Aula da disciplina de Desenvolvimento e Sustentabilidade, Universidade Federal do ABC (UFABC), São Bernardo do Campo - SP, agosto de 2019.
Gravação de aula disponível em: https://youtu.be/SMedCpYCWsU
2. Sustentabilidade ambiental, Consumo e Cidadania
Portilho, Fátima. Cortez, 2005.
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/613755/mod_resource/content/1/PORTILHO_2005_Sustentabilidade_cidadania_e_consumo.pdf
PORTILHO, F. Consumo sustentável:
limites e possibilidades de
ambientalização e politização das
práticas de consumo.Cadernos
EBAPE.BR (FGV), v. III, p. 3, 2005.
http://www.scielo.br/pdf/cebape/v3n3/v3n3a05
4. Perspectivas sobre o consumo
Física
• Matéria e energia não podem ser produzidas ou
consumidas, mas apenas transformadas
Ecologia
• Autótrofos: seres que fazem fotossíntese
• Consumidores: seres que não fazem fotossíntese
Economia
• Gasto com bens e serviços
Sociologia
• Adquirir bens e serviços para formar identidade social
Stern, P. C., & National Research Council. (1997). Environmentally significant
consumption: Research directions. Natl Academy Pr.
5. O que nós já aprendemos ao longo do curso
IPAT:
Impacto = População x Afluência X Tecnologia
Obsolescência Programada
Pegada Ecológica
Alienação do Consumo
Ideologia no consumo da Indústria Cultural
de Massa
6. Consumo na Economia Neoclássica
Consumidor
• Utilitário
o Maximiza bem estar pessoal
• Racional
o Melhor julgamento a partir da informação
• Autônomo
o Não é influenciado pelo marketing ou indústria cultural
Mercado
• Preços corretamente fixados (demanda x procura)
• Todas as informações disponíveis
Base para estratégias econômicas
Flexibilização pela Teoria dos Jogos
Portilho, Fátima. Sustentabilidade ambiental, consumo e cidadania. Cortez, 2005.
7. Sociedade de Consumo
Foco da felicidade muda do
Ser (fruição interior)
para o
Ter (bens materiais)
para o
Acesso (redes)
Exemplos: uber, netflix, spotfy, provedores de internet e
telefone
Consumo da cultura como mercadoria
Rifkin, Jeremy. The age of access: The new culture of hypercapitalism. Penguin, 2001.
8. Sociedade de Consumo
Foco da felicidade muda do
Vida boa e digna (longo prazo)
para o
Consumo momentâneo
Criação e satisfação de carências
• Direito a Consumir
• Perspectiva individualista da felicidade
Baudrillard, Jean. The consumer society: Myths and structures. Sage, 2016. First edition: 1970.
Bauman, Zygmunt. In search of politics. Stanford University Press, 1999.
Portilho, Fátima. Sustentabilidade ambiental, consumo e cidadania. Cortez, 2005.
9. Individualismo democrático capitalista
Projeto emancipatório individual
• Voto
• Consumo
Separação entre as esferas:
• Privada (forte)
• Coletiva (impotência)
Relega estratégias coletivas e políticas
Bauman, Zygmunt. In search of politics. Stanford University Press, 1999.
“Quando se confunde cidadão e consumidor, a educação, a
moradia e o lazer aparecem como conquistas pessoais, e não
como direitos sociais”
Santos, Milton. O Espaço do Cidadão. Edusp. 1998.
10. Consumo e identidade
Revolução industrial
• Identidade pelo trabalho
• Exemplo: Operário, camponês, capitalista, …
• Produção em massa
Sociedade contemporânea
• Identidade pelo padrão de consumo
• Marketing de nicho (produtos customizados)
Heller, Agnes; Feher, Ferenc. "The postmodern political condition." Polity Press, B. Blackwell . (1988).
