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Capitulo 8 - Íris.pdf

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  1. 1. [ 87 ] Uma luz em nossas vidas Jorge Burlamaque VURDON 8 Íris Após uma lua de mel de trinta dias viajando pela América do Norte, Adam e Sarah retornam para Londres. Os planos de uma vida a dois começavam a se realizar, filhos somente para o ano seguinte. Os herdeiros teriam que ser bem programados, mas enquanto isso não acontecia, o casal curtia seus momentos juntos. Adam foi integrado ao corpo de maestros da Orquestra Sinfônica de Londres, isso lhe rendia um bom salário e o prazer de poder trabalhar no que gostava, tornava-o um homem realizado profissionalmente. A residência do casal ficava à três quarteirões da mansão. A escolha foi em conjunto. Sim, teria que ter um piano, um jardim e três quartos. Não era luxuosa, Sarah era uma mulher simples, Adam, por sua vez, não sentia falta do luxo, apesar de ter nascido no meio dele. A casa era bastante confortável, aconchegante e muito bonita. As visitas à casa dos familiares eram uma rotina, pois Sarah era uma mulher voltada ao ambiente familiar e isso criava e reforçava os laços entre os parentes. Certo dia, quando Adam e Sarah se dirigiam para mais uma visita, tiveram um pequeno problema no caminho. Um caminhão com uma enorme carroceria coberta, semelhante a uma carroça, atravessa na frente do automóvel que Adam dirigia, causando uma freada brusca dos dois veículos. Tratava-se de um grupo de ciganos chegando a Londres, indo em direção à floresta. Adam se irritou com a situação, arriou o vidro da janela de seu carro e começou a reclamar: — O que vocês pensam que estão fazendo? – gritou, muito irritado. — Lamento muito, senhor – respondeu o motorista, preocupado.
  2. 2. [ 89 ] Uma luz em nossas vidas Jorge Burlamaque VURDON VURDON [ 88 ] Jorge Burlamaque Uma luz em nossas vidas Sem ouvir o pedido de desculpa, Adam sai do carro, se aproxima do caminhão e continua a reclamar acintosamente, sendo seguido pela esposa que tentava acalmá-lo, sem sucesso. — Poderia ter causado um acidente sério com a sua imprudência! — Mais uma vez, peço minhas humildes desculpas, senhor — dentro da carroceria, Íris presta atenção na discussão. Ela se recorda do parque e se assusta com o reencontro. A cigana se levanta, sem sair do lugar, e diz em voz alta: — O meu irmão já se desculpou com o senhor. Seja gentil e nos deixe ir, estamos cansados da nossa longa viagem, não tivemos a intenção de perturbá-lo, Sr. Adam. — Quem disse isso? Como sabe o meu nome? Íris segue para a rua, guiada por sua amiga Dolores, que a ajuda a descer a escada da carroceria do caminhão, indo em direção ao maestro. Ignorando sua pergunta, continua: — Procure se acalmar. Terá dias mais difíceis pela frente, o senhor terá que ser forte, o senhor é um bom homem, mas está perdido dentro de si, precisa se encontrar. Nós precisamos ir agora, com sua licença. — Espere — disse Adam com um tom de voz mais calmo e curioso. — O que quer dizer com dias difíceis, como sabe meu nome? Eu não acredito em videntes e previsões, seja lá quem for senhora... — Eu me chamo Íris, o senhor não precisa acreditar, Sr. Adam, precisará ser forte. — Vamos, Ygor! — disse a cigana ao seu irmão. O comboio seguiu na direção da floresta, deixando Adam e Sarah com expressões confusas em suas faces. O encontro inusitado e as palavras vagas da cigana deixaram o casal preocupado. Talvez não fosse o momento certo para mais explicações vindas de Íris. Após algum tempo, seguiram seu caminho rumo à mansão dos White. Adam, ainda perplexo, comenta: — Como aquela mulher sabe meu nome? Eu nunca a vi antes! Vidente? – comentou Adam com um ar sarcástico e se surpreende ainda mais com uma observação de Sarah: — Eu já conheci pessoas que adivinham o futuro, falam do nosso passado, mas é a primeira vez que vejo uma pessoa cega com esses poderes. — Cega? – se espantou Adam. — Sim, meu amor, você estava tão nervoso que nem observou isso. — O que será que ela quis dizer com dias difíceis? – indagou Adam confuso. — Bem, vamos esquecer isso, ela ficou aborrecida e quis irritá-lo — finalizou Sarah abraçando o marido. Chegando à mansão com uma expressão séria na face, Adam cumprimenta o mordomo, que o responde em tom sereno. — Bom dia, Steve. — Bom dia, Sr. White, bom dia, Sra. White! Antes de perguntar ao mordomo por sua mãe, ela percebe a chegada do filho e da nora, aproxima-se da entrada para recepcioná-los, finge não notar o ar estranho no filho e os cumprimenta sorrindo. — Bom dia, meus filhos lindos! — Bom dia, mamãe, e o papai onde está? — Lendo, no jardim. — Aconteceu alguma coisa meu filho? Parece aborrecido. — Nada de mais, mamãe, apenas um incidente há poucos minutos. — Se não foi nada de mais, por que essa expressão de desagrado não desaparece do seu rosto? — insistiu Linda, mas foi Sarah quem continuou. — Um caminhão transportando ciganos atravessou o nosso caminho quase causando um acidente. Adam se irritou, mas já passou. — Como ela sabia o meu nome? – pensou Adam em voz alta. — Como disse, meu filho? — Uma cigana saiu de dentro do caminhão, disse-me coisas sem sentido e ela sabia o meu nome — Linda ficou em silêncio e a sua expressão mudou. Ela se lembrou do episódio acontecido
