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A RELIGIÃO
A palavra religião vem do latim: religio,
formada pelo prefixo re (outra vez, de novo)
e o verbo ligare (ligar, unir, vincular).
A religião é um vínculo. Quais as partes
vinculadas?
O mundo profano e o mundo sagrado,
isto é, a Natureza (água, fogo, ar, animais,
plantas, astros, metais, terra, humanos) e
as divindades que habitam a Natureza ou
um lugar separado da Natureza.
Nas várias culturas, essa ligação é
simbolizada no momento de fundação de
uma aldeia, vila ou cidade: o guia religioso
traça figuras no chão (círculo, quadrado,
triângulo) e repete o mesmo gesto no ar (na
direção do céu, ou do mar, ou da floresta,
ou do deserto). Esses dois gestos
delimitam um espaço novo, sagrado (no ar)
e consagrado (no solo). Nesse novo espaço
ergue-se o santuário (em latim, templum,
templo) e à sua volta os edifícios da nova
comunidade.
Essa mesma cerimônia da ligação
fundadora aparece na religião judaica,
quando Jeová indica ao povo o lugar onde
deve habitar – a Terra Prometida – e o
espaço onde o templo deverá ser edificado,
para nele ser colocada a Arca da Aliança,
símbolo do vínculo que une o povo e seu
Deus, recordando a primeira ligação: o
arco-íris, anunciado por Deus a Noé como
prova de seu laço com ele e sua
descendência.
Também no cristianismo a religio é
explicitada por um gesto de união. No
Novo Testamento, Jesus disse a
Pedro: “Tu és Pedro e sobre esta pedra
edificarei a minha igreja e as portas do
inferno não prevalecerão contra ela. Eu
te darei as Chaves do Reino: o que
ligares na Terra será ligado no Céu; o
que desligares na Terra será desligado
no Céu”.
Através da sacralização e
consagração, a religião cria a
idéia de espaço sagrado.
Os céus, o monte Olimpo (na
Grécia), as montanhas do
deserto (em Israel), templos
e igrejas são santuários ou
moradas dos deuses.
O espaço da vida comum separa-se
do espaço sagrado: neste, vivem os
deuses, são feitas as cerimônias de
culto, são trazidas oferendas e feitas
preces com pedidos às divindades
(colheita, paz, vitória na guerra, bom
parto, fim de uma peste); no primeiro
transcorre a vida profana dos
humanos. A religião organiza o espaço
e lhe dá qualidades culturais, diversas
das simples qualidades naturais.
A RELIGIÃO
COMO
NARRATIVA DA
ORIGEM
A religião não transmuta apenas o
espaço. Também qualifica o tempo, dando-
lhe a marca do sagrado.
O tempo sagrado é uma narrativa. Narra
a origem dos deuses e, pela ação das
divindades, a origem das coisas, das
plantas, dos animais e dos seres humanos.
Por isso, a narrativa religiosa sempre
começa com alguma expressão do tipo: “no
princípio”, “no começo”, “quando o deus x
estava na Terra”, “quando a deusa y viu
pela primeira vez”, etc.
A narrativa sagrada é a história
sagrada, que os gregos chamavam
de mito.
Este não é uma fabulação
ilusória, uma fantasia sem
consciência, mas a maneira pela
qual uma sociedade narra para si
mesma seu começo e o de toda a
realidade, inclusive o começo ou
nascimento dos próprios deuses.
Só tardiamente, quando surgiu a
Filosofia e, depois dela, a teologia, a
razão exigirá que os deuses não sejam
apenas imortais, mas também eternos,
sem começo e sem fim. Antes, porém,
da Filosofia e da teologia, a religião
narrava teogonias (do grego: theos,
deus; gonia, geração) isto é, a geração
ou o nascimento dos deuses,
semideuses e heróis.
O contraste entre dia e noite – luz e treva -, entre
as estações do ano – frio, quente, ameno, com
flores, com frutos, com chuvas, com secas -,
entre o nascimento e a desaparição – vida e
morte -, entre tipos de animais – terrestres,
aquáticos, voadores, ferozes e dóceis -, entre
tipos de humanos – brancos, negros, amarelos,
vermelhos, altos, baixos, peludos, glabros -, as
técnicas obtidas pelo controle sobre alguma força
natural – fogo, água, ventos, pedras, areia, ervas
– evidenciam um mundo ordenado e regular, no
qual os humanos nascem, vivem e morrem.
A história sagrada ou mito narra
como e por que a ordem do mundo
existe e como e por que foi doada aos
humanos pelos deuses.
Assim, além de ser uma teogonia, a
história sagrada é uma cosmogonia
(do grego: cosmos, mundo; gonia,
geração): narra o nascimento, a
finalidade e o perecimento de todos os
seres sob a ação dos deuses.