14. Consumo para o Outro
Estilo de consumo de celebridades
• Consumo supérfluo e de luxo
• População de espectadores (sonhos)
Bens:
• Necessários Sobrevivência
• Supérfluos Existência (status)
na sociedade de
consumo
Veblen, Thorstein, The Theory of the Leisure Class. New York: McMillan, 1899.
Jennifer Garner, Oscar 2008
Vestido de seda taffetá “Oscar de la Roya”, Colar de diamantes Van Cleef & Arpels,
bolsa com presilhas de diamante Roger Vivier
15. Consumo, Trabalho e Tempo
Trabalhar muito para poder comprar e consumir muito
Diminuição do tempo livre de lazer e convivência
Também podem ser comprados
Schor, Juliet B. The overspent American: Why we want what we don't need. New York: HarperPerennial, 1999.
17. Conteúdo
Sociologia do Consumo
Consumo e Meio Ambiente
• Consumo Verde
• Consumo Sustentável
18. Consumo e Meio Ambiente
Padrões de consumo
Níveis de consumo
Desperdício
Descartabilidade
Obsolescência programada
Reciclagem
19. Pegada material, 2010 (toneladas métricas per capita)
A pegada material
atribui a extração
global de materiais
(como combustíveis
fósseis e minérios) à
demanda doméstica
final de um país
20. Transições no Discurso Ambiental
Limites do Crescimento (1972)
• Foco em produção e população
o Assegurar alimento e serviços de saúde mínimos
• Desenvolvimento em países pobres é essencial para conter
explosão populacional
• Modernização tecnológica como solução
Nosso Futuro Comum (1987)
• Reconhece desigualdade social
• Defende crescimento sustentável em países em
desenvolvimento
• Não critica alto consumo dos países desenvolvidos
Eco-92
• Inicia crítica aos padrões de consumo
Cohen, Maurie J. "The emergent environmental policy discourse on sustainable consumption." In Exploring sustainable
consumption, pp. 21-37. Pergamon, 2001.
Portilho, Fátima. Sustentabilidade ambiental, consumo e cidadania. Cortez, 2005.
21. Por que líderes relutam em discutir redução
no consumo nos países desenvolvidos?
Diminuição no consumo em países desenvolvidos
causaria:
• Diminuição das importações de commodities em países em
desenvolvimento
• Crise econômica
Medidas impopulares
• Violação de direitos individuais:
o Liberdade
o Propriedade
o Merecimento
• Consequências eleitorais e políticas
Portilho, Fátima. Sustentabilidade ambiental, consumo e cidadania. Cortez, 2005.
22. Consumidor é co-responsável pela poluição
Quem consome mais é mais poluidor
Quem consome menos não deveria sofrer os
impactos ambientais de quem consome mais
Discurso para aliviar a responsabilidade das
empresas e governos
RIBEMBOIM, Jacques. Mudando os padrões de produção e consumo: textos para o século XXI. Brasília:
IBAMA (1997)
23. Consumo Verde
Nichos elitizados
• Bens e serviços de luxo ambientalmente corretos
o Cosméticos
o Orgânicos
o Áreas verdes privadas
o Ecoturismo
Não foca redução no consumo
Repassa os custos para o consumidor
LAYRARGUES, P. P. A cortina de fumaça: o discurso empresarial verde
e a ideologia da racionalidade econômica. São Paulo: Annablume, 1998.
Natureza como
objeto de consumo
24. Injustiça Ambiental
Desigualdade no consumo
• Resulta na desigualdade da participação na estrutura
produtiva
Limites globais dos recursos naturais
• Não dá para todos consumirem no nível dos países
desenvolvidos
• Apreensão com o aumento da população e consumo
nos países em desenvolvimento
• Proposição de piso mínimo e teto máximo de
consumo
Canclini, Néstor García. "Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da
globalização." UNESP. 2015.
