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A
nne Mather
PASSAPORTE PARAO AMOR
"Cuidado Caroline, você está brincando com fogo. Para um homem rico
como Adam Steinbeck, as mulheres não passam de brinquedos. E você está
caindo direitinho na armadilha. Além disso, é impossível que um homem
charmoso como ele não seja casado e com um bando de filhos" - diziam as
amigas de Caroline, preocupadas com seu envolvimento cada vez mais íntimo
com o poderoso chefão da empresa onde trabalhava. Porém Adam não era
casado, mas viúvo e pai de um rapaz da mesma idade de Caroline e que não
hesitou um só momento em mostrar seu interesse por ela
CAPITULO I
Adam Steinbeck passou rapidamente pelas portas vidro do edifício da Steinbeck
Corporation, na Park Lane, no centro de Londres. Era um homem alto e de ombros largos,
vestia um terno escuro e um sobretudo de couro de carneiro, demonstrava muito poder e
segurança. Quando entrara, além do bom-dia costumeiro dos porteiros e da recepcionista,
instalara-se no ambiente uma leve sensação de mal-estar, e Adam respondera à saudação
com um sorriso seco. Sabia perfeitamente que, ao desaparecer do saguão, um telefonema
apressado avisaria aos membros de sua equipe que ele se encontrava no prédio. Raramente ia
ao escritório pela manhã.
Entrou no elevador e, quando a porta estava quase se fechando, ouviu a voz de alguém
muito jovem.
— Oh, por favor, espere um instante!
Com um leve franzir de testa, Adam viu uma garota cruzando apressadamente o saguão
em sua direção. Tinha cabelos longos, lisos e loiros, um corpo alto e esguio, e trazia um
casaco de lã azul-marinho e uma bolsa na mão.
Seu comportamento deixava bem claro que ela não tinha a menor idéia a respeito da
identidade de Adam, e os funcionários olharam, perturbados, para ele, que fez um gesto com
os ombros, afastando-se um pouco para que a garota entrasse no elevador.
— Muita obrigada — ela agradeceu, com um sorriso. Adam fechou a porta.
— Você trabalha aqui? — perguntou, desconfiando que ela provavelmente fosse
funcionária de sua firma. Já era quase nove e meia da manhã; obviamente, ela estava
atrasada.
— Sim — respondeu a jovem, esforçando-se para normalizar a respiração ofegante. —
Trabalho na central de datilografia. No setor da srta. Morgan.
— Fica no terceiro andar, não é mesmo?
— Exato. Estou terrivelmente atrasada, e ela com toda a certeza vai chamar minha
atenção. Mas nós simplesmente não ouvimos o despertador tocar hoje de manhã, apesar de
Mandy jurar que o regulou ontem à noite.
— Mandy?
— Amanda Burchester, a garota que divide o apartamento comigo. Bem, não chega a
ser um apartamento de verdade, são apenas dois cômodos. Amanda está aprendendo a ser
vitrinista nas Lojas Bailey.
— Compreendo. — Adam sentiu-se estranhamente atraído pela garota. Era tão diferente
das mulheres que ele conhecia e, como não sabia quem ele era, falava livremente, sem
qualquer inibição.
— Nunca vi você antes — continuou ela, erguendo o olhar para ele. — Se tivesse visto,
tenho certeza de que me lembraria. Todos os homens que conheço são de minha altura. Tenho
um metro e setenta e cinco, mas perto de você pareço baixa.
— Se isso for um elogio, obrigado. Acho que este é o seu andar, não?
— Nossa! Só faltava mesmo me esquecer de descer aqui.
— Eu não deixaria que isso acontecesse — disse Adam.
— Você trabalha aqui também? Então, está atrasado como eu. Estou aqui há apenas
duas semanas, por isso ainda não conheço todos os funcionários — explicou ela, saindo do
elevador.
— Sim, também trabalho aqui — respondeu ele, com um leve sorriso. — Espero que
você não tenha muitos problemas com sua chefe.
— Eu também espero — ela falou, com um suspiro. — Bem, até logo. Talvez a gente se
encontre outra vez qualquer dia desses.
— É possível —Adam disse e fechou a porta do elevador, antes de apertar o botão que
o levaria ao último andar do edifício.
Seu escritório estava localizado na cobertura do prédio, juntamente com as salas dos
diretores e o imponente salão de reuniões. Adam tinha uma equipe própria de datilógrafas e
um assistente pessoal, John Mercer, que ocupava a sala ao lado da sua.
Ao entrar na ante-sala de seu escritório, viu sua secretária particular trabalhando
diligentemente, como se não percebesse sua chegada. Laura Freeman tinha trinta anos e
trabalhava para ele havia mais de dez. O penteado severo, que geralmente conferia um ar de
austeridade à maior parte das mulheres, funcionava de maneira diferente em Laura,
sublinhando a beleza clássica de seus traços e dando-lhe uma aparência de objetividade.
Adam sabia muito bem os sentimentos que a secretária nutria por ele, mas não se sentia
pessoalmente atraído por ela. As relações entre ambos permaneciam num plano puramente
profissional, o que causava uma certa mágoa a Laura.
Quando fechou a porta, ela ergueu os olhos e, ao vê-lo, levantou-se imediatamente.
— Sr. Steinbeck! — exclamou, como se estivesse surpresa com a presença dele. — Nós
não o esperávamos aqui no escritório hoje pela manhã.
— Ora, vamos, Laura — disse Adam, num tom de leve repreensão, enquanto cruzava o
recinto em direção a sua sala. — Duvido que o pessoal do saguão não tenha ligado para cá
ainda há pouco. Eu quase pude ouvir os telefones tocando enquanto subia de elevador.
— A correspondência está sobre a mesa — informou ela. — O senhor quer ditar alguma
coisa?
— Não se incomode por enquanto, eu a chamarei quando for preciso. Ah, Laura, por
favor, telefone para a srta. Morgan. Quero falar com ela imediatamente.
— A srta. Morgan da central de datilografia? — perguntou Laura, espantada.
— Existe alguma outra? — respondeu Adam, entrando em sua sala e fechando a porta
atrás de si.
Caroline Sinclair estava tomando o café da manhã em companhia de uma colega, Ruth
Weston, também datilógrafa. Eram dez e trinta. Nesse horário, as datilógrafas tinham sempre
um intervalo de dez minutos para tomar café.
— Pago dez centavos por seus pensamentos — falou Ruth, forçando Caroline a sair de
suas divagações.
— Não é nada importante. Estava apenas querendo entender por que a srta. Morgan foi
tão compreensiva comigo hoje cedo. Quando cheguei atrasada pela primeira vez, ficou furiosa.
Mas hoje simplesmente disse que sabia que os despertadores às vezes não funcionavam e
pediu para que eu me apressasse para evitar um acúmulo de trabalho.
Ruth, que já tinha dezenove anos e que era dois anos mais velha do que Caroline,
arqueou as sobrancelhas.
— Céus! — exclamou. — Você está aqui há apenas duas semanas, e eu nunca vi a
srta. Morgan compreender que alguém possa perder a hora. Muito menos ao se tratar de uma
funcionária nova. Talvez ela, finalmente, tenha arranjado um namorado.
Caroline riu.
— Ruth! Cuidado, ela pode ouvir o que você diz! Ah, isso me fez lembrar uma coisa:
hoje de manhã, eu subi de elevador com um dos homens mais bonitos que já vi em toda minha
vida.
— Verdade? — perguntou. — Jovem, velho ou mais ou menos?
— Devia ter uns trinta e poucos anos, calculo — respondeu Garoline.
— Bem mais velho do que você, não é? — indagou Ruth, com uma ponta de
reprovação.
— E daí? — replicou Caroline. — Eu prefiro homens maduros. Não gosto de rapazinhos.
Eu sempre tenho vontade de bocejar quando estou com eles.
— E como era o tal homem? Alto ou baixo? Com barriga ou sem?
— Alto, de ombros largos e muito atraente — murmurou Caroline, sorrindo. — Seus
cabelos eram pretos, bem curtinhos e espessos. Ele é exatamente o que eu chamo de homem
bonito.
— Ora, Caroline! Você deve estar brincando! Falar desse jeito de um homem que
provavelmente é velho o suficiente para ser seu pai. Eu acho que Mark Davidson deveria fazer
mais o seu gênero. Ele está tentando convencer você a sair com ele, não é?
— Mark Davidson não passa de um colegial um pouco mais crescido, Ruth. E o pior é
que ele se julga o grande presente de Deus para todas as mulheres.
Mark trabalhava num outro departamento, no mesmo prédio, e já saíra com quase todas
as garotas da central de datilografia, inclusive com Ruth. Caroline, na condição de novata,
estava atual-mente merecendo as atenções dele, mas ela não estava interessada.
— Bem, não importa — prosseguiu Ruth. — Afinal de contas, quem é esse homem? Em
que andar ele desceu do elevador?
— Não sei. Quando eu desci, ele continuou subindo — respondeu Caroline. — Você
conhece todos os homens que trabalham aqui neste prédio?
— Não, não todos — falou Ruth. — Existem tantos departamentos diferentes. Mas é
claro que conheço muitos deles de vista, pelo menos.
O pequeno apartamento que Caroline dividia com Amanda ficava numa velha mansão,
adaptada para poder receber muitos inquilinos e localizada num beco, com uma única saída
para a King's Road. Anteriormente, a mansão fora a residência de uma senhora nobre e, agora,
reformada, abrigava diversas pessoas.
Os pais de Caroline morreram num desastre de automóvel quando ela tinha apenas três
anos de idade, e ela fora criada por uma velha tia. Há seis meses, quando Amanda descobriu o
apartamento, convidou Caroline para morar com ela. Caroline ficou entusiasmada, pois tia
Bárbara, embora fosse uma doce velhinha, não era a companhia ideal para uma garota. A tia,
por sua vez, mostrou-se muito compreensiva e permitiu que Caroline experimentasse a
liberdade. As duas jovens conheciam-se desde os tempos da escola primária e achavam que
iria ser muito divertido dividir um apartamento.
Caroline era menos extrovertida, mas Amanda tinha um fluxo constante de flertes e
namorados, alguns dos quais acabavam desviando as atenções para Caroline. Entretanto, o
fato de ela ser muito alta, frequentemente provocava uma retração de interesses desses
rapazes; além disso, é claro, os rapazes que Amanda julgava atraentes nem sempre o eram
para Caroline. Amanda tinha cabelos ruivos e dezoito anos de idade. Seus pais viviam
atualmente no norte da Inglaterra, e ela não quis sair de Londres quando eles o fizeram. Por
causa dessa mudança dos pais, Amanda fora obrigada a procurar um apartamento para si
mesma.
Os rapazes tinham uma importância secundária para Caroline. Ela gostava muito de ler
e de visitar galerias de arte. Via quase todas as exposições e adorava todas as oportunidades
de se informar melhor a respeito dos artistas. Além disso, ela também gostava muito de música
clássica, e Amanda nunca conseguiu compreender como a amiga era capaz de passar uma
noite inteira dançando loucamente numa discoteca e na noite seguinte extasiar-se com o
Concerto para Piano e Orquestra de Grieg.
Ao acordar, certa manhã, Caroline foi à janela e percebeu que uma espessa neblina
impossibilitava quase toda a visibilidade. Bem depressa, fechou novamente as pesadas
cortinas e soltou um suspiro profundo. Depois olhou para Amanda, que fazia caretas,
perturbada pela luz que Caroline acendera.
— Vamos, levante-se, Mandy — disse Caroline, com a voz ainda embargada pelo sono.
— A neblina lá fora parece intransponível, e só Deus sabe quanto tempo levaremos para
chegar ao trabalho.
— Oh, Deus! — murmurou Amanda, num tom de grande infelicidade. — Eu não estou
bem, Caroline.
— Eu também não estou — respondeu Caroline, olhando rapidamente na direção da
amiga, antes de se dirigir ao banheiro, para escovar os dentes.
— Estou falando sério — insistiu Amanda, com voz rouca, voltando a se encostar nos
travesseiros. — Acho que peguei uma gripe. Eu sempre fico gripada em novembro.
— Vamos trabalhar, moça — Caroline chamou, enquanto enchia a chaleira de água na
torneira que existia no pequeno canto da sala, que elas tinham transformado em cozinha.
— Acho que não vou conseguir — replicou. Amanda. — Caroline, por favor, prepare-me
uma xícara de chá com um pouco de xerez?
— Claro que sim — concordou Caroline, apressando-se em atender ao pedido da amiga.
— Vou ter de ser rápida, senão chego atrasada ao serviço mais uma vez.
— Não se preocupe com isso — resmungou Amanda. — Afinal de contas, ninguém pode
exigir pontualidade numa manhã como esta. Além disso, é possível que você consiga encontrar
o homem de seus sonhos.
— Mandy, você é incorrigível!
Quando o chá ficou pronto, Caroline gritou para Amanda, que continuava deitada:
— Você quer comer alguma coisa?
— Não. Quero apenas uma aspirina — respondeu, mal humorada. — Acho que, se ficar
na cama e dormir durante o dia inteiro, logo estarei boa.
— Mas não exagere — disse Caroline, com severidade. — Vou tentar vir para casa na
hora do almoço para preparar alguma coisa para você comer. — Deu-lhe o chá. — Onde você
guardou as aspirinas?
Alguns minutos mais tarde, Caroline, antes de sair para o trabalho, certificou-se de que
Amanda tinha tudo de que pudesse necessitar. O tempo não fora suficiente para que ela
mesma tomasse seu café da manhã, sendo assim, contentou-se com uma xícara de chá,
sorvido rapidamente.
Lá fora o frio era intenso. A neblina cobria tudo de melancolia, e saber que os longos
meses de inverno mal haviam começado não era muito agradável. Ficou parada no ponto de
ônibus, até que, finalmente, um apareceu, e ela o apanhou, ficando espremida entre os demais
passageiros. O veículo locomovia-se lentamente em meio ao tráfego congestionado.
Eram nove e quarenta e cinco quando conseguiu chegar ao saguão do Edifício
Steinbeck. Tinha certeza de que dessa vez seu atraso não seria perdoado e de que seria
despedida. Afinal, era o terceiro atraso em pouco menos de um mês de firma. A situação era
séria. Ao atravessar o saguão, sentiu-se pequena e amedrontada. Não havia nem sinal do
simpático desconhecido que ela, mais ou menos inconscientemente, tinha esperado encontrar,
e a srta. Morgan estava tão irritada quanto ela imaginara que estaria.
Caroline mal havia entrado pela porta, quando sentiu os olhos de sua chefe fitando-a
impassiveímente.
— Você percebeu, Caroline — esbravejou ela —, que, durante um período de apenas
três semanas, você conseguiu chegar três vezes atrasada?
— Sim, srta. Morgan — respondeu Caroline, com esforço. — É que a garota que divide
o apartamento comigo amanheceu com gripe, e eu não pude sair de casa sem antes lhe fazer
pelo menos uma xícara de chá.
— Guarde suas desculpas e explicações para o chefe do departamento pessoal —
replicou ela friamente. — Desta vez, estou firmemente resolvida a enviar seu caso à
administração. Não admito seu comportamento relaxado. Já está fugindo a meu controle!
— Mas, srta. Morgan... — Caroline tentou explicar mais uma vez.
— Não estou interessada no que tem a me dizer — falou a chefe. — E vamos acabar
com este desperdício de tempo. Vá para a máquina de escrever e faça seu trabalho.
Caroline aproximou-se de sua mesa, sentindo que as lágrimas estavam muito próximas.
Percebeu que Ruth a olhava com simpatia, mas não teve coragem de retribuir o gesto. Além de
tudo, a neblina persistia, e Caroline começava a se apavorar com a idéia da correria durante a
hora do almoço, indo até seu apartamento para cuidar de Amanda e depois voltando às
pressas ao escritório. Tudo isso em apenas uma hora.
Ela foi chamada à sala do sr. Donnelly às onze horas. O sr. Donnelly era o chefe do
departamento pessoal, e quando Caroline o vira pela primeira vez, por ocasião de sua
entrevista, antes de ser admitida na firma, achou-o simpático e agradável. Nesse dia,
entretanto, ele estava longe de ser um homem agradável. Após ouvir as lamentações de Vera
Morgan, ele estava irritado, e a insinuação de que ele, provavelmente, estava perdendo o
domínio de suas excelentes qualidades profissionais, caso contrário não teria contratado
Caroline Sinclair, nada ajudara para melhorar seu estado de espírito.
— Caroline Sinclair, você já percebeu que eu poderia despedi-la imediatamente por
causa disso? — indagou ele, nervoso. — Você não deu valor algum à confiança que lhe foi
depositada. Principalmente à confiança que demonstrei ter. Sou responsável por sua
contratação. E, agindo dessa maneira, você está simplesmente comprometendo minha
recomendação!
— Oh, não, sr. Donnelly! — exclamou Caroline. — Em situações normais, sou uma
funcionária pontual. O caso é que minha colega de apartamento amanheceu com gripe, e eu
tive de cuidar dela antes de sair de casa. E com essa neblina...
— Você me colocou numa situação extremamente desagradável — disse ele após
algum tempo. Suspirou profundamente. A preocupação dela era mais do que óbvia, e era
evidente também que ela não queria perder o emprego. — Muito bem, então — decidiu ele. —
Vou lhe dar mais uma chance. Porém, qualquer falha sua em relação ao horário combinado
significará seu desligamento imediato da empresa. Está bem claro?
— Sim, senhor — respondeu Caroline, com o coração em ritmo acelerado. Como ela iria
se arranjar na hora do almoço? Sentiu-se tentada a perguntar se ele poderia lhe dar quinze
minutos de tolerância, mas decidiu não arriscar. O sr. Donnelly tinha sido muito justo, e um
pedido desse seria demais, até mesmo para ele. Quanto a pedir a permissão de chegar quinze
minutos mais tarde à srta. Morgan... nem pensar.
Quando voltou a sua mesa, passou a fazer o trabalho de maneira automática.
Mentalmente, calculava o tempo necessário para fazer tudo o que era preciso. Uma hora não
iria ser suficiente. Ela gastaria quase metade desse tempo só para chegar em casa, e isso se
tivesse sorte de pegar um ônibus. Quanto à volta...
Na hora do almoço, Ruth foi para o refeitório, enquanto Caroline desceu correndo as
escadas, não se preocupando em esperar pelo elevador. Apressada, atravessou o saguão e
saiu pelas portas de vidro. A neblina já não estava tão densa quanto pela manhã. Em sua
pressa em chegar ao ponto de ônibus, Caroline chocou-se contra um homem que vinha em
sentido oposto.
— Oh! Eu sinto muito, muito mesmo — ela começou a dizer, mas parou quando viu
quem a estava fitando. — Ah! É você! — Era o homem do elevador.
— Srta. Sinclair? — perguntou ele.
— Sim, mas... como sabe meu nome?
Ele sacudiu os ombros e ignorou a pergunta dela.
— Parece que você está com muita pressa.
Caroline lembrou-se de que estava perdendo tempo e sorriu.
— Pois estou mesmo. É uma história longa demais para lhe contar agora, mas eu
quase perdi o emprego hoje de manhã e já estou me arriscando outra vez. Tenho certeza de
que vou chegar atrasada à tarde. — Soltou um suspiro profundo.
Adam hesitou durante um instante e depois disse:
— Talvez eu possa lhe dar uma carona...
— Uma carona? — Caroline estava incrédula. — De carro?
— Eu não estou me oferecendo para carregar você em minhas costas — ele falou
secamente.
Ela começou a rir.
— Mas você não está indo para a mesma direção que eu — argumentou Caroline.
— Isso pode ser mudado sem problema algum. Meu carro está estacionado logo ali. Se
você quiser a carona, é só dizer.
— Ótimo! — exclamou ela, aliviada. — Aceito.
— Muito bem. — Adam colocou a mão no cotovelo dela e a guiou rapidamente pela rua
movimentada. Caroline estava muito consciente da proximidade física dele e também de sua
aparência atraente.
O carro era um Rolls-Royce. A direção estava um motorista uniformizado. Quando Adam
se aproximou, ele saltou do carro e indagou:
— Tão cedo, senhor?
— Pois é, Jules — respondeu o companheiro de Caroline, com voz pausada. — Mas eu
mesmo pretendo dirigir. Suba ao escritório e explique que tenho outro compromisso e que
provavelmente vou me atrasar bastante.
— Pois não, senhor — disse o funcionário.
Quando o motorista se afastou, Caroline olhou curiosa para o homem a seu lado. Quem
seria ele para poder se dar ao luxo de ter um Rolls-Royce com motorista particular?
Adam sorriu quando percebeu que ela estava pouco à vontade.
— Não fique com esse ar tão preocupado — ele falou. — Eu posso lhe garantir que o
carro é meu mesmo.
— Não estou duvidando disso — replicou ela, suspirando e permitindo que ele a
ajudasse a se acomodar no banco. Após fechar a porta, deu a volta e se acomodou ao lado
dela.
— E agora — Adam começou a dizer, antes que ela tivesse tempo de formular qualquer
pergunta —, para onde quer que eu a leve?
Caroline deu-lhe seu endereço e ficou imaginando se ele estaria ou não esperando um
convite para entrar quando chegassem lá. Ela esperava que ele não quisesse entrar. O prédio
antigo não era exatamente do tipo que ela teria escolhido por livre e espontânea vontade.
O percurso que ele fez, passando por algumas ruas que Caroline não conhecia, levou-os
até sua casa num instante. Como eles tinham evitado as avenidas principais, o tráfego não
estava congestionado, e, apesar de Caroline estar certa de que nunca encontraria outra vez
seu caminho em meio a toda aquela neblina, era óbvio que esse homem conhecia Londres
muito bem. Eles não conversaram muito durante o percurso, e, quando o carro estacionou,
Caroline procurou descer o mais rapidamente possível.
— Um momento — disse ele, — Quanto tempo você vai ficar aí?
— Eu não posso ficar muito tempo —, respondeu Caroline, desconfiada e com os olhos
levemente arregalados.
— Então eu espero — ele falou surpreendentemente. Caroline ficou espantada.
Murmurando um rápido "obrigada",
saiu do carro, fechou a porta com cuidado e afastou-se correndo em direção à entrada
do prédio.
O apartamento ficava no primeiro andar, e logo depois ela estava abrindo a porta e
entrando. Consultou o relógio e constatou que ainda lhe sobravam quarenta e cinco minutos.
Amanda continuava deitada, um pouco febril.
— É você, Caroline? — perguntou, com voz anasalada.
— Por quê? Está esperando alguma outra pessoa? — replicou Caroline, alegre. —
Como está se sentindo? — Entrou no quarto.
— Não tão bem quanto eu gostaria — respondeu Amanda, forçando um sorriso. — Você
chegou cedo. Acha que eu poderia tomar uma sopa? Estou com fome.
— Acho que não há problema algum — disse Caroline, tirando as luvas. — Se está com
apetite, é sinal de que está se recuperando. — Dirigiu-se depressa para a cozinha, encheu a
chaleira de água e a pôs no fogo, antes de abrir a lata de sopa.
Quando a água da chaleira começou a ferver, trocou a água da bolsa de Amanda e
aproveitou para fazer mais um pouco de chá. Depois, colocou a lata de sopa dentro de uma
panela com água, para aquecê-la em banho-maria.
— Você teve problemas na firma hoje pela manhã? — perguntou Amanda, com sua voz
nasal, quando Caroline colocou uma bandeja com sopa quente, torradas e chá diante dela.
— Bem, eu ainda não fui despedida — falou Caroline, fugindo da pergunta. Não queria
que Amanda se preocupasse com ela. Quanto a lhe contar que aceitara uma carona de um
homem desconhecido.— Bem, isso era totalmente impossível Amanda iria pensar que ela era
uma perfeita tonta, afinal de contas, ela nada sabia a respeito dele.
— Preciso ir — disse Caroline rapidamente. — Eu não quero chegar atrasada outra vez.
— Mas, Caroline, você ainda tem meia hora e não comeu absolutamente nada.
— Eu estou sem apetite — mentiu Caroline, sentindo um vazio no estômago. — De
qualquer maneira, se eu sentir fome, sempre posso pegar um sanduíche lá no refeitório da
firma.
— Como quiser. Muito obrigada por tudo e cuidado no caminho. Vamos torcer para que
eu esteja me sentindo melhor à noite. Tenho um compromisso com Ron.
Bon Cartwright era seu atual namorado. Um repórter novato do Daily Southenner, que se
comportava como se fosse, no mínimo, o editor-chefe. Essa era a opinião de Caroline.
— Tire essa idéia da cabeça, você não vai sair — disse Caroline, indignada. — A
temperatura lá fora está baixa, além disso, a umidade e a neblina só vão fazer sua gripe piorar.
— Está bem, está bem, foi só uma idéia — falou Amanda.
— Pois é melhor esquecer essa idéia maluca — afirmou Caroline, com um sorriso. — Eu
preciso ir agora. — Foi até a porta.— Espero estar de volta até as cinco e meia.
— Não se perca no caminho.
Caroline desceu as escadas correndo e chegou à rua. O frio a deixou entorpecida e,
sentindo-se muito nervosa, aproximou-se do carro. Em sua ausência, Adam manobrara o carro
e, quando ela o alcançou, ele abriu a porta por dentro, e Caroline entrou e sentou-se ao lado
dele.
— Muito bem — disse Adam, enquanto ela fechava a porta.
— Deu tempo para fazer tudo o que você queria?
— Deu, sim, senhor — respondeu Caroline respeitosamente. Ele franziu a testa.
— Por que está me chamando de senhor agora? Caroline encolheu os ombros.
— Bem, o senhor deve ser alguém bastante importante para ter um carro como este —
respondeu ela, com bastante cuidado.
