SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 13
O Julgamento da Ovelha
   Um cachorro acusou uma pobre ovelhinha de lhe haver furtado um osso.
- Para que furtaria um osso - alegou ela - se sou herbívora e um osso pra mim vale tanto como um pedaço de pau?
- Não quero saber de nada. Você furtou o osso e vou levá-la já aos tribunais.
E assim fez.     Queixou-se ao gavião e pediu-lhe justiça. O gavião reuniu o tribunal para julgar a causa, sorteando para isso doze urubus de papo vazio.
 
Comparece a ovelha.  Fala. Defende-se muito bem, com razões muito irmãs das do cordeirinho que o lobo em tempos comeu.
Mas o júri, composto de carnívoros gulosos, não quis saber de nada e deu a sentença:
- Ou me entrega o osso já e já, ou condenamos você à morte!
A ré tremeu: não havia escapatória!... Osso não tinha e não podia, portanto, restituir; mas tinha vida e ia entregá-la em pagamento do que não furtara.
Assim aconteceu. O cachorro sangrou-a
Cortou-a em pedaços, reservou para si um quarto e dividiu o restante com os juízes famintos...
Monteiro Lobato  

Mais conteúdo relacionado

Mais de isanete

Meioambiente
MeioambienteMeioambiente
Meioambiente
isanete
 
Tutorial
TutorialTutorial
Tutorial
isanete
 
Aprenda a fazer um pôster ou banner
Aprenda a fazer um pôster ou bannerAprenda a fazer um pôster ou banner
Aprenda a fazer um pôster ou banner
isanete
 
O uso de sinais na pesquisa
O uso de sinais na pesquisaO uso de sinais na pesquisa
O uso de sinais na pesquisa
isanete
 
Sile abiqueyla
Sile abiqueylaSile abiqueyla
Sile abiqueyla
isanete
 

Mais de isanete (7)

Pátria
PátriaPátria
Pátria
 
Pátria
PátriaPátria
Pátria
 
Meioambiente
MeioambienteMeioambiente
Meioambiente
 
Tutorial
TutorialTutorial
Tutorial
 
Aprenda a fazer um pôster ou banner
Aprenda a fazer um pôster ou bannerAprenda a fazer um pôster ou banner
Aprenda a fazer um pôster ou banner
 
O uso de sinais na pesquisa
O uso de sinais na pesquisaO uso de sinais na pesquisa
O uso de sinais na pesquisa
 
Sile abiqueyla
Sile abiqueylaSile abiqueyla
Sile abiqueyla
 

Ojulgamento Da Ovelha

  • 2.   Um cachorro acusou uma pobre ovelhinha de lhe haver furtado um osso.
  • 3. - Para que furtaria um osso - alegou ela - se sou herbívora e um osso pra mim vale tanto como um pedaço de pau?
  • 4. - Não quero saber de nada. Você furtou o osso e vou levá-la já aos tribunais.
  • 5. E assim fez.     Queixou-se ao gavião e pediu-lhe justiça. O gavião reuniu o tribunal para julgar a causa, sorteando para isso doze urubus de papo vazio.
  • 6.  
  • 7. Comparece a ovelha. Fala. Defende-se muito bem, com razões muito irmãs das do cordeirinho que o lobo em tempos comeu.
  • 8. Mas o júri, composto de carnívoros gulosos, não quis saber de nada e deu a sentença:
  • 9. - Ou me entrega o osso já e já, ou condenamos você à morte!
  • 10. A ré tremeu: não havia escapatória!... Osso não tinha e não podia, portanto, restituir; mas tinha vida e ia entregá-la em pagamento do que não furtara.
  • 11. Assim aconteceu. O cachorro sangrou-a
  • 12. Cortou-a em pedaços, reservou para si um quarto e dividiu o restante com os juízes famintos...