SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 1
Baixar para ler offline
Segunda-feira 12.5.2014 O GLOBO l 19
Sociedade
CIBERESPAÇOAÉREO_
O sinal está no arGigantesdawebcomeçamadisputarbilhõesdedesconectados,expandindoaredepordronesebalões
DIVULGAÇÃO
Provedores com asas. O drone Solara, da Titan Aerospace, empresa comprada pelo Google para conexão à internet em áreas remotas: o Facebook também está na corrida para utilizar aeronaves não tripuladas com esse objetivo
Compoucomaisde44anosdeexistência,ainter-
net tem cerca de 2,7 bilhões de usuários (39% da
população mundial), alimentando um mercado
multibilionário. Os restantes 61% desconectados
estão provocando uma espécie de “corrida espa-
cial” entre os gigantes da rede. E, no mundo mó-
vel, a briga é ainda mais acirrada. Com o celular
atingindo mais de 96% dos terráqueos, uma ex-
pansão da infraestrutura da web representaria
um potencial de venda de serviços monumental.
Google e Facebook estão esfomeados, quase de-
sesperados, para engolir o próximo bilhão de in-
ternautas. E, para isso, não param de bolar novas
maneiras de levar sinal a rincões ainda virgens.
Equipamentos geoestacionários, drones e
balões estão entre os veículos por meio dos quais
os players querem conquistar territórios. Para isso,
elesterãodevencerdesconfiançasquecercamtais
tecnologias—noOrienteMédio,porexemplo,um
dos potenciais mercados a explorar, com apenas
26% da população atualmente conectada à inter-
net, drones são comumente associados pela po-
pulação a ações de contraterrorismo americanas e
percebidos como ameaças. Além disso, dizem es-
pecialistas, há o medo de que os exploradores des-
se tesouro virtual possam recolher dados de usuá-
riosindiscriminadamentedemodomuitomaisfá-
cil a partir do espaço.
Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, lançou
em agosto de 2013 sua iniciativa “internet.org”
em parceria com seis grandes companhias de
telefonia móvel, com o objetivo de levar acesso
à internet mais barato a todos. “A população co-
nectada do mundo está crescendo apenas 9%
ao ano. Queremos acelerar esse crescimento”,
diz o documento principal da instituição, que já
fechou acordos com provedores nas Filipinas e
no Paraguai. Mas a internet.org investe também
em outras tecnologias.
No setor de satélites, para fornecer conexão à
internet,oFacebookcontemplausarequipamen-
tos geoestacionários, que orbitam a mais de 35
mil quilômetros de altitude, além de satélites não
estacionários de órbita terrestre baixa (entre 400 e
600 quilômetros). A rede social está avaliando
usaremseussatélitesatecnologiaFSO(FreeSpa-
ce Optics), baseada em laser e que exige grande
precisão na pontaria do feixe luminoso.
EMPREGABILIDADE AINDA É INCERTA
Já no departamento dos drones, o Facebook tem
planos ousados, mas levou uma rasteira de últi-
ma hora do Google, que comprou, debaixo de
seu nariz, a empresa Titan Aerospace, cortejada
há muito pela companhia de Mark Zuckerberg.
Este acabou arrematando a inglesa Ascenta,
que produz drones movidos a energia solar.
Mesmo parecendo promissores, os drones
ainda são uma tecnologia incerta para prover
conectividade.
— Drones usados para internet ainda são uma
aposta — afirma Nei Brasil, cofundador e presi-
dente da Flight Technologies, empresa brasileira
especializada nessas aeronaves. — Os custos são
altos, e a viabilidade técnica existe, mas a modela-
gem econômica ainda é um mistério. Outro fator é
