1.
OS MAIAS
Episódios da Vida Romântica
Eça de Queirós
2.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
Lina Tavares
2
O TÍTULO
OS MAIAS
“… eram uma família antiga da Beira (…) agora reduzida a dois varões, o senhor da casa,
Afonso da Maia (…) e seu neto Carlos que estudava medicina em Coimbra.” (p. 6)
A história da família Maia contada ao longo de
três gerações:
1ª geração – Afonso da Maia (representante dos antigos
valores, assinalada pela reacção contra o absolutismo – início do
Romantismo )
2ª geração – Pedro da Maia (representante da fase da
instauração do liberalismo – Romantismo)
3ª geração – Carlos da Maia (simboliza a decadência dos
ideais liberais – Regeneração – Ultra-Romantismo e Realismo)
3.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
Lina Tavares
3
Passeio
final
pela baixa
(XVIII)
Sarau da
Trindade
(XVI)
Jornal
A TARDE
(XV)
Chás e
jantares
(X e XII)
Corrida no
Hipódromo
(X)
Jantar do
Hotel
Central
(VI)
Acção
Principal
O SUBTÍTULO
Episódios da Vida Romântica (1)
A vida lisboeta da segunda metade do séc. XIX
4.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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4
O SUBTÍTULO
Episódios da Vida Romântica (2)
Sociedade
Portuguesa
Talento
Não
Reconhecido
Cruges
Oratória
“balofa”
Rufino
Administ.
pública
Sousa
Neto
Política
Cde de
Gouvarinho
Corrupção/
Decadência
Moral
Dâmaso
Mulher
Portuguesa
Alta
Socied.
Diplomacia
Steinbroken
Sousa Neto
filho
Jornalismo
Palma
“Cavalão”
Neves
Alta
Finança
Cohen
Educação
portuguesa
Eusebio-
zinho
Aristocracia
Inglesa
Craft
Literatura
Portuguesa
Ega
Alencar
Sociedade
Portuguesa
5.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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5
Estrutura (1)
2. Grande Analepse
(movimento temporal
retrospectivo)
1820-1875
Mais de 50 anos (1820-1875)
Cap. I a IV
1. Introdução (5 pp.) início da acção; o Ramalhete; Afonso (1875)
•Juventude de Afonso
•Casamento de Afonso
•Educação de Pedro
•Casamento de Pedro
•Suicídio de Pedro
•Educação de Carlos
•Juventude de Carlos
6.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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6
Estrutura (2)
Intriga principal – acção fechada (história da família dos
Maias, centrada nas vivências de Carlos da Maia)
alterna com os episódios das “Cenas da Vida
Portuguesa” – acção aberta (os “Episódios da Vida
Romântica” referentes ao ambiente em que as
personagens vivem / à crónica de costumes)
Cerca de dois anos (Outono de 1875 a Janeiro de 1877)
Cap. V a XVII
3. A Acção (cerca de 500 pp.)
7.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
Lina Tavares
7
Estrutura (3)
Cap. XVIII
4. Epílogo (cerca de 27 pp.)
Viagem de Carlos e de Ega (1877-78)
Cena da estada de Carlos em Lisboa, oito anos
depois (1887)
Passados dez anos: 1887
8.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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8
Introdução
- marco inicial da acção
No passado
Longos anos o Ramalhete permaneceu desabitado.
(O procurador) aludia mesmo a uma lenda, segundo a qual eram sempre
fatais aos Maias as paredes do Ramalhete.
No presente
Restauro da casa por um arquitecto decorador de Londres
Ocupação do Ramalhete
“A casa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no Outono de 1875, era conhecida na
vizinhança da Rua de S. Francisco de Paula, e em todo o bairro das Janelas Verdes, pela
Casa do Ramalhete, ou simplesmente, o Ramalhete.” (p. 5)
“… e foi só nas vésperas da sua chegada, nesse lindo dia de Outono de 1875, que
Afonso se resolveu deixar Santa Olávia e vir instalar-se no Ramalhete.” (p. 10)
9.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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9
ANALEPSE (1)
História de Afonso da Maia
Tem dois objectivos:
1º - apresentar dois espaços históricos, sociais e culturais:
o espaço miguelista – representado por Caetano da Maia
o espaço liberal – representado por Afonso da Maia
2º - mostrar Maria Eduarda Runa presa a um catolicismo
retrógrado (Padre Vasques e Cartilha – catecismo antiquado) e
ligada a uma misteriosa doença – religião e doença que a
consumirão e marcarão o seu filho Pedro.
