O Brasil tem aumentado suas exportações e importações de cavalos vivos nos últimos anos. As exportações brasileiras cresceram e o saldo comercial tornou-se positivo em 1999, embora as importações também tenham aumentado. O Brasil é atualmente o 28o maior exportador mundial de cavalos vivos.
Crescimento das exportações e importações brasileiras de cavalos vivos
1. O crescimento do Brasil no
comércio internacional de cavalos vivos
O Brasil tem apresentado importante evolução destaca-se pelo fato de que não apenas as exporta-
na sua participação no comércio internacional de ções se elevaram, mas também as importações. No
cavalos vivos. Este artigo, a partir de dados da FAO final da década de 1980 as importações brasileiras
e do MDIC, apresenta alguns dados que justificam de cavalos vivos estiveram, de forma atípica (fruto
esta afirmativa, sinalizando perspectivas favoráveis da crise que o setor enfrentou nos Estados Unidos
Roberto Arruda de ao nosso país. durante o Governo Reagan, elevando fortemente a
Souza Lima O comércio mundial de cavalos vivos tem apre- oferta de animais no mercado mundial), muito ele-
Engenheiro agrônomo, vadas. Mas mesmo após esse boom de importa-
sentado crescimento desde a década de 1900, com
Doutor em
Economia Aplicada, exceções pontuais. Entre 1998 e 2007, as exporta- ções, o saldo comercial (exportações líquidas, ou
Prof. da ESALQ/USP , ções desses animais cresceram, em média, 8,75% seja, exportações menos importações) permaneceu
Pesquisador do CEPEA ao ano. Em 2007 (última data disponível de dados negativo. Somente na virada do século é que houve
raslima@esalq.usp.br
mundiais) foram exportados 2,4 bilhões de dólares incremento das exportações, registrando saldo po-
Renato Morelli de cavalos vivos. Destacam-se entre os países ex- sitivo em 1999. Como as importações também cres-
Patrício
Acadêmico de portadores os Estados Unidos, Reino Unido e Irlan- ceram no atual século, é interessante observar a
Engenharia da, que em conjunto tem representado mais da forte elevação do fluxo de comércio (soma das ex-
Agronômica da metade do volume exportado em todo mundo (Fi- portações com as importações) brasileiro, que atin-
ESALQ/USP
gura 1). Esta região representa, também, cerca de giu quase 10 bilhões de dólares em 2008 (Tabela 1).
60% do total das importações mundiais de equinos. O Brasil, em 2009, classificou-se como o 28º
Os países do Mercosul têm se aproveitado des- maior exportador mundial (a Argentina ficou em
se movimento mundial, em especial a Argentina, que 13º lugar), sendo que o principal importador de ca-
elevou significativamente o volume exportado no valos brasileiros foi o Estados Unidos (Figura 3).
atual século. Argentina e Brasil acompanharam de Dentre os 10 principais importadores de cavalos
forma bastante próxima o crescimento mundial, no mundo, metade (Irlanda, Japão, Austrália, Itália
enquanto o Uruguai apresentou melhores resulta- e China) não realizaram aquisições no Brasil em
dos somente a partir de 2005, mas de forma forte, 2009, indicando que o mercado ainda não está ade-
inclusive atingindo volumes bem próximos às ex- quadamente explorado.
portações brasileiras de cavalos (Figura 2). O Brasil ocupa a 35ª posição entre os maiores
A evolução do Brasil no comércio internacional importadores mundiais de cavalo (a Argentina está
na 30ª colocação), sendo cerca de dois terços dos
3,0
animais que entraram no Brasil vieram dos Estados
Bilhões de dólares
2,5
Unidos e da Argentina (Figura 4). Os seis maiores
2,0
1,5
exportadores mundiais venderam animais para o
1,0
Brasil em 2009, mas outros quatro paises entre os
0,5
dez principais exportadores não realizaram vendas
0,0
para o Brasil no ano passado.
1980
1983
1986
1989
1992
1995
1998
2001
2004
2007
Um indicador utilizado em análises sobre o co-
mércio internacional é o denominado Posição no
Figura 1: Exportações de Mercado Mundial, cuja evolução permite verificar
cavalos vivos, total mundial e se determinado país está ganhando, perdendo ou
FONTE: FAO
principais países, em bilhões
de dólares mantendo sua posição no comércio mundial de de-
terminado produto. Esse indicador é calculado da
seguinte forma:
Sik = [(Xik – Mik) / Wk) × 100
Em que Sik é a Posição no Mercado Mundial de
Cavalos; Xik são as exportações de cavalos (em
US$) pelo país i; Mik são as importações de cava-
los (em US$) pelo país i; e, Wk é o total das ex-
portações de cavalos (em US$) em todo o mundo.
