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FUNDAÇÃO ARMANDO ALVARES PENTEADO
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DESENHO INDUSTRIAL

RICARDO PEROTTI

ESTUDO DE MÉTODO PARA CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS FUTUROS

SÃO PAULO
2011
RICARDO PEROTTI

ESTUDO DE MÉTODO PARA CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS FUTUROS

Monografia apresentada à
Fundação Armando Alvares Penteado
como parte dos requisitos para a aprovação no
Curso de Desenho Industrial,
Habilitação em Projeto de Produto

FÁBIO RIGHETTO

SÃO PAULO
2011
Perotti, Ricardo

Estudo de método para construção de cenários futuros. Estudo e construção de
método para desenvolvimento de cenários futuros como etapa do exercício projetual
em design. / Ricardo Perotti. São Paulo, s. n., 2011, 60 p. Monografia de Conclusão
de Curso - Fundação Armando Alvares Penteado. Faculdade de Artes Plásticas.

Orientador: Fábio Righetto

1. Cenários Futuros

2. Método projetual

3. Pesquisa

I. Título.
Ricardo Perotti

ESTUDO DE MÉTODO PARA CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS FUTUROS

Monografia apresentada à
Fundação Armando Alvares Penteado
como parte dos requisitos para a aprovação no
Curso de Desenho Industrial,
Habilitação em Projeto de Produto

( ) Recomendamos exposição na biblioteca.
( ) Não recomendamos exposição na biblioteca.

Nota: __________________________________
São Paulo, _____ de _____ de ____/____/____
_______________________________________
Professor (a)
_______________________________________
Professor (a)
_______________________________________
Professor (a)
_______________________________________
Professor (a)
Este trabalho é dedicado a todos os "filhos", "pais", "mães" e
"tios" que estiveram presentes na formação do autor e a todos
que acreditam que procurar respostas no futuro nos permite
encontrá-las no presente.
AGRADECIMENTO
A meu pai, meu maior mentor, que me deu o mundo sem pedir nada em troca;
A minha mãe, pela educação dada e pelo antagonismo saudável que me fez
querer ser melhor sempre;
Aos meus padrinhos pelos conselhos, viagens, carinho e incentivo à leitura
desde sempre.
A minha irmã, que aguentou meu barulho nas madrugadas de trabalho,
Ao irmão André, pelos insights, por ouvir minhas teorias incontáveis vezes e
pela amizade incondicional.
Aos amigos Thiago, Ana Carolina e Maiara, pelas músicas, noites em claro,
histórias e por enxergarem o que eu não conseguiria sozinho.
Ao colega Eduardo Mercer, que para cada uma de minhas perguntas trazia
um mar de respostas;
À Professora Maria Stella Tedesco Bertaso, pelo poder de entender toda
minha gagueira e traduzi-la para o mundo;
À Professora Nancy Betts, pelas conversas, ensinamentos e amizade, por
abrir-me os olhos para um mundo de artistas e pensamentos que eu jamais
conheceria;
Ao Professor Caio Vassão, por acreditar tanto quanto eu em ficções;
Ao Professor Fabio Righetto, cujas ideias estão à frente deste tempo, pelas
horas

extra

de

orientação,

desenvolvimento do projeto.

paciência

e

cooperação

em

todo

o
“O futuro já chegou. Só não está uniformemente distribuído”

William Gibson
Resumo
Perotti, R. Estudo de método para construção de cenários futuros. Estudo e
construção de método para desenvolvimento de cenários futuros como etapa do
exercício projetual em design.
A obra visa apresentar ferramentas de aprimoramento nas pesquisas e
projetos de design. Fundamenta as bases metodológicas utilizadas para a
construção de cenários futuros. Discute a importância do conhecimento das relações
complexas e emergenciais durante o exercício projetual. Apresenta um exemplo
detalhado do método em construção abrindo a discussão da validade da prática no
mercado e sua importância para o design estratégico.
Palavras-Chave: cenários futuros, projeto, tecnologia, metodologia, complexidade,
emergência.
Abstract
Perotti, R. Methodology study for future scenarios construction. Method study for
future scenarios development as part of the project exercise in design.
The work aims to provide tools for improvement in research and design
projects. Presents the methodological basis used for the construction of future
scenarios. Discusses the importance of understanding the complex relations and
emergent patterns during the project exercise. Features a detailed example of the
construction method, opening the validity discussion of such practice in the market
and its importance to the strategic design.
Keywords:

future

emergent patterns.

scenarios,

project,

technology,

methodology,

complexity,
SUMÁRIO

Introdução ............................................................................................................. 11
A História do Futuro ............................................................................................. 15
Método................................................................................................................... 17
Procedimento - Cenários Futuros ....................................................................... 19
Repertório Inicial .................................................................................................. 22
Complexidade ....................................................................................................... 26
Padrões Emergenciais ......................................................................................... 29
Status Quo e Spimes ........................................................................................... 32
Reestruturações Profissionais............................................................................ 39
Panóptico e Monitoramento ................................................................................ 43
Disponibilização vs Controle da Informação ..................................................... 46
Acesso e Colaboração ......................................................................................... 50
Conclusão ............................................................................................................. 55
Bibliografia............................................................................................................ 57
Webgrafia .............................................................................................................. 59
11

INTRODUÇÃO
Imagine a prática da corrida. Reflita sobre como cada movimento, cada
passada é única e cada momento do desenvolvimento desse exercício corresponde
a um momento singular, composto de mais elementos que sua percepção cognitiva
e sensorial jamais seria capaz de compreender plenamente. Sair de um plano
horizontal e entrar em uma elevação faz com que o esforço para continuar à mesma
velocidade que vinha sendo desempenhada aumente. Um desgaste físico ou
mudança nas características da atividade, uma elevação no terreno, por exemplo,
somados a uma série de outros fatores aparentemente desconexos poderiam
resultar lesões ou até mesmo complicações cardiovasculares.
Imagine, então, que cada um dos fatores contribuintes para que o acidente
ocorra estejam sendo monitorados e voltemos à elevação do terreno: tal incremento
é imediatamente detectado a partir de leituras de sua frequência cardíaca, tensão
muscular, ritmo de respiração, formação de ácido lático, elevação geográfica, entre
outras. Enquanto todas estas mudanças ocorrem, também são monitorados os
níveis de umidade do ar, temperatura, partículas de poluição e pólen, proximidade
com outros corredores, pressão em diversos pontos das palmilhas dos tênis, taxas
de hidratação, glicemia, etc.
Com base nestes e diversos outros dados previamente computados, como
horários de ingestão de alimentos, horas de sono, desempenhos anteriores em
atividades físicas similares, comparações com indivíduos de faixa etária e
comportamentos semelhantes, medicações e incontáveis outros parâmetros, emerge
uma avaliação de eficiência na prática da corrida. Apontamentos sobre o risco
crescente de uma complicação cardíaca, de que o vestuário utilizado não é o mais
adequado, indicações de horários e ritmos de corrida mais eficientes para seu grupo
etário e alertas de esforço com projeções de lesões futuras são atualizados em
tempo real, garantindo total imersão na atividade desenvolvida.
Nenhum humano consegue detectar, tampouco avaliar, o incontável número
de variáveis e elementos inter-relacionados em uma dada situação: neste caso a
corrida no parque. Isto ocorre por duas razões: primeiro, pelo fato de não
12

possuirmos hoje a totalidade de dispositivos sensoriais necessários para mensurar
os diversos tipos de variáveis que podem ser utilizadas para obter uma leitura
completa de um fenômeno complexo. Em segundo lugar, mesmo com a
possibilidade de realizar tais leituras, não somos capazes de processar mentalmente
o volume massivo de dados que seria gerado por tais dispositivos.
Concentramo-nos na atividade a ser desenvolvida e, independente de quão
capacitado é o indivíduo em multitasking, simplesmente não há como lidar com
tantas variáveis e suas relações.
Esta plenitude de informações – potencialmente disponível e não passível de
ser processada – pode ser compreendida pela teoria da complexidade. Cada um dos
elementos fundamentais que compõem a situação é de simples compreensão, mas
conforme se acumulam em número e em suas relações menos óbvias, resultam em
um sistema complexo cuja compreensibilidade é dificultada. Esta problematização
ocorre justamente pelo fato de que não conseguimos lidar com tantas informações e
relações analíticas ao mesmo tempo.
O processo de cognição dá-se com o auxílio dos chamados modelos
conceituais. Nestas construções ocorre uma simplificação do evento ou objeto
estudado e tal fenômeno apresenta-se de acordo com o conjunto de expertises e
repertórios do observador. Esta é a razão pela qual obtemos leituras tão distintas de
um mesmo item: cada observador irá descrevê-lo de acordo com suas
especialidades e poderá contribuir apenas para a construção de um modelo
lateralizado, incompleto da entidade.
Poderia-se, no entanto, utilizar cada uma das leituras distintas do objeto ou
situação, descritas por observadores distintos e formular uma leitura pervasiva a
todas as áreas de interesse do objeto de estudo.
Esta leitura composta poderia ser compreendida como um modelo de
visualização total da informação, uma vez que neste caso não existe um indivíduo
observando o todo, e sim um conjunto de fontes de dados sobrepostas a fim de
construir um modelo conceitual muito mais próximo da totalidade real que qualquer
uma das leituras individuais.
13

No exemplo descrito acima, foi apresentado um fragmento do tema escolhido
para ilustrar o processo de construção de cenários futuros com ênfase nas questões
projetuais de design.
Acredita-se que a profissão do designer, multidisciplinar, deverá sofrer nos
próximos anos um processo similar ao ocorrido em outras áreas do conhecimento,
como a antiga alquimia que, já não comportando todo o conhecimento sob um único
teto, foi segmentada em química, biologia, física, etc. Outro caso mais
contemporâneo poderia ser o da medicina, em que boa parte de seus profissionais
deixou de lado a clínica geral e dedica-se hoje a áreas específicas do conhecimento
médico1.
Em um similar processo de especialização, surgiria então o ensaísta ou
projetista de cenários futuros. Este profissional, através da sensibilidade e visão de
mundo conferidas pelo design thinking, poderia trabalhar com empresas e escritórios
de design com o intuito de apresentar aos mesmos possibilidades de inovação e
posicionamento estratégico, tentando então antecipar como e quais seriam as novas
mudanças mercadológicas.
Intui-se com o presente trabalho iniciar um processo exploratório de
construção de uma metodologia para combinar o exercício de construção de
cenários futuros, prática tradicional da literatura, e o desenvolvimento projetual em
design. Pensar como as tendências mercadológicas podem ser projetadas
separadamente e, posteriormente, relacionadas a fim de garantir que os cenários
propostos sejam não apenas bem construídos, mas também possíveis.
Compreender as possíveis realidades futuras concederia ao projetista uma
capacidade de desenvolver produtos e serviços que estariam melhor alinhados às
demandas do mercado futuro, em oposição às tradicionais pesquisas de mercado
atual. As inovações conquistadas através de observação exclusiva dos mercados
atuais não parecem equiparar-se àquelas obtidas com um estudo das possibilidades

1

KELLY, Kevin. Increasing Specialization. Disponível em <http://www.kk.org/thetechnium
/archives/2009/05/increasing_spec.php> Acesso em 02 de abril de 2011.
14

futuras, uma vez que contêm apenas o tempo atual, tempo este que já se tornou
passado quando o projeto é concluído.
Antes de ingressar nas leituras e análises críticas sobre os desdobramentos
do cenário exemplo, deve-se primeiramente definir os limites do recorte do trabalho
a ser realizado, discutir a metodologia de pesquisa e estruturação dos capítulos
desenvolvidos e, finalmente, conceituar os elementos contidos no espectro
apresentado e quais suas relações, a fim de garantir a compreensão das áreas das
ciências utilizadas para determinar tais desdobramentos.
15

A HISTÓRIA DO FUTURO
O exercício de projetar cenários futuros preconiza a discussão da relevância
de tal prática. Se o conhecimento e entendimento do passado nos permitem evitar
erros ou ser confrontados pela ignorância dos erros repetidos, o exercício da
construção de cenários futuros nos permite prever quais questões projetuais/sociais
surgirão nos projetos desenvolvidos em contextos estudados com o conforto da nãorelação com o real. A prática literária da projeção futura costuma residir nos gêneros
da ficção científica, mas desde 1941 a História do Futuro2 vem ganhando gradual
importância também nas áreas de gestão e desenvolvimento de projetos.
Quando se realiza um exercício como este, é importante apresentar-se como
um observador imparcial e deixar de lado, na medida do possível, preconceitos com
os objetos estudados. Preocupações com utopias ou distopias acabam por
corromper o processo, pois não se trata de um julgamento do "bem ou mal", e sim
uma leitura objetiva baseada em tendências mercadológicas e sociais. "Utopia e
Oblívio meramente significam que o futurista chegou ao seu limite de capacidade da
compreensão da passagem do tempo e suas implicações" (STERLING, 2005).
Um modo eficaz de demonstrar a importância do estudo prévio dos
desdobramentos de tecnologias adotadas seria utilizarmos o exemplo dos
automóveis e o sistema de transporte centrado em combustíveis fósseis. Se na
década de 30, quando se iniciou o processo de popularização dos automóveis, fosse
realizado um estudo dos possíveis impactos do barateamento, massificação e
monopólio do transporte viário, poderia se ter esbarrado em algumas questões que,
hoje, configuram reais transtornos em virtualmente todas as metrópoles do mundo.
Reforça-se que não se trata de condenar completamente as escolhas
tomadas na época, mas levantar a hipótese de que tivessem os designers,
engenheiros e projetistas estudos sobre impactos projetados, poderiam os
responsáveis tomar caminhos menos danosos ao meio ambiente e à saúde urbana.

2

História do Futuro - O Termo foi cunhado em 1941 por John Wood Campbell, editor e
escritor de ficção científica.
16

Neste caso, uma crítica negativa não estaria levando em consideração forças
exteriores como lobistas, favorecimentos ou pressões políticas que muitas vezes
subvertem

ou

limitam

as

vontades

dos

projetistas

e

responsáveis

pelo

desenvolvimento de novas tecnologias.
Sumariza-se, portanto, a noção de que o exercício da construção de cenários
futuros, mais que desejável, é necessário, uma vez que a mesma nos permite
verificar possíveis desdobramentos para adoções de processos e tecnologias, e
assim avaliar se tais resultados são desejáveis ou configuram realidades
insustentáveis ou inviáveis.
17

MÉTODO
O método escolhido para o desenvolvimento do presente trabalho visa
elucidar – capítulo a capítulo – quais os parâmetros escolhidos para desenvolver
uma metodologia de construção de cenários futuros dentro do exercício projetual de
design. A partir de pesquisas bibliográficas correlatas, serão apresentados em uma
ordem lógica os diversos passos tomados em direção à construção de tal
metodologia e, ao mesmo tempo, será elaborado um cenário-exemplo com o intuito
de ilustrar como os parâmetros se relacionam com um projeto de cenário futuro.
Primeiramente, serão apresentados os termos e repertórios iniciais que
auxiliarão a compreensão dos temas posteriormente discutidos. Este capítulo só se
faz necessário para que ocorra fluência quando forem abordadas questões de
superior grau de especificidade e não é, fundamentalmente, parte da estrutura
metodológica aqui apresentada.
Após a apresentação dos termos essenciais à discussão, irá pensar-se na
distância cronológica para a qual se deseja projetar, quais mecanismos permitem a
acurácia proximal da pesquisa com a realidade futura e como foram selecionadas as
áreas da ciência no dado exemplo, para que o mesmo seja seguido e adaptado para
a aplicação em projetos específicos.
A seguir, será iniciada a fundamentação do cenário desenvolvido e a
verificação de como o tema é percebido e trabalhado na atual data, quais as
tecnologias disponíveis no mercado, a apresentação de algumas projeções e o
começo da discussão sobre a percepção versus realidade no tema das evoluções
tecnológicas e informacionais.
Os capítulos posteriores abordarão os temas base da discussão que irão
garantir a matéria-prima sobre a qual o projetista irá trabalhar, ponderar e
desenvolver seu cenário. Nestes blocos, serão trabalhadas as tendências de
mercado que, novamente, são as guias que apontam em cada microcosmo
estudado quais são as prováveis mudanças e inovações esperadas para tal tema.
18

Após pensar individualmente sobre os temas e verificar quais elementos
aparentam se relacionar, inicia-se a segunda fase do exercício, que é a construção
do cenário propriamente dito. Baseando-se nas leituras e análises realizadas na
etapa anterior, o projetista começa a verificar as inter-relações das questões
discutidas e as diferentes formas com as quais poderiam combinar-se e configurar
variados cenários.
Finalmente, quando se obtém um cenário que aparentemente atende aos
parâmetros esperados e determinados pelas fundamentações – tanto dissociadas
quanto relacionadas –, deve-se pensar nos desdobramentos, ou ainda verificar a
sustentabilidade3 do cenário desenvolvido. É nesta etapa do exercício que surgem
os possíveis tópicos de discussões econômicas, psicológicas, éticas e sociais.
A conclusão do trabalho apresenta ainda uma série de considerações,
revisitando os exemplos dados e relacionando-os com a metodologia que se terá
desejado apresentar.

3

Sustentabilidade não no sentido ecológico, mas de perpetualidade.
19

PROCEDIMENTOS - CENÁRIOS FUTUROS
Neste capítulo, serão discutidos os procedimentos tomados para que nos
aproximemos dos melhores resultados possíveis quando realizarmos o exercício de
confecção de cenários futuros.
Pensar quão futuro será tal modelo apresenta-se como uma parte importante
do exercício. A partir do conhecimento de onde se pretende chegar, podem ser
realizadas projeções tecnológicas e demográficas individuais para cada um dos
assuntos de base, tendo sempre em mente a possibilidade de quebras de
paradigmas, que podem representar tanto um atraso à chegada no ponto esperado
como um adiantamento.
A seguir, faz-se necessário que sejam definidos os pontos de apoio do
projeto, de forma que o mesmo seja sólido o suficiente para suportar possíveis
desvios no desenvolvimento da estrutura. Sendo maior o número de pontos de apoio
na base da pirâmide projetual, se em dado momento um destes se invalidar por
razão de falha na percepção do projetista ou uma reestruturação daquele universo, o
cenário final ainda é viável do ponto de vista projetual, pois é construído seguindo as
indicações coerentes dos demais pilares.
Tradicionalmente, a profissão do designer é multidisciplinar, fazendo com que
o mesmo passe por temas diversos e com uma frequência que o permite, após
alguma experiência, identificar quais os elementos fundamentais e relevantes aos
projetos que desenvolve. Tal habilidade é igualmente útil no processo de construção
de cenários futuros; através de explorações iniciais, um profissional da área seria
capaz de elencar uma lista de assuntos que tocam seu tema central. Obviamente,
quanto mais dissoluto ou abrangente for o foco do projeto ou estudo, maior será o
número de competências do conhecimento humano que poderá ser abordado em
oposição a um estudo de realidade futura para produtos de nicho.
Vale lembrar que a criação de um cenário generalizado, abrangente,
possibilitaria não só um único estudo de caso e, com alguns incrementos e
modificações estruturais, poderiam ser reutilizados para o estudo de subtópicos.
20

Exemplificando: um cenário de construção mais trabalhosa e abrangente
estudando a prática da medicina no futuro poderia facilmente ser reutilizado e
reestruturado para um estudo mais pontual, como equipamentos de diagnóstico por
imagem.