— Eu não sei quem é, e, se me permite dizer isto, o senhor também não parece estar
muito interessado em me contar. É casado e está com medo de que sua esposa descubra
alguma coisa? Oh, espero que isto não tenha soado como uma ofensa!
— Não sou casado — afirmou ele —, e você pode me chamar de Adam. Isto a deixa
satisfeita?
— Sim, senhor... quero dizer, sim, Adam — respondeu, sentindo-se uma tola.
Ele ligou o motor, e o carro se afastou do meio-fio. Quando chegaram à avenida, porém,
ele virou o carro para o sentido oposto, e Caroline percebeu que eles não estavam indo em
direção ao Edifício Steinbeck.
— Para onde você está me levando? — perguntou, tentando aparentar calma, apesar
de estar tremendo interiormente.
— A uma estalagem que eu conheço perto de Lingston — respondeu ele naturalmente.
— Imagino que você ainda não comeu. Durante um bom almoço, você vai poder me contar
todos os seus problemas.
— Mas eu preciso estar no escritório dentro de vinte minutos — argumentou. — Por
favor, leve-me de volta.
— Não se preocupe com isso — murmurou ele, achando graça na expressão do rosto
dela. — Eu prometo que falo pessoalmente com a srta. Morgan, acalme-se.
O corpo tenso de Caroline, de repente, ficou lânguido. O que lhe restava fazer agora?
Fora tola e estava pagando por isso. Adam podia fazer com ela o que quisesse! Levá-la para
onde bem entendesse! A culpa era apenas dela, por ter confiado nele.
Por causa disso, ficou ainda mais atônita quando, algum tempo mais tarde, o potente
veículo passou pelos portões de ferro batido de uma entrada que levava a uma imponente
fachada de casa de campo. Sobre a porta principal pendia uma tabuleta com o nome da
estalagem: "A Chaleira de Cobre".
Percebendo a entrada deles, o maitre se aproximou rapidamente para cumprimentá-los.
— A mesa de sempre, sr. Steinbeck? — perguntou educadamente, ao mesmo tempo
que seus olhos examinavam o casaco de lã azul de Caroline, chegando à conclusão de que o
material não era de primeira qualidade,
— Sim, obrigado, André — respondeu Adam, querendo se dirigir à mesa. Mas Caroline
ficara como se estivesse petrificada ao ouvir as palavras do maitre.
— Steinbeck — sussurrou ela, a voz tomada de espanto. — Oh, céus!
O restaurante estava cheio, mas uma mesa ao lado da janela esperava por eles. André
se incumbiu de instalá-los confortavel-mente e depois apresentou o cardápio com gestos
refinados.
Muitos dos presentes cumprimentaram Adam e Caroline, que agora, sabendo quem ele
era, sentiu-se constrangida e deslocada. Ela gostaria que ele não fosse alguém tão importante.
Se Adam fosse uma pessoa comum, talvez pudesse vir a se interessar por ela. Porém, agora
que sabia sua identidade, tinha certeza de que qualquer interesse por parte dele não passaria
de mera curiosidade. Ela devia ter adivinhado tudo no dia em que o encontrou no elevador.
Pelo corte impecável de suas roupas, ele não poderia ser um funcionário.
Adam perguntou-lhe se tinha preferência por algum prato especial. Caroline sacudiu a
cabeça e ficou aliviada quando ele disse que escolheria por ela. Caroline não tinha a menor
idéia do que fazer com aquele extenso cardápio.
Quando terminou de pedir os pratos ao garçom, apareceu um segundo garçom com a
lista de vinhos, o que levou a uma segunda discussão a respeito dos méritos de cada safra.
Olhando em torno, Caroline sentiu-se extremamente consciente das limitações do
vestido vermelho tipo jardineira, que usava sobre uma blusa branca. Ela estava certa de ser o
assunto das conversas de todas aquelas mulheres elegantemente trajadas. Deviam estar
tecendo conjeturas a respeito dos possíveis motivos que levaram um homem como Adam
Steinbeck a almoçar com ela, quando era óbvio que ele estava muito mais acostumado a
conviver com pessoas da alta sociedade.
De repente, seus olhares se encontraram. Adam percebeu que ela o estava observando
fixamente. Caroline tentou disfarçar e tomou um gole de martíni. O resultado era previsível, e
ela engasgou. Sua tosse chamou a atenção de todo mundo.
Adam, entretanto, não se perturbou e disse suavemente:
— Acho que você não deveria beber, não é? Caroline enrubesceu novamente.
— Tenho quase dezoito anos — respondeu, embaraçada.
— Quase. Não é suficiente — afirmou ele. — Porém, aqui e agora, apenas nós dois
sabemos que estamos infringindo as leis, portanto, não há nenhum mal nisto.
— Por que você não me disse logo que é Adam Steinbeck? — perguntou ela após uma
pausa.
Ele fez um movimento com os ombros.
— Para mim foi uma experiência nova ser tratado como um simples funcionário da
firma. Achei muito agradável.
— Eu nunca sei quando está falando sério ou não — disse ela, revelando sua juventude
e sua vulnerabilidade.
— Não sabe? — Sorriu ele. — Talvez até seja bom — acrescentou enigmaticamente. —
Tenho a impressão de que você gostou do almoço — disse ele, mudando de assunto.
— É muito! — exclamou Caroline. — Foi fabuloso! Nunca comi como hoje, num lugar
assim. — Enrubesceu. — Devo parecer bem tola.
— Não. Apenas muito jovem — replicou ele, com voz macia. — Agora, conte-me o que
aconteceu hoje pela manhã.
— Ah, o meu atraso... — falou, fazendo uma careta. — Amanda amanheceu gripada, e,
antes de sair de casa, tive de tomar uma série de providências para ter certeza de que não iria
precisar de alguma coisa. Só fiquei sabendo que ela não estava passando bem quando
acordei, por isso cheguei atrasada. A neblina também atrapalhou, e, ao entrar na central de
datilografia, a srta. Morgan estava furiosa. Eu não tiro a razão dela, pois já eram quase dez
horas. Tentei explicar, mas ela se recusou a ouvir e foi se queixar ao sr. Donnelly. As onze, ele
me chamou e, apesar de estar furioso, acho que compreendeu o ocorrido. Sabe, a srta.
Morgan é bastante agressiva, e o pobre coitado fica sem saber qual é a melhor atitude a tomar.
— Verdade? — Adam parecia estar intrigado.
De repente, Caroline se lembrou com quem estava conversando. Perturbada,
acrescentou rapidamente:
— Você não vai criar problema por causa disso, vai? Eu realmente não gostaria de criar
problemas para ninguém.
— Não se preocupe. Prometo que vou considerar tudo o que você me disse
confidencialmente. Mesmo assim, acho que a srta. Morgan deveria se controlar um pouco. —
Riu, satisfeito. — Então, Donnelly resolveu não despedir você, não é?
— Sim. Com a condição de que eu nunca mais chegue atrasada. Caso isto aconteça,
serei demitida imediatamente. — Ela consultou o relógio. — O que agora já parece uma piada.
Você sabe que são quase três horas?
Ele se recostou preguiçosamente, observando a expressão perturbada do rosto dela.
— Eu já lhe disse para não se preocupar com isso. Tenho certeza de que você não vai
ser despedida hoje. Eu lhe dou minha palavra.
— Honestamente, isto mais parece ser um sonho maluco. Ainda não posso acreditar
que seja verdade. Sei que estou sentada aqui, mas tudo me parece fantástico demais.
— Mas você está gostando, não está? — perguntou, interessado.
— Como haveria de não gostar? — replicou, suspirando. — Foi tudo tão maravilhoso!
— Então, estou feliz — disse ele. — Vamos?
Alguns minutos depois, estavam dentro do Rolls, a caminho da cidade. Caroline sentia-
se estranhamente deprimida. Tudo fora tão excitante e inesperado e agora se aproximava do
fim. Pouco depois, chegaram ao Edifício Steinbeck, e Adam estacionou o carro no mesmo
lugar onde estava antes, aparentemente o lugar era reservado para ele.
Assim que o carro parou, Caroline, num impulso, virou-se para ele.
— Eu realmente não sei como lhe agradecer — disse, — Foi um almoço fabuloso, e só
espero não ter atrapalhado demais.
Adam sorriu e apoiou os braços sobre o volante.
— Você não atrapalhou nem um pouco — respondeu, bem-hu-morado. — Escute,
aceitaria um convite para jantar comigo numa noite dessas?
Caroline sentiu as faces rubras.
— Eu?! — exclamou. — Ora, eu... Você tem certeza de que realmente é o que quer?
Adam continuava sorrindo,
— Acha que se eu não quisesse eu a convidaria? Que tal amanhã? Caroline não
disfarçou o contentamento. De repente, aquele dia sombrio se tornou quase ensolarado.
— Eu adoraria.
— Ótimo. Estarei esperando diante de seu prédio às sete da noite. Ou será cedo
demais?
— Para mim parece perfeito — respondeu ela. — Acho melhor subir agora.
— Espere um pouco — ele pediu, saindo do carro. — Também tenho de entrar. E estou
bastante atrasado.
— Mas você não vai querer ser visto comigo — ela protestou e ficou surpresa com a
mudança que ocorreu no rosto de Adam, até então bem-humorado.
— Você tem alguma objeção? — perguntou.
— Lógico que não! — respondeu ela.
— Então, nunca mais repita isso — disse ele secamente. Em seguida, colocou a mão
no braço de Caroline e, com firmeza, conduziu-a em direção à entrada do prédio.
Eram três e quinze, e as pernas de Caroline tremiam um pouco. Suas preocupações
deveriam estar se refletindo no rosto, pois ele lhe sussurrou:
— Relaxe. Eu já lhe falei que não vai lhe acontecer coisa alguma. Assim que entraram
no imponente saguão do Edifício Steinbeck,
imediatamente se tornaram alvo de todos os olhares. A intimidade do relacionamento
deles logo se tornou visível para todos, e Caroline, sentindo isso, desvencilhou o braço.
Os funcionários do saguão estavam obviamente surpresos, e, assim que entraram no
elevador, Adam lhe perguntou, com voz muito calma:
— Você ficou embaraçada. Por quê?
— Estava pensando em você.
— Pensando em mim? O quê? Que sou muito mais velho que você? — Ele parecia
estar se divertindo com a situação.
— Não — Caroline negou com veemência. — É que o pessoal da portaria adora uma
fofoca, e, antes da hora do lanche, o prédio inteiro vai ficar sabendo que chegamos juntos.
— E daí? — perguntou. Ele estava encostado na parede do elevador. Já estavam
parados no terceiro andar, mas Adam parecia não ter a mínima intenção de abrir a porta.
— Bem, você não se importa? — ela indagou, ofegante.
— Acha que eu deveria me importar? — replicou ele, sacudindo os ombros. — O que
faço não é da conta de ninguém. Tem certeza de que não é você mesma que não gosta da
situação?
— De maneira alguma! — exclamou Caroline. — Para ser honesta, até gostei muito de
me sentir importante uma vez na vida.
— Então continua querendo jantar comigo amanhã à noite? Caroline arregalou os olhos,
num gesto indefeso.
— É claro! Já estou contando com isso.
— Otimo. — Em seguida, ele abriu a porta do elevador, para que ela pudesse sair. —
Então, nós nos encontraremos conforme foi combinado. — Ele sorriu. — Espero que não tenha
problemas com a srta. Morgan.
Foi realmente impressionante, pensou Caroline mais tarde. A srta. Morgan sabia ser
extremamente simpática quando isso lhe interessava. No momento em que entrou na sala,
ficou bem claro que Vera Morgan havia sido avisada de que Caroline chegaria atrasada ao
trabalho. De maneira muito bem-educada, perguntou a Caroline se tinha se divertido bastante e
depois acrescentou que as outras garotas poderiam ajudá-la caso não conseguisse terminar
seu trabalho sozinha,
No entanto, Caroline achou que não seria justo transferir uma parte de seu serviço a
suas colegas, já bastante ocupadas. Assim, lançou-se com afinco ao trabalho. Às cinco horas
da tarde, já conseguira recuperar quase todo o atraso. Pelo menos o suficiente para informar a
srta. Morgan de que seria capaz de continuar com o ritmo normal na manhã seguinte.
Quando Caroline chegou em casa, encontrou Amanda de pé e vestida, apesar de sua
aparência pálida e fraca.
— Você deveria ter ficado na cama — falou Caroline, ao sentar-se para comer a fritada
de ovos e linguiça preparada por Amanda.
Na verdade, Caroline não estava com muito apetite depois do suntuoso almoço daquele
dia, mas fez questão de demonstrar que a fritada estava deliciosa para não magoar a amiga.
— Impossível, meu bem — respondeu Amanda, que comeu apenas uma salsicha e uma
fatia de pão. — Como Ron chegará aqui às seis e meia, eu tinha de fazer alguma coisa.
Caroline não escondeu sua desaprovação.
— Você não vai sair hoje à noite — disse com tanta ênfase que Amanda não conseguiu
reprimir o riso.
— Está bem, está bem, mas não exagere em seu papel de super mãe — respondeu,
suspirando. — Eu só queria estar com uma aparência razoavelmente apresentável quando ele
chegasse, só isso. Porém estou me sentindo como se estivesse morrendo em pé.
Amanda estava longe de parecer uma garota saudável. Quando Caroline entrou no
quarto e estava prestes a pedir para que a amiga voltasse para a cama, ouviram a campainha
da porta tocar. Caroline foi atender e deixou Ron entrar. Como sempre, ele parecia estar muito
contente, mas parou, assustado, ao ver o aspecto de Amanda.
— Deus do céu! — exclamou, recuando um passo. — Há um fantasma solto nesta
casa!
Amanda trocou um olhar com Caroline.
— Acho que não é para tanto — Amanda falou, forçando um sorriso.
— Mas, boneca... você está realmente meio fantasmagórica. O que aconteceu?
— Ela está terrivelmente gripada — explicou Caroline. — E tenho certeza de que você
não quer pegar gripe também, não é?
— Essa última frase foi muito incisiva.
— Essas coisas acontecem — disse, instalando-se no sofá. — Desconfio que nossa ida
ao cinema foi por água abaixo então.
Caroline ficou chocada com a falta de sentimentos dele e olhou para Amanda,
arqueando as sobrancelhas.
— Pois é. Vou voltar direto para a cama.
— Compreendo. — Ron lançou um olhar inquiridor a Caroline.
— O que você acha de nós dois irmos ao cinema? — perguntou com toda naturalidade.
Amanda ficou boquiaberta.
— Não se incomodem comigo! — exclamou, furiosa, e correu para o quarto, batendo a
porta com força.
— O que está acontecendo com Amanda? — perguntou Ron, sem compreender. — E
então, Caroline? O que acha da proposta?
— Você deve estar brincando — disse Caroline, tentando não mostrar a repulsa que
sentia.
Ron não se deixou abalar.
— Você sabe que eu sempre tive vontade de fazer um programa com você — ele falou,
ao levantar-se. Brincando, tentou segurá-la pelos pulsos, mas com um gesto rápido, Caroline
escapou dele.
— Não se atreva a pôr as mãos em mim! — gritou, furiosa. — Acho que está perdendo
seu tempo aqui, Ron.
Ele não perdeu o ar pretencioso.
— Muito, bem, boneca. Vou embora! Ninguém pode dizer que Ron Cartwright força sua
presença em lugares onde não é desejado. Não preciso disso, benzinho. Basta um estalar de
dedos para eu ter uma dúzia de garotas querendo sair comigo.
— Pois, então, vá procurar uma delas — replicou Caroline. — Sujeitos como você me
enojam!
A frase deve ter atingido algum ponto fraco dele, pois Ron lhe dirigiu um olhar furioso
antes de sair apressadamente.
Caroline trancou a porta e foi para o quarto ver como estava Amanda. Ela voltara para a
cama e, surpreendentemente, estava sorrindo.
— Eu ouvi tudo — disse, antes que Caroline pudesse abrir a boca. — Acredito que
estaremos livres de Ron por um bom tempo.
— Bem, honestamente — Caroline começou a falar, um pouco arrependida pela cena
que acabara de fazer —, eu não consigo entender como você pôde se envolver com um sujeito
desses. Além de ser um chato, é terrivelmente convencido.
Amanda fez um gesto com os ombros, indicando estar conformada com sua sina.
— Nós, pessoas humildes, não podemos ficar escolhendo muito — respondeu,
respirando profundamente. — Qualquer dia, você também vai ter de reconhecer isso. Garotas
como você e eu simplesmente não têm a oportunidade de encontrar a elite da população
masculina deste país.
Caroline ficou vermelha. Ela não tinha contado nada a Amanda sobre seu encontro com
Adam Steinbeck e sobre o almoço daquele dia. Ficou um pouco chocada ao pensar que
comparar Ron com Adam seria tão idiota quanto comparar suco de tomate com champanhe.
Amanda, entretanto, percebeu a mudança de cor nas faces de sua amiga e indagou:
— Será que você encontrou outra vez o príncipe encantado do elevador?
— Sim, Amanda — respondeu com a maior naturalidade possível. — Eu o encontrei
durante a hora do almoço.
— Verdade?! — exclamou a amiga, entusiasmada. — Como foi? — perguntou, curiosa.
— Bem, eu trombei com ele na frente do prédio, e, quando lhe disse que estava com
pressa para chegar em casa, ele me ofereceu uma carona.
— Caroline Sinclair, você não tinha a menor intenção de me contar tudo isso, tinha?
— É lógico que ia lhe contar tudo — defendeu-se Caroline. — Simplesmente não tive
tempo. Bem, de qualquer forma, ele me trouxe para casa. Foi por isso que consegui chegar tão
cedo aqui.
— Ah, sei... Não acha que foi um pouco imprudente? Afinal de contas, você nem
conhece esse homem. Descobriu pelo menos como ele se chama?
Caroline hesitou um instante.
— Bem, descobri, sim. Ele é... Adam Steinbeck. — Ela revelou isso muito depressa e
ficou observando as expressões que se sucediam rapidamente no rosto de Amanda. Primeiro
foram de espanto, surpresa, depois de incredulidade.
— Você está falando sério? — perguntou, levantando a mão até o rosto. — Adam
Steinbeck?
Caroline suspirou, sentindo também uma ponta de incredulidade. — Ele mesmo. Para
mim, também foi uma surpresa.
— Surpresa?! — exclamou Amanda. — Em minha opinião, isso é um milagre. E lógico
que o coitado do Ron não teve a menor chance. Você esta interessada em homens mais
elegantes.
— Não é nada disso — disse Caroline, levemente irritada. Amanda balançou a cabeça,
ainda impressionada.
— E você estava realmente falando sério no outro dia, quando disse que não sabia
quem ele era?
— É claro! Eu só comecei a trabalhar lá há três semanas. Como eu poderia conhecê-lo?
Eu não tinha a menor idéia.
— Que coisa fantástica! Ele é um homem atraente?
— Ele é fabuloso — Caroline afirmou, abraçando a si mesma.
— Acho melhor contar tudo de uma vez. Ele me levou para almoçar numa estalagem
chamada "A Chaleira de cobre".
Amanda ficou ainda mais chocada do que já estava.
— Adam é uma pessoa muito simpática — continuou Caroline.— Fez com que eu me
sentisse muito à vontade. Quando voltei para o escritório, já passava das três e meia da tarde,
mas a srta, Morgan estava doce como mel. — Ela sorriu. — Foi realmente muito gostoso.
Amanda encarou-a, com certa frieza,
— Em meus sonhos, sair com um milionário sempre é muito gostoso. — Suspirou. —
Que sorte a sua, hein?
— O dinheiro dele não me atrai nem um pouco — falou Caroline, espreguiçando-se
lentamente na cama. — Aliás, preferia que ele fosse um simples funcionário. Pelo menos,
existiria a possibilidade de ele se interessar seriamente por mim. Do jeito que estão as coisas...
— Ei, vá com calma, mocinha — aconselhou Amanda, sentando-se em sua cama. —
Não há nada demais em ser convidada para um almoço. Mas quanto a se envolver seriamente
com um homem dessa idade... Você deve estar brincando!
— Não diga isso.
— E por que não? Alguém ia ter de lhe dizer isso. Pense um pouco, Caroline! Ele
provavelmente encontra garotas como você às dúzias. Homens do tipo de Adam Steinbeck
podem escolher qualquer mulher. Qualquer uma! Você precisa agir de acordo com sua idade.
Além disso, ele provavelmente é casado e tem meia dúzia de filhos em casa.
— Ele me disse que não é casado — murmurou calmamente. — Como não é difícil
descobrir se ele está mentindo, acredito que não esteja. Não haveria motivo para isso.
— Muito bem, então ele não é casado. Mas isso não o torna mais jovem.
Amanda provavelmente estava certa em tudo o que dizia, porém, mesmo assim,
Caroline continuava querendo voltar a vê-lo. Ela tinha de vê-lo novamente! Ela nunca ouvira
nenhum comentário maldoso a respeito dele no escritório, mas isso não era garantia alguma.
Afinal, o dinheiro pode silenciar muitas pessoas.
— Bem, de qualquer maneira, vou jantar com ele amanhã à noite. Amanda fez um gesto
com as mãos, deixando bem claro que não queria ter responsabilidade alguma nisso tudo.
— Eu não posso impedi-la de fazer o que quiser. Mas já pensou que o Edifício Steinbeck
existe há uns quinze anos e que ele deve ter sido chefe da firma durante quase todo esse
tempo também?
— Acho que ele deve ter uns trinta anos aproximadamente — disse casualmente.
— Caroline, você está apaixonada, não é? Sinto muito ter de lhe dizer isso, mas você
não devia julgar as pessoas apenas pela aparência.
— Você realmente tem todo o direito de falar assim. E como se explica a presença
daquele sujeito pavoroso aqui, hoje a noite?
— Ao menos ele está na mesma faixa etária e financeira que eu — replicou Amanda.
Caroline levantou-se da cama e foi para a sala, mal-humorada. Amanda podia dizer o
que quisesse, no entanto, Caroline iria ao encontro combinado.
CAPITULO II
Na manhã seguinte, a firma toda estava comentando a grande novidade. Caroline
Sinclair, a garota nova da central de datilografia, tinha sido vista entrando no prédio na
companhia do próprio Adam Steinbeck. Alguns afirmavam até mesmo que os dois haviam
almoçado juntos.
Caroline levantara-se mais cedo, para poder cuidar de Amanda antes de sair de casa,
conseguindo chegar na hora certa. Ruth mal podia esperar para conversar com ela sobre o
assunto mais comentado na firma.
— É verdade? — quis saber Ruth. — Foi por isso que você chegou tão tarde ontem
depois do almoço? Esteve tão ocupada durante o resto do tempo, que não houve uma
oportunidade para conversarmos.
— É verdade, sim — respondeu Caroline, com certa relutância. — Mas, por favor, antes
mesmo de você começar, não estou interessada em ouvir sermões.
Ruth ficou surpresa com o tom de voa de Caroline.
— Oh, eu sei, ele é um homem maravilhoso — interrompeu-a Ruth bem depressa. —
Eu já o vi algumas vezes, mas só de longe. Imagino que haja dúzias de mulheres que o
adoram. Honestamente, você não acredita que ele possa estar interessado em você por
qualquer outro motivo, além do óbvio, acredita?
— E qual é esse motivo óbvio? — perguntou Caroline, levemente irritada.
— Ora, sexo, é lógico — respondeu Ruth, corando um pouco.
— Sinceramente, eu não entendo por que você e Amanda acham que conhecem Adam
Steinbeck melhor do que eu. Amanda não seria capaz de reconhecê-lo na rua, e você mesma
acaba de admitir que o viu só de longe. No entanto, vocês duas parecem achar que ele é um
maníaco sexual ou coisa parecida.
— Estamos apenas nos preocupando com você — falou, com certa frieza. — Já
considerou tudo o que pode acontecer quando vocês se tornarem um pouco mais íntimos? Ele
não é mais um rapazinho para contentar-se com um beijo de despedida na porta de sua casa.
Ele já foi casado e vai querer bem mais do que isso.
— Casado! — exclamou Caroline. — O que aconteceu com a esposa dele?
— Morreu de leucemia há uns oito anos. Uma funcionária mais antiga da firma me
contou isso.
— Ah, sei... — Caroline não pôde impedir que uma sensação de alívio a invadisse. Pelo
menos ele não tinha mentido para ela. — E ele tem família?
— Um filho só. Parece que estuda na Universidade de Radbury. Nossa, Caroline, o filho
dele é mais velho do que você!
— Seja franca, Ruth. Acharia que ele é velho demais para você, caso estivesse em meu
lugar?
Ruth ficou em silêncio. No fundo, sabia que Caroline conseguira lhe fazer uma pergunta
difícil de responder. Um homem como Steinbeck não podia ser ignorado, nem mesmo sem a
sua posição e a sua fortuna. Além disso, devia ser muito excitante receber um convite dele
para almoçar.
— Está certo — concordou por fim, — Em seu lugar, eu provavelmente faria a mesma
coisa. Aliás, como foi que o conheceu?
— Você se lembra do homem que eu encontrei no elevador? — perguntou Caroline.
— Era Steinbeck?
Caroline respondeu afirmativamente com um gesto de cabeça.
— Céus! — Ruth estava estupefata. — Quer dizer que ele a convidou para sair aquele
dia e você não me contou nada?
— Não, foi ontem na hora do almoço, quando saí daqui correndo para ir cuidar de
Amanda em casa, dei de encontro com ele na frente do prédio. Ele me ofereceu uma carona, e
eu aceitei. Depois, me convidou para almoçar.
Ruth balançou a cabeça significativamente.
