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IGREJA METODISTA
Igreja Episcopal                               Efésios 4.1-4, 15-16


                                               Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro do Senhor, que andeis
                                               de modo digno da vocação a que fostes chamados,


                                               com toda humildade e mansidão, com longanimidade,
       PASTORAL SOBRE A
                                               suportando-vos uns aos outros em amor.

    DOUTRINA DO ESPÍRITO
                                               esforçando-vos     diligentemente   por   preservar   a
    SANTO E O MOVIMENTO                        unidade do Espírito no vinculo da paz.


              CARISMÁTICO                      Há somente um corpo e um Espírito, como também
                                               fostes chamados numa só esperança da vossa vocação;


                                               Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo
                                               naquele que é o cabeça, Cristo, de quem todo o corpo,
Série “Documentos” – 2
                                               bem ajustado e consolidado, pelo auxilio de toda junta,
Departamento Editorial da Imprensa Metodista
                                               segundo a justa cooperação de cada parte, afetua o seu
Av. Senador Vergueiro, 1301
                                               próprio aumento para a edificação de si mesmo em
São Bernardo do Campo – SP
                                               amor.
num ímpeto colossal do Espírito de Deus, em pleno
   PASTORAL SOBRE A DOUTRINA DO ESPÍRITO                  século XVIII, o metodismo chegou até nós, em nossos
        SANTO E O MOVIMENTO CARISMÁTICO                   dias, pelo testemunho de mulheres e homens fiéis à
                                                          vocação de “espalhar a santidade de Deus por toda a
   Nós, os Bispos da Igreja Metodista, chamados por       terra” e à convicção de que “o mundo é a nossa
Deus e pela Igreja, para apascentarmos o seu rebanho,     paróquia”.
preocupados com a preservação da unidade do espírito
no vínculo da paz, às igrejas do povo chamado metodista      Com João Wesley, reconhecemos que o “metodista é
apresentamos esta pastoral sobre a doutrina do Espírito   alguém que, pelo Espírito Santo, tem o amor de Deus em
Santo e as questões levantadas pela irrupção do           seu coração, com toda a sua alma, com todo o seu
movimento carismático nas comunidades evangélicas         entendimento e força” (Marcas de um metodista).
tradicionais, inclusive as nossas.
                                                             Com Bispos eleitos pela Igreja, reafirmamos nossa
   Graças a todos os irmãos e irmãs, membros leigos e     comunhão com os membros do XII Concílio Geral da
clérigos, e paz da parte do Senhor Jesus e de Deus        Igreja Metodista, reunidos em Piracicaba, um dos berços
nosso Pai, a quem, na unidade do Espírito Santo, seja a   do metodismo brasileiro, e proclamamos que “a Igreja só
honra, e a glória, e o louvor, pelos séculos sem fim.     é Igreja quando revestida e orientada e, poderosamente
Amém!                                                     fortalecida no Espírito Santo. Na presença, orientação,
                                                          capacitação e poder do Espírito Santo a Igreja cumpre a
   Damos graças a Deus pela ação de Deus na vida do       missão... A Igreja Metodista no Brasil reconhece que
movimento metodista. Nascido no coração dos Wesley,       tudo na fé cristã depende da presença e ação do Espírito
Santo...; daí a urgente necessidade de o povo de Deus        Salvador. Mediante a concessão dos dons do Espírito,
estar sensível à ação do Espírito Santo, e tudo fazer para   Deus em Cristo edifica a sua Igreja, capacitando-a para a
não se tornar, consciente ou inconscientemente, uma          evangelização do mundo. É importante relembrarmos
pedra de tropeço ao Espírito Santo”. (Plano Quadrienal.      aqui um dos fundamentos de nossa herança protestante
Bases Teológicas n.º 17).                                    e evangélica – o sacerdócio universal de todos os
                                                             crentes. O ministério de Cristo, compartilhado por sua
   Reafirmamos, ainda, nossa comunhão com os irmãos          Igreja, é comunitário e não individual, pois todos os
bispos que no passado instruíram o povo metodista            cristãos são chamados a participar sem quaisquer
sobre a pessoa e a ação do Espírito Santo através de         discriminações na ação salvífica de Deus em Jesus
edificantes pastorais. O documento que ora oferecemos        Cristo (1Pe 2.1-10; cf. Ex 19.6; Nm 11.29; Cl 3.9-11).
à consideração de nossa Igreja aprofunda o ensino
anterior e o considera à luz de uma problemática                Reafirmamos, também, que ao expormos à Igreja
específica:   as questões levantadas pelo chamado            nossa orientações sobre a Doutrina do Espírito Santo e o
movimento carismático.                                       movimento carismático, buscamos seguir os critérios
                                                             wesleyanos para o exame de doutrinas e costumes que
   Entendemos que a expressão é carismática é pobre          careçam de orientação adequada dentro da nossa
quando se refere a uma determinada experiência de            comunidade:
alguns cristãos, pois, segundo o ensino bíblico, todo
cristão é carismático, na medida em que os dons de              - o testemunho da Palavra de Deus escrita;
Deus são extensivos aos cristãos indistintamente e onde         - o testemunho da tradição viva da Igreja, em outros
quer que Jesus Cristo seja confessado como Senhor e          tempos, lugares e confissões;
- a experiência pessoal dos cristãos;                  pastores e leigos, estejam em perfeita, completa e total
   - e o uso da razão, meio pelo qual também              comunhão e unidade com a Igreja: conosco, os bispos da
compreendemos a revelação divina.                         Igreja, com todos os pastores e pastoras, e com todo o
                                                          povo metodista. Temos a certeza de que com tal espírito
   Como herdeiros do Pentecostes do século XVIII, o       e determinação, o ardor e entusiasmo providos pela
movimento conduzido por Deus através dos irmãos           experiência    chamada        carismática   servirão     para   a
Wesley, fiéis à nossa herança ecumênica que nos leva a    edificação de todo o corpo a fim de que melhor
estender a mão de comunhão a todo aquele que se           realizemos a tarefa missionária que o Senhor colocou em
sentir em paz com Deus, acolhendo com amor fraterno       nossas   mãos,      pois      “UNIDOS       PELO   ESPÍRITO
aos irmãos e irmãs que em sua vivencia de cristãos        METODISTAS EVANGELIZAM”. Assim, pretendemos
tenham tido experiências denominadas de carismáticas.     dentro de uma clara compreensão de nossa herança
Nossa Igreja    se abre a todos        aqueles   que se   metodista,     providenciar     aos   metodistas       brasileiros
reconhecem como metodista, dentro dos princípios de fé    orientação que nos ajude a compreender a interpretar o
aceitos pelo Metodismo Universal, e aceitam nossas        papel do Espírito Santo na vida da Igreja e do mundo de
doutrinas, costumes e organização eclesial. Esperamos,    tal sorte que as experiências de nossos dias sirvam de
como bispos da Igreja, que aqueles metodistas que se      forma eficaz para evangelização do povo brasileiro.
consideram carismáticos concordem em se comprometer
mais e mais com nossa herança comum, enraizados no           Obedientes à voz de Deus, que tem chegado até nós
que Deus tem feito através do povo chamado metodista,     através dos reclamos de irmãos e irmãs nossos,
aqui e em outras partes do mundo. A exemplo de todos      instando-nos     para   que      orientemos    doutrinária      e
os metodistas, desejamos que estes irmãos e irmãs,        pastoralmente à Igreja de Deus sob nossos cuidados
episcopais a respeito destas questões, após estudo e
oração,   no   espírito   de   humilde   serviço   pastoral,
colocamos perante o povo metodista esta pastoral.


   “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria, como
do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os
seus juízos e quão inescrutáveis são os seus caminhos!


   Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem
foi o seu conselheiro?


   Ou quem primeiro lhe deu a ele para que lhe venha a
ser restituído? Porque dele e por meio dele e para ele
são todas as cousas. A ele, pois a glória eternamente.
Amém.” (Rm 11.33-36)
1. O MOVIMENTO CARISMÁTICO                             Uma das ênfases centrais do movimento carismático
                                                             tem sido o interesse na ação e ministério do Espírito
   O chamado “Movimento Carismático” ou o “Neo-              Santo, na Igreja e no mundo, tanto na dimensão
Pentecostalismo”, ou ainda, a “Renovação Carismática”,       pessoal, como na dimensão comunitária. De uma certa
é o despertar no seio de Igrejas Tradicionais de uma         forma, o movimento carismático, como já ocorrera com o
nova   experiência,    conhecida   no    ambiente       do   aparecimento dos grupos pentecostais, reavivou na
Pentecostalismo Clássico, de vivencia do batismo do          Igreja a necessidade de se examinar de maneira mais
Espírito Santo e dos Dons do Espírito. Embora não se         conseqüente a ação e o ministério do Espírito Santo.
possa precisar o seu surgimento, as fontes conhecidas
do seu despertar apontam para os primeiros anos da              A ênfase que o movimento carismático dá ao poder
década 60, em algumas Igrejas nos Estados Unidos e na        do Espírito Santo e à importância dos dons espirituais
Europa. Na Igreja Católica o movimento é melhor              para o exercício da Missão, tem servido para nos
caracterizado, tendo seu inicio na primavera de 1967         despertar quanto à necessidade de uma autentica
nas Universidades de Duquesne, Pittsburg, e de Notre         renovação em toda a Igreja sob a direção do Espírito
Dame, South Bend, nos Estados Unidos. O movimento            Santo.
se espalhou por todo o mundo e tem causado impacto
no seio de Igrejas Tradicionais, especialmente as               Outra ênfase central no movimento carismático é a
protestantes,   dada   a   sua   aproximação    com      o   sua convicção de que a vida sob o poder do Espírito
pentecostalismo clássico, e tem gerado controvérsias.        Santo é acompanhada de manifestações extraordinárias,
                                                             os dons espirituais, conforme as descrições do Novo
                                                             Testamento. Estas experiências, comuns no contexto
pentecostal tradicional, se tornam mais freqüentes nos     variados grupos cristãos, são expressões significativas
ambientes das denominações chamadas “históricas”,          da diversidade da ação do Espírito Santo na Igreja de
como entre nós, os metodistas. Os dons, inúmeras           Cristo.
vezes,   se   manifestam   com    alegria   e   emoção,
procurando, contudo, em muitos grupos, evitar-se cair no      Apesar de pouco generalizada, alguns grupos
emocionalismo. A ênfase que se tem dado, de um modo        carismáticos procuram dar ênfase à unidade que deve
geral, através da literatura carismática, tem sido na      existir entre evangelização e luta pela justiça social.
apropriação dos dons pela fé e não pelos sentidos, na      Estes grupos procuram realçar a necessidade tanto de
busca de emoções. Estas poderão acompanhar uma             uma renovação pessoal, como a necessidade de uma
experiência, mas não são estritamente necessárias. A fé    renovação     das   estruturas   sociais,   baseados   na
é mais importante que as emoções, embora estas façam       convicção de que o reino de Deus encontra uma das
parte de nossa estrutura psíquica. Os dons devem ser       suas expressões mais importantes na realização da
buscados como instrumentos para “a edificação do           justiça social.
Corpo de Cristo” e não como algo de mera satisfação
individual. São para serviço da comunidade da fé e do         Se, por um lado, há elementos altamente positivos na
mundo, e não para vanglória pessoal.                       irrupção do movimento carismático nos seios das igrejas
                                                           históricas, tais como o valor da oração e do estudo das
   O movimento carismático também dá ênfase ao fato        Escrituras, a dinamização do ministério leigo na
de que não se pode estabelecer um padrão de                comunidade cristã, a atenção à obra de testemunhar
experiência a ser seguido por todos os cristãos.           Cristo onde quer que se esteja, por outro lado, há
Reconhece que as mais variadas experiências nos mais       também perigos que podem vir a comprometer a
legitimidade do movimento a tendência ao divisionismo,          ecumênico, especialmente nas comunidades de base,
ao isolamento e ao sectarismo, a presença de um                 onde o compromisso de fé com a justiça une cristãos de
fundamentalismo literalista quanto aos textos bíblicos,         diferentes confissões, e também o ímpeto evangelístico
especialmente do Antigo Testamento, a exacerbação               que percorre quase todas as Igrejas cristãs. Estes sinais
das emoções e dos sentimentos, a falta de consciência           testificam a presença do Espírito entre nós, em nossos
do caráter provisório da experiência e do conhecimento          tempos.
cristão (cf. 1 Co 13.9-12), e a indefinição confessional
que leva muitos irmãos e irmãs carismáticos a se                   A manifestação do Espírito de Deus é variada, e
tornarem vulneráveis à exploração de líderes de                 devemos estar atentos para todos os sinais que
reputação até mesmo duvidosa.                                   evidenciem   o   dinamismo     espiritual   da   vida   da
                                                                comunidade dos crentes em Jesus.
   Não pretendemos esgotar aqui a descrição do
movimento carismático. Existe hoje uma abundante
literatura ao nosso alcance sobre esta experiência de
diversos   cristãos   em   muitos   países    do       mundo.
Lembramos,     contudo,    que   esta   não   é    a    única
experiência renovadora das igrejas em nossos dias. Há
outros movimentos que merecem toda a atenção do
Povo de Deus, tais como redespertar do compromisso
cristão com a luta dos pobres e oprimidos por um mundo
mais justo e fraterno, o crescimento do movimento
2. CONSIDERAÇÕES        GERAIS     SOBRE A        irmãos e irmãs que formam o povo chamado metodista
      DOUTRINA DO ESPÍRITO SANTO                           sobre    esta   oportunidade    oferecida   pelo    Senhor,
                                                           convidamos a Igreja a ser abrir ao sopro vitalizador do
   Queremos refletir com o povo metodista acerca de        Espírito (Ex 37.1-14). Para participarmos da construção
alguns pontos que consideramos importantes para a          do Reino de Deus de maneira efetiva é necessária a
correta compreensão da ação do Espírito Santo na vida      renovação de todo o Povo de Deus. Por isso, numa
do crente, da Igreja e do mundo. A reflexão que ora        atitude de oração humilde, rogamos ao Senhor:
fazemos é parte de nosso ofício episcopal. Somos
desafiados pelas exigências da Palavra viva de Deus,          “Vem dos quatro ventos, ó Espírito, e assopra sobre
que chega a nós tanto pelo testemunho bíblico do Antigo    estes mortos, para que vivam”. (Ez 37.9)
e Novo Testamento, como através dos clamores de
nosso povo. Vivemos momento de profunda crise em                   a)   O Espírito Santo, O Espírito de Deus
nossa sociedade em todas as suas dimensões e
reconhecemos que a origem desta crise está num                O Espírito é Santo porque ele é de Deus. Há um fato
sistema de vida e de valores que conflitam abertamente     evidente em todo o testemunho histórico da palavra de
com a mensagem do Reino de Deus e de sua justiça,          Deus: Javé (ou Jeová) é o Deus que se revela na
proclamada e vivida por Jesus Cristo. Esta crise nos       história como Criador (Gn 1 e 2), como Senhor (Ex 20.2
desafia a um testemunho do evangelho e do seu poder        e 3), como Salvador (Is 43.1-3; 45.21; 60.16; Os 13.4; Lc
libertador, tanto das pessoas como das estruturas sócio-   1.47), e como Fortalecedor (Sl 10.13-18; Is 41.8-10; Ef
político-econômicas, que só com a assistência do           6.10). Este Javé é Espírito (Jo 4.24; 2 Co 3.17). A
Espírito de Deus poderemos dar. Ao refletirmos com os      expressão espírito, quando se refere a Deus, tanto no
Antigo Testamento como no Novo Testamento, se                Após a Ressurreição e a Ascensão de Jesus Cristo,
identifica sempre como o próprio Javé e com sua ação      o Espírito de Deus passa a agir no mundo de maneira
de Senhor. É Javé quem dá vida e alento ao mundo e às     nova e esta ação tem como um dos seus focos a
criaturas; quem chama Abraão do meio de sua parentela     comunidades dos discípulos de Jesus. A experiência da
para constituir o Povo de Deus, vocacionando-o a ser      nascente Igreja no dia de Pentecostes, quando Javé
bênção para todas as famílias da terra; quem liberta o    cumpre as promessas do passado (Jl 2.28-29; Ez 36.25-
seu povo da opressão egípcia; quem o preserva no          27) e as do próprio Jesus (Jo 14 e 16; At 1.8), mostra
deserto e lhe dá a terra da liberdade prometida aos       como a comunidade primitiva começa a perceber a ação
patriarcas; quem dá sabedoria aos juízes; quem dá a       do Espírito que nos dá a consciência da graça salvífica
palavra aos profetas. É Javé que, na plenitude dos        em Cristo (Jo 14.26; 15.26; 16.8-13; 17.8-11), pela qual
tempos, se faz homem em Jesus de Nazaré e sobre ele       somos conduzidos à comunhão com o Pai (1 Jo 1.3), e
derrama o seu Espírito; nele se manifesta de maneira      este mesmo Espírito é quem nos conduz no caminho da
plena, em sua vida, morte e ressurreição. É Javé que no   santificação (2 Ts 2.13; Rm 8.9-11; Gl 5.22-24) e nos
dia de Pentecostes, mediante a ação do seu Espírito,      capacita para o exercício do ministério cristão até os
vocaciona e constitui a sua Igreja. Dando-lhe graça e     confins da terra (Ef 4.1-16, cf. At 1.8). O Senhor Jesus
poder, capacitando-a para cumprir o testemunho de         antes de ser glorificado, prometeu a sua companhia
Jesus Cristo, na continuação da sua ação histórica e      contínua junto aos seus discípulos; esta companhia
salvífica. O testemunho das Escrituras Sagradas nos       contínua se efetiva mediante a ação do Espírito do
convence do fato de que a ação do Espírito sempre nos     Senhor e alcança a todos os que nele crêem e se
manifesta a presença do Deus Trino.                       sujeitam ao seu Senhorio. Esta presença do Espírito é
                                                          que dá à Igreja poder para o cumprimento da Missão de
Deus, e seu ministério se dá na vida das pessoas, da       passar pela experiência de regeneração, e sem o seu
Igreja e do mundo.                                         testemunho não podemos alcançar a santificação (ver os
                                                           sermões de Wesley, n.ºs IX, X, XI, XII e XIII).
   O testemunho bíblico também nos afirma e preserva
constantemente a unidade da ação divina. Deus é um só         Cremos na Santíssima Trindade – Pai, Filho e
e age sempre em unidade, apesar de agir de diferentes      Espírito Santo (Artigo de Religião n.º 1). Esta confissão
maneiras em diferentes momentos da história humana         fazemos na companhia de todos os crentes, em todos os
(Sl 33.6; Hb 1.1-2; 2 Co 5.17). É, portanto, perigoso se   tempo, e em todos os lugares em que a fé apostólica foi
tentar isolar o trabalho do Espírito da ação do Pai e do   proclamada e vivida, de maneira correta e verdadeira.
Filho. Deus em si é indivisível e inseparável em sua       Estamos convictos, como Bispos da Igreja, que a
ação, pois Deus de maneira nenhuma pode negar-se a         vontade de Deus Trino é conduzir a Igreja dos nossos
si mesmo (2 Tm 2.13). É perigoso, também, dar-se           dias   à    vivencia   e   à   dimensão   plena   da   vida
ênfase desmedida à obra do Espírito em detrimento à        experimentada pelos nossos irmãos e irmãs da Igreja
pessoa de Jesus, esquecendo-se que sua ação é revelar      Primitiva, a fim de que como eles possamos responder
e glorificar a Jesus, levando homens e mulheres à          às exigências da Missão, aqui e agora.
aceitação do seu Senhorio, já que só mediante o Espírito
é que podemos confessá-lo como Senhor, confissão                  b)    O Reino de Deus, o dom do Espírito, e a
imprescindível para a nossa salvação (1 Co 12.3; Rm           Igreja
10.9-13). É perigoso, entretanto, subestimar-se o poder
e a obra do Espírito na vida da Igreja, pois cremos que       Relembremos o que no disse o último Concílio Geral
somente através de sua atuação pode o ser humano           de nossa Igreja:
“A Missão de Deus no mundo é                                      Jesus iniciou a sua Missão no Mundo
estabelecer o seu reino. Participar da                            com a pregação: “O tempo está cumprido
implantação do seu Reino em nosso                                 e     o   reino   de   Deus   está   próximo,
mundo, pelo Espírito Santo, constitui-se                          arrependei-vos e crede no Evangelho”,
na tarefa evangelizante da Igreja.                                conforme Marcos 1.15.