Figura 1. – Pensar em cenários mais abrangentes facilita futuras incursões em temas
correlatos.
Pensando então nas fontes e sua credibilidade, chegamos à questão de se o
uso de trabalhos ficcionais, de futuristas, é algo condenável ou merecedor de
incentivo. Uma hipótese poderia ser a de que após repetidas incursões no tema do
futurismo, um escritor desenvolveria uma sensibilidade às questões tecnológicas e
sociais e seria capaz de construir suas ficções de forma coerente e alinhada com os
movimentos do mercado. Tal hipótese se confirma quando trazemos nomes como
Vernor Vinge4, Robert A. Heinlein5 ou Bruce Sterling6 entre inúmeros outros à

4

Vernor Vinge - Professor de matemática aposentado da Universidade Estadual de San Dieg,
autor de ficção científica e palestrante recorrente nos temas de singularidade, inteligência
artificial e pensamento científico a longo prazo.
5
Robert A. Heinlein - Considerado um dos pais da ficção científica, preconizou a invenção de
diversos equipamentos considerados hoje comuns como telefones móveis e jornais digitais.
Foi também responsável pela criação de termos como "Waldo", utilizado na língua inglesa
para descrever equipamentos previstos pelo autor.
6
Bruce Sterling - Escritor de ficções científicas, colaborou em diferentes frentes nas
discussões de tendências tecnológicas. Palestrante no evento Google TechTalks (2007),
21

discussão. Tais autores, durante muito tempo, se dedicaram exclusivamente à
literatura ficcional, na qual realizavam o exercício de propor realidades alternativas
às do tempo presente e, hoje, participam ativamente em tomadas de decisões ou
palestram sobre como preconizar e estruturar universos possíveis em corporações
como Apple e Google. A partir de tantos exemplos de sucesso, teoriza-se que
apoiar-se em e familiarizar-se com obras do gênero enriquecem o pensamento do
designer, uma vez que a ficção científica é nada mais que uma interpretação dos
elementos apresentados pela própria ciência.
Finalmente, toda a pesquisa realizada envolvendo a melhor compreensão da
realidade presente possível, que poderíamos equiparar à etapa de busca pelo status
quo nos projetos tradicionais, com discussões e reflexões sobre tendências de
movimentos futuros, é a base para a construção do cenário e este será influenciado
pelas demais experiências e repertórios do projetista. Sob este enfoque, cabe
pensar que o exercício se beneficiaria com a participação de vários profissionais e
que o cenário final fosse composto pelas visões singulares combinadas dos
futuristas.

falando diretamente aos desenvolvedores da empresa sobre possíveis novos dispositivos
computacionais.
22

REPERTÓRIO INICIAL
No presente capítulo serão apresentados alguns dos termos necessários à
capítulo,
discussão do trabalho e que, para garantir melhor compreensão dos temas
posteriormente abordados, tais termos serão explicados previamente ao leitor.
O PANÓPTICO E SUA INVERSÃO
O termo panóptico foi utilizado pela primeira vez por Jeremy Bentham em
1785, descrevendo um model arquitetônico – o panopticon – no qual o exercício do
modelo
controle, observação e supervisão dos ocupantes se dava de forma tal que exigia
pouquíssimos indivíduos desempenhando o papel de supervisores. Tal prédio
poderia ser utilizado em vários modelos de ins tuições tais como escolas, hospitais,
instituições
fabricas e prisões, tendo a última maior foco do autor. Uma torre interna a um bloco
cilíndrico permitiria que, ao colocarem se os observados nas paredes internas do
colocarem-se
cilindro com divisórias individuais e o observador dentro da torre central, este
pudesse vigiar todas as ações dos internos sem ser visto.
desse

Figura 2. -7 (E) Desenho esquemático do Panopticon / (D) A Torre central garante visão
privilegiada do observador que ali se posicionar.

Figura2.- Fonte(E): <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/11/Panopticon.jpg
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/11/Panopticon.jpg>
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/11/Panopticon.jpg
Acesso em: 04 de março de 2011
Fonte(D): <http://1.bp.blogspot.com/_cGailNL FIw/TP04pJ26fJI/AAAAAAAABGY/VVMztx8W
tp://1.bp.blogspot.com/_cGailNL-FIw/TP04pJ26fJI/AAAAAAAABGY/VVMztx8W
WWg/s1600/large.panopticon.jpg>
WWg/s1600/large.panopticon.jpg Acesso em: 04 de março de 2011
23

Tal modelo foi então reaproveitado por Michel Foucault em 1975, para que
fossem discutidos os mecanismos do poder capitalista para disciplinar e alterar o
comportamento da população. Foucault argumenta que em modelos como este o
interno perde a característica de sujeito participante em um sistema de produção ou
sociedade e passa a ser simplesmente um objeto fonte de informação ou força
laboral.
[...] torna possível traçar diferenças: entre pacientes, observar os sintomas de
cada indivíduo, sem proximidade de camas, a circulação de miasmas, sem os
efeitos de contágio ou confundir os relatórios clínicos; entre crianças, torna
possível observar performances ( sem que haja imitação ou cópia ), mapear
8

aptidões, verificar caráter [...](FOUCAULT, 1979) .

Tal conceito será explorado no presente trabalho para ilustrar como os
mesmos mecanismos descritos por Bentham e Foucault se reestruturaram e
independem hoje de arquiteturas tradicionais. A pervasividade computacional
unidirecional ou, em alguns casos, de feedback incompleto configura um modelo de
panopticismo da era digital, equiparando-se em certos aspectos à realidade
apontada por Orwell em sua obra 1984.
Em segundo plano, apresentar-se-á a questão da possibilidade de reversão
deste fenômeno na era da computação pervasiva, que aqui chamaremos de
inversão panóptica. Neste modelo teríamos não um indivíduo no centro do sistema,
observando

cada

um

dos

demais

indivíduos-objeto-de-estudo,

buscando

informações através da observação, mas uma esfera formada por singulares
indivíduos, com repertórios e experiências diferentes entre si. Cada um desses
indivíduos periféricos poderia colaborar com seu conhecimento, experiências e
parametrização de dados a fim de construir inúmeros modelos digitais que
corresponderiam a riquíssimos bancos de dados prontos para processamento, ou
ainda modelos informacionais que quase esgotariam as informações contidas em
dado tópico.

8

FOUCAULT, Michel. Discipline and Punish: The Birth of the Prison. New York: Vintage,
1979
24

LEI DE MOORE E A SINGULARIDADE
A lei de Moore foi descrita por Carver Mead, professor do instituto de
tecnologia da Califórnia, na década de 70, baseado em um artigo escrito por Gordon
Moore (por isso a homenagem) em 1965, relacionando o crescimento no número de
transistores das placas de circuito com intervalos iguais de tempo. Moore percebeu
que o número dobrava anualmente e previu que tal índice de desenvolvimento
tecnológico se manteria inalterado por algum tempo. Não somente sua previsão foi
correta, como a presença de tal padrão de crescimento e desenvolvimento foi
constatada genericamente em todas as competências da tecnologia digital.
Capacidades de armazenamento, processamento, número de pixels em um ecrã por
dólar gasto, etc. Vale lembrar que hoje há uma tradição das empresas em seguir as
projeções de Moore pelo fato de que a própria população parece apresentar este
padrão com relação à velocidade de aceitação e demanda de melhorias,
configurando um ritmo confortável para introdução de novos produtos ao mercado.
O estudo da singularidade apoia-se diretamente na lei de Moore. O termo
singularidade refere-se basicamente a um evento hipotético que ocorrerá, segundo
Ray Kurzweil – um dos maiores nomes na pesquisa e discussão sobre a
singularidade–, por volta de 2045, quando as capacidades de processamento
computacionais tornariam-se tão poderosas e superiores às humanas que
configuram, pelo menos hoje, um horizonte para quão longe seríamos capazes de
projetar e pensar o futuro. Ray cita ainda como um marco histórico o ano 2029,
quando teremos completado todo o processo de engenharia reversa do cérebro
humano9.
Leva-se também em conta que no percurso das evoluções tecnológicas
encontramos alguns pontos nos quais ocorrem as quebras de paradigma, isto é,
certas práticas e tecnologias são completamente substituídas ao invés do tradicional
processo de aprimoramento e aglutinação. Kurzweil defende que a prática citada
acima, das empresas manterem-se presas à curva de Moore, sofrerá eventualmente
9

KURZWEIL, Ray. The Singularity is Near: When Humans Transcend Biology. New York:
Penguin, 2006
25

um processo de quebra de paradigma e as inovações tecnológicas começarão a ser
apresentadas ao mercado cada vez mais cedo. Tal pensamento inclusive levou o
autor a revisar seu livro a fim de atualizar suas previsões para os acontecimentoschave até a chegada da Singularidade.
Para ilustrar como ocorrem tais processos de ruptura, tomemos o clássico
exemplo da indústria de áudio: as fitas K7 foram desenvolvidas e utilizadas por
vários anos, nesse período trabalhava-se para melhorar a qualidade do áudio
gravado nas mesmas e tais incrementos foram percebidos e absorvidos pelo
mercado. Ocorre, no entanto, uma ruptura no início dos anos 90 com a
popularização dos CDs, que apresentavam melhor qualidade de áudio e outras
vantagens. Neste caso, observa-se como o pensamento de continuidade não se
aplica obrigatoriamente ao estudo da tecnologia, pois podem ocorrer avanços e
descobertas que subvertem o cenário presente.
26

COMPLEXIDADE
Complexo é, genericamente, o termo utilizado para descrever o modo como
as partes de um dado sistema organizam, relacionam-se e como tais relações
tornam-se demasiado intrínsecas para que possam ser compreendidas em sua
totalidade.

O

grau

de

complexidade

de

um

sistema

tende

a

crescer

proporcionalmente ao número de elementos inclusos no mesmo.
Warren Weaver, considerado por alguns como o autor do texto fundador da
teoria da complexidade (JOHNSON, 2001) 10, divide os sistemas em três grupos:
Sistemas Simples: Problemas com poucas variáveis e relações pouco
desenvolvidas. Possivelmente, os melhores exemplos sejam as máquinas como
pêndulos,

alavancas,

rampas

e

modelos

onde

os

blocos

fundamentais

desempenham funções sequenciais, pré-determinadas.
Sistemas de Complexidade Desorganizada: Casos com números de
variáveis extremamente elevados e relações pouco duradouras ou de origem
entrópica. Um exemplo muito utilizado é o dos gases. O número de partículas torna
impossível determinar o comportamento de cada molécula individual, mas ainda
assim é viável predizer o comportamento do sistema como todo, uma vez que as
relações formadas entre as moléculas são curtas e randômicas, possibilitando
estudos estatísticos de previsibilidade.
Sistemas de Complexidade Organizada: Modelos nos quais os
elementos constituintes do sistema seguem padrões definidos de comportamento e
as relações entre tais elementos configuram microestruturas que, por sua vez, se
organizam em camadas superiores, de maior complexidade que as inferiores. O
modelo mais clássico de observação de tal comportamento é o da composição dos
sistemas biológicos. Nos animais, por exemplo, temos organelas se organizando em
células, estas em tecidos e, subsequentemente, órgãos, sistemas especializados e
finalmente o ser.

10

JOHNSON, Steven. Emergência - A vida interligada de formigas, cérebros, cidades e
softwares. Rio de Janeiro: Zahar, 2001
27

MODELOS CONCEITUAIS
Um indivíduo pode não ser capaz de lidar com toda a complexidade presente
em dado contexto. Naturalmente, seu processo cognitivo gera um modelo conceitual
no qual parte da complexidade é resignificada e memorizada de forma simplificada.
Devido ao acúmulo de camadas de organização complexas, não é incomum que
ocorra o desejo de, ao se estudar tais fenômenos, desconstruir tais camadas. Surge
aí o risco de empobrecer a compreensão do todo. (NORMAN, 2010) 11
É preciso esclarecer, então, que a simplificação de um sistema nem sempre
corresponde a uma melhor compreensão dos blocos elementares dos mesmos. Isto
ocorre especialmente nos exemplos com níveis superiores de complexidade, pois a
riqueza destes conjuntos não está necessariamente em suas entidades, mas sim
nas relações que as mesmas constroem (MORIN, 2005)

12

. Tomemos o clássico

exemplo das formas alotrópicas13 do carbono: as relações que os átomos de
carbono formam podem dar-se de diversos modos diferentes.

Figura 3. - Um único elemento pode combinar-se de diversas formas, por isso a necessidade
de estudarmos o sistema como um todo, sem deixar de analisar suas relações.
Temos o carbono nas formas grafite, diamante, fulereno, nanotubos e
nanoespuma. Para cada uma dessas formas, os átomos, os blocos elementares do
sistema, são os mesmos e o que varia é a forma como cada um desses átomos se
relaciona com os demais. Se fôssemos desprezar as relações entre os átomos e
Figura 3. - Fonte: < http://accuracyandaesthetics.com/wp-content/uploads/2007/06/eight_
allotropes_of_carbon.jpg> Acesso em: 12 de Maio de 2011
11
NORMAN, Donald. Living with Complexity. Massachusetts: The MIT Press, 2010
12
MORIN, Edgar. Introdução ao Pensamento Complexo. Porto Alegre: Sulina, 2005
13
Alotropia - Propriedade de certos elementos químicos de apresentar diferentes estruturas
moleculares estáveis, configurando macromoléculas completamente diferentes entre si.
28

focar apenas nos componentes, teríamos uma leitura no mínimo incompleta dos
modelos finais.
Quando lidamos com sistemas complexos organizados, por mais que certas
relações possam apresentar-se difíceis de serem percebidas, é importante que se
mantenha a integridade do sistema a fim de que possam ser estudados não
somente seus componentes, mas também os desdobramentos das inter-relações
dos mesmos. O maior valor dos estudos complexos provém não necessariamente do
sistema primário, mas sim das novas camadas deste sistema, construídas pelas
relações de seus elementos. Tais camadas apresentam, por sua vez, novas
entidades que se relacionam e resultam em níveis superiores.
No seguinte capítulo, será discutido o processo de emergência; como o
estudo da complexidade pode revelar padrões de compreensão dos próprios
mecanismos da máquina complexa que é o universo.
29

PADRÕES EMERGENCIAIS
Steven Johnson explica que certos processos e fenômenos muitas vezes
considerados randômicos no universo são apenas fenômenos cujas variáveis não
compreendemos ou simplesmente não somos capazes de perceber por não
possuirmos as ferramentas adequadas de observação ou metrificação.
O que faz uma prímula noturna se abrir num dado momento? Por que a água
salgada não mata a sede? Qual é a descrição de envelhecimento em termos
bioquímicos? Como a constituição genética original de um organismo vivo se
expressa nas características desenvolvidas do adulto?
Sem dúvida, todos são problemas complexos, mas não devido à
complexidade desorganizada, para a qual métodos estatísticos têm a solução. São
problemas que envolvem a manipulação simultânea de um determinado número
de fatores que se inter-relacionam, formando um todo orgânico. (WEAVER, 1948,
p.536)

Para compreender o "todo orgânico" descrito por Weaver, diversos
pesquisadores escolhem sistemas com números reduzidos de variáveis para que, a
partir da compreensão dos mesmos, possam ser traçadas relações com os de maior
complexidade. Este é o caso no estudo das sociedades, ou, no tema do atual
trabalho, a sociedade imersa em tecnologias metrificadoras; pesquisadores
costumam adotar formigas ou cupins, pois se tratam de insetos sociais e, por seu
tamanho reduzido, podem ser observados em laboratório. Este foi o caso com a
bióloga Deborah M. Gordon, nas décadas de 80 e 90. Gordon estabeleceu uma
série de relações a partir da observação de colônias de formigas sobre o surgimento
de padrões emergenciais e formação de sistemas de organização a partir dos níveis
mais baixos (bottom-up), baseados em feedback local.
Com a pesquisa de Gordon, utilizada juntamente com as de diversos outros
pesquisadores, Mitch Resnick, especialista no desenvolvimento de ferramentas de
aprendizado, criou um software14 de simulações nos quais os dados fornecidos
pelas pesquisas dos diversos biólogos e cientistas sociais foram transformados em
expressões matemáticas, portanto, metrificados. A partir de tais modelos digitais é
14

StarLogo
Lançado
em
Julho
de
2008.
Disponível
<http://education.mit.edu/starlogo/> Acesso em 28 de fevereiro de 2011.

em
30

possível, então, realizar projeções para cenários futuros, após o preenchimento dos
parâmetros de base e aceleração da variável correspondente ao tempo. No exemplo
abaixo, temos a versão digital dos estudos de Deborah M. Gordon.

Figura 4. -15Modelo digital dos experimentos conduzidos com sistemas complexos
organizados. Reordenando os conjuntos de regras que cada um dos elementos do sistema
segue, se obtém resultados diferentes
Este é também o caso da rede WWW, onde o conteúdo produzido é de certa
forma regimentado e previsto pelo código sobre o qual a rede é escrita e, por isso,
não podemos chamá-la de sistema complexo desorganizado. Os usuários têm a
liberdade de desenvolver conteúdo e estes dados relacionam-se com os demais
através de links, gerando trens de conteúdo que podem ser trilhados e estudados. A
popularidade e relevância de um tema podem, então, ser verificadas pelo
monitoramento do tráfego global por determinada trilha de websites.
Verificam-se, então, padrões emergenciais de organização e da informação e
apresentação de demandas globais sem a presença de um líder para organizar tais
dados. Observa-se no exemplo a seguir um mapeamento global das postagens
digitais no website Twitter e, a partir das mesmas, gera-se um mapa dos temas de
maior discussão na rede em tempo real.

15

Figura 4. - Fonte: Captura de tela do software StarLogo
31

Figura 5. -16Mapa atualizado em tempo real contendo tópicos de maior relevância,
organizados por localização geográfica possibilita estudos de demanda local e global.
Outro clássico exemplo de padrões emergenciais é o mercado financeiro.
Relações de oferta e demanda são frequentemente afetadas por elementos
aparentemente

dissociados,

como

tratados

políticos,

mudanças

climáticas,

epidemias, etc. O termo "a mão invisível da economia", cunhado por Adam Smith no
século XVIII, era, na realidade, resultado dos padrões emergenciais que não podiam
ser monitorados na época.
A seguir, serão discutidas as tecnologias que hoje iniciam o processo de
imersão de nossa sociedade na computação pervasiva e como tais recursos
poderiam transformar o modo como nos relacionamos com informação.

Figura 5. - TRENDSMAP, Real time local twitter
<http://trendsmap.com/> Acesso em 03 de março de 2011.

trends.

Disponível

em
32

STATUS QUO e SPIMES
Quando pensamos em computação pervasiva, frequentemente nos referimos
às tecnologias que a cada dia se fazem mais presentes em nossas vidas. Neste
capítulo, serão apresentados algumas destas tecnologias e serviços possibilitados
pelas mesmas. A partir deste estudo de status quo e das teorias apresentadas
anteriormente, será construído um cenário futuro sobre o qual serão feitas
ponderações visando apresentar quais seriam os possíveis desdobramentos sociais
caso ocorra a intensificação ou massificação de tais tecnologias.
Foram escolhidas cinco áreas para as quais serão apresentadas tecnologias
e serviços atuais: Transporte, Medicina, Economia, Comunicação e Acesso
Centralizado. Tais áreas foram escolhidas por apresentarem exemplos de
tendências tecnológicas que devem ultrapassar os limites de especificidade e
empregabilidade de seus campos de aplicação originais, convergindo, então, em um
novo tipo de aparato.

TRANSPORTE
O setor de transporte se favorece com o barateamento das tecnologias de
posicionamento geográfico – os GPS's – e passam a instalar o aparato nas frotas de
ônibus, trens, metrôs e balsas. A possibilidade de rastrear cada um dos veículos e a
velocidade na transmissão de dados para a web possibilitam o desenvolvimento de
serviços como o implementado na cidade de Portland, Oregon, nos Estados Unidos,
pela companhia TriMet17.
Na cidade, cidadãos podem acessar terminais ou instalar em seus
smartphones aplicativos com os quais podem verificar o tempo de chegada de seus
meios de transporte e, inclusive, realizar simulações de quais meios utilizar quando
realizam comutas entre dois sistemas. A implementação do sistema não só
melhorou a qualidade dos serviços de trânsito, o que levou uma parcela maior da

17

TRIMET, Public Transportation for Portland. Disponível em < http://trimet.org/> Acesso
em 15 de março de 2011.
33

população a adotar meios de transporte públicos, mas também mapeou quais rotas
eram mais acessadas e disponibilizou mais vagões ou ônibus para tais destinos.
MEDICINA
A presença de sensores e equipamentos de coleta de dados na área da
medicina sempre foi substancial. Nos últimos anos, surgiram os implantes
subcutâneos, que isentam o paciente de ter que realizar quaisquer medições
recorrentes, como no caso do implante para medição de glicemia de pacientes. Na
tecnologia desenvolvida pela universidade de Tokyo e parceiros, o equipamento
indica se os níveis de glicemia aumentaram ou diminuíram sem a necessidade de
furar o dedo para a realização do teste diário18.