— Muito bem, muito bem. — Suspirou. — Mas tenha cuidado, Caroline. Estou realmente
falando sério.
Enquanto trabalhava, Caroline ficou imaginando que roupa iria vestir naquela noite.
Possuía um único vestido de noite, que usara pela última vez na festa de formatura de seu
curso de secretariado. O corte era um pouco antigo, e, considerando-se que era feito de
algodão cor-de-rosa, era óbvio que ela ficava parecendo ainda mais jovem quando o usava.
Decidiu comprar um vestido novo. Durante o horário de almoço, foi até o banco e retirou
certa importância de suas economias, que equivaliam a um terço de seu salário mensal. Sabia
que estava sendo ridícula em suas extravagâncias, mas queria que Adam se orgulhasse dela.
Depois do trabalho, numa pequena loja nas imediações da firma, encontrou exatamente
o que queria. Era um vestido de renda, cor verde-jade. Caroline sentiu-se ousada e ficou muito
satisfeita. Agora, estaria no mesmo nível de todas aquelas elegantes mulheres da sociedade.
Amanda ficou horrorizada quando descobriu que Caroline desperdiçara tanto dinheiro. E
"desperdício" foi a palavra que ela usou para expressar sua opinião.
— Você deve ter ficado maluca! — exclamou ela, irritada. — Será que ainda não
entendeu que, se vai começar a sair regularmente com um homem desse tipo, vai precisar
comprar montes de roupas novas?
Caroline a encarou furiosa.
— Ora, Amanda, não se meta! O dinheiro é meu!
— Você devia cuidar da cabeça — continuou Amanda.
— Por favor, me deixe sozinha — resmungou Caroline. — Se você não se importar, eu
mesma escolho o caminho de minha ruína e de minha perdição.
Amanda ficou em silêncio durante um momento e depois disse:
— Sinto muito se parece que estou interferindo em sua vida. A questão é que você não
pode se dar ao luxo de gastar tanto dinheiro para comprar um único vestido. Está bem, se
realmente pretende levar isso adiante... quer que eu lhe empreste minha estola de pele?
Caroline ficou vermelha, parecia estar envergonhada.
— Por favor, Amanda. Sinto muito, muito mesmo, por ter ficado irritada, mas sou capaz
de cuidar de mim mesma.
— Muito bem. Não abro mais a boca. A que horas ele vem buscá-la? — perguntou.
Caroline disse a hora e depois foi tomar banho. Os sinos de uma igreja próxima batiam
sete horas da noite quando ela ficou pronta. Estava muito bonita no vestido verde. Amanda
percebeu que Caroline estava parecendo muito mais velha, mas evitou o comentário para não
provocar nova discussão.
Foi Amanda quem primeiro avistou o Rolls manobrando no beco e parando diante da
entrada do prédio. disse Mandy, enquanto Caroline sentia seu coração palpitar
— Deve ser ele.
— Vou descer — informou, abrindo a porta.
— Divirta-se — disse Amanda, com um sorriso seco. E depois, num tom mais sério,
acrescentou: — E tenha cuidado!
Caroline concordou com um gesto de cabeça, fechou a porta e desceu as escadas, indo
ao encontro de Adam.
— Olá — murmurou ela.
Os olhos dele se estreitaram ironicamente antes de lhe retribuir o sorriso.
— Boa noite — respondeu suavemente, abrindo a porta do carro para que ela entrasse.
Depois de sentar-se ao lado dela, examinou-a atentamente.
— Está muito bonita, minha querida — disse ele, com uma ponta de ironia em sua voz.
— E muito sofisticada também, você não acha?
— Eu... acho que não estou compreendendo muito bem o que quer dizer — respondeu
Caroline, tentando ver melhor o rosto dele na escuridão.
No conforto do carro que deslizava suave e silencioso, Caroline conseguiu relaxar um
pouco.
— Reservei uma mesa no Mozambo para as oito horas — ele falou ao dobrar a King's
Road, onde o transito era mais intenso.
O Mozambo era um clube noturno inaugurado havia pouco tempo, e Caroline sabia que
não tinha idade suficiente para frequentar esse tipo de lugar.
Percebendo que ela não respondia, Adam lançou-lhe um olhar inquiridor.
— Há alguma coisa errada? — perguntou discretamente. — Você não gostou da idéia?
Acho que é o lugar ideal para desfilar um vestido como o seu.
— Não que eu não queira ir, compreenda — disse ela, encabulada. — Mas eu só vou
completar dezoito anos em março e...
— Ah é, eu tinha me esquecido desse detalhe — ele falou, apesar da impressão de que
ele não se esquecera disso. — Nesse caso, iremos a algum outro lugar menos perigoso.
Caroline sentiu-se ridiculamente jovem e desajeitada.
— Que pena... — murmurou. — Eu me sinto ridícula.
— Por quê? Você não tem culpa de sua idade. Além disso, clubes noturnos não são
necessariamente os lugares que mais gosto de frequentar.
Caroline continuava se sentindo pouco à vontade.
— Para onde iremos então?
Adam refletiu durante um momento.
— Acho que podemos jantar no Caprice, e depois arranjo ingressos para algum
espetáculo. Existe algo em cartaz a que você queira assistir?
— Para mim, tanto faz — respondeu Caroline, mais aliviada. — Tem certeza de que não
estou estragando sua noite?
— Você não poderia fazer isso — disse ele, sorrindo suavemente.
O Caprice era um restaurante tão excitante quanto ela imaginava que deveria ser.
Caroline reconheceu algumas pessoas famosas sentadas em mesas próximas e ficou
impressionada com a naturalidade de Adam em relação aos garçons. Apesar do restaurante
estar lotado, ele não teve dificuldades em conseguir uma mesa.
Adam examinava o cardápio com um olhar experiente.
— Você já decidiu o que vai querer comer? — perguntou.
— Não. Deixo isso a seu critério. Você sabe que não estou acostumada a jantar em
lugares como este. — Havia um certo ar de insegurança na maneira de ela se expressar, e,
durante alguns instantes, ele desfez seu olhar irônico e voltou a dedicar sua atenção ao
cardápio.
Adam fez o pedido ao garçom e, em seguida, voltou-se para ela.
— Estou contente por você ter aceito o convite — disse ele com muita naturalidade.
— Pensou que eu não aceitaria? — Caroline indagou, surpresa.
— Bem, admito que tive minhas dúvidas — respondeu com seu jeito vagaroso de falar.
— Imagino que todas suas amigas devem ter aconselhado a não se envolver com um homem
como eu.
— Como sabe que... — ela começou a dizer, mas interrompeu-se, enrubescendo.
— Então acertei — ele murmurou. — E por que não aceitou o conselho delas?
— Eu lhes expliquei que sou perfeitamente capaz de tomar conta de mim mesma —
falou, recusando-se a encará-lo diretamente.
— Compreendo... E você realmente acredita nisso? Caroline ficou ainda mais
enrubescida.
— É lógico que acredito! — exclamou rapidamente. — Se não acreditasse, não teria
vindo.
— Você é corajosa — ele disse secamente, mas, quando ela o encarou, viu que os
olhos dele tinham uma expressão irônica.
O olhar de Adam penetrou, de uma maneira quase insolente, pelas aberturas da renda
do vestido de Caroline, e ela sentiu ímpetos de se cobrir, de se proteger e desejou não o ter
comprado.
A refeição estava esplêndida, porém Caroline comeu muito pouco. Durante os intervalos
entre os diversos pratos, Adam conversou naturalmente sobre suas viagens para o exterior, e
durante um certo período de tempo, Caroline conseguiu relaxar a tensão e se divertiu ouvindo
o que ele contava.
Mais tarde, ela escolheu um espetáculo que estava com vontade de ver, e a noite se
tornou mais agradável. Era uma comédia musical leve, que ajudou muito a acabar com a
insegurança de Caroline.
Depois do espetáculo, os dois se dirigiram até o carro e entraram rapidamente, para
escapar do frio ar noturno. Adam deu a partida e manobrou agilmente o veículo no tráfego
intenso. Caroline estava tão fascinada com as mãos dele, segurando o volante, que nem per-
cebeu que tinham tomado uma direção oposta a seu apartamento. Quando percebeu, o carro
já estava passando por algumas ruas desertas de Mayfair. Caroline apertou a bolsa entre suas
mãos. Para onde ele a estaria levando? Ela estava tão chocada que ficou muda de espanto
quando ele estacionou o carro diante de uma casa, numa pequena rua. Quando Adam abriu a
porta, a luz automática do carro iluminou o rosto amedrontado de Caroline, e ele disse:
— Não faça essa cara. Não vou lhe fazer nada. Vamos, desça!
Lançando-lhe mais um olhar desgostoso, Adam abriu a porta da casa e acendeu a luz.
Depois, retrocedeu um passo para que ela passasse adiante e fechou a porta. Era o saguão
mais bem decorado que Caroline já vira em toda sua vida, e, como a curiosidade foi mais forte
que seus temores, ela seguiu Adam, que saía do saguão por uma grande porta em arco.
Caroline o acompanhou, e entraram numa outra sala decorada com extremo bom gosto.
Caroline procurou palavras para descrever suas impressões. Quando, finalmente,
conseguiu falar, murmurou:
— Isso é fabuloso! Contudo, minha opinião não deve ter interesse algum para você —
acrescentou, suspirando.
Adam apenas se dirigiu ao bar.
— Quer tomar alguma coisa? — perguntou. Imediatamente, os temores de Caroline
voltaram, e Adam, olhando para ela, devia ter percebido isso, pois disse:
— Não se preocupe em recusar. Acho que um pequeno cálice de conhaque vai ajudá-la
a recuperar a segurança.
Caroline não respondeu, mas aceitou o copo que ele lhe oferecia. No rosto de Adam
havia uma expressão de divertimento.
— Você não quer se sentar? — ele indagou, apontando para o sofá.
Caroline concordou rapidamente, contente pela oportunidade de dar um pouco de
descanso as suas pernas trêmulas. Para seu espanto, porém, Adam sentou-se a seu lado e
recostou-se muito à vontade. Caroline, que o observava, ficou impressionada com a forte
atração física que ele exercia sobre ela, fazendo com que se sentisse fraca, indefesa e sem ar.
— E agora — disse ele, saboreando lentamente suas palavras —, vamos deixar bem
claro uma coisa entre nós dois, está bem?
Caroline franziu a testa.
— Não estou entendendo, pode explicar? — perguntou, um pouco nervosa.
Adam esticou as pernas.
— Bem — murmurou —, parece que está muito apreensiva em relação ao que pode
acontecer entre mim e você. Quando nos encontramos pela primeira vez, você estava muito à
vontade em relação a mim, e eu gostei disso. Sei que você não sabia quem eu era, mas,
mesmo depois de ficar sabendo, continuou se portando com naturalidade... Agora, porém, de
repente, após toda essa lavagem cerebral que suas supostas amigas lhe fizeram, você está
apavorada comigo, Por quê? O que pensa que pretendo fazer? Atacá-la, agarrá-la ou o quê?
Caroline enrubesceu. De repente, sentiu-se tola demais. Ele franziu a testa e continuou:
— E hoje à noite, quando você veio se encontrar comigo, sua aparência estava
indescritível! Esse vestido seria apropriado para uma mulher de trinta anos. Ele simplesmente
não combina com você. Disse todas aquelas coisas a respeito de sofisticação porque estava
furioso por você ter achado que precisava se fantasiar dessa maneira para me agradar. Você
simplesmente conseguiu se transformar em uma mulher a mais. Eu não reservei mesa alguma
no Mozambo. Eu apenas queria saber até onde você iria levar essa falsa sofisticação. Se você
tivesse concordado em ir a essa casa noturna, eu lhe teria dado umas boas palmadas! Está
compreendendo agora? Eu a convidei porque você é... jovem, inocente, não porque quisesse
uma boneca na última moda para jantar comigo. Será que você não vê que estou cansado de
mulheres que se jogam em meu pescoço? Não pense que isso é mero convencimento de
minha parte. Acho que o dinheiro provoca essa reação na maior parte das mulheres.
Subitamente, ele se levantou e foi até o bar, onde tornou a encher seu copo.
Caroline tomou um gole da bebida de seu copo. Ela se sentia como se tivesse apenas
seis anos de idade e, no máximo, seis palmos de altura.
— E agora? — ela murmurou, com voz rouca e muito próxima às lágrimas. Caroline
sentia uma dor muito grande dentro de si, uma dor que ameaçava se tornar mais forte do que
ela e que não conseguia compreender direito.
Adam colocou o copo sobre o bar e respondeu, com um sorriso: — Acho que vamos ter
de começar tudo outra vez.
Depois, vendo lágrimas nos olhos de Caroline, indagou:
— Escute, você não está pensando que eu a trouxe até aqui só para lhe dar uma bronca
e nunca mais vê-la, não é?
Caroline respirou fundo e passou o dorso da mão nos olhos. Uma sensação de alivio
tomou conta dela, e, como uma explosão, ela compreendeu de repente por que tinha sentido
tanto medo. Não queria que o relacionamento terminasse ali! Estava apaixonada por esse
homem. Ela o amava tanto que tinha certeza de que nunca mais voltaria a ser a mesma
pessoa outra vez.
Caroline olhou para ele, forçando-se a não demonstrar nenhuma emoção, quando Adam
se sentou ao lado dela, dizendo:
— Amanhã é sábado. Você gostaria de viajar comigo para o interior e conhecer minha
casa nos arredores de Windsor? Este é apenas um lugar que tenho na cidade e que uso para
dormir ou trabalhar quando preciso ficar em Londres.
— Gostaria muito de ir com você — respondeu Caroline, entusiasmada, sorrindo para
ele. — Estamos sozinhos aqui, neste momento?
— Exatamente — ele murmurou, suspirando. — Mas não pense besteiras, pois vou levá-
la para sua casa imediatamente.
Ele se ergueu e estendeu a mão para ela poder se levantar também. Quando as mãos
se tocaram, Caroline sentiu seu interior se manifestar. Ela não queria ir embora, queria abraçá-
lo e, de repente, ficou amedrontada com o tumulto de sentimentos que ele despertara dentro
dela.
Não levaram muito tempo para chegar em casa, e, com uma certa relutância, Caroline
desceu do carro, onde havia um clima de certa intimidade. Adam a acompanhou até a entrada
do prédio.
—Virei buscá-la amanhã, às três horas da tarde—ele informou, sorrindo — Vista
qualquer coisa bem informal.
Amanda ainda estava acordada quando Caroline entrou no quarto, assim ela teve de
contar tudo o que tinha acontecido. Entretanto, Caroline omitiu a visita à casa dele na cidade,
mesmo porque já passavam das onze horas. Amanda pareceu acreditar que ambos tinham
vindo diretamente para casa depois do teatro.
No sábado, Amanda foi trabalhar, e isso tornou as coisas muito fáceis para Caroline, que
resolveu deixar apenas um bilhete para a amiga, dizendo que teve de sair, era a melhor
maneira de escapar de uma nova discussão sobre as vantagens e desvantagens de se
envolver com alguém do tipo de Adam.
Faltavam quinze minutos para as três horas quando notou um pequeno carro branco,
modelo europeu, entrando na rua, e perguntou-se, sem muito interesse, a quem pertenceria
aquele automóvel. Ela não estabeleceu conexão alguma entre o carro e Adam até o momento
em que ouviu alguém batendo à porta.
Caroline correu para abri-la, rezando intimamente para que não fosse tia Bárbara, que,
às vezes, resolvia visitar a sobrinha nas tardes de sábado. Porém, quando abriu a porta e viu
Adam parado diante dela, ficou boquiaberta, espantada, e exclamou:
— Adam! Eu estava olhando pela janela, mas não vi seu carro! — Caroline estava
realmente surpresa.
Ele fez um movimento com os ombros e entrou na sala, observando em torno com muito
interesse.
— Eu mudei de carro. Você está pronta? — perguntou. — Pelo menos está aparentando
sua idade hoje. Podemos ir?
A viagem até a casa de campo dele foi confortável, amena e rápida. Atravessaram a
cidade de Windsor em direção a um vilarejo chamado Slayford, em cujos arredores Adam saiu
da estrada principal, entrando pelo portão de uma vila moderna. Era uma casa de aspecto
sólido, em estilo grego. Diante dela, havia diversas estátuas e um pequeno chafariz em meio a
um espelho d'água. O caminho circundava o espelho d'água, e Adam estacionou o carro diante
de grandes portas duplas de vidro, revestidas com uma grade de ferro batido na parte interna.
Amplos degraus de pouca altura levavam até essa porta, atravessando um terraço com
colunas.
— Nossa! — exclamou Caroline, descendo do carro antes que Adam tivesse tempo
para ajudá-la.
— Fico contente em ver que você gosta — respondeu ele, enfiando as mãos nos bolsos
do sobretudo. — Mandei construir esta casa há cinco anos, segundo um esboço que eu
mesmo fiz.
Adam abriu a porta, e entraram pelo belo saguão.
Logo depois, uma porta abriu-se na extremidade oposta, e uma mulher de meia-idade
aproximou-se, apressada, acompanhada por um spaniel. O cachorro fez muita festa para
Adam, latindo de contentamento, pulando e balançando o pequeno rabo.
— Esta é a sra. Jones e este é Nero — disse Adam, sorrindo para Caroline. — Sra.
Jones, esta é a srta. Caroline Sinclair.
— Muito prazer, senhorita — falou, sorrindo, a pequena mulher de aspecto maternal. —
Que surpresa! — exclamou ela, olhando para Adam com uma certa indulgência no olhar. — É
muito agradável vê-lo outra vez, sr. Steinbeck. Jones está rachando lenha lá nos fundos, mas,
se o senhor quiser vê-lo, irei chamá-lo imediatamente.
— Não há necessidade, sra. Jones — respondeu Adam.
A sra. Jones era baixa e alegre. Caroline gostou dela instintivamente. Quanto a Nero,
era muito agitado, ficou pulando em volta deles, quando entraram na sala de estar.
— Este é o único aposento da casa toda onde existe uma lareira de verdade. O resto
está equipado com o aquecimento central — informou ele, enquanto se sentava num dos sofás
mais próximos ao fogo. — E que, de vez em quando, gosto de ficar olhando as labaredas.
— Eu também gosto muito — concordou Caroline, sentindo-se inundada por uma
sensação de bem-estar.
Adam foi sentar-se mais próximo de Caroline, e ela se perguntou se ele teria alguma
noção do efeito que causava sobre ela. Ficou um pouco deprimida quando pensou que Adam
provavelmente a considerava apenas uma companhia mais ou menos agradável, com a qual
estava se divertindo um pouco.
Preguiçosamente, ele esticou as pernas em direção ao fogo.
— Isto é que é vida! Longe dos negócios, dos assuntos de altas finanças, da
especulação imobiliária...
Caroline sorriu, observando-o atentamente. Era difícil imaginar que a vida de centenas
de funcionários dependia inteiramente desse homem. Quantas pessoas dependeriam das
opiniões dele? O Edifício Steinbeck abrigava uma série de companhias, todas pertencentes à
Steinbeck Corporation e cada uma delas, de certa forma pelo menos, dependia de Adam
Steinbeck. Ele era o diretor-presidente, e o voto decisivo, sempre que necessário, era dele,
sendo também responsável por quaisquer erros que acontecessem.
Ela desejou ter coragem para se aproximar mais dele e lhe fazer uma massagem nas
têmporas. Tia Bárbara gostava muito quando ela fazia isso, dizia que era ótimo para aliviar a
tensão.
De repente, bateram na porta, e, logo em seguida, a sra. Jones entrou com uma
bandeja, trazendo chá, sanduíches e bolinhos de aveia.
Adam abriu os olhos e, com certa relutância, sentou-se numa
posição mais formal.
— Muito obrigado, sra. Jones. Seria possível jantarmos por volta das sete e meia?
— É claro que sim! Por enquanto, comam estes bolinhos de aveia que eu mesma fiz e
se quiserem mais chá é só chamar.
— Que Deus a conserve sempre assim — disse Adam, e a sra. Jones saiu com um
sorriso de satisfação.
Ao terminarem o lanche, Caroline colocou a bandeja sobre uma mesa ao lado da porta,
indagando:
— Quer que eu leve a bandeja para a cozinha?
— Não é preciso — disse. — Venha e sente-se aqui a meu lado. Quero que me conte
tudo a respeito de sua vida.
O coração de Caroline batia violentamente ao sentar-se ao lado de Adam. Ela estava
bastante consciente de que a perna dele estava muito próxima da sua. Também percebeu que
Adam a observava atentamente.
— Não há muita coisa para contar — murmurou ela, fitando demoradamente as
labaredas na lareira. — Meus pais morreram quando eu era ainda muito pequena. Fui criada
por uma tia e, há seis meses, deixei-a para ir morar com minha amiga Amanda,
— É muito excitante tudo isso — ele falou com um sorriso. — E não houve nenhuma
paixão até agora?
A intimidade da situação foi mais forte para ela que respondeu apenas com um gesto
negativo de cabeça, pois não confiava em palavras. Como poderia conversar com naturalidade
a respeito de um assunto que lhe tocava tanto?
Adam moveu-se lentamente, até que sentiu sua perna junto à dela. Depois, com a mão
em seu rosto, forçpu-a a olhar para ele. Seus olhos a examinavam atentamente. Caroline tinha
certeza de que ele estava ouvindo as batidas de seu coração. Sentiu que ele brincava,
distraidamente, com seus cabelos, tocando-lhe levemente a nuca, perturbando-a. Em seguida,
devagar, ele se inclinou para a frente e encostou sua boca na dela, explorando os lábios
macios, até se entreabrirem involuntariamente...
O beijo prolongou-se, transformando-se em algo muito mais sério e sensual. Caroline
nunca imaginara que a boca de um homem fosse capaz de despertar tais sensações e sentiu-
se um pouco perdida quando ele a soltou, levantando-se com um movimento quase brusco.
Caroline permaneceu onde estava, inconscientemente provocante em sua inocência
semidesperta.
Irritado, Adam mexeu numa das toras de madeira com a ponta do sapato e ficou olhando
atentamente para as labaredas.
— Por que você não diz alguma coisa? — murmurou ele. — Por exemplo, a respeito do
sermão que eu lhe passei ontem à noite?
Caroline suspirou.
— Está arrependido por ter me beijado, Adam? — perguntou com voz suave.
Num gesto brusco, ele se voltou para ela.
— Sabe muito bem o que estou com vontade de fazer! — ele exclamou violentamente.
— Eu! O conselheiro platônico de ontem à noite! — Franziu a testa, irritado consigo mesmo. —
E cheguei a pensar que seria capaz de trazê-la até aqui e levá-la de volta outra vez, sem que
ocorresse nenhum acidente. — Passou as mãos pelos cabelos. — Eu estava louco quando
pensei numa coisa dessas!
— Pare de se torturar com isso, Adam — disse ela calmamente. — A culpa foi apenas
minha.
— Caroline, não torne tudo ainda mais difícil! Ela se colocou provocante diante dele.
— Por que mais difícil? — murmurou ela. — Até parece que você quer esquecer o que
aconteceu. Mas nenhum de nós seria capaz disso.
Adam encarou-a durante um momento e depois puxou-a para seus braços.
— Caroline, isto é uma loucura! — murmurou, seu corpo todo tremia, e Caroline, ao
colocar os braços em torno do pescoço de Adam, destruiu todas as tentativas dele de agir de
maneira racional.
Suas bocas voltaram a se encontrar, e agora os beijos demonstravam a paixão de um
homem por uma mulher. Caroline não esboçou qualquer tipo de resistência. Era Adam quem a
beijava. Ela o amava e queria que ele ficasse sabendo disso.
De repente, ouviram a porta de um carro bater, quebrando o silêncio que os envolvia.
Era possível ouvir as vozes que entravam pela porta da frente da casa.
Com um gemido contrafeito, Adam, relutantemente, soltou Caroline, afastando-a um
pouco, e passou as mãos pelos cabelos. Caroline suspirou profundamente e levou as mãos ao
rosto.
— Quem será? — sussurrou ela, sentindo que suas faces ardiam depois de todos
aqueles beijos. Seus lábios jovens haviam perdido o batom que ela aplicara à tarde, estavam
lívidos.
Os olhos de Adam assumiram uma expressão mais suave no momento em que
pousaram nela, e depois sacudiu os ombros, num gesto de quem nada podia fazer.
— Acho que é John — respondeu. — Meu filho. E parece que trouxe alguém com ele.
CAPITULO III
Caroline ficou boquiaberta ao ouvir o que Adam acabara de revelar.
— Adam! — exclamou. — Eu... deveria ir embora. Será que existe algum jeito para eu
sair daqui sem que eles me vejam? .
Adam franziu a testa e olhou para ela.
— Por quê? — perguntou um pouco ríspido.
— Bem, eu só pensei... — Caroline não encontrava as palavras certas. Como explicar
que sua presença ali podia lhe causar problemas? Afinal, ela era uma simples datilógrafa.
— Você está envergonhada por estar numa situação, a seu ver, "comprometedora" —
disse ele, e havia um tom acusador em sua voz.
Caroline fez uma careta e balançou a cabeça negativamente.
— Oh, Adam, você está completamente enganado — defendeu-se ela, agarrando-se no
braço dele. — Estou pensando em você. Por mim, está tudo bem, mas você é o pai dele.
Adam ficou aliviado e, inclinando a cabeça, beijou-a levemente,
— Nesse caso, talvez seja ate bom que eles tenham vindo — disse com suavidade. —
Quase nos esquecemos de que tenho idade suficiente para ser seu pai também.
Caroline encarou-o com um olhar irritado.
— Pare de falar assim — pediu, aconchegando-se mais a ele. — A idade não tem a
menor importância entre nós.
