Um homem invade uma creche e começa a assassinar crianças inocentes. Ele se revela como sendo o filho abandonado do comandante da polícia Edgar, que o deixou na creche quando bebê. Ao longo do confronto, o atirador mata a amante e a esposa de Edgar, antes de matá-lo. No final, ele se rende à polícia, mas usa explosivos escondidos em seu corpo para se suicidar e destruir o local.
1. Papai
- Antes de qualquer coisa, quero lhe fazer uma breve pergunta. Você acredita em
Deus? – sorriu frio diante da afirmação desesperada de sua nova vitima. – Então aconselho
que comece a rezar logo, quem sabe não garante um lugar ao lado dele.
Mais um disparo fora ouvido dentro da creche. Jornalistas afoitos reportavam
informações fantasiosas sobre os acontecimentos. Seria um anticristo? Um psicopata? Um ser
sem coração? Por que atacar uma creche?
Do lado de fora se ouvia apenas o barulho de assobios vindos dos alto-falantes da
creche. Os assobios misturavam-se com o som dos tiros, que por sua vez, se emaranhavam
por entre gritos aflitos dos alunos.
- Vamos forçar a entrada mais uma vez, preparem-se soldados! – gritou o
Comandante Edgar.
O portão da creche construída em 1932 era o cartão de visitas do prédio. O
mesmo abrigara até 1950 crianças portadoras de deficiências mentais abandonadas pelos pais.
Até que em 1967 foi desativado e no ano seguinte o prédio abandonado, ficou conhecido por
esconder entre suas paredes, clínicas de aborto clandestinas. As mocinhas grávidas dos anos
1960 e 1970 eram mal vistas perante a sociedade, então, em um movimento conjunto não
deixaram que as clínicas fossem fechadas. Porém, uma onda de desespero econômico
assolou o país e já não havia tanta incidência de mães solteiras. O que trouxera o
encerramento das atividades das clínicas. Então, em 1983 o prédio fora reativado e a creche
criada. Destinada também a crianças abandonadas, possuía 125 moradores distribuídos em
adultos e os anjinhos.
- Pediram que eu me comunicasse, atenderei ao pedido de vocês para demonstrar
o quanto sou bom. Contanto, tenho uma condição. Responderei às perguntas de vocês
pacificamente e em troca me deixarão terminar minha missão.
- Tudo bem, temos um trato. Diga-nos o seu nome. – perguntou o Comandante.
- Pergunta inválida Comandante. – Sorriu e mais um disparo misturado com um
grito fora ouvido.
- Pare já de assassinar crianças inocentes, verme!
Os soldados forçaram entrada novamente.
- Pois então vamos lá Comandante, sei jogar seu joguinho infeliz. Tenho algumas
vantagens em relação a você, Edgar. Como anda sua esposa Bárbara? E sua amante Julia, ela
também vai bem?
- Você definitivamente é um louco! Como sabe tanto da minha vida? – esbravejou
o comandante. – Se acontecer algo a qualquer pessoa que eu amo, pode acreditar que acabo
com sua vida!
- Sua esposa, está ótima, obrigado. –sorriu sarcástico. – Aliás, Bárbara é uma bela
mulher.
- Como a conhece?
2. - Digamos que eu e ela mantemos uma boa amizade. Amizade essa que é do
mesmo tipo que o Sr. Comandante Pai de Família e Marido Exemplar mantém com a sua
amantezinha querida. Uma amizade bem profunda, sei que o senhor me entende. –sorriu alto.
- Soldados, coloquem esse portão abaixo! - Gritou o comandante fora do
megafone.
- O que foi Edgar, não gostou de ter o troco pela sua bela e mal elaborada traição?
Soldados seria muito bom que deixem esse portão inteiro. Tenho mais cento e trinta e nove
balas para distribuí-las entre vocês e as crianças que aqui restam. – Disparou mais uma vez. –
Cento e trinta e oito agora.
- Seja lá quem você for, ordeno que pare já com esta atrocidade! Estas crianças
são inocentes, nada tem a ver com seus conflitos pessoais. É a mim que quer, venha até aqui
e resolveremos como homens.
- Edgar, lembro-me que uma das enfermeiras deste lugar me contou em 1987, que
um policial de prestígio havia abandonado uma criança indefesa aqui. Interessei-me pelo caso
e fui buscar mais informações sobre o tal acontecimento. Descobri que o tal policial era o
senhor, e também descobri, de acordo, com alguns registros internos que a criança
abandonada era eu.
- Nunca abandonei criança alguma neste lugar!
- Resposta errada Comandante. – outro tiro fora efetuado. – Conte a verdade para
estes que o veneram. Diga logo a eles que abandonou uma criança indefesa neste lugar fétido!
- Comandante, mesmo que não seja verdade, assuma para que ele pare de
disparar contra inocentes. – sussurrou um dos soldados.
- Eu assumo, é verdade, abandonei uma criança aqui. Eram anos difíceis,
encarava uma crise no meu casamento e dei início ao primeiro de muitos relacionamentos fora
dos meus votos. Ela era uma mulher da vida, engravidou e deixou que a criança nascesse,
mas não queria ficar com a mesma. No dia do nascimento do bebê, o trouxe para cá e nunca
mais tive noticias da criança.