     O reino de Deus é alvo do Deus trino e                            Conseqüentemente, o Propósito de
significa o surgimento, do novo mundo, da                         Deus é liberar o ser humano de todas as
nova vida, do perfeito amor, da justiça                           coisas que o escravizam, concedendo-lhe
plena,   da    autentica       liberdade   e   da                 uma nova vida à imagem de Jesus Cristo,
completa paz. Tudo isto está introduzido                          através da ação e poder do Espírito
em nós e no mundo como semente que o                              Santo, a fim de que, como Igreja,
Espírito está fazendo brotar, como lemos                          constitua neste mundo e neste momento
em    Romanos       8.25:      “nós   temos    as                 histórico, sinais concretos do reino de
primícias     do   Espírito,    aguardando     a                  Deus”.
adoção de filhos”, ou ainda em 2 Coríntios                            (Plano Quadrienal, pg. 10, itens de 1 a 4)
1.21-22: “Mas aquele que nos confirma
convosco em cristo e nos ungiu, é Deus,                O Reino de Deus, centro da mensagem de Jesus,
que também nos selou e nos deu o                    transcende a qualquer instituição, e não se restringe às
penhor do Espírito em nossos corações”.             fronteiras da Igreja. O Reino de Deus é graça, dom de
Deus aos homens e mulheres: por isso oramos: “Venha          Reino (Rm 8.23). O Senhor ressuscitado derrama o seu
o teu Reino”. Através da vitória de Jesus sobre os           Espírito sobre toda a carne para que a comunidade dos
pobres da morte e do pecado, em sua poderosa                 seus discípulos seja o seu corpo visível neste mundo,
Ressurreição, Deus nos promete um novo céu e uma             testemunha e sinal do Reino (At 2.42-47; 4.32-35; 1 Co
nova terra, cidade de Deus entre nós (Ap 21.1-7). A          12). O Espírito Santo, contudo, como garantia do Reino,
realização deste Reino estabelecerá para sempre o            não limita sua ação ao grupo dos discípulos de Jesus
primado do direito e da justiça, da paz plena, do amor       (Mc 9.38-41), mas é livre e soberano para agir onde,
imorredouro,   e   da   alegria   perene,   conforme    o    quando e como bem lhe apraz (Jo 3.8), pois o objetivo
testemunho dos profetas e dos apóstolos. Ele ainda não       de sua ação é fazer amadurecer as condições para a
nos é tangível e nem podemos perceber toda a sua             vinda do Reino. Esta presença do Espírito de Deus é,
plenitude entre nós.     Nossa atitude é de ardente          por um lado, a garantia de que o Reino prometido, ainda
expectativa: nós o esperamos, Sua presença, contudo,         não presente em sua plenitude, virá; e, por outro lado, os
já se faz sentir entre nós. Como a pequena semente que       sinais que já podemos discernir da construção, do
pouco a pouco cresce, assim o Reino de Deus já               crescimento do Reino, somente são possíveis porque o
manifesta os seus sinais na história da humanidade (Mt       primeiro sinal da irrupção do Reino já se faz sentir
13.31-32). O tempo que vivemos, do já e do ainda não         poderosamente entre nós – o derramamento do Espírito
do Reino, é o tempo do Espírito (2 Co 5.1-5; 16-21; 6.1-     no dia de Pentecostes.
2). O dom do Espírito é a força e o poder de Deus que
faz brotar, aqui e agora, entre nós, os primeiro sinais do      É na tensão do já e do ainda não do Reino, no tempo
reino de Deus e da sua justiça, da nova criação, o novo      do Espírito, que se localiza a Igreja. Somos sinal do
homem, a nova mulher – é o tempo das primícias do            Reino, mas não nos confundimos com ele. E ainda mais:
temos que reconhecer que não somos Reino e sua             de Jesus. Viver no Espírito é antes de mais nada ser
garantia. Temos que lutar contra toda tentação de          capaz de amar como Jesus amou, ao ponto de dar a sua
sermos proprietários do Espírito, como se isso fosse       vida pelos seus amigos (Jo 13.1; 15.12-17; Fp 2.1-9).
possível (At 5.1-10; 8.18-24). Antes, a Igreja só é        Por isso, afirmamos que o primeiro e fundamental dom
realmente Igreja quando se submete incondicionalmente      do Espírito é a submissão ao Senhorio de Jesus Cristo –
à ação e ao poder do Espírito Santo, que é concedido       onde homens mulheres aceitam a Jesus como Senhor e
aos crentes não como um privilégio ou um monopólio         Salvador, ali o Espírito Santo realiza sua principal tarefa:
seu, mas para capacitar-nos a participar consciente e      levar-nos todos a Jesus Cristo, como doador da nova
responsavelmente na obra da construção do Reino.           vida.


   Os valores do Reino, além disso, nos chamam                Confrontados pelo Espírito com esta vida de amor
constantemente à atitude de humildade e contrição, pois    pleno e total, somos constrangidos a reconhecer nossa
suas exigências impõem sobre nós a necessidade de          pequenez e nossa fragilidade humana, de tal sorte que
nos arrependermos e convertermo-nos de nossos              não há lugar para atitudes de presunção, vaidade ou
pecados, tomando assim o caminho da santificação (Rm       orgulho. Além disto, somo constrangidos a renunciar a
12.1-2; Ef 4.17-5, 2).                                     toda e qualquer atitude de triunfalismo denominacional
                                                           ou de grupo (1 Co 13.9a, 10-12; 2 Co 4.7; cf. Lc 10.17-
   É importante que realcemos o fato de que o caminho      20).
da vida segundo o Espírito tem a ver diretamente com o
nosso relacionamento com o nosso próximo, no mesmo            Reconhecemos, ainda, que os escritores do Novo
espírito de amor e serviço que caracterizou o ministério   Testamento quando se referem à experiência com o
Espírito Santo usam uma terminologia variável. Assim            submeter    aos     interesses     do   Reino        de   Deus.
temos várias designações: “a promessa do Pai” (Lc               Proclamamos a convicção de que a revelação de Deus
24.49; At 1.4; 2.33); “o batismo com o Espírito” (Jo 1.33;      conforme o encontramos na bíblia nos testifica sobre o
At 1.5; 11.16); “o dom do Espírito” (At 2.38); “receber o       interesse de Deus em salvar a totalidade da vida
Espírito” (At 8.17; 19.2); e “ser cheio do Espírito” (At 2.4;   humana     (Mt    9.6   cf.   Is   2.1-5,   9.1-7,    11.1-10).
9.17). A ação do Espírito Santo é descrita ainda com as         Reconhecemos que a libertação do individuo e da
palavras: “vir sobre” (At 19.6); “revestimento” (Lc 24.49);     sociedade são igualmente objetos da vontade de Deus
“cair sobre” (At 10.44; 11.15); e “derramar” (At 2.33,          em salvar a todos, sendo aspectos inseparáveis da sua
10.45).                                                         obra redentora. Cristo veio salvar o mundo – indivíduos
                                                                e sociedade – redimindo-os do pecado pessoal e social
   Não há duvidas que é uma experiência definida e              (Rm 8.19-23 cf. Is 1.10-20, 58.1-12, 59.1-21). Todos,
testificada pelo próprio Espírito com o nosso Espírito,         homens e mulheres, que sob a ação do Espírito Santo
como o foi na vida dos primeiros discípulos, na de              confessam Jesus Cristo como Senhor são chamados a
Wesley e seus companheiros e tantos outros que                  lutar para o estabelecimento do Reino de Deus – Reino
receberam a promessa pela fé e foram poderosamente              de amor, de paz, de justiça, de liberdade e de alegria.
usados por Deus.
   Reafirmamos, nós, bispos da Igreja, à vista desta                  c) A recepção do Dom do Espírito
compreensão bíblica e teológica sobre o relacionamento
Reino-Espírito-Igreja, que tudo na Igreja deve estar               O Novo Testamento, especialmente o livro dos Atos
subordinado aos propósitos divinos em estabelecer o             dos Apóstolos, não nos dá um paradigma único sobre a
seu Reino. Todas as dimensões da vida têm de                    maneira como o crente recebe o dom do Espírito. O
Apóstolo Paulo, que dedica atenção considerável à ação      todos ali presentes tivessem recebido o batismo de
do Espírito do Senhor na comunidade da fé, não chega a      João, e que, conforme Atos 19.4, também não tinha
nos dizer de forma casuística algo determinante a           validade qualquer para a conversão cristã. Os 120 do
respeito da recepção do Espírito Santo. O certo é que o     cenáculo    não    necessitaram    passar   por    duas
Novo Testamento fala desta experiência decisiva para o      experiências distintas – o batismo no nome de Jesus
crente de maneira variada e diversa. É de ressaltar aqui    (sinal de arrependimento, conversão e confissão de fé
o fato de que até mesmo as narrativas bíblicas sobre a      em Jesus) e a recepção do Espírito; neles o batismo
recepção do Espírito pelos discípulos de Jesus não são      com o Espírito abrange também a dimensão real e
harmoniosas entre si, pois enquanto João nos diz que        simbólica do batismo com água.
Jesus concedeu-lhes o Espírito antes da sua Ascensão
(Jo 20.21-23), Atos nos afirma que isto ocorreu no dia de      Em Atos 2.38, ao responder aos primeiros ouvintes
Pentecostes, portanto após a sua Ascensão. Entretanto,      da pregação apostólica, Pedro praticamente identifica de
não é isto que importa; o que realmente conta é que a       maneira global a experiência do arrependimento, do
recepção do Espírito é uma realidade na vida da Igreja      batismo com água e da recepção do Espírito, sem que
Nascente.                                                   haja qualquer alusão as experiências cronologicamente
                                                            distintas e separadas entre si.
   Em Atos 2.1-4, lemos que os 120 discípulos de Jesus
que estavam orando no Cenáculo receberam o Espírito            Em Atos 8.14-17, lemos que os convertidos da
no dia de Pentecostes. É curioso notar que esta             Samaria foram batizados por Filipe (o diácono e não
experiência se dá sem qualquer alusão ao batismo com        apóstolo!) em nome de Jesus, após aceitarem pela fé a
água em nome de Jesus, já que possivelmente nem             mensagem do Evangelho. Contudo, não receberam o
dom do Espírito até que os apóstolos chegassem à            de tal evidencia o Apostolo e, por extensão, a Igreja de
Samaria e lhes impusessem as mãos, numa separação           Jerusalém, não podiam continuar insensíveis a ação de
entre o aceitar Jesus como Senhor e Salvador e o            Deus entre os gentios (At 11.17-19).
receber o Espírito.
                                                               Em Atos 19.1-7, Paulo quando chega a Éfeso
   Em tos 9.17, Ananias vai à casa de Judas ao              descobre que as pessoas evangelizadas por Apolo nem
encontro de Saulo de Tarso e ali lhe proclama a             mesmo sabiam algo sobre a existência do Espírito
mensagem do Cristo que lhe aparecera no caminho de          Santo. Só tinham recebido o batismo de João. Paulo,
Damasco, prometendo-lhe que o Senhor o encheria do          primeiro esclarece-lhes sobre a diferença entre o
seu Espírito, e logo o batiza. Paulo não fala em qualquer   batismo de João e o de Jesus, depois os batiza em
uma de suas epístolas, ao relatar sua experiência de        nome de Jesus, a seguir, lhes impondo as mãos para
recepção cristã, de uma outra experiência de recepção       que recebam o Espírito, experiências, ao que tudo
do Espírito distinta e separa daquilo que lhe ocorreu na    indica, quase que concomitantes.
casa de Judas.
                                                               A análise destes textos de Atos, ao lado das
   Em Atos 10.44-48, Lucas relata que ao ouvirem a          narrativas sobre a conversão de Lídia (At 16.11-15) e a
pregação de Pedro, os que estavam na casa de Cornélio       do carcereiro de Filipos (At 16.27-34), mostra que não
receberam o dom do Espírito Santo, antes mesmo de           podemos extrair da experiência dos cristãos primitivos
confessarem seu arrependimento e sua fé em Jesus, e         uma regra que padronize a recepção do Espírito pelo
então receberem o batismo com água. O batismo com o         crente, quer vinculando-a unicamente ao momento de
Espírito é seguido pelo batismo com água, já que diante     conversão ou do batismo, quer identificando-a como
algo distinto, que se constitua obrigatoriamente em si                          época desde os tempos apostólicos. Mas
mesmo como que numa segunda bênção. Tanto uma                                   Ele opera em outros de maneira muito
posição como outra são dogmatizantes e procuram                                 diferente: Ele exerce a sua influencia de
sistematizar o que em si mesmo não é sistematizável,                            maneira delicada, refrescante como o
pois é da liberdade do Espírito agir como bem lhe apraz.                        orvalho silencioso. Foi do seu agrado
O que podemos afirmar, sem duvida alguma, é que a                               operar em vós deste modo desde o
qualquer pessoa que se abre humilde e sinceramente ao                           começo, e é provável que continue, como
Evangelho, aceitando cristo como seu Senhor e                                   começou, a operar de modo delicado e
Salvador, é prometido o Espírito Santo, e Deus é fiel e                         quase insensível. Que Ele faça como
justo em suas promessas.                                                        quiser; Ele é mais do que vós; Ele fará
                                                                                todas as coisas bem. Não argumenteis
                   “Há uma variabilidade irreconciliável                        contra Ele, mas que a oração do vosso
              nas operações do Espírito Santo nas                               coração seja: molda a tua argila como
              almas dos homens, especialmente quanto                            queres.”
              ao    modo    da   justificação.       Muitos   o              (Cartas de Wesley “A Maria Cooke” – VII, 298)
              encontram     derramando-se        sobre    eles
              como         uma      torrente         enquanto           d)   O Fruto do Espírito
              experimentam o poder dominador da
              graça    salvadora.    Esta      tem     sido   a     A confissão do Senhorio de Jesus, que só pode ser
              experiência de muitos, talvez mais nesta            feita mediante a ação do Espírito (1 Co 12.3b), só
              última visitação do que em qualquer outra           alcança sua legitimidade quando se faz acompanhar de
uma vida inequivocamente vida segundo os valores mais     suficiente e egocêntrica, existir para Deus e o próximo,
altos do Evangelho do Reino (Mt 5, 6 e 7). A confissão    dar-se aos outros em serviço solidário e fraterno, viver
deste Senhorio (uma das condições para a salvação –       responsavelmente. Viver no Espírito é estar liberto do
Rm 10.9-13, cf. Fp 2.9-11), não pode ser reduzida à       pecado para servir a Deus e ao próximo.
mera proclamação verbal, mas tem que ser manifesta
através de uma prática de vida que esteja de acordo          Viver na carne é, antes de mais nada, uma existência
com o ensino de Jesus, pois pelos frutos se conhece a     egocêntrica, onde Deus, a natureza e o próximo são
árvore (Mt 7.15-23). Tal prática de vida evangélica é     objetos dos interesses egoístas (idolatria, feitiçarias,
descrita pelo Apóstolo Paulo como “andar no Espírito” e   bebedices, glutonarias, inimizades, porfias, ciúmes,
se expressa de forma concreta através do “fruto do        discórdias, prostituição, etc.). A abordagem do Apóstolo
Espírito”, opondo-se à vida não evangélica, quando o      não se fundamenta numa visão moralista da vida: tal
homem ou mulher vive “segundo a carne”, realizando as     existência carnal (tanto do ponto de vista pessoal como
“obras da carne”. É o processo de santificação do         comunitário) somente é possível por causa de uma
crente.                                                   quebra de relação com Deus e com o próximo, motivada
                                                          por algo decisivo – o propósito humano auto-idólatra em
   Viver segundo a carne é vida em posição aos            querer dominar o outro (Deus ou o próximo; ou os dois)
propósitos de Deus, numa relação auto-suficiente e        para satisfazer os interesses egoístas (Rm 1.18-32, At
egocêntrica, onde Deus e o próximo não contam, os         5.1-10, cf. Gn 3.1-24; 4.1-16). Portanto, a analise paulina
interesses agoístas prevalecem; em última analise, uma    é feita a partir de uma visão teocêntrica da vida.
vida irresponsável. Viver segundo o Espírito é assumir
os propósitos de Deus, renunciar à existência auto-
Viver no Espírito é exatamente o reverso de viver na     louvando a Deus, “tremeu o lugar em que
carne: é uma existência onde o centro da existência não     se achavam congregados, e todos ficaram
é mais o eu (pessoal ou social), mas sim os outros          cheios    do      Espírito    Santo”.    Não
(Deus, o próximo e a comunidade) (At 2.42-47, 4.32-37).     encontramos aqui nenhuma aparência
A vida segundo o Espírito é a vida que se expressa em       visível, tal como havia acontecido na
atos de amor desinteressado e altruísta: paz, paciência,    passagem       anterior,      nem       temos
ternura,   bondade,   fidelidade,   humildade,   domínio    informação        de    que      os     dons
próprio. Aqueles que tomam a decisão de renunciar a         extraordinários do Espírito Santo tivessem
vida segundo a carne e assumir a nova vida em Cristo, a     sido então comunicados a todos ou a
vida segundo o Espírito (Ef 4.25-5,21), aceitam sobre si    alguns dentre eles, como os dons de
o Senhorio de Jesus (Mt 7.21). O critério da confissão do   “curar, de operar” outros “milagres, de
Senhorio de cristo sobre a vida é a manifestação do fruto   profecia, de discernimento de espíritos, de
do Espírito, pois o Espírito de Jesus é quem capacita o     falar diversas línguas e de as interpretar”
homem e a mulher a viverem a vida segundo os valores        (1 Co 12.9-10).
do Reino de Deus (Gl 5.25).
                                                               Que esses dons do espírito Santo
                                                            fossem destinados a permanecer na
   Em seu Sermão “O Cristianismo Bíblico”, assim se         Igreja através de todas as idades o que
expressa João Wesley:                                       eles sejam ou não restabelecidos à
                  “Neste capítulo [At 4] lemos que,         medida que se aproximar a “restauração
              estando os apóstolos e irmãos orando e        de todas as coisas”, são questões que
não é necessário decidir. É oportuno,            Espírito, os quais, não os tendo alguém,
entretanto,    observar   que,   ainda     na    esse tal não lhe pertence; teve em vista
infância da Igreja, Deus repartiu esses          enchê-los    de     “caridade,     gozo,     paz,
dons da maneira mais parcimoniosa.               longanimidade,      benignidade,      bondade”
Eram    todos     profetas?   Eram       todos   (Gl 5.22-24); dotá-los de fé (talvez esta
operadores de milagres? Todos tinham o           idéia melhor se expresse pelo termo
dom    de     curar?   Falavam   todos     em    fidelidade), com humildade e temperança;
línguas? De modo nenhum. Talvez nem              habilitá-los a crucificar a carne, com suas
um em mil. Provavelmente nenhum, a não           afeições e cobiças, suas paixões e
ser o mentor de cada igreja e, dentre            desejos; e, em conseqüência da mudança
esses mestres, talvez mesmo só alguns            interior, assim assegurada, preencher
deles (1 Co 12.28-30). Foi, portanto, para       toda justiça exterior, “andar como Cristo
um fim mais elevado do que a simples             também andou”, na “obra da fé, na
posse desses dons, que “eles ficaram             paciência da esperança, no trabalho de
cheios do Espírito Santo”.                       amor” (1 Ts 1.3).