Adam não teve tempo para responder, pois a porta se abriu, dando passagem a um
jovem alto, moreno e esguio e a uma loira exuberante.
— Aqui estamos nós, papai! — exclamou o jovem, estranhando a presença de Caroline,
que continuava segurando o braço de Adam.
John parou onde estava, com uma expressão de surpresa no rosto. Durante a pausa
desagradável, Caroline percebeu que os olhos do rapaz a examinavam de maneira insolente.
Gentilmente, Adam deixou Caroline e atravessou a sala para cumprimentar o filho.
— Quanto tempo você vai ficar desta vez? — perguntou ele e, em seguida, dirigindo-se
à loira, com um sorriso de boas-vindas, falou: — E você é...?
— Tonia Landon — respondeu a garota, sorridente. — Já ouvi muita coisa a seu
respeito, sr. Steinbeck. Estou fascinada pela oportunidade de conhecê-lo pessoalmente.
— Nós vamos ficar até amanhã à noite — disse John, olhando para seu pai. — Quer
dizer, se não estivermos atrapalhando.
Adam levantou os ombros levemente, ignorando a observação, e, voltando-se para
Caroline, puxou-a deliberadamente para a frente.
— Carol, eu quero lhe apresentar meu filho John e uma amiga dele, a srta. Tonia
Landon — ele falou, sorrindo. — John, Tonia, esta é a srta. Caroline Sinclair.
John e Tonia perceberam a maneira especial com que Adam fizera as apresentações e
trocaram um olhar intrigado.
Eram quase cinco horas da tarde, e todos se sentiram aliviados quando a sra. Jones
entrou, apressada, querendo saber o que estava acontecendo, quem iria pernoitar... Após uma
rápida troca de palavras, ela se afastou para mostrar o quarto de hóspedes para Tonia,
enquanto John sentava-se no sofá ao lado do pai. Caroline instalou-se no braço de uma das
poltronas, um tanto determinada. Fora pouco o tempo que passara junto de Adam, e ela se
irritara um pouco com a chegada do casal.
Enquanto Adam e John conversavam, recordou rapidamente os acontecimentos daquela
tarde. Ah, se John e a namorada não tivessem chegado num momento tão inoportuno! Quem
poderia dizer quando Adam voltaria a se comportar novamente daquela maneira?
Sorrindo para John, a sra. Jones serviu mais chá. Estava bem claro que ele também
desfrutava do afeto daquela figura maternal. Caroline sentiu-se desesperadamente só. Os
olhos de John eram frios e agressivos, o que fez com que Caroline se sentisse pior ainda.
Imaginou o choque que deveria ter sido para ele descobri-la ali na companhia do pai,
praticamente sozinhos naquela casa enorme. Imaginou que ele deveria estar curioso e até
mesmo um pouco aborrecido com a modificação em seus próprios planos.
Finalmente, John levantou-se e saiu para lavar as mãos, e Caroline pôde ficar a sós
outra vez com Adam. Os olhos dele a acariciaram, e ela deixou a poltrona onde estava para
sentar-se no sofá ao lado dele.
— Oh, querido — sussurrou, colocando os braços em torno do pescoço de Adam, que
adorou a sensação despertada pelo contato de seus lábios com os sedosos cabelos dela.
Depois, com um suspiro, ela acrescentou: — Acho que eu deveria ir embora.
Adam franziu a testa.
— Por quê?
— Você certamente vai querer ficar a sós com seu filho — respondeu ela, meio sem
jeito.
— Com aquela garota fazendo o possível para monopolizar a conversa? — replicou
Adam secamente. — Não, muito obrigado, meu bem. Ela que fique com John! Você vai ficar
para o jantar, conforme já tínhamos combinado, e depois eu a levarei de volta para a cidade,
está bem?
Caroline sorriu.
— Se você realmente quer que eu fique, eu fico — concordou.
— Mas não estou muito bem vestida para um jantar, não é mesmo? Só Deus sabe o que
a srta. Landon irá usar!
Adam também sorriu.
— Carol, meu amor, você continuará sendo muito bonita para mim, e eu sou a única
pessoa cuja opinião deve significar alguma coisa para você.
Caroiine riu novamente.
— Você sabe que para mim você é mesmo o único — murmurou.— Oh, Adam, é tão
delicioso estar aqui com você! Eu gostaria que eles não tivessem vindo para cá.
Suas bocas se encontraram, e os lábios dela separaram-se automaticamente. Caroline
pôs a mão em torno do pescoço de Adam e ficou acariciando-o na base da nuca.
— Caroline... como eu a desejo — sussurrou, enquanto sua boca a excitava cada vez
mais.
De repente, sem qualquer aviso, a porta se abriu, e Tonia entrou. Caroline desvencilhou-
se imediatamente dos braços de Adam, apesar de os dedos dele a segurarem pelos pulsos,
impedindo que se afastasse demais. Caroline estava certa de que Tonia vira o abraço que
trocaram, pois tinha uma expressão de surpresa estampada no rosto. Obviamente, Tonia se
espantara, da mesma forma que a própria Caroline, pelo fato de um homem como Adam se
interessar por uma garota simples como Caroline.
— O senhor passou o dia todo aqui? — perguntou Tonia, lançando um olhar para Adam
que deixava bem clara sua admiração por ele.
Sentado no sofá, Adam parecia um tigre, relaxado, mas ao mesmo tempo pronto para
saltar. Tonia sabia perfeitamente o que Caroline via em Adam, de cuja forte personalidade
emanava uma intensa masculinidade. Isso, acrescido de sua atraente aparência física, era um
desafio para qualquer mulher.
— Não... viemos para cá esta tarde — respondeu Adam. — Você está na universidade
também? — indagou, dirigindo-se a Tonia, ao mesmo tempo em que tragava o cigarro.
— Oh, não! Eu moro em Radbury — explicou Tonia, sorrindo. — Conheço seu filho há
alguns meses. Nós nos encontramos numa festa, numa das vezes em que ele conseguiu fugir
um pouco dos estudos.
— Acredito que esse tipo de oportunidade seja bastante frequente — disse Adam, num
tom seco, e Tonia riu.
— Ele me contou que o senhor esteve recentemente fora do país — continuou ela,
fazendo o possível para manter a atenção dele.
— Realmente. Estive nos Estados Unidos — concordou Adam. — Por isso, não tenho
visto muito John desde as últimas férias
de verão.
— Imagino que sim — Tonia falou, com entusiasmo. Depois, sem muito interesse,
voltou-se para Caroline. — E você faz o quê, Caroline?
— Trabalho num escritório — respondeu ela, enrubescendo e fazendo questão de não
revelar em que escritório trabalhava. — Sou estenodatilógrafa. E você?
Tonia riu à vontade.
— Céus, eu não trabalho! — exclamou com uma ponta de malícia e maldade. — Debutei
no ano passado e, atualmente, estou apenas me divertindo um pouco.
Adam soltou delicadamente os pulsos de Caroline e, cruzando a sala em direção ao bar,
perguntou:
— O que posso lhe oferecer para beber, Tonia?
Ela também se levantou e foi até onde ele estava, deixando Caroline ao pé da lareira.
— O senhor tem vodca? — perguntou, sorrindo para ele. Caroline ficou olhando as
labaredas. Ela já estava sentindo as agulhadas do ciúme, e o simples fato de pensar que essa
mulher ficaria o domingo inteiro com Adam e John a deixava enfurecida. Notou que Tonia,
obviamente, sentia-se atraída por Adam e parecia estar perfeitamente disposta a trocar John
pelo pai, desde que este mostrasse interesse em assumir a posição de seu filho.
Após entregar um copo com vodca a Tonia, Adam preparou xerez para Caroline, uísque
para si mesmo e voltou ao sofá. Nesse instante, John apareceu, incorporando-se ao grupo,
após servir-se de uma bebida também.
Conversaram sobre os estudos de John na universidade e o tempo.
Caroline pouco falou. Estava bem claro que John não estava gostando da presença dela
e que Tonia a considerava uma pessoa enfadonha e mal vestida. Caroline tinha certeza de que
Adam só não fora vestir algo mais apropriado para o jantar por causa dela. O jantar foi servido
numa sala envidraçada, que dava vista para boa parte do jardim e para o chafariz iluminado. A
refeição servida foi deliciosa. Caroline estava deslocada, não era aquele o seu inundo, ao
contrário de Tonia, que sabia perfeitamente como se comportar num lugar como esse.
Ficou contente quando tudo terminou, e eles voltaram à sala de estar para tomar café,
licores e fumar. Caroline e John ocuparam as poltronas, ao passo que Adam e Tonia se
instalaram no sofá. Caroline percebera que Tonia manobrara a situação dessa maneira, mas já
não estava mais se importando. A única coisa que ela queria era estar bem longe dali, era ir
para sua casa. Não se importava com sua atitude derrotista. Detestava toda aquela hostilidade
velada.
Por volta de nove e meia da noite, Adam falou:
— Acho que é hora de Caroline e eu irmos para a cidade. Vocês nos desculpam? Devo
estar de volta dentro de algumas horas.
— Como preferir, papai. Cuidado com as estradas, elas estão cobertas de gelo.
— Não se preocupe. Até mais tarde, então.
— Até mais tarde, papai. Boa noite, srta. Sinclair. — A voz de John ficou bem mais fria
em sua última frase.
— Boa noite, John. Boa noite, srta. Landon — cumprimentou Caroline da maneira mais
suave possível e saiu da sala antes de Adam.
Lá fora o ar estava muito frio. Depois do jantar, uma densa neblina se formara
rapidamente. As luzes do chafariz tinham sido apagadas, e nada podia ser visto além dele.
— Droga! — murmurou Adam, tirando a camada de gelo que se formara sobre o pára-
brisa. — Que noite!
Ele se sentou no carro ao lado dela e respirou fundo.
— Carol, meu bem, você se importaria muito se eu lhe pedisse para passar a noite aqui?
Seria loucura tentar chegar a Londres com um tempo desses. Além disso, amanhã é domingo.
Caroline suspirou, resignada.
— É verdade, acredito que seja mais uma loucura viajar hoje — respondeu ela,
preocupada. — Oh, Adam, eu não me importaria nem um pouco se estivéssemos só nos dois
aqui, mas agora... — Sua voz sumiu, e ele percebeu quão preocupada ela estava.
Adam colocou o braço em torno dos ombros de Caroline.
— Minha querida — murmurou ele suavemente —, ignore os dois. John está um pouco
ressentido, sei disso, mas Tonia não significa nada para nós. John está com uma garota
diferente toda vez que eu o vejo. Pensa que eu me preocupo com o que eles possam estar
pensando? Céus, Carol, esta casa é minha, e eu quero que você fique. Acredite, você tem
tanto direito de ficar aqui quanto qualquer outra pessoa. Mas o que eu posso dizer a eles? Não
passam de duas crianças mimadas demais. — Ele sorriu e beijou a ponta do nariz dela. —
Então você fica?
— Sim — respondeu, percebendo que sua depressão sumira quase completamente.
— Ótimo. E, como você prefere ficar longe deles, vamos para meu escritório e
deixamos a sala de estar para eles, combinado?
— Oh, Adam! — ela exclamou, feliz, e encostou o rosto no peito quente e confortante.
Momentos depois, os dois saíram do carro e caminharam em direção à entrada que
dava para o escritório. Durante o trajeto, Caroline se lembrou de avisar Mandy, pois ela poderia
ficar preocupada. Chegaram à porta que os levaria à sala de trabalho e entraram.
— Tire seu casaco, enquanto vou pôr a sra. Jones a par de nossos planos — disse ele,
retirando-se rapidamente.
Caroline tirou o casaco de lã e entrou na sala. Comparado com o luxo opulento existente
no resto da casa, o gabinete de trabalho era bastante austero.
Caroline colocou o casaco em uma das poltronas de couro que Adam usava quando
trabalhava ali. Era difícil associar o homem que ela conhecia ao homem de negócios, inflexível
e bem-sucedido, em que ele se transformava no Edifício Steinbeck. Com um suspiro, inclinou-
se para a frente e começou a mexer nos papéis espalhados de maneira confusa diante dela.
Percebeu que estava separando os documentos e, pouco tempo depois, organizara pilhas
diferentes para avisos bancários, empréstimos, compras de imóveis, opções de compras...
Havia também numerosas cartas pedindo coisas, cartas de instituições de caridade e,
finalmente, a correspondência particular. Trabalhando automaticamente, ela esqueceu onde
estava, fascinada com a ocupação. Sentia-se atraída pela leitura de contratos de compra de
imóveis e demolições, bem como pelas diversas atividades desenvolvidas pelas firmas
englobadas no edifício onde ela trabalhava. Estava completamente imersa num outro mundo
quando Adam retornou.
Ele fechou a porta com um ruído seco, e ela levantou a cabeça.
surpresa. Imediatamente, pensou que estava fazendo algo indevido, ficou vermelha e
explicou:
— Estive organizando sua correspondência. Espero não ter feito algo que não devia.
Você se importa?
Adam sorriu.
— Acho que você pode, sempre que quiser, olhar minha correspondência — respondeu
ele naturalmente, atravessando a sala e debruçando-se sobre a cadeira. Ao perceber as
diversas pilhas que ela fizera, observou, aprovando: — Muito profissional o que fez. Gostaria
de trabalhar como minha secretária pessoal? A srta. Freemam, do escritório, vem para cá de
vez em quando para organizar meus documentos.
— Você não está falando sério! — exclamou Caroline. — Além disso, não acredito que
eu fosse capaz de trabalhar enquanto você estivesse por perto.
— E por que não? — Pelo tom voz. Adam parecia estar se divertindo enquanto brincava
com uma mecha dos cabelos dela em torno dos dedos.
— Não me provoque — Caroline aconselhou, afastando a cabeça.
Com um leve sorriso nos lábios, endireitou o corpo.
— Como preferir, meu bem. Agora você vai ligar para sua companheira de apartamento,
não é?
— Nossa! Eu já havia me esquecido. — Debruçando-se sobre a mesa, pegou o
aparelho cinzento.
— Você discutiu minha suposta personalidade com sua companheira de quarto, não é?
— ele perguntou calmamente. — Foi ela quem procurou alertá-la contra minhas intenções?
Caroline sentiu que suas faces estavam ficando coradas. — Sim, fiz isso. Mas no futuro
pretendo formar minhas próprias opiniões a respeito das pessoas — disse ela, tentando sorrir
para Adam. Os dedos dele acariciavam os ombros de Caroline, e ela sentiu o calor deles
através da lã espessa do pulôver.
— Nada de opiniões a respeito de homens — ele murmurou, encostando a boca no
pescoço de Caroline. — Sua amiga pode ter toda razão a meu respeito. Ela tem muita
experiência? Caroline riu, sentindo cócegas.
— Lembre-me depois de lhe contar uma história sobre um tal Ron Cartwrighi —
respondeu. Em seguida, voltou sua atenção à ligação telefônica. — Alô, sr. Benson,
Os Benson viviam no apartamento debaixo do de Caroline e Amanda, e sempre
mostraram ser bons vizinhos para ambas. Gostava de saber que havia um casal de mais idade
vivendo nas imediações, pessoas com quem poderiam contar em caso de necessidade. E era
o que Caroline fazia agora. O sr. Benson se prontificou a dar o recado para Amanda e, após
algumas palavras, desligou.
— Aqui estou eu, sentada justamente na cadeira que pertence ao dono da Steinbeck
Corporation! —exclamou ela, depois de desligar o telefone também.
— Por quê?
— Adam, já pensou como nossas vidas são diferentes? — perguntou ela, apoiando o
queixo sobre uma das mãos. — Já imaginou o que é viver num apartamento minúsculo, tendo
apenas o dinheiro necessário para sobreviver?
— Já passei por isso — ele respondeu surpreendentemente. — Ou acha que nasci rico?
Caroline fez uma expressão de espanto.
— Não sei muitas coisas a seu respeito. Conte-me mais.
— Está realmente interessada em saber, Carol?
— Adam, tudo o que está relacionado a você me interessa — falou com sinceridade.
— Bem, comecei a vida com um punhado de libras esterlinas quando tinha,
aproximadamente, vinte anos de idade. Comprei um terreno, que consegui por um preço barato
e que vendi com um lucro enorme. Negócios desse tipo eram consideravelmente mais fáceis
naqueles tempos. Os preços não eram idênticos aos de hoje. Se você pegar esse pequeno
negócio e imaginá-lo como uma pedrinha descendo por uma encosta cheia de neve, formando
uma avalanche, compreenderá a Steinbeck Corporation como ela é naturalmente. E claro que
tive sócios, e nós compramos firmas menores, que foram reunidas para formar a empresa que
existe hoje. E isto é tudo.
— Só isso! — exclamou ela. — É fantástico! Eu já li sobre casos parecidos, mas não
tinha a menor idéia de que fora assim que você se tornou quem é.
— Nos últimos anos, também compramos alguns imóveis nos Estados Unidos, e é por
isso que passo uma parte de meu tempo lá — Adam prosseguiu. — Obviamente, eu poderia
transferir uma boa parte do trabalho para meus sócios, mas eu gosto de trabalhar. Além disso,
desde que Lídia morreu, não tenho tido muitas outras coisas para fazer.
— Lídia? Era sua esposa?
— Exato. Ela faleceu há oito anos. Suponho que você já esteja sabendo que ela morreu
de leucemia.
— Sim — assentiu Caroline. Adam suspirou profundamente.
— Sabe, para ser bem honesto, não acredito que Lídia tivesse muito interesse em
continuar vivendo depois que John nasceu, e os negócios prosperaram continuamente. Acho
que ela gostava de ter uma vida mais simples. — Sorriu. — Agora já sabe tudo a meu respeito
— concluiu ele.
— Você a amava muito? — perguntou Caroline, sabendo que essa pergunta era uma
tortura para si mesma.
— Amor? — Adam fez um movimento ambíguo com os ombros. — Eu me casei com
Lídia quando tinha apenas vinte anos de idade. Nem sequer sabia o que era amor naquele
tempo. Ela era cinco anos mais velha do que eu e muito astuta. Lídia, certo dia, me disse que
estava grávida. Nós nos casamos logo em seguida. John nasceu doze meses mais tarde.
— Oh! — Carolina abaixou a cabeça. Tinha certeza de que Adam nunca contara isso
para qualquer outra pessoa, e ela sentiu ímpetos de correr para ele e lhe mostrar a imensidão
de seus sentimentos. Entretanto, ficou sentada onde estava.
— Desde então — ele continuou lentamente —, conheci muitas mulheres. Mas nada
teve a ver com amor.
— Compreendo.
— As mulheres de meu ambiente parecem ver sempre o milionário, e não o homem —
disse secamente.
— Não acho que isso seja completamente verdade — Caroline falou rapidamente. —
Você não está dando o devido valor a seus atrativos físicos nem a sua personalidade. Não é
seu dinheiro que me interessa, Adam.
Ele a encarou com uma expressão levemente cética.
— Nem um pouco? — perguntou suavemente. — Acho muito difícil acreditar nisso.
— Quando entrei no elevador naquele dia, no dia em que nos vimos pela primeira vez,
não tinha a mínima idéia de quem você era. No entanto, você me atraiu da mesma maneira e
com a mesma intensidade que me atrai agora.
— Entendo. — O dinheiro não a atrai nem um pouco, então?
— Não seja tolo. E lógico que o dinheiro também me atrai — ela respondeu. — Eu seria
uma boba se dissesse que não. Afinal, ninguém gosta de ser pobre a vida toda. O que estou
querendo dizer é que o dinheiro, por si só, não me atrai nem um pouquinho. Quando leio nos
jornais a respeito de garotas, adolescentes ainda, se casando com homens de setenta ou mais
anos de idade, fico... sei lá como. E se você imagina que penso dessa maneira a seu respeito,
deve estar completamente louco. — Um arrepio sacudiu todo seu corpo. — Eu nunca permitiria
que um homem desses colocasse um dedo em mim. Seria pior do que... — Sua voz falhou.
— Eu acredito que você pensa estar falando sério,— Adam murmurou, num tom de voz
meio divertido.
— Mas, realmente, estou falando sério — ela afirmou, irritada.
— Talvez eu esteja enganado — Adam admitiu, examinando-a durante algum tempo.
Depois, com um movimento de ombros, disse: — Caroline, terei de viajar na próxima segunda-
feira, depois de amanhã. Aconteceu um imprevisto.
— Quanto tempo vai ficar fora? — perguntou, esforçando-se para parecer calma, pois
não gostara da informação.
— Bem, não tenho muita certeza, mas acredito que serão uns cinco dias. Na segunda-
feira pela manhã, pegarei um avião para Nova York e quero poder ir para Boston na quarta.
Minha mãe mora lá.
— Sua mãe! — Caroline ficou surpresa.
— Sim. Você também não imaginava que eu tivesse mãe? — perguntou, sorrindo.
— Não é nada disso. Apenas pensei que ela não vivesse mais. — Meu pai morreu
quando eu ainda era muito pequeno — explicou ele. — Minha mãe é descendente de
irlandeses e, como todos seus parentes estão morando nos Estados Unidos atualmente, ela
preferiu viver lá, em vez de ficar aqui, onde as oportunidades de me ver não são muito
frequentes.
— Compreendo. — Caroline suspirou. Ela ficara sabendo muitas coisas sobre Adam
nesse dia, mas havia tantas outras que ela ainda queria saber!
— Então, vai sentir um pouco a minha falta? — ele indagou em tom de brincadeira.
— É lógico! — exclamou, no mesmo tom de brincadeira. — Quem vai me ajudar se eu
chegar atrasada no trabalho?
Adam sorriu.
— Quer que eu deixe instruções dizendo que tem permissão para chegar ao trabalho na
hora que quiser?
Caroline corou.
— Oh, não! Eu estava apenas brincando — ela disse. — Que inveja tenho de você!
Adoraria poder dizer "vou para os Estados Unidos", como se fosse a coisa mais natural do
mundo.
Ele a encarou com os olhos semicerrados.
— Vamos juntos, então — convidou-a.
O espanto era evidente no rosto de Caroline. Depois, franzindo a testa, ela pediu:
— Por favor, não faça brincadeiras desse tipo comigo, Adam.
— E quem disse que estou brincando? — replicou. — Se quiser viajar comigo, eu
arranjo tudo que for necessário.
— Se eu quiser?!
Caroline adoraria viajar com ele, mas sabia que não seria possível. A situação não era
tão simples assim, apesar de estar intimamente preparada para ser tão ousada. Afinal de
contas, era necessário pensar em tia Bárbara, em Amanda...
— Não — respondeu por fim. — Você sabia que eu não iria aceitar, não é?
— Acho que sim — Adam concordou, com um suspiro. Nesse instante, alguém bateu na
porta, e a sra. Jones entrou na sala.
— Acabei de servir a ceia para John — ela informou. — Quando ele me perguntou se o
senhor já havia voltado, eu tive de lhe contar a verdade. E ele me pediu que viesse lhe
perguntar por que não vai se reunir a eles na sala de estar.
— Tudo bem, sra. Jones — respondeu Adam, sem se preocupar, — Por favor, diga a
John que nós estamos bem aqui e que os veremos durante o café da manhã.
— Sim, senhor,
— A senhora preparou o quarto rosa da maneira que lhe pedi, sra. Jones?
— Sim. Está tudo preparado como o senhor pediu.
— Ótimo. Gostaria que mostrasse o quarto à srta. Sinclair. — Virando-se para Caroline
continuou: — Acompanhe a sra. Jones, querida. E durma bem — murmurou suavemente.
— Boa noite, Adam — disse Caroline e, obediente, acompanhou a sra. Jones ao quarto
que lhe havia sido designado.
O aposento, com banheiro privativo, ficava na parte superior da casa, e Caroline ficou
impressionada com o luxo da decoração.
Após tomar um banho, ela apagou as luzes principais, deixando acesa apenas a de um
abajur ao lado da cama. O quarto mergulhou numa penumbra dourada. Olhou seu relógio e viu
que já era quase meia-noite, hora de dormir, pensou.
De repente, ouviu uma batida na porta. Ela a abriu, e Adam entrou. Fechou-a e
encostou-se nela, sorrindo.
Caroline sentou-se na cama, surpresa pela visita inesperada. Ele ainda estava vestido e
andou em direção à cama.
— Não fique assustada — ele sussurrou. — Eu só vim para ver se tudo está em ordem
e para lhe desejar uma boa noite.
Caroline suspirou.
— Achei que você queria que eu não o atrapalhasse lá embaixo.
— Foi essa a impressão que eu lhe dei? Sinto muito, meu bem. Eu simplesmente não
queria dar motivos para a sra. Jones fazer fofocas. Afinal de contas, você é muito jovem... e
muito bonita também... — Ele mordeu o lábio inferior enquanto olhava para ela.
— Fico contente em saber que você me acha bonita — ela disse suavemente. — Este
quarto é maravilhoso.
Ele nada comentou e continuou olhando-a fixamente. Após alguns instantes, Caroline
indagou, com voz rouca:
— Suponho que este pijama seja seu, não?
— Sim — murmurou ele, enquanto seus olhos continuavam acariciando o corpo esguio
de Caroline.
Subitamente, Adam sentou-se ao lado dela, puxando-a contra si, sua boca procurando
sofregamente a de Caroline. Havia uma enorme ternura nesse beijo, uma ternura que a
conquistou com-pletamente, e, quando ela o retribuiu, ele se tornou mais agressivo, seus lábios
e língua cada vez mais exigentes.
— Adam... — ela murmurou, ofegante.
— Por Deus, Carol — disse ele, desvencilhando-se dela e le- vantando-se novamente
—, você não sabe o que faz comigo!
