânea de Warren
et al. (1995);
   • gênero e desenvolvimento;
   • meio ambiente e desenvolvimento, especialmente manejo de recur-
sos (resource management) e questões de sustentabilidade;
   • sistemas locais e alternativos de saúde;
   • estudos de inovação, particularmente sobre a difusão de inovações;
   • conceitos e idéias autóctones de desenvolvimento;
   • local empowerment;
   • impactos sócio-culturais de projetos de desenvolvimento;
   • a cooperação de desenvolvimento em situações de conflitos
étnicos;
   • estudos de órgãos e burocracias de desenvolvimento (por exem-
plo, das estruturas internas e das “filosofias” destes órgãos);
   • análises de projetos e programas com o instrumentário analítico


                                 - 95 -
PETER SCHRÖDER. A ANTROPOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO



da antropologia de organizações e da antropologia política, baseado
nas idéias de Balandier, Bailey e Turner (Cheater, 1994).
   Esta lista não é completa, mas dá uma idéia de temas atuais. A aná-
lise da micro-política de projetos e de relações entre o pessoal de pro-
jetos e as populações locais é especialmente promissora. A antropo-
logia, até agora, tem mostrado o seu potencial analítico, antes de mais
nada, a micro-nível, embora este enfoque muitas vezes tenha implica-
do o perigo de ignorar ou minimizar fatores econômicos e políticos
externos, como advertiu Gow (1993).
   Em resumo: a atual Antropologia do desenvolvimento é caraterizada
por uma gama ampla de temas, métodos e campos de trabalho, mas
ainda é necessário chegar a um consenso sobre o(s) campo(s) de pes-
quisa, os objetivos e os conceitos principais, e aprofundar questões
teóricas, do currículo e das dimensões éticas do engajamento antro-
pológico na política de desenvolvimento. Uma subdisciplina ainda está
em formação – uma subdisciplina que continuará a atrair muitos an-
tropólogos e profissionais de outras disciplinas.

Notas
1   Versão ampliada de uma comunicação proferida na XX Reunião Brasi-
    leira de Antropologia, em Salvador, Bahia, de 14 a 18 de abril de 1996.

2   PhD. em antropologia, atualmente bolsista da DFG (Deutsche
    Forschungsgemeinschaft/ Sociedade Alemã de Pesquisa), realizando pes-
    quisa de campo no Cariri Cearense, sobre o manejo de recursos naturais
    por pequenos produtores rurais. A AGEE (Associação de Antropologia do
    Desenvolvimento) é uma associação nacional de cientistas sociais e de
    profissionais de desenvolvimento que têm o interesse comum de promo-
    ver a consideração sistemática dos aspectos sócio-culturais na política de
    desenvolvimento nacional, bilateral e internacional. O ZPW (Centro
    Mundo Lusófono) é um instituto interdisciplinar que promove e apóia
    pesquisas sobre os países de língua portuguesa, especialmente pes-
    quisas binacionais.

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REVISTA DE ANTROPOLOGIA, SÃO PAULO, USP, 1997, V. 40 nº2.



3   Para um panorama do grande número de domínios da Antropologia Apli-
    cada, ver Van Willigen (1993) e Chambers (1985).

4   Sobre esse respeito, estou de acordo com Hyde (1991) e Lavigne-Delville (s/d).



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                                     - 99 -
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1995    The Cultural Dimension of Development: Indigenous Knowledge Systems, IT
        Studies in Indigenous Knowledge and Development, London, Intermediate
        Technology Publications.

   ABSTRACT: This paper is about a field of anthropology which grew
   considerably in the last fifteen years. Since the early Eighties, several authors
   have repeatedly denied the existence of a subdiscipline called development
   anthropology, alleging a lack of theories, methods, and specific subjects which
   could characterize it. Up to this date, no one has found an adequate answer to
   this problem. The practitioners of this field of applied anthropology, however,
   do not seem to be very concerned about this: for them, development anthropology
   is any group of professionals which practice some kind of work which has to do
   with questions of “development”. Nevertheless, in recent ten years, development
   anthropology began gradually to distinguish itself from other fields of
   the discipline by its focus on special scientific topics and on special
   kinds of practical work.

   KEY WORDS: development anthropology, applied anthropology, practical
   anthropology.




                               Aceito para publicação em março de 1997.