Figura 6. - A presença de glicose no sangue do indivíduo ativa a luminescência do implante e
permite que o mesmo saiba de maneira indolor que deve tomar sua dose de insulina.
Outro exemplo da intensificação das tecnologias pervasivas de produção e
processamento de dados é o microchip19 em fase de desenvolvimento pela
Universidade de Engenharia de Calgary, que é capaz de realizar os mesmo testes
laboratoriais que demandam ampolas de sangue com apenas uma pequena gota,
Figura Error! Main Document Only.. - Frame do vídeo disponível em:
<http://www.diginfo.tv/2010/08/06/10-0141-r-en.php> Acesso em: 6 de maio de 2011
18
DIGINFO
TV,
Implantable
blood
sugar
sensor.
Disponível
em
<http://www.diginfo.tv/2010/08/06/10-0141-r-en.php> Acesso em 21 de março de 2011.
19
UNIVERSITY
OF
CALGARY,
Microfluids.
Disponível
em
<http://www.ucalgary.ca/news/february2011 /microfluids> Acesso em 21 de março de
2011.
34

como nos testes comuns de glicemia. Além do conforto do paciente, a tecnologia
não precisa ser operada por mão de obra especializada e pode ser utilizada em
casa.
ECONOMIA
A computação pervasiva atualmente favorece os mercados financeiros com
as melhorias na velocidade do processamento e tráfego de dados. Obter uma
informação alguns segundos antes dos demais potenciais compradores pode
corresponder a enormes taxas de lucro para uma corretora e seus clientes. Alguns
computadores chamados de Bots, instalados dentro do prédio da Bolsa de Valores
para que a latência20 da conexão seja a menor possível, são capazes de verificar
flutuações nos valores de ações em outros mercados e, baseando-se em
parâmetros pré-estabelecidos, comprar e vender ações sem sequer consultar
constantemente a agência.
COMUNICAÇÃO
Trata-se comunicação, neste momento, como a capacidade de dois
equipamentos ou gadgets trocarem informações digitais, como ocorre no caso das
tecnologias RFID.
Os RFID's, ou Identificação por Rádio-Frequência, são comumente utilizados
hoje para facilitar a localização e registro do caminho percorrido por um produto ao
longo da cadeia de produção do mesmo. As chamadas etiquetas RFID podem ser
acionadas por frequências e responder com informações pré-estabelecidas,
podendo variar entre preços, cadastros pessoais, localizações, enfim, virtualmente
qualquer informação textual e numérica. O custo das etiquetas vem caindo
substancialmente nos últimos anos, chegando hoje a valores entre U$0,07 e
U$0,2021.

20

Latência - Tempo decorrido entre dado comando emitido por um dispositivo eletrônico e a
resposta do servidor.
21
RFID JOURNAL, FAQ. Disponível em <http://www.rfidjournal.com/faq/20/85> Acesso em
02 de abril de 2011.
35

Figura 7. - Etiqueta RFID (E) e uma possibilidade de uso, identificação de dados de forma
gestual (D).
O uso desta tecnologia de comunicação e identificação ganhou ainda mais
importância com a possibilidade de associar implantes ou equipamentos do dia a dia
como celulares e laptops com leitores de RFID's. Desta forma, o input de dados que
seria feito manualmente, por exemplo, em supermercados ou participação de uma
rede social online, passa a ser realizado de forma gestual ou simplesmente
presencial.
ACESSO CENTRALIZADO
Mais do que uma tecnologia, o acesso centralizado é uma tendência que vem
crescendo principalmente com a popularização das redes sociais. Com o crescente
número de páginas da web requerendo cadastros e senhas a fim de apresentar
conteúdo direcionado ao internauta, fortaleceram-se as políticas de interpolação de
registros e conteúdo entre páginas onde aquelas com maior poder de atração de
usuários. Este processo é verificado com o crescimento de serviços oferecidos na
web que podem ser acessados com cadastro da rede social Facebook. De maneira
similar, para gerar imagens de perfil para virtualmente qualquer website, pode-se
utilizar um hospedeiro chamado Gravatar22; ainda, diversos grupos afiliam-se ao
domínio da Google e disponibilizam seus serviços diretamente na loja virtual do
grupo, centralizando toda a cadeia de acessos.

Figura 7. - Fonte(E): <http://1.bp.blogspot.com/-haRPxkgpltU/TZccA5HAFsI/AAAAAAAAARw/
zGzQweyBlU8/s1600/rfid_card_reader.jpg> Acesso em: 06 de maio de 2011
Fonte (D): <http://www.stronglink.cn/images/rfidnews.jpg> Acesso em:
22
Gravatar - Disponível em <http://en.gravatar.com/>
36

Observando as cinco frentes apresentadas, traça-se uma tendência de
produtos que estarão no mercado nos próximos anos, baseando-se tanto em tais
tendências quanto nas curvas de desenvolvimento tecnológico de Moore. Tais
produtos deverão apresentar, derivando-se dos exemplos apresentados:
Mobilidade: tecnologias de captação, compartilhamento e visualização de
dados deverão apresentar-se de forma a acompanharem o usuário durante todo o
seu deslocamento geográfico. A popularização e barateamento dos pacotes de
dados nos dispositivos móveis deverão criar mesh networks23·. Tais fenômenos,
somados à alta conectividade entre os diferentes dispositivos pessoais, garantiriam
a

liberdade

de

deslocamento

sem

o

comprometimento

da

captura

e

compartilhamento dos dados coletados.
Multiplicidade Morfológica: assim como no caso da área médica, tais
tecnologias irão apresentar-se nas mais variadas formas, em alguns casos visando
desaparecer por completo da percepção do usuário e, em outros, convidando o
usuário a participar na construção de conhecimento e interagir socialmente.
Velocidade: a fim de garantir a melhor experiência possível e acesso rápido
dos recursos informacionais, as tecnologias futuras serão capazes de realizar trocas
de informações em tempo real, em oposição ao tempo desprendido com
transferências por bluetooth ou infravermelho.
Baixo Custo: os atuais baixos custos de certas tecnologias deverão reduzir-se
ainda mais nas futuras, garantindo assim uma democratização tecnológica na qual
todas as facetas da vida humana poderão ser beneficiadas pela presença de
dispositivos de captação de dados.
Centralização de Serviços: apesar de apresentarem-se em diversos tipos e
formas de sensores diferentes, percebe-se uma tendência de que as leituras e
dados coletados entre as diferentes tecnologias sejam, posteriormente à sua

23

Mesh Networks - Redes geradas a partir do uso de dispositivos móveis como roteadores a
fim de ampliar a área de alcance de hotspots, garantindo maior cobertura e acesso. No
exemplo citado, os diversos dispositivos que acompanhariam um indivíduo poderiam
interconectar-se e utilizar a rede disponibilizada por um dispositivo móvel de acesso à rede.
37

captura, recentralizados em grupos de interesse para que nestas informações
combinadas sejam encontrados padrões únicos a cada indivíduo.
SPIMES
Com a intenção de não criar uma nova terminologia para discriminar tais
equipamentos e tecnologias futuras se utilizará o termo SPIMES, cunhado por Bruce
Sterling. Nas palavras do próprio autor:
"SPIMES são objetos manufaturados cujo suporte informacional é tão
esmagadoramente extensivo e rico que eles são tratados como instanciações de um
sistema imaterial. Eminentemente lavráveis de dados, SPIMES são os protagonistas
de um processo histórico." (STERLING, 2005).

O autor utiliza o termo em sua publicação como todo e qualquer produto que
tenha em sua produção uma monitoração do processo de desenvolvimento, desde o
início de sua confecção até seu descarte (ou retorno ao início do ciclo) e
disponibilize as informações coletadas da vida do produto ao usuário. Sterling
acredita que um produto que carregue em si toda sua história seja capaz de sanar
parte da ansiedade informacional na qual a sociedade está mergulhada e,
finalmente, instituir no consumidor um senso de responsabilidade em conhecer
primeiramente todo o caminho percorrido pelo produto, se tal processo é legítimo e
também convidá-los a participar ativamente na construção de mais informações
sobre o tema que permeia o produto.
A segunda leitura, que se alinha mais precisamente com o tema desenvolvido
no presente trabalho, é a de que dadas as características de tais tecnologias, seria
possível vivermos futuramente em uma sociedade onde a presença de SPIMES seria
banalizada e todas as facetas da realidade humana poderiam ser metrificadas e
comparadas em tempo real com as medições de toda a população igualmente
equipada e monitorada. Não apenas os atributos biológicos, mas também sociocomportamentais, ambientais e econômicos poderiam ser permanentemente
medidos uma vez escolhidos os parâmetros de comparação e implementação de
SPIMES em tal monitoramento.
38

Pensando no exemplo citado anteriormente, do mercado financeiro e a
famosa "mão invisível" de Adam Smith:
"A mão do mercado era chamada de "invisível", pois Adam Smith tinha
poucos modos de medi-la. Faltavam a Adam Smith as métricas. Métricas tornam as
coisas visíveis. Em uma tecnosociedade de SPIMES quase tudo tem métricas. Seres
humanos e seus objetos estão inundados de métricas... tornando seus mecanismos
mais óbvios, dando-me um envolvimento e aproximando-os de meu alcance."

Nos próximos capítulos, serão discutidas as questões sociais que poderão
apresentar-se caso as tecnologias aqui preconizadas forem de fato introduzidas no
mercado e na sociedade. Como tais tecnologias poderiam mudar o modo como nos
relacionamos com outras pessoas, corporações, o Estado, tecnologia e informação.
39

REESTRUTURAÇÕES PROFISSIONAIS
As relações profissionais parecem ser as primeiras a implementarem os
serviços da intensificada computação pervasiva aqui trabalhada. Isto por que os
ganhos econômicos que provém de um controle rígido das informações são
controle
geralmente suficientes para viabilizar tais implementações. A computação pervasiva,
capaz de coletar dados em diferentes frentes e processá
processá-los, poderia eximir certas
profissões dos aspectos sistêmicos, analíticos com os quais os trabalhadores de tais
setores tem de lidar.
Tomemos o caso dos operadores de ações no mercado financeiro: Tais
profissionais estão sempre verificando altas e quedas nos valores dos pro
produtos com
os quais trabalham e val
valem-se de um repertório de signos estabelecidos com base
em padrões de flutuação dos valores das ações.

Figura 8.24- Construção de uma linguagem específica equivalente a informações conhecidas
Estes profissionais precisam, além de conhecer todos os procedimentos
técnicos, relacionar-se com seus clientes, investidores e, além disso tentar predizer
disso,
quais serão os movimentos de flutuação da economia. Sistemas computacionais
capazes de acessar bancos de dados compilados ao longo dos anos são capazes
bancos

24

Figura 8. - Fonte: <http://i29.tinypic.com/t9885e.jpg> Acesso em: 06 de maio de 2011
40

de apontar em questão de segundos quais são os saltos mais prováveis nos valores
de ações, baseados em eventos passados.
Por exemplo, em um gráfico da evolução anual do preço da saca de soja
deseja-se saber quais as projeções prováveis para os próximos dias.

Figura 9.25- Sistemas computacionais identificam os padrões e analisam em segundos se os
mesmos se repetem através do tempo, apresentando ao usuário análises gráficas de tais
padrões e possível projeção.
Um sistema com acesso a bancos de dados tais como histórico do mercado
financeiro dos últimos 40 anos para este produto, relatórios de safra (produção),
demanda de mercado e quaisquer outras variáveis pertinentes poderia realizar uma
previsão de valores futuros consideravelmente mais acurados do que um
profissional que não é naturalmente equipado para lidar com tantas variáveis ao
mesmo tempo. Não se elimina neste processo, no entanto, a experiência, malícia, o
chamado feeling do operador experiente. O sistema aqui citado poderia auxiliar o
profissional e, em dado momento, até mesmo obter certo grau de autonomia,
administrando operações de baixo risco ou demasiado analíticas.
25

Figura 9. - Fonte: < http://images.tradingmarkets.com/2009/Howto/0227Logan7.jpg>
Acesso em: 06 de maio de 2011
41

Com a possibilidade de outsourcing26 das capacidades de processamento de
dados para os computadores e o aumento nas fontes dos dados computados,
poderá ocorrer um processo de abertura das profissões às questões vocacionais,
isto é, a escolha do trabalho estaria muito mais alinhada às áreas de interesse do
profissional, uma vez que este teria empenho maior nas atividades desenvolvidas.
Tal processo é parcialmente fundamentado pelo modelo de negócios desenvolvido
pela InnoCentive27. Esta empresa oferece remuneração pela solução de problemas
apresentados por diversos segmentos de mercado, funcionando como uma ponte
entre as corporações e os profissionais ou amadores interessados espalhados pelo
mundo. Pessoas das mais variadas formações acadêmicas participam dos desafios
por interessarem-se pelo tema dos mesmos (HOWE, 2008)

28

. Apesar da

remuneração oferecida, algumas pessoas adotam uma postura de hobby e muitas
vezes gastam mais com seus experimentos do que ganhariam se apresentassem a
solução remunerada; extrapolando, então, a idéia do amador apaixonado, esperariase um melhor desempenho por parte dos profissionais apaixonados. Além disso,
este outsourcing permitiria também um deslocamento criativo por parte do
profissional, isto é, o isentaria de lidar com as questões fundamentalmente analíticas
de seu trabalho.
Tabulação

de

dados,

associações

de

variáveis,

acesso

a

bancos

informacionais, tais tarefas poderiam ser realizadas por sistemas computacionais,
dando ao especialista a liberdade de operar em níveis mais humanizados. Por
exemplo, um médico poderia passar a interpretar as relações que lhe fossem
apresentadas com maior segurança e adequar os possíveis cenários apontados
pelas análises sistêmicas às realidades de seus pacientes. Analogamente, o
operador da bolsa, munido de respostas rápidas aos inquéritos sobre ações e
históricos das mesmas, poderia traçar planos de investimento que se adequassem
aos interesses específicos e riscos que seus investidores se permitem correr.

26

Outsourcing - Tradicionalmente implica na contratação de mão-de-obra externa à
empresa. No contexto do trabalho significa delegar aos sistemas computacionais tarefas de
elevado coeficiente analítico como processamento de dados, planilhas, etc.
27
InnoCentive - Disponível em <http://www.innocentive.com/about-innocentive>
28
HOWE, Jeff. Crowdsourcing: Why the power of the crowd is driving the future of
business. New York: Crown Business, 2008
42

O profissional passaria então de um monitor das variações mercadológicas
(analítico) a um facilitador do ingresso de leigos no mercado financeiro (emotivo),
trabalhando a volição de seus clientes a fim de tornar tal ingresso o mais natural e
humano possível.
Por outro lado, a facilidade em verificar escolhas, perfis cognitivos e leituras
biológicas poderia facilitar o aparecimento de processos de determinismo genético,
comportamental ou vocacional. Na amplamente conhecida distopia apresentada no
filme GATTACA29, observa-se a história de um indivíduo que luta contra um sistema
estruturado por políticas de eugenia e determinismos genéticos, alimentado por seu
desejo em tornar-se um astronauta. Caso a computação pervasiva torne possível o
mapeamento de ações e aptidões individuais e consiga gerar projeções de tais
habilidades, é importante considerar a emergência de políticas deterministas,
limitando o acesso de certos indivíduos a atividades, simplesmente por não
possuírem perfis comportamentais ou genéticos desejáveis.
Além disso, deve-se considerar também que durante todo o processo de
disseminação e inclusão das populações periféricas às tecnologias citadas, os early
adopters, aqueles que teriam acesso antecipado a tais recursos, ganham uma
vantagem operacional jamais antes vista. Atingir a pervasividade computacional
apenas nas camadas ricas da população significaria alargar o vale que se coloca
entre os ricos capacitados e equipados e a população das periferias tecnológicas.
A partir de tais ponderamentos, podemos iniciar um questionamento do
quanto a intensificação e adoção das tecnologias sensoriais poderia afetar as
interações humanas fundamentais e não apenas as profissionais. A seguir, serão
abordadas as relações entre o monitoramento e seus efeitos psicológicos no
homem.

29

NICCOL, Andrew. GATTACA. Culver City: Columbia Pictures, 1997
43

PANÓPTICO E MONITORAMENTO
Após estipular a distância cronológica até onde se deseja projetar, verificar as
viabilidades econômicas e cognitivas (determinar os saltos conceituais e inovações
por ruptura que não comprometam a compreensão de usabilidade por parte do
usuário) e determinar as diversas bases teóricas sobre as quais estarão apoiadas
projeções, começa-se a ponderar quais os possíveis desdobramentos sociais,
econômicos, psicológicos, comportamentais, etc.
Vimos anteriormente que certas tecnologias computacionais pervasivas já se
apresentam hoje no mercado e, baseado nas propostas e análises de Kurzweil ou
na lei de Moore, podemos extrapolar que sua multiplicação e massificação devem
acelerar-se no futuro próximo. A seguir, apresenta-se desejável uma verificação de
como esta tecnologia poderia desencadear não apenas processos de organização
dos elementos da complexidade humana e emergenciais, mas também criar
mecanismos de monitoramento e controle das massas.
Considerando o cenário que viemos construindo nos últimos capítulos: a
quantidade de dispositivos presentes no cotidiano humano gerando dados e
lançando-os na rede configuraria uma espécie de mapa de atividades mais
completo, porém não tão diferente em essência daqueles que poderiam ser
produzidos com a organização dos dados disponíveis em redes sociais do presente
tempo, tais como Foursquare30, Getglue31 e o gigante Facebook. Disponibilizar
informações

tais

como

posicionamento

geográfico,

hábitos

de

consumo,

atualizações de perfis médicos, históricos de atividades e relações profissionais,
entre outros, garantiria que o indivíduo "hospedeiro" de tais tecnologias pudesse ser
constantemente monitorado.
30

Foursquare - Rede/jogo social de exploração urbana. Os usuários disponibilizam sua
posição geográfica a fim de ganhar pontuações por assiduidade, novas localidades e, ao
mesmo tempo, partilhar com amigos seus destinos, facilitando encontros. Disponível em <
https://foursquare.com/>
31
Getglue - Rede social de compartilhamento de tópicos de interesse. Podem ser escolhidos
filmes, músicas, livros e páginas específicas como Wikipédia e Amazon. Disponível em
<http://getglue.com/>
44

Figura 10.32- Foursquare: mapa da cidade contendo informações específicas da posição
apa
geográfica de cada amigo do usuário Possibilidade de monitorar padrões de movimentação
usuário.
e consumo de grupos de consumidores.
Consideram-se, então duas possibilidades: na primeira delas toda a
então,
a
delas,
informação gerada seria sigilosa e processada por organizações ou o próprio
estado. Dispensa-se a necessidade de mencionar os riscos de imbuir a oligarquias
se
mencionar
tais poderes de observação e controle da informação. Um cenário similar a este é
apresentado no famoso trabalho de George Orwell, “1984”, onde o estado se fazia
,
presente, ainda que em alguns momentos apenas como uma aura de presença
uma
onipresente.
Na segunda, o monitoramento poderia ser perpetuado pela própria população,
isto é, a informação não mais seria centralizada por empresas ou governos e
poderia ser acessada por qualquer pessoa que tivesse a intenção de relac
relacionar-se
com o indivíduo observado.
Tanto o cenário orweliano quanto o segundo foram extensivamente
explorados por David Brin em seu livro A Sociedade Transparente (1998) discutindo
(1998),
qual seria o melhor modelo de monitoramento para configurar uma socieda
sociedade no
qual os interesses do grupo são atendidos sem subjugar a privacidade individual.
Figura 10. - Fonte: <http://www.bing.com/community/cfs filesystemfile.ashx/__key
<http://www.bing.com/community/cfs-filesystemfile.ashx/__key
/CommunityServer-Blogs-Components
Components-WeblogFiles/search
metablogapi/6232.foursquare2_5F00_39E19EB2.jpg> Acesso em: 11 de maio de 2011
45

Brin apresenta ainda que para alcançar-se uma realidade na qual a informação é um
bem comum a todos, os detentores dos recursos de monitoramento devem também
ser monitorados pela sociedade. Discutir-se-á mais as questões éticas envolvidas
em tal tema nos próximos capítulos, voltando, então, à questão do monitoramento
constante ou ainda a aura gerada pelos dispositivos que constituiriam a computação
pervasiva.
Pensemos nos desdobramentos psicológicos que tais mecanismos seriam
capazes de desencadear na população: independente do modelo adotado ou
possíveis variações dos mesmos, poderíamos considerar que um indivíduo - fonte
perpétua de informações passíveis de serem acessadas por uma entidade sem face
(organizações ou população) - estaria inserido em um Panopticon moderno, uma vez
que as leituras realizadas ainda seriam singulares, livres de interferência focal, e
permaneceria como objeto de estudo que poderia ser catalogado, comparado ou
metrificado assim como no modelo original de Bentham.
Ao mesmo tempo, não podemos ignorar que a consciência da presença de
um observador perene instaura no indivíduo observado uma consciência de
autocontrole. A evolução do modelo panóptico apareceria, então, na remoção da
estrutura arquitetônica estática do Panopticon original, garantindo assim uma melhor
observação não somente das características isoladas dos visualizados, mas também
de suas relações com o meio. O autocontrole citado configura o temido
behaviorismo descrito por Foucault em sua publicação Disciplina e Punição, na qual
descreve:
[...] porque nessas condições sua força é tal que ele nunca intervém, é
exercida espontaneamente e sem ruído (...) Porque, sem qualquer
instrumento físico além da arquitetura, age diretamente sobre os indivíduos,
concede o "poder da mente sobre a mente [...] (FOUCAULT, 1979, p.206).