   A manifestação do Espírito Santo teve            Sem que nos envolvamos em curioso,
em mira conceder-lhes (o que ninguém             desnecessários inquéritos, no tocante aos
pode negar seja essencial a todos os             dons     extraordinários         do     Espírito,
cristãos, em todos os tempos), a mente           consideraremos de mais perto os frutos
que havia em Cristo; os santos frutos do         ordinários   do     mesmo        Espírito,   cuja
florescência permanente foi garantia a       do Espírito, pois são tempo e habitação do Espírito de
              todas as idades: consideremos a grande       Deus (Rm 8.9-17; 1 Co 6.19). Este é o caminho da
              obra divina realizada entre os filhos dos    santificação.
              homens, obra que costumamos designar
              por uma única palavra: Cristianismo, não        c) Os Dons Espirituais
              no sentido de ser uma série de opiniões,
              um sistema de doutrinas – mas no sentido        “A propósito dos dons espirituais, irmãos, não quero
              de corporizar algo que se refere ao          que estejais na ignorância” (1 Co 12.1).
              coração e à vida dos homens”.
      (João Wesley, Sermão “O Cristianismo Bíblico” n.º       Vários textos do Novo Testamento nos apresentam
       IV, 1.º. volume de Sermões de Wesley, Imprensa      listas de dons da Graça Divina (Rm 12.5-8; 1 Co 12.8-
                                      Metodista, 1953).    10; 28-31; 14.26; Ef 4.11; 1 Pe 4.8-11). Isto deixa bem
                                                           claro que não existe um numero definido de dons, mas
   Nós, os bispos da Igreja Metodista, afirmamos que os    uma grande multiplicidade que indica de forma bem
discípulos de Jesus são conhecidos pelos frutos do         definida que a ação de Jesus abrange toda a amplitude
Espírito, o amor a Deus e ao próximo (Mt 22.34-40). O      da experiência humana.
fruto do Espírito é o critério básico, estabelecido pelo
próprio Jesus, que distingue no crente a recepção do          A importância dos dons não está no dom em si, mas
batismo de Jesus – batismo com água e com o Espírito       no seu uso para a edificação do Corpo. Por isso
(Mt 3.11; Jo 3.5-8; At 2.38-39). Aqueles que têm o         devemos entender os dons espirituais sob o tríplice
Espírito de Jesus, andam no Espírito e produzem o fruto    aspecto: são “charismata”, “diakoníai”, e “energuémata”,
isto é, dons espirituais, ministérios e obras. Com isto      – Senhor, e como “Theos” – Deus, o Deus Trino que
entendemos a sua origem, o modo como atuam na                realiza “tudo em todos” (1 Co 15.28). Em contraste com
Igreja e a sua finalidade. Quanto à origem os dons são       esta forte ênfase na unidade – o mesmo Espírito, o
“charismata”, manifestação concreta da “charis” (graça)      mesmo Senhor, o mesmo Deus – está a não menos
divina. A “charis” divina é a origem de todo carisma. Isto   forte ênfase na diversidade: há diversidade de dons,
nos faz ver que a origem de um carisma nunca está no         diversidade de ministérios, diversidade de obra.
homem, mas na graça de Deus que o envolve por todos
ao lado. É fundamental advertir sobre esta origem               Reconhecemos, portanto, três elementos básicos no
sempre que o dom é considerado ou exercido. Quanto           propósito divino quanto à distribuição dos dons à Igreja:
ao seu modo de atuar, os dons espirituais são
“diakoníai”, ministérios ou serviços. São dados para nos        - sua diversidade: os dons são diversos porque
colocar em ação a serviço do Reino. Quanto à sua             diversas   são   as   necessidades     da   Igreja,   tanto
finalidade, são “energuémata”, obras exteriores. Quando      comunitária, como pessoalmente. Tais necessidades
um cristão exerce seu carisma, age como membro do            são tanto de ordem interna (para atendimento da
Corpo de Cristo, isto é, o próprio Jesus faz alguma coisa    edificação dos crentes – crescimento na fé e no
por meio de uma pessoa. Quando Jesus age sempre              conhecimento da vontade de Deus), como de ordem
aparece um resultado concreto. Portanto, a finalidade de     externa (para atendimento da evangelização do mundo).
todos os dons é a realização de alguma coisa concreta,       Na medida em que estas duas dimensões da vida
uma ajuda a alguém, a edificação da comunidade. Por          eclesial apresentam diversas necessidade especificas e
trás de toda essa atividade, está o Deus Trino, o Deus       concretas (At 6.1-7; 13.1-5; 14.23), Deus distribui os
que vem a nós como “Pneuma” – Espírito, como “Kyrios”        diversos dons necessários, diferentes entre si para que
todas as funções necessárias na vida da Igreja sejam      para   o     testemunho     do     Evangelho    ao    mundo,
igualmente assistidas (Rm 12.4,6.8; 1 Co 12.14-20; 28-    complementam-se um ao outro no atendimento das
30; Ef 4.7).                                              necessidades de toda a Igreja, servindo de igual modo
                                                          para o crescimento de todos os crentes (1 Co 12.14-26;
   -    sua    unidade:     a    diversidade    implica   Rm 12.9-21), na busca da maturidade à medida da
necessariamente em unidade porque os diversos dons        estatura da plenitude de Cristo (Ef 4.13-16).
visam a edificação da Igreja, do Corpo indivisível de
Cristo (1 Co 1.12,27; Ef 4.1-4). Os dons mantêm a sua        Este tríplice aspecto da distribuição dos dons nos
unidade porque a fonte de onde emanam é uma só: o         evidencia claramente que o Espírito Santo não tem uma
Espírito Santo – na unidade do Pai e do Filho (1 Co       lista limitada de alguns dons, como querem fazer
12.13). Mas ainda – Só temos um Senhor; recebemos         acreditar certos grupos ao procurarem enumerá-los
uma só fé; proclamamos um único batismo; e servimos a     (sete? Nove? Doze?), mas quede acordo com a
um só Deus e Pai de todos (Ef 4.5,6). Ora, se Deus é um   dinâmica que ele imprime à missão supre à Igreja com
só e se a sua Igreja é uma só, os dons que Dele provêm    os dons que lhe apraz. Daí concluirmos que nem mesmo
e que visam atender a Igreja em suas necessidades –       o Novo Testamento pretende nos desenhar uma
tanto internas como externas – são em si mesmos           estrutura rígida de ministérios, mas nos apresenta uma
indivisíveis, apesar de diferentes entre si em suas       hierarquia    provisória,   pois    de   acordo      com   as
funções.                                                  necessidades da Missão em determinados momentos,
                                                          certos dons são concedidos enquanto outros podem até
   - sua mutualidade: os diversos dons, que em sua        mesmo desaparecer (1 Co 13.8-10), não havendo,
unidade visam a edificação da Igreja e sua capacitação
portanto, uma preocupação por se uniformizar ou
cristalizar os dons na vida da comunidade cristã.             Os dons são equipamentos necessários ao povo de
                                                           Deus em marcha, mas os discípulos de Jesus são
   Relembramos aqui a pastoral sobre o movimento           conhecidos não pelos dons espirituais, mas pelo amor.
carismático de 1975:                                       Por isso, nossa preocupação maior deve ser com o
                                                           “Fruto do Espírito”, o amor. Qual o porquê destas
                  “Nem    sempre     aqueles    que   se   afirmações? Recorramos à passagem de Mt 7.15-23.
              interessam pelo Espírito Santo fazem         Notemos que os rejeitados reivindicam sua entrada no
              distinção entre “o Dom do Espírito” e os     Reino baseados nas obras extraordinárias da profecia,
              dons do Espírito. Os segundos sem o          dos exorcismos de demônios e da realização de
              primeiro só podem prejudicar aqueles que     milagres, todas feitas em nome de Jesus, o Senhor. Sua
              alegam possuí-los e perturbar a ordem e      condenação, contudo, se dá face à qualidade devida
              a paz de outros crentes fieis e dedicados.   incompatível com a vontade do Pai, pois praticaram a
              O dom por excelência é o Dom do Espírito     iniqüidade.   Aí    está   a   resposta   à   questão:   as
              Santo. Todos os demais são secundários       manifestações      extraordinárias   de   curas,   milagres,
              e complementários. Ninguém deve se           línguas, etc., não são em si mesmas manifestações do
              gloriar de possuir dons mais excelentes      Espírito de Deus. Estes fenômenos constantemente
              que os demais crentes, pois o Corpo de       podem ocorrer em outros ambientes religiosos que nada
              Cristo, que é a Igreja, necessita de todos   têm a ver com os fundamentos da fé bíblica. Este é o
              os dons para que ela cumpra a sua            caso que Paulo tem de enfrentar na Igreja de Corinto (1
              Missão no Mundo”.                            Co 12.2 e 3a, cf. 8.1-13 e 10.14-11. 1). O critério básico
para distinguirmos a presença do Espírito de Deus na         testemunha sobre a comunidade primitiva, o Corpo de
vida do crente é a manifestação do fruto do Espírito, pois   Cristo constituído em Igreja pela ação poderosa do
quem ama conhece a Deus; o amor procede só de                Espírito, por ele dirigida e capacitada. Todos os
Deus; e só Deus é amor (1 Jo 4.7,8,16). Todos os dons        ministérios existentes na Igreja vêm a ser por obra do
e até mesmo as virtudes do Espírito virão a desaparecer,     Espírito. A concessão dos dons não se faz mecânica ou
menos as virtudes do Espírito virão a desaparecer,           ocasionalmente, mas se dá na medida em que a Igreja
menos o amor (1 Co 13.8-13), pois este jamais acaba;         cresce em seu testemunho no mundo (At 6.1-7, 14.23).
só há amor onde o Espírito de Deus está presente, e          Na medida em que a Igreja está viva, atualmente e
onde o Espírito de Deus está presente, e onde o Espírito     consciente da Missão, Deus, em Cristo, pelo seu
de Deus está presente ali se produz o fruto do amor. Por     Espírito, distribui os dons para a edificação do seu povo
isso, Paulo adverte ao coríntios: “Passo a mostrar-vos o     e para a evangelização do mundo (Ef 4.10-13, At 2.14-
caminho que é o melhor de todos” (1 Co 12.31b) e             41). A recepção do dom do Espírito, legitimada pela
proclama a excelência do amor (1 co 13).                     presença do fruto do Espírito, se manifesta em serviço
                                                             através dos dons à Igreja (1 Co 12.7-11, 27-31; Rm
   Com o critério do fruto do amor, norteando nossa          12.5-8; Ef 4.11). O lugar apropriado para a recepção dos
compreensão sobre a ação de Deus entre nós, na graça         dons é a Igreja e o seu exercício se faz no interior da
do Senhor e no poder do seu Espírito, afirmamos que os       comunidade cristã e no mundo, onde o Senhor nos tem
dons do Espírito são elementos fundamentais na               colocado para cumprir o nosso ministério comum (Mt
realização da Missão de Deus. Sem eles a Igreja não          5.13-16). Como a fonte dos dons é a graça de Deus e
pode participar no propósito de Deus de salvar o mundo       sua recepção se dá pela fé em Jesus Cristo, a sua
(Jo 3.16; 2 Co 5.18-20). O Novo Testamento nos               recepção não pode provocar qualquer sentimento de
orgulho, vaidade ou auto-suficiência, negações que são       exatamente na medida em que servem para o bem de
da vida no Espírito. A doação dos dons não tem como          todos: crentes e não crentes.
sua finalidade última o bem-estar do crente, apesar de
nos fazer sentir alegres em os receber, mas visa o bem-         Como bispos da Igreja advertimos que o uso dos
estar da comunidade da fé (1 Co 12.7; 12.27; 14.12, cf.      dons mais espetaculares pode nos levar facilmente ao
Ef 4.12). Nunca devemos buscar os dons em si mesmos,         orgulho espiritual. Por esta razão, o uso de dons como o
mas com o desejo de usá-los em amor no serviço da            de sabedoria, discernimento e ciência, se torna mais
Igreja e na salvação do mundo. Das referências neo-          importante, porque são diretivos no uso de todos os
testamentárias sobre os dons espirituais, sem cair na        dons. Entendemos que todos os dons, maiores ou
tentação do reducionismo, isto é, de reduzi-lo a esta ou     menores, quando “manifestações do Espírito”, são
aquela lista, podemos dizer que abrangem, entre outras,      importantes para a “edificação do Corpo de Cristo”. Mas
as áreas do culto divino, do ensino doutrinário e            julgamos sempre oportuna a admoestação do apostolo
teológico, do cuidado e da assistência espiritual à          quando nos diz: “entretanto, procurai, com zelo, os
comunidade cristã, da disciplina da Igreja, da prática da    melhores dons” (1Co 13.31). O uso incorreto dos dons
oração intercessora, da evangelização do mundo, do           espirituais pode ser corrigido usando as normas bíblicas
governo   da   Igreja,   do   socorro   aos   pobres,   do   dadas pelo apostolo na Primeira Epistola aos Coríntios.
discernimento da vida espiritual. Mediante o exercício       Lembramos sempre que é dádiva de Deus o espírito de
responsável dos dons nestas e em outras áreas de             amor e moderação (2 Tm 1.7). O descontrole do uso de
atividade da Igreja, verifica-se a eficácia do Espírito no   determinados dons pode gerar confusão e desordem. A
crescimento da fé nos crentes e na conversão do              nossa firmeza deve ter uma forte base bíblica.
mundo. Tais dons têm supremacia sobre outros dons
Afirmamos, ainda, que os dons nos vêm pela fé em        pelo qual a mensagem divina é enunciada sob a
Cristo (Gl 3.14) e estão à disposição de todos os          inspiração do Espírito de Deus. Sua enunciação sempre
crentes. São dádiva de Deus a nós, que nos é dada          vem a nós de maneira inteligível, de tal forma que tanto
juntamente com o Espírito Santo (1 Ts 4.8). Todos          quem a pronuncia como quem a ouve, o faz de forma
carecem do Espírito. Sua recepção é dádiva de Deus – o     compreensiva à sua mente (1 Co 14.15, 19). Seu
doador se dando aos seus. Em nossa vivência de             objetivo é exortar, consolar e edificar o Povo de Deus (1
cristãos, devemos buscar, pois, o doador. O primeiro       Co 14.3). Sua proclamação serve para o crescimento na
dom que o Pai nos oferece é o próprio Espírito Santo. O    fé, no conhecimento da vontade de Deus, no amor aos
importante é a presença do Espírito em nossas vidas; os    irmãos e irmãs. Toda mensagem enunciada em nome de
dons nos serão dados mediante os propósitos de Deus e      Deus deve ser devidamente confirmada por deus pelo
para atender as necessidades da Missão. Com esta           julgamento da Igreja, pois sendo o Espírito Santo dom
consciência, reconhecemos que os dons não visão a          de    Deus   à   comunidade       da   fé,    ele   confirmará
nossa glória, pois a nossa glória está na cruz de Cristo   comunitariamente a Palavra inspirada, conforme o
(Gl 6.4). Além disso, o exercício dos dons subordina-se    próprio critério bíblico (1Co 14.29; At 17.11).
ao fruto do amor, sem o que os dons nada são (1 Co
13.1-3).                                                        Reconhecemos que a correta interpretação das
                                                           Escrituras   Sagradas     e   a    sua       proclamação   na
      e) Profecia, Curas e Línguas Estranhas               comunidade da fé, Palavra viva de Deus semeada na
                                                           experiência humana, aponta à Igreja o propósito de
   Nós, bispos da Igreja, consideramos, de acordo com      Deus para a sua vivência. Afirmamos, pois, que a
os ensinos bíblicos, o dom de profecias como o meio        proclamação da Palavra é profecia na sua mais
autentica manifestação (2Tm 3.16 cf. 2 Pe 1.16-21).            aceitarmos a possibilidade da cura divina, não fazemos
Lembramos, contudo, que a autentica palavra profética          desta graça divina a preocupação e o objetivo maiores
tem que ter o seu apoio e fundamento nas Sagradas              de nossa missão como Igreja Metodista. Afirmamos que
Escrituras de forma clara e inequívoca, pois Deus não é        um dos dons dados à Igreja Metodista quanto à saúde é
Deus de confusão (1 Co 14.33a). É isto o que nos               a sua mensagem e ação preventivas, combatendo tudo
ensina Wesley no Artigo de Religião nº 5.                      o que prejudica a mente e o corpo, levando o povo a
                                                               praticar a “medicina preventiva”.
   Declaramos, ainda mais, que a Igreja Metodista não
aceita que se confunda com o exercício da profecia,               Devemos fugir da tentação de querer reduzir o poder
coisas     tais   como,   prognósticos,   adivinhações     e   restaurador de Deus a uma fórmula mágica. De acordo
perscrutar o passado, o presente e o futuro de quaisquer       com os relatos neo-testamentários as curas revelam a
pessoas,     reconhecendo     que    estas   práticas    são   natureza misteriosa da atuação soberana de Deus. Não
abominações aos olhos do Senhor (Dt 18.9-14), e,               encontramos ali uma fórmula mágica para a cura, nem
portanto, não devem ser toleradas em nosso meio.               uma técnica fantástica para a restauração da saúde.
                                                               Vemos somente o poder de Deus manifestado de várias
   Declaramos que a Igreja Metodista reconhece que o           maneiras através de Jesus Cristo e seus apóstolos.
Deus criador é o mesmo que em Cristo, no poder do              Devemos lançar mão de todos os recursos, tanto os da
Espírito, sustenta, salva, restaura e renova todas as          ciência humana como os da graça divina, para cuidar da
coisas. Reconhecemos e afirmamos o poder de Deus               saúde.
para curar enfermidades, através de meios e recursos
ordinários    e   extraordinários.   Declaramos   que    ao
Rejeitamos toda forma de exploração, que sob a           critério do Espírito distribuir os dons como e a quem lhe
aparência de cura divina, aproveita-se da boa-fé e da       apraz (1Co 12.11). A respeito do dom de línguas assim
credulidade do povo, especialmente das camadas mais         se expressou Wesley:
pobres e humildes de nossa população.
                                                                             “O dom de línguas, vós o afirmais,
   Afirmamos, finalmente, ao contrário dos grupos                         pode ser considerado a prova ou critério
pentecostais tradicionais, que o dom de línguas não é o                   apropriado    para   se   determinar    as
sinal distintivo da recepção do Espírito Santo, pelas                     pretensões miraculosas de todas         as
razões já anteriormente expostas. O sinal distintivo da                   Igreja. Se entre os dons extraordinários as
recepção do Espírito é o fruto do amor. O que a Bíblia                    Igreja não podem apresentar tal dom, elas
nos diz é que o dom de línguas é um entre os demais                       não têm como demonstrar que são
dons do Espírito. Paulo, apesar de o possuir, o reduz a                   genuínas [em sua eclesialidade].
uma experiência de caráter pessoal e de valor
comunitário secundário, condicionando que está à                             Eu penso realmente que as coisas não
presença de intérpretes para que haja edificação da                       são assim. Eu creio que tem sido
comunidade. Portanto, como não é isso o que acontece                      estabelecida para o caso uma regra: um
geralmente, não recomenda o seu exercício em público,                     só e mesmo Espírito realiza todas estas
pois pode gerar confusão, descrença e escândalo (1Co                      coisas distribuindo-as, como lhe apraz, a
14..1-25). Seu exercício pode vir a ser útil à edificação                 cada um, individualmente; e como a cada
pessoal daquele que o recebe do Senhor. Nós não o                         individuo, assim também a cada Igreja, a
consideramos obrigatório a todos os crentes, pois é do                    cada corpo coletivo de homens. Se
realmente assim o é, então o vosso teste        Seguindo o conselho apostólico, e o de nosso Pai
não é o adequado para determinar as          espiritual, consideramos que o seu uso durante os cultos
pretensões de todas as Igreja; vendo         e reuniões públicas é desaconselhável pois por si
aquele que opera como quer, pode, com a      mesmo não edifica a Igreja como um todo. O seu
vossa licença, conceder o dom de línguas     exercício deve ser enquadrado dentro dos critérios que
onde ele concede outros dons; e pode ver     os nossos irmãos bispos estabeleceram em sua pastoral
abundantes razões para assim fazer, quer     de 15 de julho de 1975:
as vejamos ou não. Pois talvez não temos                      “A Igreja Metodista aceita o não
conhecido sempre a mente do Senhor e                       proibais de São Paulo aos Coríntios (1 Co
nem o número dos seus conselheiros.                        14.39), mas seguindo ainda o apostolo,
Entretanto, ele pode ter visto boas razões                 sugere critérios para o exercício dos dons
para conceder muitos outros dons onde                      espirituais:
não é de sua vontade conferir este [dom
de línguas]. Particularmente onde não                             1.º - a inteligibilidade (1Co 14.1-9);
seja de qualquer utilidade, como no caso                          2.º - o poder do convencimento
de uma Igreja onde todos têm uma só                           (1Co 14.20-25 cf. Is 28.11,12);
mente e onde todos falam a mesma                                  3.º - o controle (1Co 14.26-33);
língua”.                                                          4.º - a decência e a ordem (1Co
   (Obras de João Wesley, Vol. X, pg. 56).                    14.34-40).”
Bíblia e nenhuma de suas partes deixa de estar sujeita à
       g) O Espírito Santo e o Uso da Bíblia na Igreja          Palavra de deus feita carne (Jo 1.14).