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  • 1. A Antropologia do desenvolvimento: É possível falar de uma subdisciplina verdadeira?1 Peter Schröder2 AGEE e ZPW, Universidade de Köln, Alemanha RESUMO: Este artigo trata de um ramo da antropologia que cresceu con- sideravelmente nos últimos quinze anos. Desde o início dos anos 80, vá- rios autores negaram, repetidas vezes, a existência de uma subdisciplina com esse nome, alegando a falta de teorias, métodos e assuntos específi- cos que podiam caraterizá-la. Até hoje, não se conseguiu encontrar uma resposta adequada a esta questão. Os atuantes (ou praticantes) deste ramo da antropologia aplicada, no entanto, não parecem se preocupar muito com isto: para eles, a antropologia do desenvolvimento é um conjunto de pro- fissionais que fazem qualquer trabalho ligado às questões do “desenvol- vimento”. Nem por isso, nos últimos dez anos, a antropologia do desen- volvimento começou a se distinguir, progressivamente, dos outros domínios da disciplina pelo enfoque em temas científicos especiais e em certos tipos de trabalho prático. PALAVRAS-CHAVE: antropologia do desenvolvimento, antropologia aplicada, antropologia prática.
  • 2. PETER SCHRÖDER. A ANTROPOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO Um ramo da antropologia aplicada, a antropologia do desenvolvimen- to, cresceu consideravelmente nos últimos quinze anos, especialmen- te na Europa e na América do Norte. A imagem da antropologia, que por muito tempo não era ou mal era associada com as aplicações de seus conhecimentos, está progressivamente mudando. Um censo de novos PhD’s em antropologia nos Estados Unidos, ainda em 1986, revelou que 51% dos profissionais praticava trabalho “aplicado”, não acadêmico (Givens, 1987). O mercado de trabalho, por um lado, e as especializações sucessivas dentro da disciplina, pelo outro, são respon- sáveis pelo fato que um número cada vez maior de antropólogos tem descoberto “o desenvolvimento” tanto como campo de pesquisa bem como de atuação e de trabalho. Assim, em muitos países, o mercado de trabalho acadêmico tem encolhido consideravelmente para os antropólogos, fazendo-os pro- curar alternativas de emprego. Nesta situação muitos antropólogos abandonaram as antigas reservas contra as várias formas da antro- pologia aplicada, como o trabalho para órgãos de desenvolvimento. Nos Estados Unidos, por exemplo, foi observado que, depois de ter diminuído o número de vagas universitárias e em museus, a partir de meados dos anos 70, aumentou a disposição de muitos antropólo- gos para trabalhar para órgãos governamentais, como US-AID, an- tes considerados instrumentos do establishment e do Big Brother (Hoben, 1982). Em muitos países da América Latina, porém, a situ- ação estava bem diferente. Havia países com grandes tradições de antropologia aplicada de cunho indigenista, como o caso do Méxi- co, enquanto havia outros, em que a atuação antropológica estava emperrada pelo controle de regimes militares. Além dessas questões pragmáticas, muitos antropólogos percebe- ram a necessidade heurística de se especializar em problemas de polí- ticas de desenvolvimento, depois de descobrirem que estas criam rea- lidades sócio-culturais bem especiais. Estas realidades se caraterizam - 84 -
  • 3. REVISTA DE ANTROPOLOGIA, SÃO PAULO, USP, 1997, V. 40 nº2. por situações sociais específicas (as arenas dos projetos locais, por exemplo), por pensamentos, rituais, linguagens e símbolos dife- rentes de outras realidades. Por exemplo, o desenvolvimento pla- nejado pode ser analisado pelos conceitos da antropologia soci- al, como demonstrou Robertson (1984). Este autor mostrou particularmente a importância de saber aplicar as palavras-chave dos discursos dos órgãos de desenvolvimento. Um dos clous do livro é uma instrução para criar 38.000 diferentes programas de desenvolvimento, só por recorrer a essas palavras-chave – e esta instrução cabe em apenas uma página (:139). Ou, para citar outro exemplo: uma colega trabalhava há dois anos num projeto de agroflorestação em Bénin. Confrontada com a tarefa de analisar aquela situação social, ela a descreveu por um contraste entre dois grupos sociais que ela chamava “a população local” e “o pro- jeto” (o pessoal do órgão de desenvolvimento, que trabalhava ao ní- vel local, e os counterparts (homologues) nacionais). Quando lhe ex- pliquei que era necessário, para uma melhor