25. Consumo sustentável
Satisfação das necessidades humanas e
qualidade de vida
Preocupação com as futuras gerações
Preocupação com a distribuição social
Perspectiva
coletiva
Portilho, Fátima. Sustentabilidade ambiental, consumo e cidadania. Cortez, 2005.
26. Consumo e Visões de Mundo
Utopias Princípio
Base para
Felicidade
Tecnológicas Abundância
Consumo, luxo,
riqueza
Ecológicas Auto-suficiência Simplicidade
Douglas, Mary. In defense of shopping. In: Falk, P. and Campbell, C. The shopping experience. London: SAGE, 1997
Lee, Martyn J., ed. The consumer society reader. Wiley-Blackwell, 2000.
Geus, Marius. "Ecological utopias: Envisioning the sustainable society." Utopian Studies 10 (2):228-230 (1999).
• A sociedade que queremos guia nossas escolhas de consumo
• Consumo como campo de luta simbólica entre diferentes
visões de mundo
27. Auto-atribuição de responsabilidades
ambientais como consumidor
Ativistas ambientalistas
• Alta porcentagem de auto-responsabilização
• Dever moral
o Independe do efeito real
o Objetivo de disseminar atitudes
Restante da população
• Baixa porcentagem de auto-responsabilização
o Atribuição de responsabilidade a governos e ONGs
• Depende da percepção de eficácia
Eden, Sally E. "Individual environmental responsibility and its role in public
environmentalism." Environment and Planning A25, no. 12 (1993): 1743-1758.
28. Percepção das vantagens do consumo consciente
Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e Câmara Nacional dos Diligentes Logistas (CNDL) (2018) Pesquisa Consumo Consciente 2017.
29. Percepção das vantagens do consumo consciente
Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e Câmara Nacional dos Diligentes Logistas (CNDL) (2018) Pesquisa Consumo Consciente 2017.
30. Comportamento Sustentável
Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e Câmara Nacional dos Diligentes Logistas (CNDL) (2018) Pesquisa Consumo Consciente 2017.
31. Panorama do consumo consciente no Brasil
Akatu (2018) Panorama do consumo consciente no Brasil: desafios, barreiras e motivações.
32. Akatu (2018) Panorama do consumo consciente no Brasil: desafios, barreiras e motivações.
33. Akatu (2018) Panorama do consumo consciente no Brasil: desafios, barreiras e motivações.
34. Akatu (2018) Panorama do consumo consciente no Brasil: desafios, barreiras e motivações.
35. Akatu (2018) Panorama do consumo consciente no Brasil: desafios, barreiras e motivações.
36. Akatu (2018) Panorama do consumo consciente no Brasil: desafios, barreiras e motivações.
37. Akatu (2018) Panorama do consumo consciente no Brasil: desafios, barreiras e motivações.
38. Akatu (2018) Panorama do consumo consciente no Brasil: desafios, barreiras e motivações.
39. Akatu (2018) Panorama do consumo consciente no Brasil: desafios, barreiras e motivações.
40. Akatu (2018) Panorama do consumo consciente no Brasil: desafios, barreiras e motivações.
41. Akatu (2018) Panorama do consumo consciente no Brasil: desafios, barreiras e motivações.
42. Akatu (2018) Panorama do consumo consciente no Brasil: desafios, barreiras e motivações.
43. Akatu (2018) Panorama do consumo consciente no Brasil: desafios, barreiras e motivações.
44. Akatu (2018) Panorama do consumo consciente no Brasil: desafios, barreiras e motivações.
45. Akatu (2018) Panorama do consumo consciente no Brasil: desafios, barreiras e motivações.
46. “Enquanto a busca destes prazeres
individuais através da produção de renda
[trabalho] claramente não faz parte do
eventual usufruto desses prazeres,
simplesmente não existe uma distinção
clara entre a luta pela felicidade pública e a
conquista dela”
Ações coletivas de consumo
Felicidade por participar em ações coletivas
Hirschman, Albert O. Shifting involvements: Private interest and public action.