— Mas sei o que você faz comigo — respondeu ela, apoiando-se sobre o cotovelo, com
a gola do pijama entreaberta, revelando a curva dos seios firmes.
Adam fitou Caroline e, após um breve momento, falou num tom de voz forçado:
— Durma bem... — Em seguida, ele se retirou, fechando a porta.
Caroline virou-se de bruços na cama e começou a chorar.
CAPITULO IV
Na manhã seguinte, Caroline acordou quando a sra. Jones entrou no quarto, dizendo-
lhe:
— O desjejum está servido na sala de jantar.
— Muito obrigada, sra. Jones — agradeceu Caroline.
Mais tarde, já vestida, desceu à sala de jantar, sem qualquer dificuldade para encontrar
o caminho. A casa estava em completo silêncio. Já eram mais de oito e meia da manhã,
porém, sendo domingo, era cedo demais, até mesmo para ela.
Quando entrou na grande e bem iluminada sala de jantar, encontrou uma única pessoa,
John Steinbeck. Estava sentado à mesa, com um prato contendo ovos e bacon a sua frente,
lendo jornal.
Levantou os olhos quando ela entrou e a encarou com certa frieza.
— Bom dia — cumprimentou Caroline, sentindo-se nervosa e sentando-se do outro lado
da mesa.
John resmungou uma resposta e, num gesto rude, voltou a se concentrar na leitura do
jornal, mas lembrando-se de que, naquele instante, seu papel deveria ser o de anfitrião,
colocou o jornal de lado e lhe ofereceu algumas torradas.
— Não, obrigada — respondeu Caroline, meneando a cabeça. — Seu pai ainda está
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  • 2. PASSAPORTE PARAO AMOR "Cuidado Caroline, você está brincando com fogo. Para um homem rico como Adam Steinbeck, as mulheres não passam de brinquedos. E você está caindo direitinho na armadilha. Além disso, é impossível que um homem charmoso como ele não seja casado e com um bando de filhos" - diziam as amigas de Caroline, preocupadas com seu envolvimento cada vez mais íntimo com o poderoso chefão da empresa onde trabalhava. Porém Adam não era casado, mas viúvo e pai de um rapaz da mesma idade de Caroline e que não hesitou um só momento em mostrar seu interesse por ela CAPITULO I Adam Steinbeck passou rapidamente pelas portas vidro do edifício da Steinbeck Corporation, na Park Lane, no centro de Londres. Era um homem alto e de ombros largos, vestia um terno escuro e um sobretudo de couro de carneiro, demonstrava muito poder e segurança. Quando entrara, além do bom-dia costumeiro dos porteiros e da recepcionista, instalara-se no ambiente uma leve sensação de mal-estar, e Adam respondera à saudação com um sorriso seco. Sabia perfeitamente que, ao desaparecer do saguão, um telefonema apressado avisaria aos membros de sua equipe que ele se encontrava no prédio. Raramente ia ao escritório pela manhã. Entrou no elevador e, quando a porta estava quase se fechando, ouviu a voz de alguém muito jovem. — Oh, por favor, espere um instante! Com um leve franzir de testa, Adam viu uma garota cruzando apressadamente o saguão em sua direção. Tinha cabelos longos, lisos e loiros, um corpo alto e esguio, e trazia um casaco de lã azul-marinho e uma bolsa na mão. Seu comportamento deixava bem claro que ela não tinha a menor idéia a respeito da identidade de Adam, e os funcionários olharam, perturbados, para ele, que fez um gesto com os ombros, afastando-se um pouco para que a garota entrasse no elevador. — Muita obrigada — ela agradeceu, com um sorriso. Adam fechou a porta. — Você trabalha aqui? — perguntou, desconfiando que ela provavelmente fosse funcionária de sua firma. Já era quase nove e meia da manhã; obviamente, ela estava atrasada. — Sim — respondeu a jovem, esforçando-se para normalizar a respiração ofegante. — Trabalho na central de datilografia. No setor da srta. Morgan. — Fica no terceiro andar, não é mesmo? — Exato. Estou terrivelmente atrasada, e ela com toda a certeza vai chamar minha atenção. Mas nós simplesmente não ouvimos o despertador tocar hoje de manhã, apesar de Mandy jurar que o regulou ontem à noite. — Mandy? — Amanda Burchester, a garota que divide o apartamento comigo. Bem, não chega a ser um apartamento de verdade, são apenas dois cômodos. Amanda está aprendendo a ser vitrinista nas Lojas Bailey. — Compreendo. — Adam sentiu-se estranhamente atraído pela garota. Era tão diferente das mulheres que ele conhecia e, como não sabia quem ele era, falava livremente, sem qualquer inibição.
  • 3. — Nunca vi você antes — continuou ela, erguendo o olhar para ele. — Se tivesse visto, tenho certeza de que me lembraria. Todos os homens que conheço são de minha altura. Tenho um metro e setenta e cinco, mas perto de você pareço baixa. — Se isso for um elogio, obrigado. Acho que este é o seu andar, não? — Nossa! Só faltava mesmo me esquecer de descer aqui. — Eu não deixaria que isso acontecesse — disse Adam. — Você trabalha aqui também? Então, está atrasado como eu. Estou aqui há apenas duas semanas, por isso ainda não conheço todos os funcionários — explicou ela, saindo do elevador. — Sim, também trabalho aqui — respondeu ele, com um leve sorriso. — Espero que você não tenha muitos problemas com sua chefe. — Eu também espero — ela falou, com um suspiro. — Bem, até logo. Talvez a gente se encontre outra vez qualquer dia desses. — É possível —Adam disse e fechou a porta do elevador, antes de apertar o botão que o levaria ao último andar do edifício. Seu escritório estava localizado na cobertura do prédio, juntamente com as salas dos diretores e o imponente salão de reuniões. Adam tinha uma equipe própria de datilógrafas e um assistente pessoal, John Mercer, que ocupava a sala ao lado da sua. Ao entrar na ante-sala de seu escritório, viu sua secretária particular trabalhando diligentemente, como se não percebesse sua chegada. Laura Freeman tinha trinta anos e trabalhava para ele havia mais de dez. O penteado severo, que geralmente conferia um ar de austeridade à maior parte das mulheres, funcionava de maneira diferente em Laura, sublinhando a beleza clássica de seus traços e dando-lhe uma aparência de objetividade. Adam sabia muito bem os sentimentos que a secretária nutria por ele, mas não se sentia pessoalmente atraído por ela. As relações entre ambos permaneciam num plano puramente profissional, o que causava uma certa mágoa a Laura. Quando fechou a porta, ela ergueu os olhos e, ao vê-lo, levantou-se imediatamente. — Sr. Steinbeck! — exclamou, como se estivesse surpresa com a presença dele. — Nós não o esperávamos aqui no escritório hoje pela manhã. — Ora, vamos, Laura — disse Adam, num tom de leve repreensão, enquanto cruzava o recinto em direção a sua sala. — Duvido que o pessoal do saguão não tenha ligado para cá ainda há pouco. Eu quase pude ouvir os telefones tocando enquanto subia de elevador. — A correspondência está sobre a mesa — informou ela. — O senhor quer ditar alguma coisa? — Não se incomode por enquanto, eu a chamarei quando for preciso. Ah, Laura, por favor, telefone para a srta. Morgan. Quero falar com ela imediatamente. — A srta. Morgan da central de datilografia? — perguntou Laura, espantada. — Existe alguma outra? — respondeu Adam, entrando em sua sala e fechando a porta atrás de si. Caroline Sinclair estava tomando o café da manhã em companhia de uma colega, Ruth Weston, também datilógrafa. Eram dez e trinta. Nesse horário, as datilógrafas tinham sempre um intervalo de dez minutos para tomar café. — Pago dez centavos por seus pensamentos — falou Ruth, forçando Caroline a sair de suas divagações. — Não é nada importante. Estava apenas querendo entender por que a srta. Morgan foi tão compreensiva comigo hoje cedo. Quando cheguei atrasada pela primeira vez, ficou furiosa. Mas hoje simplesmente disse que sabia que os despertadores às vezes não funcionavam e pediu para que eu me apressasse para evitar um acúmulo de trabalho. Ruth, que já tinha dezenove anos e que era dois anos mais velha do que Caroline, arqueou as sobrancelhas. — Céus! — exclamou. — Você está aqui há apenas duas semanas, e eu nunca vi a srta. Morgan compreender que alguém possa perder a hora. Muito menos ao se tratar de uma funcionária nova. Talvez ela, finalmente, tenha arranjado um namorado. Caroline riu.
  • 4. — Ruth! Cuidado, ela pode ouvir o que você diz! Ah, isso me fez lembrar uma coisa: hoje de manhã, eu subi de elevador com um dos homens mais bonitos que já vi em toda minha vida. — Verdade? — perguntou. — Jovem, velho ou mais ou menos? — Devia ter uns trinta e poucos anos, calculo — respondeu Garoline. — Bem mais velho do que você, não é? — indagou Ruth, com uma ponta de reprovação. — E daí? — replicou Caroline. — Eu prefiro homens maduros. Não gosto de rapazinhos. Eu sempre tenho vontade de bocejar quando estou com eles. — E como era o tal homem? Alto ou baixo? Com barriga ou sem? — Alto, de ombros largos e muito atraente — murmurou Caroline, sorrindo. — Seus cabelos eram pretos, bem curtinhos e espessos. Ele é exatamente o que eu chamo de homem bonito. — Ora, Caroline! Você deve estar brincando! Falar desse jeito de um homem que provavelmente é velho o suficiente para ser seu pai. Eu acho que Mark Davidson deveria fazer mais o seu gênero. Ele está tentando convencer você a sair com ele, não é? — Mark Davidson não passa de um colegial um pouco mais crescido, Ruth. E o pior é que ele se julga o grande presente de Deus para todas as mulheres. Mark trabalhava num outro departamento, no mesmo prédio, e já saíra com quase todas as garotas da central de datilografia, inclusive com Ruth. Caroline, na condição de novata, estava atual-mente merecendo as atenções dele, mas ela não estava interessada. — Bem, não importa — prosseguiu Ruth. — Afinal de contas, quem é esse homem? Em que andar ele desceu do elevador? — Não sei. Quando eu desci, ele continuou subindo — respondeu Caroline. — Você conhece todos os homens que trabalham aqui neste prédio? — Não, não todos — falou Ruth. — Existem tantos departamentos diferentes. Mas é claro que conheço muitos deles de vista, pelo menos. O pequeno apartamento que Caroline dividia com Amanda ficava numa velha mansão, adaptada para poder receber muitos inquilinos e localizada num beco, com uma única saída para a King's Road. Anteriormente, a mansão fora a residência de uma senhora nobre e, agora, reformada, abrigava diversas pessoas. Os pais de Caroline morreram num desastre de automóvel quando ela tinha apenas três anos de idade, e ela fora criada por uma velha tia. Há seis meses, quando Amanda descobriu o apartamento, convidou Caroline para morar com ela. Caroline ficou entusiasmada, pois tia Bárbara, embora fosse uma doce velhinha, não era a companhia ideal para uma garota. A tia, por sua vez, mostrou-se muito compreensiva e permitiu que Caroline experimentasse a liberdade. As duas jovens conheciam-se desde os tempos da escola primária e achavam que iria ser muito divertido dividir um apartamento. Caroline era menos extrovertida, mas Amanda tinha um fluxo constante de flertes e namorados, alguns dos quais acabavam desviando as atenções para Caroline. Entretanto, o fato de ela ser muito alta, frequentemente provocava uma retração de interesses desses rapazes; além disso, é claro, os rapazes que Amanda julgava atraentes nem sempre o eram para Caroline. Amanda tinha cabelos ruivos e dezoito anos de idade. Seus pais viviam atualmente no norte da Inglaterra, e ela não quis sair de Londres quando eles o fizeram. Por causa dessa mudança dos pais, Amanda fora obrigada a procurar um apartamento para si mesma. Os rapazes tinham uma importância secundária para Caroline. Ela gostava muito de ler e de visitar galerias de arte. Via quase todas as exposições e adorava todas as oportunidades de se informar melhor a respeito dos artistas. Além disso, ela também gostava muito de música clássica, e Amanda nunca conseguiu compreender como a amiga era capaz de passar uma noite inteira dançando loucamente numa discoteca e na noite seguinte extasiar-se com o Concerto para Piano e Orquestra de Grieg. Ao acordar, certa manhã, Caroline foi à janela e percebeu que uma espessa neblina
  • 5. impossibilitava quase toda a visibilidade. Bem depressa, fechou novamente as pesadas cortinas e soltou um suspiro profundo. Depois olhou para Amanda, que fazia caretas, perturbada pela luz que Caroline acendera. — Vamos, levante-se, Mandy — disse Caroline, com a voz ainda embargada pelo sono. — A neblina lá fora parece intransponível, e só Deus sabe quanto tempo levaremos para chegar ao trabalho. — Oh, Deus! — murmurou Amanda, num tom de grande infelicidade. — Eu não estou bem, Caroline. — Eu também não estou — respondeu Caroline, olhando rapidamente na direção da amiga, antes de se dirigir ao banheiro, para escovar os dentes. — Estou falando sério — insistiu Amanda, com voz rouca, voltando a se encostar nos travesseiros. — Acho que peguei uma gripe. Eu sempre fico gripada em novembro. — Vamos trabalhar, moça — Caroline chamou, enquanto enchia a chaleira de água na torneira que existia no pequeno canto da sala, que elas tinham transformado em cozinha. — Acho que não vou conseguir — replicou. Amanda. — Caroline, por favor, prepare-me uma xícara de chá com um pouco de xerez? — Claro que sim — concordou Caroline, apressando-se em atender ao pedido da amiga. — Vou ter de ser rápida, senão chego atrasada ao serviço mais uma vez. — Não se preocupe com isso — resmungou Amanda. — Afinal de contas, ninguém pode exigir pontualidade numa manhã como esta. Além disso, é possível que você consiga encontrar o homem de seus sonhos. — Mandy, você é incorrigível! Quando o chá ficou pronto, Caroline gritou para Amanda, que continuava deitada: — Você quer comer alguma coisa? — Não. Quero apenas uma aspirina — respondeu, mal humorada. — Acho que, se ficar na cama e dormir durante o dia inteiro, logo estarei boa. — Mas não exagere — disse Caroline, com severidade. — Vou tentar vir para casa na hora do almoço para preparar alguma coisa para você comer. — Deu-lhe o chá. — Onde você guardou as aspirinas? Alguns minutos mais tarde, Caroline, antes de sair para o trabalho, certificou-se de que Amanda tinha tudo de que pudesse necessitar. O tempo não fora suficiente para que ela mesma tomasse seu café da manhã, sendo assim, contentou-se com uma xícara de chá, sorvido rapidamente. Lá fora o frio era intenso. A neblina cobria tudo de melancolia, e saber que os longos meses de inverno mal haviam começado não era muito agradável. Ficou parada no ponto de ônibus, até que, finalmente, um apareceu, e ela o apanhou, ficando espremida entre os demais passageiros. O veículo locomovia-se lentamente em meio ao tráfego congestionado. Eram nove e quarenta e cinco quando conseguiu chegar ao saguão do Edifício Steinbeck. Tinha certeza de que dessa vez seu atraso não seria perdoado e de que seria despedida. Afinal, era o terceiro atraso em pouco menos de um mês de firma. A situação era séria. Ao atravessar o saguão, sentiu-se pequena e amedrontada. Não havia nem sinal do simpático desconhecido que ela, mais ou menos inconscientemente, tinha esperado encontrar, e a srta. Morgan estava tão irritada quanto ela imaginara que estaria. Caroline mal havia entrado pela porta, quando sentiu os olhos de sua chefe fitando-a impassiveímente. — Você percebeu, Caroline — esbravejou ela —, que, durante um período de apenas três semanas, você conseguiu chegar três vezes atrasada? — Sim, srta. Morgan — respondeu Caroline, com esforço. — É que a garota que divide o apartamento comigo amanheceu com gripe, e eu não pude sair de casa sem antes lhe fazer pelo menos uma xícara de chá. — Guarde suas desculpas e explicações para o chefe do departamento pessoal — replicou ela friamente. — Desta vez, estou firmemente resolvida a enviar seu caso à administração. Não admito seu comportamento relaxado. Já está fugindo a meu controle! — Mas, srta. Morgan... — Caroline tentou explicar mais uma vez.
  • 6. — Não estou interessada no que tem a me dizer — falou a chefe. — E vamos acabar com este desperdício de tempo. Vá para a máquina de escrever e faça seu trabalho. Caroline aproximou-se de sua mesa, sentindo que as lágrimas estavam muito próximas. Percebeu que Ruth a olhava com simpatia, mas não teve coragem de retribuir o gesto. Além de tudo, a neblina persistia, e Caroline começava a se apavorar com a idéia da correria durante a hora do almoço, indo até seu apartamento para cuidar de Amanda e depois voltando às pressas ao escritório. Tudo isso em apenas uma hora. Ela foi chamada à sala do sr. Donnelly às onze horas. O sr. Donnelly era o chefe do departamento pessoal, e quando Caroline o vira pela primeira vez, por ocasião de sua entrevista, antes de ser admitida na firma, achou-o simpático e agradável. Nesse dia, entretanto, ele estava longe de ser um homem agradável. Após ouvir as lamentações de Vera Morgan, ele estava irritado, e a insinuação de que ele, provavelmente, estava perdendo o domínio de suas excelentes qualidades profissionais, caso contrário não teria contratado Caroline Sinclair, nada ajudara para melhorar seu estado de espírito. — Caroline Sinclair, você já percebeu que eu poderia despedi-la imediatamente por causa disso? — indagou ele, nervoso. — Você não deu valor algum à confiança que lhe foi depositada. Principalmente à confiança que demonstrei ter. Sou responsável por sua contratação. E, agindo dessa maneira, você está simplesmente comprometendo minha recomendação! — Oh, não, sr. Donnelly! — exclamou Caroline. — Em situações normais, sou uma funcionária pontual. O caso é que minha colega de apartamento amanheceu com gripe, e eu tive de cuidar dela antes de sair de casa. E com essa neblina... — Você me colocou numa situação extremamente desagradável — disse ele após algum tempo. Suspirou profundamente. A preocupação dela era mais do que óbvia, e era evidente também que ela não queria perder o emprego. — Muito bem, então — decidiu ele. — Vou lhe dar mais uma chance. Porém, qualquer falha sua em relação ao horário combinado significará seu desligamento imediato da empresa. Está bem claro? — Sim, senhor — respondeu Caroline, com o coração em ritmo acelerado. Como ela iria se arranjar na hora do almoço? Sentiu-se tentada a perguntar se ele poderia lhe dar quinze minutos de tolerância, mas decidiu não arriscar. O sr. Donnelly tinha sido muito justo, e um pedido desse seria demais, até mesmo para ele. Quanto a pedir a permissão de chegar quinze minutos mais tarde à srta. Morgan... nem pensar. Quando voltou a sua mesa, passou a fazer o trabalho de maneira automática. Mentalmente, calculava o tempo necessário para fazer tudo o que era preciso. Uma hora não iria ser suficiente. Ela gastaria quase metade desse tempo só para chegar em casa, e isso se tivesse sorte de pegar um ônibus. Quanto à volta... Na hora do almoço, Ruth foi para o refeitório, enquanto Caroline desceu correndo as escadas, não se preocupando em esperar pelo elevador. Apressada, atravessou o saguão e saiu pelas portas de vidro. A neblina já não estava tão densa quanto pela manhã. Em sua pressa em chegar ao ponto de ônibus, Caroline chocou-se contra um homem que vinha em sentido oposto. — Oh! Eu sinto muito, muito mesmo — ela começou a dizer, mas parou quando viu quem a estava fitando. — Ah! É você! — Era o homem do elevador. — Srta. Sinclair? — perguntou ele. — Sim, mas... como sabe meu nome? Ele sacudiu os ombros e ignorou a pergunta dela. — Parece que você está com muita pressa. Caroline lembrou-se de que estava perdendo tempo e sorriu. — Pois estou mesmo. É uma história longa demais para lhe contar agora, mas eu quase perdi o emprego hoje de manhã e já estou me arriscando outra vez. Tenho certeza de que vou chegar atrasada à tarde. — Soltou um suspiro profundo. Adam hesitou durante um instante e depois disse: — Talvez eu possa lhe dar uma carona... — Uma carona? — Caroline estava incrédula. — De carro?
  • 7. — Eu não estou me oferecendo para carregar você em minhas costas — ele falou secamente. Ela começou a rir. — Mas você não está indo para a mesma direção que eu — argumentou Caroline. — Isso pode ser mudado sem problema algum. Meu carro está estacionado logo ali. Se você quiser a carona, é só dizer. — Ótimo! — exclamou ela, aliviada. — Aceito. — Muito bem. — Adam colocou a mão no cotovelo dela e a guiou rapidamente pela rua movimentada. Caroline estava muito consciente da proximidade física dele e também de sua aparência atraente. O carro era um Rolls-Royce. A direção estava um motorista uniformizado. Quando Adam se aproximou, ele saltou do carro e indagou: — Tão cedo, senhor? — Pois é, Jules — respondeu o companheiro de Caroline, com voz pausada. — Mas eu mesmo pretendo dirigir. Suba ao escritório e explique que tenho outro compromisso e que provavelmente vou me atrasar bastante. — Pois não, senhor — disse o funcionário. Quando o motorista se afastou, Caroline olhou curiosa para o homem a seu lado. Quem seria ele para poder se dar ao luxo de ter um Rolls-Royce com motorista particular? Adam sorriu quando percebeu que ela estava pouco à vontade. — Não fique com esse ar tão preocupado — ele falou. — Eu posso lhe garantir que o carro é meu mesmo. — Não estou duvidando disso — replicou ela, suspirando e permitindo que ele a ajudasse a se acomodar no banco. Após fechar a porta, deu a volta e se acomodou ao lado dela. — E agora — Adam começou a dizer, antes que ela tivesse tempo de formular qualquer pergunta —, para onde quer que eu a leve? Caroline deu-lhe seu endereço e ficou imaginando se ele estaria ou não esperando um convite para entrar quando chegassem lá. Ela esperava que ele não quisesse entrar. O prédio antigo não era exatamente do tipo que ela teria escolhido por livre e espontânea vontade. O percurso que ele fez, passando por algumas ruas que Caroline não conhecia, levou-os até sua casa num instante. Como eles tinham evitado as avenidas principais, o tráfego não estava congestionado, e, apesar de Caroline estar certa de que nunca encontraria outra vez seu caminho em meio a toda aquela neblina, era óbvio que esse homem conhecia Londres muito bem. Eles não conversaram muito durante o percurso, e, quando o carro estacionou, Caroline procurou descer o mais rapidamente possível. — Um momento — disse ele, — Quanto tempo você vai ficar aí? — Eu não posso ficar muito tempo —, respondeu Caroline, desconfiada e com os olhos levemente arregalados. — Então eu espero — ele falou surpreendentemente. Caroline ficou espantada. Murmurando um rápido "obrigada", saiu do carro, fechou a porta com cuidado e afastou-se correndo em direção à entrada do prédio. O apartamento ficava no primeiro andar, e logo depois ela estava abrindo a porta e entrando. Consultou o relógio e constatou que ainda lhe sobravam quarenta e cinco minutos. Amanda continuava deitada, um pouco febril. — É você, Caroline? — perguntou, com voz anasalada. — Por quê? Está esperando alguma outra pessoa? — replicou Caroline, alegre. — Como está se sentindo? — Entrou no quarto. — Não tão bem quanto eu gostaria — respondeu Amanda, forçando um sorriso. — Você chegou cedo. Acha que eu poderia tomar uma sopa? Estou com fome. — Acho que não há problema algum — disse Caroline, tirando as luvas. — Se está com apetite, é sinal de que está se recuperando. — Dirigiu-se depressa para a cozinha, encheu a chaleira de água e a pôs no fogo, antes de abrir a lata de sopa.