   A Igreja Metodista declara que o fundamento de suas             Alertamos a toda a Igreja para os perigos graves que
doutrinas são as Sagradas Escrituras do Antigo e Novo           corremos quando se constrói conjuntos de doutrinas,
Testamento (Art. 4.º da Constituição). Wesley queria ser        práticas e costumes a partir de versículos isolados,
o homem de um livro só – a Bíblia. Em seu diário                retirados do seu contexto (como se fosse um horóscopo
proclama: “meu fundamento é a Bíblia. Sim, sou                  do crente ou um livro da sorte), particularizando-se a
intransigentemente a favor da Bíblia. Sigo-a em todas as        visão total de toda a revelação bíblica.
coisas, grandes e pequenas”.
                                                                   Afirmamos com João Wesley e em comunhão com
   A leitura da Bíblia, entretanto, em nossas Igrejas tem       todo o metodismo histórico, que no exercício da fé cristã
sido   feita   muitas   vezes    de   maneira    literalista,   aquilo que não se pode basear no testemunho bíblico
esquecendo-se do princípio bíblico de que “a letra mata,        não deve ser crido como artigo de fé e de forma alguma
mas o Espírito vivifica” (2Co 3.6). Ao assim fazermos,          pode ser considerado como imprescindível à salvação
aferramo-nos à letra do texto, esquecendo-nos do                (Art. De Religião n.º 5).
sentido amplo daquilo que a Bíblia nos comunica – a
revelação do Deus vivo. Cremos na Bíblia como o                    h) Evidências Internas e Externas da Presença do
testemunho escrito da revelação divina, dado por                Espírito
homens movidos pelo Espírito Santo. Afirmamos que
Cristo é o critério principal para a interpretação de toda a
Quais são as evidencias, os sinais e os critérios para        - Aceitação alegre e submissa do Senhorio
a verificação da evidencia do Espírito em nós?              de Cristo sobre a vida em todos os seus
                                                            aspectos;
   Na experiência cristã em nossa vivencia de fé temos           - Contínua transformação pelo Espírito em
aspectos objetivos e subjetivos. Os aspectos objetivos      nossa vida, santificando-nos e enchendo-nos
revelam aquilo que Deus é, o que Ele realiza, o que foi     do         seu         amor,     submetendo-nos
revelado pelo Espírito, testificado e confirmado pela       incondicionalmente à vontade de Deus;
Palavra Divina. Os aspectos subjetivos são o modo                - Testemunho do Espírito com o nosso
como percebemos nossa experiência com a graça de            espírito    de   que    somo   filhos   de   Deus,
Deus, daquilo que Ele nos revela e concede. A nossa fé      produzindo em nós consciência de perdão e
se fundamenta em Deus e não em nós mesmos, para             paz, alegria, reconciliação com Deus, conosco
que a nossa fé não venha a se apoiar no homem, mas          e com o próximo, espírito de humildade, amor
sim na Graça Divina (1Co 2.4-5). Podemos cair na            e serviço (Rm 8.16);
tentação de fundamentar a nossa fé em nós mesmos,                - Contínuo anseio pela presença, cada vez
nossas convicções pessoais, nossas experiências, ao         maior, de Deus na vida e desejo profundo do
invés de nos fundamentarmos em Cristo e somente nEle        conhecimento de Sua Palavra;
(1Co 3.11-23; cf. At 4.10-12).                                   - Vida de comunhão com os irmãos e irmãs
                                                            na comunidade da fé;
   Quais seriam as evidências internas da presença do            - Testemunho vivo da fé em Cristo, tanto no
Espírito? Muitas poderiam ser citadas, todavia podemos      plano das relações pessoais como no plano
resumir no seguinte:                                        das relações sociais.
contradiz a lei que o próprio Deus imprimiu em
Quais seriam as evidencias e os critérios externos?          nossas mente. O apelo apostólico nos afirma
         - Toda a experiência e vivência da vida do          que    devemos       crescer        na     “graça     e   no
      Espírito deve ser norteada e comprovada pela           conhecimento” de Cristo. Nossa mente é um
      Palavra de Deus. A Bíblia é o critério normativo       dos    canais   da     revelação           divina,    sendo
      e comprobatório de        nossas experiências.         iluminada pela fé no seu efetivar em nós.
      Temos que submeter nossa compreensão e                 Lembremo-nos o que nos diz João Wesley em
      vivência no Espírito à visão total da Bíblia;          seu    Sermão      sobre       “o     caso       da   razão
         - A comunidade da fé é importante para o            imparcialmente considerado”:
      discernimento    e   comprovação      de   nossas
      experiências. Apesar da fé cristã ser uma                       “Faça a razão tudo que ela pode; usai-
      experiência pessoal, ela não é individualista,               a até onde ela possa ir. Mas reconhecei
      mas sim autenticada, comprovada, vitalizada e                ao mesmo tempo que ela é totalmente
      enriquecida na convivência dos cristãos, na                  incapaz de dar fé, esperança ou amor, e,
      comunidade da fé, que é a Igreja;                            conseqüentemente, de produzir quer a
         - Deus concedeu ao homem, como parte de                   verdadeira     virtude        quer     a    felicidade
      sua Imagem e Semelhança, a razão. A mente                    substancial. Esperai estas coisas da fonte
      é um canal de revelação e ação divinas.                      mais alta, do Pai dos espíritos de toda
      Nossas    experiências    devem     passar      pelo         carne... Mas não é a razão que, assistida
      caminho da mente humana, iluminada e                         pelo Espírito     Santo,        nos capacita         a
      nutrida pela fé. A revelação divina não                      entender que as Sagradas Escrituras
declaram a respeito do ser e dos atributos         nós chegamos a conhecer os elementos
de   Deus?     Da    sua    eternidade   e         implícitos na santidade interior e o que
imensidade, do seu poder, sabedoria e              significa ser santo exteriormente – santo
santidade? É pela razão que Deus nos               em toda conversão; em outras palavras:
capacita,    até    certo   ponto,       a         qual é a mente que houve em Cristo e o
compreendermos o seu método de tratar              que é andar como Cristo andou”.
com os filhos dos homens, a natureza de            (Conforme Coletânea da Teologia de João
suas várias dispensações – da velha e da      Wesley, Burter e Chiles, Imprensa Metodista,
nova, da lei e do evangelho. É por esta                                 1960, pgs. 27 e 28).
que nós entendemos (o seu Espírito
abrindo e iluminado os olhos do nosso           - Autoridade da fé acima da emoção. Não
entendimento) que não nos devemos            podemos negar a importância da emoção na
arrepender de nos termos arrependido,        vida das pessoas. A vida cristã é uma
que é pela fé que somos salvos, quais são    experiência emocional, pois a emoção é parte
a natureza e a condição da justificação e    vital do ser humano. Todavia, a vida cristã
quais são os seus frutos imediatos e         está totalmente fundamentada na fé. Pela fé
subseqüentes. Pela razão aprendemos o        nos    relacionamentos    com    Deus,    somos
que é o novo nascimento sem o qual não       salvos,    vivemos   a   vida   no   Espírito   e
podemos entrar no Reino do Céu e a           desenvolvemos a totalidade de nossa vida
santidade sem o qual nenhum homem            cristã. A fé possui o seu aspecto subjetivo (Rm
verá o Senhor. Pelo uso devido da razão      4.16-25) e o seu aspecto objetivo (Ef 2.8,29),
enquanto      que    as    emoções      são   apenas
          subjetivas e pessoais. Sem deixar de lado o
          valor das emoções, devemos fundamentar a
          nossa vivencia cristã na fé. O justo vive e anda
          pela fé (Hc 2.4).


   Wesley afirma que o ministério do Espírito Santo
objetiva levar o crente a ter a mente de Cristo, andar
como Ele andou e expressar em si e na vida o “mesmo
sentimento” que houve em Cristo Jesus. Numa alusão
clara à evidência externa mais precisa da presença do
Espírito em nós – o fruto do amor (Fp 2.5; 4.8-9).