Tendo consciência de que está sendo observado, o indivíduo acaba por
tomar decisões direcionadas a fim de aparentar possuir uma postura ética ou ainda
para evitar possíveis punições, caso seja verificado um erro ou desvio de caráter.
46

DISPONIBILIZAÇÃO vs CONTROLE DA INFORMAÇÃO
Como abordado no capítulo anterior, além de considerar como as relações
sociais e comportamentais podem ser alteradas, faz-se importante considerarmos
como podem também se modificar as relações econômicas e políticas quando
afetadas por desdobramentos tecnológicos ou projetuais.
Retomemos

nosso

cenário-exemplo;

anteriormente,

discutiu-se

as

possibilidades de controle exclusivo por parte de organizações ou, de forma inversa,
o livre acesso por parte da população dos dados gerados e processados pela rede
computacional pervasiva e suas implicações comportamentais. Pensemos agora nas
questões éticas e mercadológicas que tal escolha poderia influenciar.
Voltemos ao primeiro modelo: empresas e governos controlando o fluxo de
informações. Neste caso, verificamos uma possibilidade de perpetuação de modelos
similares aos que existem hoje nas mídias; o controle da informação confere a tais
organizações a capacidade de orientar a população e suas escolhas, determinando
como a mesma atinge as massas. O filtro tendencioso que se forma em alguns
destes veículos de notícias e informação é frequentemente responsável pela
alteração de hábitos de consumo e até mesmo resultados de eleições e plebiscitos.
Um modelo intermediário às mídias tradicionais e ao aqui discutido é o
adotado pela Amazon, Google e afins. Nestes exemplos, temos todos os dados de
navegação, compras, acessos e até mesmo e-mails, considerados sigilosos,
contribuindo para a construção de um perfil digital do indivíduo. No caso do primeiro
citado, tais dados ficam restritos a preferências em literatura, música, tecnologia; já
no segundo, observamos uma tendência ao completo mapeamento do usuário. Os
responsáveis pelo serviço já demonstraram em diversas ocasiões sua crença na
potencialidade emergencial da rede que criaram e continuam a aprimorar. Podemos
dizer que o Google foi a primeira empresa de grande porte a se estabelecer no
mercado assumindo tal postura.
Não podemos esquecer, no entanto, que o Google é, no final das contas, uma
empresa e sua meta é a maior receita possível, ainda que seu lema seja "don't be
evil". Considerando a quantidade de usuários que possui e a forma como opera,
47

pode-se esperar que a empresa já possua quantidades massivas de informação
relativas a hábitos de consumo, interesses (pela quantificação dos temas em seu
site de buscas), mapeamentos demográficos (sociais, geográficos, culturais, etc.) e
até mesmo tempo e rotas de trânsito.
Em primeira instância, o conhecimento não compartilhado de tais dados não
se apresenta merecedor de preocupação, mas não se deve esquecer que se
tratando de corporações que buscam lucro acima de tudo, estes passam a utilizar-se
de mecanismos de oferta e associação de interesses para garantir a assiduidade
dos consumidores. Novamente, tal comodidade não parece impactar negativamente
o consumidor. Isso só começa a acontecer, de maneira quase imperceptível, quando
observamos tal fenômeno pela lente da variabilidade.
Quando ofertados produtos que se aproximam àqueles já comprados e aos
quais respondemos positivamente, temos maiores chances de aderir à compra.
Pensemos, então, na seguinte questão: se for oferecido apenas aquilo que tem
grandes chances de nos agradar, ocorre um decréscimo na variabilidade nos
padrões de consumo individuais. Com a praticidade das compras por domicílio,
somada às ofertas dirigidas, deixamos de nos deparar com o inesperado, podendo,
então, prejudicar a variabilidade das experiências e relacionamentos de um
indivíduo, resultando em pessoas superespecializadas e alienadas vivendo nos
chamados filter bubbles33.
No segundo caso descrito, com o livre acesso das informações por parte de
qualquer indivíduo, verificamos uma maior transparência no modus operandi, mas os
riscos poderiam ser igualmente latentes. Acesso descontrolado às informações de
cada pessoa poderia configurar uma quebra da privacidade individual, disponibilizar
informações sensíveis a grupos mal intencionados e até mesmo afetar o modo como
um indivíduo trabalha e vive.

33

PARISER,
Eli.
Beware
online
"filter
bubbles".
Disponível
em
<http://www.ted.com/talks/eli_pariser_beware_online_filter_bubbles.html> Acesso em 15
de maio de 2011.
48

Pensando novamente na argumentação do livro A Sociedade Transparente,
podemos pensar nas questões de subvisão34 em oposição a monitoramento como a
possibilidade de não mais possuir tecnologias que compartilhem os dados coletados,
mas apenas metrifiquem o ser humano em sua realidade, apresentando ao usuário
de tais tecnologias as leituras parametrizadas de suas ações, criando assim
mecanismos de autoconhecimento. Ao retirar-se da rede global, no entanto,
renuncia-se também a possibilidade de ganho com a comparação e observação das
relações estabelecidas com o meio.
Se tal modelo de leituras introspectivas fosse vigente, um corredor que
somente verifica seus resultados de tempo, desempenho etc., perderia a
oportunidade de comparar-se com os demais atletas de sua categoria ou; um
paciente que não tem seus quadros clínicos comparados com todos os demais da
rede se exclui do processo de emergência de novos tratamentos ou melhor
exploração de suas maleficências.
Independente da escolha por monitoramento aberto ou subvisão, poderia
intensificar-se um processo já discutido no capítulo anterior: o behaviorismo, neste
caso, reativo, isto é, o indivíduo seria constantemente confrontado por suas escolhas
e sua realidade e poderia então tentar adequar-se. Em oposição aos mecanismos
citados anteriormente, aqui a pessoa não necessariamente toma suas decisões por
medo de estar sendo observada (isto poderia ocorrer apenas no primeiro modelo),
mas pela pressão gerada ao ser confrontado com seus desvios de comportamento,
maus hábitos ou baixas performances profissionais. Obviamente, admitir a completa
dominação de tal behaviorismo seria leviano, uma vez que somos hoje confrontados
com nossos maus hábitos e nem por isso os mudamos.
Qual modelo seria então ótimo, visando tanto a inserção na rede quanto a
proteção da privacidade de seus usuários? Aparentemente a conjugação de
sistemas de organização em árvore e rizoma (VASSÃO, 2010) seria uma boa saída;
um indivíduo poderia inserir-se na rede como uma fonte anônima de dados,
34

Subvisão - O autor utiliza o termo sousveillance (subvisão) como oposição ao termo
sourveillance (monitoramento) para discutir o processo de automonitoramento por parte do
indivíduo versus a opressora prática do monitoramento imposto por estruturas superiores
de poder político.
49

interligando-se de maneira rizomática aos outros, ao mesmo tempo em que se
formam estruturas de hierarquia axial onde certos grupos de informações podem ser
aproveitados, novamente de forma anônima, para traçar guias e mapas
demográficos aos governos e empresas que possam desfrutar de tais leituras.
Uma segunda forma de colaboração não anônima seria responsável por
geração de informação e contribuiria para a estruturação de uma rede construída a
partir da multiplicidade de leituras e experiências compartilhadas de seus usuários.
O capítulo seguinte irá tratar do modo como as pessoas poderiam relacionar-se com
a informação e produzir conteúdos complementares no futuro.
50

ACESSO E COLABORAÇÃO
Após pensar nos possíveis modelos de acesso à informação gerada pelos
dispositivos de computação pervasiva, é importante pensar como esta informação
poderia ser trabalhada. O potencial uso do banco de dados gerado é enorme e
exploraremos algumas destas potencialidades a seguir.
Como visto anteriormente, a presença dos SPIMES em nossas vidas seria
determinante no processo de metrificação de diversas características e relações
humanas. Tomemos como exemplo o quadro clínico de uma paciente com
osteoporose:
A paciente A sofre de osteoporose tipo 1, mais comumente encontrada em mulheres que
passaram pela menopausa ou tiveram seus ovários removidos. Tal paciente, não apresentando tais
características, é testada para alterações hormonais e, novamente, não apresenta quaisquer indícios
de anormalidade. Caso esta paciente tivesse todas as suas leituras e metrificações disponíveis na
rede, tanto as médicas quanto as demais, poderia-se encontrar rapidamente através de buscas pela
rede e utilizando-se de certos parâmetros outros casos similares. Através da proximidade de perfis e
dos dados coletados ao longo do tempo, poderia-se então determinar com maior segurança quais as
causas de tal quadro clínico e possivelmente quais tratamentos apresentaram melhores resultados
para mulheres detentoras de perfis similares aos da paciente A.

A produção de informação e o cruzamento de dados não são determinantes
para que se construa conhecimento sobre a mesma. Hoje, já se encontram na rede
digital imensuráveis quantidades de informação, mas certas limitações dificultam o
acesso e a visualização de tais dados. Computadores são extremamente eficazes
em lidar com planilhas de números e operações matemáticas, mas não são capazes
de dar significado e importância para tais conjuntos de dados, já o homem é muito
melhor equipado para compreender compilações de tais informações e fazer juízo
das mesmas, mas não tem como buscar toda a rede por fragmentos pertencentes a
cada tema e conectá-los. Se o conhecimento é gerado somente após a
compreensão e reflexão dos dados apreendidos pela cognição humana, no futuro a
rede deverá reinventar-se a fim de garantir tempos de cognição mais baixos,
facilitando o processo de aprendizado e fluência por parte de seus usuários. Um
exemplo a ser seguido é o de Hans Rosling, que desenvolveu juntamente com a
organização que fundou em 2005, Gapminder Foundation, o software de
51

visualização e manipulação de dados chamado Trendalyzer. Utilizado principalmente
pulação
para processar dados fornecidos pela ONU, o software é hoje utilizado em palestras
e universidades para mostrar as mudanças ocorridas em 498 diferentes parâmetros
sociais através do tempo em todos os países onde tais informações foram coletadas.
todos

Figura 11.35 Quadro gerado a partir de dados coletados pela ONU

Figura 12. - Os mesmos dados apresentados de forma manipulável e gráfica.

Figura 11. - Fonte: <http://www.un.org/esa/population/publications/worldag
<http://www.un.org/esa/population/publications/worldageing
19502050/> Acesso em: 13 de maio de 2011.
Figura 12. - Fonte: Captura de tela do software GapMinder
52

Extrapolando o comendável exemplo de Rosling e imaginando a potencialidade em
captura de dados que as tecnologias pervasivas possuem, poderiam ser gerados
gráficos em tempo real das condições e leituras globais de dado parâmetro,
produzindo, assim, fontes de dados sempre atualizadas que poderiam, assim como
no caso do Gapminder, ser filtradas para maiores níveis de compreensão do
assunto.
A reestruturação dos mecanismos de visualização da informação gerada e
construída de maneira organizada na rede junto com as intenções (já expressadas
pela comunidade virtual) de configuração de uma web semântica36, a computação
pervasiva e os modelos de acesso e participação discutidos nos capítulos anteriores
poderiam gerar uma poderosa ferramenta de aprendizado na qual cada indivíduo é
fonte anônima para dados estatísticos e construção de gráficos e listagens
demográficas e pode ainda participar como colaborador ativo ou observador.
Exploremos com maior profundidade tal mecanismo: um indivíduo poderia
participar do processo de produção e visualização de informação em três momentos:
primeiro como fonte anônima de dados frios, estatísticos, que fundamentam uma
base informacional.
A seguir, sobre estes dados organizados e bem apresentados pode-se
construir novos conhecimentos, enriquecidos pelas experiências individuais e
repertórios específicos de cada indivíduo. Diferentemente do primeiro nível de
produção informacional, neste momento a informação disponibilizada pelo usuário
tem caráter autoral e pode ser rastreada até sua fonte.
Finalmente, todos os participantes da construção de tais clusters de dados
poderiam visualizar não só toda a informação, navegando ao redor das múltiplas
facetas da mesma, mas também identificar como tais facetas se inter-relacionam
sem a necessidade de desconstruí-la ou remover sua complexidade, mas
endereçando seu foco de forma cirúrgica ou abrangente. A este processo damos
aqui o nome de Inversão Panóptica, fazendo referência à questão do monitoramento
descrito por Foucault.
36

Web semântica - Desdobramento da rede atual na qual ocorre a construção de mecanismos que ajudarão as
maquinas a tornarem-se capazes de semantizar termos e interpretar tais semânticas a fim de facilitar o diálogo
entre humanos e computadores.
53

Se no modelo original do filósofo temos um indivíduo centralizado, capaz de
observar todos os demais constituintes do modelo, neste caso temos, em um
primeiro momento, uma leitura informacional centralizada, formada pela contribuição
e leituras paramétricas de cada um dos indivíduos que participam ativa ou
passivamente do processo de construção de tal modelo digital.

Figura 13. - Construção da Informação em dois momentos. - Momento 1: Leitura fria de
dados compartilhada de maneira anônima, colaborando apenas na construção de bancos de
dados estatísticos. / Momento 2: Participação voluntária de indivíduos que desejam partilhar
conhecimento de forma autoral.

Neste processo, temos também a possibilidade de um observador interessado
em expandir seu conhecimento sobre dado assunto, destacar-se das camadas
externas e, em um processo de inversão da arquitetura tradicional, colocar-se como
o ponto central do modelo e planificar a informação ao seu redor, de maneira que tal
indivíduo passe a ter uma visão total daquele tema.
54

Figura 14. – No terceiro momento o indivíduo se posiciona ao centro de toda a informação
construída, podendo visualizá-la de forma planificada.
A importância do aparecimento de tal processo se justifica com o final
desdobramento descrito neste ensaio: o processo de retroalimentação da
informação, não mais de maneira desordenada, mas completamente regimentada,
dentro de uma rede escusa da caótica versão atual. Tal retroalimentação permitiria
que, a partir da observação de dados atributos (leituras e metrificações), qualificação
dos mesmos (comparação e tabulação) e uso experimental e sistêmico dos mesmos
(semantização e construção de julgamento), se imbuiria à população o poder para
tomar decisões informadas e responsáveis.
55

CONCLUSÃO
Da mesma forma que a discussão da sustentabilidade ganhou forças e foi
absorvida para o exercício do Design, espera-se que ocorra uma sensibilização da
comunidade profissional, para que possam ser desenvolvidos serviços e produtos
com superiores índices de comprometimento com os efeitos que tais propostas
desencadeiam, levando em conta a presença da complexidade presente nas
relações humanas.
Pensando no exemplo trabalhado, foram apresentadas maneiras de como
tendências poderiam ser identificadas, projetadas e como a combinação das
mesmas indicaria caminhos para a inovação projetual.
A seguir, foram avaliadas algumas das possíveis mudanças sociais,
econômicas e comportamentais que poderiam se configurar nos macro cenários
pensados. Além disso, foram consideradas questões éticas e até mesmo possíveis
quebras de paradigma gerados pela implementação do serviço ou tecnologia
escolhidos no início do estudo.
Independentemente da concretização dos cenários apresentados, o exercício
de tentar pensar tão a frente do tempo atual nos prepara para os conflitos e
discussões que surgirão eventualmente, uma vez que tal ensaio é construído sobre
ampla base de temas e ciências.
Reforça-se, então, a validade do exercício aqui proposto, principalmente nos
setores de inovação empresarial. Ajudar os departamentos de desenvolvimento de
projetos a identificar as tendências corretas e realizar construções bem estruturadas
poderia garantir que dada empresa se posicionasse de forma diferente no mercado,
preparando-se para possíveis novas demandas por produtos e serviços. Tal
posicionamento seria instrumental para garantir a vantagem da empresa sobre seus
concorrentes.
Compreende-se que o final do trabalho não configura uma proposta
amarrada, hermética, completamente estruturada de metodologia em construção de
56

cenários futuros, mas sim um levantamento da importância de tal prática para as
questões projetuais de design. O resultado foi, na realidade, o início do
desenvolvimento de uma metodologia que auxilie o processo de criação de cenários
futuros e a mesma deverá ser aprimorada e estruturada em futuros estudos acerca
do tema.
Finalmente, acredita-se que os procedimentos aqui tratados poderiam
beneficiar extensivamente o modo como se desenvolvem projetos de design e como
se dá o posicionamento estratégico empresarial e, portanto, merecem maior atenção
tanto por parte dos designers que serão responsáveis por construir os cenários
quanto pelas empresas que deverão, após a compreensão e validade do exercício,
buscar profissionais capazes de apresentar cenários possíveis e bem estruturados.
57