a incerteza quanto à regulamentação pelas autori-
dades do setor aeronáutico, tanto no Brasil quanto
nos outros países. Os próprios americanos ainda
não têm regulamentação para drones na área pri-
vada. Mas Google e Facebook têm bala na agulha
para se dar ao luxo de queimar US$ 50 milhões ou
US$ 60 milhões em um projeto experimental de
drones para implementar conectividade.
Outra seara à vista no futuro da internet são os
balões. Desde 2008, o Google já vinha pesquisando
modelos atmosféricos para levar conectividade à
internet, mas só em junho de 2013 iniciou o Project
Loon, com um experimento na Nova Zelândia en-
volvendo 30 balões lançados em coordenação com
as autoridades locais de aviação civil. O projeto pi-
loto fornece acesso à rede a 50 usuários da região.
No início de abril passado, o Google soltou
cerca de 300 balões, que deram uma volta
completa pela Terra na latitude 40° Sul, pro-
vendo experimentalmente acesso à internet a
regiões ermas de Nova Zelândia, Austrália,
Chile e Argentina. E um dos balões — o histó-
rico I-167 — fez a volta completa em 22 dias. O
plano da empresa é espalhar milhares deles na
estratosfera, de modo a cobrir as áreas secas e
habitáveis do planeta.
O Brasil também tem uma iniciativa para pro-
ver conexão à internet por balões: o Projeto Co-
nectar, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais). Mas o conceito é diferente.
— Nossos balões são ancorados, ou seja, fi-
cam presos ao solo por uma corda de aramida,
bem leve — explica José Ângelo Neri, pesquisa-
dor do Inpe e coordenador do Projeto Conectar.
— Eles pairam a cerca de 400 metros do solo,
proporcionando conexão num raio de até 100
quilômetros e funcionando como se fossem tor-
res convencionais, só que mais altas, mais bara-
tas e com alcance muito maior.
O projeto é 100% brasileiro e pode servir tam-
bém para dar apoio a regiões em caso de desas-
tres. O próximo passo é um experimento piloto
— definido em dezembro de 2013, mas ainda
aguardando autorização ministerial — na Regi-
ão Norte, que deve cobrir dez cidades num raio
de 50 quilômetros a 100 quilômetros.
— Usamos nos balões os gases hélio ou hidro-
gênio, mas a logística do projeto é complicada.
Quanto à inflamabilidade do hidrogênio, não há
problema. Já testamos nossos balões dando até
sete tiros neles. Não houve explosão, e a descida
foi suave, já que a diferença de pressão é minús-
cula, apenas um centésimo de atmosfera.
MOMENTO DE TRANSFORMAÇÃO NA REDE
Os tubarões da internet sabem que a grande rede
está num momento de transformações, e este —
além da possibilidade de grandes lucros — é um
dos motivos para a fome por novos usuários. Hu-
go Fuks, professor e diretor do Departamento de
Informática da PUC-Rio, explica que, de fato, a
web está mudando de vocação.
— Deixando de lado o bom e velho e-mail, a in-
ternetestádeixandodeserumveículodeconsumo
de informações para se tornar uma via de intera-
ções entre usuários, instituições e empresas, uma
metamorfose bem simbolizada pelo fenômeno das
redes sociais — explica. — Com a iminente “inter-
net das coisas”, essa situação se agrava ainda mais,
pois as interações passam a contemplar bilhões ou
trilhões de objetos conectados e endereçáveis pelo
protocolo IPv6, que teoricamente seria capaz de
abarcar todos os grãos de areia do planeta.
Google, Facebook e outros gigantes estão cons-
cientes desse futuro. É o que diz o analista de tec-
