O documento discute a importância da formação humanística no ensino médico, destacando três pontos: 1) Cenas do ensino que mostram a necessidade de humanização; 2) Estudos que comprovam os benefícios da comunicação e aprendizagem de ferramentas humanísticas; 3) Experiências da FMUSP em integrar disciplinas humanísticas no currículo e promover a humanização nos serviços de saúde.
Como Organizar um Grupo de Trabalho de Humanização - Dra. Izabel Cristina Rios
1. Centro de Desenvolvimento da Educação Médica “Professor Eduardo Marcondes” Faculdade de Medicina da USP Izabel Cristina Rios [email_address] Desenhos de Chema Madoz Humanização na formação do profissional da Saúde O caso do ensino médico
2. O que dizem as diretrizes curriculares do MEC para o ensino médico? Art. 3º O Curso de Graduação em Medicina tem como perfil do formando egresso/profissional o médico com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva , capacitado a atuar, pautado em princípios éticos, no processo saúde-doença em seus diferentes níveis de atenção, com ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação à saúde, na perspectiva da integralidade da assistência, com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania, como promotor da saúde integral do ser humano. (CNE,2001)
4. Cenas do ensino Cena 1 “ O médico entra na enfermaria de Cirurgia e dá bom dia aos pacientes, sem olhar nos seus rostos. A residente conta a história e o médico descobre o paciente e vai direto à sua ferida sem pedir licença para tocar seu corpo. O paciente não se queixa, não oferece qualquer resistência, mantendo-se calado e atento. O médico mostra a lesão para os alunos e faz ali mesmo uma aula expositiva sobre o caso sem, em qualquer momento, se dirigir ao paciente. Para alguns alunos é constrangedor, para outros natural.”
5. Cena 2 Um aluno do quinto ano, conta esta história: “ Um colega estava passando visita. Aí, os assistentes fizeram uma pergunta para ele. Era um interno, mas respondeu bem. E acho que o assistente não esperava uma resposta mais completa. Aí, ele acabou com o aluno, assim, na maldade. Até o paciente se sentiu incomodado na cena. Principalmente porque a gente assume muito o paciente. Ele sabe que não é a gente quem passa as condutas, ele sabe que a gente tem que falar com o superior, mas ele identifica a gente como o cara do leito. Quando terminou a visita, eu encontrei com os assistentes que estavam na visita. Aí, um virou para esse que tinha questionado o aluno: Aê, arrebentou com o interno, hein? Ele falou: Para ele ver que o que levanta é o que toma martelada, tem mesmo é que levar na orelha para ficar esperto.”
6. Cena 3 Professores com clara consciência do seu papel de modelos para a atitude médica, capazes de criar vínculos com pacientes e alunos: “ Acho que educar é a gente ir fazendo na frente dos alunos e vendo eles fazerem.” “ Meu professor de Clínica acompanhava aqueles pacientes com a gente. Não ria da minha cara. É um professor que conhece os alunos.” “ Ao longo da Faculdade eu me senti não vista, mas no 4º. ano o professor no grupo pequeno fez diferença porque tinha o olhar dele. Eu me senti muito acolhida e foi bom para meu aprendizado.”
7.
8. O que pensam alunos e professores sobre a humanização das práticas de saúde?
9.
10. O que mostram os estudos sobre a formação humanística em Medicina?
15. Campos temáticos Aspectos socioculturais das práticas de saúde Aspectos interativos presentes na prática clínica Aspectos éticos na área da saúde e na vida Ser médico: a formação, a identidade, o trabalho Disciplinas do primeiro ao quinto ano - Bases Humanísticas da Medicina I (até 2009) - Bases Humanísticas da Medicina II (até 2009) - Medicina e Humanidades (2010) - Psicologia Médica - Cidadania e Medicina - Bioética - Bioética Clínica Carga horária total das disciplinas de humanidades: 240h Carga horária total do curso médico: 11.025h Disciplinas de humanidades do currículo nuclear
16. - D isciplinas sem visão da totalidade do currículo e do próprio conteúdo da área de humanidades - Qualidade heterogênea dos professores - Falta de reconhecimento institucional - Preconceito dos alunos e de professores de outras disciplinas - Descrédito quanto aos seus efeitos, uma vez que a aquisição de competência moral não é imediata e sim processual Principais problemas em 2004
17. Ações estratégicas 1. Integração das Disciplinas de Humanidades do currículo nuclear 2. Elaboração dos objetivos da área para a formação do aluno 3. Integração dos temas humanísticos em outras disciplinas 4. Avaliação e acompanhamento das disciplinas da área e do aluno 5. Planejamento de cursos de desenvolvimento docente em humanidades 6. Desenvolvimento da Humanização nos serviços-escola www.fm.usp.br/cedem/hum Integração Curricular da Área de Humanidades Médicas
18. Primeira etapa : encontros quinzenais, durante seis meses, para a apresentação e discussão de todas as disciplinas de humanidades quanto a objetivos, conteúdo, métodos didáticos e avaliação. Segunda etapa : duas oficinas de criação do Currículo Integrado das Disciplinas de Humanidades - grade em que temas e conteúdos foram definidos de forma conjunta e articulada. Acompanhamento : esse currículo foi implantado em 2006 e atualmente o grupo se reúne a cada seis meses para manter o processo de integração. Integração das Disciplinas de Humanidades do currículo nuclear
19. Conjunto de competências éticas e relacionais que todo aluno de Medicina deve adquirir ao longo da sua formação para se graduar como médico. O documento versa detalhadamente sobre os seguintes temas: COMUNICAÇÃO DIREITOS HUMANOS E SOCIAIS AS PESSOAS DISCURSOS E VERDADES A PRÁTICA MÉDICA O SER MÉDICO Elaboração dos objetivos da área para a formação do aluno
20.