compreensão e para fins analíticos, explicitar as duas categorias dicotômicas, ela teve grandes dificuldades de fazer isto. Os dois símbolos já tinham virado parte dos pensamentos e da linguagem cotidianos dela (e dos outros colegas locais), de tal maneira que ela mal conseguiu traduzi-los. A preocupação crescente com os impactos sócio-culturais de polí- ticas de desenvolvimento, particularmente de cunho assistencialista, e com a dimensão moral subjacente destas políticas, que favorecem objetivos estratégicos e políticos, em vez de humanitários, também levou muitos antropólogos a realizarem estudos críticos dessas polí- ticas ou de medidas singulares delas (Gow, 1988). Esta abordagem crí- tica, denunciando a falta de consideração dos aspectos sócio-culturais em muitos projetos e programas, pode ser observada particularmente nos países latinoamericanos e em vários países africanos. Antropólo- gos estudaram, por exemplo, os impactos destrutivos de grandes proje- - 85 -
  • 4. PETER SCHRÖDER. A ANTROPOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO tos para as culturas e sociedades indígenas e não indígenas, como nos casos do Programa Grande Carajás, do Polonoroeste, e dos proje- tos hidrelétricos e de irrigação no Vale do São Francisco – Sobradinho, Itaparica e Codevasf (Scott & Sá, 1990; Sá, 1990) – e no rio Paraná (Ribeiro, 1994). Quando se fala de antropologia e desenvolvimento, o primeiro pro- blema é este mesmo conceito. Dependendo dos contextos, o termo pode ter significados completamente diferentes, assim levando a mal-enten- dimentos profundos. A palavra “desenvolvimento”, no caso especial do Brasil, por exemplo, muitas vezes tem sido associada com a “política desenvolvimentista” do regime militar, assim tendo conotações muito negativas. Na Alemanha, pelo contrário, o termo, por muito tempo, ti- nha várias conotações positivas, sendo associado com programas de apoio a famintos ou refugiados de guerra, com apoio técnico ou finan- ceiro para regiões pobres ou com a exportação dos modelos de ensino profissional. O conceito do desenvolvimento e os resultados da política de desenvolvimento só começaram a ser questionados a partir dos anos 70, primeiro pela esquerda, por ambientalistas e por alguns cientistas sociais. Até surgiram propostas de substitui-lo pelo conceito da trans- formação, imitando a aplicação do conceito dos países em transforma- ção para os países ex-comunistas. Atualmente, há um grande número de profissionais que declaram estar empenhados em questões de política de desenvolvimento e que se auto-definem “antropólogos do desenvolvimento”. Existem insti- tutos especializados em antropologia do desenvolvimento, por exem- plo, nos Estados Unidos (Institute for Development Anthropology, IDA, em Boston) ou na Grã-Bretanha (Center for Development Studies em Swansea, Wales, ou Institute of Development Studies em Brighton, Inglaterra). Na França, pesquisas antropológicas que têm a ver com questões do desenvolvimento, em geral, são realizadas no âmbito do ORSTOM, do CNRS (Centre Nacional de la Recherche Scientifique) e de algumas universidades. Muitos aspectos e proble- - 86 -
  • 5. REVISTA DE ANTROPOLOGIA, SÃO PAULO, USP, 1997, V. 40 nº2. mas da antropologia do desenvolvimento são intensamente discutidos nos Estados Unidos, na Grã-Bretanha, nos Países Baixos, na Suécia, na Noruega, na Suíça, na Alemanha, no Brasil, na Argentina, no Mé- xico e em vários outros países da América Latina e da África Ociden- tal e Meridional, sem dispor, na maioria destes países, de instituições formais. Em alguns países (Grã-Bretanha, França, Alemanha), tenta- se compensar esta desvantagem pela fundação de associações espe- cializadas, para organizar conferências, publicar revistas e realizar outras atividades. Um exemplo, ao nível nacional, é a AGEE (Arbeitsgemeinschaft Entwicklungsethnologie), na Alemanha, outro, ao nível internacional, a APAD (Association euro-africaine pour l'anthropologie du changement social et du développement) que reú- ne, principalmente, antropólogos da França e dos países da África francófona. Vários boletins, revistas e newsletters informam regu- larmente sobre a antropologia do desenvolvimento e sobre a sua si- tuação no contexto mais amplo da disciplina. Para só alegar uns exemplos: o Development Anthropology Network (Bulletin of the Institute for Development Anthropology) do IDA nos Estados Unidos, o Bulletin