Princeton University Press, 1982.
“A luta, que deveria ser lançada do lado dos custos,
passa a fazer parte dos benefícios”
Trabalho e consumo
alienado individual
Participação na vida pública como um bem em si
(diferente da visão utilitarista)
47. Movimentos Sociais
Boicotes como protestos
• Contra aculturação
• Contra impactos ambientais
Movimentos anticonsumo
• Estilo de vida simples
Comunidades autossuficientes
• Ecovilas
• Agricultura urbana
Movimentos de consumo consciente
• Orgânico
• Recicláveis / Reciclados / Biodegradáveis
48. Possibilidades de atuação de
políticas públicas
Educação ambiental
Eco-rotulagem
Ecotaxação
• Maior taxa para produtos mais poluidores
Regulação do marketing
Incluir representantes de organizações de
consumidores nos fóruns de política ambiental
Licitações sustentáveis
Política macroeconômica
49. Educação
Ambiental
Consciência da
importância de
mudar o consumo
Informações
nos rótulos
(eco-rotulagem)
Melhores escolhas
de consumo
Crítica • Excesso de informações
• Complexidade, incertezas e
imprevisibilidade dos
impactos ambientais
• Pouco tempo para escolha
Consumidor não
consegue julgar
adequadamente
Portilho, Fátima. Sustentabilidade ambiental, consumo e cidadania. Cortez, 2005.
50. Consumo Institucional Sustentável
Empresas e governos
Impacto na cadeia de suprimentos
Licitações sustentáveis
• Incluir aspectos ambientais no levantamento
de preços:
o Impactos de produção
o Durabilidade
o Impactos de descarte
Silva, R. C. D., & Barki, T. V. P. (2012). Compras públicas compartilhadas: a prática das licitações sustentáveis. Revista
do Serviço Público, 63 (2): 157-175 abr/jun 2012
Cohen, Maurie J., and Joseph Murphy. Exploring sustainable consumption. Pergamon, 2001.
51. Política Nacional de Resíduos Sólidos
Lei Federal nº 12.305, de 2010
Art. 7o São objetivos da Política Nacional de Resíduos
Sólidos:
III - estímulo à adoção de padrões sustentáveis de
produção e consumo de bens e serviços;
XI - prioridade, nas aquisições e contratações
governamentais, para:
a) produtos reciclados e recicláveis;
b) bens, serviços e obras que considerem critérios compatíveis
com padrões de consumo social e ambientalmente
sustentáveis;
XV - estímulo à rotulagem ambiental e ao consumo
sustentável.
52. Políticas Macroeconômicas e Consumo
Inflação
Taxa de Juros
Crédito
Poupança
Comércio internacional
Taxação de importações
Taxação de gastos no exterior
Cohen, Maurie J. "The emergent environmental policy discourse on sustainable
consumption." In Exploring sustainable consumption, pp. 21-37. Pergamon, 2001.
53. Perspectivas sobre o consumidor
Passividade Atividade
Manipulação
Exploração
Escolhas transformando
economia e cultura
Articulação coletiva
Formação de identidade
Portilho, Fátima. Sustentabilidade ambiental, consumo e cidadania. Cortez, 2005.
54. Síntese das reflexões
Transição do discurso ambiental da
produção para o consumo
• Risco de despolitização do discurso ambiental
(transição para a esfera privada)
• Oportunidade de politização do consumo
(religar as esferas públicas e privadas)
Portilho, Fátima. Sustentabilidade ambiental, consumo e cidadania. Cortez, 2005.
55. Atividade
Com base no texto de leitura e nos conteúdos das
aulas, explique e exemplifique relações entre as
escolhas de consumo e:
Estilo de vida
Opções políticas
Relação do ser humano com a natureza
Estrutura econômica da sociedade
Utopias quanto ao futuro da humanidade