Assim como há dois espaços, há dois
tempos: o anterior à criação ou gênese dos
deuses e das coisas – tempo do vazio e do
caos – e o tempo originário da gênese de
tudo quanto existe – tempo do pleno e da
ordem.
Nesse tempo sagrado da ordem,
novamente uma divisão: o tempo primitivo,
inteiramente divino, quando tudo foi criado,
e o tempo do agora, profano, em que vivem
os seres naturais, incluindo os homens.
Embora a narrativa sagrada seja
uma explicação para a ordem
natural e humana, ela não se dirige
ao intelecto dos crentes (não é
Filosofia nem ciência), mas se
endereça ao coração deles.
Desperta emoções e sentimentos –
admiração, espanto, medo,
esperança, amor, ódio.
Porque se dirige às paixões do
crente, a religião lhe pede uma só
coisa: fé, ou seja, a confiança, adesão
plena ao que lhe é manifestado como
ação da divindade.
A atitude fundamental da fé é a
piedade: respeito pelos deuses e pelos
antepassados. A religião é crença, não
é saber. A tentativa para transformar a
religião em saber racional chama-se
teologia.
Ritos
Porque a religião liga humanos
e divindade, porque organiza o
espaço e o tempo, os seres
humanos precisam garantir que
a ligação e a organização se
mantenham e sejam sempre
propícias. Para isso são criados
os ritos.
O rito é uma cerimônia em que
gestos determinados, palavras
determinadas, objetos
determinados, pessoas
determinadas e emoções
determinadas adquirem o poder
misterioso de presentificar o laço
entre os humanos e a divindade.
Para agradecer dons e
benefícios, para suplicar novos
dons e benefícios, para lembrar
a bondade dos deuses ou para
exorcizar sua cólera, caso os
humanos tenham transgredido
as leis sagradas, as cerimônias
ritualísticas são de grande
variedade.
No entanto, uma vez fixada a
simbologia de um ritual, sua
eficácia dependerá da repetição
minuciosa e perfeita do rito, tal
como foi praticado na primeira
vez, porque nela os próprios
deuses orientaram gestos e
palavras dos humanos.
Um rito religioso é repetitivo em dois
sentidos principais: a cerimônia deve
repetir um acontecimento essencial da
história sagrada (por exemplo, no
cristianismo, a eucaristia ou a
comunhão, que repete a Santa Ceia);
e, em segundo lugar, atos, gestos,
palavras, objetos devem ser sempre os
mesmos, porque foram, na primeira
vez, consagrados pelo próprio deus.
O rito é a rememoração
perene do que aconteceu
numa primeira vez e que
volta a acontecer, graças
ao ritual que abole a
distância entre o passado
e o presente.
Os objetos simbólicos
A religião não sacraliza
apenas o espaço e o tempo,
mas também seres e objetos
do mundo, que se tornam
símbolos de algum fato
religioso.
Os seres e objetos
simbólicos são retirados de
seu lugar costumeiro,
assumindo um sentido novo
para toda a comunidade –
protetor, perseguidor,
benfeitor, ameaçador.
Sobre esse ser ou objeto recai
a noção de tabu (palavra
polinésia que significa intocável):
é um interdito, ou seja, não pode
ser tocado nem manipulado por
ninguém que não esteja
religiosamente autorizado para
isso.
É assim, por exemplo, que certos
animais se tornam sagrados ou tabus,
como a vaca na Índia, o cordeiro
perfeito consagrado para o sacrifício da
páscoa judaica, o tucano para a nação
tucana, do Brasil. É assim, por
exemplo, que certos objetos se tornam
sagrados ou tabus, como o pão e o
vinho consagrados pelo padre cristão,
durante o ritual da missa.
Do mesmo modo, em inúmeras
religiões, as virgens primogênitas
das principais famílias se tornam
tabus, como as vestais, na Roma
antiga. Também objetos se tornam
símbolos sagrados intocáveis,
como os pergaminhos judaicos
contendo os textos sagrados
antigos, certas pedras usadas pelos
chefes religiosos africanos, etc.
Os tabus se referem ou a objetos
e seres puros ou purificados para
os deuses, ou a objetos e seres
impuros, que devem permanecer
afastados dos deuses e dos
humanos. É assim que, em
inúmeras culturas, a mulher
menstruada é tabu (está impura) e,
no judaísmo e no islamismo, a
carne de porco é tabu (é impura).
A religião tende a ampliar o campo
simbólico, mesmo que não transforme
todos os seres e objetos em tabus ou
intocáveis. Ela o faz, vinculando seres
e qualidades à personalidade de um
deus. Assim, por exemplo, em muitas
religiões, como as africanas, cada
divindade é protetora de um astro, uma
cor, um animal, uma pedra e um metal
preciosos, um objeto santo.