  • 8. Quando a água da chaleira começou a ferver, trocou a água da bolsa de Amanda e aproveitou para fazer mais um pouco de chá. Depois, colocou a lata de sopa dentro de uma panela com água, para aquecê-la em banho-maria. — Você teve problemas na firma hoje pela manhã? — perguntou Amanda, com sua voz nasal, quando Caroline colocou uma bandeja com sopa quente, torradas e chá diante dela. — Bem, eu ainda não fui despedida — falou Caroline, fugindo da pergunta. Não queria que Amanda se preocupasse com ela. Quanto a lhe contar que aceitara uma carona de um homem desconhecido.— Bem, isso era totalmente impossível Amanda iria pensar que ela era uma perfeita tonta, afinal de contas, ela nada sabia a respeito dele. — Preciso ir — disse Caroline rapidamente. — Eu não quero chegar atrasada outra vez. — Mas, Caroline, você ainda tem meia hora e não comeu absolutamente nada. — Eu estou sem apetite — mentiu Caroline, sentindo um vazio no estômago. — De qualquer maneira, se eu sentir fome, sempre posso pegar um sanduíche lá no refeitório da firma. — Como quiser. Muito obrigada por tudo e cuidado no caminho. Vamos torcer para que eu esteja me sentindo melhor à noite. Tenho um compromisso com Ron. Bon Cartwright era seu atual namorado. Um repórter novato do Daily Southenner, que se comportava como se fosse, no mínimo, o editor-chefe. Essa era a opinião de Caroline. — Tire essa idéia da cabeça, você não vai sair — disse Caroline, indignada. — A temperatura lá fora está baixa, além disso, a umidade e a neblina só vão fazer sua gripe piorar. — Está bem, está bem, foi só uma idéia — falou Amanda. — Pois é melhor esquecer essa idéia maluca — afirmou Caroline, com um sorriso. — Eu preciso ir agora. — Foi até a porta.— Espero estar de volta até as cinco e meia. — Não se perca no caminho. Caroline desceu as escadas correndo e chegou à rua. O frio a deixou entorpecida e, sentindo-se muito nervosa, aproximou-se do carro. Em sua ausência, Adam manobrara o carro e, quando ela o alcançou, ele abriu a porta por dentro, e Caroline entrou e sentou-se ao lado dele. — Muito bem — disse Adam, enquanto ela fechava a porta. — Deu tempo para fazer tudo o que você queria? — Deu, sim, senhor — respondeu Caroline respeitosamente. Ele franziu a testa. — Por que está me chamando de senhor agora? Caroline encolheu os ombros. — Bem, o senhor deve ser alguém bastante importante para ter um carro como este — respondeu ela, com bastante cuidado. — Eu não sei quem é, e, se me permite dizer isto, o senhor também não parece estar muito interessado em me contar. É casado e está com medo de que sua esposa descubra alguma coisa? Oh, espero que isto não tenha soado como uma ofensa! — Não sou casado — afirmou ele —, e você pode me chamar de Adam. Isto a deixa satisfeita? — Sim, senhor... quero dizer, sim, Adam — respondeu, sentindo-se uma tola. Ele ligou o motor, e o carro se afastou do meio-fio. Quando chegaram à avenida, porém, ele virou o carro para o sentido oposto, e Caroline percebeu que eles não estavam indo em direção ao Edifício Steinbeck. — Para onde você está me levando? — perguntou, tentando aparentar calma, apesar de estar tremendo interiormente. — A uma estalagem que eu conheço perto de Lingston — respondeu ele naturalmente. — Imagino que você ainda não comeu. Durante um bom almoço, você vai poder me contar todos os seus problemas. — Mas eu preciso estar no escritório dentro de vinte minutos — argumentou. — Por favor, leve-me de volta. — Não se preocupe com isso — murmurou ele, achando graça na expressão do rosto dela. — Eu prometo que falo pessoalmente com a srta. Morgan, acalme-se. O corpo tenso de Caroline, de repente, ficou lânguido. O que lhe restava fazer agora? Fora tola e estava pagando por isso. Adam podia fazer com ela o que quisesse! Levá-la para
  • 9. onde bem entendesse! A culpa era apenas dela, por ter confiado nele. Por causa disso, ficou ainda mais atônita quando, algum tempo mais tarde, o potente veículo passou pelos portões de ferro batido de uma entrada que levava a uma imponente fachada de casa de campo. Sobre a porta principal pendia uma tabuleta com o nome da estalagem: "A Chaleira de Cobre". Percebendo a entrada deles, o maitre se aproximou rapidamente para cumprimentá-los. — A mesa de sempre, sr. Steinbeck? — perguntou educadamente, ao mesmo tempo que seus olhos examinavam o casaco de lã azul de Caroline, chegando à conclusão de que o material não era de primeira qualidade, — Sim, obrigado, André — respondeu Adam, querendo se dirigir à mesa. Mas Caroline ficara como se estivesse petrificada ao ouvir as palavras do maitre. — Steinbeck — sussurrou ela, a voz tomada de espanto. — Oh, céus! O restaurante estava cheio, mas uma mesa ao lado da janela esperava por eles. André se incumbiu de instalá-los confortavel-mente e depois apresentou o cardápio com gestos refinados. Muitos dos presentes cumprimentaram Adam e Caroline, que agora, sabendo quem ele era, sentiu-se constrangida e deslocada. Ela gostaria que ele não fosse alguém tão importante. Se Adam fosse uma pessoa comum, talvez pudesse vir a se interessar por ela. Porém, agora que sabia sua identidade, tinha certeza de que qualquer interesse por parte dele não passaria de mera curiosidade. Ela devia ter adivinhado tudo no dia em que o encontrou no elevador. Pelo corte impecável de suas roupas, ele não poderia ser um funcionário. Adam perguntou-lhe se tinha preferência por algum prato especial. Caroline sacudiu a cabeça e ficou aliviada quando ele disse que escolheria por ela. Caroline não tinha a menor idéia do que fazer com aquele extenso cardápio. Quando terminou de pedir os pratos ao garçom, apareceu um segundo garçom com a lista de vinhos, o que levou a uma segunda discussão a respeito dos méritos de cada safra. Olhando em torno, Caroline sentiu-se extremamente consciente das limitações do vestido vermelho tipo jardineira, que usava sobre uma blusa branca. Ela estava certa de ser o assunto das conversas de todas aquelas mulheres elegantemente trajadas. Deviam estar tecendo conjeturas a respeito dos possíveis motivos que levaram um homem como Adam Steinbeck a almoçar com ela, quando era óbvio que ele estava muito mais acostumado a conviver com pessoas da alta sociedade. De repente, seus olhares se encontraram. Adam percebeu que ela o estava observando fixamente. Caroline tentou disfarçar e tomou um gole de martíni. O resultado era previsível, e ela engasgou. Sua tosse chamou a atenção de todo mundo. Adam, entretanto, não se perturbou e disse suavemente: — Acho que você não deveria beber, não é? Caroline enrubesceu novamente. — Tenho quase dezoito anos — respondeu, embaraçada. — Quase. Não é suficiente — afirmou ele. — Porém, aqui e agora, apenas nós dois sabemos que estamos infringindo as leis, portanto, não há nenhum mal nisto. — Por que você não me disse logo que é Adam Steinbeck? — perguntou ela após uma pausa. Ele fez um movimento com os ombros. — Para mim foi uma experiência nova ser tratado como um simples funcionário da firma. Achei muito agradável. — Eu nunca sei quando está falando sério ou não — disse ela, revelando sua juventude e sua vulnerabilidade. — Não sabe? — Sorriu ele. — Talvez até seja bom — acrescentou enigmaticamente. — Tenho a impressão de que você gostou do almoço — disse ele, mudando de assunto. — É muito! — exclamou Caroline. — Foi fabuloso! Nunca comi como hoje, num lugar assim. — Enrubesceu. — Devo parecer bem tola. — Não. Apenas muito jovem — replicou ele, com voz macia. — Agora, conte-me o que aconteceu hoje pela manhã. — Ah, o meu atraso... — falou, fazendo uma careta. — Amanda amanheceu gripada, e,
  • 10. antes de sair de casa, tive de tomar uma série de providências para ter certeza de que não iria precisar de alguma coisa. Só fiquei sabendo que ela não estava passando bem quando acordei, por isso cheguei atrasada. A neblina também atrapalhou, e, ao entrar na central de datilografia, a srta. Morgan estava furiosa. Eu não tiro a razão dela, pois já eram quase dez horas. Tentei explicar, mas ela se recusou a ouvir e foi se queixar ao sr. Donnelly. As onze, ele me chamou e, apesar de estar furioso, acho que compreendeu o ocorrido. Sabe, a srta. Morgan é bastante agressiva, e o pobre coitado fica sem saber qual é a melhor atitude a tomar. — Verdade? — Adam parecia estar intrigado. De repente, Caroline se lembrou com quem estava conversando. Perturbada, acrescentou rapidamente: — Você não vai criar problema por causa disso, vai? Eu realmente não gostaria de criar problemas para ninguém. — Não se preocupe. Prometo que vou considerar tudo o que você me disse confidencialmente. Mesmo assim, acho que a srta. Morgan deveria se controlar um pouco. — Riu, satisfeito. — Então, Donnelly resolveu não despedir você, não é? — Sim. Com a condição de que eu nunca mais chegue atrasada. Caso isto aconteça, serei demitida imediatamente. — Ela consultou o relógio. — O que agora já parece uma piada. Você sabe que são quase três horas? Ele se recostou preguiçosamente, observando a expressão perturbada do rosto dela. — Eu já lhe disse para não se preocupar com isso. Tenho certeza de que você não vai ser despedida hoje. Eu lhe dou minha palavra. — Honestamente, isto mais parece ser um sonho maluco. Ainda não posso acreditar que seja verdade. Sei que estou sentada aqui, mas tudo me parece fantástico demais. — Mas você está gostando, não está? — perguntou, interessado. — Como haveria de não gostar? — replicou, suspirando. — Foi tudo tão maravilhoso! — Então, estou feliz — disse ele. — Vamos? Alguns minutos depois, estavam dentro do Rolls, a caminho da cidade. Caroline sentia- se estranhamente deprimida. Tudo fora tão excitante e inesperado e agora se aproximava do fim. Pouco depois, chegaram ao Edifício Steinbeck, e Adam estacionou o carro no mesmo lugar onde estava antes, aparentemente o lugar era reservado para ele. Assim que o carro parou, Caroline, num impulso, virou-se para ele. — Eu realmente não sei como lhe agradecer — disse, — Foi um almoço fabuloso, e só espero não ter atrapalhado demais. Adam sorriu e apoiou os braços sobre o volante. — Você não atrapalhou nem um pouco — respondeu, bem-hu-morado. — Escute, aceitaria um convite para jantar comigo numa noite dessas? Caroline sentiu as faces rubras. — Eu?! — exclamou. — Ora, eu... Você tem certeza de que realmente é o que quer? Adam continuava sorrindo, — Acha que se eu não quisesse eu a convidaria? Que tal amanhã? Caroline não disfarçou o contentamento. De repente, aquele dia sombrio se tornou quase ensolarado. — Eu adoraria. — Ótimo. Estarei esperando diante de seu prédio às sete da noite. Ou será cedo demais? — Para mim parece perfeito — respondeu ela. — Acho melhor subir agora. — Espere um pouco — ele pediu, saindo do carro. — Também tenho de entrar. E estou bastante atrasado. — Mas você não vai querer ser visto comigo — ela protestou e ficou surpresa com a mudança que ocorreu no rosto de Adam, até então bem-humorado. — Você tem alguma objeção? — perguntou. — Lógico que não! — respondeu ela. — Então, nunca mais repita isso — disse ele secamente. Em seguida, colocou a mão no braço de Caroline e, com firmeza, conduziu-a em direção à entrada do prédio. Eram três e quinze, e as pernas de Caroline tremiam um pouco. Suas preocupações
  • 11. deveriam estar se refletindo no rosto, pois ele lhe sussurrou: — Relaxe. Eu já lhe falei que não vai lhe acontecer coisa alguma. Assim que entraram no imponente saguão do Edifício Steinbeck, imediatamente se tornaram alvo de todos os olhares. A intimidade do relacionamento deles logo se tornou visível para todos, e Caroline, sentindo isso, desvencilhou o braço. Os funcionários do saguão estavam obviamente surpresos, e, assim que entraram no elevador, Adam lhe perguntou, com voz muito calma: — Você ficou embaraçada. Por quê? — Estava pensando em você. — Pensando em mim? O quê? Que sou muito mais velho que você? — Ele parecia estar se divertindo com a situação. — Não — Caroline negou com veemência. — É que o pessoal da portaria adora uma fofoca, e, antes da hora do lanche, o prédio inteiro vai ficar sabendo que chegamos juntos. — E daí? — perguntou. Ele estava encostado na parede do elevador. Já estavam parados no terceiro andar, mas Adam parecia não ter a mínima intenção de abrir a porta. — Bem, você não se importa? — ela indagou, ofegante. — Acha que eu deveria me importar? — replicou ele, sacudindo os ombros. — O que faço não é da conta de ninguém. Tem certeza de que não é você mesma que não gosta da situação? — De maneira alguma! — exclamou Caroline. — Para ser honesta, até gostei muito de me sentir importante uma vez na vida. — Então continua querendo jantar comigo amanhã à noite? Caroline arregalou os olhos, num gesto indefeso. — É claro! Já estou contando com isso. — Otimo. — Em seguida, ele abriu a porta do elevador, para que ela pudesse sair. — Então, nós nos encontraremos conforme foi combinado. — Ele sorriu. — Espero que não tenha problemas com a srta. Morgan. Foi realmente impressionante, pensou Caroline mais tarde. A srta. Morgan sabia ser extremamente simpática quando isso lhe interessava. No momento em que entrou na sala, ficou bem claro que Vera Morgan havia sido avisada de que Caroline chegaria atrasada ao trabalho. De maneira muito bem-educada, perguntou a Caroline se tinha se divertido bastante e depois acrescentou que as outras garotas poderiam ajudá-la caso não conseguisse terminar seu trabalho sozinha, No entanto, Caroline achou que não seria justo transferir uma parte de seu serviço a suas colegas, já bastante ocupadas. Assim, lançou-se com afinco ao trabalho. Às cinco horas da tarde, já conseguira recuperar quase todo o atraso. Pelo menos o suficiente para informar a srta. Morgan de que seria capaz de continuar com o ritmo normal na manhã seguinte. Quando Caroline chegou em casa, encontrou Amanda de pé e vestida, apesar de sua aparência pálida e fraca. — Você deveria ter ficado na cama — falou Caroline, ao sentar-se para comer a fritada de ovos e linguiça preparada por Amanda. Na verdade, Caroline não estava com muito apetite depois do suntuoso almoço daquele dia, mas fez questão de demonstrar que a fritada estava deliciosa para não magoar a amiga. — Impossível, meu bem — respondeu Amanda, que comeu apenas uma salsicha e uma fatia de pão. — Como Ron chegará aqui às seis e meia, eu tinha de fazer alguma coisa. Caroline não escondeu sua desaprovação. — Você não vai sair hoje à noite — disse com tanta ênfase que Amanda não conseguiu reprimir o riso. — Está bem, está bem, mas não exagere em seu papel de super mãe — respondeu, suspirando. — Eu só queria estar com uma aparência razoavelmente apresentável quando ele chegasse, só isso. Porém estou me sentindo como se estivesse morrendo em pé. Amanda estava longe de parecer uma garota saudável. Quando Caroline entrou no quarto e estava prestes a pedir para que a amiga voltasse para a cama, ouviram a campainha da porta tocar. Caroline foi atender e deixou Ron entrar. Como sempre, ele parecia estar muito
  • 12. contente, mas parou, assustado, ao ver o aspecto de Amanda. — Deus do céu! — exclamou, recuando um passo. — Há um fantasma solto nesta casa! Amanda trocou um olhar com Caroline. — Acho que não é para tanto — Amanda falou, forçando um sorriso. — Mas, boneca... você está realmente meio fantasmagórica. O que aconteceu? — Ela está terrivelmente gripada — explicou Caroline. — E tenho certeza de que você não quer pegar gripe também, não é? — Essa última frase foi muito incisiva. — Essas coisas acontecem — disse, instalando-se no sofá. — Desconfio que nossa ida ao cinema foi por água abaixo então. Caroline ficou chocada com a falta de sentimentos dele e olhou para Amanda, arqueando as sobrancelhas. — Pois é. Vou voltar direto para a cama. — Compreendo. — Ron lançou um olhar inquiridor a Caroline. — O que você acha de nós dois irmos ao cinema? — perguntou com toda naturalidade. Amanda ficou boquiaberta. — Não se incomodem comigo! — exclamou, furiosa, e correu para o quarto, batendo a porta com força. — O que está acontecendo com Amanda? — perguntou Ron, sem compreender. — E então, Caroline? O que acha da proposta? — Você deve estar brincando — disse Caroline, tentando não mostrar a repulsa que sentia. Ron não se deixou abalar. — Você sabe que eu sempre tive vontade de fazer um programa com você — ele falou, ao levantar-se. Brincando, tentou segurá-la pelos pulsos, mas com um gesto rápido, Caroline escapou dele. — Não se atreva a pôr as mãos em mim! — gritou, furiosa. — Acho que está perdendo seu tempo aqui, Ron. Ele não perdeu o ar pretencioso. — Muito, bem, boneca. Vou embora! Ninguém pode dizer que Ron Cartwright força sua presença em lugares onde não é desejado. Não preciso disso, benzinho. Basta um estalar de dedos para eu ter uma dúzia de garotas querendo sair comigo. — Pois, então, vá procurar uma delas — replicou Caroline. — Sujeitos como você me enojam! A frase deve ter atingido algum ponto fraco dele, pois Ron lhe dirigiu um olhar furioso antes de sair apressadamente. Caroline trancou a porta e foi para o quarto ver como estava Amanda. Ela voltara para a cama e, surpreendentemente, estava sorrindo. — Eu ouvi tudo — disse, antes que Caroline pudesse abrir a boca. — Acredito que estaremos livres de Ron por um bom tempo. — Bem, honestamente — Caroline começou a falar, um pouco arrependida pela cena que acabara de fazer —, eu não consigo entender como você pôde se envolver com um sujeito desses. Além de ser um chato, é terrivelmente convencido. Amanda fez um gesto com os ombros, indicando estar conformada com sua sina. — Nós, pessoas humildes, não podemos ficar escolhendo muito — respondeu, respirando profundamente. — Qualquer dia, você também vai ter de reconhecer isso. Garotas como você e eu simplesmente não têm a oportunidade de encontrar a elite da população masculina deste país. Caroline ficou vermelha. Ela não tinha contado nada a Amanda sobre seu encontro com Adam Steinbeck e sobre o almoço daquele dia. Ficou um pouco chocada ao pensar que comparar Ron com Adam seria tão idiota quanto comparar suco de tomate com champanhe. Amanda, entretanto, percebeu a mudança de cor nas faces de sua amiga e indagou: — Será que você encontrou outra vez o príncipe encantado do elevador?
  • 13. — Sim, Amanda — respondeu com a maior naturalidade possível. — Eu o encontrei durante a hora do almoço. — Verdade?! — exclamou a amiga, entusiasmada. — Como foi? — perguntou, curiosa. — Bem, eu trombei com ele na frente do prédio, e, quando lhe disse que estava com pressa para chegar em casa, ele me ofereceu uma carona. — Caroline Sinclair, você não tinha a menor intenção de me contar tudo isso, tinha? — É lógico que ia lhe contar tudo — defendeu-se Caroline. — Simplesmente não tive tempo. Bem, de qualquer forma, ele me trouxe para casa. Foi por isso que consegui chegar tão cedo aqui. — Ah, sei... Não acha que foi um pouco imprudente? Afinal de contas, você nem conhece esse homem. Descobriu pelo menos como ele se chama? Caroline hesitou um instante. — Bem, descobri, sim. Ele é... Adam Steinbeck. — Ela revelou isso muito depressa e ficou observando as expressões que se sucediam rapidamente no rosto de Amanda. Primeiro foram de espanto, surpresa, depois de incredulidade. — Você está falando sério? — perguntou, levantando a mão até o rosto. — Adam Steinbeck? Caroline suspirou, sentindo também uma ponta de incredulidade. — Ele mesmo. Para mim, também foi uma surpresa. — Surpresa?! — exclamou Amanda. — Em minha opinião, isso é um milagre. E lógico que o coitado do Ron não teve a menor chance. Você esta interessada em homens mais elegantes. — Não é nada disso — disse Caroline, levemente irritada. Amanda balançou a cabeça, ainda impressionada. — E você estava realmente falando sério no outro dia, quando disse que não sabia quem ele era? — É claro! Eu só comecei a trabalhar lá há três semanas. Como eu poderia conhecê-lo? Eu não tinha a menor idéia. — Que coisa fantástica! Ele é um homem atraente? — Ele é fabuloso — Caroline afirmou, abraçando a si mesma. — Acho melhor contar tudo de uma vez. Ele me levou para almoçar numa estalagem chamada "A Chaleira de cobre". Amanda ficou ainda mais chocada do que já estava. — Adam é uma pessoa muito simpática — continuou Caroline.— Fez com que eu me sentisse muito à vontade. Quando voltei para o escritório, já passava das três e meia da tarde, mas a srta, Morgan estava doce como mel. — Ela sorriu. — Foi realmente muito gostoso. Amanda encarou-a, com certa frieza, — Em meus sonhos, sair com um milionário sempre é muito gostoso. — Suspirou. — Que sorte a sua, hein? — O dinheiro dele não me atrai nem um pouco — falou Caroline, espreguiçando-se lentamente na cama. — Aliás, preferia que ele fosse um simples funcionário. Pelo menos, existiria a possibilidade de ele se interessar seriamente por mim. Do jeito que estão as coisas... — Ei, vá com calma, mocinha — aconselhou Amanda, sentando-se em sua cama. — Não há nada demais em ser convidada para um almoço. Mas quanto a se envolver seriamente com um homem dessa idade... Você deve estar brincando! — Não diga isso. — E por que não? Alguém ia ter de lhe dizer isso. Pense um pouco, Caroline! Ele provavelmente encontra garotas como você às dúzias. Homens do tipo de Adam Steinbeck podem escolher qualquer mulher. Qualquer uma! Você precisa agir de acordo com sua idade. Além disso, ele provavelmente é casado e tem meia dúzia de filhos em casa. — Ele me disse que não é casado — murmurou calmamente. — Como não é difícil descobrir se ele está mentindo, acredito que não esteja. Não haveria motivo para isso. — Muito bem, então ele não é casado. Mas isso não o torna mais jovem. Amanda provavelmente estava certa em tudo o que dizia, porém, mesmo assim,
  • 14. Caroline continuava querendo voltar a vê-lo. Ela tinha de vê-lo novamente! Ela nunca ouvira nenhum comentário maldoso a respeito dele no escritório, mas isso não era garantia alguma. Afinal, o dinheiro pode silenciar muitas pessoas. — Bem, de qualquer maneira, vou jantar com ele amanhã à noite. Amanda fez um gesto com as mãos, deixando bem claro que não queria ter responsabilidade alguma nisso tudo. — Eu não posso impedi-la de fazer o que quiser. Mas já pensou que o Edifício Steinbeck existe há uns quinze anos e que ele deve ter sido chefe da firma durante quase todo esse tempo também? — Acho que ele deve ter uns trinta anos aproximadamente — disse casualmente. — Caroline, você está apaixonada, não é? Sinto muito ter de lhe dizer isso, mas você não devia julgar as pessoas apenas pela aparência. — Você realmente tem todo o direito de falar assim. E como se explica a presença daquele sujeito pavoroso aqui, hoje a noite? — Ao menos ele está na mesma faixa etária e financeira que eu — replicou Amanda. Caroline levantou-se da cama e foi para a sala, mal-humorada. Amanda podia dizer o que quisesse, no entanto, Caroline iria ao encontro combinado. CAPITULO II Na manhã seguinte, a firma toda estava comentando a grande novidade. Caroline Sinclair, a garota nova da central de datilografia, tinha sido vista entrando no prédio na companhia do próprio Adam Steinbeck. Alguns afirmavam até mesmo que os dois haviam almoçado juntos. Caroline levantara-se mais cedo, para poder cuidar de Amanda antes de sair de casa, conseguindo chegar na hora certa. Ruth mal podia esperar para conversar com ela sobre o assunto mais comentado na firma. — É verdade? — quis saber Ruth. — Foi por isso que você chegou tão tarde ontem depois do almoço? Esteve tão ocupada durante o resto do tempo, que não houve uma oportunidade para conversarmos. — É verdade, sim — respondeu Caroline, com certa relutância. — Mas, por favor, antes mesmo de você começar, não estou interessada em ouvir sermões. Ruth ficou surpresa com o tom de voa de Caroline. — Oh, eu sei, ele é um homem maravilhoso — interrompeu-a Ruth bem depressa. — Eu já o vi algumas vezes, mas só de longe. Imagino que haja dúzias de mulheres que o adoram. Honestamente, você não acredita que ele possa estar interessado em você por qualquer outro motivo, além do óbvio, acredita? — E qual é esse motivo óbvio? — perguntou Caroline, levemente irritada. — Ora, sexo, é lógico — respondeu Ruth, corando um pouco. — Sinceramente, eu não entendo por que você e Amanda acham que conhecem Adam Steinbeck melhor do que eu. Amanda não seria capaz de reconhecê-lo na rua, e você mesma acaba de admitir que o viu só de longe. No entanto, vocês duas parecem achar que ele é um maníaco sexual ou coisa parecida. — Estamos apenas nos preocupando com você — falou, com certa frieza. — Já considerou tudo o que pode acontecer quando vocês se tornarem um pouco mais íntimos? Ele não é mais um rapazinho para contentar-se com um beijo de despedida na porta de sua casa. Ele já foi casado e vai querer bem mais do que isso. — Casado! — exclamou Caroline. — O que aconteceu com a esposa dele? — Morreu de leucemia há uns oito anos. Uma funcionária mais antiga da firma me contou isso. — Ah, sei... — Caroline não pôde impedir que uma sensação de alívio a invadisse. Pelo menos ele não tinha mentido para ela. — E ele tem família? — Um filho só. Parece que estuda na Universidade de Radbury. Nossa, Caroline, o filho dele é mais velho do que você!