nologia americano Mike Elgan:
— Essas redes estão se convertendo de sites
centralizados que concentram milhões de usuá-
rios em aplicativos com funções específicas den-
tro de uma mesma plataforma, que conseguirão
captar ainda mais usuários e, é claro, juntar o má-
ximo de informações deles para, depois, dirigir-
lhes anúncios personalizados supereficientes. l
CARLOS ALBERTO TEIXEIRA
cat@oglobo.com.br
O
Projeto Loon, do Google, que quer
soltar 50 mil balões aos céus para
levar internet a regiões descober-
tas de sinal, seria temerário no pa-
ís, diz um especialista em aeronáutica brasi-
leiros que teve acesso aos detalhes técnicos
do plano e pediu para não ser identificado.
Sua visão não é nada otimista.
— Primeiramente, não são as autoridades lo-
cais que operam os balões. Isso tem implica-
ções muito sérias na segurança aérea, na segu-
rança de dados e na segurança nacional — res-
salta. — Além disso, no Brasil seria contra a lei.
Esses balões do Loon precisariam ter transpon-
ders (transmissores de rádio) para que, caso
percam altitude, e isso ocorre com muita fre-
quência,possamseresquadrinhadoseevitados
pelo tráfego aéreo. Eu vi as especificações do
Google: os balões deles não têm potência elétri-
ca para aguentar um transponder nem empuxo
vertical para sustentar a massa de um.
Ele considera ainda uma temeridade per-
mitir essa “invasão” de balões sobre o territó-
rio de qualquer país.
— Observe que, na tão alardeada “volta ao
mundo em 22 dias”, os balões do Loon voa-
ram basicamente em cima de água, pois seria
bem complicado obter autorização de dife-
rentes países para essa empreitada.
Quanto às ambições do Google e ao que
chama de subserviência brasileira, o enge-
nheiro é incisivo.
— O pessoal lá de Brasília endeusa o Goo-
gle e os “gênios” que trabalham lá, gente
que vai resolver os problemas do mundo.
Mas não vai. A solução deles neste caso não
tem razão para funcionar, pois se baseia em
um princípio furado. O enlace de dados en-
tre o balão, a infraestrutura de internet e o
usuário no solo é problemático, especial-
mente em lugares como a nossa Região
Norte, onde há muita umidade no ar. O Go-
ogle queria balões a 20 quilômetros de alti-
tude mas, diante do caso amazônico, eles
propuseram diminuí-la drasticamente.
O especialista levanta também problemas
ligados às correntes de vento, que se agravam
no Brasil em épocas do ano com pouco fluxo.
— O projeto pressupõe correntes de vento
ideais. Mas o fluxo de vento não dá a volta
certinho no planeta. Ele não segue paralelos
nem meridianos. Esse controle não existe.
Com essa maravilhosa rede de computado-
res do Google, eles esquecem que descer um
balão é fácil, mas subir é difícil — afirma. —
Além disso, seria preciso mudar toda a regu-
lamentação brasileira. No país é obrigatório
expedir um Notam, documento informativo
oficial da Aeronáutica, para cada balão, in-
formando data, hora, local e trajetória
Segundo ele, aceitar os balões do Google
sobre o Brasil seria uma ameaça à soberania
e à segurança nacionais.
— Eles vão ter que insistir muito com cada
país que se considere decente para que acei-
te esse projeto. (Carlos AlbertoTeixeira) l
Projeto Loon, do Google, seria
temerário no Brasil, diz perito
Sem transponders, balões não
poderiam ser detectados por aviões,
pondo em xeque a segurança
DIVULGAÇÃO
Balão de ‘ensaio’. Um experimento feito na Nova Zelândia para acesso à web no ano passado: dúvidas
VOO ARRISCADO