10.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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ANALEPSE (2)
História de Pedro da Maia
Intriga secundária de índole naturalista
Percurso biográfico de Pedro só é explicável à luz dos
chamados factores naturalistas:
raça (paralelismo de identidade entre mãe e filho)
educação (impede o desenvolvimento físico, moral e intelectual,
tornando-o “um fraco em tudo”)
meio (após a morte da mãe frequenta um meio moralmente baixo)
Fica provada a tese de que o ser humano é um produto destes
factores naturalistas que o condicionam irremediavelmente
11.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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Vida de Pedro da Maia / Vida de Carlos da Maia
intriga secundária intriga principal
amores infelizes amores incestuosos
Vida dissoluta
Encontro ocasional com
Maria Monforte
Procura de Mª Monforte
Encontro através de Alencar
Oposição real de Afonso à
“Negreira”
Encontros e casamento
Elemento desencadeador do
drama – o napolitano
Infidelidade de Maria
Monforte – reacções de
Pedro
Encontro de Pedro com
Afonso e suicídio de Pedro
Vida dissoluta
Encontro ocasional com
Maria Eduarda
Procura de Mª Eduarda
Encontro através de Dâmaso
Oposição potencial de
Afonso à “Amante”
Encontros e relações
Elemento desencadeador da
tragédia – Guimarães
Descoberta do incesto –
reacções de Carlos
Encontro de Carlos com
Afonso – morte de Afonso
12.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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12
ANALEPSE (3)
Modelos Educacionais (em Santa Olávia)
Educação de Carlos da Maia
Privilégio dado:
ao contacto com a natureza;
ao exercício físico;
à aprendizagem de línguas
vivas (inglês);
à criatividade e juízo crítico;
ao rigor, método e ordem;
ao dever em detrimento da
vontade.
EDUCAÇÃO BRITÂNICA MODERNA
Símbolo: o TRAPÉZIO
Lema orientador:
“alma sã em corpo são”
(equilíbrio clássico)
País voltado para o futuro
Educação de Eusebiozinho
Privilégio dado:
à permanência em casa;
ao contacto com velhos livros;
à aprendizagem de línguas mortas
(latim);
à valorização da memorização;
à superprotecção;
ao suborno da vontade pela
chantagem afectiva.
EDUCAÇÃO TRADICIONAL PORTUGUESA
Símbolo: a CARTILHA
Lema orientador:
“alma doente em corpo doente”
(sentimentalismo romântico)
País voltado para o passado
13.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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ANALEPSE (4)
Juventude de Carlos (em Coimbra/nos Paços de Celas)
Estudante do liceu, Carlos deixara os seus compêndios de lógica e
de retórica para se ocupar de anatomia (p. 88)
Carlos faz ginástica científica, esgrima, whist sério; havia ardentes
cavacos, tudo flamejava no fumo do tabaco, etc.
Tinha nas veias o sangue do diletantismo (p. 90)
Episódio romântico com Hermengarda – adultério
Romance torpe com a espanhola Encarnación, prostituta a quem
monta casa
Companheiros – dandis e filósofos, fidalgotes e revolucionários
Em Agosto, no acto da formatura, houve alegre festa em Celas.
“Aí temos o nosso Maia, Carolus Eduardus ab Maia, começando a sua gloriosa
carreira… preparado para salvar a humanidade enferma – ou acabar de a
matar, segundo as circunstâncias.” (p. 95)
14.
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ANALEPSE (5) - fim
Viagem de Carlos pela Europa
“Carlos partira para a sua longa viagem pela
Europa. Um ano passou.
Chegara esse Outono de 1875; e o avô,
instalado enfim no Ramalhete, esperava por ele
ansiosamente.” (pp. 95 e 96)
15.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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15
A ACÇÃO (1)
O luxo:
•um criado de libré
•plantas em vasos de Ruão
•quadros de muita cor
•ricas molduras
•álbuns de actrizes seminuas
•um piano
Carlos da Maia, médico, em Lisboa
O consultório O laboratório
•um grande pátio
•a porta do casarão, ogival e
nobre
•sala para estudos anatómicos
•a biblioteca
•fornos para trabalhar químicos
•as obras arrastavam-se sem
fim
16.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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16
A ACÇÃO (2)
Os projectos (falhados) de Carlos vs a realidade
•o consultório deserto
•o laboratório inútil
•a revista – mero projecto
•o livro “Medicina Antiga e
Moderna” sempre adiado
Os projectos falhados A realidade
•os cavalos, as carruagens,
o bric-a-brac
•a atracção da Gouvarinho
•a lembrança dos amores
passados
ERA UM DILETANTE
17.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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A ACÇÃO (3)
Jantar no Hotel Central
OBJECTIVOS:
. homenagear o banqueiro Jacob Cohen;
. proporcionar a Carlos um primeiro contacto com o meio social lisboeta;
. apresentar a visão crítica de alguns problemas;
. Proporcionar a Carlos a visão de Maria Eduarda.