- Ele é corajoso, companheiros! Pois essa história chegou aos ouvidos de Bárbara
antes que ela se entregasse para mim pela primeira vez. Sabe papai, não sei como teve
coragem de trocar um espetáculo de mulher como aquela, por uma vadia qualquer. Mas veja
só, ela lhe retribuiu na mesma moeda. A propósito tenho um presentinho para você papai. O
portão será aberto, mas nenhum soldado deverá entrar. Uma caixa será levada até você,
pegue-a e abra em silêncio.
O portão se abriu. A imagem que se via era do prédio com seus vidros quebrados
e marcas de sangue e tiros, além dos corpos das crianças jogados pelo jardim. Uma das
janelas se abriu, e alguém coberto com um pano preto chamou o Comandante. Atendendo ao
chamado, pegou a caixa e se reposicionou. Um dos soldados atirou contra o ser coberto,
quando caiu pela janela, e seu corpo fora descoberto avistaram uma criança. Outro tiro foi
efetuado, o soldado que disparara contra a criança fora atingido.
- Abra seu presente Comandante!
Após abrir a caixa, foi preciso que alguns soldados contivessem Edgar, pois se
debulhava em palavrões, lágrimas e ameaças.
3. - Gostou do seu presentinho, papai? – Disparou contra outra criança. – Está feliz
agora que tem sua vadiazinha aos pedaços para guardá-la dentro de uma caixa de vidro?
Agora pode mantê-la em exposição. Exponha-a para todos! Conte para todos sobre o seu amor
dividido entre sua esposa e a vadia!
- Você não tinha o direito!
- Ah papai, pensei que gostaria deste belo presente! Fiz questão de banhar cada
parte para que o sangue não manchasse esta bela pele de porcelana. Até a deixei com o
batom vermelho que tanto gostava. Beije-a papai! Beije esse biquinho que tantas vezes
depositou beijinhos pelo seu corpo! É uma ordem! Beije-a! – esbravejou enquanto assassinava
mais um inocente.
Edgar seguiu as ordens daquele que neste momento detinha o poder. Beijou o
rosto cadavérico de sua amante Julia.
- Acabaram-se as crianças e serviçais deste lugar, quero brincar com os seus
soldadinhos papai!
- O que fez com Bárbara seu filho da puta?
- Sim, sou filho de uma puta literalmente. Bárbara está muito bem papai,
esperando o senhor para decidir o que lhe fará para o jantar. Ligue para ela e confirme o que
estou lhe dizendo. Eu disse para ligar! – atirou em um dos soldados.
O telefone chamou algumas vezes, o som do assobio retornara ao ar.
- Edgar, o que houve? Estou acompanhando pelo noticiário. Aconteceu alguma
coisa com você?
- Não querida, tudo está bem. Preciso desligar. Até.
Ao olhar para a terceira janela do terceiro andar, percebeu que sua esposa
arremessava o celular em sua direção.
- Foram vinte e cinco anos de dedicação e você me retribui com várias traições! –
gritava ela enquanto apontava a arma para si mesma. – Você quis traição agora vou lhe pagar
tudo com um banho de sangue. – Disparou contra si.
- Bárbara é muito influenciável não concorda Edgar? Peça que, por gentileza, o
seu soldado chegue mais para a esquerda. Assim, obrigada. – Um tiro de fuzil ecoou pelos
ares e dois soldados foram mortos com uma única bala. – Acho que tenho sua boa mira papai.
As horas se passavam devagar, o assassino ainda não havia se identificado. E
então forças especiais foram enviadas para invadir o local pelos fundos. Dos cinqüenta
soldados iniciais restaram apenas míseros sete, que já se retiravam abandonando a causa.
Edgar permanecia intacto, nada lhe havia acontecido.
- Pois bem papai, agora que estamos a sós podemos conversar livremente. Aqui
de onde estou posicionado posso vê-lo. Então vou me mostrar para o senhor pela primeira e
última vez.
Após alguns minutos, um jovem com aparência de vinte e poucos anos se
aproximou da janela que Bárbara se matara. Mais parecido com Edgar impossível, os mesmos
olhos azuis, o mesmo cabelo louro e até as três pintas na bochecha direita ele herdara.
4. - Meu Deus, como pode... – suspirou Edgar em prantos.
- Prazer, papai. Chamaram-me de Freddie nesse lugar fétido, então este é o meu
nome. Foi ótimo lhe conhecer. Diga suas últimas palavras.
- Perdão...
Após declamar suas últimas palavras, Freddie explodiu a cabeça de Edgar com
um único tiro.
- Headshot, perfeito! – sorriu o jovem.
- Hoje não é seu dia de sorte garoto. Largue as armas e coloque as mãos onde eu
possa vê-las.
- Outro Comandante? Ótimo! – falou Freddie enquanto levantava as mãos e
simulava um tiro em sua própria cabeça.
- Sou chefe das forças especiais de resgate. Como pode ver, você tem nove sinais
vermelhos sobre seu tronco, qualquer movimento que fizer será motivo para que atiremos.
- Eu se fosse um de vocês, não atiraria. – sorriu perspicaz.
- Por que eu deveria confiar em você psicopata de merda?
- Atire! – gritou Freddie correndo em direção ao chefe das forças especiais.
Tiros foram disparados contra Freddie. O que os policiais não sabiam é que em
seu peito estavam presos dispositivos que ativaram explosivos.
A creche e o que estava dentro dela foi pelos ares.