A figuração do sagrado se faz por
emblemas: assim, por exemplo, o
emblema da deusa Fortuna era uma roda,
uma vela enfunada e uma cornucópia; o da
deusa Atena, o capacete e a espada; o de
Hermes, a serpente e as botas aladas; o de
Oxossi, as sete flechas espalhadas pelo
corpo; o de Iemanjá, o vestido branco, as
águas do mar e os cabelos ao vento; o de
Jesus, a cruz, a coroa de espinhos, o corpo
glorioso em ascensão.
Manifestação e revelação
Há religiões em que os deuses se
manifestam: surgem diante dos homens em
beleza, esplendor, perfeição e poder e os
levam a ver uma outra realidade, escondida
sob a realidade cotidiana, na qual o espaço,
o tempo, as formas dos seres, os sons e as
cores, os elementos encontram-se
organizados e dispostos de uma outra
maneira, secreta e verdadeira.
A divindade, levando um humano
ao seu mundo, desvenda-lhe a
verdade e o ilumina com sua luz.
Era isso, como vimos, o que significava a
palavra grega aletheia, a verdade como
manifestação ou iluminação.
A iluminação pode ser terrível, porque é dado
a um humano ver o que os olhos humanos não
conseguem ver, ouvir o que os ouvidos humanos
não podem ouvir, conhecer o que a inteligência
humana não tem forças para conhecer. As
religiões indígenas e a grega são desse tipo.
Há religiões em que o deus
revela verdades aos humanos,
sem fazê-los sair de seu mundo.
Podem ter sonhos e visões, mas
o fundamento é ouvir o que a
divindade lhes diz, porque dela
provém o sentido primeiro e
último de todas as coisas e do
destino humano.
O que se revela não é a verdade do
mundo, através da viagem visionária a
um outro mundo: o que se revela é a
vontade do deus, na qual o crente
confia e cujos desígnios ele cumpre.
Era isso o que significava, como vimos,
a palavra hebraica emunah, “assim
seja”. Judaísmo, cristianismo e
islamismo são religiões da revelação.
Nas duas modalidades de
religião, porém, a manifestação
da verdade e a revelação da
vontade exprimem o mesmo
acontecimento: aos humanos é
dado conhecer seu destino e o
de todas as coisas, isto é, as
leis divinas.
A lei divina
Os deuses são
poderes misteriosos.
São forças
personificadas e por
isso são vontades.
Misteriosos, porque suas decisões
são imprevisíveis e, muitas vezes,
incompreensíveis para os critérios
humanos de avaliação. Vontades,
porque o que acontece no mundo
manifesta um querer pessoal, supremo
e inquestionável. A religião, ao
estabelecer o laço entre o humano e o
divino, procura um caminho pelo qual a
vontade dos deuses benéfica e
propícia aos seus adoradores.
A vontade divina pode
tornar-se parcialmente
conhecida dos humanos sob
a forma de leis, isto é,
decretos, mandamentos,
ordenamentos, comandos
emanados da divindade.
Assim como a ordem do mundo
decorre dos decretos divinos, isto é,
da lei ordenadora à qual nenhum
ser escapa, também o mundo
humano está submetido a
mandamentos divinos, dos quais os
mais conhecidos, na cultura
ocidental, são os Dez
Mandamentos, dados por Jeová a
Moisés.
Também são de origem divina as
Doze Tábuas da Lei que fundaram a
república romana, como eram de
origem divina as leis gregas
explicitadas na Ilíada e na Odisséia de
Homero, bem como nas tragédias.
O modo como a vontade divina se
manifesta em leis permite distinguir
dois grandes tipos de religião. Há
religiões em que a divindade usa
intermediários para revelar a lei.
É o caso da religião judaica, em que
Jeová se vale, por exemplo, de Noé,
Moisés, Samuel, para dar a conhecer a
lei. Também nessa religião, a divindade
não cessa de lembrar ao povo as leis,
sobretudo quando estão sendo
transgredidas. Essa rememoração da
lei e das promessas de castigo e
redenção nelas contidas é a tarefa do
profeta, arauto de Deus.
Também na religião grega, os
deuses se valem de intermediários
para manifestar sua vontade. Esta,
por ser misteriosa e
incompreensível, exige um tipo
especial de intermediário, o
vidente, que interpreta os enigmas
divinos, vê o passado e o futuro e
os expõe aos homens.
Há religiões, porém, em que os
deuses manifestam sua lei
diretamente, sem recorrer a
intermediários, isto é, sem precisar de
intérpretes. São religiões da iluminação
individual e do êxtase místico, como é
o caso da maioria das religiões
orientais, que exigem, para a
iluminação e o êxtase, uma educação
especial do intelecto e da vontade dos
adeptos.
Freqüentemente, profetas e
videntes entram em transe
para receber a revelação,
mas a recebem não porque
tenham sido educados para
isso e sim porque a
divindade os escolheu para
manifestar-se.