INTERVENIENTES:
. João da Ega, promotor da homenagem e representante do Realismo/Naturalismo;
. Cohen, o homenageado, representante das Finanças;
. Tomás de Alencar, o poeta ultra-romântico;
. Dâmaso Salcede, o novo-rico, representante dos vícios do novo-riquismo burguês;
. Carlos da Maia, o médico e o observador crítico;
. Craft, o britânico, representante da cultura artística e britânica.
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A ACÇÃO (4)
Jantar no Hotel Central
A heroína da intriga principal aparece como uma deusa
… “ofereceu a mão a uma senhora alta, loira, com um véu muito
apertado e muito escuro que realçava o esplendor da sua carnação
ebúrnea. Craft e Carlos afastaram-se, ela passou diante deles, com
um passo soberano de deusa, maravilhosamente bem feita,
deixando atrás de si como uma claridade, um reflexo de cabelos de
oiro, e um aroma no ar.” (pp.165/166)
19.
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19
A ACÇÃO (5)
Jantar no Hotel Central
TEMAS DISCUTIDOS
1. A literatura e a crítica literária
Tomás de Alencar / João da Ega.
2. As finanças
Cohen / João da Ega
3. A história política
Tomás de Alencar / João da Ega
Cohen / Dâmaso Salcede
20.
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A ACÇÃO (6)
Jantar no Hotel Central
CONCLUSÕES A RETIRAR DAS DISCUSSÕES
A falta de personalidade:
. Alencar muda de opinião quando Cohen o pretende;
. Ega muda de opinião quando Cohen quer;
. Dâmaso, cuja divisa é «Sou forte», aponta o caminho fácil de fuga.
A incoerência: Alencar e Ega chegam a vias de facto e, momentos
depois, abraçam-se como se nada tivesse acontecido.
Acima de tudo: a falta de cultura e de civismo domina as classes
mais destacadas, salvo Carlos e Craft.
21.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
Lina Tavares
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A ACÇÃO (7)
Três personagens em evidência
Carlos
•Acentua-se nele o
diletantismo. …”e sentia
agora que as suas
carruagens, os cavalos,
o Ramalhete, os hábitos
de luxo, o condenavam
irremediavelmente ao
diletantismo.” (pág.
187)
•Não sufoca a paixão
pela “deusa” do Hotel
Central que aparece no
Aterro. (pág. 202)
Dâmaso
• Dâmaso Cândido
Salcede – Comendador de
Cristo – assume-se
discípulo de Carlos. (pp.
188/189)
•“E Dâmaso, o do chique
a valer, era célebre, afinal,
por pôr casa a
espanholas…; tornara-se
bem depressa o D. João V
dos prostíbulos…” (pág.
192)
Ega
•Ega pede dinheiro
emprestado e quer pôr o
relógio no prego e a peliça
(pág. 195)
•Ega empurra o Carlos
para os braços da
Gouvarinho: “Aquela
senhora tem uma paixão
por ti… (pág. 196)
•Ega defende a anarquia
(pág. 199)
22.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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22
A ACÇÃO (8)
Carlos e as suas paixões
A heroína no Aterro
•2ª visão da heroína:
(Carlos descreve-a e
Manifesta a sua euforia.
(pág. 203)
•3ª visão da heroína:
“…voltou mais cedo e (…)
viu-a logo.” (pág. 204)
É a obsessão
pela brasileira
A Condessa de Gouvarinho
A Gouvarinho vai ao médico com
o seu filho único, Charlie, e
iniciam um flirt cheio de
promessas (pp. 208/209)
A brasileira, a heroína, em Sintra
No Ramalhete discute-se o artigo do Ega
na “Gazeta”, mas Carlos preocupa-se com
os encontros do Dâmaso “com essa
gente”- os Castro Gomes - , e mais ainda
quando o Taveira lhe diz que teriam ido
para Sintra (pp. 214/215)
•Carlos vai com o Cruges procurá-la.