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a O globo 2014-05-12 - página 19 - expansão da internet por drones e balões

Previsões da Singularity University até 2038
Previsões da Singularity University até 2038Previsões da Singularity University até 2038
Previsões da Singularity University até 2038Paulo Ratinecas
 
Previsões para 2018 - Singularity University
Previsões para 2018 - Singularity UniversityPrevisões para 2018 - Singularity University
Previsões para 2018 - Singularity UniversityJoão Gabriel Chebante
 
CABOS ÓPTICOS SUBMARINOS - UMA APRESENTACAO SOBRE OS CABOS E SUA DISTRIBUICAO...
CABOS ÓPTICOS SUBMARINOS - UMA APRESENTACAO SOBRE OS CABOS E SUA DISTRIBUICAO...CABOS ÓPTICOS SUBMARINOS - UMA APRESENTACAO SOBRE OS CABOS E SUA DISTRIBUICAO...
CABOS ÓPTICOS SUBMARINOS - UMA APRESENTACAO SOBRE OS CABOS E SUA DISTRIBUICAO...202010070015
 
Computação Grid e infra-estruturas para e-ciência
Computação Grid e infra-estruturas para e-ciênciaComputação Grid e infra-estruturas para e-ciência
Computação Grid e infra-estruturas para e-ciênciaLeandro Ciuffo
 
Teoria das Mídias - 24/8/2018
Teoria das Mídias - 24/8/2018Teoria das Mídias - 24/8/2018
Teoria das Mídias - 24/8/2018Renato Cruz
 
Fundamentos de Webdesign, de Tecnologia e de Inovação - 13/3/2017
Fundamentos de Webdesign, de Tecnologia e de Inovação - 13/3/2017Fundamentos de Webdesign, de Tecnologia e de Inovação - 13/3/2017
Fundamentos de Webdesign, de Tecnologia e de Inovação - 13/3/2017Renato Cruz
 
Redes de computadores e suas tendências
Redes de computadores e suas tendênciasRedes de computadores e suas tendências
Redes de computadores e suas tendênciasAlexandre Santana
 
Tendências de transformação digital - Cartilha SEBRAE
Tendências de transformação digital - Cartilha SEBRAETendências de transformação digital - Cartilha SEBRAE
Tendências de transformação digital - Cartilha SEBRAEPaulo Ratinecas
 

Semelhante a O globo 2014-05-12 - página 19 - expansão da internet por drones e balões (11)

Internet 2
Internet 2Internet 2
Internet 2
 
Previsões da Singularity University até 2038
Previsões da Singularity University até 2038Previsões da Singularity University até 2038
Previsões da Singularity University até 2038
 
Previsões para 2018 - Singularity University
Previsões para 2018 - Singularity UniversityPrevisões para 2018 - Singularity University
Previsões para 2018 - Singularity University
 
CABOS ÓPTICOS SUBMARINOS - UMA APRESENTACAO SOBRE OS CABOS E SUA DISTRIBUICAO...
CABOS ÓPTICOS SUBMARINOS - UMA APRESENTACAO SOBRE OS CABOS E SUA DISTRIBUICAO...CABOS ÓPTICOS SUBMARINOS - UMA APRESENTACAO SOBRE OS CABOS E SUA DISTRIBUICAO...
CABOS ÓPTICOS SUBMARINOS - UMA APRESENTACAO SOBRE OS CABOS E SUA DISTRIBUICAO...
 
Internet via satelite
Internet via sateliteInternet via satelite
Internet via satelite
 
Computação Grid e infra-estruturas para e-ciência
Computação Grid e infra-estruturas para e-ciênciaComputação Grid e infra-estruturas para e-ciência
Computação Grid e infra-estruturas para e-ciência
 
Teoria das Mídias - 24/8/2018
Teoria das Mídias - 24/8/2018Teoria das Mídias - 24/8/2018
Teoria das Mídias - 24/8/2018
 
Fundamentos de Webdesign, de Tecnologia e de Inovação - 13/3/2017
Fundamentos de Webdesign, de Tecnologia e de Inovação - 13/3/2017Fundamentos de Webdesign, de Tecnologia e de Inovação - 13/3/2017
Fundamentos de Webdesign, de Tecnologia e de Inovação - 13/3/2017
 
Redes de computadores e suas tendências
Redes de computadores e suas tendênciasRedes de computadores e suas tendências
Redes de computadores e suas tendências
 
Tendências de transformação digital - Cartilha SEBRAE
Tendências de transformação digital - Cartilha SEBRAETendências de transformação digital - Cartilha SEBRAE
Tendências de transformação digital - Cartilha SEBRAE
 
Historia da internet
Historia da internetHistoria da internet
Historia da internet
 

Mais de Carlos Alberto Teixeira

Apresentação do Prof. Marc Prensky no evento "Educação 360 Tecnologia"
Apresentação do Prof. Marc Prensky no evento "Educação 360 Tecnologia"Apresentação do Prof. Marc Prensky no evento "Educação 360 Tecnologia"
Apresentação do Prof. Marc Prensky no evento "Educação 360 Tecnologia"Carlos Alberto Teixeira
 
