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Compromisso feminino
Um nome que evoca um encontro no tempo. Uma linha relojoeira
que se tornou mais forte com o tempo. A Jaeger-LeCoultre lançou
o Rendez-Vous como complemento da sua oferta feminina, mas
rapidamente a coleção ganhou protagonismo. Eis a anatomia de
um compromisso com o sucesso.
Texto Miguel Seabra, Fotografia Jaeger-LeCoultre
Reportagem Jaeger-LeCoultre Rendez-Vous
Rendez-Vous Tourbillon ouro rosa
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O que é que faz com que um determinado relógio se torne
num êxito? Qualquer marca gostaria de possuir a fórmula exata
para o sucesso, se bem que as mais famosas manufaturas
relojoeiras normalmente apresentem um toque de Midas que
é mais de meio caminho andado para alcançar esse desiderato.
No entanto, para além do óbvio, há sempre uma plêiade
de ingredientes intangíveis que normalmente contribuem para
o estatuto de culto – e que muitas vezes tem a ver com o timing
do lançamento, com a adoção por parte de uma celebridade,
com a aceitação num determinado mercado, com a magia
de um nome que captura o imaginário.
A Jaeger-LeCoultre é uma das mais reputadas casas
relojoeiras do planeta e tem, tanto no seu currículo como no seu
catálogo, autênticos ex-líbris na história da relojoaria e modelos
carismáticos que fazem as delícias do aficionado mais exigente.
Mas essa combinação não garante antecipadamente que cada
nova linha lançada seja bem-sucedida – especialmente uma
que saia do âmbito das consagradas linhas Reverso ou Master
Control e que seja exclusivamente feminina. Quando a Grande
Maison lançou o Idéale na década passada, não tinha a certeza
absoluta de que seria um êxito – e não foi. As expectativas
eram muito idênticas aquando do lançamento do Rendez-Vous
– e foi um sucesso.
No redondo está a virtude
A conjugação entre factores tangíveis e intangíveis tornou a
gama Rendez-Vous numa das mais marcantes linhas relojoeiras
contemporâneas destinadas ao público feminino. E quem
esteve por trás da sua criação foi uma lusófona com formação
de designer de joias: Lucie Paschke, alemã de mãe brasileira
casada com um português e residente na Suíça, que nos revelou
as várias etapas que conduziram ao seu lançamento e posterior
desenvolvimento.
Curiosamente, o Rendez-Vous acaba por surgir de certo
modo associado ao mais emblemático de todos os modelos
da Jaeger‑LeCoultre – o Reverso: «Quando celebrámos
o aniversário do Reverso, em 2011, lançámos alguns modelos
muito femininos e verificámos um interesse crescente por parte
das senhoras. Tínhamos começado também a colaborar
com a Diane Kruger e houve um impacto muito positivo junto
do público feminino; constatámos que não podíamos continuar
apenas com o Reverso para a clientela feminina, até porque
o interesse da Ásia residia mais nos modelos redondos», refere;
«O crescente poder de compra e conhecimento relojoeiro das
mulheres asiáticas tornou lógica a opção por um relógio redondo
de mecanismo automático, sobretudo porque os modelos
femininos mecânicos do Reverso são de corda manual. O nosso
estatuto de manufatura quase que exigia o lançamento
de um modelo redondo feminino com mecanismo automático».
De facto, o Idéale não podia ser tomado como exemplo:
era ‘apenas’ outro relógio ‘de forma’ e nesse aspeto já existia
o Reverso. Entretanto, uma versão feminina da linha Master
– o Master Lady Tourbillon – teve um sucesso inusitado e
Jérôme Lambert, que na altura era o CEO da marca, sentiu a
oportunidade e decidiu que era tempo de atacar. «Os algarismos
desse turbilhão inspiraram a estética do Rendez-Vous; os
códigos estéticos eram muito fortes, elegantes, com influência
art déco», destaca Lucie Paschke.