23.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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23
A ACÇÃO (9)
VIAGEM A SINTRA - Tema: A BUSCA (frustrada) DA
FELICIDADE (capítulo VIII)
PARTIDA
Rua de S. Francisco
8 da manhã
A encomenda das queijadas
Quinta de
Benfica
Porcalhota
•O bucolismo de
Cruges
•Almoço campestre
•Conversa sobre a
ignorância do país
Ramalhão
Portas da Serra No Nunes (pp. 224/231)
•Eusébio e Palma Cavalão com as
espanholas
•O jogo como passatempo
burguês
•O significado de Sintra
•O significado das espanholas
•Ela não está
Seteais
•Indícios (falsos) de
aproximação: o cãozinho/a flauta
•Comparar a poesia de Cruges
com os versos de Alencar
Na Lawrence
•Novos indícios (também
falsos):
•a senhora alta
•a cadelinha
•o sujeito de pêra
•o bacalhau à “Alenquer”
Monólogo interior
•Carlos, frustrado, toma
consciência da
decadência para que o
arrasta a paixão
•Sublimação da
desconhecida: bela e boa
mãe
CHEGADA
•Sem ela
•Sem
queijadas
•Com a
FRUSTRAÇÃO
Viagem circular
O círculo vicioso da VIDA… o eterno retorno
24.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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24
A ACÇÃO (10)
Os espaços e as personagens após a visita a Sintra
No Ramalhete
Visita de Vilaça por causa dos negócios
“Quando Vilaça lhe apresentou os papéis, assinou-os com um ar
moribundo” (pág. 255)
Visita do Ega
“O Sr. Ega – anunciou Baptista…” (…)”Tu terás por acaso uma
espada que me sirva?” (…) “É para esta noite, para o fato de
Máscara” (baile dos Cohen – pág. 255)
Visita do Dâmaso
Dâmaso pede a Carlos que vá visitar a filha de seis anos, Rosicler, da
Brasileira – “É aquela gente brasileira?” (pág. 257)
Dâmaso, após a visita à doente, conta o seu romance com a do Castro
Gomes (pág. 265)
25.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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25
A ACÇÃO (11)
Os espaços e as personagens após a visita a Sintra
Em casa dos Cohen – o baile
…Ega estava diante dela, caracterizado, vestido de Mefistófeles. “Cheguei
mais cedo e, ao entrar na sala, o Cohen vem direito a mim e diz-me: Você,
seu infame, ponha-se já no meio da rua… Já no meio da rua, senão, diante
desta gente, corro-o a pontapés!” (pág. 269)
Na Quinta do Craft
• Carlos e Ega fazem consulta ao Craft sobre duelos, já que Ega quer
desafiar o Cohen (pág. 271)
• Jantam e bebem Borgonha e Chambertin. Ega apanha uma bebedeira e
balbucia: - “Raquelzinha! Racaquê, minha Raquelzinha! Gostas do teu
bichinho?... (pág. 279)
26.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
Lina Tavares
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A ACÇÃO (12)
Os espaços e as personagens após a visita a Sintra
Na Vila Balzac
• Carlos, Craft e Ega à espera do duelo, mas nada aconteceu. Chegou a
Srª Adélia e contou a história da coça à Raquel. (pág. 283)
• Partem da Vila Balzac e vão jantar ao André, ao Chiado.
• Ega tem uma reacção romântica (pág. 290)
No Aterro
• Nova visão da Castro Gomes (pág. 291)
Em casa dos Gouvarinhos: - para tormar chá
• Carlos continua na sua ambiguidade sentimental. (pág. 298)
• No decorrer do chá fala-se do ensino e da educação (pág. 294)
27.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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A ACÇÃO (13)
As corridas – espaço físico e sócio-cultural (pág. 312-343)
Corridas e sociedade
• As Corridas
1ª Corrida: a do 1º prémio dos “Produtos”
2ª Corrida: a do Grande Prémio Nacional
3ª Corrida: a do Prémio de El-Rei
4ª Corrida: a do Prémio de Consolação
• Visão Caricatural
- o hipódromo, improvisado, parecia um palanque real
- as pessoas não sabiam ocupar o seu lugar
- as senhoras traziam “vestidos sérios de missa”
- o bufete tinha um aspecto nojento
- a 1ª corrida terminou numa cena de pancadaria – por causa de uma burla
- As 3ª e 4ª corridas terminaram grotescamente
Em tudo um provincianismo snob : um verniz postiço
Contradição flagrante entre o ser e o parecer
“Um sopro grosseiro de desordem reles passava sobre o hipódromo, desmanchando a
linha postiça de civilização e a atitude forçada de decoro…” (pág. 325)
28.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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A ACÇÃO (14)
As corridas – espaço físico e sócio-cultural (pág. 312-343)
O espaço
Largo de Belém - deserto
• tosca guarita
• as pessoas:
- um trabalhador com um filho ao colo
- a mulher, ambos pasmando
- um garoto apregoando programas de corridas que ninguém comprava