BIBLIOGRAFIA
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University Press, 1989
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  • 2. RICARDO PEROTTI ESTUDO DE MÉTODO PARA CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS FUTUROS Monografia apresentada à Fundação Armando Alvares Penteado como parte dos requisitos para a aprovação no Curso de Desenho Industrial, Habilitação em Projeto de Produto FÁBIO RIGHETTO SÃO PAULO 2011
  • 3. Perotti, Ricardo Estudo de método para construção de cenários futuros. Estudo e construção de método para desenvolvimento de cenários futuros como etapa do exercício projetual em design. / Ricardo Perotti. São Paulo, s. n., 2011, 60 p. Monografia de Conclusão de Curso - Fundação Armando Alvares Penteado. Faculdade de Artes Plásticas. Orientador: Fábio Righetto 1. Cenários Futuros 2. Método projetual 3. Pesquisa I. Título.
  • 4. Ricardo Perotti ESTUDO DE MÉTODO PARA CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS FUTUROS Monografia apresentada à Fundação Armando Alvares Penteado como parte dos requisitos para a aprovação no Curso de Desenho Industrial, Habilitação em Projeto de Produto ( ) Recomendamos exposição na biblioteca. ( ) Não recomendamos exposição na biblioteca. Nota: __________________________________ São Paulo, _____ de _____ de ____/____/____ _______________________________________ Professor (a) _______________________________________ Professor (a) _______________________________________ Professor (a) _______________________________________ Professor (a)
  • 5. Este trabalho é dedicado a todos os "filhos", "pais", "mães" e "tios" que estiveram presentes na formação do autor e a todos que acreditam que procurar respostas no futuro nos permite encontrá-las no presente.
  • 6. AGRADECIMENTO A meu pai, meu maior mentor, que me deu o mundo sem pedir nada em troca; A minha mãe, pela educação dada e pelo antagonismo saudável que me fez querer ser melhor sempre; Aos meus padrinhos pelos conselhos, viagens, carinho e incentivo à leitura desde sempre. A minha irmã, que aguentou meu barulho nas madrugadas de trabalho, Ao irmão André, pelos insights, por ouvir minhas teorias incontáveis vezes e pela amizade incondicional. Aos amigos Thiago, Ana Carolina e Maiara, pelas músicas, noites em claro, histórias e por enxergarem o que eu não conseguiria sozinho. Ao colega Eduardo Mercer, que para cada uma de minhas perguntas trazia um mar de respostas; À Professora Maria Stella Tedesco Bertaso, pelo poder de entender toda minha gagueira e traduzi-la para o mundo; À Professora Nancy Betts, pelas conversas, ensinamentos e amizade, por abrir-me os olhos para um mundo de artistas e pensamentos que eu jamais conheceria; Ao Professor Caio Vassão, por acreditar tanto quanto eu em ficções; Ao Professor Fabio Righetto, cujas ideias estão à frente deste tempo, pelas horas extra de orientação, desenvolvimento do projeto. paciência e cooperação em todo o
  • 7. “O futuro já chegou. Só não está uniformemente distribuído” William Gibson
  • 8. Resumo Perotti, R. Estudo de método para construção de cenários futuros. Estudo e construção de método para desenvolvimento de cenários futuros como etapa do exercício projetual em design. A obra visa apresentar ferramentas de aprimoramento nas pesquisas e projetos de design. Fundamenta as bases metodológicas utilizadas para a construção de cenários futuros. Discute a importância do conhecimento das relações complexas e emergenciais durante o exercício projetual. Apresenta um exemplo detalhado do método em construção abrindo a discussão da validade da prática no mercado e sua importância para o design estratégico. Palavras-Chave: cenários futuros, projeto, tecnologia, metodologia, complexidade, emergência.
  • 9. Abstract Perotti, R. Methodology study for future scenarios construction. Method study for future scenarios development as part of the project exercise in design. The work aims to provide tools for improvement in research and design projects. Presents the methodological basis used for the construction of future scenarios. Discusses the importance of understanding the complex relations and emergent patterns during the project exercise. Features a detailed example of the construction method, opening the validity discussion of such practice in the market and its importance to the strategic design. Keywords: future emergent patterns. scenarios, project, technology, methodology, complexity,
  • 10. SUMÁRIO Introdução ............................................................................................................. 11 A História do Futuro ............................................................................................. 15 Método................................................................................................................... 17 Procedimento - Cenários Futuros ....................................................................... 19 Repertório Inicial .................................................................................................. 22 Complexidade ....................................................................................................... 26 Padrões Emergenciais ......................................................................................... 29 Status Quo e Spimes ........................................................................................... 32 Reestruturações Profissionais............................................................................ 39 Panóptico e Monitoramento ................................................................................ 43 Disponibilização vs Controle da Informação ..................................................... 46 Acesso e Colaboração ......................................................................................... 50 Conclusão ............................................................................................................. 55 Bibliografia............................................................................................................ 57 Webgrafia .............................................................................................................. 59
  • 11. 11 INTRODUÇÃO Imagine a prática da corrida. Reflita sobre como cada movimento, cada passada é única e cada momento do desenvolvimento desse exercício corresponde a um momento singular, composto de mais elementos que sua percepção cognitiva e sensorial jamais seria capaz de compreender plenamente. Sair de um plano horizontal e entrar em uma elevação faz com que o esforço para continuar à mesma velocidade que vinha sendo desempenhada aumente. Um desgaste físico ou mudança nas características da atividade, uma elevação no terreno, por exemplo, somados a uma série de outros fatores aparentemente desconexos poderiam resultar lesões ou até mesmo complicações cardiovasculares. Imagine, então, que cada um dos fatores contribuintes para que o acidente ocorra estejam sendo monitorados e voltemos à elevação do terreno: tal incremento é imediatamente detectado a partir de leituras de sua frequência cardíaca, tensão muscular, ritmo de respiração, formação de ácido lático, elevação geográfica, entre outras. Enquanto todas estas mudanças ocorrem, também são monitorados os níveis de umidade do ar, temperatura, partículas de poluição e pólen, proximidade com outros corredores, pressão em diversos pontos das palmilhas dos tênis, taxas de hidratação, glicemia, etc. Com base nestes e diversos outros dados previamente computados, como horários de ingestão de alimentos, horas de sono, desempenhos anteriores em atividades físicas similares, comparações com indivíduos de faixa etária e comportamentos semelhantes, medicações e incontáveis outros parâmetros, emerge uma avaliação de eficiência na prática da corrida. Apontamentos sobre o risco crescente de uma complicação cardíaca, de que o vestuário utilizado não é o mais adequado, indicações de horários e ritmos de corrida mais eficientes para seu grupo etário e alertas de esforço com projeções de lesões futuras são atualizados em tempo real, garantindo total imersão na atividade desenvolvida. Nenhum humano consegue detectar, tampouco avaliar, o incontável número de variáveis e elementos inter-relacionados em uma dada situação: neste caso a corrida no parque. Isto ocorre por duas razões: primeiro, pelo fato de não
  • 12. 12 possuirmos hoje a totalidade de dispositivos sensoriais necessários para mensurar os diversos tipos de variáveis que podem ser utilizadas para obter uma leitura completa de um fenômeno complexo. Em segundo lugar, mesmo com a possibilidade de realizar tais leituras, não somos capazes de processar mentalmente o volume massivo de dados que seria gerado por tais dispositivos. Concentramo-nos na atividade a ser desenvolvida e, independente de quão capacitado é o indivíduo em multitasking, simplesmente não há como lidar com tantas variáveis e suas relações. Esta plenitude de informações – potencialmente disponível e não passível de ser processada – pode ser compreendida pela teoria da complexidade. Cada um dos elementos fundamentais que compõem a situação é de simples compreensão, mas conforme se acumulam em número e em suas relações menos óbvias, resultam em um sistema complexo cuja compreensibilidade é dificultada. Esta problematização ocorre justamente pelo fato de que não conseguimos lidar com tantas informações e relações analíticas ao mesmo tempo. O processo de cognição dá-se com o auxílio dos chamados modelos conceituais. Nestas construções ocorre uma simplificação do evento ou objeto estudado e tal fenômeno apresenta-se de acordo com o conjunto de expertises e repertórios do observador. Esta é a razão pela qual obtemos leituras tão distintas de um mesmo item: cada observador irá descrevê-lo de acordo com suas especialidades e poderá contribuir apenas para a construção de um modelo lateralizado, incompleto da entidade. Poderia-se, no entanto, utilizar cada uma das leituras distintas do objeto ou situação, descritas por observadores distintos e formular uma leitura pervasiva a todas as áreas de interesse do objeto de estudo. Esta leitura composta poderia ser compreendida como um modelo de visualização total da informação, uma vez que neste caso não existe um indivíduo observando o todo, e sim um conjunto de fontes de dados sobrepostas a fim de construir um modelo conceitual muito mais próximo da totalidade real que qualquer uma das leituras individuais.
  • 13. 13 No exemplo descrito acima, foi apresentado um fragmento do tema escolhido para ilustrar o processo de construção de cenários futuros com ênfase nas questões projetuais de design. Acredita-se que a profissão do designer, multidisciplinar, deverá sofrer nos próximos anos um processo similar ao ocorrido em outras áreas do conhecimento, como a antiga alquimia que, já não comportando todo o conhecimento sob um único teto, foi segmentada em química, biologia, física, etc. Outro caso mais contemporâneo poderia ser o da medicina, em que boa parte de seus profissionais deixou de lado a clínica geral e dedica-se hoje a áreas específicas do conhecimento médico1. Em um similar processo de especialização, surgiria então o ensaísta ou projetista de cenários futuros. Este profissional, através da sensibilidade e visão de mundo conferidas pelo design thinking, poderia trabalhar com empresas e escritórios de design com o intuito de apresentar aos mesmos possibilidades de inovação e posicionamento estratégico, tentando então antecipar como e quais seriam as novas mudanças mercadológicas. Intui-se com o presente trabalho iniciar um processo exploratório de construção de uma metodologia para combinar o exercício de construção de cenários futuros, prática tradicional da literatura, e o desenvolvimento projetual em design. Pensar como as tendências mercadológicas podem ser projetadas separadamente e, posteriormente, relacionadas a fim de garantir que os cenários propostos sejam não apenas bem construídos, mas também possíveis. Compreender as possíveis realidades futuras concederia ao projetista uma capacidade de desenvolver produtos e serviços que estariam melhor alinhados às demandas do mercado futuro, em oposição às tradicionais pesquisas de mercado atual. As inovações conquistadas através de observação exclusiva dos mercados atuais não parecem equiparar-se àquelas obtidas com um estudo das possibilidades 1 KELLY, Kevin. Increasing Specialization. Disponível em <http://www.kk.org/thetechnium /archives/2009/05/increasing_spec.php> Acesso em 02 de abril de 2011.
  • 14. 14 futuras, uma vez que contêm apenas o tempo atual, tempo este que já se tornou passado quando o projeto é concluído. Antes de ingressar nas leituras e análises críticas sobre os desdobramentos do cenário exemplo, deve-se primeiramente definir os limites do recorte do trabalho a ser realizado, discutir a metodologia de pesquisa e estruturação dos capítulos desenvolvidos e, finalmente, conceituar os elementos contidos no espectro apresentado e quais suas relações, a fim de garantir a compreensão das áreas das ciências utilizadas para determinar tais desdobramentos.
  • 15. 15 A HISTÓRIA DO FUTURO O exercício de projetar cenários futuros preconiza a discussão da relevância de tal prática. Se o conhecimento e entendimento do passado nos permitem evitar erros ou ser confrontados pela ignorância dos erros repetidos, o exercício da construção de cenários futuros nos permite prever quais questões projetuais/sociais surgirão nos projetos desenvolvidos em contextos estudados com o conforto da nãorelação com o real. A prática literária da projeção futura costuma residir nos gêneros da ficção científica, mas desde 1941 a História do Futuro2 vem ganhando gradual importância também nas áreas de gestão e desenvolvimento de projetos. Quando se realiza um exercício como este, é importante apresentar-se como um observador imparcial e deixar de lado, na medida do possível, preconceitos com os objetos estudados. Preocupações com utopias ou distopias acabam por corromper o processo, pois não se trata de um julgamento do "bem ou mal", e sim uma leitura objetiva baseada em tendências mercadológicas e sociais. "Utopia e Oblívio meramente significam que o futurista chegou ao seu limite de capacidade da compreensão da passagem do tempo e suas implicações" (STERLING, 2005). Um modo eficaz de demonstrar a importância do estudo prévio dos desdobramentos de tecnologias adotadas seria utilizarmos o exemplo dos automóveis e o sistema de transporte centrado em combustíveis fósseis. Se na década de 30, quando se iniciou o processo de popularização dos automóveis, fosse realizado um estudo dos possíveis impactos do barateamento, massificação e monopólio do transporte viário, poderia se ter esbarrado em algumas questões que, hoje, configuram reais transtornos em virtualmente todas as metrópoles do mundo. Reforça-se que não se trata de condenar completamente as escolhas tomadas na época, mas levantar a hipótese de que tivessem os designers, engenheiros e projetistas estudos sobre impactos projetados, poderiam os responsáveis tomar caminhos menos danosos ao meio ambiente e à saúde urbana. 2 História do Futuro - O Termo foi cunhado em 1941 por John Wood Campbell, editor e escritor de ficção científica.
  • 16. 16 Neste caso, uma crítica negativa não estaria levando em consideração forças exteriores como lobistas, favorecimentos ou pressões políticas que muitas vezes subvertem ou limitam as vontades dos projetistas e responsáveis pelo desenvolvimento de novas tecnologias. Sumariza-se, portanto, a noção de que o exercício da construção de cenários futuros, mais que desejável, é necessário, uma vez que a mesma nos permite verificar possíveis desdobramentos para adoções de processos e tecnologias, e assim avaliar se tais resultados são desejáveis ou configuram realidades insustentáveis ou inviáveis.
  • 17. 17 MÉTODO O método escolhido para o desenvolvimento do presente trabalho visa elucidar – capítulo a capítulo – quais os parâmetros escolhidos para desenvolver uma metodologia de construção de cenários futuros dentro do exercício projetual de design. A partir de pesquisas bibliográficas correlatas, serão apresentados em uma ordem lógica os diversos passos tomados em direção à construção de tal metodologia e, ao mesmo tempo, será elaborado um cenário-exemplo com o intuito de ilustrar como os parâmetros se relacionam com um projeto de cenário futuro. Primeiramente, serão apresentados os termos e repertórios iniciais que auxiliarão a compreensão dos temas posteriormente discutidos. Este capítulo só se faz necessário para que ocorra fluência quando forem abordadas questões de superior grau de especificidade e não é, fundamentalmente, parte da estrutura metodológica aqui apresentada. Após a apresentação dos termos essenciais à discussão, irá pensar-se na distância cronológica para a qual se deseja projetar, quais mecanismos permitem a acurácia proximal da pesquisa com a realidade futura e como foram selecionadas as áreas da ciência no dado exemplo, para que o mesmo seja seguido e adaptado para a aplicação em projetos específicos. A seguir, será iniciada a fundamentação do cenário desenvolvido e a verificação de como o tema é percebido e trabalhado na atual data, quais as tecnologias disponíveis no mercado, a apresentação de algumas projeções e o começo da discussão sobre a percepção versus realidade no tema das evoluções tecnológicas e informacionais. Os capítulos posteriores abordarão os temas base da discussão que irão garantir a matéria-prima sobre a qual o projetista irá trabalhar, ponderar e desenvolver seu cenário. Nestes blocos, serão trabalhadas as tendências de mercado que, novamente, são as guias que apontam em cada microcosmo estudado quais são as prováveis mudanças e inovações esperadas para tal tema.
  • 18. 18 Após pensar individualmente sobre os temas e verificar quais elementos aparentam se relacionar, inicia-se a segunda fase do exercício, que é a construção do cenário propriamente dito. Baseando-se nas leituras e análises realizadas na etapa anterior, o projetista começa a verificar as inter-relações das questões discutidas e as diferentes formas com as quais poderiam combinar-se e configurar variados cenários. Finalmente, quando se obtém um cenário que aparentemente atende aos parâmetros esperados e determinados pelas fundamentações – tanto dissociadas quanto relacionadas –, deve-se pensar nos desdobramentos, ou ainda verificar a sustentabilidade3 do cenário desenvolvido. É nesta etapa do exercício que surgem os possíveis tópicos de discussões econômicas, psicológicas, éticas e sociais. A conclusão do trabalho apresenta ainda uma série de considerações, revisitando os exemplos dados e relacionando-os com a metodologia que se terá desejado apresentar. 3 Sustentabilidade não no sentido ecológico, mas de perpetualidade.
  • 19. 19 PROCEDIMENTOS - CENÁRIOS FUTUROS Neste capítulo, serão discutidos os procedimentos tomados para que nos aproximemos dos melhores resultados possíveis quando realizarmos o exercício de confecção de cenários futuros. Pensar quão futuro será tal modelo apresenta-se como uma parte importante do exercício. A partir do conhecimento de onde se pretende chegar, podem ser realizadas projeções tecnológicas e demográficas individuais para cada um dos assuntos de base, tendo sempre em mente a possibilidade de quebras de paradigmas, que podem representar tanto um atraso à chegada no ponto esperado como um adiantamento. A seguir, faz-se necessário que sejam definidos os pontos de apoio do projeto, de forma que o mesmo seja sólido o suficiente para suportar possíveis desvios no desenvolvimento da estrutura. Sendo maior o número de pontos de apoio na base da pirâmide projetual, se em dado momento um destes se invalidar por razão de falha na percepção do projetista ou uma reestruturação daquele universo, o cenário final ainda é viável do ponto de vista projetual, pois é construído seguindo as indicações coerentes dos demais pilares. Tradicionalmente, a profissão do designer é multidisciplinar, fazendo com que o mesmo passe por temas diversos e com uma frequência que o permite, após alguma experiência, identificar quais os elementos fundamentais e relevantes aos projetos que desenvolve. Tal habilidade é igualmente útil no processo de construção de cenários futuros; através de explorações iniciais, um profissional da área seria capaz de elencar uma lista de assuntos que tocam seu tema central. Obviamente, quanto mais dissoluto ou abrangente for o foco do projeto ou estudo, maior será o número de competências do conhecimento humano que poderá ser abordado em oposição a um estudo de realidade futura para produtos de nicho. Vale lembrar que a criação de um cenário generalizado, abrangente, possibilitaria não só um único estudo de caso e, com alguns incrementos e modificações estruturais, poderiam ser reutilizados para o estudo de subtópicos.