   Convém     lembrar    que        as   nossas   experiências
pessoais com Cristo e no Espírito, são dinâmicas,
continuas e crescentes. Elas nunca devem ser finais. O
clímax delas deve ser o início de um contínuo processo
de maturação da fé, a fim de que você possa cumprir o
seu ministério no mundo de maneira eficaz.
3. NORMAS DE ORIENTAÇÃO PASTORAL                                              Pentecostes tem sido considerado como o
                                                                                 dia de Nascimento da Igreja Cristã. Sob a
   Nossos Bispos em sua Pastoral de 1975 sobre o                                 presença e poder do espírito Santo houve
Movimento Carismático assim se expressão:                                        manifestações    miraculosas. Mas     além
                                                                                 destas manifestações miraculosas, estava
                “Neste momento em que a Igreja                                   o revestimento permanente do Espírito
             Metodista está sendo despertada para                                nas almas dos crentes, como um poder
             tomar consciência de sua missão no                                  iluminador e santificador, que os unia em
             mundo e buscar o poder para cumpri-la,                              um só corpo”.
             reconhecemos a necessidade urgente do
             Dom do Espírito para o cumprimento da                    Cremos que a Igreja precisa orar por uma efetiva
             missão.    Os    plano       e     programas     de   consciência de ação do Espírito Santo, para responder
             Evangelização,      Ação         Social,   Missões,   às suas manifestações no mundo de hoje. Não podemos
             Educação e outros, só se tornam parte da              deixar de considerar o fato de que problemas de
             Missão na medida em que são batizados                 discernimento entre o verdadeiro e ilusório podem surgir,
             com promessa de Jesus (At 1.8): “Mas                  mas tais problemas não devem afetar a nossa crença na
             recebereis poder, ao descer sobre vós o               ação do Espírito Santo. Por outro lado, não devemos
             espírito   Santo,        e        sereis    Minhas    permitir que o temor ao que seja desconhecido ou
             testemunhas tanto em Jerusalém, como                  mesmo incomum, possa fechar as nossas mentes para a
             em toda em toda a Judéia e Samaria e ta               realidade de uma experiência real.
             aos   confins    da      terra”.      O    Dia   de
Sabemos que existe possibilidade de abuso quanto a          2. Inclua efetivamente todas as discussões,
uma experiência mística, mas isto não nos pode levar a      concílios e reuniões e pessoas em suas orações
rejeitar ou a não aceitar os relacionamentos autênticos e   diárias;
adequados com o Espírito Santo.                                3. Seja aberto à novas formas em que Deus,
                                                            pelo Seu Espírito, possa estar falando à Sua
   Colocando-nos frente a frente com as premissas           Igreja;
levantadas pelas experiências carismáticas, insistimos         4. Busque        os   Dons     do     Espírito   que
por um mútuo espírito de abertura e amor. Se não            enriquecem sua vida e o seu ministério;
estivermos dispostos a compreender de forma objetiva e         5. Reconheça que mesmo sendo verdade o
amorosa a experiência religiosa de outros, mesmo            fato de que existem exageros no que concerne ao
diferente da nossa, dificilmente poderemos manter nossa     uso dos dons espirituais, isto não significa que
Unidade no Espírito e a condição para testemunho de         eles sejam proibidos;
nossa fé cristã dentro da tradição metodista. Em face          6. Lembre-se de que a história da Igreja, os
disto recomendamos:                                         reavivamentos têm tido muitas formas diferentes e
                                                            ocorridos em diferentes épocas. O reavivamento
   a) Diretrizes para todos                                 carismático pode trazer uma contribuição válida
                                                            para uma Igreja ecumênica
          1. Seja aberto e pronto a admitir aqueles cuja       7. Não se constranja em usar o critério da
      experiência religiosa seja diferente da sua;          razão      para   examinar   as   suas    experiências
                                                            religiosas. Lembre-se de que Wesley afirmava:
                                                            “Nós temos o princípio fundamental de que o
renunciar à razão é renunciar à religião, que a            essencial, unidade; no não essencial, liberdade: e
religião e a razão caminham de mãos dadas e que            em todas as coisas, caridade”.
toda a religião sem razão é falsa” (Cartas de
Wesley ao Sr. Rutherforth);                             b) Para os pastores e pastoras carismáticos
   8. Use sempre o critério bíblico de provar os
espíritos para ver se os dons procedem de Deus                1. Combine sua experiência carismática com
(1 Jo 4.1-8). Este discernimento é importante, pois        um profundo conhecimento e um real ajuste à
há muito do eu e do homem presentes nas                    política e à tradição do Metodismo. Lembre-se de
manifestações tidas como do Espírito;                      que você poderá servir melhor à Igreja, através do
   9. Como pastor ou pastora, procure crescer              uso amoroso e disciplinado dos dons e através de
em sua experiência e prática, como exegeta da              sua conduta       como   pastor de toda        a sua
Bíblia, um teólogo sistemático, e um pregador em           congregação, à medida em que você atue como
toda a plenitude do Evangelho. Seus Sermões e              um pastor ou pastora responsável e participante;
estudos devem sempre manifestar uma firme base                2. Procure um relacionamento profundo com
bíblica e teológica, com vitalidade espiritual, a fim      seus colegas de ministério, quer sejam ou não dos
de que sua congregação cresça no conhecimento              que se incluam na experiência carismática;
e no amor de Cristo, no seu propósito de salvar o             3. Lembre-se dos seus votos de ordenação,
mundo;                                                     particularmente    o   de   esforçar-se,   o   quanto
   10. Finalmente, lembrando-nos que a Igreja              depender de você, para manter a paz, a
Metodista é teologicamente pluralista, podemos             tranqüilidade e o amor entre todos os cristãos,
endossar o clássico e ecumênico lema: “No
especialmente        os     que      estão      sob     sua         8. Examine sempre a sua experiência à luz da
responsabilidade pastoral;                                      Bíblia e da tradição viva da Igreja. Lembre-se que
   4. Evite a tentação de impor e forçar seus                   o espírito de autocrítica é necessário para
pontos de vista pessoais e suas experiências,                   mantermos o nosso equilíbrio;
sobre os outros. Procure compreender aqueles                        9. Na expressão de uma nova experiência não
cujas experiências espirituais diferem da sua. Sua              é necessário adotar costumes e gestos de grupos
experiência não é final. Ela deve ser parte de um               pentecostais     tradicionais    adquiridos      em
processo de crescimento e maturação;                            circunstâncias e contextos diferentes do nosso.
   5. Ore a Deus pelos dons do Espírito,                        Lembre-se que a cópia de certas expressões
essenciais     ao         seu     ministério.      Examine      físicas e verbais pode se tornar uma barreira para
continuamente sua vida, no que diz respeito ao                  o seu testemunho. O que deve caracterizar sua
fruto do Espírito;                                              nova experiência não são suas novas expressões,
   6. Procure        encontrar       uma        significativa   mas a mudança que se operou em toda a sua
expressão de sua experiência pessoal, através                   vida;
dos ministérios do testemunho comunitário, para o                   10. Devemos ter cuidado em acolher pessoas
enriquecimento mútuo de todos os crentes. A                     ou grupos que se preocupam em discutir doutrinas
experiência é pessoal, mas não é individualista.                e   costumes   em    prejuízo   do   essencial   da
Ela requer o discernimento e o julgamento da                    mensagem cristã;
Igreja, como comunidade da fé;                                      11. Ao      participar      de        reuniões
   7. Não forme grupos à parte. Todas as                        interdenominacionais não minimize as diferenças
reuniões devem ser abertas a todos;                             existentes entre os vários grupos e esteja pronto a
discuti-las, à luz da Verdade, sob a ação do               Depois disso então julgue, como um cristão,
   Espírito Santo. A consciência de quem somos nos            como um Ministro Metodista e como um pastor ou
   ajuda a crescer no Corpo de Cristo.                        pastora consciente e compreensivo;
                                                                 4. Quando ocorrer o fato de falarem línguas
c) Para os pastores e pastoras não carismáticos               estranhas, procure ver o que isto significa para
                                                              aquele que está falando, em sua vida particular e
       1. Examine continuamente sua interpretação             devocional. Observemos que o Artigo XV dos
   sobre a doutrina e a experiência do Espírito               “Artigos de Religião” diz só respeito ao uso do
   Santo. Você poderá assim expressar-se com                  vernáculo   nos   serviços   regulares   de   culto.
   clareza;                                                   Devemos considerar que o falar em línguas
       2. Relembre as lições da história da Igreja,           estranhas é considerado o menor dos dons do
   quando o povo de Deus atualiza verdades                    Espírito Santo, mesmo por muitos dos que têm
   perenes,      que   o   processo   é    muitas   vezes     experiência carismática;
   inquietante, e chega até mesmo a envolver                     5. Procure conhecer a significação dos outros
   distúrbios,         mudanças,      amarguras          e    “dons do Espírito” na experiência carismática, tais
   desentendimentos;                                          como a excelência da sabedoria, o conhecimento,
       3. Procure antes de tudo saber o significado           o dom da fé, a cura, os milagres ou o dom de
   do reavivamento carismático para aqueles que o             profecia;
   experimentam. Guarde seu julgamento até que                   6. Os pastores e pastoras Metodistas devem
   esse    conhecimento       preliminar    seja    obtido.   ter boa-vontade para com os benefícios a serem
   Consulte e analise a literatura sobre o movimento.         obtidos através da mútua e variada troca de
experiências que encontram apoio nas Escrituras.           e na missão de sua Igreja demanda um chamado
Por isso mesmo, os pastores e pastoras devem               para diversos dons (1 Co 12.13 e 14).
franquear todas as reuniões, quer sejam de
orações ou de cultos ou confraternização, a todos      d) Para os leigos que tenham tido experiências
os membros interessados da Congregação;             carismáticas
   7. A experiência do Espírito Santo não torna
um crente maduro de um dia para o outro. Por                 1. Lembre-se     de    combinar       com   seu
isso, não espere que alguém que afirme ter                entusiasmo,   um    profundo   conhecimento    do
passado     por    essa    experiência     revele         Metodismo e um ajustamento à sua forma de
imediatamente todos os traços da maturidade               governo. O movimento Carismático tem uma das
cristã. Lembre-se da experiência de Corinto (1 Co         suas origens no movimento de santificação, que
3.1-2);                                                   faz parte de nossa tradição metodista. Converse
   8. Muito cuidado com a tendência de se                 com o seu pastor ou pastora sobre o significado
separar daqueles que têm uma experiência                  desta experiência para você;
diferente da sua. A formação de grupos, tanto de             2. Ore para que o Espírito o ajude a entender
um lado como de outro, constituem-se numa                 os fatos e fazer com que mantenha um sentimento
arma poderosa para destruir a obra do Reino de            de compreensão para com seus irmãos e irmãs
Deus;                                                     Metodistas;
   9. Não fique perturbado se sua experiência é              3. Lute por um conhecimento em profundidade
diferente da dos outros. Isto não significa que           do conteúdo das Escrituras, condizente com sua
você seja um Cristão inferior. Sua tarefa na obra         experiência espiritual. “Busque unir a ciência e a
piedade vital” (João Wesley). Lute por integrar           a   um    crescimento    espiritual.   A   experiência
suas experiências nas tradições teológicas de             carismática é apenas uma delas;
nossa Igreja;                                                 7. Aceite as oportunidades de se tornar
      4. Evite o entusiasmo não disciplinado e não        pessoalmente envolvido no trabalho e na missão
sóbrio     em   sua   ansiedade   por    repartir   sua   de sua própria Igreja. Permita então que os
experiência com outros. Resista à tentação de se          resultados de sua experiência sejam vistos na
colocar como uma autoridade superior sobre                aprimorada qualidade de sua atuação como
experiências espirituais dos outros. As falhas            membro da Igreja. Seja um dos sustentáculos
nesse comportamento levam outros Metodistas a             entusiastas de sua Igreja, colaborando com o seu
considerá-lo um orgulhoso espiritual;                     Pastor ou Pastora, com os leigos, com o seu
      5. Mantenha suas reuniões de oração e outros        Distrito, com a sua Região, com a Igreja geral e a
tipos de reuniões abertas a todos os membros de           missão de cada um desses organismos. Este será
sua      congregação;    nunca    realize     reuniões    o mais efetivo testemunho que você poderá dar no
fechadas ou separadas. Quando pessoas não-                sentido de mostrar a validade e a vitalidade de sua
carismáticas estiverem presentes, coloque-as a            experiência.   Esforce-se      por     integrar   sua
par     do   propósito   da   reunião,      com     uma   experiência com as tradições teológicas de sua
interpretação do significado daquilo que ali se           Igreja.
realiza;                                                      8. Não é necessário adotar as expressões
      6. Lembre-se de que existem muitos tipos de         físicas e verbais utilizadas pelo Pentecostalismo.
experiências cristas que podem levar as pessoas           Essas expressões        específicas tornam-se, às
                                                          vezes, uma barreira para o seu testemunho;
9. Conserve     sua   experiência       carismática        trabalho na Igreja e em sua participação na
   sempre em observação. Lembre-se de que isto                   missão de sua Igreja. Examine os ensinos das
   não significa que você seja melhor do que os                  Escrituras sobre a pessoa e a obra do Espírito
   outros cristãos. Cuidado com o orgulho religioso.             Santo. Ore a Deus para que lhe ajude. Converse
                                                                 com o seu Pastor ou Pastora;
e) Para os leigos não carismáticos                                  4. Não fique perturbado, se sua experiência é
                                                                 diferente da dos outros. Isto não significa que você
      1. Em nossa tradição cristã, cremos que Deus               seja um Cristão inferior. Sua tarefa na obra e na
   está constantemente procurando renovar a sua                  missão de sua Igreja demanda um chamado para
   Igreja, incluindo a Igreja Metodista. Ore a Deus              diversos dons (1 o 12, 13 e 14);
   para que Ele revele a você o seu lugar certo no                  5. No caso de o seu Pastor ou Pastora ser
   processo de renovação;                                        carismático, ajude-o a ficar bem ciente das
      2. Alguns membros da congregação, colegas                  necessidades espirituais de toda a Igreja; ajude-o
   seus, têm uma experiência carismática. Aceite-os              a ser um mestre e pastor de todos e a apresentar
   efetivamente como Cristãos Metodistas. Evite a                em sua pregação todos os aspectos e a plenitude
   tentação   de    “minimizar”   toda    e     qualquer         do Evangelho.
   experiência;
      3. Muito cuidado com a tendência de você se             CONCLUSÃO
   separar daqueles que tenham tido experiências
   diferentes das suas. Observe pessoalmente os               Ao entregarmos esta pastoral nos anima o amor que
   carismáticos nas reuniões de oração, em seu              sentimos por todo o rebanho que constitui a Igreja
Metodista. Oramos ao Senhor para que entre nós se
cumpra a vontade do Senhor: “Não rogo somente por
estes, mas também por aqueles que vierem a crer em
mim, por intermédio da sua palavra, a fim de que todos
sejam um; e como é tu, ó Pai, em mim e eu em ti,
também sejam eles em nós; para que o mundo creia que
tu me enviaste” (Jo 17.20-21).


   Se, entretanto, o perigo da dissensão rondar nossas
comunidades, todas as partes envolvidas são exortadas
a examinar a situação no espírito de amor, unidade e
compreensão, de aceitação mútua e fraterna, em atitude
de humilde oração, procurando sujeitar-se em amor a
estas nossas orientações pastorais e doutrinarias. Muitas
vezes a tensão e o conflito podem conduzir a Igreja a
uma vivencia em Cristo mais autentica e verdadeira;
portanto, todos são chamados a agir com prudência,
sabedoria e moderação.

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A Igreja Metodista e o Movimento Carismático