Para pessoas idosas: MANUAL SOBRE COMO EVITAR QUEDAS
Para pessoas idosas: MANUAL SOBRE COMO EVITAR QUEDASPara pessoas idosas: MANUAL SOBRE COMO EVITAR QUEDAS
Para pessoas idosas: MANUAL SOBRE COMO EVITAR QUEDASCarlos Alberto Teixeira
 
INGRESS — Game que mistura real e virtual vicia usuários
INGRESS — Game que mistura real e virtual vicia usuáriosINGRESS — Game que mistura real e virtual vicia usuários
INGRESS — Game que mistura real e virtual vicia usuáriosCarlos Alberto Teixeira
 
Leia a entrevista de Marina Silva na revista Época
Leia a entrevista de Marina Silva na revista ÉpocaLeia a entrevista de Marina Silva na revista Época
Leia a entrevista de Marina Silva na revista ÉpocaCarlos Alberto Teixeira
 
Intel ISEF 2014, matéria publicada em O GLOBO em 19 de maio de 2014
Intel ISEF 2014, matéria publicada em O GLOBO em 19 de maio de 2014Intel ISEF 2014, matéria publicada em O GLOBO em 19 de maio de 2014
Intel ISEF 2014, matéria publicada em O GLOBO em 19 de maio de 2014Carlos Alberto Teixeira
 
Dispositivos computacionais conectados preferidos dos brasileiros
Dispositivos computacionais conectados preferidos dos brasileirosDispositivos computacionais conectados preferidos dos brasileiros
Dispositivos computacionais conectados preferidos dos brasileirosCarlos Alberto Teixeira
 
Boletim da sedec cbmerj num 012 data 31-01-2014 folha 819
Boletim da sedec cbmerj num 012 data 31-01-2014 folha 819Boletim da sedec cbmerj num 012 data 31-01-2014 folha 819
Boletim da sedec cbmerj num 012 data 31-01-2014 folha 819Carlos Alberto Teixeira
 
Fbi Ppt Que Vazou Cisco Falsificado Omb Briefing 2008 01 11 A
Fbi Ppt Que Vazou Cisco Falsificado Omb Briefing 2008 01 11 AFbi Ppt Que Vazou Cisco Falsificado Omb Briefing 2008 01 11 A
Fbi Ppt Que Vazou Cisco Falsificado Omb Briefing 2008 01 11 ACarlos Alberto Teixeira
 

Mais de Carlos Alberto Teixeira (14)

Apresentação do Prof. Marc Prensky no evento "Educação 360 Tecnologia"
Apresentação do Prof. Marc Prensky no evento "Educação 360 Tecnologia"Apresentação do Prof. Marc Prensky no evento "Educação 360 Tecnologia"
Apresentação do Prof. Marc Prensky no evento "Educação 360 Tecnologia"
 
Para pessoas idosas: MANUAL SOBRE COMO EVITAR QUEDAS
Para pessoas idosas: MANUAL SOBRE COMO EVITAR QUEDASPara pessoas idosas: MANUAL SOBRE COMO EVITAR QUEDAS
Para pessoas idosas: MANUAL SOBRE COMO EVITAR QUEDAS
 
INGRESS — Game que mistura real e virtual vicia usuários
INGRESS — Game que mistura real e virtual vicia usuáriosINGRESS — Game que mistura real e virtual vicia usuários
INGRESS — Game que mistura real e virtual vicia usuários
 
Leia a entrevista de Marina Silva na revista Época
Leia a entrevista de Marina Silva na revista ÉpocaLeia a entrevista de Marina Silva na revista Época
Leia a entrevista de Marina Silva na revista Época
 
Intel ISEF 2014, matéria publicada em O GLOBO em 19 de maio de 2014
Intel ISEF 2014, matéria publicada em O GLOBO em 19 de maio de 2014Intel ISEF 2014, matéria publicada em O GLOBO em 19 de maio de 2014
Intel ISEF 2014, matéria publicada em O GLOBO em 19 de maio de 2014
 
Dispositivos computacionais conectados preferidos dos brasileiros
Dispositivos computacionais conectados preferidos dos brasileirosDispositivos computacionais conectados preferidos dos brasileiros
Dispositivos computacionais conectados preferidos dos brasileiros
 