O transe dos profetas e dos adivinhos
difere do êxtase místico dos iluminados,
porque, nos primeiros, o indivíduo tem
acesso a um conhecimento que pode
compreender (mesmo com grande
dificuldade) e por isso pode transmiti-lo aos
outros, enquanto nos segundos, não há
conhecimento, não há atividade intelectual
que depois seja transmissível a outros, mas
há mergulho e fusão do indivíduo na
divindade, numa experiência intraduzível e
intransmissível.
As religiões reveladas – diferentes, portanto,
das religiões extáticas – realizam a revelação de
duas maneiras: numa delas, como é o caso da
judaica e da cristã, aquele que recebe a
revelação deve escrevê-la, para que integre os
textos da história sagrada e seja transmissível;
na outra, como é o caso da grega, da romana,
das africanas, das indígenas, o vidente é levado
perante os deuses e vê a totalidade do tempo e
dos acontecimentos, devendo, após a visão,
dizê-la, para integrá-la à memória religiosa oral.
Nos dois casos, porém, para que
fique indiscutível a origem divina da
revelação, a exposição escrita ou oral
só pode ser feita por parábolas,
metáforas, imagens e histórias, cujo
sentido precisará ser decifrado pelos
leitores ou ouvintes. Deus, profetas e
videntes falam por meio de enigmas.
Dessa maneira, o caráter
transcendente e misterioso da lei divina
é preservado.
A vida após a
morte
Toda religião explica não só a
origem da ordem do mundo
natural, mas também do mundo
humano. No caso dos humanos,
a religião precisa explicar por
que são mortais.
O mistério da morte é sempre
explicado como expiação de uma culpa
original, cometida contra os deuses. No
princípio, os homens eram imortais e
viviam na companhia dos deuses; a
seguir, uma transgressão imperdoável
tem lugar e, com ela, a grande punição:
a mortalidade.
No entanto, a imortalidade não está
totalmente perdida.
Algumas religiões afirmam que o corpo
humano possui um duplo, feito de outra
matéria, que permanecerá após a
morte, usando outros seres para
relacionar-se com os vivos. Certas
religiões acreditam que o corpo é
habitado por uma entidade – espírito,
alma, sombra imaterial, sopro -, que
será imortal se os decretos divinos e os
rituais tiverem sido respeitados pelo
fiel.
Por acreditarem firmemente numa
outra vida – que pode ser imediata,
após a morte do corpo, ou pode
exigir reencarnações purificadoras
até alçar-se à imortalidade -, as
religiões possuem ritos funerários,
encarregados de preparar e
garantir a entrada do morto na
outra vida.
Em algumas religiões, como na egípcia e
na grega, a perfeita preservação do corpo
morto, isto é, de sua imagem, era essencial
para que fosse reconhecido pelos deuses
no reino dos mortos e recebesse a
imortalidade. Por isso, além dos ritos
funerários, os cemitérios, na maioria das
religiões e particularmente nas africanas,
indígenas e antigas ocidentais, eram
lugares sagrados, campos santos, nos
quais somente alguns, e sob certas
condições, podiam penetrar.
Nas religiões do encantamento, como a grega,
as africanas e as indígenas, a morte é concebida
de diversas maneiras, mas em todas elas o
morto fica encantado, isto é, torna-se algo
mágico. Numa delas, o morto deixa seu corpo
para entrar num outro e permanecer no mundo,
sob formas variadas; ou deixa seu corpo e seu
espírito permanecer no mundo, agitando os
ventos, as águas, o fogo, ensinando canto aos
pássaros, protegendo as crianças, ensinando os
mais velhos, escondendo e achando coisas.
Na outra, o morto tem sua imagem ou
seu espírito levado ao mundo divino, ali
desfrutando das delícias de uma vida
perenemente perfeita e bela; se, porém,
suas faltas terrenas forem tantas e tais que
não pôde ser perdoado, sua imagem ou
espírito vagará eternamente pelas trevas,
sem repouso e sem descanso. O mesmo
lhe acontecerá se os rituais fúnebres não
puderem ser realizados ou se tiverem sido
realizados com falhas.
Esse perambular pelas trevas
não existe nas religiões de
reencarnação, porque, em lugar
dessa punição, o espírito deverá
ter tantas vidas e sob tantas
formas quantas necessárias à
sua purificação, até que possa
participar da felicidade perene.
Nas religiões da salvação, como é o
caso do judaísmo, do cristianismo e do
islamismo, a felicidade perene não é
apenas individual, mas também
coletiva. São religiões em que a
divindade promete perdoar a falta
originária, enviando um salvador, que,
sacrificando-se pelos humanos,
garante-lhes a imortalidade e a
reconciliação com Deus.
Como a falta ou queda originária
atingiu a todos os humanos, o perdão
divino e a redenção decorrem de uma
decisão divina, que deverá atingir a
todos os humanos, se acreditarem e
respeitarem a lei divina escrita nos
textos sagrados e se guardarem a
esperança na promessa de salvação
que lhes foi feita por Deus.