de l'APAD na França, a Entwicklungsethnologie na Alemanha e, ainda mais especializado, e muito importante por causa da rede mundial de distribuição, o Indigenous Knowledge & Development Monitor, publicado na Holanda e de cunho expres- samente antropológico. No Brasil, vários antropólogos se especializaram em questões de “antropologia e desenvolvimento” (grifo do autor), por exemplo, nos departamentos respetivos da UnB, da UFPE ou da UFRGS, no entan- to, sem se auto-denominar “antropólogos do desenvolvimento”. Nas reuniões bianuais da ABA há grupos de trabalho sobre os impactos sócio-culturais de políticas e programas de desenvolvimento. Vários antropólogos, especialmente aqueles ligados a ONGs, participam em pequenos projetos locais, entre grupos indígenas e não indígenas, como alguns colegas do Instituto Sócio-Ambiental (ISA) de São Paulo. - 87 -
  • 6. PETER SCHRÖDER. A ANTROPOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO Quanto ao tema deste artigo, o Brasil atualmente é um dos paí- ses mais interessantes. As reações ao surgimento deste ramo da disciplina, até agora, têm sido muito diferentes. Vão das mais positivas de aprovação e apoio prático até à rejeição completa, alegando que cada aproximação aos órgãos de desenvolvimento seja o “Pecado Original” da antropologia. Não obstante destas posições controversas, o interesse nas questões teóricas e práticas da antropologia do desenvolvimento não está aca- bando, como indicam os seguintes números. Entre a pequena comu- nidade de antropólogos alemães, o número de membros da AGEE, da Associação de Antropologia do Desenvolvimento, chegou a mais de 250, enquanto o órgão central dos antropólogos, a DGV, organiza- ção paralela à ABA, tem cerca de 650 membros (dados verificados pelo autor). A associação euro-africana APAD, em 1995, teve mais de 500 membros (comunicação informal da APAD). O número de pessoas interessadas, particularmente da nova gera- ção de profissionais, não reflete de modo nenhum as condições re- ais do mercado de trabalho. Até hoje, nem os grandes órgãos de de- senvolvimento nacionais e internacionais, nem as ONGs, nem as consultancies ofereceram muitas vagas para antropólogos ou outros cientistas sociais, e em nenhuma destas entidades e empresas os an- tropólogos conseguiram desempenhar um papel decisivo. Assim, em muitos casos, o grupo profissional ficou marginalizado. Apesar dis- so, muitos cientistas sociais admitem que as contribuições dos an- tropólogos seriam essenciais para o planejamento, a implantação e a avaliação de projetos e programas (Hyde, 1991:183). As experi- ências do Banco Mundial, o órgão de desenvolvimento que empre- ga o maior número de antropólogos e sociólogos, comprovam este ponto de vista (Cernea, 1994). Para evitar um malentendimento: antropólogos especializados em questões do “desenvolvimento” não são um fenômeno recente, dos - 88 -
  • 7. REVISTA DE ANTROPOLOGIA, SÃO PAULO, USP, 1997, V. 40 nº2. últimos 20 anos. Apenas o termo “antropologia do desenvolvi- mento” existe há pouco mais de 25 anos. Pouco tempo depois da criação de órgãos e programas de desenvolvimento em vários países, na época pós-guerra dos anos 40 e 50, alguns antropólo- gos começaram a pesquisar os impactos de certos programas e projetos ou participaram deles. Mas também é possível identificar as origens da antropologia do desenvolvimento em outras orientações e épocas históricas da disciplina. Nos Estados Unidos, por exemplo, estas são as abor- dagens da Action Anthropology, como concebido no caso do Fox Project de Sol Tax, e as experiências de algumas universidades com projetos de community development (Hoben, 1982). Na Grã- Bretanha e na Holanda, pelo contrário, é possível traçar linhas históricas que remontam ao envolvimento da antropologia apli- cada na política colonial. Na América Latina, as tradições das antropologias indigenistas são marcadas, entre outras coisas, por várias orientações que di- zem respeito ao “desenvolvimento” dos povos indígenas. Estas, na maioria dos casos, representam objetivos emancipatórios, promo- vendo a articulação de visões de futuro pelos próprios indígenas, como manifestado no conceito do etnodesarrollo/etnodesenvo- lvimento (mas, em alguns casos, também continuam a defender os velhos objetivos integracionistas). Em vista da grande quantidade de antropólogos que, de alguma forma, se especializaram em questões do “desenvolvimento” é legí- timo perguntar se existe uma subdisciplina que justamente pode ser chamada de antropologia do desenvolvimento. O primeiro que levantou esta questão, foi Allen Hoben (1982), numa revisão excelente, tratando do papel de antropólogos no tra- balho de desenvolvimento. Depois de Glynn Cochrane, como primei- ro antropólogo empregado pelo Banco Mundial, ter cunhado o ter- - 89 -