O hipódromo – desconsolado, provinciano
• tribuna real forrada de baetão vermelho
• duas tribunas públicas com o feitio de traves
• palanque de arraial
• fendas no tabuado
• o bufete: suja taberna
29.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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A ACÇÃO (15)
As corridas – espaço físico e sócio-cultural (pág. 312-343)
As pessoas
Os jóqueis
Os homens (O rei, o visconde de Darque, o marquês, o Conde de Gouvarinho,
o Taveira, o Steinbroken, o Teles da Gama, o Carlos, o Craft, o Clifford, o
Mendonça, o Vargas, o Vilaça, o Alencar…)
As mulheres – visão caricatural da sociedade feminina
Em geral
. As que vêm no High Life dos jornais
. As dos camarotes de S. Carlos
. As das terças-feiras dos Gouvarinhos
Vestidos sérios de missa
Peles murchas, gastas, moles
Em particular
.as duas irmãsdo Taveira, magrinhas…
.a viscondessa de Alvim, nédia e branca
.a Joaninha Vilar, cada vez mais cheia
.as Pedrosas, banqueiras
.a condessa de Soutal, desarranjada
.a condessa de Gouvarinho, a sensual
.D. Maria da Cunha, desenvolta
.a ministra da Baviera, a vasta baleia
.a Concha, a prostituta
.a Pinheiro, a mais magra
30.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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30
A ACÇÃO (16)
Início da verdadeira intriga
Carlos em casa de Maria Eduarda
O 1º encontro de Carlos e Maria Eduarda está repleto de indícios:
. nomes semelhantes – destino semelhante (hipótese de consanguinidade)
. três lírios (murchavam) – três gerações dos Maias prestes a acabar
. a cor vermelha – o fogo da paixão
. a pele de tigre – amor incestuoso
. a coincidência do nome da cadelinha com o nome do galguinho de Carlos
. a coincidência de gostos
. o acesso gradual ao interior do quarto – intimidade
. a semelhança entre ela e o avô – consanguinidade
. a sensação de uma felicidade ideal - desgraça
31.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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A ACÇÃO (17)
O Conflito
Adjuvante: Ega
Oponentes: Dâmaso e Afonso da Maia
Heróis da intriga: Carlos e Mª Eduarda
. Inicia-se o conflito: Dâmaso, o Don Juan ridiculamente covarde,
no seu brio de macho enganado, pede explicações a Carlos, no
Ramalhete e vinga-se, posteriormente, espalhando a notícia do
romance, por toda a parte.
. Ao longo da intriga, a caricatura de Dâmaso é perfeita, ocupando um
espaço significativo do espaço social.
32.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
Lina Tavares
32
A ACÇÃO (18)
Uma pausa – O Jantar dos Gouvarinhos
(pp. 386-402)
Objectivos:
.Reunir a alta burguesia e aristocracia
.Reunir a camada dirigente do país
.Radiografar a ignorância das classes dirigentes do
país
Alvos visados
. Conde de Gouvarinho e Sousa Neto
33.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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A ACÇÃO (19)
Uma pausa – O Jantar dos Gouvarinhos
(pp. 386-402)
Conde de Gouvarinho Sousa Neto
.voltado para o passado
.tem lapsos de memória
.comenta desfavoravelmente as
mulheres
.revela uma visível falta de cultura
.não acaba nenhum assunto
.não compreende a ironia sarcástica
do Ega
.vai ser ministro
.acompanha as conversas sem
intervir
.desconhece o sociólogo Proudhon
.defende a imitação do estrangeiro
.não entra nas discussões
.acata todas as opiniões, mesmo
absurdas
.defende a literatura de folhetins
de cordel
.é deputado
CONCLUSÃO: Superficialidade dos juízos dos mais destacados
funcionários do Estado; incapacidade de diálogo por manifesta
falta de cultura
34.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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A ACÇÃO (20)
Continuação da intriga - a Toca
Da Rua de S. Francisco para os Olivais
- “Não me seria possível arranjar por aí uma casinhola, um cotage,
onde eu fosse passar os meses de verão?” (p. 406)
- Carlos lembrou-se logo da bonita casa de Craft, nos Olivais, onde
se chega numa hora de carruagem.
- Carlos dá a notícia a Maria Eduarda da “vivenda pitoresca,
mobilada num belo estilo, deliciosamente saudável.” (p. 413)
A Toca – dimensão física de uma relação tão amorosa
quanto trágica que, até este momento se mantinha nos
limites de um certo platonismo.
35.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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A ACÇÃO (21)
O Jornalismo (Tais jornais, tal País)
Objectivos - Passar em revista a situação do jornalismo nacional;
- Confrontar o nível dos jornais com a situação do país.