  • 1. IGREJA METODISTA Igreja Episcopal Efésios 4.1-4, 15-16 Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro do Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda humildade e mansidão, com longanimidade, PASTORAL SOBRE A suportando-vos uns aos outros em amor. DOUTRINA DO ESPÍRITO esforçando-vos diligentemente por preservar a SANTO E O MOVIMENTO unidade do Espírito no vinculo da paz. CARISMÁTICO Há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é o cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, Série “Documentos” – 2 bem ajustado e consolidado, pelo auxilio de toda junta, Departamento Editorial da Imprensa Metodista segundo a justa cooperação de cada parte, afetua o seu Av. Senador Vergueiro, 1301 próprio aumento para a edificação de si mesmo em São Bernardo do Campo – SP amor.
  • 2. num ímpeto colossal do Espírito de Deus, em pleno PASTORAL SOBRE A DOUTRINA DO ESPÍRITO século XVIII, o metodismo chegou até nós, em nossos SANTO E O MOVIMENTO CARISMÁTICO dias, pelo testemunho de mulheres e homens fiéis à vocação de “espalhar a santidade de Deus por toda a Nós, os Bispos da Igreja Metodista, chamados por terra” e à convicção de que “o mundo é a nossa Deus e pela Igreja, para apascentarmos o seu rebanho, paróquia”. preocupados com a preservação da unidade do espírito no vínculo da paz, às igrejas do povo chamado metodista Com João Wesley, reconhecemos que o “metodista é apresentamos esta pastoral sobre a doutrina do Espírito alguém que, pelo Espírito Santo, tem o amor de Deus em Santo e as questões levantadas pela irrupção do seu coração, com toda a sua alma, com todo o seu movimento carismático nas comunidades evangélicas entendimento e força” (Marcas de um metodista). tradicionais, inclusive as nossas. Com Bispos eleitos pela Igreja, reafirmamos nossa Graças a todos os irmãos e irmãs, membros leigos e comunhão com os membros do XII Concílio Geral da clérigos, e paz da parte do Senhor Jesus e de Deus Igreja Metodista, reunidos em Piracicaba, um dos berços nosso Pai, a quem, na unidade do Espírito Santo, seja a do metodismo brasileiro, e proclamamos que “a Igreja só honra, e a glória, e o louvor, pelos séculos sem fim. é Igreja quando revestida e orientada e, poderosamente Amém! fortalecida no Espírito Santo. Na presença, orientação, capacitação e poder do Espírito Santo a Igreja cumpre a Damos graças a Deus pela ação de Deus na vida do missão... A Igreja Metodista no Brasil reconhece que movimento metodista. Nascido no coração dos Wesley, tudo na fé cristã depende da presença e ação do Espírito
  • 3. Santo...; daí a urgente necessidade de o povo de Deus Salvador. Mediante a concessão dos dons do Espírito, estar sensível à ação do Espírito Santo, e tudo fazer para Deus em Cristo edifica a sua Igreja, capacitando-a para a não se tornar, consciente ou inconscientemente, uma evangelização do mundo. É importante relembrarmos pedra de tropeço ao Espírito Santo”. (Plano Quadrienal. aqui um dos fundamentos de nossa herança protestante Bases Teológicas n.º 17). e evangélica – o sacerdócio universal de todos os crentes. O ministério de Cristo, compartilhado por sua Reafirmamos, ainda, nossa comunhão com os irmãos Igreja, é comunitário e não individual, pois todos os bispos que no passado instruíram o povo metodista cristãos são chamados a participar sem quaisquer sobre a pessoa e a ação do Espírito Santo através de discriminações na ação salvífica de Deus em Jesus edificantes pastorais. O documento que ora oferecemos Cristo (1Pe 2.1-10; cf. Ex 19.6; Nm 11.29; Cl 3.9-11). à consideração de nossa Igreja aprofunda o ensino anterior e o considera à luz de uma problemática Reafirmamos, também, que ao expormos à Igreja específica: as questões levantadas pelo chamado nossa orientações sobre a Doutrina do Espírito Santo e o movimento carismático. movimento carismático, buscamos seguir os critérios wesleyanos para o exame de doutrinas e costumes que Entendemos que a expressão é carismática é pobre careçam de orientação adequada dentro da nossa quando se refere a uma determinada experiência de comunidade: alguns cristãos, pois, segundo o ensino bíblico, todo cristão é carismático, na medida em que os dons de - o testemunho da Palavra de Deus escrita; Deus são extensivos aos cristãos indistintamente e onde - o testemunho da tradição viva da Igreja, em outros quer que Jesus Cristo seja confessado como Senhor e tempos, lugares e confissões;
  • 4. - a experiência pessoal dos cristãos; pastores e leigos, estejam em perfeita, completa e total - e o uso da razão, meio pelo qual também comunhão e unidade com a Igreja: conosco, os bispos da compreendemos a revelação divina. Igreja, com todos os pastores e pastoras, e com todo o povo metodista. Temos a certeza de que com tal espírito Como herdeiros do Pentecostes do século XVIII, o e determinação, o ardor e entusiasmo providos pela movimento conduzido por Deus através dos irmãos experiência chamada carismática servirão para a Wesley, fiéis à nossa herança ecumênica que nos leva a edificação de todo o corpo a fim de que melhor estender a mão de comunhão a todo aquele que se realizemos a tarefa missionária que o Senhor colocou em sentir em paz com Deus, acolhendo com amor fraterno nossas mãos, pois “UNIDOS PELO ESPÍRITO aos irmãos e irmãs que em sua vivencia de cristãos METODISTAS EVANGELIZAM”. Assim, pretendemos tenham tido experiências denominadas de carismáticas. dentro de uma clara compreensão de nossa herança Nossa Igreja se abre a todos aqueles que se metodista, providenciar aos metodistas brasileiros reconhecem como metodista, dentro dos princípios de fé orientação que nos ajude a compreender a interpretar o aceitos pelo Metodismo Universal, e aceitam nossas papel do Espírito Santo na vida da Igreja e do mundo de doutrinas, costumes e organização eclesial. Esperamos, tal sorte que as experiências de nossos dias sirvam de como bispos da Igreja, que aqueles metodistas que se forma eficaz para evangelização do povo brasileiro. consideram carismáticos concordem em se comprometer mais e mais com nossa herança comum, enraizados no Obedientes à voz de Deus, que tem chegado até nós que Deus tem feito através do povo chamado metodista, através dos reclamos de irmãos e irmãs nossos, aqui e em outras partes do mundo. A exemplo de todos instando-nos para que orientemos doutrinária e os metodistas, desejamos que estes irmãos e irmãs, pastoralmente à Igreja de Deus sob nossos cuidados
  • 5. episcopais a respeito destas questões, após estudo e oração, no espírito de humilde serviço pastoral, colocamos perante o povo metodista esta pastoral. “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria, como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos e quão inescrutáveis são os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro lhe deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele e por meio dele e para ele são todas as cousas. A ele, pois a glória eternamente. Amém.” (Rm 11.33-36)
  • 6. 1. O MOVIMENTO CARISMÁTICO Uma das ênfases centrais do movimento carismático tem sido o interesse na ação e ministério do Espírito O chamado “Movimento Carismático” ou o “Neo- Santo, na Igreja e no mundo, tanto na dimensão Pentecostalismo”, ou ainda, a “Renovação Carismática”, pessoal, como na dimensão comunitária. De uma certa é o despertar no seio de Igrejas Tradicionais de uma forma, o movimento carismático, como já ocorrera com o nova experiência, conhecida no ambiente do aparecimento dos grupos pentecostais, reavivou na Pentecostalismo Clássico, de vivencia do batismo do Igreja a necessidade de se examinar de maneira mais Espírito Santo e dos Dons do Espírito. Embora não se conseqüente a ação e o ministério do Espírito Santo. possa precisar o seu surgimento, as fontes conhecidas do seu despertar apontam para os primeiros anos da A ênfase que o movimento carismático dá ao poder década 60, em algumas Igrejas nos Estados Unidos e na do Espírito Santo e à importância dos dons espirituais Europa. Na Igreja Católica o movimento é melhor para o exercício da Missão, tem servido para nos caracterizado, tendo seu inicio na primavera de 1967 despertar quanto à necessidade de uma autentica nas Universidades de Duquesne, Pittsburg, e de Notre renovação em toda a Igreja sob a direção do Espírito Dame, South Bend, nos Estados Unidos. O movimento Santo. se espalhou por todo o mundo e tem causado impacto no seio de Igrejas Tradicionais, especialmente as Outra ênfase central no movimento carismático é a protestantes, dada a sua aproximação com o sua convicção de que a vida sob o poder do Espírito pentecostalismo clássico, e tem gerado controvérsias. Santo é acompanhada de manifestações extraordinárias, os dons espirituais, conforme as descrições do Novo Testamento. Estas experiências, comuns no contexto
  • 7. pentecostal tradicional, se tornam mais freqüentes nos variados grupos cristãos, são expressões significativas ambientes das denominações chamadas “históricas”, da diversidade da ação do Espírito Santo na Igreja de como entre nós, os metodistas. Os dons, inúmeras Cristo. vezes, se manifestam com alegria e emoção, procurando, contudo, em muitos grupos, evitar-se cair no Apesar de pouco generalizada, alguns grupos emocionalismo. A ênfase que se tem dado, de um modo carismáticos procuram dar ênfase à unidade que deve geral, através da literatura carismática, tem sido na existir entre evangelização e luta pela justiça social. apropriação dos dons pela fé e não pelos sentidos, na Estes grupos procuram realçar a necessidade tanto de busca de emoções. Estas poderão acompanhar uma uma renovação pessoal, como a necessidade de uma experiência, mas não são estritamente necessárias. A fé renovação das estruturas sociais, baseados na é mais importante que as emoções, embora estas façam convicção de que o reino de Deus encontra uma das parte de nossa estrutura psíquica. Os dons devem ser suas expressões mais importantes na realização da buscados como instrumentos para “a edificação do justiça social. Corpo de Cristo” e não como algo de mera satisfação individual. São para serviço da comunidade da fé e do Se, por um lado, há elementos altamente positivos na mundo, e não para vanglória pessoal. irrupção do movimento carismático nos seios das igrejas históricas, tais como o valor da oração e do estudo das O movimento carismático também dá ênfase ao fato Escrituras, a dinamização do ministério leigo na de que não se pode estabelecer um padrão de comunidade cristã, a atenção à obra de testemunhar experiência a ser seguido por todos os cristãos. Cristo onde quer que se esteja, por outro lado, há Reconhece que as mais variadas experiências nos mais também perigos que podem vir a comprometer a
  • 8. legitimidade do movimento a tendência ao divisionismo, ecumênico, especialmente nas comunidades de base, ao isolamento e ao sectarismo, a presença de um onde o compromisso de fé com a justiça une cristãos de fundamentalismo literalista quanto aos textos bíblicos, diferentes confissões, e também o ímpeto evangelístico especialmente do Antigo Testamento, a exacerbação que percorre quase todas as Igrejas cristãs. Estes sinais das emoções e dos sentimentos, a falta de consciência testificam a presença do Espírito entre nós, em nossos do caráter provisório da experiência e do conhecimento tempos. cristão (cf. 1 Co 13.9-12), e a indefinição confessional que leva muitos irmãos e irmãs carismáticos a se A manifestação do Espírito de Deus é variada, e tornarem vulneráveis à exploração de líderes de devemos estar atentos para todos os sinais que reputação até mesmo duvidosa. evidenciem o dinamismo espiritual da vida da comunidade dos crentes em Jesus. Não pretendemos esgotar aqui a descrição do movimento carismático. Existe hoje uma abundante literatura ao nosso alcance sobre esta experiência de diversos cristãos em muitos países do mundo. Lembramos, contudo, que esta não é a única experiência renovadora das igrejas em nossos dias. Há outros movimentos que merecem toda a atenção do Povo de Deus, tais como redespertar do compromisso cristão com a luta dos pobres e oprimidos por um mundo mais justo e fraterno, o crescimento do movimento
  • 9. 2. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A irmãos e irmãs que formam o povo chamado metodista DOUTRINA DO ESPÍRITO SANTO sobre esta oportunidade oferecida pelo Senhor, convidamos a Igreja a ser abrir ao sopro vitalizador do Queremos refletir com o povo metodista acerca de Espírito (Ex 37.1-14). Para participarmos da construção alguns pontos que consideramos importantes para a do Reino de Deus de maneira efetiva é necessária a correta compreensão da ação do Espírito Santo na vida renovação de todo o Povo de Deus. Por isso, numa do crente, da Igreja e do mundo. A reflexão que ora atitude de oração humilde, rogamos ao Senhor: fazemos é parte de nosso ofício episcopal. Somos desafiados pelas exigências da Palavra viva de Deus, “Vem dos quatro ventos, ó Espírito, e assopra sobre que chega a nós tanto pelo testemunho bíblico do Antigo estes mortos, para que vivam”. (Ez 37.9) e Novo Testamento, como através dos clamores de nosso povo. Vivemos momento de profunda crise em a) O Espírito Santo, O Espírito de Deus nossa sociedade em todas as suas dimensões e reconhecemos que a origem desta crise está num O Espírito é Santo porque ele é de Deus. Há um fato sistema de vida e de valores que conflitam abertamente evidente em todo o testemunho histórico da palavra de com a mensagem do Reino de Deus e de sua justiça, Deus: Javé (ou Jeová) é o Deus que se revela na proclamada e vivida por Jesus Cristo. Esta crise nos história como Criador (Gn 1 e 2), como Senhor (Ex 20.2 desafia a um testemunho do evangelho e do seu poder e 3), como Salvador (Is 43.1-3; 45.21; 60.16; Os 13.4; Lc libertador, tanto das pessoas como das estruturas sócio- 1.47), e como Fortalecedor (Sl 10.13-18; Is 41.8-10; Ef político-econômicas, que só com a assistência do 6.10). Este Javé é Espírito (Jo 4.24; 2 Co 3.17). A Espírito de Deus poderemos dar. Ao refletirmos com os expressão espírito, quando se refere a Deus, tanto no
  • 10. Antigo Testamento como no Novo Testamento, se Após a Ressurreição e a Ascensão de Jesus Cristo, identifica sempre como o próprio Javé e com sua ação o Espírito de Deus passa a agir no mundo de maneira de Senhor. É Javé quem dá vida e alento ao mundo e às nova e esta ação tem como um dos seus focos a criaturas; quem chama Abraão do meio de sua parentela comunidades dos discípulos de Jesus. A experiência da para constituir o Povo de Deus, vocacionando-o a ser nascente Igreja no dia de Pentecostes, quando Javé bênção para todas as famílias da terra; quem liberta o cumpre as promessas do passado (Jl 2.28-29; Ez 36.25- seu povo da opressão egípcia; quem o preserva no 27) e as do próprio Jesus (Jo 14 e 16; At 1.8), mostra deserto e lhe dá a terra da liberdade prometida aos como a comunidade primitiva começa a perceber a ação patriarcas; quem dá sabedoria aos juízes; quem dá a do Espírito que nos dá a consciência da graça salvífica palavra aos profetas. É Javé que, na plenitude dos em Cristo (Jo 14.26; 15.26; 16.8-13; 17.8-11), pela qual tempos, se faz homem em Jesus de Nazaré e sobre ele somos conduzidos à comunhão com o Pai (1 Jo 1.3), e derrama o seu Espírito; nele se manifesta de maneira este mesmo Espírito é quem nos conduz no caminho da plena, em sua vida, morte e ressurreição. É Javé que no santificação (2 Ts 2.13; Rm 8.9-11; Gl 5.22-24) e nos dia de Pentecostes, mediante a ação do seu Espírito, capacita para o exercício do ministério cristão até os vocaciona e constitui a sua Igreja. Dando-lhe graça e confins da terra (Ef 4.1-16, cf. At 1.8). O Senhor Jesus poder, capacitando-a para cumprir o testemunho de antes de ser glorificado, prometeu a sua companhia Jesus Cristo, na continuação da sua ação histórica e contínua junto aos seus discípulos; esta companhia salvífica. O testemunho das Escrituras Sagradas nos contínua se efetiva mediante a ação do Espírito do convence do fato de que a ação do Espírito sempre nos Senhor e alcança a todos os que nele crêem e se manifesta a presença do Deus Trino. sujeitam ao seu Senhorio. Esta presença do Espírito é que dá à Igreja poder para o cumprimento da Missão de
  • 11. Deus, e seu ministério se dá na vida das pessoas, da passar pela experiência de regeneração, e sem o seu Igreja e do mundo. testemunho não podemos alcançar a santificação (ver os sermões de Wesley, n.ºs IX, X, XI, XII e XIII). O testemunho bíblico também nos afirma e preserva constantemente a unidade da ação divina. Deus é um só Cremos na Santíssima Trindade – Pai, Filho e e age sempre em unidade, apesar de agir de diferentes Espírito Santo (Artigo de Religião n.º 1). Esta confissão maneiras em diferentes momentos da história humana fazemos na companhia de todos os crentes, em todos os (Sl 33.6; Hb 1.1-2; 2 Co 5.17). É, portanto, perigoso se tempo, e em todos os lugares em que a fé apostólica foi tentar isolar o trabalho do Espírito da ação do Pai e do proclamada e vivida, de maneira correta e verdadeira. Filho. Deus em si é indivisível e inseparável em sua Estamos convictos, como Bispos da Igreja, que a ação, pois Deus de maneira nenhuma pode negar-se a vontade de Deus Trino é conduzir a Igreja dos nossos si mesmo (2 Tm 2.13). É perigoso, também, dar-se dias à vivencia e à dimensão plena da vida ênfase desmedida à obra do Espírito em detrimento à experimentada pelos nossos irmãos e irmãs da Igreja pessoa de Jesus, esquecendo-se que sua ação é revelar Primitiva, a fim de que como eles possamos responder e glorificar a Jesus, levando homens e mulheres à às exigências da Missão, aqui e agora. aceitação do seu Senhorio, já que só mediante o Espírito é que podemos confessá-lo como Senhor, confissão b) O Reino de Deus, o dom do Espírito, e a imprescindível para a nossa salvação (1 Co 12.3; Rm Igreja 10.9-13). É perigoso, entretanto, subestimar-se o poder e a obra do Espírito na vida da Igreja, pois cremos que Relembremos o que no disse o último Concílio Geral somente através de sua atuação pode o ser humano de nossa Igreja:
  • 12. “A Missão de Deus no mundo é Jesus iniciou a sua Missão no Mundo estabelecer o seu reino. Participar da com a pregação: “O tempo está cumprido implantação do seu Reino em nosso e o reino de Deus está próximo, mundo, pelo Espírito Santo, constitui-se arrependei-vos e crede no Evangelho”, na tarefa evangelizante da Igreja. conforme Marcos 1.15. O reino de Deus é alvo do Deus trino e Conseqüentemente, o Propósito de significa o surgimento, do novo mundo, da Deus é liberar o ser humano de todas as nova vida, do perfeito amor, da justiça coisas que o escravizam, concedendo-lhe plena, da autentica liberdade e da uma nova vida à imagem de Jesus Cristo, completa paz. Tudo isto está introduzido através da ação e poder do Espírito em nós e no mundo como semente que o Santo, a fim de que, como Igreja, Espírito está fazendo brotar, como lemos constitua neste mundo e neste momento em Romanos 8.25: “nós temos as histórico, sinais concretos do reino de primícias do Espírito, aguardando a Deus”. adoção de filhos”, ou ainda em 2 Coríntios (Plano Quadrienal, pg. 10, itens de 1 a 4) 1.21-22: “Mas aquele que nos confirma convosco em cristo e nos ungiu, é Deus, O Reino de Deus, centro da mensagem de Jesus, que também nos selou e nos deu o transcende a qualquer instituição, e não se restringe às penhor do Espírito em nossos corações”. fronteiras da Igreja. O Reino de Deus é graça, dom de
  • 13. Deus aos homens e mulheres: por isso oramos: “Venha Reino (Rm 8.23). O Senhor ressuscitado derrama o seu o teu Reino”. Através da vitória de Jesus sobre os Espírito sobre toda a carne para que a comunidade dos pobres da morte e do pecado, em sua poderosa seus discípulos seja o seu corpo visível neste mundo, Ressurreição, Deus nos promete um novo céu e uma testemunha e sinal do Reino (At 2.42-47; 4.32-35; 1 Co nova terra, cidade de Deus entre nós (Ap 21.1-7). A 12). O Espírito Santo, contudo, como garantia do Reino, realização deste Reino estabelecerá para sempre o não limita sua ação ao grupo dos discípulos de Jesus primado do direito e da justiça, da paz plena, do amor (Mc 9.38-41), mas é livre e soberano para agir onde, imorredouro, e da alegria perene, conforme o quando e como bem lhe apraz (Jo 3.8), pois o objetivo testemunho dos profetas e dos apóstolos. Ele ainda não de sua ação é fazer amadurecer as condições para a nos é tangível e nem podemos perceber toda a sua vinda do Reino. Esta presença do Espírito de Deus é, plenitude entre nós. Nossa atitude é de ardente por um lado, a garantia de que o Reino prometido, ainda expectativa: nós o esperamos, Sua presença, contudo, não presente em sua plenitude, virá; e, por outro lado, os já se faz sentir entre nós. Como a pequena semente que sinais que já podemos discernir da construção, do pouco a pouco cresce, assim o Reino de Deus já crescimento do Reino, somente são possíveis porque o manifesta os seus sinais na história da humanidade (Mt primeiro sinal da irrupção do Reino já se faz sentir 13.31-32). O tempo que vivemos, do já e do ainda não poderosamente entre nós – o derramamento do Espírito do Reino, é o tempo do Espírito (2 Co 5.1-5; 16-21; 6.1- no dia de Pentecostes. 2). O dom do Espírito é a força e o poder de Deus que faz brotar, aqui e agora, entre nós, os primeiro sinais do É na tensão do já e do ainda não do Reino, no tempo reino de Deus e da sua justiça, da nova criação, o novo do Espírito, que se localiza a Igreja. Somos sinal do homem, a nova mulher – é o tempo das primícias do Reino, mas não nos confundimos com ele. E ainda mais:
  • 14. temos que reconhecer que não somos Reino e sua de Jesus. Viver no Espírito é antes de mais nada ser garantia. Temos que lutar contra toda tentação de capaz de amar como Jesus amou, ao ponto de dar a sua sermos proprietários do Espírito, como se isso fosse vida pelos seus amigos (Jo 13.1; 15.12-17; Fp 2.1-9). possível (At 5.1-10; 8.18-24). Antes, a Igreja só é Por isso, afirmamos que o primeiro e fundamental dom realmente Igreja quando se submete incondicionalmente do Espírito é a submissão ao Senhorio de Jesus Cristo – à ação e ao poder do Espírito Santo, que é concedido onde homens mulheres aceitam a Jesus como Senhor e aos crentes não como um privilégio ou um monopólio Salvador, ali o Espírito Santo realiza sua principal tarefa: seu, mas para capacitar-nos a participar consciente e levar-nos todos a Jesus Cristo, como doador da nova responsavelmente na obra da construção do Reino. vida. Os valores do Reino, além disso, nos chamam Confrontados pelo Espírito com esta vida de amor constantemente à atitude de humildade e contrição, pois pleno e total, somos constrangidos a reconhecer nossa suas exigências impõem sobre nós a necessidade de pequenez e nossa fragilidade humana, de tal sorte que nos arrependermos e convertermo-nos de nossos não há lugar para atitudes de presunção, vaidade ou pecados, tomando assim o caminho da santificação (Rm orgulho. Além disto, somo constrangidos a renunciar a 12.1-2; Ef 4.17-5, 2). toda e qualquer atitude de triunfalismo denominacional ou de grupo (1 Co 13.9a, 10-12; 2 Co 4.7; cf. Lc 10.17- É importante que realcemos o fato de que o caminho 20). da vida segundo o Espírito tem a ver diretamente com o nosso relacionamento com o nosso próximo, no mesmo Reconhecemos, ainda, que os escritores do Novo espírito de amor e serviço que caracterizou o ministério Testamento quando se referem à experiência com o
  • 15. Espírito Santo usam uma terminologia variável. Assim submeter aos interesses do Reino de Deus. temos várias designações: “a promessa do Pai” (Lc Proclamamos a convicção de que a revelação de Deus 24.49; At 1.4; 2.33); “o batismo com o Espírito” (Jo 1.33; conforme o encontramos na bíblia nos testifica sobre o At 1.5; 11.16); “o dom do Espírito” (At 2.38); “receber o interesse de Deus em salvar a totalidade da vida Espírito” (At 8.17; 19.2); e “ser cheio do Espírito” (At 2.4; humana (Mt 9.6 cf. Is 2.1-5, 9.1-7, 11.1-10). 9.17). A ação do Espírito Santo é descrita ainda com as Reconhecemos que a libertação do individuo e da palavras: “vir sobre” (At 19.6); “revestimento” (Lc 24.49); sociedade são igualmente objetos da vontade de Deus “cair sobre” (At 10.44; 11.15); e “derramar” (At 2.33, em salvar a todos, sendo aspectos inseparáveis da sua 10.45). obra redentora. Cristo veio salvar o mundo – indivíduos e sociedade – redimindo-os do pecado pessoal e social Não há duvidas que é uma experiência definida e (Rm 8.19-23 cf. Is 1.10-20, 58.1-12, 59.1-21). Todos, testificada pelo próprio Espírito com o nosso Espírito, homens e mulheres, que sob a ação do Espírito Santo como o foi na vida dos primeiros discípulos, na de confessam Jesus Cristo como Senhor são chamados a Wesley e seus companheiros e tantos outros que lutar para o estabelecimento do Reino de Deus – Reino receberam a promessa pela fé e foram poderosamente de amor, de paz, de justiça, de liberdade e de alegria. usados por Deus. Reafirmamos, nós, bispos da Igreja, à vista desta c) A recepção do Dom do Espírito compreensão bíblica e teológica sobre o relacionamento Reino-Espírito-Igreja, que tudo na Igreja deve estar O Novo Testamento, especialmente o livro dos Atos subordinado aos propósitos divinos em estabelecer o dos Apóstolos, não nos dá um paradigma único sobre a seu Reino. Todas as dimensões da vida têm de maneira como o crente recebe o dom do Espírito. O
  • 16. Apóstolo Paulo, que dedica atenção considerável à ação todos ali presentes tivessem recebido o batismo de do Espírito do Senhor na comunidade da fé, não chega a João, e que, conforme Atos 19.4, também não tinha nos dizer de forma casuística algo determinante a validade qualquer para a conversão cristã. Os 120 do respeito da recepção do Espírito Santo. O certo é que o cenáculo não necessitaram passar por duas Novo Testamento fala desta experiência decisiva para o experiências distintas – o batismo no nome de Jesus crente de maneira variada e diversa. É de ressaltar aqui (sinal de arrependimento, conversão e confissão de fé o fato de que até mesmo as narrativas bíblicas sobre a em Jesus) e a recepção do Espírito; neles o batismo recepção do Espírito pelos discípulos de Jesus não são com o Espírito abrange também a dimensão real e harmoniosas entre si, pois enquanto João nos diz que simbólica do batismo com água. Jesus concedeu-lhes o Espírito antes da sua Ascensão (Jo 20.21-23), Atos nos afirma que isto ocorreu no dia de Em Atos 2.38, ao responder aos primeiros ouvintes Pentecostes, portanto após a sua Ascensão. Entretanto, da pregação apostólica, Pedro praticamente identifica de não é isto que importa; o que realmente conta é que a maneira global a experiência do arrependimento, do recepção do Espírito é uma realidade na vida da Igreja batismo com água e da recepção do Espírito, sem que Nascente. haja qualquer alusão as experiências cronologicamente distintas e separadas entre si. Em Atos 2.1-4, lemos que os 120 discípulos de Jesus que estavam orando no Cenáculo receberam o Espírito Em Atos 8.14-17, lemos que os convertidos da no dia de Pentecostes. É curioso notar que esta Samaria foram batizados por Filipe (o diácono e não experiência se dá sem qualquer alusão ao batismo com apóstolo!) em nome de Jesus, após aceitarem pela fé a água em nome de Jesus, já que possivelmente nem mensagem do Evangelho. Contudo, não receberam o
  • 17. dom do Espírito até que os apóstolos chegassem à de tal evidencia o Apostolo e, por extensão, a Igreja de Samaria e lhes impusessem as mãos, numa separação Jerusalém, não podiam continuar insensíveis a ação de entre o aceitar Jesus como Senhor e Salvador e o Deus entre os gentios (At 11.17-19). receber o Espírito. Em Atos 19.1-7, Paulo quando chega a Éfeso Em tos 9.17, Ananias vai à casa de Judas ao descobre que as pessoas evangelizadas por Apolo nem encontro de Saulo de Tarso e ali lhe proclama a mesmo sabiam algo sobre a existência do Espírito mensagem do Cristo que lhe aparecera no caminho de Santo. Só tinham recebido o batismo de João. Paulo, Damasco, prometendo-lhe que o Senhor o encheria do primeiro esclarece-lhes sobre a diferença entre o seu Espírito, e logo o batiza. Paulo não fala em qualquer batismo de João e o de Jesus, depois os batiza em uma de suas epístolas, ao relatar sua experiência de nome de Jesus, a seguir, lhes impondo as mãos para recepção cristã, de uma outra experiência de recepção que recebam o Espírito, experiências, ao que tudo do Espírito distinta e separa daquilo que lhe ocorreu na indica, quase que concomitantes. casa de Judas. A análise destes textos de Atos, ao lado das Em Atos 10.44-48, Lucas relata que ao ouvirem a narrativas sobre a conversão de Lídia (At 16.11-15) e a pregação de Pedro, os que estavam na casa de Cornélio do carcereiro de Filipos (At 16.27-34), mostra que não receberam o dom do Espírito Santo, antes mesmo de podemos extrair da experiência dos cristãos primitivos confessarem seu arrependimento e sua fé em Jesus, e uma regra que padronize a recepção do Espírito pelo então receberem o batismo com água. O batismo com o crente, quer vinculando-a unicamente ao momento de Espírito é seguido pelo batismo com água, já que diante conversão ou do batismo, quer identificando-a como
  • 18. algo distinto, que se constitua obrigatoriamente em si época desde os tempos apostólicos. Mas mesmo como que numa segunda bênção. Tanto uma Ele opera em outros de maneira muito posição como outra são dogmatizantes e procuram diferente: Ele exerce a sua influencia de sistematizar o que em si mesmo não é sistematizável, maneira delicada, refrescante como o pois é da liberdade do Espírito agir como bem lhe apraz. orvalho silencioso. Foi do seu agrado O que podemos afirmar, sem duvida alguma, é que a operar em vós deste modo desde o qualquer pessoa que se abre humilde e sinceramente ao começo, e é provável que continue, como Evangelho, aceitando cristo como seu Senhor e começou, a operar de modo delicado e Salvador, é prometido o Espírito Santo, e Deus é fiel e quase insensível. Que Ele faça como justo em suas promessas. quiser; Ele é mais do que vós; Ele fará todas as coisas bem. Não argumenteis “Há uma variabilidade irreconciliável contra Ele, mas que a oração do vosso nas operações do Espírito Santo nas coração seja: molda a tua argila como almas dos homens, especialmente quanto queres.” ao modo da justificação. Muitos o (Cartas de Wesley “A Maria Cooke” – VII, 298) encontram derramando-se sobre eles como uma torrente enquanto d) O Fruto do Espírito experimentam o poder dominador da graça salvadora. Esta tem sido a A confissão do Senhorio de Jesus, que só pode ser experiência de muitos, talvez mais nesta feita mediante a ação do Espírito (1 Co 12.3b), só última visitação do que em qualquer outra alcança sua legitimidade quando se faz acompanhar de
  • 19. uma vida inequivocamente vida segundo os valores mais suficiente e egocêntrica, existir para Deus e o próximo, altos do Evangelho do Reino (Mt 5, 6 e 7). A confissão dar-se aos outros em serviço solidário e fraterno, viver deste Senhorio (uma das condições para a salvação – responsavelmente. Viver no Espírito é estar liberto do Rm 10.9-13, cf. Fp 2.9-11), não pode ser reduzida à pecado para servir a Deus e ao próximo. mera proclamação verbal, mas tem que ser manifesta através de uma prática de vida que esteja de acordo Viver na carne é, antes de mais nada, uma existência com o ensino de Jesus, pois pelos frutos se conhece a egocêntrica, onde Deus, a natureza e o próximo são árvore (Mt 7.15-23). Tal prática de vida evangélica é objetos dos interesses egoístas (idolatria, feitiçarias, descrita pelo Apóstolo Paulo como “andar no Espírito” e bebedices, glutonarias, inimizades, porfias, ciúmes, se expressa de forma concreta através do “fruto do discórdias, prostituição, etc.). A abordagem do Apóstolo Espírito”, opondo-se à vida não evangélica, quando o não se fundamenta numa visão moralista da vida: tal homem ou mulher vive “segundo a carne”, realizando as existência carnal (tanto do ponto de vista pessoal como “obras da carne”. É o processo de santificação do comunitário) somente é possível por causa de uma crente. quebra de relação com Deus e com o próximo, motivada por algo decisivo – o propósito humano auto-idólatra em Viver segundo a carne é vida em posição aos querer dominar o outro (Deus ou o próximo; ou os dois) propósitos de Deus, numa relação auto-suficiente e para satisfazer os interesses egoístas (Rm 1.18-32, At egocêntrica, onde Deus e o próximo não contam, os 5.1-10, cf. Gn 3.1-24; 4.1-16). Portanto, a analise paulina interesses agoístas prevalecem; em última analise, uma é feita a partir de uma visão teocêntrica da vida. vida irresponsável. Viver segundo o Espírito é assumir os propósitos de Deus, renunciar à existência auto-
  • 20. Viver no Espírito é exatamente o reverso de viver na louvando a Deus, “tremeu o lugar em que carne: é uma existência onde o centro da existência não se achavam congregados, e todos ficaram é mais o eu (pessoal ou social), mas sim os outros cheios do Espírito Santo”. Não (Deus, o próximo e a comunidade) (At 2.42-47, 4.32-37). encontramos aqui nenhuma aparência A vida segundo o Espírito é a vida que se expressa em visível, tal como havia acontecido na atos de amor desinteressado e altruísta: paz, paciência, passagem anterior, nem temos ternura, bondade, fidelidade, humildade, domínio informação de que os dons próprio. Aqueles que tomam a decisão de renunciar a extraordinários do Espírito Santo tivessem vida segundo a carne e assumir a nova vida em Cristo, a sido então comunicados a todos ou a vida segundo o Espírito (Ef 4.25-5,21), aceitam sobre si alguns dentre eles, como os dons de o Senhorio de Jesus (Mt 7.21). O critério da confissão do “curar, de operar” outros “milagres, de Senhorio de cristo sobre a vida é a manifestação do fruto profecia, de discernimento de espíritos, de do Espírito, pois o Espírito de Jesus é quem capacita o falar diversas línguas e de as interpretar” homem e a mulher a viverem a vida segundo os valores (1 Co 12.9-10). do Reino de Deus (Gl 5.25). Que esses dons do espírito Santo fossem destinados a permanecer na Em seu Sermão “O Cristianismo Bíblico”, assim se Igreja através de todas as idades o que expressa João Wesley: eles sejam ou não restabelecidos à “Neste capítulo [At 4] lemos que, medida que se aproximar a “restauração estando os apóstolos e irmãos orando e de todas as coisas”, são questões que
  • 21. não é necessário decidir. É oportuno, Espírito, os quais, não os tendo alguém, entretanto, observar que, ainda na esse tal não lhe pertence; teve em vista infância da Igreja, Deus repartiu esses enchê-los de “caridade, gozo, paz, dons da maneira mais parcimoniosa. longanimidade, benignidade, bondade” Eram todos profetas? Eram todos (Gl 5.22-24); dotá-los de fé (talvez esta operadores de milagres? Todos tinham o idéia melhor se expresse pelo termo dom de curar? Falavam todos em fidelidade), com humildade e temperança; línguas? De modo nenhum. Talvez nem habilitá-los a crucificar a carne, com suas um em mil. Provavelmente nenhum, a não afeições e cobiças, suas paixões e ser o mentor de cada igreja e, dentre desejos; e, em conseqüência da mudança esses mestres, talvez mesmo só alguns interior, assim assegurada, preencher deles (1 Co 12.28-30). Foi, portanto, para toda justiça exterior, “andar como Cristo um fim mais elevado do que a simples também andou”, na “obra da fé, na posse desses dons, que “eles ficaram paciência da esperança, no trabalho de cheios do Espírito Santo”. amor” (1 Ts 1.3). A manifestação do Espírito Santo teve Sem que nos envolvamos em curioso, em mira conceder-lhes (o que ninguém desnecessários inquéritos, no tocante aos pode negar seja essencial a todos os dons extraordinários do Espírito, cristãos, em todos os tempos), a mente consideraremos de mais perto os frutos que havia em Cristo; os santos frutos do ordinários do mesmo Espírito, cuja
  • 22. florescência permanente foi garantia a do Espírito, pois são tempo e habitação do Espírito de todas as idades: consideremos a grande Deus (Rm 8.9-17; 1 Co 6.19). Este é o caminho da obra divina realizada entre os filhos dos santificação. homens, obra que costumamos designar por uma única palavra: Cristianismo, não c) Os Dons Espirituais no sentido de ser uma série de opiniões, um sistema de doutrinas – mas no sentido “A propósito dos dons espirituais, irmãos, não quero de corporizar algo que se refere ao que estejais na ignorância” (1 Co 12.1). coração e à vida dos homens”. (João Wesley, Sermão “O Cristianismo Bíblico” n.º Vários textos do Novo Testamento nos apresentam IV, 1.º. volume de Sermões de Wesley, Imprensa listas de dons da Graça Divina (Rm 12.5-8; 1 Co 12.8- Metodista, 1953). 10; 28-31; 14.26; Ef 4.11; 1 Pe 4.8-11). Isto deixa bem claro que não existe um numero definido de dons, mas Nós, os bispos da Igreja Metodista, afirmamos que os uma grande multiplicidade que indica de forma bem discípulos de Jesus são conhecidos pelos frutos do definida que a ação de Jesus abrange toda a amplitude Espírito, o amor a Deus e ao próximo (Mt 22.34-40). O da experiência humana. fruto do Espírito é o critério básico, estabelecido pelo próprio Jesus, que distingue no crente a recepção do A importância dos dons não está no dom em si, mas batismo de Jesus – batismo com água e com o Espírito no seu uso para a edificação do Corpo. Por isso (Mt 3.11; Jo 3.5-8; At 2.38-39). Aqueles que têm o devemos entender os dons espirituais sob o tríplice Espírito de Jesus, andam no Espírito e produzem o fruto aspecto: são “charismata”, “diakoníai”, e “energuémata”,
  • 23. isto é, dons espirituais, ministérios e obras. Com isto – Senhor, e como “Theos” – Deus, o Deus Trino que entendemos a sua origem, o modo como atuam na realiza “tudo em todos” (1 Co 15.28). Em contraste com Igreja e a sua finalidade. Quanto à origem os dons são esta forte ênfase na unidade – o mesmo Espírito, o “charismata”, manifestação concreta da “charis” (graça) mesmo Senhor, o mesmo Deus – está a não menos divina. A “charis” divina é a origem de todo carisma. Isto forte ênfase na diversidade: há diversidade de dons, nos faz ver que a origem de um carisma nunca está no diversidade de ministérios, diversidade de obra. homem, mas na graça de Deus que o envolve por todos ao lado. É fundamental advertir sobre esta origem Reconhecemos, portanto, três elementos básicos no sempre que o dom é considerado ou exercido. Quanto propósito divino quanto à distribuição dos dons à Igreja: ao seu modo de atuar, os dons espirituais são “diakoníai”, ministérios ou serviços. São dados para nos - sua diversidade: os dons são diversos porque colocar em ação a serviço do Reino. Quanto à sua diversas são as necessidades da Igreja, tanto finalidade, são “energuémata”, obras exteriores. Quando comunitária, como pessoalmente. Tais necessidades um cristão exerce seu carisma, age como membro do são tanto de ordem interna (para atendimento da Corpo de Cristo, isto é, o próprio Jesus faz alguma coisa edificação dos crentes – crescimento na fé e no por meio de uma pessoa. Quando Jesus age sempre conhecimento da vontade de Deus), como de ordem aparece um resultado concreto. Portanto, a finalidade de externa (para atendimento da evangelização do mundo). todos os dons é a realização de alguma coisa concreta, Na medida em que estas duas dimensões da vida uma ajuda a alguém, a edificação da comunidade. Por eclesial apresentam diversas necessidade especificas e trás de toda essa atividade, está o Deus Trino, o Deus concretas (At 6.1-7; 13.1-5; 14.23), Deus distribui os que vem a nós como “Pneuma” – Espírito, como “Kyrios” diversos dons necessários, diferentes entre si para que
  • 24. todas as funções necessárias na vida da Igreja sejam para o testemunho do Evangelho ao mundo, igualmente assistidas (Rm 12.4,6.8; 1 Co 12.14-20; 28- complementam-se um ao outro no atendimento das 30; Ef 4.7). necessidades de toda a Igreja, servindo de igual modo para o crescimento de todos os crentes (1 Co 12.14-26; - sua unidade: a diversidade implica Rm 12.9-21), na busca da maturidade à medida da necessariamente em unidade porque os diversos dons estatura da plenitude de Cristo (Ef 4.13-16). visam a edificação da Igreja, do Corpo indivisível de Cristo (1 Co 1.12,27; Ef 4.1-4). Os dons mantêm a sua Este tríplice aspecto da distribuição dos dons nos unidade porque a fonte de onde emanam é uma só: o evidencia claramente que o Espírito Santo não tem uma Espírito Santo – na unidade do Pai e do Filho (1 Co lista limitada de alguns dons, como querem fazer 12.13). Mas ainda – Só temos um Senhor; recebemos acreditar certos grupos ao procurarem enumerá-los uma só fé; proclamamos um único batismo; e servimos a (sete? Nove? Doze?), mas quede acordo com a um só Deus e Pai de todos (Ef 4.5,6). Ora, se Deus é um dinâmica que ele imprime à missão supre à Igreja com só e se a sua Igreja é uma só, os dons que Dele provêm os dons que lhe apraz. Daí concluirmos que nem mesmo e que visam atender a Igreja em suas necessidades – o Novo Testamento pretende nos desenhar uma tanto internas como externas – são em si mesmos estrutura rígida de ministérios, mas nos apresenta uma indivisíveis, apesar de diferentes entre si em suas hierarquia provisória, pois de acordo com as funções. necessidades da Missão em determinados momentos, certos dons são concedidos enquanto outros podem até - sua mutualidade: os diversos dons, que em sua mesmo desaparecer (1 Co 13.8-10), não havendo, unidade visam a edificação da Igreja e sua capacitação