  • 8. PETER SCHRÖDER. A ANTROPOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO mo development anthropology, há uma década atrás (Cochrane, 1971), Hoben constatou: “Anthropologists working in development have not created an academic subdiscipline, ‘development anthropology’, for their work is not characterized by a coherent or distinctive body of theory, concepts, and methods. Development anthropology has, however, become an incipient profession and a field of study.” [Hoben, 1982:349] Até hoje esta afirmação foi repetida várias vezes. Mas será que a existência ou não existência de tal subdisciplina cons- tituiria um problema? Por um lado, há uma questão da organização in- terna. Como definir este ramo da antropologia face às outras “aplica- ções” da disciplina3, como Action Anthropology, Advocacy Anthropology ou Cultural Brokarage? E quais seriam os objetivos específicos de tal ramo? Por outro lado, há a questão das relações externas da disciplina. Seja qual for a “aplicação”, a partir de certo momento sempre vai surgir a pergunta, se se tratava ainda de antropologia. Os profissio- nais que trabalham fora dos meios acadêmicos, em geral, têm pro- blemas com a identidade profissional, porque na maioria dos casos falta um “capital simbólico” para se identificarem como antropólo- gos. Isto vale particularmente para os antropólogos que trabalham no setor de desenvolvimento, muitas vezes isolados dos outros co- legas. A formação de uma subdisciplina incitaria muitos antropólo- gos “acadêmicos” e “do desenvolvimento” a manter contatos regu- lares, para o enriquecimento e crescimento das duas orientações, e para superar, pelo menos parcialmente, aquela antiquada divisão ideológica, muitas vezes preconceituosa, entre a antropologia “bá- sica”, “abstrata”, “pura”, “acadêmica” e a outra, “aplicada”, “práti- ca” e “suja” (quer dizer, comprometida). Para reforçar a posição da antropologia no contexto de políticas e medidas de desenvolvimen- to é necessário recorrer aos conhecimentos atuais da disciplina. No - 90 -
  • 9. REVISTA DE ANTROPOLOGIA, SÃO PAULO, USP, 1997, V. 40 nº2. “development business”, os antropólogos precisam de “ferramentas” especiais e de conhecimentos concretos, para esclarecer e defender sua abordagem e seu pensamento específicos. Isto requer, para não esquecer este aspecto, programas especiais de ensino que já existem em alguns países, como nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha. Minha tese é a seguinte: 25 anos depois de cunhar o conceito ainda não é possível falar de uma subdisciplina “antropologia do desenvolvi- mento”. Porém, há muitos indícios que ela está em vias de se formar4, particularmente, no que se refere ao domínio metodológico e aos assun- tos de pesquisa e tipos de trabalho prático. Os critérios para falar de uma subdisciplina, geralmente, são os se- guintes: um ou vários objetos de pesquisa, um ou vários objetivos defi- nidos e um corpus especializado de conceitos, teorias e métodos. No âmbito da antropologia, por exemplo, a antropologia cognitiva, a an- tropologia política ou a antropologia ecológica cumprem estas condi- ções. Em casos que dizem respeito às aplicações dos conhecimentos de uma disciplina, pode ser introduzido um critério adicional: os tipos de trabalho. Quanto à aplicação desses critérios à antropologia do desen- volvimento, é notável que os “atuantes/ praticantes” (the practicioners/ les praticiens) deste ramo da disciplina não se preocupem muito com a questão: para eles, a antropologia do desenvolvimento é um conjunto de profissionais que faz qualquer trabalho que tenha a ver com proble- mas do “desenvolvimento”. Ninguém formulou esta postura tão nitida- mente como Thayer Scudder (1990). Para ele, a antropologia do desen- volvimento é a totalidade das pessoas que a praticam de qualquer forma, isto é, todas as pessoas e instituições que queiram aplicar politicamente seus resultados de pesquisa. Hoben, finalmente, resumiu: “It is not evident from this [development] literature that anthropologists, by virtue of their training or knowledge, have a distinctive or even a shared vision of degree, direction, and pace of social, technological, economic, or political change that is to be desired ... [The] commitment [to liberal, humanistic values] is not peculiar to anthropologists, and it is not clear - 91 -
