Gustavo Kuerten fundou o Instituto Guga Kuerten em 2000 para ajudar crianças carentes e deficientes físicos, seguindo o exemplo do Instituto Ayrton Senna. O instituto já melhorou a vida de 62 mil crianças e tem um orçamento anual de R$20 milhões, financiado principalmente por leis de incentivo e doações. Kuerten continua apoiando o instituto e usando sua influência para arrecadar fundos, mesmo depois de se aposentar do tênis.
Beginners Guide to TikTok for Search - Rachel Pearson - We are Tilt __ Bright...
GQ57_MOTYguga
1. o
5Men
of The
Year
BRASIL
2 0 1 5
gustavo kuerten
RESPONSABILIDADE SOCIAL
G
ustavo Kuerten
foi o autor de uma fa-
çanha inimaginável
para um brasileiro, e não es-
tamos falando só do tricam-
peonato de Roland Garros,
em1997,2000e2001;daper-
manêncianotopodoranking
mundialpor43semanascon-
secutivas,entre2000e2001;
de ter sido o único tenista da
históriaavencerAndreAgas-
si e Pete Sampras no mesmo
torneio. Ele conseguiu uma
proeza carregada de simbo-
lismo: ocupar o posto de su-
cessordeAyrtonSennacomo
ídolo nacional. Depois de
Guga ainda vencemos uma
Copa do Mundo, ganhamos
medalhas olímpicas, até um
campeãomundialdesurfeti-
vemos.Ídolonacional,noen-
tanto, só o Guga.
Depois da aposentadoria
das quadras, em 2008, Guga
continuou o legado de Senna
emoutrocampo:odarespon-
sabilidade social. A exemplo
do tricampeão de automobi-
lismo, ele tem um instituto
com seu nome dedicado a fa-
zer o bem. “Antes de montar
o instituto, meu irmão e mi-
nha mãe foram até São Pau-
lo conversar com a Viviane
(Senna, irmã do piloto) para
entenderaoperação.Foifun-
damental essa aproximação
para entender o tamanho do
desafioemontarumplanode
ação. Ela foi muito receptiva,
oInstitutoAyrtonSennajáti-
nha experiência.”
Isso foi em 2000. O Insti-
tuto Guga Kuerten está com-
pletando 15 anos. É um du-
plo aniversário. A entidade
nasceu em agosto de 2000,
e em dezembro Guga virou
o número 1 do ranking. “Es-
sas datas comemorativas são
simbólicas. Lá atrás, quando
começamos, 15 anos parecia
um tempo enorme. Mas ago-
ra dá para visualizar os pró-
ximos 50, parece que o que
fizemos até agora não passa
de um embrião.”
Vamos, então, aos núme-
ros. O Instituto Guga Kuer-
ten já melhorou a vida de
62 mil crianças nessa déca-
da e meia. O trabalho se dá
em duas frentes principais:
atendimento de crianças ca-
rentes, por meio de clínicas
de esporte e reforço escolar,
e apoio a deficientes físicos.
Essasegundavertenteéuma
bandeiracaraàfamíliaeteve
origem na história dos Kuer-
ten.OirmãomenordeGuga,
Guilherme, tinha paralisia
cerebral severa, causada por
falta de oxigenação no parto.
Morreu em 2007, de parada
cardiorrespiratória.
“datas de
comemoração
são
simbólicas.
lá atrás,
quando
começamos,
15 anos
parecia
um tempo
enorme.
mas agora
dá para
visualizar 50,
parece
que o que
fizemos
até então não
passa de um
embrião”
por
Ivan
Padilla
.
fotos
Pedro
Dimitrow
Smoking R$ 2.915,
camisa R$ 920,
gravata-borboleta
R$ 265 Hugo Boss
| Abotoaduras
Ricardo Almeida
R$ 1.325 (conjunto
de abotoaduras e
botões) | Sapatos
Burberry R$ 2.395
Grooming
Keila Trevisan
Assistente de
fotografia
Adrian Ikematsu
Agradecimentos
Jurerê Beach Village
Loja Lombok
DEZEMBRO 2015 ii ii 129128 ii ii DEZEMBRO 2015
especial
2. o
5Men
of The
Year
BRASIL
2 0 1 5
“O Guilherme foi um catalisador para
nossa missão, foi a bandeira que sempre ti-
vemos”, diz Guga. “Quando ele era crian-
ça,nosanos80e90,odeficienteeraesque-
cido, discriminado, escondido. Ele não era
incluído nas atividades do dia a dia da fa-
mília. Nós convivemos com esse estranha-
mentodaspessoas.Poxa,meuirmãochega-
vaater15,20convulsõespordia,atéacertar
o medicamento. Ninguém quer passar por
isso, mas dá para viver bem assim, e cres-
cer, e ver a beleza de estar com ele nesses
momentos difíceis.”