Nesse tipo de religião, a obra
de salvação é realizada por um
enviado de Deus – messias, em
hebraico; cristo, em grego. As
religiões da salvação são
messiânicas e coletivas. Um
povo – povo de Deus – será
salvo pela lei e pelo enviado
divino.
FONTE:
Marilena Chauí
Convite à Filosofia
Ed. Ática, São Paulo, 2000.

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3ª série 2º bimestre Filosofia e Religião

  • 1.
  • 2. A RELIGIÃO A palavra religião vem do latim: religio, formada pelo prefixo re (outra vez, de novo) e o verbo ligare (ligar, unir, vincular). A religião é um vínculo. Quais as partes vinculadas? O mundo profano e o mundo sagrado, isto é, a Natureza (água, fogo, ar, animais, plantas, astros, metais, terra, humanos) e as divindades que habitam a Natureza ou um lugar separado da Natureza.
  • 3. Nas várias culturas, essa ligação é simbolizada no momento de fundação de uma aldeia, vila ou cidade: o guia religioso traça figuras no chão (círculo, quadrado, triângulo) e repete o mesmo gesto no ar (na direção do céu, ou do mar, ou da floresta, ou do deserto). Esses dois gestos delimitam um espaço novo, sagrado (no ar) e consagrado (no solo). Nesse novo espaço ergue-se o santuário (em latim, templum, templo) e à sua volta os edifícios da nova comunidade.
  • 4. Essa mesma cerimônia da ligação fundadora aparece na religião judaica, quando Jeová indica ao povo o lugar onde deve habitar – a Terra Prometida – e o espaço onde o templo deverá ser edificado, para nele ser colocada a Arca da Aliança, símbolo do vínculo que une o povo e seu Deus, recordando a primeira ligação: o arco-íris, anunciado por Deus a Noé como prova de seu laço com ele e sua descendência.
  • 5. Também no cristianismo a religio é explicitada por um gesto de união. No Novo Testamento, Jesus disse a Pedro: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as Chaves do Reino: o que ligares na Terra será ligado no Céu; o que desligares na Terra será desligado no Céu”.
  • 6. Através da sacralização e consagração, a religião cria a idéia de espaço sagrado. Os céus, o monte Olimpo (na Grécia), as montanhas do deserto (em Israel), templos e igrejas são santuários ou moradas dos deuses.
  • 7. O espaço da vida comum separa-se do espaço sagrado: neste, vivem os deuses, são feitas as cerimônias de culto, são trazidas oferendas e feitas preces com pedidos às divindades (colheita, paz, vitória na guerra, bom parto, fim de uma peste); no primeiro transcorre a vida profana dos humanos. A religião organiza o espaço e lhe dá qualidades culturais, diversas das simples qualidades naturais.
  • 9. A religião não transmuta apenas o espaço. Também qualifica o tempo, dando- lhe a marca do sagrado. O tempo sagrado é uma narrativa. Narra a origem dos deuses e, pela ação das divindades, a origem das coisas, das plantas, dos animais e dos seres humanos. Por isso, a narrativa religiosa sempre começa com alguma expressão do tipo: “no princípio”, “no começo”, “quando o deus x estava na Terra”, “quando a deusa y viu pela primeira vez”, etc.
  • 10. A narrativa sagrada é a história sagrada, que os gregos chamavam de mito. Este não é uma fabulação ilusória, uma fantasia sem consciência, mas a maneira pela qual uma sociedade narra para si mesma seu começo e o de toda a realidade, inclusive o começo ou nascimento dos próprios deuses.
  • 11. Só tardiamente, quando surgiu a Filosofia e, depois dela, a teologia, a razão exigirá que os deuses não sejam apenas imortais, mas também eternos, sem começo e sem fim. Antes, porém, da Filosofia e da teologia, a religião narrava teogonias (do grego: theos, deus; gonia, geração) isto é, a geração ou o nascimento dos deuses, semideuses e heróis.
  • 12. O contraste entre dia e noite – luz e treva -, entre as estações do ano – frio, quente, ameno, com flores, com frutos, com chuvas, com secas -, entre o nascimento e a desaparição – vida e morte -, entre tipos de animais – terrestres, aquáticos, voadores, ferozes e dóceis -, entre tipos de humanos – brancos, negros, amarelos, vermelhos, altos, baixos, peludos, glabros -, as técnicas obtidas pelo controle sobre alguma força natural – fogo, água, ventos, pedras, areia, ervas – evidenciam um mundo ordenado e regular, no qual os humanos nascem, vivem e morrem.
  • 13. A história sagrada ou mito narra como e por que a ordem do mundo existe e como e por que foi doada aos humanos pelos deuses. Assim, além de ser uma teogonia, a história sagrada é uma cosmogonia (do grego: cosmos, mundo; gonia, geração): narra o nascimento, a finalidade e o perecimento de todos os seres sob a ação dos deuses.