Apple store do rio guia do visitante
Apple store do rio   guia do visitanteApple store do rio   guia do visitante
Apple store do rio guia do visitante
 
Tabela zoom snt
Tabela zoom sntTabela zoom snt
Tabela zoom snt
 
Boletim da sedec cbmerj num 012 data 31-01-2014 folha 819
Boletim da sedec cbmerj num 012 data 31-01-2014 folha 819Boletim da sedec cbmerj num 012 data 31-01-2014 folha 819
Boletim da sedec cbmerj num 012 data 31-01-2014 folha 819
 
Cell Phones and Brain Cancer
Cell Phones and Brain CancerCell Phones and Brain Cancer
Cell Phones and Brain Cancer
 
Normandia: Ontem e Hoje / Parte1
Normandia: Ontem e Hoje / Parte1Normandia: Ontem e Hoje / Parte1
Normandia: Ontem e Hoje / Parte1
 
All About Taking Photos
All About Taking PhotosAll About Taking Photos
All About Taking Photos
 
Rio de Janeiro visto do céu
Rio de Janeiro visto do céuRio de Janeiro visto do céu
Rio de Janeiro visto do céu
 
Fbi Ppt Que Vazou Cisco Falsificado Omb Briefing 2008 01 11 A
Fbi Ppt Que Vazou Cisco Falsificado Omb Briefing 2008 01 11 AFbi Ppt Que Vazou Cisco Falsificado Omb Briefing 2008 01 11 A
Fbi Ppt Que Vazou Cisco Falsificado Omb Briefing 2008 01 11 A
 