A “Corneta do Diabo”
. O director é o Palma Cavalão,
um imoral
. A redacção é um antro de
porcaria
.Publica um artigo contra
Carlos mediante dinheiro
.Vende a tiragem do número
do jornal onde saíra o artigo
.Publica folhetinzinhos de
baixo nível
“A Tarde”
. O director é o deputado Neves
. Recusa publicar a carta de
retractação de Dâmaso porque o
confunde com um seu
correligionário político
. Desfeito o engano, serve-se da
mesma carta como meio de
vingança contra o inimigo político
. Só publica artigos ou textos dos
seus correlegionários políticos
O baixo nível; a intriga suja; o compadrio político
36.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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A ACÇÃO (22)
O Sarau do Teatro da Trindade (pág. 586/613)
(Tal oratória, tal País)
Episódio de festa – retórica e música
Objectivos:
. ajudar as vítimas das inundações do Ribatejo;
. apresentar um tema querido da sociedade lisboeta: a oratória;
. reunir novamente as várias camadas das classes mais destacadas,
incluindo a família real;
. criticar o Ultra-Romantismo que encharcava o público;
. contrastar a festa com a tragédia
37.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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A ACÇÃO (23)
O Sarau do Teatro da Trindade (pág.586/613)
(Tal oratória, tal País)
Os Oradores
Rufino
. Tópicos de bacharel transmontano: a
fé, a esmola, a sua aldeia, a imagem
do “Anjo da Esmola”;
. Desfasamento entre a realidade e o
discurso
. Falta de originalidade: recorre a
lugares comuns, retórica oca e balofa
. Aclamação pelo público tocado no
seu sentimentalismo, ainda muito
romântico
Alencar
. Poeta ultra-romântico, propõe o
tema da democracia romântica
. Desfasamento entre a realidade e
o discurso
. Excessivo lirismo carregado de
conotações sociais
. Exploração do público seduzido
por excessos estéticos
estereotipados
. Aclamação do público
38.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
Lina Tavares
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A ACÇÃO (24)
O Sarau do Teatro da Trindade (pág.586/613)
(Tal oratória, tal País)
Pianista - Cruges
. Toca a sonata patética de Beethoven, que o público desconhece e
aborrece, à qual uma das Pedrosa chama “Sonata Pateta”,
provocando um mar de riso.
. Fiasco total: preferiam um fadinho de Lisboa; a sala fica vazia
(cultura do High Life!).
As classes dirigentes alheadas da realidade; uma sociedade
deformada pelos excessos líricos do Ultra-Romantismo
39.
OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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O EPÍLOGO (1)
Lisboa revisitada – o passeio de Carlos e Ega
(cap. XVIII)
Hotel Bragança
Carlos e Ega almoçam em amena cavaqueira. Destacam-se:
. A ociosidade voluntária de Ega e o seu envelhecimento
. A política, uma ocupação dos inúteis
. A visita do Alencar, mais velho, mas sempre com verve romântica
. A visita do Cruges, mais velho, mas sempre bom compositor
. O convite de Carlos para um jantarinho à Portuguesa
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OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
Lina Tavares
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O EPÍLOGO (2)
Lisboa revisitada – o passeio de Carlos e Ega
(cap. XVIII)
A Romagem Sagrada
Largo de Camões
Nada mudara. Camões triste.
A mesmice. A estagnação.
A ociosidade
Pelo Chiado
Nada mudara.
O Dâmaso, mais velho, mais nédio,
casado e traído.
O Craft, doente, alcoolizado.
O Taveira sempre com espanholas.
A besta do Steinbroken, em Atenas..
Pela Avenida
O obelisco; os prédios velhos mas repintados; o
castelo, sórdido e tarimbeiro.
A nova geração, ajanotada, ociosa…
O Eusébio, casado com uma mulher que o desanca
O Cavalão, tornado político.
O Alencar, o único português genuíno.
No Ramalhete
A passagem pelo inferno: a catarse
Um ar de claustro abandonado.
Os móveis quebrados ou embrulhados
em lençóis (morte).
O famoso jardim: a ferrugem cobria os
membros de Vénus Citereia; o cipreste
e o cedro envelheciam juntos; a
cascata – a água caía gota a gota.
Ramalhete em ruína = Lisboa em
ruína = Portugal em ruína
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OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
Lina Tavares
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O EPÍLOGO (3)
Lisboa revisitada – o passeio de Carlos e Ega
cap.(XVIII)
Conclusão…
Completo fracasso de Carlos e Ega: o seu permanente
Romantismo – indivíduos inferiores que se governam na
vida pelo sentimento e não pela razão.
A teoria definitiva
“Nada desejar e nada recear” (fatalismo muçulmano,
estoicismo clássico)
Na prática… os dois amigos romperam a correr desesperadamente
Contradição fundamental entre o pensar e o agir – tema
fundamental que percorre toda a obra (Cf. Diletantismo)
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OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
Lina Tavares
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A ACÇÃO TRÁGICA d’ OS MAIAS(1)
. Protagonista – de condição superior (Carlos e Mª Eduarda)
. Tema da intriga – Incesto (tema clássico)
. Fatum – Agente de destruição do protagonista
- “Todo dobrado sobre a bengala, vencida enfim por aquele implacável
destino que depois de o ter ferido na idade da força com a desgraça do
filho – o esmagava ao fim da velhice com a desgraça do neto.” (cap. XVII)
- “Sentia-se profundo, absorvente, eterno, e para bem ou para mal
tornando-se daí para diante e, para sempre, o seu irreparável destino.”
