As pesquisas eleitorais em Goiânia frequentemente divergem dos resultados reais das urnas. Desde 1985, pesquisas indicavam candidatos diferentes daqueles que acabaram vencendo as eleições. Apenas dois institutos, o Grupom e o Ecope, conseguiram prever corretamente os resultados, enquanto Ibope, Datafolha e Serpes erraram em todas as eleições mencionadas. A margem de erro das pesquisas tende a aumentar conforme a eleição se aproxima.

1. Política –página 3
Por que o povo desmente as pesquisas em Goiânia
Marcus Vinícius
(Publicado em 1º de outubro de 2004 – Caderno Política – pg. 9)
A desavença entre as pesquisas de alguns institutos e os eleitores de Goiânia é quase uma tradição, ou
melhor, uma instituição. Tudo começou lá atrás, em 1985, nas primeiras eleições democráticas para
prefeito da Capital, no pós-ditadura. As pesquisas davam80% dos votos para Daniel Antônio (PMDB) e
somente 5% para Darci Accorsi (PT). Mas, na abertura das urnas, Darci teve 44% e Daniel, 45%. Vale
lembrar que todo mundo suspeita daquela apuração e até as pedras portuguesas da Avenida Goiás
sabem que foi Darci quem ganhou.
A peleja das pesquisas contra o eleitor continuou em 1988. Os institutos “errantes” insistiamque Nion
Albernaz (PMDB) tinha 48% dos votos e que Dona Maria Valadão (PDS) tinha 23% e Pedro Wilson 17%.
E num é que a verdade das urnas deu Nion com 30,2%; Pedro Wilson com 26,62% e Maria Valadão
com 24%?
Estranha coincidência. Em 1992 as “pesquisas” erramde novo. Falavamque Sandro Mabel (PMDB)
estava à frente de Darci Accorsi (PT). Resumo da ópera: Darci deu uma taca nos números dos institutos
e venceu as eleições no primeiro e no segundo turno.
Outra vez a mágica dos números conspirou contra o vencedor das eleições no ano 2000. O dito era que
Darci Accorsi (agora no PTB) tinha 38%; Lúcia Vânia (PSDB), 24% e Pedro Wilson (PT), 20%. Noves fora
nada, Pedro ficou com 37% no primeiro turno, Darci, 27% e Lúcia, 20%.
A pergunta que não quer se claar é: por que os números de alguns institutos divergem tanto dos
números finais das eleições? É possível errar tanto? Claro que não. Há quem diga que a mágica está na
margem de erro. No começo, elas são de 2,8 pontos porcentuais, mas, ao aproximar da eleição,
ampliam-se para a casa dos 5 pontos porcentuais.
Como jornalista e ex-editor de Política do DM por seis anos consecutivos, posso dar testemunho do
trabalho sério de dois institutos em Goiânia: o Grupom, de Mário Filho, e o Ecope, de José Freitas.
Enquanto Ibope, Datafolha e Serpes passaramlonge nas eleições supracitadas (1985, 1988, 1992,
2000), estes institutos (Grupom e Ecope) acertaram até nas vírgulas.
Viradas de última hora acontecem. Mas são raras. As coincidências de erro em tantas eleições é que
causamespanto. Mas, tradição é tradição. E no dia 3 de outubro, quem sabe se confirme a teimosia do
eleitor goianiense em votar em quem quer, e não em quem alguns institutos indicam.
Marcus Vinícius é jornalista, economista e secretário de Comunicação da Assembléia Legislativa do
Estado de Goiás.