O globo 2014-05-12 - página 19 - expansão da internet por drones e balões

  • 1. Segunda-feira 12.5.2014 O GLOBO l 19 Sociedade CIBERESPAÇOAÉREO_ O sinal está no arGigantesdawebcomeçamadisputarbilhõesdedesconectados,expandindoaredepordronesebalões DIVULGAÇÃO Provedores com asas. O drone Solara, da Titan Aerospace, empresa comprada pelo Google para conexão à internet em áreas remotas: o Facebook também está na corrida para utilizar aeronaves não tripuladas com esse objetivo Compoucomaisde44anosdeexistência,ainter- net tem cerca de 2,7 bilhões de usuários (39% da população mundial), alimentando um mercado multibilionário. Os restantes 61% desconectados estão provocando uma espécie de “corrida espa- cial” entre os gigantes da rede. E, no mundo mó- vel, a briga é ainda mais acirrada. Com o celular atingindo mais de 96% dos terráqueos, uma ex- pansão da infraestrutura da web representaria um potencial de venda de serviços monumental. Google e Facebook estão esfomeados, quase de- sesperados, para engolir o próximo bilhão de in- ternautas. E, para isso, não param de bolar novas maneiras de levar sinal a rincões ainda virgens. Equipamentos geoestacionários, drones e balões estão entre os veículos por meio dos quais os players querem conquistar territórios. Para isso, elesterãodevencerdesconfiançasquecercamtais tecnologias—noOrienteMédio,porexemplo,um dos potenciais mercados a explorar, com apenas 26% da população atualmente conectada à inter- net, drones são comumente associados pela po- pulação a ações de contraterrorismo americanas e percebidos como ameaças. Além disso, dizem es- pecialistas, há o medo de que os exploradores des- se tesouro virtual possam recolher dados de usuá- riosindiscriminadamentedemodomuitomaisfá- cil a partir do espaço. Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, lançou em agosto de 2013 sua iniciativa “internet.org” em parceria com seis grandes companhias de telefonia móvel, com o objetivo de levar acesso à internet mais barato a todos. “A população co- nectada do mundo está crescendo apenas 9% ao ano. Queremos acelerar esse crescimento”, diz o documento principal da instituição, que já fechou acordos com provedores nas Filipinas e no Paraguai. Mas a internet.org investe também em outras tecnologias. No setor de satélites, para fornecer conexão à internet,oFacebookcontemplausarequipamen- tos geoestacionários, que orbitam a mais de 35 mil quilômetros de altitude, além de satélites não estacionários de órbita terrestre baixa (entre 400 e 600 quilômetros). A rede social está avaliando usaremseussatélitesatecnologiaFSO(FreeSpa- ce Optics), baseada em laser e que exige grande precisão na pontaria do feixe luminoso. EMPREGABILIDADE AINDA É INCERTA Já no departamento dos drones, o Facebook tem planos ousados, mas levou uma rasteira de últi- ma hora do Google, que comprou, debaixo de seu nariz, a empresa Titan Aerospace, cortejada há muito pela companhia de Mark Zuckerberg. Este acabou arrematando a inglesa Ascenta, que produz drones movidos a energia solar. Mesmo parecendo promissores, os drones ainda são uma tecnologia incerta para prover conectividade. — Drones usados para internet ainda são uma aposta — afirma Nei Brasil, cofundador e presi- dente da Flight Technologies, empresa brasileira especializada nessas aeronaves. — Os custos são altos, e a viabilidade técnica existe, mas a modela- gem econômica ainda é um mistério. Outro fator é a incerteza quanto à regulamentação pelas autori- dades do setor aeronáutico, tanto no Brasil quanto nos outros países. Os próprios americanos ainda não têm regulamentação para drones na área pri- vada. Mas Google e Facebook têm bala na agulha para se dar ao luxo de queimar US$ 50 milhões ou US$ 60 milhões em um projeto experimental de drones para implementar conectividade. Outra seara à vista no futuro da internet são os balões. Desde 2008, o Google já vinha pesquisando modelos atmosféricos para levar conectividade à internet, mas só em junho de 2013 iniciou o Project Loon, com um experimento na Nova Zelândia en- volvendo 30 balões lançados em coordenação com as autoridades locais de aviação civil. O projeto pi- loto fornece acesso à rede a 50 usuários da região. No início de abril passado, o Google soltou cerca de 300 balões, que deram uma volta completa pela Terra na latitude 40° Sul, pro- vendo experimentalmente acesso à internet a regiões ermas de Nova Zelândia, Austrália, Chile e Argentina. E um dos balões — o histó- rico I-167 — fez a volta completa em 22 dias. O plano da empresa é espalhar milhares deles na estratosfera, de modo a cobrir as áreas secas e habitáveis do planeta. O Brasil também tem uma iniciativa para pro- ver conexão à internet por balões: o Projeto Co- nectar, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Mas o conceito é diferente. — Nossos balões são ancorados, ou seja, fi- cam presos ao solo por uma corda de aramida, bem leve — explica José Ângelo Neri, pesquisa- dor do Inpe e coordenador do Projeto Conectar. — Eles pairam a cerca de 400 metros do solo, proporcionando conexão num raio de até 100 quilômetros e funcionando como se fossem