  • 10. PETER SCHRÖDER. A ANTROPOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO how substantive progress toward these goals is to be reconciled with the equally prevalent anthropological commitment to the preservation or at least protection of diverse indigenous beliefs, values, and practices.” [1982:366-7] Para encontrar uma resposta à questão da subdisciplina é necessá- rio, em primeiro lugar, rever algumas definições, espalhadas na litera- tura. Existem poucas. Uma das mais conhecidas é de um manual de 1984, editado pela American Anthropological Association (AAA): “Development anthropology is scientific research with significant applications within the development project cycle. Its objective is to enhance benefits and to mitigate negative consequences for the human communities involved in and affected by development efforts.” [Partridge & Warren, 1984:1] Eis uma visão muito restrita que não diz respeito a uma conceituação antropológica do desenvolvimento e que só fala de empenhamentos no âmbito de projetos. Ela oferece, somente, uma resposta muito insufici- ente. Uma definição mais ampla foi dada por Frank Bliss (1988), num artigo da revista Current Anthropology. Para ele, a antropologia do desenvolvimento engloba, na seguinte ordem: (1) pesquisa básica (axiomática), (2) pesquisa no âmbito de projetos e programas e (3) tra- balho de educação e relações públicas (de conscientização, por exem- plo). Neste caso, a definição se baseia em tipos de trabalho, o que im- plica também uma visão unilateral e restrita. Uma terceira definição liga a antropologia do desenvolvimento a outras áreas da disciplina. No modelo de Kievelitz (1988), ela cons- titui um aspecto importante da antropologia prática, pode ser reali- zada em vários campos de ação (Applied/ Action/ Policy Anthro- pology) e tem relações com a antropologia teórica (no que se refere às pesquisas básicas). Neste caso, o ponto de vista central é a posi- ção dentro da disciplina. Todas essas definições são insuficientes para delinear uma subdisciplina, mas representam indícios úteis para com- provar a tese aventada acima. - 92 -
  • 11. REVISTA DE ANTROPOLOGIA, SÃO PAULO, USP, 1997, V. 40 nº2. Vamos voltar aos critérios da subdisciplina e ver quais são cumpridos: (1) O objeto de pesquisa fica indefinido ou só é definido muito superficialmente. Em quase todos os textos da antropologia do de- senvolvimento, o conceito do “desenvolvimento” não é explicitado. E quando já foi tentada uma definição, ela sempre ficou muito im- precisa e sem compromisso. Pode-se citar o exemplo da associa- ção alemã AGEE: “Para nós, o desenvolvimento é o melhoramento da situação dos gru- pos atingidos, segundo os seus próprios critérios, sendo preciso levar em conta necessidades globais.” [tradução do alemão] Além desta frase não explicar nada, é necessário esclarecer cinco conceitos: melhoramento, situação, grupos atingidos, critérios e ne- cessidades globais. E para ainda complicar mais, “melhoramento”, por exemplo, pode ter pelo menos quatro significados: mudança geral, inovação, restauração ou revitalização. Aliás, os antropólogos se esforçaram muito mais para verificar e es- clarecer idéias autóctones de desenvolvimento, como o fez Streiffeler (1993) para grupos da população rural em Zaire. Partindo do concei- to do etnodesarrollo, por exemplo, vários antropólogos peruanos trou- xeram à tona as idéias indígenas do “desenvolvimento” entre grupos de campesinos andinos, estas idéias sendo imagens de um futuro me- lhorado, batizado pelos antropólogos “la utopía andina” (Salas, 1992). (2) Não existe consenso quanto aos objetivos da antropologia do de- senvolvimento. Mas antes de ser um fenômeno especial, ele é típico para muitas antropologias chamadas “aplicadas”. Apenas poucos pro- fissionais empenham-se em formular objetivos, de caráter mais ou menos programático, por exemplo Poeschke e outros: “As anthropologists we should not take the role of ‘development facilitators’, but study all modes of transformation and widen the agenci- es‘ perspective for indigenous knowledge, local solutions and different ways of reaching goals. Otherwise we will not be able to influence worldwide development processes in favor of the underprivileged.” [1992:9] - 93 -