  • 14. Assim como há dois espaços, há dois tempos: o anterior à criação ou gênese dos deuses e das coisas – tempo do vazio e do caos – e o tempo originário da gênese de tudo quanto existe – tempo do pleno e da ordem. Nesse tempo sagrado da ordem, novamente uma divisão: o tempo primitivo, inteiramente divino, quando tudo foi criado, e o tempo do agora, profano, em que vivem os seres naturais, incluindo os homens.
  • 15. Embora a narrativa sagrada seja uma explicação para a ordem natural e humana, ela não se dirige ao intelecto dos crentes (não é Filosofia nem ciência), mas se endereça ao coração deles. Desperta emoções e sentimentos – admiração, espanto, medo, esperança, amor, ódio.
  • 16. Porque se dirige às paixões do crente, a religião lhe pede uma só coisa: fé, ou seja, a confiança, adesão plena ao que lhe é manifestado como ação da divindade. A atitude fundamental da fé é a piedade: respeito pelos deuses e pelos antepassados. A religião é crença, não é saber. A tentativa para transformar a religião em saber racional chama-se teologia.
  • 17. Ritos Porque a religião liga humanos e divindade, porque organiza o espaço e o tempo, os seres humanos precisam garantir que a ligação e a organização se mantenham e sejam sempre propícias. Para isso são criados os ritos.
  • 18. O rito é uma cerimônia em que gestos determinados, palavras determinadas, objetos determinados, pessoas determinadas e emoções determinadas adquirem o poder misterioso de presentificar o laço entre os humanos e a divindade.
  • 19. Para agradecer dons e benefícios, para suplicar novos dons e benefícios, para lembrar a bondade dos deuses ou para exorcizar sua cólera, caso os humanos tenham transgredido as leis sagradas, as cerimônias ritualísticas são de grande variedade.
  • 20. No entanto, uma vez fixada a simbologia de um ritual, sua eficácia dependerá da repetição minuciosa e perfeita do rito, tal como foi praticado na primeira vez, porque nela os próprios deuses orientaram gestos e palavras dos humanos.
  • 21. Um rito religioso é repetitivo em dois sentidos principais: a cerimônia deve repetir um acontecimento essencial da história sagrada (por exemplo, no cristianismo, a eucaristia ou a comunhão, que repete a Santa Ceia); e, em segundo lugar, atos, gestos, palavras, objetos devem ser sempre os mesmos, porque foram, na primeira vez, consagrados pelo próprio deus.
  • 22. O rito é a rememoração perene do que aconteceu numa primeira vez e que volta a acontecer, graças ao ritual que abole a distância entre o passado e o presente.
  • 23. Os objetos simbólicos A religião não sacraliza apenas o espaço e o tempo, mas também seres e objetos do mundo, que se tornam símbolos de algum fato religioso.
  • 24. Os seres e objetos simbólicos são retirados de seu lugar costumeiro, assumindo um sentido novo para toda a comunidade – protetor, perseguidor, benfeitor, ameaçador.
  • 25. Sobre esse ser ou objeto recai a noção de tabu (palavra polinésia que significa intocável): é um interdito, ou seja, não pode ser tocado nem manipulado por ninguém que não esteja religiosamente autorizado para isso.
  • 26. É assim, por exemplo, que certos animais se tornam sagrados ou tabus, como a vaca na Índia, o cordeiro perfeito consagrado para o sacrifício da páscoa judaica, o tucano para a nação tucana, do Brasil. É assim, por exemplo, que certos objetos se tornam sagrados ou tabus, como o pão e o vinho consagrados pelo padre cristão, durante o ritual da missa.
  • 27. Do mesmo modo, em inúmeras religiões, as virgens primogênitas das principais famílias se tornam tabus, como as vestais, na Roma antiga. Também objetos se tornam símbolos sagrados intocáveis, como os pergaminhos judaicos contendo os textos sagrados antigos, certas pedras usadas pelos chefes religiosos africanos, etc.
  • 28. Os tabus se referem ou a objetos e seres puros ou purificados para os deuses, ou a objetos e seres impuros, que devem permanecer afastados dos deuses e dos humanos. É assim que, em inúmeras culturas, a mulher menstruada é tabu (está impura) e, no judaísmo e no islamismo, a carne de porco é tabu (é impura).
  • 29. A religião tende a ampliar o campo simbólico, mesmo que não transforme todos os seres e objetos em tabus ou intocáveis. Ela o faz, vinculando seres e qualidades à personalidade de um deus. Assim, por exemplo, em muitas religiões, como as africanas, cada divindade é protetora de um astro, uma cor, um animal, uma pedra e um metal preciosos, um objeto santo.
  • 30. A figuração do sagrado se faz por emblemas: assim, por exemplo, o emblema da deusa Fortuna era uma roda, uma vela enfunada e uma cornucópia; o da deusa Atena, o capacete e a espada; o de Hermes, a serpente e as botas aladas; o de Oxossi, as sete flechas espalhadas pelo corpo; o de Iemanjá, o vestido branco, as águas do mar e os cabelos ao vento; o de Jesus, a cruz, a coroa de espinhos, o corpo glorioso em ascensão.