tor- res convencionais, só que mais altas, mais bara- tas e com alcance muito maior. O projeto é 100% brasileiro e pode servir tam- bém para dar apoio a regiões em caso de desas- tres. O próximo passo é um experimento piloto — definido em dezembro de 2013, mas ainda aguardando autorização ministerial — na Regi- ão Norte, que deve cobrir dez cidades num raio de 50 quilômetros a 100 quilômetros. — Usamos nos balões os gases hélio ou hidro- gênio, mas a logística do projeto é complicada. Quanto à inflamabilidade do hidrogênio, não há problema. Já testamos nossos balões dando até sete tiros neles. Não houve explosão, e a descida foi suave, já que a diferença de pressão é minús- cula, apenas um centésimo de atmosfera. MOMENTO DE TRANSFORMAÇÃO NA REDE Os tubarões da internet sabem que a grande rede está num momento de transformações, e este — além da possibilidade de grandes lucros — é um dos motivos para a fome por novos usuários. Hu- go Fuks, professor e diretor do Departamento de Informática da PUC-Rio, explica que, de fato, a web está mudando de vocação. — Deixando de lado o bom e velho e-mail, a in- ternetestádeixandodeserumveículodeconsumo de informações para se tornar uma via de intera- ções entre usuários, instituições e empresas, uma metamorfose bem simbolizada pelo fenômeno das redes sociais — explica. — Com a iminente “inter- net das coisas”, essa situação se agrava ainda mais, pois as interações passam a contemplar bilhões ou trilhões de objetos conectados e endereçáveis pelo protocolo IPv6, que teoricamente seria capaz de abarcar todos os grãos de areia do planeta. Google, Facebook e outros gigantes estão cons- cientes desse futuro. É o que diz o analista de tec- nologia americano Mike Elgan: — Essas redes estão se convertendo de sites centralizados que concentram milhões de usuá- rios em aplicativos com funções específicas den- tro de uma mesma plataforma, que conseguirão captar ainda mais usuários e, é claro, juntar o má- ximo de informações deles para, depois, dirigir- lhes anúncios personalizados supereficientes. l CARLOS ALBERTO TEIXEIRA cat@oglobo.com.br O Projeto Loon, do Google, que quer soltar 50 mil balões aos céus para levar internet a regiões descober- tas de sinal, seria temerário no pa- ís, diz um especialista em aeronáutica brasi- leiros que teve acesso aos detalhes técnicos do plano e pediu para não ser identificado. Sua visão não é nada otimista. — Primeiramente, não são as autoridades lo- cais que operam os balões. Isso tem implica- ções muito sérias na segurança aérea, na segu- rança de dados e na segurança nacional — res- salta. — Além disso, no Brasil seria contra a lei. Esses balões do Loon precisariam ter transpon- ders (transmissores de rádio) para que, caso percam altitude, e isso ocorre com muita fre- quência,possamseresquadrinhadoseevitados pelo tráfego aéreo. Eu vi as especificações do Google: os balões deles não têm potência elétri- ca para aguentar um transponder nem empuxo vertical para sustentar a massa de um. Ele considera ainda uma temeridade per- mitir essa “invasão” de balões sobre o territó- rio de qualquer país. — Observe que, na tão alardeada “volta ao mundo em 22 dias”, os balões do Loon voa- ram basicamente em cima de água, pois seria bem complicado obter autorização de dife- rentes países para essa empreitada. Quanto às ambições do Google e ao que chama de subserviência brasileira, o enge- nheiro é incisivo. — O pessoal lá de Brasília endeusa o Goo- gle e os “gênios” que trabalham lá, gente que vai resolver os problemas do mundo. Mas não vai. A solução deles neste caso não tem razão para funcionar, pois se baseia em um princípio furado. O enlace de dados en- tre o balão, a infraestrutura de internet e o usuário no solo é problemático, especial- mente em lugares como a nossa Região Norte, onde há muita umidade no ar. O Go- ogle queria balões a 20 quilômetros de alti- tude mas, diante do caso amazônico, eles propuseram diminuí-la drasticamente. O especialista levanta também problemas ligados às correntes de vento, que se agravam no Brasil em épocas do ano com pouco fluxo. — O projeto pressupõe correntes de vento ideais. Mas o fluxo de vento não dá a volta certinho no planeta. Ele não segue paralelos nem meridianos. Esse controle não existe. Com essa maravilhosa rede de computado- res do Google, eles esquecem que descer um balão é fácil, mas subir é difícil — afirma. — Além disso, seria preciso mudar toda a regu- lamentação brasileira. No país é obrigatório expedir um Notam, documento informativo oficial da Aeronáutica, para cada balão, in- formando data, hora, local e trajetória Segundo ele, aceitar os balões do Google sobre o Brasil seria uma ameaça à soberania e à segurança nacionais. — Eles vão ter que insistir muito com cada país que se considere decente para que acei- te esse projeto. (Carlos AlbertoTeixeira) l Projeto Loon, do Google, seria temerário no Brasil, diz perito Sem transponders, balões não poderiam ser detectados por aviões, pondo em xeque a segurança DIVULGAÇÃO Balão de ‘ensaio’. Um experimento feito na Nova Zelândia para acesso à web no ano passado: dúvidas VOO ARRISCADO