  • 15. — Seja franca, Ruth. Acharia que ele é velho demais para você, caso estivesse em meu lugar? Ruth ficou em silêncio. No fundo, sabia que Caroline conseguira lhe fazer uma pergunta difícil de responder. Um homem como Steinbeck não podia ser ignorado, nem mesmo sem a sua posição e a sua fortuna. Além disso, devia ser muito excitante receber um convite dele para almoçar. — Está certo — concordou por fim, — Em seu lugar, eu provavelmente faria a mesma coisa. Aliás, como foi que o conheceu? — Você se lembra do homem que eu encontrei no elevador? — perguntou Caroline. — Era Steinbeck? Caroline respondeu afirmativamente com um gesto de cabeça. — Céus! — Ruth estava estupefata. — Quer dizer que ele a convidou para sair aquele dia e você não me contou nada? — Não, foi ontem na hora do almoço, quando saí daqui correndo para ir cuidar de Amanda em casa, dei de encontro com ele na frente do prédio. Ele me ofereceu uma carona, e eu aceitei. Depois, me convidou para almoçar. Ruth balançou a cabeça significativamente. — Muito bem, muito bem. — Suspirou. — Mas tenha cuidado, Caroline. Estou realmente falando sério. Enquanto trabalhava, Caroline ficou imaginando que roupa iria vestir naquela noite. Possuía um único vestido de noite, que usara pela última vez na festa de formatura de seu curso de secretariado. O corte era um pouco antigo, e, considerando-se que era feito de algodão cor-de-rosa, era óbvio que ela ficava parecendo ainda mais jovem quando o usava. Decidiu comprar um vestido novo. Durante o horário de almoço, foi até o banco e retirou certa importância de suas economias, que equivaliam a um terço de seu salário mensal. Sabia que estava sendo ridícula em suas extravagâncias, mas queria que Adam se orgulhasse dela. Depois do trabalho, numa pequena loja nas imediações da firma, encontrou exatamente o que queria. Era um vestido de renda, cor verde-jade. Caroline sentiu-se ousada e ficou muito satisfeita. Agora, estaria no mesmo nível de todas aquelas elegantes mulheres da sociedade. Amanda ficou horrorizada quando descobriu que Caroline desperdiçara tanto dinheiro. E "desperdício" foi a palavra que ela usou para expressar sua opinião. — Você deve ter ficado maluca! — exclamou ela, irritada. — Será que ainda não entendeu que, se vai começar a sair regularmente com um homem desse tipo, vai precisar comprar montes de roupas novas? Caroline a encarou furiosa. — Ora, Amanda, não se meta! O dinheiro é meu! — Você devia cuidar da cabeça — continuou Amanda. — Por favor, me deixe sozinha — resmungou Caroline. — Se você não se importar, eu mesma escolho o caminho de minha ruína e de minha perdição. Amanda ficou em silêncio durante um momento e depois disse: — Sinto muito se parece que estou interferindo em sua vida. A questão é que você não pode se dar ao luxo de gastar tanto dinheiro para comprar um único vestido. Está bem, se realmente pretende levar isso adiante... quer que eu lhe empreste minha estola de pele? Caroline ficou vermelha, parecia estar envergonhada. — Por favor, Amanda. Sinto muito, muito mesmo, por ter ficado irritada, mas sou capaz de cuidar de mim mesma. — Muito bem. Não abro mais a boca. A que horas ele vem buscá-la? — perguntou. Caroline disse a hora e depois foi tomar banho. Os sinos de uma igreja próxima batiam sete horas da noite quando ela ficou pronta. Estava muito bonita no vestido verde. Amanda percebeu que Caroline estava parecendo muito mais velha, mas evitou o comentário para não provocar nova discussão. Foi Amanda quem primeiro avistou o Rolls manobrando no beco e parando diante da entrada do prédio. disse Mandy, enquanto Caroline sentia seu coração palpitar — Deve ser ele.
  • 16. — Vou descer — informou, abrindo a porta. — Divirta-se — disse Amanda, com um sorriso seco. E depois, num tom mais sério, acrescentou: — E tenha cuidado! Caroline concordou com um gesto de cabeça, fechou a porta e desceu as escadas, indo ao encontro de Adam. — Olá — murmurou ela. Os olhos dele se estreitaram ironicamente antes de lhe retribuir o sorriso. — Boa noite — respondeu suavemente, abrindo a porta do carro para que ela entrasse. Depois de sentar-se ao lado dela, examinou-a atentamente. — Está muito bonita, minha querida — disse ele, com uma ponta de ironia em sua voz. — E muito sofisticada também, você não acha? — Eu... acho que não estou compreendendo muito bem o que quer dizer — respondeu Caroline, tentando ver melhor o rosto dele na escuridão. No conforto do carro que deslizava suave e silencioso, Caroline conseguiu relaxar um pouco. — Reservei uma mesa no Mozambo para as oito horas — ele falou ao dobrar a King's Road, onde o transito era mais intenso. O Mozambo era um clube noturno inaugurado havia pouco tempo, e Caroline sabia que não tinha idade suficiente para frequentar esse tipo de lugar. Percebendo que ela não respondia, Adam lançou-lhe um olhar inquiridor. — Há alguma coisa errada? — perguntou discretamente. — Você não gostou da idéia? Acho que é o lugar ideal para desfilar um vestido como o seu. — Não que eu não queira ir, compreenda — disse ela, encabulada. — Mas eu só vou completar dezoito anos em março e... — Ah é, eu tinha me esquecido desse detalhe — ele falou, apesar da impressão de que ele não se esquecera disso. — Nesse caso, iremos a algum outro lugar menos perigoso. Caroline sentiu-se ridiculamente jovem e desajeitada. — Que pena... — murmurou. — Eu me sinto ridícula. — Por quê? Você não tem culpa de sua idade. Além disso, clubes noturnos não são necessariamente os lugares que mais gosto de frequentar. Caroline continuava se sentindo pouco à vontade. — Para onde iremos então? Adam refletiu durante um momento. — Acho que podemos jantar no Caprice, e depois arranjo ingressos para algum espetáculo. Existe algo em cartaz a que você queira assistir? — Para mim, tanto faz — respondeu Caroline, mais aliviada. — Tem certeza de que não estou estragando sua noite? — Você não poderia fazer isso — disse ele, sorrindo suavemente. O Caprice era um restaurante tão excitante quanto ela imaginava que deveria ser. Caroline reconheceu algumas pessoas famosas sentadas em mesas próximas e ficou impressionada com a naturalidade de Adam em relação aos garçons. Apesar do restaurante estar lotado, ele não teve dificuldades em conseguir uma mesa. Adam examinava o cardápio com um olhar experiente. — Você já decidiu o que vai querer comer? — perguntou. — Não. Deixo isso a seu critério. Você sabe que não estou acostumada a jantar em lugares como este. — Havia um certo ar de insegurança na maneira de ela se expressar, e, durante alguns instantes, ele desfez seu olhar irônico e voltou a dedicar sua atenção ao cardápio. Adam fez o pedido ao garçom e, em seguida, voltou-se para ela. — Estou contente por você ter aceito o convite — disse ele com muita naturalidade. — Pensou que eu não aceitaria? — Caroline indagou, surpresa. — Bem, admito que tive minhas dúvidas — respondeu com seu jeito vagaroso de falar. — Imagino que todas suas amigas devem ter aconselhado a não se envolver com um homem como eu.
  • 17. — Como sabe que... — ela começou a dizer, mas interrompeu-se, enrubescendo. — Então acertei — ele murmurou. — E por que não aceitou o conselho delas? — Eu lhes expliquei que sou perfeitamente capaz de tomar conta de mim mesma — falou, recusando-se a encará-lo diretamente. — Compreendo... E você realmente acredita nisso? Caroline ficou ainda mais enrubescida. — É lógico que acredito! — exclamou rapidamente. — Se não acreditasse, não teria vindo. — Você é corajosa — ele disse secamente, mas, quando ela o encarou, viu que os olhos dele tinham uma expressão irônica. O olhar de Adam penetrou, de uma maneira quase insolente, pelas aberturas da renda do vestido de Caroline, e ela sentiu ímpetos de se cobrir, de se proteger e desejou não o ter comprado. A refeição estava esplêndida, porém Caroline comeu muito pouco. Durante os intervalos entre os diversos pratos, Adam conversou naturalmente sobre suas viagens para o exterior, e durante um certo período de tempo, Caroline conseguiu relaxar a tensão e se divertiu ouvindo o que ele contava. Mais tarde, ela escolheu um espetáculo que estava com vontade de ver, e a noite se tornou mais agradável. Era uma comédia musical leve, que ajudou muito a acabar com a insegurança de Caroline. Depois do espetáculo, os dois se dirigiram até o carro e entraram rapidamente, para escapar do frio ar noturno. Adam deu a partida e manobrou agilmente o veículo no tráfego intenso. Caroline estava tão fascinada com as mãos dele, segurando o volante, que nem per- cebeu que tinham tomado uma direção oposta a seu apartamento. Quando percebeu, o carro já estava passando por algumas ruas desertas de Mayfair. Caroline apertou a bolsa entre suas mãos. Para onde ele a estaria levando? Ela estava tão chocada que ficou muda de espanto quando ele estacionou o carro diante de uma casa, numa pequena rua. Quando Adam abriu a porta, a luz automática do carro iluminou o rosto amedrontado de Caroline, e ele disse: — Não faça essa cara. Não vou lhe fazer nada. Vamos, desça! Lançando-lhe mais um olhar desgostoso, Adam abriu a porta da casa e acendeu a luz. Depois, retrocedeu um passo para que ela passasse adiante e fechou a porta. Era o saguão mais bem decorado que Caroline já vira em toda sua vida, e, como a curiosidade foi mais forte que seus temores, ela seguiu Adam, que saía do saguão por uma grande porta em arco. Caroline o acompanhou, e entraram numa outra sala decorada com extremo bom gosto. Caroline procurou palavras para descrever suas impressões. Quando, finalmente, conseguiu falar, murmurou: — Isso é fabuloso! Contudo, minha opinião não deve ter interesse algum para você — acrescentou, suspirando. Adam apenas se dirigiu ao bar. — Quer tomar alguma coisa? — perguntou. Imediatamente, os temores de Caroline voltaram, e Adam, olhando para ela, devia ter percebido isso, pois disse: — Não se preocupe em recusar. Acho que um pequeno cálice de conhaque vai ajudá-la a recuperar a segurança. Caroline não respondeu, mas aceitou o copo que ele lhe oferecia. No rosto de Adam havia uma expressão de divertimento. — Você não quer se sentar? — ele indagou, apontando para o sofá. Caroline concordou rapidamente, contente pela oportunidade de dar um pouco de descanso as suas pernas trêmulas. Para seu espanto, porém, Adam sentou-se a seu lado e recostou-se muito à vontade. Caroline, que o observava, ficou impressionada com a forte atração física que ele exercia sobre ela, fazendo com que se sentisse fraca, indefesa e sem ar. — E agora — disse ele, saboreando lentamente suas palavras —, vamos deixar bem claro uma coisa entre nós dois, está bem? Caroline franziu a testa. — Não estou entendendo, pode explicar? — perguntou, um pouco nervosa.
  • 18. Adam esticou as pernas. — Bem — murmurou —, parece que está muito apreensiva em relação ao que pode acontecer entre mim e você. Quando nos encontramos pela primeira vez, você estava muito à vontade em relação a mim, e eu gostei disso. Sei que você não sabia quem eu era, mas, mesmo depois de ficar sabendo, continuou se portando com naturalidade... Agora, porém, de repente, após toda essa lavagem cerebral que suas supostas amigas lhe fizeram, você está apavorada comigo, Por quê? O que pensa que pretendo fazer? Atacá-la, agarrá-la ou o quê? Caroline enrubesceu. De repente, sentiu-se tola demais. Ele franziu a testa e continuou: — E hoje à noite, quando você veio se encontrar comigo, sua aparência estava indescritível! Esse vestido seria apropriado para uma mulher de trinta anos. Ele simplesmente não combina com você. Disse todas aquelas coisas a respeito de sofisticação porque estava furioso por você ter achado que precisava se fantasiar dessa maneira para me agradar. Você simplesmente conseguiu se transformar em uma mulher a mais. Eu não reservei mesa alguma no Mozambo. Eu apenas queria saber até onde você iria levar essa falsa sofisticação. Se você tivesse concordado em ir a essa casa noturna, eu lhe teria dado umas boas palmadas! Está compreendendo agora? Eu a convidei porque você é... jovem, inocente, não porque quisesse uma boneca na última moda para jantar comigo. Será que você não vê que estou cansado de mulheres que se jogam em meu pescoço? Não pense que isso é mero convencimento de minha parte. Acho que o dinheiro provoca essa reação na maior parte das mulheres. Subitamente, ele se levantou e foi até o bar, onde tornou a encher seu copo. Caroline tomou um gole da bebida de seu copo. Ela se sentia como se tivesse apenas seis anos de idade e, no máximo, seis palmos de altura. — E agora? — ela murmurou, com voz rouca e muito próxima às lágrimas. Caroline sentia uma dor muito grande dentro de si, uma dor que ameaçava se tornar mais forte do que ela e que não conseguia compreender direito. Adam colocou o copo sobre o bar e respondeu, com um sorriso: — Acho que vamos ter de começar tudo outra vez. Depois, vendo lágrimas nos olhos de Caroline, indagou: — Escute, você não está pensando que eu a trouxe até aqui só para lhe dar uma bronca e nunca mais vê-la, não é? Caroline respirou fundo e passou o dorso da mão nos olhos. Uma sensação de alivio tomou conta dela, e, como uma explosão, ela compreendeu de repente por que tinha sentido tanto medo. Não queria que o relacionamento terminasse ali! Estava apaixonada por esse homem. Ela o amava tanto que tinha certeza de que nunca mais voltaria a ser a mesma pessoa outra vez. Caroline olhou para ele, forçando-se a não demonstrar nenhuma emoção, quando Adam se sentou ao lado dela, dizendo: — Amanhã é sábado. Você gostaria de viajar comigo para o interior e conhecer minha casa nos arredores de Windsor? Este é apenas um lugar que tenho na cidade e que uso para dormir ou trabalhar quando preciso ficar em Londres. — Gostaria muito de ir com você — respondeu Caroline, entusiasmada, sorrindo para ele. — Estamos sozinhos aqui, neste momento? — Exatamente — ele murmurou, suspirando. — Mas não pense besteiras, pois vou levá- la para sua casa imediatamente. Ele se ergueu e estendeu a mão para ela poder se levantar também. Quando as mãos se tocaram, Caroline sentiu seu interior se manifestar. Ela não queria ir embora, queria abraçá- lo e, de repente, ficou amedrontada com o tumulto de sentimentos que ele despertara dentro dela. Não levaram muito tempo para chegar em casa, e, com uma certa relutância, Caroline desceu do carro, onde havia um clima de certa intimidade. Adam a acompanhou até a entrada do prédio. —Virei buscá-la amanhã, às três horas da tarde—ele informou, sorrindo — Vista qualquer coisa bem informal. Amanda ainda estava acordada quando Caroline entrou no quarto, assim ela teve de
  • 19. contar tudo o que tinha acontecido. Entretanto, Caroline omitiu a visita à casa dele na cidade, mesmo porque já passavam das onze horas. Amanda pareceu acreditar que ambos tinham vindo diretamente para casa depois do teatro. No sábado, Amanda foi trabalhar, e isso tornou as coisas muito fáceis para Caroline, que resolveu deixar apenas um bilhete para a amiga, dizendo que teve de sair, era a melhor maneira de escapar de uma nova discussão sobre as vantagens e desvantagens de se envolver com alguém do tipo de Adam. Faltavam quinze minutos para as três horas quando notou um pequeno carro branco, modelo europeu, entrando na rua, e perguntou-se, sem muito interesse, a quem pertenceria aquele automóvel. Ela não estabeleceu conexão alguma entre o carro e Adam até o momento em que ouviu alguém batendo à porta. Caroline correu para abri-la, rezando intimamente para que não fosse tia Bárbara, que, às vezes, resolvia visitar a sobrinha nas tardes de sábado. Porém, quando abriu a porta e viu Adam parado diante dela, ficou boquiaberta, espantada, e exclamou: — Adam! Eu estava olhando pela janela, mas não vi seu carro! — Caroline estava realmente surpresa. Ele fez um movimento com os ombros e entrou na sala, observando em torno com muito interesse. — Eu mudei de carro. Você está pronta? — perguntou. — Pelo menos está aparentando sua idade hoje. Podemos ir? A viagem até a casa de campo dele foi confortável, amena e rápida. Atravessaram a cidade de Windsor em direção a um vilarejo chamado Slayford, em cujos arredores Adam saiu da estrada principal, entrando pelo portão de uma vila moderna. Era uma casa de aspecto sólido, em estilo grego. Diante dela, havia diversas estátuas e um pequeno chafariz em meio a um espelho d'água. O caminho circundava o espelho d'água, e Adam estacionou o carro diante de grandes portas duplas de vidro, revestidas com uma grade de ferro batido na parte interna. Amplos degraus de pouca altura levavam até essa porta, atravessando um terraço com colunas. — Nossa! — exclamou Caroline, descendo do carro antes que Adam tivesse tempo para ajudá-la. — Fico contente em ver que você gosta — respondeu ele, enfiando as mãos nos bolsos do sobretudo. — Mandei construir esta casa há cinco anos, segundo um esboço que eu mesmo fiz. Adam abriu a porta, e entraram pelo belo saguão. Logo depois, uma porta abriu-se na extremidade oposta, e uma mulher de meia-idade aproximou-se, apressada, acompanhada por um spaniel. O cachorro fez muita festa para Adam, latindo de contentamento, pulando e balançando o pequeno rabo. — Esta é a sra. Jones e este é Nero — disse Adam, sorrindo para Caroline. — Sra. Jones, esta é a srta. Caroline Sinclair. — Muito prazer, senhorita — falou, sorrindo, a pequena mulher de aspecto maternal. — Que surpresa! — exclamou ela, olhando para Adam com uma certa indulgência no olhar. — É muito agradável vê-lo outra vez, sr. Steinbeck. Jones está rachando lenha lá nos fundos, mas, se o senhor quiser vê-lo, irei chamá-lo imediatamente. — Não há necessidade, sra. Jones — respondeu Adam. A sra. Jones era baixa e alegre. Caroline gostou dela instintivamente. Quanto a Nero, era muito agitado, ficou pulando em volta deles, quando entraram na sala de estar. — Este é o único aposento da casa toda onde existe uma lareira de verdade. O resto está equipado com o aquecimento central — informou ele, enquanto se sentava num dos sofás mais próximos ao fogo. — E que, de vez em quando, gosto de ficar olhando as labaredas. — Eu também gosto muito — concordou Caroline, sentindo-se inundada por uma sensação de bem-estar. Adam foi sentar-se mais próximo de Caroline, e ela se perguntou se ele teria alguma noção do efeito que causava sobre ela. Ficou um pouco deprimida quando pensou que Adam provavelmente a considerava apenas uma companhia mais ou menos agradável, com a qual
  • 20. estava se divertindo um pouco. Preguiçosamente, ele esticou as pernas em direção ao fogo. — Isto é que é vida! Longe dos negócios, dos assuntos de altas finanças, da especulação imobiliária... Caroline sorriu, observando-o atentamente. Era difícil imaginar que a vida de centenas de funcionários dependia inteiramente desse homem. Quantas pessoas dependeriam das opiniões dele? O Edifício Steinbeck abrigava uma série de companhias, todas pertencentes à Steinbeck Corporation e cada uma delas, de certa forma pelo menos, dependia de Adam Steinbeck. Ele era o diretor-presidente, e o voto decisivo, sempre que necessário, era dele, sendo também responsável por quaisquer erros que acontecessem. Ela desejou ter coragem para se aproximar mais dele e lhe fazer uma massagem nas têmporas. Tia Bárbara gostava muito quando ela fazia isso, dizia que era ótimo para aliviar a tensão. De repente, bateram na porta, e, logo em seguida, a sra. Jones entrou com uma bandeja, trazendo chá, sanduíches e bolinhos de aveia. Adam abriu os olhos e, com certa relutância, sentou-se numa posição mais formal. — Muito obrigado, sra. Jones. Seria possível jantarmos por volta das sete e meia? — É claro que sim! Por enquanto, comam estes bolinhos de aveia que eu mesma fiz e se quiserem mais chá é só chamar. — Que Deus a conserve sempre assim — disse Adam, e a sra. Jones saiu com um sorriso de satisfação. Ao terminarem o lanche, Caroline colocou a bandeja sobre uma mesa ao lado da porta, indagando: — Quer que eu leve a bandeja para a cozinha? — Não é preciso — disse. — Venha e sente-se aqui a meu lado. Quero que me conte tudo a respeito de sua vida. O coração de Caroline batia violentamente ao sentar-se ao lado de Adam. Ela estava bastante consciente de que a perna dele estava muito próxima da sua. Também percebeu que Adam a observava atentamente. — Não há muita coisa para contar — murmurou ela, fitando demoradamente as labaredas na lareira. — Meus pais morreram quando eu era ainda muito pequena. Fui criada por uma tia e, há seis meses, deixei-a para ir morar com minha amiga Amanda, — É muito excitante tudo isso — ele falou com um sorriso. — E não houve nenhuma paixão até agora? A intimidade da situação foi mais forte para ela que respondeu apenas com um gesto negativo de cabeça, pois não confiava em palavras. Como poderia conversar com naturalidade a respeito de um assunto que lhe tocava tanto? Adam moveu-se lentamente, até que sentiu sua perna junto à dela. Depois, com a mão em seu rosto, forçpu-a a olhar para ele. Seus olhos a examinavam atentamente. Caroline tinha certeza de que ele estava ouvindo as batidas de seu coração. Sentiu que ele brincava, distraidamente, com seus cabelos, tocando-lhe levemente a nuca, perturbando-a. Em seguida, devagar, ele se inclinou para a frente e encostou sua boca na dela, explorando os lábios macios, até se entreabrirem involuntariamente... O beijo prolongou-se, transformando-se em algo muito mais sério e sensual. Caroline nunca imaginara que a boca de um homem fosse capaz de despertar tais sensações e sentiu- se um pouco perdida quando ele a soltou, levantando-se com um movimento quase brusco. Caroline permaneceu onde estava, inconscientemente provocante em sua inocência semidesperta. Irritado, Adam mexeu numa das toras de madeira com a ponta do sapato e ficou olhando atentamente para as labaredas. — Por que você não diz alguma coisa? — murmurou ele. — Por exemplo, a respeito do sermão que eu lhe passei ontem à noite? Caroline suspirou.
  • 21. — Está arrependido por ter me beijado, Adam? — perguntou com voz suave. Num gesto brusco, ele se voltou para ela. — Sabe muito bem o que estou com vontade de fazer! — ele exclamou violentamente. — Eu! O conselheiro platônico de ontem à noite! — Franziu a testa, irritado consigo mesmo. — E cheguei a pensar que seria capaz de trazê-la até aqui e levá-la de volta outra vez, sem que ocorresse nenhum acidente. — Passou as mãos pelos cabelos. — Eu estava louco quando pensei numa coisa dessas! — Pare de se torturar com isso, Adam — disse ela calmamente. — A culpa foi apenas minha. — Caroline, não torne tudo ainda mais difícil! Ela se colocou provocante diante dele. — Por que mais difícil? — murmurou ela. — Até parece que você quer esquecer o que aconteceu. Mas nenhum de nós seria capaz disso. Adam encarou-a durante um momento e depois puxou-a para seus braços. — Caroline, isto é uma loucura! — murmurou, seu corpo todo tremia, e Caroline, ao colocar os braços em torno do pescoço de Adam, destruiu todas as tentativas dele de agir de maneira racional. Suas bocas voltaram a se encontrar, e agora os beijos demonstravam a paixão de um homem por uma mulher. Caroline não esboçou qualquer tipo de resistência. Era Adam quem a beijava. Ela o amava e queria que ele ficasse sabendo disso. De repente, ouviram a porta de um carro bater, quebrando o silêncio que os envolvia. Era possível ouvir as vozes que entravam pela porta da frente da casa. Com um gemido contrafeito, Adam, relutantemente, soltou Caroline, afastando-a um pouco, e passou as mãos pelos cabelos. Caroline suspirou profundamente e levou as mãos ao rosto. — Quem será? — sussurrou ela, sentindo que suas faces ardiam depois de todos aqueles beijos. Seus lábios jovens haviam perdido o batom que ela aplicara à tarde, estavam lívidos. Os olhos de Adam assumiram uma expressão mais suave no momento em que pousaram nela, e depois sacudiu os ombros, num gesto de quem nada podia fazer. — Acho que é John — respondeu. — Meu filho. E parece que trouxe alguém com ele. CAPITULO III Caroline ficou boquiaberta ao ouvir o que Adam acabara de revelar. — Adam! — exclamou. — Eu... deveria ir embora. Será que existe algum jeito para eu sair daqui sem que eles me vejam? . Adam franziu a testa e olhou para ela. — Por quê? — perguntou um pouco ríspido. — Bem, eu só pensei... — Caroline não encontrava as palavras certas. Como explicar que sua presença ali podia lhe causar problemas? Afinal, ela era uma simples datilógrafa. — Você está envergonhada por estar numa situação, a seu ver, "comprometedora" — disse ele, e havia um tom acusador em sua voz. Caroline fez uma careta e balançou a cabeça negativamente. — Oh, Adam, você está completamente enganado — defendeu-se ela, agarrando-se no braço dele. — Estou pensando em você. Por mim, está tudo bem, mas você é o pai dele. Adam ficou aliviado e, inclinando a cabeça, beijou-a levemente, — Nesse caso, talvez seja ate bom que eles tenham vindo — disse com suavidade. — Quase nos esquecemos de que tenho idade suficiente para ser seu pai também. Caroline encarou-o com um olhar irritado. — Pare de falar assim — pediu, aconchegando-se mais a ele. — A idade não tem a menor importância entre nós. Adam não teve tempo para responder, pois a porta se abriu, dando passagem a um jovem alto, moreno e esguio e a uma loira exuberante.
