O documento descreve o projeto do SESC Pompéia, em São Paulo, projetado por Lina Bo Bardi em 1977. O projeto consiste em dois prismas de concreto sobrepostos com janelas irregulares e passarelas de ligação entre eles. O documento também fornece detalhes biográficos sobre Lina Bo Bardi, destacando sua ênfase na simplicidade arquitetônica e autenticidade cultural em seus projetos.
2. LINA BO BARDI – SESC POMPÉIA S/P (1977)
•O prisma maior apresenta cinco pavimentos,
com oito metros e sessenta centímetros de
altura entre pisos. Apresenta apenas paredes
perimetrais portantes, que medem trinta e cinco
centímetros de espessura, e nenhuma estrutura
interna complementar. São moldadas com
tábuas horizontais de madeira. As lajes
nervuradas protendidas medem um metros de
altura total.
•As janelas se localizam nas faces menores, leste
e oeste, do prisma maior. São quatro de cada
lado por andar. Configuram simplesmente
aberturas irregulares, criadas a partir de moldes
de isopor embutidos durante a concretagem. As
marcas do isopor são perceptíveis na largura dos
muros, assim como as marcas das madeiras são
perceptíveis no exterior. Internamente, foram
utilizadas formas retangulares de plástico, que
também são perceptíveis.
•O prisma menor apresenta doze pavimentos
que coincidem a cada dois com os pavimentos
do prisma maior, tendo assim, quatro metros e
trinta centímetros de altura entre pisos. Os dois
últimos pavimentos têm sua altura reduzida para
três metros e setenta centímetros. Esse prisma
apresenta-se girado trinta e três graus horários
em relação ao prisma maior. Suas faces externas
também são moldadas com tábuas horizontais
de madeira. Suas janelas são quadradas e
menores que as aberturas ameboides do prisma
maior, porém não apresentam um alinhamento
ortogonal rígida, aparecendo dispostas em
diversas coordenadas.
•A esquina mais próxima ao prisma maior é
então facetada paralelamente àquele, de modo
a criar duas faces paralelas. Dessa nova face, que
rompe o desenho retangular da base, partem
quatro níveis de passarelas de concreto
protendido aparente que dão acesso aos
pavimentos do prisma maior. Entre os dois
prismas, abaixo das passarelas, passa o córrego
Água Preta, que fica oculto pela sobreposição de
um pier de madeira.
•Cada uma das passarelas elevadas apresenta
um desenho diferente, ainda que sob as mesmas
regras: partem de uma mesma abertura no
prisma menor e se ramificam levando a duas
aberturas simétricas no prisma maior. Têm dois
metros de largura e peitoris de um metros e
vinte centímetros. A primeira passarela, a partir
de baixo, forma um V perfeito. A segunda
também forma um V perfeito e leva a aberturas
um pouco mais centralizadas que as da primeiras
passarela, configurando um V mais fechado que
o inferior. A terceira passarela parte como uma
linha reta perpendicular, e somente depois da
metade do vão se bifurca, assemelhando-se a
um Y.
•Suas aberturas de chegada no prisma maior
estão um pouco mais centralizadas que as
inferiores, quase na mesma medida que as da
segunda passarela em relação às da primeira. A
quarta e última passarela volta a ser um V,
porém imperfeito: um dos braços do V surge do
outro, ou seja, não coincidem no ponto de saída.
Além disso, a saída no prisma menor é
desalinhada em relação às passarelas inferiores.
As aberturas de chegada estão próximas aos
extremos do prisma maior, formando um V mais
aberto que os demais.
• Além da face recortada, o prisma menor
apresenta outros dois aspectos que quebram a
sua condição de prisma ortogonal perfeito.
Primeiramente, a presença na esquina norte de
faixas horizontais de concreto que configuram os
peitoris da escada externa: são os únicos
elementos que são moldados com tábuas
verticais de madeira. E o alargamento da sua
base em um metro e meio para cada lado do
perímetro, nos seus dois primeiros pavimentos.