(cap. XIII)
- Carlos vê na semelhança de nomes, Carlos Eduardo e Maria Eduarda “ a
concordância dos seus destinos.” (cap. XI)
. Peripécia – encontro de Guimarães com Ega
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OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
Lina Tavares
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A ACÇÃO TRÁGICA d’ OS MAIAS(2)
. Reconhecimento – Revelações de Guimarães a Ega sobre a
identidade de Mª Eduarda
– Revelações fatídicas contidas na carta
de Mª Monforte
. Catástrofe – Morte de Afonso
– Partida de Mª Eduarda vestida de negro para
França
– Viagem de Carlos (abandona Lisboa)
Separação definitiva dos dois irmãos
. Mensageiro - Guimarães
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OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
Lina Tavares
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A ACÇÃO TRÁGICA d’ OS MAIAS(3)
. Presságios – alguns exemplos, entre inúmeros:
- Quando Afonso vê Mª Monforte pela primeira vez “olhava cabisbaixo aquela
sombrinha escarlate que agora se inclinava sobre Pedro, quase o escondia,
parecia envolvê-lo todo – como uma larga mancha de sangue alastrando a
caleche” (cap.I) – a mancha de sangue é indício da consanguinidade entre
Carlos e Mª Eduarda, isto é, da relação incestuosa.
- Vilaça, tentando demover a vontade de Afonso ir instalar-se no Ramalhete,
“aludia (…) a uma lenda, segundo a qual eram sempre fatais aos Maias as
paredes do Ramalhete”. (cap. I)
- Mª Monforte escolhe para seu filho o nome de Carlos Eduardo, nome marcado
pelo estigma da extinção de uma família, Carlos Eduardo Stuart, o último
dos Stuarts. (cap.II)
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OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
Lina Tavares
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A ACÇÃO TRÁGICA d’ OS MAIAS(4)
- Em casa de Mª Eduarda, três lírios brancos (símbolo da pureza)
murchavam dentro de um vaso do Japão (cap. XI) – símbolo do
aniquilamento/destruição dos três membros que restavam da
Família (inocentes), devido à relação incestuosa entre Carlos e
Maria Eduarda.
- A semelhança de nomes Carlos Eduardo e Maria Eduarda –
indicia a concordância dos seus destinos. (cap. XI)
- Semelhança de Maria Eduarda com o avô (na perspectiva de
Carlos) (cap. XI); Carlos parecido com sua mãe (na perspectiva de
Maria Eduarda) (cap. XIV)
- Na Toca (cap. XIII) “desmaiavam, na trama da lã, os amores entre Vénus
e Marte (irmãos) ; “uma cabeça degolada, lívida, gelada no seu sangue, dentro
de um prato de cobre” – Afonso sacrificado pela relação dos netos.
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OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
Lina Tavares
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SIMBOLISMO(1)
Afonso da Maia é uma figura simbólica - o seu nome é simbólico, tal
como o de Carlos - o nome do último Stuart, escolhido pela mãe. Carlos
irá ser o último Maia - note-se a ironia em forma de presságio.
O Ramalhete e o emblema (o ramo de girassóis) mostram a
importância "da terra e da província" no passado da família Maia. A
"gravidade clerical do edifício" demonstra a influência que o clero teve no
passado da família e em Portugal.
Por oposição, as obras de restauro, levadas a cabo por Carlos,
introduziram o luxo e a decoração cosmopolita, simbolizando uma nova
oportunidade, uma reforma da casa (ou do país) para uma nova etapa - é
o reflexo do ideal reformista da Geração de Carlos. Carlos é um símbolo
da Geração de 70, tal como o é Ega. Tal como o país, também eles
caíram no "vencidismo".
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OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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SIMBOLISMO(2)
O quintal do Ramalhete, também sofre uma evolução. No primeiro
capítulo a cascata está seca porque o tempo da acção d' Os Maias ainda
não começou. No último capítulo, o fio de água da cascata é símbolo da
eterna melancolia do tempo que passa, dos sentimentos que leva e traz;
mostra-nos também que o tempo está mesmo a esgotar-se e o final da
história d' Os Maias está próximo. Este choro simboliza também a dor
pela morte de Afonso da Maia.
A estátua de Vénus que, enegrece com a fuga de Maria Monforte, no
último capítulo, coberta de ferrugem, simboliza o desaparecimento de
Maria Eduarda; os seus membros agora transformados dão-lhe uma
forma monstruosa fazendo lembrar Maria Eduarda e a monstruosidade
do incesto. Esta estátua marca, então, o início e o fim da acção principal.