  • 12. PETER SCHRÖDER. A ANTROPOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO (3) Os conceitos aplicados na antropologia do desenvolvimento não foram criados dentro deste ramo da disciplina, mas emprestados de outras subdisciplinas da antropologia, particularmente da antropologia po- lítica. Palavras-chave típicas são: arena, estratégias, negociações ou poder. (4) A antropologia em geral delineou poucas teorias de desenvol- vimento, algumas delas de cunho evolucionista ou dependencialista. A vasta bibliografia de Menzel (1995) sobre a história das teorias de desenvolvimento, atualmente considerada uma das melhores obras de referência para o tema, cita poucas publicações antropológicas. Dos autores, vale mencionar Elman Service, Morton Fried, Darcy Ribeiro (1988) e, para citar uma obra mais recente, Allen W. Johnson e Timothy Earle (1987). Geralmente, estas publicações são de uso res- trito para questões práticas. Uma característica que marca a discipli- na há mais de duas décadas é a falta de continuação em esboçar e aper- feiçoar teorias de mudança cultural. (5) No âmbito da antropologia do desenvolvimento foram inventa- dos e experimentados vários métodos especiais. Um exemplo é ECRIS, um método de levantamento coletivo para a identificação rápida de conflitos sociais e de grupos estratégicos (Bierschenk e Olivier de Sardan, 1995). Mais importante do que estes métodos é a influência que a antropologia teve nas metodologias de levantamento e planeja- mento das agências e dos órgãos de desenvolvimento, especialmente na formação de diagnósticos participativos (PRA; Schönhuth e Kievelitz, 1994), hoje em dia, obrigatórios tanto nos grandes órgãos nacionais e internacionais quanto nas ONGs. Em resumo: segundo todos estes critérios só é possível falar de uma subdisciplina do ponto de vista metodológico e, perifericamente, teórico. Resta falar de outros indícios para demonstrar que a antropologia do desenvolvimento está em formação de uma subdisciplina: certos campos temáticos e de trabalho. Primeiro os de trabalho. É possível distinguir, pelo menos, cinco tipos: • pesquisa (no meio universitário, em institutos especializados ou - 94 -
  • 13. REVISTA DE ANTROPOLOGIA, SÃO PAULO, USP, 1997, V. 40 nº2. patrocinado por órgãos de desenvolvimento, os últimos por meio de contratos especiais); • trabalho consultivo (por meio de contratos variados); • trabalho em projetos e programas (em todas as etapas do ciclo de projeto, dos preparativos à avaliação); • trabalho de educação e relações públicas (por meio de emprego ou contratos com órgãos e instituições em vários níveis políticos); • trabalho em organizações e campanhas de direitos humanos e de meio ambiente. Além disso, os antropólogos até agora têm pesquisado e escrito sobre muitos temas que têm relevância para as políticas de desenvol- vimento, entre outros: • análises de sistemas locais de produção; • conhecimentos locais/ local knowledge, especialmente as relações entre conhecimentos, práticas e representações; atualmente, trata-se de um dos temas mais animadores e instigadores, como demonstra, por exemplo, o grande número de contribuições na coletânea de Warren et al. (1995); • gênero e desenvolvimento; • meio ambiente e desenvolvimento, especialmente manejo de recur- sos (resource management) e questões de sustentabilidade; • sistemas locais e alternativos de saúde; • estudos de inovação, particularmente sobre a difusão de inovações; • conceitos e idéias autóctones de desenvolvimento; • local empowerment; • impactos sócio-culturais de projetos de desenvolvimento; • a cooperação de desenvolvimento em situações de conflitos étnicos; • estudos de órgãos e burocracias de desenvolvimento (por exem- plo, das estruturas internas e das “filosofias” destes órgãos); • análises de projetos e programas com o instrumentário analítico - 95 -