  • 20. 20 Exemplificando: um cenário de construção mais trabalhosa e abrangente estudando a prática da medicina no futuro poderia facilmente ser reutilizado e reestruturado para um estudo mais pontual, como equipamentos de diagnóstico por imagem. Figura 1. – Pensar em cenários mais abrangentes facilita futuras incursões em temas correlatos. Pensando então nas fontes e sua credibilidade, chegamos à questão de se o uso de trabalhos ficcionais, de futuristas, é algo condenável ou merecedor de incentivo. Uma hipótese poderia ser a de que após repetidas incursões no tema do futurismo, um escritor desenvolveria uma sensibilidade às questões tecnológicas e sociais e seria capaz de construir suas ficções de forma coerente e alinhada com os movimentos do mercado. Tal hipótese se confirma quando trazemos nomes como Vernor Vinge4, Robert A. Heinlein5 ou Bruce Sterling6 entre inúmeros outros à 4 Vernor Vinge - Professor de matemática aposentado da Universidade Estadual de San Dieg, autor de ficção científica e palestrante recorrente nos temas de singularidade, inteligência artificial e pensamento científico a longo prazo. 5 Robert A. Heinlein - Considerado um dos pais da ficção científica, preconizou a invenção de diversos equipamentos considerados hoje comuns como telefones móveis e jornais digitais. Foi também responsável pela criação de termos como "Waldo", utilizado na língua inglesa para descrever equipamentos previstos pelo autor. 6 Bruce Sterling - Escritor de ficções científicas, colaborou em diferentes frentes nas discussões de tendências tecnológicas. Palestrante no evento Google TechTalks (2007),
  • 21. 21 discussão. Tais autores, durante muito tempo, se dedicaram exclusivamente à literatura ficcional, na qual realizavam o exercício de propor realidades alternativas às do tempo presente e, hoje, participam ativamente em tomadas de decisões ou palestram sobre como preconizar e estruturar universos possíveis em corporações como Apple e Google. A partir de tantos exemplos de sucesso, teoriza-se que apoiar-se em e familiarizar-se com obras do gênero enriquecem o pensamento do designer, uma vez que a ficção científica é nada mais que uma interpretação dos elementos apresentados pela própria ciência. Finalmente, toda a pesquisa realizada envolvendo a melhor compreensão da realidade presente possível, que poderíamos equiparar à etapa de busca pelo status quo nos projetos tradicionais, com discussões e reflexões sobre tendências de movimentos futuros, é a base para a construção do cenário e este será influenciado pelas demais experiências e repertórios do projetista. Sob este enfoque, cabe pensar que o exercício se beneficiaria com a participação de vários profissionais e que o cenário final fosse composto pelas visões singulares combinadas dos futuristas. falando diretamente aos desenvolvedores da empresa sobre possíveis novos dispositivos computacionais.
  • 22. 22 REPERTÓRIO INICIAL No presente capítulo serão apresentados alguns dos termos necessários à capítulo, discussão do trabalho e que, para garantir melhor compreensão dos temas posteriormente abordados, tais termos serão explicados previamente ao leitor. O PANÓPTICO E SUA INVERSÃO O termo panóptico foi utilizado pela primeira vez por Jeremy Bentham em 1785, descrevendo um model arquitetônico – o panopticon – no qual o exercício do modelo controle, observação e supervisão dos ocupantes se dava de forma tal que exigia pouquíssimos indivíduos desempenhando o papel de supervisores. Tal prédio poderia ser utilizado em vários modelos de ins tuições tais como escolas, hospitais, instituições fabricas e prisões, tendo a última maior foco do autor. Uma torre interna a um bloco cilíndrico permitiria que, ao colocarem se os observados nas paredes internas do colocarem-se cilindro com divisórias individuais e o observador dentro da torre central, este pudesse vigiar todas as ações dos internos sem ser visto. desse Figura 2. -7 (E) Desenho esquemático do Panopticon / (D) A Torre central garante visão privilegiada do observador que ali se posicionar. Figura2.- Fonte(E): <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/11/Panopticon.jpg http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/11/Panopticon.jpg> http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/11/Panopticon.jpg Acesso em: 04 de março de 2011 Fonte(D): <http://1.bp.blogspot.com/_cGailNL FIw/TP04pJ26fJI/AAAAAAAABGY/VVMztx8W tp://1.bp.blogspot.com/_cGailNL-FIw/TP04pJ26fJI/AAAAAAAABGY/VVMztx8W WWg/s1600/large.panopticon.jpg> WWg/s1600/large.panopticon.jpg Acesso em: 04 de março de 2011
  • 23. 23 Tal modelo foi então reaproveitado por Michel Foucault em 1975, para que fossem discutidos os mecanismos do poder capitalista para disciplinar e alterar o comportamento da população. Foucault argumenta que em modelos como este o interno perde a característica de sujeito participante em um sistema de produção ou sociedade e passa a ser simplesmente um objeto fonte de informação ou força laboral. [...] torna possível traçar diferenças: entre pacientes, observar os sintomas de cada indivíduo, sem proximidade de camas, a circulação de miasmas, sem os efeitos de contágio ou confundir os relatórios clínicos; entre crianças, torna possível observar performances ( sem que haja imitação ou cópia ), mapear 8 aptidões, verificar caráter [...](FOUCAULT, 1979) . Tal conceito será explorado no presente trabalho para ilustrar como os mesmos mecanismos descritos por Bentham e Foucault se reestruturaram e independem hoje de arquiteturas tradicionais. A pervasividade computacional unidirecional ou, em alguns casos, de feedback incompleto configura um modelo de panopticismo da era digital, equiparando-se em certos aspectos à realidade apontada por Orwell em sua obra 1984. Em segundo plano, apresentar-se-á a questão da possibilidade de reversão deste fenômeno na era da computação pervasiva, que aqui chamaremos de inversão panóptica. Neste modelo teríamos não um indivíduo no centro do sistema, observando cada um dos demais indivíduos-objeto-de-estudo, buscando informações através da observação, mas uma esfera formada por singulares indivíduos, com repertórios e experiências diferentes entre si. Cada um desses indivíduos periféricos poderia colaborar com seu conhecimento, experiências e parametrização de dados a fim de construir inúmeros modelos digitais que corresponderiam a riquíssimos bancos de dados prontos para processamento, ou ainda modelos informacionais que quase esgotariam as informações contidas em dado tópico. 8 FOUCAULT, Michel. Discipline and Punish: The Birth of the Prison. New York: Vintage, 1979
  • 24. 24 LEI DE MOORE E A SINGULARIDADE A lei de Moore foi descrita por Carver Mead, professor do instituto de tecnologia da Califórnia, na década de 70, baseado em um artigo escrito por Gordon Moore (por isso a homenagem) em 1965, relacionando o crescimento no número de transistores das placas de circuito com intervalos iguais de tempo. Moore percebeu que o número dobrava anualmente e previu que tal índice de desenvolvimento tecnológico se manteria inalterado por algum tempo. Não somente sua previsão foi correta, como a presença de tal padrão de crescimento e desenvolvimento foi constatada genericamente em todas as competências da tecnologia digital. Capacidades de armazenamento, processamento, número de pixels em um ecrã por dólar gasto, etc. Vale lembrar que hoje há uma tradição das empresas em seguir as projeções de Moore pelo fato de que a própria população parece apresentar este padrão com relação à velocidade de aceitação e demanda de melhorias, configurando um ritmo confortável para introdução de novos produtos ao mercado. O estudo da singularidade apoia-se diretamente na lei de Moore. O termo singularidade refere-se basicamente a um evento hipotético que ocorrerá, segundo Ray Kurzweil – um dos maiores nomes na pesquisa e discussão sobre a singularidade–, por volta de 2045, quando as capacidades de processamento computacionais tornariam-se tão poderosas e superiores às humanas que configuram, pelo menos hoje, um horizonte para quão longe seríamos capazes de projetar e pensar o futuro. Ray cita ainda como um marco histórico o ano 2029, quando teremos completado todo o processo de engenharia reversa do cérebro humano9. Leva-se também em conta que no percurso das evoluções tecnológicas encontramos alguns pontos nos quais ocorrem as quebras de paradigma, isto é, certas práticas e tecnologias são completamente substituídas ao invés do tradicional processo de aprimoramento e aglutinação. Kurzweil defende que a prática citada acima, das empresas manterem-se presas à curva de Moore, sofrerá eventualmente 9 KURZWEIL, Ray. The Singularity is Near: When Humans Transcend Biology. New York: Penguin, 2006
  • 25. 25 um processo de quebra de paradigma e as inovações tecnológicas começarão a ser apresentadas ao mercado cada vez mais cedo. Tal pensamento inclusive levou o autor a revisar seu livro a fim de atualizar suas previsões para os acontecimentoschave até a chegada da Singularidade. Para ilustrar como ocorrem tais processos de ruptura, tomemos o clássico exemplo da indústria de áudio: as fitas K7 foram desenvolvidas e utilizadas por vários anos, nesse período trabalhava-se para melhorar a qualidade do áudio gravado nas mesmas e tais incrementos foram percebidos e absorvidos pelo mercado. Ocorre, no entanto, uma ruptura no início dos anos 90 com a popularização dos CDs, que apresentavam melhor qualidade de áudio e outras vantagens. Neste caso, observa-se como o pensamento de continuidade não se aplica obrigatoriamente ao estudo da tecnologia, pois podem ocorrer avanços e descobertas que subvertem o cenário presente.
  • 26. 26 COMPLEXIDADE Complexo é, genericamente, o termo utilizado para descrever o modo como as partes de um dado sistema organizam, relacionam-se e como tais relações tornam-se demasiado intrínsecas para que possam ser compreendidas em sua totalidade. O grau de complexidade de um sistema tende a crescer proporcionalmente ao número de elementos inclusos no mesmo. Warren Weaver, considerado por alguns como o autor do texto fundador da teoria da complexidade (JOHNSON, 2001) 10, divide os sistemas em três grupos: Sistemas Simples: Problemas com poucas variáveis e relações pouco desenvolvidas. Possivelmente, os melhores exemplos sejam as máquinas como pêndulos, alavancas, rampas e modelos onde os blocos fundamentais desempenham funções sequenciais, pré-determinadas. Sistemas de Complexidade Desorganizada: Casos com números de variáveis extremamente elevados e relações pouco duradouras ou de origem entrópica. Um exemplo muito utilizado é o dos gases. O número de partículas torna impossível determinar o comportamento de cada molécula individual, mas ainda assim é viável predizer o comportamento do sistema como todo, uma vez que as relações formadas entre as moléculas são curtas e randômicas, possibilitando estudos estatísticos de previsibilidade. Sistemas de Complexidade Organizada: Modelos nos quais os elementos constituintes do sistema seguem padrões definidos de comportamento e as relações entre tais elementos configuram microestruturas que, por sua vez, se organizam em camadas superiores, de maior complexidade que as inferiores. O modelo mais clássico de observação de tal comportamento é o da composição dos sistemas biológicos. Nos animais, por exemplo, temos organelas se organizando em células, estas em tecidos e, subsequentemente, órgãos, sistemas especializados e finalmente o ser. 10 JOHNSON, Steven. Emergência - A vida interligada de formigas, cérebros, cidades e softwares. Rio de Janeiro: Zahar, 2001
  • 27. 27 MODELOS CONCEITUAIS Um indivíduo pode não ser capaz de lidar com toda a complexidade presente em dado contexto. Naturalmente, seu processo cognitivo gera um modelo conceitual no qual parte da complexidade é resignificada e memorizada de forma simplificada. Devido ao acúmulo de camadas de organização complexas, não é incomum que ocorra o desejo de, ao se estudar tais fenômenos, desconstruir tais camadas. Surge aí o risco de empobrecer a compreensão do todo. (NORMAN, 2010) 11 É preciso esclarecer, então, que a simplificação de um sistema nem sempre corresponde a uma melhor compreensão dos blocos elementares dos mesmos. Isto ocorre especialmente nos exemplos com níveis superiores de complexidade, pois a riqueza destes conjuntos não está necessariamente em suas entidades, mas sim nas relações que as mesmas constroem (MORIN, 2005) 12 . Tomemos o clássico exemplo das formas alotrópicas13 do carbono: as relações que os átomos de carbono formam podem dar-se de diversos modos diferentes. Figura 3. - Um único elemento pode combinar-se de diversas formas, por isso a necessidade de estudarmos o sistema como um todo, sem deixar de analisar suas relações. Temos o carbono nas formas grafite, diamante, fulereno, nanotubos e nanoespuma. Para cada uma dessas formas, os átomos, os blocos elementares do sistema, são os mesmos e o que varia é a forma como cada um desses átomos se relaciona com os demais. Se fôssemos desprezar as relações entre os átomos e Figura 3. - Fonte: < http://accuracyandaesthetics.com/wp-content/uploads/2007/06/eight_ allotropes_of_carbon.jpg> Acesso em: 12 de Maio de 2011 11 NORMAN, Donald. Living with Complexity. Massachusetts: The MIT Press, 2010 12 MORIN, Edgar. Introdução ao Pensamento Complexo. Porto Alegre: Sulina, 2005 13 Alotropia - Propriedade de certos elementos químicos de apresentar diferentes estruturas moleculares estáveis, configurando macromoléculas completamente diferentes entre si.
  • 28. 28 focar apenas nos componentes, teríamos uma leitura no mínimo incompleta dos modelos finais. Quando lidamos com sistemas complexos organizados, por mais que certas relações possam apresentar-se difíceis de serem percebidas, é importante que se mantenha a integridade do sistema a fim de que possam ser estudados não somente seus componentes, mas também os desdobramentos das inter-relações dos mesmos. O maior valor dos estudos complexos provém não necessariamente do sistema primário, mas sim das novas camadas deste sistema, construídas pelas relações de seus elementos. Tais camadas apresentam, por sua vez, novas entidades que se relacionam e resultam em níveis superiores. No seguinte capítulo, será discutido o processo de emergência; como o estudo da complexidade pode revelar padrões de compreensão dos próprios mecanismos da máquina complexa que é o universo.
  • 29. 29 PADRÕES EMERGENCIAIS Steven Johnson explica que certos processos e fenômenos muitas vezes considerados randômicos no universo são apenas fenômenos cujas variáveis não compreendemos ou simplesmente não somos capazes de perceber por não possuirmos as ferramentas adequadas de observação ou metrificação. O que faz uma prímula noturna se abrir num dado momento? Por que a água salgada não mata a sede? Qual é a descrição de envelhecimento em termos bioquímicos? Como a constituição genética original de um organismo vivo se expressa nas características desenvolvidas do adulto? Sem dúvida, todos são problemas complexos, mas não devido à complexidade desorganizada, para a qual métodos estatísticos têm a solução. São problemas que envolvem a manipulação simultânea de um determinado número de fatores que se inter-relacionam, formando um todo orgânico. (WEAVER, 1948, p.536) Para compreender o "todo orgânico" descrito por Weaver, diversos pesquisadores escolhem sistemas com números reduzidos de variáveis para que, a partir da compreensão dos mesmos, possam ser traçadas relações com os de maior complexidade. Este é o caso no estudo das sociedades, ou, no tema do atual trabalho, a sociedade imersa em tecnologias metrificadoras; pesquisadores costumam adotar formigas ou cupins, pois se tratam de insetos sociais e, por seu tamanho reduzido, podem ser observados em laboratório. Este foi o caso com a bióloga Deborah M. Gordon, nas décadas de 80 e 90. Gordon estabeleceu uma série de relações a partir da observação de colônias de formigas sobre o surgimento de padrões emergenciais e formação de sistemas de organização a partir dos níveis mais baixos (bottom-up), baseados em feedback local. Com a pesquisa de Gordon, utilizada juntamente com as de diversos outros pesquisadores, Mitch Resnick, especialista no desenvolvimento de ferramentas de aprendizado, criou um software14 de simulações nos quais os dados fornecidos pelas pesquisas dos diversos biólogos e cientistas sociais foram transformados em expressões matemáticas, portanto, metrificados. A partir de tais modelos digitais é 14 StarLogo Lançado em Julho de 2008. Disponível <http://education.mit.edu/starlogo/> Acesso em 28 de fevereiro de 2011. em
  • 30. 30 possível, então, realizar projeções para cenários futuros, após o preenchimento dos parâmetros de base e aceleração da variável correspondente ao tempo. No exemplo abaixo, temos a versão digital dos estudos de Deborah M. Gordon. Figura 4. -15Modelo digital dos experimentos conduzidos com sistemas complexos organizados. Reordenando os conjuntos de regras que cada um dos elementos do sistema segue, se obtém resultados diferentes Este é também o caso da rede WWW, onde o conteúdo produzido é de certa forma regimentado e previsto pelo código sobre o qual a rede é escrita e, por isso, não podemos chamá-la de sistema complexo desorganizado. Os usuários têm a liberdade de desenvolver conteúdo e estes dados relacionam-se com os demais através de links, gerando trens de conteúdo que podem ser trilhados e estudados. A popularidade e relevância de um tema podem, então, ser verificadas pelo monitoramento do tráfego global por determinada trilha de websites. Verificam-se, então, padrões emergenciais de organização e da informação e apresentação de demandas globais sem a presença de um líder para organizar tais dados. Observa-se no exemplo a seguir um mapeamento global das postagens digitais no website Twitter e, a partir das mesmas, gera-se um mapa dos temas de maior discussão na rede em tempo real. 15 Figura 4. - Fonte: Captura de tela do software StarLogo
  • 31. 31 Figura 5. -16Mapa atualizado em tempo real contendo tópicos de maior relevância, organizados por localização geográfica possibilita estudos de demanda local e global. Outro clássico exemplo de padrões emergenciais é o mercado financeiro. Relações de oferta e demanda são frequentemente afetadas por elementos aparentemente dissociados, como tratados políticos, mudanças climáticas, epidemias, etc. O termo "a mão invisível da economia", cunhado por Adam Smith no século XVIII, era, na realidade, resultado dos padrões emergenciais que não podiam ser monitorados na época. A seguir, serão discutidas as tecnologias que hoje iniciam o processo de imersão de nossa sociedade na computação pervasiva e como tais recursos poderiam transformar o modo como nos relacionamos com informação. Figura 5. - TRENDSMAP, Real time local twitter <http://trendsmap.com/> Acesso em 03 de março de 2011. trends. Disponível em
  • 32. 32 STATUS QUO e SPIMES Quando pensamos em computação pervasiva, frequentemente nos referimos às tecnologias que a cada dia se fazem mais presentes em nossas vidas. Neste capítulo, serão apresentados algumas destas tecnologias e serviços possibilitados pelas mesmas. A partir deste estudo de status quo e das teorias apresentadas anteriormente, será construído um cenário futuro sobre o qual serão feitas ponderações visando apresentar quais seriam os possíveis desdobramentos sociais caso ocorra a intensificação ou massificação de tais tecnologias. Foram escolhidas cinco áreas para as quais serão apresentadas tecnologias e serviços atuais: Transporte, Medicina, Economia, Comunicação e Acesso Centralizado. Tais áreas foram escolhidas por apresentarem exemplos de tendências tecnológicas que devem ultrapassar os limites de especificidade e empregabilidade de seus campos de aplicação originais, convergindo, então, em um novo tipo de aparato. TRANSPORTE O setor de transporte se favorece com o barateamento das tecnologias de posicionamento geográfico – os GPS's – e passam a instalar o aparato nas frotas de ônibus, trens, metrôs e balsas. A possibilidade de rastrear cada um dos veículos e a velocidade na transmissão de dados para a web possibilitam o desenvolvimento de serviços como o implementado na cidade de Portland, Oregon, nos Estados Unidos, pela companhia TriMet17. Na cidade, cidadãos podem acessar terminais ou instalar em seus smartphones aplicativos com os quais podem verificar o tempo de chegada de seus meios de transporte e, inclusive, realizar simulações de quais meios utilizar quando realizam comutas entre dois sistemas. A implementação do sistema não só melhorou a qualidade dos serviços de trânsito, o que levou uma parcela maior da 17 TRIMET, Public Transportation for Portland. Disponível em < http://trimet.org/> Acesso em 15 de março de 2011.
  • 33. 33 população a adotar meios de transporte públicos, mas também mapeou quais rotas eram mais acessadas e disponibilizou mais vagões ou ônibus para tais destinos. MEDICINA A presença de sensores e equipamentos de coleta de dados na área da medicina sempre foi substancial. Nos últimos anos, surgiram os implantes subcutâneos, que isentam o paciente de ter que realizar quaisquer medições recorrentes, como no caso do implante para medição de glicemia de pacientes. Na tecnologia desenvolvida pela universidade de Tokyo e parceiros, o equipamento indica se os níveis de glicemia aumentaram ou diminuíram sem a necessidade de furar o dedo para a realização do teste diário18. Figura 6. - A presença de glicose no sangue do indivíduo ativa a luminescência do implante e permite que o mesmo saiba de maneira indolor que deve tomar sua dose de insulina. Outro exemplo da intensificação das tecnologias pervasivas de produção e processamento de dados é o microchip19 em fase de desenvolvimento pela Universidade de Engenharia de Calgary, que é capaz de realizar os mesmo testes laboratoriais que demandam ampolas de sangue com apenas uma pequena gota, Figura Error! Main Document Only.. - Frame do vídeo disponível em: <http://www.diginfo.tv/2010/08/06/10-0141-r-en.php> Acesso em: 6 de maio de 2011 18 DIGINFO TV, Implantable blood sugar sensor. Disponível em <http://www.diginfo.tv/2010/08/06/10-0141-r-en.php> Acesso em 21 de março de 2011. 19 UNIVERSITY OF CALGARY, Microfluids. Disponível em <http://www.ucalgary.ca/news/february2011 /microfluids> Acesso em 21 de março de 2011.