Ela é também símbolo das mulheres fatais d' Os Maias - Maria Eduarda e
Maria Monforte
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OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
Lina Tavares
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SIMBOLISMO(3)
Não é difícil lermos o percurso da família Maia, nas alterações
sofridas pelo Ramalhete. No início o Ramalhete não tem vida,
em seguida habitado, torna-se símbolo da esperança e da vida, é
como que um renascimento; finalmente, a tragédia abate-se
sobre a família e eis a cascata chorando, deitando as últimas
gotas de água, a estátua coberta de ferrugem; tudo tem um
carácter lúgubre. Note-se que as paredes do Ramalhete foram
sempre sinal de desgraça para a família Maia. O cedro e o
cipreste, são árvores que pela sua longevidade, significam a vida
e a morte, foram testemunhas das várias gerações da família.
Mas também, simbolizam a amizade inseparável de Carlos e João
da Ega.
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OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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SIMBOLISMO(4)
No último capítulo, a imagem deixada pelo Ramalhete,
abandonado e tristonho, cheio de recordações de um passado de
tragédia e frustrações, está muito relacionada com o modo como
Eça via o país, em plena crise do regime.
A morte instala-se nesta família. No Ramalhete todo o mobiliário
degradado e disposto em confusão, todos os aposentos
melancólicos e frios, tudo deixa transparecer a realidade de
destruição e morte. E se os Maias representam Portugal, a morte
instalou-se no país.
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OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
Lina Tavares
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SIMBOLISMO(5)
No quarto de Maria Eduarda, na Toca, o quadro com a cabeça degolada
é um símbolo e presságio de desgraça. Os seus aposentos simbolizam o
carácter trágico, a profanação das leis humanas e cristãs.
Também o armário do salão nobre da Toca, tem uma simbologia
trágica. Os guerreiros simbolizam a heroicidade, os evangelistas, a
religião e os troféus agrícolas, o trabalho: qualidades que existiram um
dia na família (e no Portugal da epopeia). Os dois faunos simbolizam o
desastre do incesto decorrido entre Carlos e Maria Eduarda. No final um
partiu o seu pé de cabra e o outro a flauta bucólica, pormenor que
parece simbolizar o desafio sacrílego dos faunos a tudo quanto era
grandioso e sublime na tradição dos antepassados.
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OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
Lina Tavares
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MENSAGEM d’ “OS MAIAS”(1)
Intenção acentuadamente crítica, concretizada
através do paralelo entre as duas personagens que,
apesar de terem tido educações diferentes, falharam na
vida:
- Pedro da Maia falha com um casamento desastroso
que o leva ao suicídio;
- Carlos da Maia falha com uma ligação incestuosa, da
qual sai para se deixar afundar numa vida estéril e
apagada, em Paris, sem qualquer projecto seriamente
útil.
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OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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MENSAGEM d’ “OS MAIAS”(2)
Estas duas personagens representam também épocas
históricas e políticas diferentes:
- Pedro, a época do Romantismo;
- Carlos, seu filho, a Geração de 70 e das Conferências
do Casino, geração potencialmente destinada ao
sucesso.
Mas não foi isso que sucedeu e é este facto que o escritor
pretende evidenciar com o episódio final – o fracasso da
Geração dos Vencidos da Vida.
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OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
Lina Tavares
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MENSAGEM d’ “OS MAIAS”(3)
Assim, estas personagens representam os males de
Portugal e o fracasso sucessivo das diferentes
correntes estético-literárias.
Este fracasso parece dever-se, não às correntes em si, mas às
características do povo português:
- a predilecção pela forma em detrimento do conteúdo;
- o diletantismo que impede a fixação num trabalho sério e
interessante;
- a atitude "romântica" perante a vida que consiste em desculpar
sistematicamente os próprios erros e falhas e dizer "Tudo culpa
da sociedade".
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OS MAIAS - EÇA DE QUEIRÓS
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MENSAGEM d’ “OS MAIAS”(4)
Final pessimista do romance?
Portugal não tem viabilidade de se tornar um país europeu
A passagem pelo Ramalhete não constitui a catarse porque Carlos regressa ao
ponto de partida – o Hotel Bragança; o Ramalhete em ruínas prefigura um
Portugal sem futuro.
Final optimista do romance?
Portugal tem hipóteses de modificar a sua situação
Nada há de definitivo, há que viver. O renascer de Carlos é significativo: corre em
busca da vida e para a vida. O que é necessário é que Portugal tenha a sua
catarse (simbolizada pela passagem pelo inferno do Ramalhete) que, segundo
Eça afirma noutros textos, passará por uma catástrofe que purificará Portugal.
(Cf. ideologia de Ega – “a revolução”, “ a invasão espanhola” – no Jantar do Hotel Central)
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