  3. 3. [ 91 ] Uma luz em nossas vidas Jorge Burlamaque VURDON VURDON [ 90 ] Jorge Burlamaque Uma luz em nossas vidas há anos, quando Adam derrubou uma cigana no parque. Porém disfarçou logo. — Ora, meu filho! A nossa família é conhecida e a sua fama de grande maestro já o acompanha. Enquanto isso, a caminho da floresta, Dolores, amiga e companheira de Íris, fica pensativa e essa inquietação é percebida pela aguçada sensibilidade de Íris, que a indaga: — Por que tanta preocupação, minha querida e fiel amiga? — Dolores responde, sem se mover, e com um olhar distante. — Por que viemos para Londres? Não estava em nossos planos esse caminho, não gosto daqui, o sol quase nunca aparece, é um lugar frio, como as pessoas — Íris responde firme e cautelosamente: — Temos uma missão muito importante aqui, querida Dolores, este homem que acabei de reencontrar é o motivo. Sinto que muitas coisas irão acontecer daqui por diante, vou precisar de todos vocês como nunca precisei antes. Teremos que ter a nossa fé reforçada na oração. Haverá mudanças em nossas vidas e para isso é necessário preparar o nosso coração junto a Deus, fortalecendo-o para não esmorecermos. Vigiando à noite, pois será à noite que seremos solicitados — após uma pausa, Dolores questiona: — Reencontrar? Já o conhecia? — Sim, já. Ele era pequeno, me derrubou quando eu e Ygor passávamos perto do parque. Esta é a segunda vez e sempre estamos nos encontrando em situações de conflito. Não pra mim, pois em meu coração não há espaço para guerra, mas para ele sim. Apesar disso, ele tem um bom coração, mas ainda não sabe. Vai descobrir pela dor. — Depois desta revelação, eu confesso que estou assustada. Quanto a esse tal de, como é mesmo o nome dele? Bom, seja ele quem for, precisa de umas boas chicotadas e se fosse em outra época, eu arrancaria aquele ar de superior dele; ainda sei usar muito bem o meu chicote — com um sorriso suave, Íris a repreende. — Amada amiga, precisa controlar esse ímpeto, não deixe que controle você. Nem tudo deve ser resolvido com castigo, há outras formas de educação e quanto a nosso irmão que você acabou de conhecer, tenho certeza de que a minha volta aqui tem a ver com esse homem. Ele começará a ser educado em breve e da pior maneira, mas será para o seu bem. Terá que assim, porque precisará se tornar um homem forte e vi um futuro difícil para ele. Pode ser que não suporte as lições da vida que o espera e você, amiga, se sensibilizará com a sua dor. Ele precisará muito de nós, é um bom homem, só está anestesiado pelo conforto, pois sempre foi cercado pelo dinheiro e poupado de certos aprendizados. Todos nós temos nossas dificuldades, precisamos parar de sermos juízes do comportamento do próximo. Aquelas palavras tocaram na alma de Dolores, que se limitou a meditar sobre tudo. Íris era uma mulher singular, um ser humano acima de tudo, sua forte sensibilidade a tornava especial e encantadora. Sua beleza interna transbordava pela face e impressionava a todos. Teve um grande amor, mas Deus o levou e o amor que sempre habitou o seu coração se estendeu para todos, sem nenhuma distinção, era irmã, mãe e amiga de verdadeiro e puro sentimento. Cega desde os quinze anos, viu pouco da vida material e isso a ajudou a ver o coração dos outros, como poucos conseguem. Nunca se irritava, a sua calma trazia segurança a todos que a rodeavam. Líder e grande conselheira, não admitia vaidade sobre os bons atos praticados, afirmava que a vaidade limitava o ser assim como a autopiedade. Tinha uma interpretação própria sobre Deus e Seus atos sobre a humanidade. Quando não compreendia uma situação, entrava em meditação, pois sabia que a resposta ainda estaria por chegar e sempre afirmava que tudo tem seu tempo certo. Não conheceu o seu pai e a sua mãe faleceu, deixando-a com onze anos de idade. Foi criada por uma tia que abandonou a vida e os costumes ciganos para casar-se com um homem importante. Não se importava muito com Íris por ela não ter seguido o seu modo de vida. Com quatorze anos, adquiriu uma doença rara nos olhos e, com isso, foi perdendo a visão gradativamente. Foi deixada pela sua tia em uma instituição para cegos, sem revelar
  4. 4. VURDON [ 92 ] Jorge Burlamaque Uma luz em nossas vidas a sua origem para os diretores. Lá ela aprendeu muito sobre o cristianismo. Aos dezessete anos, já encantava as pessoas com o seu carisma, sua maneira de agir e falar e os diretores acabaram descobrindo a sua origem cigana. O diretor do orfanato, que era padre, tratou de encaminhá-la de volta para a casa de sua tia, alegando que a jovem tinha ligações com satanás. Íris, então, foi deixada em um acampamento cigano, onde conheceu Ygor e Dolores, os quais ela chamou de irmãos. Íris passou a ser conselheira do grupo, pois ninguém fazia nada sem consultá-la antes. Casamentos, negócios e preocupações de toda ordem, ela sempre tinha a resposta para os que precisavam ouvir e, se erravam, era porque teimavam em não seguir seus conselhos. Voltados sempre para a melhor aproximação, juntamente com Ygor, ela lidera o grupo de ciganos, nunca bem-vindos por onde quer que passem. Gosta de se vestir bem e se perfumar, carrega uma medalha presa em um cordão de ouro de Santa Sara, presente de aniversário dado por Ygor e, mesmo sem enxergar, dança com muita leveza no corpo. Com os seus um metro e setenta e sete de altura e soltando seus cabelos pretos, ela arranca suspiros dos expectadores masculinos, apesar dos seus cinquenta anos.

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