  • 34. 34 como nos testes comuns de glicemia. Além do conforto do paciente, a tecnologia não precisa ser operada por mão de obra especializada e pode ser utilizada em casa. ECONOMIA A computação pervasiva atualmente favorece os mercados financeiros com as melhorias na velocidade do processamento e tráfego de dados. Obter uma informação alguns segundos antes dos demais potenciais compradores pode corresponder a enormes taxas de lucro para uma corretora e seus clientes. Alguns computadores chamados de Bots, instalados dentro do prédio da Bolsa de Valores para que a latência20 da conexão seja a menor possível, são capazes de verificar flutuações nos valores de ações em outros mercados e, baseando-se em parâmetros pré-estabelecidos, comprar e vender ações sem sequer consultar constantemente a agência. COMUNICAÇÃO Trata-se comunicação, neste momento, como a capacidade de dois equipamentos ou gadgets trocarem informações digitais, como ocorre no caso das tecnologias RFID. Os RFID's, ou Identificação por Rádio-Frequência, são comumente utilizados hoje para facilitar a localização e registro do caminho percorrido por um produto ao longo da cadeia de produção do mesmo. As chamadas etiquetas RFID podem ser acionadas por frequências e responder com informações pré-estabelecidas, podendo variar entre preços, cadastros pessoais, localizações, enfim, virtualmente qualquer informação textual e numérica. O custo das etiquetas vem caindo substancialmente nos últimos anos, chegando hoje a valores entre U$0,07 e U$0,2021. 20 Latência - Tempo decorrido entre dado comando emitido por um dispositivo eletrônico e a resposta do servidor. 21 RFID JOURNAL, FAQ. Disponível em <http://www.rfidjournal.com/faq/20/85> Acesso em 02 de abril de 2011.
  • 35. 35 Figura 7. - Etiqueta RFID (E) e uma possibilidade de uso, identificação de dados de forma gestual (D). O uso desta tecnologia de comunicação e identificação ganhou ainda mais importância com a possibilidade de associar implantes ou equipamentos do dia a dia como celulares e laptops com leitores de RFID's. Desta forma, o input de dados que seria feito manualmente, por exemplo, em supermercados ou participação de uma rede social online, passa a ser realizado de forma gestual ou simplesmente presencial. ACESSO CENTRALIZADO Mais do que uma tecnologia, o acesso centralizado é uma tendência que vem crescendo principalmente com a popularização das redes sociais. Com o crescente número de páginas da web requerendo cadastros e senhas a fim de apresentar conteúdo direcionado ao internauta, fortaleceram-se as políticas de interpolação de registros e conteúdo entre páginas onde aquelas com maior poder de atração de usuários. Este processo é verificado com o crescimento de serviços oferecidos na web que podem ser acessados com cadastro da rede social Facebook. De maneira similar, para gerar imagens de perfil para virtualmente qualquer website, pode-se utilizar um hospedeiro chamado Gravatar22; ainda, diversos grupos afiliam-se ao domínio da Google e disponibilizam seus serviços diretamente na loja virtual do grupo, centralizando toda a cadeia de acessos. Figura 7. - Fonte(E): <http://1.bp.blogspot.com/-haRPxkgpltU/TZccA5HAFsI/AAAAAAAAARw/ zGzQweyBlU8/s1600/rfid_card_reader.jpg> Acesso em: 06 de maio de 2011 Fonte (D): <http://www.stronglink.cn/images/rfidnews.jpg> Acesso em: 22 Gravatar - Disponível em <http://en.gravatar.com/>
  • 36. 36 Observando as cinco frentes apresentadas, traça-se uma tendência de produtos que estarão no mercado nos próximos anos, baseando-se tanto em tais tendências quanto nas curvas de desenvolvimento tecnológico de Moore. Tais produtos deverão apresentar, derivando-se dos exemplos apresentados: Mobilidade: tecnologias de captação, compartilhamento e visualização de dados deverão apresentar-se de forma a acompanharem o usuário durante todo o seu deslocamento geográfico. A popularização e barateamento dos pacotes de dados nos dispositivos móveis deverão criar mesh networks23·. Tais fenômenos, somados à alta conectividade entre os diferentes dispositivos pessoais, garantiriam a liberdade de deslocamento sem o comprometimento da captura e compartilhamento dos dados coletados. Multiplicidade Morfológica: assim como no caso da área médica, tais tecnologias irão apresentar-se nas mais variadas formas, em alguns casos visando desaparecer por completo da percepção do usuário e, em outros, convidando o usuário a participar na construção de conhecimento e interagir socialmente. Velocidade: a fim de garantir a melhor experiência possível e acesso rápido dos recursos informacionais, as tecnologias futuras serão capazes de realizar trocas de informações em tempo real, em oposição ao tempo desprendido com transferências por bluetooth ou infravermelho. Baixo Custo: os atuais baixos custos de certas tecnologias deverão reduzir-se ainda mais nas futuras, garantindo assim uma democratização tecnológica na qual todas as facetas da vida humana poderão ser beneficiadas pela presença de dispositivos de captação de dados. Centralização de Serviços: apesar de apresentarem-se em diversos tipos e formas de sensores diferentes, percebe-se uma tendência de que as leituras e dados coletados entre as diferentes tecnologias sejam, posteriormente à sua 23 Mesh Networks - Redes geradas a partir do uso de dispositivos móveis como roteadores a fim de ampliar a área de alcance de hotspots, garantindo maior cobertura e acesso. No exemplo citado, os diversos dispositivos que acompanhariam um indivíduo poderiam interconectar-se e utilizar a rede disponibilizada por um dispositivo móvel de acesso à rede.
  • 37. 37 captura, recentralizados em grupos de interesse para que nestas informações combinadas sejam encontrados padrões únicos a cada indivíduo. SPIMES Com a intenção de não criar uma nova terminologia para discriminar tais equipamentos e tecnologias futuras se utilizará o termo SPIMES, cunhado por Bruce Sterling. Nas palavras do próprio autor: "SPIMES são objetos manufaturados cujo suporte informacional é tão esmagadoramente extensivo e rico que eles são tratados como instanciações de um sistema imaterial. Eminentemente lavráveis de dados, SPIMES são os protagonistas de um processo histórico." (STERLING, 2005). O autor utiliza o termo em sua publicação como todo e qualquer produto que tenha em sua produção uma monitoração do processo de desenvolvimento, desde o início de sua confecção até seu descarte (ou retorno ao início do ciclo) e disponibilize as informações coletadas da vida do produto ao usuário. Sterling acredita que um produto que carregue em si toda sua história seja capaz de sanar parte da ansiedade informacional na qual a sociedade está mergulhada e, finalmente, instituir no consumidor um senso de responsabilidade em conhecer primeiramente todo o caminho percorrido pelo produto, se tal processo é legítimo e também convidá-los a participar ativamente na construção de mais informações sobre o tema que permeia o produto. A segunda leitura, que se alinha mais precisamente com o tema desenvolvido no presente trabalho, é a de que dadas as características de tais tecnologias, seria possível vivermos futuramente em uma sociedade onde a presença de SPIMES seria banalizada e todas as facetas da realidade humana poderiam ser metrificadas e comparadas em tempo real com as medições de toda a população igualmente equipada e monitorada. Não apenas os atributos biológicos, mas também sociocomportamentais, ambientais e econômicos poderiam ser permanentemente medidos uma vez escolhidos os parâmetros de comparação e implementação de SPIMES em tal monitoramento.
  • 38. 38 Pensando no exemplo citado anteriormente, do mercado financeiro e a famosa "mão invisível" de Adam Smith: "A mão do mercado era chamada de "invisível", pois Adam Smith tinha poucos modos de medi-la. Faltavam a Adam Smith as métricas. Métricas tornam as coisas visíveis. Em uma tecnosociedade de SPIMES quase tudo tem métricas. Seres humanos e seus objetos estão inundados de métricas... tornando seus mecanismos mais óbvios, dando-me um envolvimento e aproximando-os de meu alcance." Nos próximos capítulos, serão discutidas as questões sociais que poderão apresentar-se caso as tecnologias aqui preconizadas forem de fato introduzidas no mercado e na sociedade. Como tais tecnologias poderiam mudar o modo como nos relacionamos com outras pessoas, corporações, o Estado, tecnologia e informação.
  • 39. 39 REESTRUTURAÇÕES PROFISSIONAIS As relações profissionais parecem ser as primeiras a implementarem os serviços da intensificada computação pervasiva aqui trabalhada. Isto por que os ganhos econômicos que provém de um controle rígido das informações são controle geralmente suficientes para viabilizar tais implementações. A computação pervasiva, capaz de coletar dados em diferentes frentes e processá processá-los, poderia eximir certas profissões dos aspectos sistêmicos, analíticos com os quais os trabalhadores de tais setores tem de lidar. Tomemos o caso dos operadores de ações no mercado financeiro: Tais profissionais estão sempre verificando altas e quedas nos valores dos pro produtos com os quais trabalham e val valem-se de um repertório de signos estabelecidos com base em padrões de flutuação dos valores das ações. Figura 8.24- Construção de uma linguagem específica equivalente a informações conhecidas Estes profissionais precisam, além de conhecer todos os procedimentos técnicos, relacionar-se com seus clientes, investidores e, além disso tentar predizer disso, quais serão os movimentos de flutuação da economia. Sistemas computacionais capazes de acessar bancos de dados compilados ao longo dos anos são capazes bancos 24 Figura 8. - Fonte: <http://i29.tinypic.com/t9885e.jpg> Acesso em: 06 de maio de 2011
  • 40. 40 de apontar em questão de segundos quais são os saltos mais prováveis nos valores de ações, baseados em eventos passados. Por exemplo, em um gráfico da evolução anual do preço da saca de soja deseja-se saber quais as projeções prováveis para os próximos dias. Figura 9.25- Sistemas computacionais identificam os padrões e analisam em segundos se os mesmos se repetem através do tempo, apresentando ao usuário análises gráficas de tais padrões e possível projeção. Um sistema com acesso a bancos de dados tais como histórico do mercado financeiro dos últimos 40 anos para este produto, relatórios de safra (produção), demanda de mercado e quaisquer outras variáveis pertinentes poderia realizar uma previsão de valores futuros consideravelmente mais acurados do que um profissional que não é naturalmente equipado para lidar com tantas variáveis ao mesmo tempo. Não se elimina neste processo, no entanto, a experiência, malícia, o chamado feeling do operador experiente. O sistema aqui citado poderia auxiliar o profissional e, em dado momento, até mesmo obter certo grau de autonomia, administrando operações de baixo risco ou demasiado analíticas. 25 Figura 9. - Fonte: < http://images.tradingmarkets.com/2009/Howto/0227Logan7.jpg> Acesso em: 06 de maio de 2011
  • 41. 41 Com a possibilidade de outsourcing26 das capacidades de processamento de dados para os computadores e o aumento nas fontes dos dados computados, poderá ocorrer um processo de abertura das profissões às questões vocacionais, isto é, a escolha do trabalho estaria muito mais alinhada às áreas de interesse do profissional, uma vez que este teria empenho maior nas atividades desenvolvidas. Tal processo é parcialmente fundamentado pelo modelo de negócios desenvolvido pela InnoCentive27. Esta empresa oferece remuneração pela solução de problemas apresentados por diversos segmentos de mercado, funcionando como uma ponte entre as corporações e os profissionais ou amadores interessados espalhados pelo mundo. Pessoas das mais variadas formações acadêmicas participam dos desafios por interessarem-se pelo tema dos mesmos (HOWE, 2008) 28 . Apesar da remuneração oferecida, algumas pessoas adotam uma postura de hobby e muitas vezes gastam mais com seus experimentos do que ganhariam se apresentassem a solução remunerada; extrapolando, então, a idéia do amador apaixonado, esperariase um melhor desempenho por parte dos profissionais apaixonados. Além disso, este outsourcing permitiria também um deslocamento criativo por parte do profissional, isto é, o isentaria de lidar com as questões fundamentalmente analíticas de seu trabalho. Tabulação de dados, associações de variáveis, acesso a bancos informacionais, tais tarefas poderiam ser realizadas por sistemas computacionais, dando ao especialista a liberdade de operar em níveis mais humanizados. Por exemplo, um médico poderia passar a interpretar as relações que lhe fossem apresentadas com maior segurança e adequar os possíveis cenários apontados pelas análises sistêmicas às realidades de seus pacientes. Analogamente, o operador da bolsa, munido de respostas rápidas aos inquéritos sobre ações e históricos das mesmas, poderia traçar planos de investimento que se adequassem aos interesses específicos e riscos que seus investidores se permitem correr. 26 Outsourcing - Tradicionalmente implica na contratação de mão-de-obra externa à empresa. No contexto do trabalho significa delegar aos sistemas computacionais tarefas de elevado coeficiente analítico como processamento de dados, planilhas, etc. 27 InnoCentive - Disponível em <http://www.innocentive.com/about-innocentive> 28 HOWE, Jeff. Crowdsourcing: Why the power of the crowd is driving the future of business. New York: Crown Business, 2008
  • 42. 42 O profissional passaria então de um monitor das variações mercadológicas (analítico) a um facilitador do ingresso de leigos no mercado financeiro (emotivo), trabalhando a volição de seus clientes a fim de tornar tal ingresso o mais natural e humano possível. Por outro lado, a facilidade em verificar escolhas, perfis cognitivos e leituras biológicas poderia facilitar o aparecimento de processos de determinismo genético, comportamental ou vocacional. Na amplamente conhecida distopia apresentada no filme GATTACA29, observa-se a história de um indivíduo que luta contra um sistema estruturado por políticas de eugenia e determinismos genéticos, alimentado por seu desejo em tornar-se um astronauta. Caso a computação pervasiva torne possível o mapeamento de ações e aptidões individuais e consiga gerar projeções de tais habilidades, é importante considerar a emergência de políticas deterministas, limitando o acesso de certos indivíduos a atividades, simplesmente por não possuírem perfis comportamentais ou genéticos desejáveis. Além disso, deve-se considerar também que durante todo o processo de disseminação e inclusão das populações periféricas às tecnologias citadas, os early adopters, aqueles que teriam acesso antecipado a tais recursos, ganham uma vantagem operacional jamais antes vista. Atingir a pervasividade computacional apenas nas camadas ricas da população significaria alargar o vale que se coloca entre os ricos capacitados e equipados e a população das periferias tecnológicas. A partir de tais ponderamentos, podemos iniciar um questionamento do quanto a intensificação e adoção das tecnologias sensoriais poderia afetar as interações humanas fundamentais e não apenas as profissionais. A seguir, serão abordadas as relações entre o monitoramento e seus efeitos psicológicos no homem. 29 NICCOL, Andrew. GATTACA. Culver City: Columbia Pictures, 1997
  • 43. 43 PANÓPTICO E MONITORAMENTO Após estipular a distância cronológica até onde se deseja projetar, verificar as viabilidades econômicas e cognitivas (determinar os saltos conceituais e inovações por ruptura que não comprometam a compreensão de usabilidade por parte do usuário) e determinar as diversas bases teóricas sobre as quais estarão apoiadas projeções, começa-se a ponderar quais os possíveis desdobramentos sociais, econômicos, psicológicos, comportamentais, etc. Vimos anteriormente que certas tecnologias computacionais pervasivas já se apresentam hoje no mercado e, baseado nas propostas e análises de Kurzweil ou na lei de Moore, podemos extrapolar que sua multiplicação e massificação devem acelerar-se no futuro próximo. A seguir, apresenta-se desejável uma verificação de como esta tecnologia poderia desencadear não apenas processos de organização dos elementos da complexidade humana e emergenciais, mas também criar mecanismos de monitoramento e controle das massas. Considerando o cenário que viemos construindo nos últimos capítulos: a quantidade de dispositivos presentes no cotidiano humano gerando dados e lançando-os na rede configuraria uma espécie de mapa de atividades mais completo, porém não tão diferente em essência daqueles que poderiam ser produzidos com a organização dos dados disponíveis em redes sociais do presente tempo, tais como Foursquare30, Getglue31 e o gigante Facebook. Disponibilizar informações tais como posicionamento geográfico, hábitos de consumo, atualizações de perfis médicos, históricos de atividades e relações profissionais, entre outros, garantiria que o indivíduo "hospedeiro" de tais tecnologias pudesse ser constantemente monitorado. 30 Foursquare - Rede/jogo social de exploração urbana. Os usuários disponibilizam sua posição geográfica a fim de ganhar pontuações por assiduidade, novas localidades e, ao mesmo tempo, partilhar com amigos seus destinos, facilitando encontros. Disponível em < https://foursquare.com/> 31 Getglue - Rede social de compartilhamento de tópicos de interesse. Podem ser escolhidos filmes, músicas, livros e páginas específicas como Wikipédia e Amazon. Disponível em <http://getglue.com/>
  • 44. 44 Figura 10.32- Foursquare: mapa da cidade contendo informações específicas da posição apa geográfica de cada amigo do usuário Possibilidade de monitorar padrões de movimentação usuário. e consumo de grupos de consumidores. Consideram-se, então duas possibilidades: na primeira delas toda a então, a delas, informação gerada seria sigilosa e processada por organizações ou o próprio estado. Dispensa-se a necessidade de mencionar os riscos de imbuir a oligarquias se mencionar tais poderes de observação e controle da informação. Um cenário similar a este é apresentado no famoso trabalho de George Orwell, “1984”, onde o estado se fazia , presente, ainda que em alguns momentos apenas como uma aura de presença uma onipresente. Na segunda, o monitoramento poderia ser perpetuado pela própria população, isto é, a informação não mais seria centralizada por empresas ou governos e poderia ser acessada por qualquer pessoa que tivesse a intenção de relac relacionar-se com o indivíduo observado. Tanto o cenário orweliano quanto o segundo foram extensivamente explorados por David Brin em seu livro A Sociedade Transparente (1998) discutindo (1998), qual seria o melhor modelo de monitoramento para configurar uma socieda sociedade no qual os interesses do grupo são atendidos sem subjugar a privacidade individual. Figura 10. - Fonte: <http://www.bing.com/community/cfs filesystemfile.ashx/__key <http://www.bing.com/community/cfs-filesystemfile.ashx/__key /CommunityServer-Blogs-Components Components-WeblogFiles/search metablogapi/6232.foursquare2_5F00_39E19EB2.jpg> Acesso em: 11 de maio de 2011
  • 45. 45 Brin apresenta ainda que para alcançar-se uma realidade na qual a informação é um bem comum a todos, os detentores dos recursos de monitoramento devem também ser monitorados pela sociedade. Discutir-se-á mais as questões éticas envolvidas em tal tema nos próximos capítulos, voltando, então, à questão do monitoramento constante ou ainda a aura gerada pelos dispositivos que constituiriam a computação pervasiva. Pensemos nos desdobramentos psicológicos que tais mecanismos seriam capazes de desencadear na população: independente do modelo adotado ou possíveis variações dos mesmos, poderíamos considerar que um indivíduo - fonte perpétua de informações passíveis de serem acessadas por uma entidade sem face (organizações ou população) - estaria inserido em um Panopticon moderno, uma vez que as leituras realizadas ainda seriam singulares, livres de interferência focal, e permaneceria como objeto de estudo que poderia ser catalogado, comparado ou metrificado assim como no modelo original de Bentham. Ao mesmo tempo, não podemos ignorar que a consciência da presença de um observador perene instaura no indivíduo observado uma consciência de autocontrole. A evolução do modelo panóptico apareceria, então, na remoção da estrutura arquitetônica estática do Panopticon original, garantindo assim uma melhor observação não somente das características isoladas dos visualizados, mas também de suas relações com o meio. O autocontrole citado configura o temido behaviorismo descrito por Foucault em sua publicação Disciplina e Punição, na qual descreve: [...] porque nessas condições sua força é tal que ele nunca intervém, é exercida espontaneamente e sem ruído (...) Porque, sem qualquer instrumento físico além da arquitetura, age diretamente sobre os indivíduos, concede o "poder da mente sobre a mente [...] (FOUCAULT, 1979, p.206). Tendo consciência de que está sendo observado, o indivíduo acaba por tomar decisões direcionadas a fim de aparentar possuir uma postura ética ou ainda para evitar possíveis punições, caso seja verificado um erro ou desvio de caráter.