  • 22. — Aqui estamos nós, papai! — exclamou o jovem, estranhando a presença de Caroline, que continuava segurando o braço de Adam. John parou onde estava, com uma expressão de surpresa no rosto. Durante a pausa desagradável, Caroline percebeu que os olhos do rapaz a examinavam de maneira insolente. Gentilmente, Adam deixou Caroline e atravessou a sala para cumprimentar o filho. — Quanto tempo você vai ficar desta vez? — perguntou ele e, em seguida, dirigindo-se à loira, com um sorriso de boas-vindas, falou: — E você é...? — Tonia Landon — respondeu a garota, sorridente. — Já ouvi muita coisa a seu respeito, sr. Steinbeck. Estou fascinada pela oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. — Nós vamos ficar até amanhã à noite — disse John, olhando para seu pai. — Quer dizer, se não estivermos atrapalhando. Adam levantou os ombros levemente, ignorando a observação, e, voltando-se para Caroline, puxou-a deliberadamente para a frente. — Carol, eu quero lhe apresentar meu filho John e uma amiga dele, a srta. Tonia Landon — ele falou, sorrindo. — John, Tonia, esta é a srta. Caroline Sinclair. John e Tonia perceberam a maneira especial com que Adam fizera as apresentações e trocaram um olhar intrigado. Eram quase cinco horas da tarde, e todos se sentiram aliviados quando a sra. Jones entrou, apressada, querendo saber o que estava acontecendo, quem iria pernoitar... Após uma rápida troca de palavras, ela se afastou para mostrar o quarto de hóspedes para Tonia, enquanto John sentava-se no sofá ao lado do pai. Caroline instalou-se no braço de uma das poltronas, um tanto determinada. Fora pouco o tempo que passara junto de Adam, e ela se irritara um pouco com a chegada do casal. Enquanto Adam e John conversavam, recordou rapidamente os acontecimentos daquela tarde. Ah, se John e a namorada não tivessem chegado num momento tão inoportuno! Quem poderia dizer quando Adam voltaria a se comportar novamente daquela maneira? Sorrindo para John, a sra. Jones serviu mais chá. Estava bem claro que ele também desfrutava do afeto daquela figura maternal. Caroline sentiu-se desesperadamente só. Os olhos de John eram frios e agressivos, o que fez com que Caroline se sentisse pior ainda. Imaginou o choque que deveria ter sido para ele descobri-la ali na companhia do pai, praticamente sozinhos naquela casa enorme. Imaginou que ele deveria estar curioso e até mesmo um pouco aborrecido com a modificação em seus próprios planos. Finalmente, John levantou-se e saiu para lavar as mãos, e Caroline pôde ficar a sós outra vez com Adam. Os olhos dele a acariciaram, e ela deixou a poltrona onde estava para sentar-se no sofá ao lado dele. — Oh, querido — sussurrou, colocando os braços em torno do pescoço de Adam, que adorou a sensação despertada pelo contato de seus lábios com os sedosos cabelos dela. Depois, com um suspiro, ela acrescentou: — Acho que eu deveria ir embora. Adam franziu a testa. — Por quê? — Você certamente vai querer ficar a sós com seu filho — respondeu ela, meio sem jeito. — Com aquela garota fazendo o possível para monopolizar a conversa? — replicou Adam secamente. — Não, muito obrigado, meu bem. Ela que fique com John! Você vai ficar para o jantar, conforme já tínhamos combinado, e depois eu a levarei de volta para a cidade, está bem? Caroline sorriu. — Se você realmente quer que eu fique, eu fico — concordou. — Mas não estou muito bem vestida para um jantar, não é mesmo? Só Deus sabe o que a srta. Landon irá usar! Adam também sorriu. — Carol, meu amor, você continuará sendo muito bonita para mim, e eu sou a única pessoa cuja opinião deve significar alguma coisa para você.
  • 23. Caroiine riu novamente. — Você sabe que para mim você é mesmo o único — murmurou.— Oh, Adam, é tão delicioso estar aqui com você! Eu gostaria que eles não tivessem vindo para cá. Suas bocas se encontraram, e os lábios dela separaram-se automaticamente. Caroline pôs a mão em torno do pescoço de Adam e ficou acariciando-o na base da nuca. — Caroline... como eu a desejo — sussurrou, enquanto sua boca a excitava cada vez mais. De repente, sem qualquer aviso, a porta se abriu, e Tonia entrou. Caroline desvencilhou- se imediatamente dos braços de Adam, apesar de os dedos dele a segurarem pelos pulsos, impedindo que se afastasse demais. Caroline estava certa de que Tonia vira o abraço que trocaram, pois tinha uma expressão de surpresa estampada no rosto. Obviamente, Tonia se espantara, da mesma forma que a própria Caroline, pelo fato de um homem como Adam se interessar por uma garota simples como Caroline. — O senhor passou o dia todo aqui? — perguntou Tonia, lançando um olhar para Adam que deixava bem clara sua admiração por ele. Sentado no sofá, Adam parecia um tigre, relaxado, mas ao mesmo tempo pronto para saltar. Tonia sabia perfeitamente o que Caroline via em Adam, de cuja forte personalidade emanava uma intensa masculinidade. Isso, acrescido de sua atraente aparência física, era um desafio para qualquer mulher. — Não... viemos para cá esta tarde — respondeu Adam. — Você está na universidade também? — indagou, dirigindo-se a Tonia, ao mesmo tempo em que tragava o cigarro. — Oh, não! Eu moro em Radbury — explicou Tonia, sorrindo. — Conheço seu filho há alguns meses. Nós nos encontramos numa festa, numa das vezes em que ele conseguiu fugir um pouco dos estudos. — Acredito que esse tipo de oportunidade seja bastante frequente — disse Adam, num tom seco, e Tonia riu. — Ele me contou que o senhor esteve recentemente fora do país — continuou ela, fazendo o possível para manter a atenção dele. — Realmente. Estive nos Estados Unidos — concordou Adam. — Por isso, não tenho visto muito John desde as últimas férias de verão. — Imagino que sim — Tonia falou, com entusiasmo. Depois, sem muito interesse, voltou-se para Caroline. — E você faz o quê, Caroline? — Trabalho num escritório — respondeu ela, enrubescendo e fazendo questão de não revelar em que escritório trabalhava. — Sou estenodatilógrafa. E você? Tonia riu à vontade. — Céus, eu não trabalho! — exclamou com uma ponta de malícia e maldade. — Debutei no ano passado e, atualmente, estou apenas me divertindo um pouco. Adam soltou delicadamente os pulsos de Caroline e, cruzando a sala em direção ao bar, perguntou: — O que posso lhe oferecer para beber, Tonia? Ela também se levantou e foi até onde ele estava, deixando Caroline ao pé da lareira. — O senhor tem vodca? — perguntou, sorrindo para ele. Caroline ficou olhando as labaredas. Ela já estava sentindo as agulhadas do ciúme, e o simples fato de pensar que essa mulher ficaria o domingo inteiro com Adam e John a deixava enfurecida. Notou que Tonia, obviamente, sentia-se atraída por Adam e parecia estar perfeitamente disposta a trocar John pelo pai, desde que este mostrasse interesse em assumir a posição de seu filho. Após entregar um copo com vodca a Tonia, Adam preparou xerez para Caroline, uísque para si mesmo e voltou ao sofá. Nesse instante, John apareceu, incorporando-se ao grupo, após servir-se de uma bebida também. Conversaram sobre os estudos de John na universidade e o tempo. Caroline pouco falou. Estava bem claro que John não estava gostando da presença dela e que Tonia a considerava uma pessoa enfadonha e mal vestida. Caroline tinha certeza de que Adam só não fora vestir algo mais apropriado para o jantar por causa dela. O jantar foi servido
  • 24. numa sala envidraçada, que dava vista para boa parte do jardim e para o chafariz iluminado. A refeição servida foi deliciosa. Caroline estava deslocada, não era aquele o seu inundo, ao contrário de Tonia, que sabia perfeitamente como se comportar num lugar como esse. Ficou contente quando tudo terminou, e eles voltaram à sala de estar para tomar café, licores e fumar. Caroline e John ocuparam as poltronas, ao passo que Adam e Tonia se instalaram no sofá. Caroline percebera que Tonia manobrara a situação dessa maneira, mas já não estava mais se importando. A única coisa que ela queria era estar bem longe dali, era ir para sua casa. Não se importava com sua atitude derrotista. Detestava toda aquela hostilidade velada. Por volta de nove e meia da noite, Adam falou: — Acho que é hora de Caroline e eu irmos para a cidade. Vocês nos desculpam? Devo estar de volta dentro de algumas horas. — Como preferir, papai. Cuidado com as estradas, elas estão cobertas de gelo. — Não se preocupe. Até mais tarde, então. — Até mais tarde, papai. Boa noite, srta. Sinclair. — A voz de John ficou bem mais fria em sua última frase. — Boa noite, John. Boa noite, srta. Landon — cumprimentou Caroline da maneira mais suave possível e saiu da sala antes de Adam. Lá fora o ar estava muito frio. Depois do jantar, uma densa neblina se formara rapidamente. As luzes do chafariz tinham sido apagadas, e nada podia ser visto além dele. — Droga! — murmurou Adam, tirando a camada de gelo que se formara sobre o pára- brisa. — Que noite! Ele se sentou no carro ao lado dela e respirou fundo. — Carol, meu bem, você se importaria muito se eu lhe pedisse para passar a noite aqui? Seria loucura tentar chegar a Londres com um tempo desses. Além disso, amanhã é domingo. Caroline suspirou, resignada. — É verdade, acredito que seja mais uma loucura viajar hoje — respondeu ela, preocupada. — Oh, Adam, eu não me importaria nem um pouco se estivéssemos só nos dois aqui, mas agora... — Sua voz sumiu, e ele percebeu quão preocupada ela estava. Adam colocou o braço em torno dos ombros de Caroline. — Minha querida — murmurou ele suavemente —, ignore os dois. John está um pouco ressentido, sei disso, mas Tonia não significa nada para nós. John está com uma garota diferente toda vez que eu o vejo. Pensa que eu me preocupo com o que eles possam estar pensando? Céus, Carol, esta casa é minha, e eu quero que você fique. Acredite, você tem tanto direito de ficar aqui quanto qualquer outra pessoa. Mas o que eu posso dizer a eles? Não passam de duas crianças mimadas demais. — Ele sorriu e beijou a ponta do nariz dela. — Então você fica? — Sim — respondeu, percebendo que sua depressão sumira quase completamente. — Ótimo. E, como você prefere ficar longe deles, vamos para meu escritório e deixamos a sala de estar para eles, combinado? — Oh, Adam! — ela exclamou, feliz, e encostou o rosto no peito quente e confortante. Momentos depois, os dois saíram do carro e caminharam em direção à entrada que dava para o escritório. Durante o trajeto, Caroline se lembrou de avisar Mandy, pois ela poderia ficar preocupada. Chegaram à porta que os levaria à sala de trabalho e entraram. — Tire seu casaco, enquanto vou pôr a sra. Jones a par de nossos planos — disse ele, retirando-se rapidamente. Caroline tirou o casaco de lã e entrou na sala. Comparado com o luxo opulento existente no resto da casa, o gabinete de trabalho era bastante austero. Caroline colocou o casaco em uma das poltronas de couro que Adam usava quando trabalhava ali. Era difícil associar o homem que ela conhecia ao homem de negócios, inflexível e bem-sucedido, em que ele se transformava no Edifício Steinbeck. Com um suspiro, inclinou- se para a frente e começou a mexer nos papéis espalhados de maneira confusa diante dela. Percebeu que estava separando os documentos e, pouco tempo depois, organizara pilhas diferentes para avisos bancários, empréstimos, compras de imóveis, opções de compras...
  • 25. Havia também numerosas cartas pedindo coisas, cartas de instituições de caridade e, finalmente, a correspondência particular. Trabalhando automaticamente, ela esqueceu onde estava, fascinada com a ocupação. Sentia-se atraída pela leitura de contratos de compra de imóveis e demolições, bem como pelas diversas atividades desenvolvidas pelas firmas englobadas no edifício onde ela trabalhava. Estava completamente imersa num outro mundo quando Adam retornou. Ele fechou a porta com um ruído seco, e ela levantou a cabeça. surpresa. Imediatamente, pensou que estava fazendo algo indevido, ficou vermelha e explicou: — Estive organizando sua correspondência. Espero não ter feito algo que não devia. Você se importa? Adam sorriu. — Acho que você pode, sempre que quiser, olhar minha correspondência — respondeu ele naturalmente, atravessando a sala e debruçando-se sobre a cadeira. Ao perceber as diversas pilhas que ela fizera, observou, aprovando: — Muito profissional o que fez. Gostaria de trabalhar como minha secretária pessoal? A srta. Freemam, do escritório, vem para cá de vez em quando para organizar meus documentos. — Você não está falando sério! — exclamou Caroline. — Além disso, não acredito que eu fosse capaz de trabalhar enquanto você estivesse por perto. — E por que não? — Pelo tom voz. Adam parecia estar se divertindo enquanto brincava com uma mecha dos cabelos dela em torno dos dedos. — Não me provoque — Caroline aconselhou, afastando a cabeça. Com um leve sorriso nos lábios, endireitou o corpo. — Como preferir, meu bem. Agora você vai ligar para sua companheira de apartamento, não é? — Nossa! Eu já havia me esquecido. — Debruçando-se sobre a mesa, pegou o aparelho cinzento. — Você discutiu minha suposta personalidade com sua companheira de quarto, não é? — ele perguntou calmamente. — Foi ela quem procurou alertá-la contra minhas intenções? Caroline sentiu que suas faces estavam ficando coradas. — Sim, fiz isso. Mas no futuro pretendo formar minhas próprias opiniões a respeito das pessoas — disse ela, tentando sorrir para Adam. Os dedos dele acariciavam os ombros de Caroline, e ela sentiu o calor deles através da lã espessa do pulôver. — Nada de opiniões a respeito de homens — ele murmurou, encostando a boca no pescoço de Caroline. — Sua amiga pode ter toda razão a meu respeito. Ela tem muita experiência? Caroline riu, sentindo cócegas. — Lembre-me depois de lhe contar uma história sobre um tal Ron Cartwrighi — respondeu. Em seguida, voltou sua atenção à ligação telefônica. — Alô, sr. Benson, Os Benson viviam no apartamento debaixo do de Caroline e Amanda, e sempre mostraram ser bons vizinhos para ambas. Gostava de saber que havia um casal de mais idade vivendo nas imediações, pessoas com quem poderiam contar em caso de necessidade. E era o que Caroline fazia agora. O sr. Benson se prontificou a dar o recado para Amanda e, após algumas palavras, desligou. — Aqui estou eu, sentada justamente na cadeira que pertence ao dono da Steinbeck Corporation! —exclamou ela, depois de desligar o telefone também. — Por quê? — Adam, já pensou como nossas vidas são diferentes? — perguntou ela, apoiando o queixo sobre uma das mãos. — Já imaginou o que é viver num apartamento minúsculo, tendo apenas o dinheiro necessário para sobreviver? — Já passei por isso — ele respondeu surpreendentemente. — Ou acha que nasci rico? Caroline fez uma expressão de espanto. — Não sei muitas coisas a seu respeito. Conte-me mais. — Está realmente interessada em saber, Carol? — Adam, tudo o que está relacionado a você me interessa — falou com sinceridade.
  • 26. — Bem, comecei a vida com um punhado de libras esterlinas quando tinha, aproximadamente, vinte anos de idade. Comprei um terreno, que consegui por um preço barato e que vendi com um lucro enorme. Negócios desse tipo eram consideravelmente mais fáceis naqueles tempos. Os preços não eram idênticos aos de hoje. Se você pegar esse pequeno negócio e imaginá-lo como uma pedrinha descendo por uma encosta cheia de neve, formando uma avalanche, compreenderá a Steinbeck Corporation como ela é naturalmente. E claro que tive sócios, e nós compramos firmas menores, que foram reunidas para formar a empresa que existe hoje. E isto é tudo. — Só isso! — exclamou ela. — É fantástico! Eu já li sobre casos parecidos, mas não tinha a menor idéia de que fora assim que você se tornou quem é. — Nos últimos anos, também compramos alguns imóveis nos Estados Unidos, e é por isso que passo uma parte de meu tempo lá — Adam prosseguiu. — Obviamente, eu poderia transferir uma boa parte do trabalho para meus sócios, mas eu gosto de trabalhar. Além disso, desde que Lídia morreu, não tenho tido muitas outras coisas para fazer. — Lídia? Era sua esposa? — Exato. Ela faleceu há oito anos. Suponho que você já esteja sabendo que ela morreu de leucemia. — Sim — assentiu Caroline. Adam suspirou profundamente. — Sabe, para ser bem honesto, não acredito que Lídia tivesse muito interesse em continuar vivendo depois que John nasceu, e os negócios prosperaram continuamente. Acho que ela gostava de ter uma vida mais simples. — Sorriu. — Agora já sabe tudo a meu respeito — concluiu ele. — Você a amava muito? — perguntou Caroline, sabendo que essa pergunta era uma tortura para si mesma. — Amor? — Adam fez um movimento ambíguo com os ombros. — Eu me casei com Lídia quando tinha apenas vinte anos de idade. Nem sequer sabia o que era amor naquele tempo. Ela era cinco anos mais velha do que eu e muito astuta. Lídia, certo dia, me disse que estava grávida. Nós nos casamos logo em seguida. John nasceu doze meses mais tarde. — Oh! — Carolina abaixou a cabeça. Tinha certeza de que Adam nunca contara isso para qualquer outra pessoa, e ela sentiu ímpetos de correr para ele e lhe mostrar a imensidão de seus sentimentos. Entretanto, ficou sentada onde estava. — Desde então — ele continuou lentamente —, conheci muitas mulheres. Mas nada teve a ver com amor. — Compreendo. — As mulheres de meu ambiente parecem ver sempre o milionário, e não o homem — disse secamente. — Não acho que isso seja completamente verdade — Caroline falou rapidamente. — Você não está dando o devido valor a seus atrativos físicos nem a sua personalidade. Não é seu dinheiro que me interessa, Adam. Ele a encarou com uma expressão levemente cética. — Nem um pouco? — perguntou suavemente. — Acho muito difícil acreditar nisso. — Quando entrei no elevador naquele dia, no dia em que nos vimos pela primeira vez, não tinha a mínima idéia de quem você era. No entanto, você me atraiu da mesma maneira e com a mesma intensidade que me atrai agora. — Entendo. — O dinheiro não a atrai nem um pouco, então? — Não seja tolo. E lógico que o dinheiro também me atrai — ela respondeu. — Eu seria uma boba se dissesse que não. Afinal, ninguém gosta de ser pobre a vida toda. O que estou querendo dizer é que o dinheiro, por si só, não me atrai nem um pouquinho. Quando leio nos jornais a respeito de garotas, adolescentes ainda, se casando com homens de setenta ou mais anos de idade, fico... sei lá como. E se você imagina que penso dessa maneira a seu respeito, deve estar completamente louco. — Um arrepio sacudiu todo seu corpo. — Eu nunca permitiria que um homem desses colocasse um dedo em mim. Seria pior do que... — Sua voz falhou. — Eu acredito que você pensa estar falando sério,— Adam murmurou, num tom de voz meio divertido.
  • 27. — Mas, realmente, estou falando sério — ela afirmou, irritada. — Talvez eu esteja enganado — Adam admitiu, examinando-a durante algum tempo. Depois, com um movimento de ombros, disse: — Caroline, terei de viajar na próxima segunda- feira, depois de amanhã. Aconteceu um imprevisto. — Quanto tempo vai ficar fora? — perguntou, esforçando-se para parecer calma, pois não gostara da informação. — Bem, não tenho muita certeza, mas acredito que serão uns cinco dias. Na segunda- feira pela manhã, pegarei um avião para Nova York e quero poder ir para Boston na quarta. Minha mãe mora lá. — Sua mãe! — Caroline ficou surpresa. — Sim. Você também não imaginava que eu tivesse mãe? — perguntou, sorrindo. — Não é nada disso. Apenas pensei que ela não vivesse mais. — Meu pai morreu quando eu ainda era muito pequeno — explicou ele. — Minha mãe é descendente de irlandeses e, como todos seus parentes estão morando nos Estados Unidos atualmente, ela preferiu viver lá, em vez de ficar aqui, onde as oportunidades de me ver não são muito frequentes. — Compreendo. — Caroline suspirou. Ela ficara sabendo muitas coisas sobre Adam nesse dia, mas havia tantas outras que ela ainda queria saber! — Então, vai sentir um pouco a minha falta? — ele indagou em tom de brincadeira. — É lógico! — exclamou, no mesmo tom de brincadeira. — Quem vai me ajudar se eu chegar atrasada no trabalho? Adam sorriu. — Quer que eu deixe instruções dizendo que tem permissão para chegar ao trabalho na hora que quiser? Caroline corou. — Oh, não! Eu estava apenas brincando — ela disse. — Que inveja tenho de você! Adoraria poder dizer "vou para os Estados Unidos", como se fosse a coisa mais natural do mundo. Ele a encarou com os olhos semicerrados. — Vamos juntos, então — convidou-a. O espanto era evidente no rosto de Caroline. Depois, franzindo a testa, ela pediu: — Por favor, não faça brincadeiras desse tipo comigo, Adam. — E quem disse que estou brincando? — replicou. — Se quiser viajar comigo, eu arranjo tudo que for necessário. — Se eu quiser?! Caroline adoraria viajar com ele, mas sabia que não seria possível. A situação não era tão simples assim, apesar de estar intimamente preparada para ser tão ousada. Afinal de contas, era necessário pensar em tia Bárbara, em Amanda... — Não — respondeu por fim. — Você sabia que eu não iria aceitar, não é? — Acho que sim — Adam concordou, com um suspiro. Nesse instante, alguém bateu na porta, e a sra. Jones entrou na sala. — Acabei de servir a ceia para John — ela informou. — Quando ele me perguntou se o senhor já havia voltado, eu tive de lhe contar a verdade. E ele me pediu que viesse lhe perguntar por que não vai se reunir a eles na sala de estar. — Tudo bem, sra. Jones — respondeu Adam, sem se preocupar, — Por favor, diga a John que nós estamos bem aqui e que os veremos durante o café da manhã. — Sim, senhor, — A senhora preparou o quarto rosa da maneira que lhe pedi, sra. Jones? — Sim. Está tudo preparado como o senhor pediu. — Ótimo. Gostaria que mostrasse o quarto à srta. Sinclair. — Virando-se para Caroline continuou: — Acompanhe a sra. Jones, querida. E durma bem — murmurou suavemente. — Boa noite, Adam — disse Caroline e, obediente, acompanhou a sra. Jones ao quarto que lhe havia sido designado. O aposento, com banheiro privativo, ficava na parte superior da casa, e Caroline ficou
  • 28. impressionada com o luxo da decoração. Após tomar um banho, ela apagou as luzes principais, deixando acesa apenas a de um abajur ao lado da cama. O quarto mergulhou numa penumbra dourada. Olhou seu relógio e viu que já era quase meia-noite, hora de dormir, pensou. De repente, ouviu uma batida na porta. Ela a abriu, e Adam entrou. Fechou-a e encostou-se nela, sorrindo. Caroline sentou-se na cama, surpresa pela visita inesperada. Ele ainda estava vestido e andou em direção à cama. — Não fique assustada — ele sussurrou. — Eu só vim para ver se tudo está em ordem e para lhe desejar uma boa noite. Caroline suspirou. — Achei que você queria que eu não o atrapalhasse lá embaixo. — Foi essa a impressão que eu lhe dei? Sinto muito, meu bem. Eu simplesmente não queria dar motivos para a sra. Jones fazer fofocas. Afinal de contas, você é muito jovem... e muito bonita também... — Ele mordeu o lábio inferior enquanto olhava para ela. — Fico contente em saber que você me acha bonita — ela disse suavemente. — Este quarto é maravilhoso. Ele nada comentou e continuou olhando-a fixamente. Após alguns instantes, Caroline indagou, com voz rouca: — Suponho que este pijama seja seu, não? — Sim — murmurou ele, enquanto seus olhos continuavam acariciando o corpo esguio de Caroline. Subitamente, Adam sentou-se ao lado dela, puxando-a contra si, sua boca procurando sofregamente a de Caroline. Havia uma enorme ternura nesse beijo, uma ternura que a conquistou com-pletamente, e, quando ela o retribuiu, ele se tornou mais agressivo, seus lábios e língua cada vez mais exigentes. — Adam... — ela murmurou, ofegante. — Por Deus, Carol — disse ele, desvencilhando-se dela e le- vantando-se novamente —, você não sabe o que faz comigo! — Mas sei o que você faz comigo — respondeu ela, apoiando-se sobre o cotovelo, com a gola do pijama entreaberta, revelando a curva dos seios firmes. Adam fitou Caroline e, após um breve momento, falou num tom de voz forçado: — Durma bem... — Em seguida, ele se retirou, fechando a porta. Caroline virou-se de bruços na cama e começou a chorar. CAPITULO IV Na manhã seguinte, Caroline acordou quando a sra. Jones entrou no quarto, dizendo- lhe: — O desjejum está servido na sala de jantar. — Muito obrigada, sra. Jones — agradeceu Caroline. Mais tarde, já vestida, desceu à sala de jantar, sem qualquer dificuldade para encontrar o caminho. A casa estava em completo silêncio. Já eram mais de oito e meia da manhã, porém, sendo domingo, era cedo demais, até mesmo para ela. Quando entrou na grande e bem iluminada sala de jantar, encontrou uma única pessoa, John Steinbeck. Estava sentado à mesa, com um prato contendo ovos e bacon a sua frente, lendo jornal. Levantou os olhos quando ela entrou e a encarou com certa frieza. — Bom dia — cumprimentou Caroline, sentindo-se nervosa e sentando-se do outro lado da mesa. John resmungou uma resposta e, num gesto rude, voltou a se concentrar na leitura do jornal, mas lembrando-se de que, naquele instante, seu papel deveria ser o de anfitrião, colocou o jornal de lado e lhe ofereceu algumas torradas. — Não, obrigada — respondeu Caroline, meneando a cabeça. — Seu pai ainda está