21. Avaliação das disciplinas da área - Programa de Avaliação Curricular (PAC) - Grupos focais de alunos Acom panhamento das atitudes do aluno - OSCE - Teste do progresso Avaliação e acompanhamento das disciplinas da área e da ‘formação Humanística’
22. Questão Dissertativa de Humanidades Médicas no Teste do Progresso 2007 Uma mulher de 34 anos de idade e duas crianças, um menino de oito anos e uma menina de seis, chegam ao PS em estado grave, vítimas de um acidente de automóvel. São transferidos para UTIs, e pouco tempo depois as crianças vão a óbito. No dia seguinte, a paciente recupera a consciência e pede ao médico informações sobre seus filhos. O marido da paciente pede ao médico que não lhe conte a verdade sobre as crianças, pois teme dificultar sua recuperação. Entretanto, a mãe quer a verdade, e quer ver os filhos. O marido insiste para que o médico não conte. A mãe insiste e apela por seus direitos. Em sua opinião, qual deve ser a conduta do médico?
23. Aspectos avaliados na correção das provas O aluno aborda o dilema que o caso apresenta? O aluno considera o princípio da autonomia? O aluno considera a não maleficência/beneficência? O aluno considera princípios de justiça? O aluno se apóia em conhecimentos biomédicos? Considera os aspectos emocionais referentes à morte e risco de morte? Assume sua responsabilidade na comunicação na relação médico-paciente-família? Considera buscar ajuda em outros profissionais e/ou equipe e/ou família? Consegue expor suas idéias e/ou argumentar com clareza? Apresenta letra legível e preocupação com a boa redação?
24. Respostas do total da amostra de alunos da graduação FMUSP 2007 (n=249) Elementos Não Sim - adequado Sim – não adequado Sim - insuficiente D ilema 56.22% 22.49% 1.61% 19.68% A utonomia 31.73% 41.77% 2.81% 23.69% Beneficência 43.78% 34.94% 11.24% 10.04% Justiça/direitos 53.01% 37.75% 1.61% 7.63% Biomédicos 45.38% 26.10% 8.43% 20.08% Aspectos emocionais 59.04% 17.27% 7.63% 16.06% Comunicação 10.84% 22.89% 12.05% 54.22% Equipe e/ou família 70.28% 22.49% 2.81% 4.42% Clareza 7.63% 49.40% 2.81% 40.16% Letra e redação 8.84% 57.83% 1.20% 32.13% Total 38.67 33.29 5.22 22.81
25. Visa a estimular nos professores de medicina a construção de conhecimentos sobre Humanidades Médicas e à desenvoltura para a condução do seu aprendizado em pequenos grupos. Conteúdo Programático Humanização e humanidades no ensino médico Princípios educacionais e didáticos Conceitos de grupo / Técnicas de trabalho de grupo Estratégias de ensino Exposição dialogada, discussão em grupo, jogos dramáticos, recursos audiovisuais, tarefas em grupo, exercícios práticos com as metodologias apresentadas no curso. C urso de desenvolvimento docente em humanidades
26. Rede Humaniza HCFMUSP (Coordenação e 12 unidades) Ações em 2007-2009 Alinhamento com a PNH (Política Nacional de Humanização) Aproximação serviço-escola para Humanidades e Humanização Congresso de Humanização 2009 Ações em 2010 Fortalecimento dos GTHs das unidades Inclusão de outros serviços-escola na Rede Curso de Capacitação de Coordenadores de GTH Desenvolvimento da Humanização nos serviços-escola
27. “ Muitas pessoas acham que no começo da faculdade você fica meio arrogante, mas acho que a faculdade está tentando e de algum modo está conseguindo (não sei se para todos os estudantes) introduzir essas disciplinas de humanidades, que a gente brinca e fala que são humorísticas e não servem para nada. Mas que você acaba refletindo de uma maneira ou de outra o motivo de você ser médico, o porque disso e daquilo... Te perguntam 20 vezes por que você quis estudar medicina, por que isso e aquilo... Você acaba refletindo e vendo que... Você acaba parando um pouco de ser arrogante, vendo que você não é tudo o que você acha que é... que você é não é o que a tua mãe te contou que você é.” (Aluno do sexto ano)
28. “ Eu acho que há uma grande tentativa na faculdade de desenvolver o ensino de humanidades médicas. Todo semestre, praticamente, a gente tem alguma das disciplinas humanísticas. O resultado às vezes deixa a desejar... Mas eu acho que existe essa tendência, essa preocupação, esse esforço na faculdade. E mesmo a postura dos preceptores frente a isso... Varia de estágio para estágio: tem estágio que é menos, tem estágio que é mais. Mas você percebe uma postura dos responsáveis para que haja esse compromisso ético, esse compromisso com o paciente .” (Aluna do sexto ano)
29. Aspectos que dificultam o ensino e a integração da área: - Falta de projetos pedagógicos adequados - Falta de professores capacitados - Dificuldades em manter as pessoas nos grupos de trabalho - Resistências de alunos e professores em relação ao que desconhecem Aspectos que facilitam o ensino e a integração da área: - Efetivo apoio da Comissão de Graduação e da Direção dos serviços - Encontro de pessoas interessadas no desenvolvimento da área - Gestão e coordenação do processo - Aprimoramento constante “ O que é, com efeito, o homem absurdo? Aquele que, sem o negar, nada faz pelo eterno” Albert Camus