  • 46. 46 DISPONIBILIZAÇÃO vs CONTROLE DA INFORMAÇÃO Como abordado no capítulo anterior, além de considerar como as relações sociais e comportamentais podem ser alteradas, faz-se importante considerarmos como podem também se modificar as relações econômicas e políticas quando afetadas por desdobramentos tecnológicos ou projetuais. Retomemos nosso cenário-exemplo; anteriormente, discutiu-se as possibilidades de controle exclusivo por parte de organizações ou, de forma inversa, o livre acesso por parte da população dos dados gerados e processados pela rede computacional pervasiva e suas implicações comportamentais. Pensemos agora nas questões éticas e mercadológicas que tal escolha poderia influenciar. Voltemos ao primeiro modelo: empresas e governos controlando o fluxo de informações. Neste caso, verificamos uma possibilidade de perpetuação de modelos similares aos que existem hoje nas mídias; o controle da informação confere a tais organizações a capacidade de orientar a população e suas escolhas, determinando como a mesma atinge as massas. O filtro tendencioso que se forma em alguns destes veículos de notícias e informação é frequentemente responsável pela alteração de hábitos de consumo e até mesmo resultados de eleições e plebiscitos. Um modelo intermediário às mídias tradicionais e ao aqui discutido é o adotado pela Amazon, Google e afins. Nestes exemplos, temos todos os dados de navegação, compras, acessos e até mesmo e-mails, considerados sigilosos, contribuindo para a construção de um perfil digital do indivíduo. No caso do primeiro citado, tais dados ficam restritos a preferências em literatura, música, tecnologia; já no segundo, observamos uma tendência ao completo mapeamento do usuário. Os responsáveis pelo serviço já demonstraram em diversas ocasiões sua crença na potencialidade emergencial da rede que criaram e continuam a aprimorar. Podemos dizer que o Google foi a primeira empresa de grande porte a se estabelecer no mercado assumindo tal postura. Não podemos esquecer, no entanto, que o Google é, no final das contas, uma empresa e sua meta é a maior receita possível, ainda que seu lema seja "don't be evil". Considerando a quantidade de usuários que possui e a forma como opera,
  • 47. 47 pode-se esperar que a empresa já possua quantidades massivas de informação relativas a hábitos de consumo, interesses (pela quantificação dos temas em seu site de buscas), mapeamentos demográficos (sociais, geográficos, culturais, etc.) e até mesmo tempo e rotas de trânsito. Em primeira instância, o conhecimento não compartilhado de tais dados não se apresenta merecedor de preocupação, mas não se deve esquecer que se tratando de corporações que buscam lucro acima de tudo, estes passam a utilizar-se de mecanismos de oferta e associação de interesses para garantir a assiduidade dos consumidores. Novamente, tal comodidade não parece impactar negativamente o consumidor. Isso só começa a acontecer, de maneira quase imperceptível, quando observamos tal fenômeno pela lente da variabilidade. Quando ofertados produtos que se aproximam àqueles já comprados e aos quais respondemos positivamente, temos maiores chances de aderir à compra. Pensemos, então, na seguinte questão: se for oferecido apenas aquilo que tem grandes chances de nos agradar, ocorre um decréscimo na variabilidade nos padrões de consumo individuais. Com a praticidade das compras por domicílio, somada às ofertas dirigidas, deixamos de nos deparar com o inesperado, podendo, então, prejudicar a variabilidade das experiências e relacionamentos de um indivíduo, resultando em pessoas superespecializadas e alienadas vivendo nos chamados filter bubbles33. No segundo caso descrito, com o livre acesso das informações por parte de qualquer indivíduo, verificamos uma maior transparência no modus operandi, mas os riscos poderiam ser igualmente latentes. Acesso descontrolado às informações de cada pessoa poderia configurar uma quebra da privacidade individual, disponibilizar informações sensíveis a grupos mal intencionados e até mesmo afetar o modo como um indivíduo trabalha e vive. 33 PARISER, Eli. Beware online "filter bubbles". Disponível em <http://www.ted.com/talks/eli_pariser_beware_online_filter_bubbles.html> Acesso em 15 de maio de 2011.
  • 48. 48 Pensando novamente na argumentação do livro A Sociedade Transparente, podemos pensar nas questões de subvisão34 em oposição a monitoramento como a possibilidade de não mais possuir tecnologias que compartilhem os dados coletados, mas apenas metrifiquem o ser humano em sua realidade, apresentando ao usuário de tais tecnologias as leituras parametrizadas de suas ações, criando assim mecanismos de autoconhecimento. Ao retirar-se da rede global, no entanto, renuncia-se também a possibilidade de ganho com a comparação e observação das relações estabelecidas com o meio. Se tal modelo de leituras introspectivas fosse vigente, um corredor que somente verifica seus resultados de tempo, desempenho etc., perderia a oportunidade de comparar-se com os demais atletas de sua categoria ou; um paciente que não tem seus quadros clínicos comparados com todos os demais da rede se exclui do processo de emergência de novos tratamentos ou melhor exploração de suas maleficências. Independente da escolha por monitoramento aberto ou subvisão, poderia intensificar-se um processo já discutido no capítulo anterior: o behaviorismo, neste caso, reativo, isto é, o indivíduo seria constantemente confrontado por suas escolhas e sua realidade e poderia então tentar adequar-se. Em oposição aos mecanismos citados anteriormente, aqui a pessoa não necessariamente toma suas decisões por medo de estar sendo observada (isto poderia ocorrer apenas no primeiro modelo), mas pela pressão gerada ao ser confrontado com seus desvios de comportamento, maus hábitos ou baixas performances profissionais. Obviamente, admitir a completa dominação de tal behaviorismo seria leviano, uma vez que somos hoje confrontados com nossos maus hábitos e nem por isso os mudamos. Qual modelo seria então ótimo, visando tanto a inserção na rede quanto a proteção da privacidade de seus usuários? Aparentemente a conjugação de sistemas de organização em árvore e rizoma (VASSÃO, 2010) seria uma boa saída; um indivíduo poderia inserir-se na rede como uma fonte anônima de dados, 34 Subvisão - O autor utiliza o termo sousveillance (subvisão) como oposição ao termo sourveillance (monitoramento) para discutir o processo de automonitoramento por parte do indivíduo versus a opressora prática do monitoramento imposto por estruturas superiores de poder político.
  • 49. 49 interligando-se de maneira rizomática aos outros, ao mesmo tempo em que se formam estruturas de hierarquia axial onde certos grupos de informações podem ser aproveitados, novamente de forma anônima, para traçar guias e mapas demográficos aos governos e empresas que possam desfrutar de tais leituras. Uma segunda forma de colaboração não anônima seria responsável por geração de informação e contribuiria para a estruturação de uma rede construída a partir da multiplicidade de leituras e experiências compartilhadas de seus usuários. O capítulo seguinte irá tratar do modo como as pessoas poderiam relacionar-se com a informação e produzir conteúdos complementares no futuro.
  • 50. 50 ACESSO E COLABORAÇÃO Após pensar nos possíveis modelos de acesso à informação gerada pelos dispositivos de computação pervasiva, é importante pensar como esta informação poderia ser trabalhada. O potencial uso do banco de dados gerado é enorme e exploraremos algumas destas potencialidades a seguir. Como visto anteriormente, a presença dos SPIMES em nossas vidas seria determinante no processo de metrificação de diversas características e relações humanas. Tomemos como exemplo o quadro clínico de uma paciente com osteoporose: A paciente A sofre de osteoporose tipo 1, mais comumente encontrada em mulheres que passaram pela menopausa ou tiveram seus ovários removidos. Tal paciente, não apresentando tais características, é testada para alterações hormonais e, novamente, não apresenta quaisquer indícios de anormalidade. Caso esta paciente tivesse todas as suas leituras e metrificações disponíveis na rede, tanto as médicas quanto as demais, poderia-se encontrar rapidamente através de buscas pela rede e utilizando-se de certos parâmetros outros casos similares. Através da proximidade de perfis e dos dados coletados ao longo do tempo, poderia-se então determinar com maior segurança quais as causas de tal quadro clínico e possivelmente quais tratamentos apresentaram melhores resultados para mulheres detentoras de perfis similares aos da paciente A. A produção de informação e o cruzamento de dados não são determinantes para que se construa conhecimento sobre a mesma. Hoje, já se encontram na rede digital imensuráveis quantidades de informação, mas certas limitações dificultam o acesso e a visualização de tais dados. Computadores são extremamente eficazes em lidar com planilhas de números e operações matemáticas, mas não são capazes de dar significado e importância para tais conjuntos de dados, já o homem é muito melhor equipado para compreender compilações de tais informações e fazer juízo das mesmas, mas não tem como buscar toda a rede por fragmentos pertencentes a cada tema e conectá-los. Se o conhecimento é gerado somente após a compreensão e reflexão dos dados apreendidos pela cognição humana, no futuro a rede deverá reinventar-se a fim de garantir tempos de cognição mais baixos, facilitando o processo de aprendizado e fluência por parte de seus usuários. Um exemplo a ser seguido é o de Hans Rosling, que desenvolveu juntamente com a organização que fundou em 2005, Gapminder Foundation, o software de
  • 51. 51 visualização e manipulação de dados chamado Trendalyzer. Utilizado principalmente pulação para processar dados fornecidos pela ONU, o software é hoje utilizado em palestras e universidades para mostrar as mudanças ocorridas em 498 diferentes parâmetros sociais através do tempo em todos os países onde tais informações foram coletadas. todos Figura 11.35 Quadro gerado a partir de dados coletados pela ONU Figura 12. - Os mesmos dados apresentados de forma manipulável e gráfica. Figura 11. - Fonte: <http://www.un.org/esa/population/publications/worldag <http://www.un.org/esa/population/publications/worldageing 19502050/> Acesso em: 13 de maio de 2011. Figura 12. - Fonte: Captura de tela do software GapMinder
  • 52. 52 Extrapolando o comendável exemplo de Rosling e imaginando a potencialidade em captura de dados que as tecnologias pervasivas possuem, poderiam ser gerados gráficos em tempo real das condições e leituras globais de dado parâmetro, produzindo, assim, fontes de dados sempre atualizadas que poderiam, assim como no caso do Gapminder, ser filtradas para maiores níveis de compreensão do assunto. A reestruturação dos mecanismos de visualização da informação gerada e construída de maneira organizada na rede junto com as intenções (já expressadas pela comunidade virtual) de configuração de uma web semântica36, a computação pervasiva e os modelos de acesso e participação discutidos nos capítulos anteriores poderiam gerar uma poderosa ferramenta de aprendizado na qual cada indivíduo é fonte anônima para dados estatísticos e construção de gráficos e listagens demográficas e pode ainda participar como colaborador ativo ou observador. Exploremos com maior profundidade tal mecanismo: um indivíduo poderia participar do processo de produção e visualização de informação em três momentos: primeiro como fonte anônima de dados frios, estatísticos, que fundamentam uma base informacional. A seguir, sobre estes dados organizados e bem apresentados pode-se construir novos conhecimentos, enriquecidos pelas experiências individuais e repertórios específicos de cada indivíduo. Diferentemente do primeiro nível de produção informacional, neste momento a informação disponibilizada pelo usuário tem caráter autoral e pode ser rastreada até sua fonte. Finalmente, todos os participantes da construção de tais clusters de dados poderiam visualizar não só toda a informação, navegando ao redor das múltiplas facetas da mesma, mas também identificar como tais facetas se inter-relacionam sem a necessidade de desconstruí-la ou remover sua complexidade, mas endereçando seu foco de forma cirúrgica ou abrangente. A este processo damos aqui o nome de Inversão Panóptica, fazendo referência à questão do monitoramento descrito por Foucault. 36 Web semântica - Desdobramento da rede atual na qual ocorre a construção de mecanismos que ajudarão as maquinas a tornarem-se capazes de semantizar termos e interpretar tais semânticas a fim de facilitar o diálogo entre humanos e computadores.
  • 53. 53 Se no modelo original do filósofo temos um indivíduo centralizado, capaz de observar todos os demais constituintes do modelo, neste caso temos, em um primeiro momento, uma leitura informacional centralizada, formada pela contribuição e leituras paramétricas de cada um dos indivíduos que participam ativa ou passivamente do processo de construção de tal modelo digital. Figura 13. - Construção da Informação em dois momentos. - Momento 1: Leitura fria de dados compartilhada de maneira anônima, colaborando apenas na construção de bancos de dados estatísticos. / Momento 2: Participação voluntária de indivíduos que desejam partilhar conhecimento de forma autoral. Neste processo, temos também a possibilidade de um observador interessado em expandir seu conhecimento sobre dado assunto, destacar-se das camadas externas e, em um processo de inversão da arquitetura tradicional, colocar-se como o ponto central do modelo e planificar a informação ao seu redor, de maneira que tal indivíduo passe a ter uma visão total daquele tema.
  • 54. 54 Figura 14. – No terceiro momento o indivíduo se posiciona ao centro de toda a informação construída, podendo visualizá-la de forma planificada. A importância do aparecimento de tal processo se justifica com o final desdobramento descrito neste ensaio: o processo de retroalimentação da informação, não mais de maneira desordenada, mas completamente regimentada, dentro de uma rede escusa da caótica versão atual. Tal retroalimentação permitiria que, a partir da observação de dados atributos (leituras e metrificações), qualificação dos mesmos (comparação e tabulação) e uso experimental e sistêmico dos mesmos (semantização e construção de julgamento), se imbuiria à população o poder para tomar decisões informadas e responsáveis.
  • 55. 55 CONCLUSÃO Da mesma forma que a discussão da sustentabilidade ganhou forças e foi absorvida para o exercício do Design, espera-se que ocorra uma sensibilização da comunidade profissional, para que possam ser desenvolvidos serviços e produtos com superiores índices de comprometimento com os efeitos que tais propostas desencadeiam, levando em conta a presença da complexidade presente nas relações humanas. Pensando no exemplo trabalhado, foram apresentadas maneiras de como tendências poderiam ser identificadas, projetadas e como a combinação das mesmas indicaria caminhos para a inovação projetual. A seguir, foram avaliadas algumas das possíveis mudanças sociais, econômicas e comportamentais que poderiam se configurar nos macro cenários pensados. Além disso, foram consideradas questões éticas e até mesmo possíveis quebras de paradigma gerados pela implementação do serviço ou tecnologia escolhidos no início do estudo. Independentemente da concretização dos cenários apresentados, o exercício de tentar pensar tão a frente do tempo atual nos prepara para os conflitos e discussões que surgirão eventualmente, uma vez que tal ensaio é construído sobre ampla base de temas e ciências. Reforça-se, então, a validade do exercício aqui proposto, principalmente nos setores de inovação empresarial. Ajudar os departamentos de desenvolvimento de projetos a identificar as tendências corretas e realizar construções bem estruturadas poderia garantir que dada empresa se posicionasse de forma diferente no mercado, preparando-se para possíveis novas demandas por produtos e serviços. Tal posicionamento seria instrumental para garantir a vantagem da empresa sobre seus concorrentes. Compreende-se que o final do trabalho não configura uma proposta amarrada, hermética, completamente estruturada de metodologia em construção de
  • 56. 56 cenários futuros, mas sim um levantamento da importância de tal prática para as questões projetuais de design. O resultado foi, na realidade, o início do desenvolvimento de uma metodologia que auxilie o processo de criação de cenários futuros e a mesma deverá ser aprimorada e estruturada em futuros estudos acerca do tema. Finalmente, acredita-se que os procedimentos aqui tratados poderiam beneficiar extensivamente o modo como se desenvolvem projetos de design e como se dá o posicionamento estratégico empresarial e, portanto, merecem maior atenção tanto por parte dos designers que serão responsáveis por construir os cenários quanto pelas empresas que deverão, após a compreensão e validade do exercício, buscar profissionais capazes de apresentar cenários possíveis e bem estruturados.
  • 57. 57 BIBLIOGRAFIA BASALLA, George. The Evolution of Technology. Cambridge: Cambridge University Press, 1989 BONSIEPE, Gui. A Tecnologia da Tecnologia. São Paulo: Edgard Blücher, 1983 BRIN, David. The Transparent Society: Will Technology Force Us To Choose Between Privacy And Freedom?. New York: Basic Books, 1999 DAMASIO, Antonio. Descartes' Error: Emotion, Reason, and the Human Brain. New York: Penguin, 1995, ISBN: 014303622X DICK, Richard S, STEEN, Elaine B. et al. The Computer-Based Patient Record. Washington: National Academies Press, 1997 FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. 28Ed. São Paulo: Graal, 2008 ______. Discipline and Punish: The Birth of the Prison. New York: Vintage, 1979 HOWE, Jeff. Crowdsourcing: Why the power of the crowd is driving the future of business. New York: Crown Business, 2008 JOHNSON, Steven. Emergência - A vida interligada de formigas, cérebros, cidades e softwares. Rio de Janeiro: Zahar, 2001 KELLY, Kevin. What Technology Wants. New York: Viking Adult, 2010 KURZWEIL, Ray. The Singularity is Near: When Humans Transcend Biology. New York: Penguin, 2006 MARQUES, Isaac R., SOUZA, Agnaldo R. de. Tecnologia e Humanização em Ambientes Intensivos. Brasília: Rev Bras Enferm, 2010; 63, 141-4. MORIN, Edgar. Introdução ao Pensamento Complexo. Porto Alegre: Sulina, 2005 MUNARI, Bruno. Das coisas nascem coisas. Lisboa: Edições 70, 1998. New York: United Nations Publications, 2001, ISBN 92-1-051092-5 NORMAN, Donald A. Design of Everyday Things, The. Doubleday Business, 1990
  • 58. 58 ______. Emotional Design: Why We Love (or Hate) Everyday Things. New York: Basic Books, 2005 ______. The Design of Future Things. New York: Basic Books, 2009 ______. Living with Complexity. Massachusetts: The MIT Press, 2010 PAPANEK, Victor. Design for the real world. London: Thames & Hudson, 2000. PENN, Mark; ZALESNE, E. Kinney. Microtrends: The small forces behind tomorrow's big changes. New York: Twelve, 2007 REEVES, Byron; READ, J. Leighton. Total Engagement: Using games and virtual worlds to change the way people work and businesses compete. Cambridge, Massachusetts: Harvard Business School Press, 2009 STERLING, Bruce. Shaping Things. Cambridge: The MIT Press, 2005 THINK QUARTERLY, Think Data. Londres: The Church of London, 2011 UNITED NATIONS. World Population Ageing: 1950-2050. VASSÃO, Caio Adorno. Metadesign. São Paulo: Blucher, 2010 WURMAN, Richard Saul. Information Anxiety. New York: Doubleday, 1989 ______. Information Anxiety 2. Indianapolis: Que Publishing, 2000
  • 59. 59 WEBGRAFIA ARIELY, Dan. Are we in control of our own decisions? Disponível em <http://www.ted.com/talks/dan_ariely_asks_are_we_in_control_of_our_own_decision s.html> Acesso em 03 de maio de 2011 BARROW, John: Not Just About the Disponível Numbers. em <http://fora.tv/2008/10/09/John_Barrow_Not_Just_About_the_Numbers> Acesso em 03 de maio de 2011 DIGINFO TV, Implantable blood sugar sensor - Disponível em <http://www.diginfo.tv/2010/08/06/10-0141-r-en.php> Acesso em 21 de março de 2011. JOHNSON, Steven. Where good ideas come from. Disponível em: <http://www.ted.com/talks/steven_johnson_where_good_ideas_come_from.html> Acesso em: 03 de maio de 2011 KELLY, Kevin. Increasing Specialization. Disponível em <http://www.kk.org/thetechnium/archives/2009/05/increasing_spec.php> Acesso em 02 de abril de 2011. ______ - Increasing Diversity. Disponível em <http://www.kk.org/ thetechnium/archives/2009/05/increasing_dive.php> Acesso em 02 de abril de 2011 ______ - Increasing Ubiquity. Disponível em: <http://www.kk.org/ thetechnium/archives/2009/05/increasing_ubiq.php> Acesso em 02 de abril de 2011 KOBLIN, Aaron. New York Talk Exchange. Disponível <http://www.aaronkoblin.com/work.html> Acesso em 10 de maio de 2011 em
  • 60. 60 PARISER, Eli. Beware online "filter bubbles". Disponível <http://www.ted.com/talks/eli_pariser_beware_online_filter_bubbles.html> em Acesso em 15 de maio de 2011 RFID JOURNAL, FAQ. Disponível em <http://www.rfidjournal.com/faq/20/85> Acesso em 02 de abril de 2011. ROY, Deb. The birth of a word. Disponível em <http://www.ted.com/talks/deb_roy_the_birth_of_a_word.html> Acesso em 20 de março de 2011 Star Logo. Disponível em: <http://education.mit.edu/starlogo/> Acesso em 15 de março de 2011. TRENDSMAP, Real time local twitter trends. Disponível em <http://trendsmap.com/> Acesso em 03 de março de 2011. TRIMET, Public Transportation for Portland. Disponível em < http://trimet.org/> Acesso em 15 de março de 2011. UNIVERSITY OF CALGARY, Microfluids - Disponível em <http://www.ucalgary.ca/news/february2011/microfluids> Acesso em 21 de março de 2011.