Por trás da nomenclatura
Depois, foi necessário encontrar um nome adequado. «Encontrar
um nome atrativo e consensual nunca é fácil, além do que
o nome inicial, Master Lady, não era uma designação forte para
uma coleção feminina. Mas, entretanto, vimos nos arquivos
o nome Rendez-Vous de um modelo dos anos 80 e optámos
por esse – até porque simboliza o encontro entre a relojoaria
e a joalharia. É um relógio-joia, mas que tem o seu lado
relojoeiro e que, por isso, apresenta uma beleza para além
da que está à superfície», sublinha a responsável de produto
da Jaeger‑LeCoultre.
O Rendez-Vous da década de 80 só serviu mesmo para
a nomenclatura; convém não esquecer que aquele período deu
à luz os relógios mais feios (não estejamos com rodeios...)
da história da relojoaria de pulso e tornou-se impossível replicá-
-lo em padrões contemporâneos. «Nunca nos inspirámos no
Rendez-Vous original dos anos 80, até porque só confirmámos
o nome depois de a gama estar desenhada; inspirámo-nos
mais no estilo dos anos 30, entre o art déco e o art nouveau,
que é o nosso estilo – sofisticado, clássico, elegante».
O design foi da autoria da equipa internacional liderada pelo
diretor artístico Janek Deleskiewicz – houve várias designers
de vários países que, nos ateliers da Jaeger-LeCoultre em
Le Sentier, trabalharam juntas na linha Rendez-Vous, desde uma
chinesa a uma italiana. O processo de conceção e lançamento
foi particularmente rápido e atesta bem as competências
técnicas da Grande Maison.
Nunca nos inspirámos no Rendez-
-Vous original; inspirámo-nos no
estilo dos anos 30, entre o art déco
e o art nouveau, que é o nosso estilo
– sofisticado, clássico, elegante.
Lucie Paschke
Responsável de Produto Jaeger-LeCoultre
1. Esboços Rendez-Vous
2. Lucie Paschke, respon-
sável pela gestão da atual
linha Rendez-Vous
3. Rendez-Vous original,
peça lançada na década
de 80
4. Rendez-Vous Celestial
Reportagem Jaeger-LeCoultre Rendez-Vous
3. 66 Rendez-Vous Night
& Day, coleção 2014
Rendez-Vous Wild Rose
«Começámos a idealizar a coleção em 2011 e o lançamento foi
feito em 2012», recorda Lucie Paschke; «Aproveitámos o timing
do Jubileu da Rainha de Inglaterra para recordar uma nossa
peça histórica que simboliza a nossa liderança na miniaturização
de movimentos como o Calibre 101, que ela usou na entroniza-
ção, e ainda a nossa associação a Diane Kruger. Fomos criando
um buzz à volta dos nossos relógios femininos, fizemos o
lançamento do Rendez-Vous em junho de 2012 e a coleção
completa foi apresentada pela primeira vez na Ásia aquando
do Shanghai Film Festival. Depois mostrámo-la na Mostra
de Veneza e seguidamente em Abu Dhabi. O interessante foi
constatar que o sucesso não se confinou à Ásia ou a uma zona
geográfica específica, mas a todo o mundo».
Inspiração celestial
E como se explica essa aceitação intercontinental? «Para além do
timing certo, trata-se de um produto muito forte, disponibilizado
em vários tamanhos e materiais com diversos mecanismos;
a combinação entre aço e diamantes é muito apelativa, porque
surge a um preço muito interessante», destaca Lucie Paschke.
Curiosamente, a fasquia de preço acabou por ser um argu-
mento de venda inesperado: «Queríamos um produto feminino
forte que não ‘matasse’ o Reverso e chegámos a pensar que
o poderia ‘canibalizar’, mas a verdade é que ajudou a promover
o Reverso. O Rendez-Vous tem um preço médio mais alto,
um outro estilo – e verificou-se que, se quem quer um Reverso
em princípio não vai comprar um Rendez-Vous, o inverso
sucede: o Rendez-Vous até ajudou a vender o Reverso».