A partir de dados da FAO, calculou-se a Posi-
Figura 2: Exportações de cavalos ção no Mercado Mundial de Argentina, Brasil, Uru-
vivos, Argentina, Brasil e Uruguai,
FONTE: FAO
em milhões de dólares
guai e Estados Unidos. Os resultados estão apre-
sentados na Tabela 2. Observa-se que os países
2. Tabela 1 - Brasil: Comércio internacional de equideos, em milhares de dólares
Ano Exportações Importações Exportações Líquidas Fluxo de Comércio
1989 180.955 8.861.993 -8.681.038 9.042.948
1990 232.595 11.404.794 -11.172.199 11.637.389
1991 162.351 4.934.503 -4.772.152 5.096.854
1992 298.387 1.503.454 -1.205.067 1.801.841
1993 372.485 1.352.498 -980.013 1.724.983
1994 587.887 1.446.344 -858.457 2.034.231
FONTE: MIDC
Figura 3: Brasil - Destino das exportações 1995 279.597 2.016.809 -1.737.212 2.296.406
de equideos em 2009
1996 257.942 1.395.935 -1.137.993 1.653.877
1997 702.852 1.406.928 -704.076 2.109.780
1998 717.890 864.418 -146.528 1.582.308
1999 2.279.969 615.014 1.664.955 2.894.983
2000 1.548.079 629.573 918.506 2.177.652
2001 1.069.762 748.456 321.306 1.818.218
2002 954.813 540.759 414.054 1.495.572
2003 1.460.707 454.300 1.006.407 1.915.007
2004 2.068.728 675.971 1.392.757 2.744.699
2005 2.052.764 867.588 1.185.176 2.920.352
FONTE: MIDC
Figura 4: Brasil - Origem das importações 2006 4.916.213 1.680.375 3.235.838 6.596.588
de equideos em 2009
2007 3.585.968 2.457.278 1.128.690 6.043.246
FONTE: MIDC
2008 5.635.290 4.145.981 1.489.309 9.781.271
do Mercosul estão bem distantes da posição obtida
pelos Estados Unidos. Além disto, e principalmen- 2009 4.348.075 2.991.013 1.357.062 7.339.088
te, destaca-se o forte crescimento do indicador para
o Brasil, passando de 1,29 negativo para positivos Tabela 2 - Posição no Mercado Mundial, países selecionados, de 1985 a 2007
0,46, aproximando-se da posição de mercado do Ano Argentina Brasil Uruguai Estados Unidos
Uruguai. No entanto, o crescimento apresentado pela
Argentina a partir de 2003 supera em muito o ritmo 1985 0,3966 -0,3028 0,1024 0,5737
apresentado pelo Brasil, indicando que o desempe- 1986 0,2735 -0,4628 0,1411 1,8097
nho brasileiro poderia ter sido mais significativo. 1987 0,2697 -0,5305 0,0578 14,7269
Deve-se destacar que este panorama do comér- 1988 0,4720 -0,3351 0,0541 17,9829
cio internacional foi realizado com base em dados
1989 0,5624 -0,9910 0,0919 17,4625
oficiais. Infelizmente há notícia de que nem todas
as operações encontram-se adequadamente regis- 1990 0,4233 -1,2891 0,0580 19,1503
tradas (em geral, redução tributária), a exemplo do 1991 0,4237 -0,6471 0,1743 24,4806
que ocorre nos demais setores da economia. Desta 1992 0,2830 -0,2220 0,0970 17,7295
forma, provavelmente os valores apresentados en- 1993 0,5591 -0,2469 0,0914 18,0224
contram-se subavaliados. No entanto, a tendência 1994 0,5837 -0,2010 0,1106 13,0331
da evolução deve estar consistente com a realidade.
1995 0,8570 -0,3137 0,0423 18,5204
O Brasil deixou sua posição de quase exclusivo im-
portador no século passado. A partir deste século, 1996 0,5960 -0,1139 0,0375 11,6741
as exportações passaram a ganhar força, sendo, 1997 1,0471 -0,1381 0,0359 10,8598
como visto, que as importações também continua- 1998 1,0672 -0,0130 0,0377 8,7776
ram crescendo. Assim, embora muito aquém de ou- 1999 0,6403 0,1244 0,0383 -3,4712
tros segmentos do agronegócio, o cavalo tem se 2000 0,5457 0,0250 0,0230 1,1072
mostrado interessante não apenas no mercado in-
2001 0,7898 0,0186 0,0358 7,0680
terno, abrindo novas oportunidades de negócios para
os criadores brasileiros. Sugere-se que seja elabo- 2002 0,4715 0,0303 0,0033 3,8373
rada uma agenda para discutir as melhores formas 2003 0,3155 0,0555 0,0002 14,923
de explorarmos o mercado mundial, agregando pa- 2004 0,3723 0,0449 -0,0070 5,1795
íses importantes que ainda não são parceiros co- 2005 0,4324 0,0602 0,0735 9,5746
merciais e, principalmente, buscando superar as di-
2006 0,5235 0,1037 0,0616 9,3575
FONTE: FAO
ficuldades impostas por elevados custos de transa-
2007 0,8540 0,0465 0,0644 3,2115
ção, destacadamente os tributários.