O instituto tem um orçamento de
R$ 20 milhões por ano. Desse total, cer-
ca de 15% saem da conta do Grupo Guga
Kuerten – holding de investimentos imobi-
liários, escolas de tênis e licenciamento de
produtos administrada pelo irmão mais ve-
lho, Rafael, com faturamento estimado de
R$ 250 milhões anuais. O resto vem de leis
deincentivoàeducaçãoeparcerias.Umdos
contribuintes mais célebres do instituto é
outro ex-tenista, conhecido pelos investi-
mentos mundo afora, Jorge Paulo Lemann.
E
stamos sentados na área da piscina
do Jurerê Beach Village, na Floria-
nópolis natal de Guga. O ex-tenista
estácomoscabeloscurtosemaisgrisalhos.
Mesmo avesso a badalações, é uma celebri-
dade a quem as marcas querem se associar.
Ele veste bermuda da Lacoste, grife de que
é embaixador, usa no pulso o modelo da
Hublot que leva seu nome, chegou dirigin-
do um Peugeot 308, para o qual já fez cam-
panha publicitária. Da mesma forma, seu
nome abre portas para doadores e parcei-
ros do instituto. “Acho que hoje esse peso
ficou repartido. O trabalho se sustenta pe-
los resultados. E mesmo o Guga já é muito
reconhecido agora pelas atividades sociais,
e não como atleta. Meu último grande jogo
foi em 2004, pouca gente lembra”, afirma.
Verdade. As crianças e os deficientes
atendidos hoje no instituto não viram Guga
em ação na quadra, com seu saque forte e
aberto, a batida na subida da bola, o back-
hand forte com muito top spin. Os tenistas
especialistas em saibro até então trocavam
bola atrás da linha de fundo, esperando o
erro do adversário. Guga imprimiu uma
nova forma de jogar na terra vermelha. É
quase impossível vê-lo em ação hoje: ele
ainda se recupera da quarta cirurgia no
quadril, dois anos atrás. O desgaste da car-
tilagemnaregiãofoioqueabreviousuacar-
reira. Mas sempre que ele entra em quadra
é um evento para a meninada.
N
ossa conversa é interrompida para a
sessãodefotos,naságuasgeladasda
Praia de Jurerê. O resto da conversa
se dá em um restaurante por quilo em um
posto de gasolina, ao lado do hotel. Simpli-
cidade que combina com os tempos de sur-
fista amador, em que ele não passava de um
manezinho da ilha. Pergunto a Guga como
ele divide seu tempo. “Para quem passou
pelo circuito profissional, com tantos jo-
gos, treinos, viagens, minha rotina hoje é
tranquila. Tenho um dia de entrevista aqui,
umdiadeencontrocomnossosapoiadores,
ações de campanhas, reuniões da parte es-
tratégica”, conta.
Até o ano passado ele tinha ainda outra
atividade incorporada ao dia a dia: as en-
trevistas regulares para sua biografia, lan-
çada no ano passado (Guga – Um Brasileiro,
da editora Sextante, escrita pelo jornalista
Luís Colombini). “Encontrei o Agassi an-
tes de lançar, e ele me disse: ‘Cara, pensa
bem, a hora que você fizer será para a vida
inteira’.”Preocupadocomoresultado,Guga
abriu uma exceção – e leu o livro inteiro an-
tes de ser publicado. “Nunca leio. Não gos-
to. Prefiro ver e ouvir (risos).”
Podemospensar,nofuturopróximo,no
Guga como político, a exemplo de outro ex-
-atleta, o Romário, como forma de amplifi-
car a defesa de suas causas? “Não descarto
nenhuma ação, ainda que o cenário atual
nãoindiquenadanessecaminho.Nossosre-
presentantes não têm interesse em resolver
problemas. É uma busca muito pessoal, de
interesses próprios. Hoje, minha contribui-
ção é maior fora da política. Mas isso é algo
mutável e que exige reflexão contínua.”
RESPONSABILIDADE SOCIAL I GUSTAVO KUERTEN
“meu irmão
guilherme
foi um
catalisador
para nossa
missão.
quando
ele era
criança, nos
anos 80, o
deficiente
era
discriminado,
escondido.
meu irmão
chegava
a ter 15, 20
convulsões
por dia.
ninguém
quer passar
por isso,
mas dá para
viver bem
assim,
e crescer”
DEZEMBRO 2015 ii ii 131130 ii ii DEZEMBRO 2015
especial