  • 31. Manifestação e revelação Há religiões em que os deuses se manifestam: surgem diante dos homens em beleza, esplendor, perfeição e poder e os levam a ver uma outra realidade, escondida sob a realidade cotidiana, na qual o espaço, o tempo, as formas dos seres, os sons e as cores, os elementos encontram-se organizados e dispostos de uma outra maneira, secreta e verdadeira.
  • 32. A divindade, levando um humano ao seu mundo, desvenda-lhe a verdade e o ilumina com sua luz. Era isso, como vimos, o que significava a palavra grega aletheia, a verdade como manifestação ou iluminação. A iluminação pode ser terrível, porque é dado a um humano ver o que os olhos humanos não conseguem ver, ouvir o que os ouvidos humanos não podem ouvir, conhecer o que a inteligência humana não tem forças para conhecer. As religiões indígenas e a grega são desse tipo.
  • 33. Há religiões em que o deus revela verdades aos humanos, sem fazê-los sair de seu mundo. Podem ter sonhos e visões, mas o fundamento é ouvir o que a divindade lhes diz, porque dela provém o sentido primeiro e último de todas as coisas e do destino humano.
  • 34. O que se revela não é a verdade do mundo, através da viagem visionária a um outro mundo: o que se revela é a vontade do deus, na qual o crente confia e cujos desígnios ele cumpre. Era isso o que significava, como vimos, a palavra hebraica emunah, “assim seja”. Judaísmo, cristianismo e islamismo são religiões da revelação.
  • 35. Nas duas modalidades de religião, porém, a manifestação da verdade e a revelação da vontade exprimem o mesmo acontecimento: aos humanos é dado conhecer seu destino e o de todas as coisas, isto é, as leis divinas.
  • 36. A lei divina Os deuses são poderes misteriosos. São forças personificadas e por isso são vontades.
  • 37. Misteriosos, porque suas decisões são imprevisíveis e, muitas vezes, incompreensíveis para os critérios humanos de avaliação. Vontades, porque o que acontece no mundo manifesta um querer pessoal, supremo e inquestionável. A religião, ao estabelecer o laço entre o humano e o divino, procura um caminho pelo qual a vontade dos deuses benéfica e propícia aos seus adoradores.
  • 38. A vontade divina pode tornar-se parcialmente conhecida dos humanos sob a forma de leis, isto é, decretos, mandamentos, ordenamentos, comandos emanados da divindade.
  • 39. Assim como a ordem do mundo decorre dos decretos divinos, isto é, da lei ordenadora à qual nenhum ser escapa, também o mundo humano está submetido a mandamentos divinos, dos quais os mais conhecidos, na cultura ocidental, são os Dez Mandamentos, dados por Jeová a Moisés.
  • 40. Também são de origem divina as Doze Tábuas da Lei que fundaram a república romana, como eram de origem divina as leis gregas explicitadas na Ilíada e na Odisséia de Homero, bem como nas tragédias. O modo como a vontade divina se manifesta em leis permite distinguir dois grandes tipos de religião. Há religiões em que a divindade usa intermediários para revelar a lei.
  • 41. É o caso da religião judaica, em que Jeová se vale, por exemplo, de Noé, Moisés, Samuel, para dar a conhecer a lei. Também nessa religião, a divindade não cessa de lembrar ao povo as leis, sobretudo quando estão sendo transgredidas. Essa rememoração da lei e das promessas de castigo e redenção nelas contidas é a tarefa do profeta, arauto de Deus.
  • 42. Também na religião grega, os deuses se valem de intermediários para manifestar sua vontade. Esta, por ser misteriosa e incompreensível, exige um tipo especial de intermediário, o vidente, que interpreta os enigmas divinos, vê o passado e o futuro e os expõe aos homens.
  • 43. Há religiões, porém, em que os deuses manifestam sua lei diretamente, sem recorrer a intermediários, isto é, sem precisar de intérpretes. São religiões da iluminação individual e do êxtase místico, como é o caso da maioria das religiões orientais, que exigem, para a iluminação e o êxtase, uma educação especial do intelecto e da vontade dos adeptos.
  • 44. Freqüentemente, profetas e videntes entram em transe para receber a revelação, mas a recebem não porque tenham sido educados para isso e sim porque a divindade os escolheu para manifestar-se.
  • 45. O transe dos profetas e dos adivinhos difere do êxtase místico dos iluminados, porque, nos primeiros, o indivíduo tem acesso a um conhecimento que pode compreender (mesmo com grande dificuldade) e por isso pode transmiti-lo aos outros, enquanto nos segundos, não há conhecimento, não há atividade intelectual que depois seja transmissível a outros, mas há mergulho e fusão do indivíduo na divindade, numa experiência intraduzível e intransmissível.