  • 14. PETER SCHRÖDER. A ANTROPOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO da antropologia de organizações e da antropologia política, baseado nas idéias de Balandier, Bailey e Turner (Cheater, 1994). Esta lista não é completa, mas dá uma idéia de temas atuais. A aná- lise da micro-política de projetos e de relações entre o pessoal de pro- jetos e as populações locais é especialmente promissora. A antropo- logia, até agora, tem mostrado o seu potencial analítico, antes de mais nada, a micro-nível, embora este enfoque muitas vezes tenha implica- do o perigo de ignorar ou minimizar fatores econômicos e políticos externos, como advertiu Gow (1993). Em resumo: a atual Antropologia do desenvolvimento é caraterizada por uma gama ampla de temas, métodos e campos de trabalho, mas ainda é necessário chegar a um consenso sobre o(s) campo(s) de pes- quisa, os objetivos e os conceitos principais, e aprofundar questões teóricas, do currículo e das dimensões éticas do engajamento antro- pológico na política de desenvolvimento. Uma subdisciplina ainda está em formação – uma subdisciplina que continuará a atrair muitos an- tropólogos e profissionais de outras disciplinas. Notas 1 Versão ampliada de uma comunicação proferida na XX Reunião Brasi- leira de Antropologia, em Salvador, Bahia, de 14 a 18 de abril de 1996. 2 PhD. em antropologia, atualmente bolsista da DFG (Deutsche Forschungsgemeinschaft/ Sociedade Alemã de Pesquisa), realizando pes- quisa de campo no Cariri Cearense, sobre o manejo de recursos naturais por pequenos produtores rurais. A AGEE (Associação de Antropologia do Desenvolvimento) é uma associação nacional de cientistas sociais e de profissionais de desenvolvimento que têm o interesse comum de promo- ver a consideração sistemática dos aspectos sócio-culturais na política de desenvolvimento nacional, bilateral e internacional. O ZPW (Centro Mundo Lusófono) é um instituto interdisciplinar que promove e apóia pesquisas sobre os países de língua portuguesa, especialmente pes- quisas binacionais. - 96 -
  • 15. REVISTA DE ANTROPOLOGIA, SÃO PAULO, USP, 1997, V. 40 nº2. 3 Para um panorama do grande número de domínios da Antropologia Apli- cada, ver Van Willigen (1993) e Chambers (1985). 4 Sobre esse respeito, estou de acordo com Hyde (1991) e Lavigne-Delville (s/d). Bibliografia AGEE (Arbeitsgemeinschaft Entwicklungsethnologie) 1989 Entwicklungsbegriff, Trier, mimeo. BIERSCHENK, T. e OLIVIER DE SARDAN, J. 1995 “ECRIS: Eine kollektive Erhebungsmethode zur schnellen Identifizierung von sozialen Konflikten und strategischen Gruppen”, Entwick- lungsethnologie, 4 (1): 43-55. BLISS, F. 1988 “The cultural dimension in West German development policy and the contribution of Ethnology”, Current Anthropology, 29 (1):101-121. CERNEA, M.M. 1994 Sociology, Anthropology and development. An annotated bibliography of World Bank Publications 1975-1993, Washington, D.C., The World Bank. CHAMBERS, E. 1985 Applied Anthropology. A practical guide, Englewood Cliffs, Prentice-Hall. CHEATER, A. 1994 “What can social anthropology and especially German ethnology actually deliver to the process of development in Third World countries?”, Entwicklungsethnologie, 3 (1):16-25. COCHRANE, G. 1971 Development Anthropology, New York, Oxford University Press. - 97 -
  • 16. PETER SCHRÖDER. A ANTROPOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO GIVENS, D.B. 1987 “1986 PhD survey results: Doctor Rate update”, Anthropology Newsletter, 28 (4):1. GOW, D.D. 1988 “Development Anthropology: in quest of a practical vision”, Development Anthropology Network (Bulletin of the Institute for Development Anthropology), 6 (2):13-17. 1993 “Doubly damned: dealing with power and praxis in Development Anthropology”, Human Organization, 52 (4):380-97. HOBEN, A. 1982 “Anthropologists and development”, Annual Review of Anthropology, 11:349-375. HYDE, J. 1991 “Building a subdiscipline of Development Anthropology”, Reviews in Anthropology, 18 (3):183-92. JOHNSON, A.W. e EARLE, T. 1987 The evolution of human societies, Stanford, Stanford University Press. KIEVELITZ, U. 1988 Kultur, Entwicklung und die Rolle der Ethnologie. Zur Konzeption einer Entwicklungsethnologie, (Beiträge zur Kulturkunde, 11) Bonn, Politischer Arbeitskreis Schulen (PAS). LAVIGNE DELVILLE, P. s/d L‘Anthropologie du développement en France, mimeo. MENZEL, U. 1995 Geschichte der Entwicklungstheorie. Einführung und systematische Bibliographie. 3. erweiterte Auflage, Hamburg, Deutsches Übersee-Institut. PARTRIDGE, W.L. e WARREN, D.M. 1984 “Introduction: Development Anthropology and the life cycle of development projects”, in PARTRIDGE, W.L. (ed.) Training manual in Development Anthropology, Washington, D.C., American Anthropological Association, 1-9. - 98 -
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