Pela mesma ordem de ideias, houve, em 2013, um lançamento
de um modelo Rendez-Vous de preço bem elevado que acabou
por ter repercussões muito positivas na comercialização da
restante coleção: «Em 2013, no ano em que celebrámos o 180.º
aniversário da Jaeger-LeCoultre, quisemos mostrar que a linha
não era apenas baseada num mecanismo automático simples,
mas que também abrangia complicações diferentes para
senhoras – e lançámos o Celestial e o Calendário Perpétuo».
O Rendez-Vous Celestial acabou por ter um impacto mediático
assinalável, chamando a atenção para a linha regular... e para
o Rendez-Vous da década de 80, inícios de 90.
O nome Rendez-Vous simboliza o
encontro entre a relojoaria e a joalharia.
É um relógio-joia, mas que tem o seu lado
relojoeiro e que, por isso, apresenta uma
beleza para além da que está à superfície.
Lucie Paschke
Responsável de Produto Jaeger-LeCoultre
«É o único ponto de contacto com o Rendez-Vous original.
Inspirámo-nos na estrela da luneta rotativa para a utilizar
no Celestial. O Celestial representa a filosofia da coleção, o tal
rendez-vous entre alta-joalharia e alta-relojoaria que evoca o céu
da Vallée de Joux, as ondas do lago de Joux são representadas
pelo guilloché, a neve é representada pelos diamantes.
O Celestial conta a história das origens da marca na Vallée
de Joux. E a estrelinha que podemos utilizar para marcar a hora
de um encontro é o toque pessoal, o make a wish».
Coleção abrangente
O Rendez-Vous Celestial mostra a passagem das constelações
e os signos do Zodíaco num mostrador de um lápis-lazúli em
profundo tom de azul que é também ricamente trabalhado
em guilloché; um indicador em forma de estrela permite
estabelecer a hora combinada para um encontro. A caixa de
37,5 mm é em ouro branco; a luneta e os flancos são cravejados
com 155 diamantes. E um movimento exclusivo: «O calibre
automático JLC 809 foi concebido especificamente para esse
relógio – enquanto nos outros modelos Rendez-Vous utilizamos
calibres clássicos que são os nossos melhores movimentos
automáticos», ressalva Lucie Paschke.
Ainda na faixa mais superlativa da coleção, surgem outros dois
modelos automáticos complicados. O Rendez-Vous Tourbillon
Night & Day apresenta um turbilhão com indicador do dia e
da noite através da passagem do sol e da lua por uma janela;
a caixa em ouro rosa de 39 milímetros inclui luneta e flancos
cravejados com 125 diamantes. Já o Rendez-Vous Calendário
Perpétuo indica a passagem do tempo através de um calendário
completo numa caixa em ouro rosa de 37,5 mm com luneta e
flancos adornados com 114 diamantes.
E depois há os modelos regulares, com mostradores em
madrepérola ou decorados em guilloché. O Rendez-Vous Night
& Day inclui um indicador do dia e da noite através da passagem
do sol e da lua por uma janela; está disponível numa caixa em
ouro ou em aço de 34 e 29 mm. Para complementar, o Rendez-
-Vous Date em quartzo, numa caixa em aço de 34 mm e o novo
modelo automático de 27,5 mm.
Para quando a utilização da estrelinha que serviu de amuleto
ao Rendez-Vous original e ao Rendez-Vous Celestial na linha
regular atual? «É uma ideia a considerar porque a estrela é
muito feminina. No entanto, já fomos muito dinâmicos com
as peças lançadas e queremos deixar amadurecer a coleção.
Quem sabe no futuro». Sim, porque já nasceu com outra estrela
– a estrelinha da sorte...
Reportagem Jaeger-LeCoultre Rendez-Vous