  • 46. As religiões reveladas – diferentes, portanto, das religiões extáticas – realizam a revelação de duas maneiras: numa delas, como é o caso da judaica e da cristã, aquele que recebe a revelação deve escrevê-la, para que integre os textos da história sagrada e seja transmissível; na outra, como é o caso da grega, da romana, das africanas, das indígenas, o vidente é levado perante os deuses e vê a totalidade do tempo e dos acontecimentos, devendo, após a visão, dizê-la, para integrá-la à memória religiosa oral.
  • 47. Nos dois casos, porém, para que fique indiscutível a origem divina da revelação, a exposição escrita ou oral só pode ser feita por parábolas, metáforas, imagens e histórias, cujo sentido precisará ser decifrado pelos leitores ou ouvintes. Deus, profetas e videntes falam por meio de enigmas. Dessa maneira, o caráter transcendente e misterioso da lei divina é preservado.
  • 48. A vida após a morte Toda religião explica não só a origem da ordem do mundo natural, mas também do mundo humano. No caso dos humanos, a religião precisa explicar por que são mortais.
  • 49. O mistério da morte é sempre explicado como expiação de uma culpa original, cometida contra os deuses. No princípio, os homens eram imortais e viviam na companhia dos deuses; a seguir, uma transgressão imperdoável tem lugar e, com ela, a grande punição: a mortalidade. No entanto, a imortalidade não está totalmente perdida.
  • 50. Algumas religiões afirmam que o corpo humano possui um duplo, feito de outra matéria, que permanecerá após a morte, usando outros seres para relacionar-se com os vivos. Certas religiões acreditam que o corpo é habitado por uma entidade – espírito, alma, sombra imaterial, sopro -, que será imortal se os decretos divinos e os rituais tiverem sido respeitados pelo fiel.
  • 51. Por acreditarem firmemente numa outra vida – que pode ser imediata, após a morte do corpo, ou pode exigir reencarnações purificadoras até alçar-se à imortalidade -, as religiões possuem ritos funerários, encarregados de preparar e garantir a entrada do morto na outra vida.
  • 52. Em algumas religiões, como na egípcia e na grega, a perfeita preservação do corpo morto, isto é, de sua imagem, era essencial para que fosse reconhecido pelos deuses no reino dos mortos e recebesse a imortalidade. Por isso, além dos ritos funerários, os cemitérios, na maioria das religiões e particularmente nas africanas, indígenas e antigas ocidentais, eram lugares sagrados, campos santos, nos quais somente alguns, e sob certas condições, podiam penetrar.
  • 53. Nas religiões do encantamento, como a grega, as africanas e as indígenas, a morte é concebida de diversas maneiras, mas em todas elas o morto fica encantado, isto é, torna-se algo mágico. Numa delas, o morto deixa seu corpo para entrar num outro e permanecer no mundo, sob formas variadas; ou deixa seu corpo e seu espírito permanecer no mundo, agitando os ventos, as águas, o fogo, ensinando canto aos pássaros, protegendo as crianças, ensinando os mais velhos, escondendo e achando coisas.
  • 54. Na outra, o morto tem sua imagem ou seu espírito levado ao mundo divino, ali desfrutando das delícias de uma vida perenemente perfeita e bela; se, porém, suas faltas terrenas forem tantas e tais que não pôde ser perdoado, sua imagem ou espírito vagará eternamente pelas trevas, sem repouso e sem descanso. O mesmo lhe acontecerá se os rituais fúnebres não puderem ser realizados ou se tiverem sido realizados com falhas.
  • 55. Esse perambular pelas trevas não existe nas religiões de reencarnação, porque, em lugar dessa punição, o espírito deverá ter tantas vidas e sob tantas formas quantas necessárias à sua purificação, até que possa participar da felicidade perene.
  • 56. Nas religiões da salvação, como é o caso do judaísmo, do cristianismo e do islamismo, a felicidade perene não é apenas individual, mas também coletiva. São religiões em que a divindade promete perdoar a falta originária, enviando um salvador, que, sacrificando-se pelos humanos, garante-lhes a imortalidade e a reconciliação com Deus.
  • 57. Como a falta ou queda originária atingiu a todos os humanos, o perdão divino e a redenção decorrem de uma decisão divina, que deverá atingir a todos os humanos, se acreditarem e respeitarem a lei divina escrita nos textos sagrados e se guardarem a esperança na promessa de salvação que lhes foi feita por Deus.
  • 58. Nesse tipo de religião, a obra de salvação é realizada por um enviado de Deus – messias, em hebraico; cristo, em grego. As religiões da salvação são messiânicas e coletivas. Um povo – povo de Deus – será salvo pela lei e pelo enviado divino.
  • 59. FONTE: Marilena Chauí Convite à Filosofia Ed. Ática, São Paulo, 2000.