A união dessa base maior com a base normal a
partir de terceiro pavimento é através de
paredes inclinadas, favorecendo a uma
percepção de contraforte.
http://www.archdaily.com.br/br/01-153205/classicos-da-arquitetura-sesc-pompeia-slash-lina-bo-bardi
3. LINA BO BARDI (1914-1992)
“Um novo olhar arquitetônico”•Lina Bo Bardi passava longas horas refletindo e
fazendo anotações antes de produzir coloridos
desenhos à mão para seus projetos. Ela não
procurava, como muitos arquitetos, a justa forma,
mas sim a simplicidade arquitetônica e uma
autenticidade cultural que pudesse ser
coletivamente compartilhada. Mais do que uma
confiante arquiteta modernista, ela foi uma cética
projetista e pensadora moderna. Em vez de valores
universais, seu trabalho projetual e sua escrita
revelam o papel que a pluralidade, a alteridade e a
instabilidade desempenham na constituição da
modernidade.
• Ainda que seu trabalho tenha sido prolífico em
várias áreas criativas, incluindo a realização de
inúmeros projetos arquitetônicos, sua obra
construída é pequena. No entanto, os menos de 20
edifícios que ela viu serem erguidos deixaram
significativa contribuição para a arquitetura
brasileira e mundial. Lina Bo Bardi procurou abraçar
as contingências dos lugares em que trabalhou e a
espontaneidade da vida cotidiana. Ela passou a
própria vida em trânsito, navegando entre locais e
visões de mundo distintos. Suas ações e seu
pensamento teceram uma trajetória por dentro e
por fora da cultura moderna, materializada na
comunicação entre inovação e tradição, abstração e
realismo, racionalismo e surrealismo, naturalismo e
história, assim como entre sentimentos
melancólicos e impulsos revolucionários.
Suas obras edificadas, frequentemente de caráter
ambivalente, resultaram de processos de negociação
complexos e foram concebidas de forma híbrida.
Essa abordagem esteve presente desde o início de
sua presença no Brasil, manifestada em um de seus
primeiros artigos - hoje pouco lembrados - para a
revista Habitat. Seu contundente ensaio-manifesto
Bela criança de janeiro de 1951 (Habitat no 2)
colocava-se entre o debate internacional sobre a
arquitetura moderna brasileira e a hegemonia dos
princípios corbusianos preconizados pela Escola
Carioca. O artigo enaltece a arquitetura espontânea
e a casa rural assim como o fazer leigo,
estabelecendo importantes premissas de projeto.
•Seu primeiro projeto construído, a casa Bardi
(1949/1952), que veio a ser equivocadamente
chamada de Casa de vidro, revela hoje pouco
das preocupações do seu artigo. No entanto, o
plano original foi concebido segundo uma
lógica racionalista associada a materiais não
industriais como uma estrutura tosca de
madeira e fundações de pedra. Inicialmente
idealizado para ser uma residência temporária
para artistas do Instituto de Arte
Contemporânea do Masp, o projeto passou a
servir ao ambicioso esquema comercial do
loteamento do Morumbi. Juntamente com a
casa que Oswaldo Bratke - arquiteto que
concebeu o plano urbanístico - projetou para o
casal Maria Luísa e Oscar Americano, a casa
dos Bardis serviu de showroom para o novo
bairro paulistano, inaugurando o modelo das
"case study houses" californianas na cidade. A
adaptação do projeto inicial a esse modelo deu
origem à aparência de uma casa transparente,
dramaticamente situada sobre as colinas do
vale do rio Pinheiros. Apesar disso, uma análise
mais atenta revela um volume posterior de
serviços sólido e assentado sobre o terreno
com poucas aberturas, à semelhança de uma
casa rural, que revela o caráter conceitual e
formalmente híbrido da casa Bardi.
• Os outros dois projetos residenciais que Lina
Bo Bardi viu construir entre 1958 e 1964 são
menos conhecidos e divulgados, mas
representam fielmente as suas buscas estéticas
e conceituais na época. O primeiro deles é o
projeto para a casa Valéria Cirell de 1958, ao
qual Lina Bo Bardi acrescentou uma pequena
casa de hóspedes cilíndrica em 1964. O outro
projeto, iniciado em 1958 e completado em
1964, é a casa do Chame-Chame, em Salvador,
Bahia, demolida em 1986 para dar lugar a um
edifício de apartamentos. Ambas se
caracterizam pela experimentação, quase
literal, de Lina Bo Bardi com os elementos
espontâneos e vernáculos preconizados em
seus artigos sobre arquitetura para a revista
Habitat.
Fonte : http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/249/lina-bo-bardi-em-busca-de-uma-arquitetura-pobre-334011-1.aspx