  • 25. portanto, uma preocupação por se uniformizar ou cristalizar os dons na vida da comunidade cristã. Os dons são equipamentos necessários ao povo de Deus em marcha, mas os discípulos de Jesus são Relembramos aqui a pastoral sobre o movimento conhecidos não pelos dons espirituais, mas pelo amor. carismático de 1975: Por isso, nossa preocupação maior deve ser com o “Fruto do Espírito”, o amor. Qual o porquê destas “Nem sempre aqueles que se afirmações? Recorramos à passagem de Mt 7.15-23. interessam pelo Espírito Santo fazem Notemos que os rejeitados reivindicam sua entrada no distinção entre “o Dom do Espírito” e os Reino baseados nas obras extraordinárias da profecia, dons do Espírito. Os segundos sem o dos exorcismos de demônios e da realização de primeiro só podem prejudicar aqueles que milagres, todas feitas em nome de Jesus, o Senhor. Sua alegam possuí-los e perturbar a ordem e condenação, contudo, se dá face à qualidade devida a paz de outros crentes fieis e dedicados. incompatível com a vontade do Pai, pois praticaram a O dom por excelência é o Dom do Espírito iniqüidade. Aí está a resposta à questão: as Santo. Todos os demais são secundários manifestações extraordinárias de curas, milagres, e complementários. Ninguém deve se línguas, etc., não são em si mesmas manifestações do gloriar de possuir dons mais excelentes Espírito de Deus. Estes fenômenos constantemente que os demais crentes, pois o Corpo de podem ocorrer em outros ambientes religiosos que nada Cristo, que é a Igreja, necessita de todos têm a ver com os fundamentos da fé bíblica. Este é o os dons para que ela cumpra a sua caso que Paulo tem de enfrentar na Igreja de Corinto (1 Missão no Mundo”. Co 12.2 e 3a, cf. 8.1-13 e 10.14-11. 1). O critério básico
  • 26. para distinguirmos a presença do Espírito de Deus na testemunha sobre a comunidade primitiva, o Corpo de vida do crente é a manifestação do fruto do Espírito, pois Cristo constituído em Igreja pela ação poderosa do quem ama conhece a Deus; o amor procede só de Espírito, por ele dirigida e capacitada. Todos os Deus; e só Deus é amor (1 Jo 4.7,8,16). Todos os dons ministérios existentes na Igreja vêm a ser por obra do e até mesmo as virtudes do Espírito virão a desaparecer, Espírito. A concessão dos dons não se faz mecânica ou menos as virtudes do Espírito virão a desaparecer, ocasionalmente, mas se dá na medida em que a Igreja menos o amor (1 Co 13.8-13), pois este jamais acaba; cresce em seu testemunho no mundo (At 6.1-7, 14.23). só há amor onde o Espírito de Deus está presente, e Na medida em que a Igreja está viva, atualmente e onde o Espírito de Deus está presente, e onde o Espírito consciente da Missão, Deus, em Cristo, pelo seu de Deus está presente ali se produz o fruto do amor. Por Espírito, distribui os dons para a edificação do seu povo isso, Paulo adverte ao coríntios: “Passo a mostrar-vos o e para a evangelização do mundo (Ef 4.10-13, At 2.14- caminho que é o melhor de todos” (1 Co 12.31b) e 41). A recepção do dom do Espírito, legitimada pela proclama a excelência do amor (1 co 13). presença do fruto do Espírito, se manifesta em serviço através dos dons à Igreja (1 Co 12.7-11, 27-31; Rm Com o critério do fruto do amor, norteando nossa 12.5-8; Ef 4.11). O lugar apropriado para a recepção dos compreensão sobre a ação de Deus entre nós, na graça dons é a Igreja e o seu exercício se faz no interior da do Senhor e no poder do seu Espírito, afirmamos que os comunidade cristã e no mundo, onde o Senhor nos tem dons do Espírito são elementos fundamentais na colocado para cumprir o nosso ministério comum (Mt realização da Missão de Deus. Sem eles a Igreja não 5.13-16). Como a fonte dos dons é a graça de Deus e pode participar no propósito de Deus de salvar o mundo sua recepção se dá pela fé em Jesus Cristo, a sua (Jo 3.16; 2 Co 5.18-20). O Novo Testamento nos recepção não pode provocar qualquer sentimento de
  • 27. orgulho, vaidade ou auto-suficiência, negações que são exatamente na medida em que servem para o bem de da vida no Espírito. A doação dos dons não tem como todos: crentes e não crentes. sua finalidade última o bem-estar do crente, apesar de nos fazer sentir alegres em os receber, mas visa o bem- Como bispos da Igreja advertimos que o uso dos estar da comunidade da fé (1 Co 12.7; 12.27; 14.12, cf. dons mais espetaculares pode nos levar facilmente ao Ef 4.12). Nunca devemos buscar os dons em si mesmos, orgulho espiritual. Por esta razão, o uso de dons como o mas com o desejo de usá-los em amor no serviço da de sabedoria, discernimento e ciência, se torna mais Igreja e na salvação do mundo. Das referências neo- importante, porque são diretivos no uso de todos os testamentárias sobre os dons espirituais, sem cair na dons. Entendemos que todos os dons, maiores ou tentação do reducionismo, isto é, de reduzi-lo a esta ou menores, quando “manifestações do Espírito”, são aquela lista, podemos dizer que abrangem, entre outras, importantes para a “edificação do Corpo de Cristo”. Mas as áreas do culto divino, do ensino doutrinário e julgamos sempre oportuna a admoestação do apostolo teológico, do cuidado e da assistência espiritual à quando nos diz: “entretanto, procurai, com zelo, os comunidade cristã, da disciplina da Igreja, da prática da melhores dons” (1Co 13.31). O uso incorreto dos dons oração intercessora, da evangelização do mundo, do espirituais pode ser corrigido usando as normas bíblicas governo da Igreja, do socorro aos pobres, do dadas pelo apostolo na Primeira Epistola aos Coríntios. discernimento da vida espiritual. Mediante o exercício Lembramos sempre que é dádiva de Deus o espírito de responsável dos dons nestas e em outras áreas de amor e moderação (2 Tm 1.7). O descontrole do uso de atividade da Igreja, verifica-se a eficácia do Espírito no determinados dons pode gerar confusão e desordem. A crescimento da fé nos crentes e na conversão do nossa firmeza deve ter uma forte base bíblica. mundo. Tais dons têm supremacia sobre outros dons
  • 28. Afirmamos, ainda, que os dons nos vêm pela fé em pelo qual a mensagem divina é enunciada sob a Cristo (Gl 3.14) e estão à disposição de todos os inspiração do Espírito de Deus. Sua enunciação sempre crentes. São dádiva de Deus a nós, que nos é dada vem a nós de maneira inteligível, de tal forma que tanto juntamente com o Espírito Santo (1 Ts 4.8). Todos quem a pronuncia como quem a ouve, o faz de forma carecem do Espírito. Sua recepção é dádiva de Deus – o compreensiva à sua mente (1 Co 14.15, 19). Seu doador se dando aos seus. Em nossa vivência de objetivo é exortar, consolar e edificar o Povo de Deus (1 cristãos, devemos buscar, pois, o doador. O primeiro Co 14.3). Sua proclamação serve para o crescimento na dom que o Pai nos oferece é o próprio Espírito Santo. O fé, no conhecimento da vontade de Deus, no amor aos importante é a presença do Espírito em nossas vidas; os irmãos e irmãs. Toda mensagem enunciada em nome de dons nos serão dados mediante os propósitos de Deus e Deus deve ser devidamente confirmada por deus pelo para atender as necessidades da Missão. Com esta julgamento da Igreja, pois sendo o Espírito Santo dom consciência, reconhecemos que os dons não visão a de Deus à comunidade da fé, ele confirmará nossa glória, pois a nossa glória está na cruz de Cristo comunitariamente a Palavra inspirada, conforme o (Gl 6.4). Além disso, o exercício dos dons subordina-se próprio critério bíblico (1Co 14.29; At 17.11). ao fruto do amor, sem o que os dons nada são (1 Co 13.1-3). Reconhecemos que a correta interpretação das Escrituras Sagradas e a sua proclamação na e) Profecia, Curas e Línguas Estranhas comunidade da fé, Palavra viva de Deus semeada na experiência humana, aponta à Igreja o propósito de Nós, bispos da Igreja, consideramos, de acordo com Deus para a sua vivência. Afirmamos, pois, que a os ensinos bíblicos, o dom de profecias como o meio proclamação da Palavra é profecia na sua mais
  • 29. autentica manifestação (2Tm 3.16 cf. 2 Pe 1.16-21). aceitarmos a possibilidade da cura divina, não fazemos Lembramos, contudo, que a autentica palavra profética desta graça divina a preocupação e o objetivo maiores tem que ter o seu apoio e fundamento nas Sagradas de nossa missão como Igreja Metodista. Afirmamos que Escrituras de forma clara e inequívoca, pois Deus não é um dos dons dados à Igreja Metodista quanto à saúde é Deus de confusão (1 Co 14.33a). É isto o que nos a sua mensagem e ação preventivas, combatendo tudo ensina Wesley no Artigo de Religião nº 5. o que prejudica a mente e o corpo, levando o povo a praticar a “medicina preventiva”. Declaramos, ainda mais, que a Igreja Metodista não aceita que se confunda com o exercício da profecia, Devemos fugir da tentação de querer reduzir o poder coisas tais como, prognósticos, adivinhações e restaurador de Deus a uma fórmula mágica. De acordo perscrutar o passado, o presente e o futuro de quaisquer com os relatos neo-testamentários as curas revelam a pessoas, reconhecendo que estas práticas são natureza misteriosa da atuação soberana de Deus. Não abominações aos olhos do Senhor (Dt 18.9-14), e, encontramos ali uma fórmula mágica para a cura, nem portanto, não devem ser toleradas em nosso meio. uma técnica fantástica para a restauração da saúde. Vemos somente o poder de Deus manifestado de várias Declaramos que a Igreja Metodista reconhece que o maneiras através de Jesus Cristo e seus apóstolos. Deus criador é o mesmo que em Cristo, no poder do Devemos lançar mão de todos os recursos, tanto os da Espírito, sustenta, salva, restaura e renova todas as ciência humana como os da graça divina, para cuidar da coisas. Reconhecemos e afirmamos o poder de Deus saúde. para curar enfermidades, através de meios e recursos ordinários e extraordinários. Declaramos que ao
  • 30. Rejeitamos toda forma de exploração, que sob a critério do Espírito distribuir os dons como e a quem lhe aparência de cura divina, aproveita-se da boa-fé e da apraz (1Co 12.11). A respeito do dom de línguas assim credulidade do povo, especialmente das camadas mais se expressou Wesley: pobres e humildes de nossa população. “O dom de línguas, vós o afirmais, Afirmamos, finalmente, ao contrário dos grupos pode ser considerado a prova ou critério pentecostais tradicionais, que o dom de línguas não é o apropriado para se determinar as sinal distintivo da recepção do Espírito Santo, pelas pretensões miraculosas de todas as razões já anteriormente expostas. O sinal distintivo da Igreja. Se entre os dons extraordinários as recepção do Espírito é o fruto do amor. O que a Bíblia Igreja não podem apresentar tal dom, elas nos diz é que o dom de línguas é um entre os demais não têm como demonstrar que são dons do Espírito. Paulo, apesar de o possuir, o reduz a genuínas [em sua eclesialidade]. uma experiência de caráter pessoal e de valor comunitário secundário, condicionando que está à Eu penso realmente que as coisas não presença de intérpretes para que haja edificação da são assim. Eu creio que tem sido comunidade. Portanto, como não é isso o que acontece estabelecida para o caso uma regra: um geralmente, não recomenda o seu exercício em público, só e mesmo Espírito realiza todas estas pois pode gerar confusão, descrença e escândalo (1Co coisas distribuindo-as, como lhe apraz, a 14..1-25). Seu exercício pode vir a ser útil à edificação cada um, individualmente; e como a cada pessoal daquele que o recebe do Senhor. Nós não o individuo, assim também a cada Igreja, a consideramos obrigatório a todos os crentes, pois é do cada corpo coletivo de homens. Se
  • 31. realmente assim o é, então o vosso teste Seguindo o conselho apostólico, e o de nosso Pai não é o adequado para determinar as espiritual, consideramos que o seu uso durante os cultos pretensões de todas as Igreja; vendo e reuniões públicas é desaconselhável pois por si aquele que opera como quer, pode, com a mesmo não edifica a Igreja como um todo. O seu vossa licença, conceder o dom de línguas exercício deve ser enquadrado dentro dos critérios que onde ele concede outros dons; e pode ver os nossos irmãos bispos estabeleceram em sua pastoral abundantes razões para assim fazer, quer de 15 de julho de 1975: as vejamos ou não. Pois talvez não temos “A Igreja Metodista aceita o não conhecido sempre a mente do Senhor e proibais de São Paulo aos Coríntios (1 Co nem o número dos seus conselheiros. 14.39), mas seguindo ainda o apostolo, Entretanto, ele pode ter visto boas razões sugere critérios para o exercício dos dons para conceder muitos outros dons onde espirituais: não é de sua vontade conferir este [dom de línguas]. Particularmente onde não 1.º - a inteligibilidade (1Co 14.1-9); seja de qualquer utilidade, como no caso 2.º - o poder do convencimento de uma Igreja onde todos têm uma só (1Co 14.20-25 cf. Is 28.11,12); mente e onde todos falam a mesma 3.º - o controle (1Co 14.26-33); língua”. 4.º - a decência e a ordem (1Co (Obras de João Wesley, Vol. X, pg. 56). 14.34-40).”
  • 32. Bíblia e nenhuma de suas partes deixa de estar sujeita à g) O Espírito Santo e o Uso da Bíblia na Igreja Palavra de deus feita carne (Jo 1.14). A Igreja Metodista declara que o fundamento de suas Alertamos a toda a Igreja para os perigos graves que doutrinas são as Sagradas Escrituras do Antigo e Novo corremos quando se constrói conjuntos de doutrinas, Testamento (Art. 4.º da Constituição). Wesley queria ser práticas e costumes a partir de versículos isolados, o homem de um livro só – a Bíblia. Em seu diário retirados do seu contexto (como se fosse um horóscopo proclama: “meu fundamento é a Bíblia. Sim, sou do crente ou um livro da sorte), particularizando-se a intransigentemente a favor da Bíblia. Sigo-a em todas as visão total de toda a revelação bíblica. coisas, grandes e pequenas”. Afirmamos com João Wesley e em comunhão com A leitura da Bíblia, entretanto, em nossas Igrejas tem todo o metodismo histórico, que no exercício da fé cristã sido feita muitas vezes de maneira literalista, aquilo que não se pode basear no testemunho bíblico esquecendo-se do princípio bíblico de que “a letra mata, não deve ser crido como artigo de fé e de forma alguma mas o Espírito vivifica” (2Co 3.6). Ao assim fazermos, pode ser considerado como imprescindível à salvação aferramo-nos à letra do texto, esquecendo-nos do (Art. De Religião n.º 5). sentido amplo daquilo que a Bíblia nos comunica – a revelação do Deus vivo. Cremos na Bíblia como o h) Evidências Internas e Externas da Presença do testemunho escrito da revelação divina, dado por Espírito homens movidos pelo Espírito Santo. Afirmamos que Cristo é o critério principal para a interpretação de toda a
  • 33. Quais são as evidencias, os sinais e os critérios para - Aceitação alegre e submissa do Senhorio a verificação da evidencia do Espírito em nós? de Cristo sobre a vida em todos os seus aspectos; Na experiência cristã em nossa vivencia de fé temos - Contínua transformação pelo Espírito em aspectos objetivos e subjetivos. Os aspectos objetivos nossa vida, santificando-nos e enchendo-nos revelam aquilo que Deus é, o que Ele realiza, o que foi do seu amor, submetendo-nos revelado pelo Espírito, testificado e confirmado pela incondicionalmente à vontade de Deus; Palavra Divina. Os aspectos subjetivos são o modo - Testemunho do Espírito com o nosso como percebemos nossa experiência com a graça de espírito de que somo filhos de Deus, Deus, daquilo que Ele nos revela e concede. A nossa fé produzindo em nós consciência de perdão e se fundamenta em Deus e não em nós mesmos, para paz, alegria, reconciliação com Deus, conosco que a nossa fé não venha a se apoiar no homem, mas e com o próximo, espírito de humildade, amor sim na Graça Divina (1Co 2.4-5). Podemos cair na e serviço (Rm 8.16); tentação de fundamentar a nossa fé em nós mesmos, - Contínuo anseio pela presença, cada vez nossas convicções pessoais, nossas experiências, ao maior, de Deus na vida e desejo profundo do invés de nos fundamentarmos em Cristo e somente nEle conhecimento de Sua Palavra; (1Co 3.11-23; cf. At 4.10-12). - Vida de comunhão com os irmãos e irmãs na comunidade da fé; Quais seriam as evidências internas da presença do - Testemunho vivo da fé em Cristo, tanto no Espírito? Muitas poderiam ser citadas, todavia podemos plano das relações pessoais como no plano resumir no seguinte: das relações sociais.
  • 34. contradiz a lei que o próprio Deus imprimiu em Quais seriam as evidencias e os critérios externos? nossas mente. O apelo apostólico nos afirma - Toda a experiência e vivência da vida do que devemos crescer na “graça e no Espírito deve ser norteada e comprovada pela conhecimento” de Cristo. Nossa mente é um Palavra de Deus. A Bíblia é o critério normativo dos canais da revelação divina, sendo e comprobatório de nossas experiências. iluminada pela fé no seu efetivar em nós. Temos que submeter nossa compreensão e Lembremo-nos o que nos diz João Wesley em vivência no Espírito à visão total da Bíblia; seu Sermão sobre “o caso da razão - A comunidade da fé é importante para o imparcialmente considerado”: discernimento e comprovação de nossas experiências. Apesar da fé cristã ser uma “Faça a razão tudo que ela pode; usai- experiência pessoal, ela não é individualista, a até onde ela possa ir. Mas reconhecei mas sim autenticada, comprovada, vitalizada e ao mesmo tempo que ela é totalmente enriquecida na convivência dos cristãos, na incapaz de dar fé, esperança ou amor, e, comunidade da fé, que é a Igreja; conseqüentemente, de produzir quer a - Deus concedeu ao homem, como parte de verdadeira virtude quer a felicidade sua Imagem e Semelhança, a razão. A mente substancial. Esperai estas coisas da fonte é um canal de revelação e ação divinas. mais alta, do Pai dos espíritos de toda Nossas experiências devem passar pelo carne... Mas não é a razão que, assistida caminho da mente humana, iluminada e pelo Espírito Santo, nos capacita a nutrida pela fé. A revelação divina não entender que as Sagradas Escrituras
  • 35. declaram a respeito do ser e dos atributos nós chegamos a conhecer os elementos de Deus? Da sua eternidade e implícitos na santidade interior e o que imensidade, do seu poder, sabedoria e significa ser santo exteriormente – santo santidade? É pela razão que Deus nos em toda conversão; em outras palavras: capacita, até certo ponto, a qual é a mente que houve em Cristo e o compreendermos o seu método de tratar que é andar como Cristo andou”. com os filhos dos homens, a natureza de (Conforme Coletânea da Teologia de João suas várias dispensações – da velha e da Wesley, Burter e Chiles, Imprensa Metodista, nova, da lei e do evangelho. É por esta 1960, pgs. 27 e 28). que nós entendemos (o seu Espírito abrindo e iluminado os olhos do nosso - Autoridade da fé acima da emoção. Não entendimento) que não nos devemos podemos negar a importância da emoção na arrepender de nos termos arrependido, vida das pessoas. A vida cristã é uma que é pela fé que somos salvos, quais são experiência emocional, pois a emoção é parte a natureza e a condição da justificação e vital do ser humano. Todavia, a vida cristã quais são os seus frutos imediatos e está totalmente fundamentada na fé. Pela fé subseqüentes. Pela razão aprendemos o nos relacionamentos com Deus, somos que é o novo nascimento sem o qual não salvos, vivemos a vida no Espírito e podemos entrar no Reino do Céu e a desenvolvemos a totalidade de nossa vida santidade sem o qual nenhum homem cristã. A fé possui o seu aspecto subjetivo (Rm verá o Senhor. Pelo uso devido da razão 4.16-25) e o seu aspecto objetivo (Ef 2.8,29),
  • 36. enquanto que as emoções são apenas subjetivas e pessoais. Sem deixar de lado o valor das emoções, devemos fundamentar a nossa vivencia cristã na fé. O justo vive e anda pela fé (Hc 2.4). Wesley afirma que o ministério do Espírito Santo objetiva levar o crente a ter a mente de Cristo, andar como Ele andou e expressar em si e na vida o “mesmo sentimento” que houve em Cristo Jesus. Numa alusão clara à evidência externa mais precisa da presença do Espírito em nós – o fruto do amor (Fp 2.5; 4.8-9). Convém lembrar que as nossas experiências pessoais com Cristo e no Espírito, são dinâmicas, continuas e crescentes. Elas nunca devem ser finais. O clímax delas deve ser o início de um contínuo processo de maturação da fé, a fim de que você possa cumprir o seu ministério no mundo de maneira eficaz.
  • 37. 3. NORMAS DE ORIENTAÇÃO PASTORAL Pentecostes tem sido considerado como o dia de Nascimento da Igreja Cristã. Sob a Nossos Bispos em sua Pastoral de 1975 sobre o presença e poder do espírito Santo houve Movimento Carismático assim se expressão: manifestações miraculosas. Mas além destas manifestações miraculosas, estava “Neste momento em que a Igreja o revestimento permanente do Espírito Metodista está sendo despertada para nas almas dos crentes, como um poder tomar consciência de sua missão no iluminador e santificador, que os unia em mundo e buscar o poder para cumpri-la, um só corpo”. reconhecemos a necessidade urgente do Dom do Espírito para o cumprimento da Cremos que a Igreja precisa orar por uma efetiva missão. Os plano e programas de consciência de ação do Espírito Santo, para responder Evangelização, Ação Social, Missões, às suas manifestações no mundo de hoje. Não podemos Educação e outros, só se tornam parte da deixar de considerar o fato de que problemas de Missão na medida em que são batizados discernimento entre o verdadeiro e ilusório podem surgir, com promessa de Jesus (At 1.8): “Mas mas tais problemas não devem afetar a nossa crença na recebereis poder, ao descer sobre vós o ação do Espírito Santo. Por outro lado, não devemos espírito Santo, e sereis Minhas permitir que o temor ao que seja desconhecido ou testemunhas tanto em Jerusalém, como mesmo incomum, possa fechar as nossas mentes para a em toda em toda a Judéia e Samaria e ta realidade de uma experiência real. aos confins da terra”. O Dia de
  • 38. Sabemos que existe possibilidade de abuso quanto a 2. Inclua efetivamente todas as discussões, uma experiência mística, mas isto não nos pode levar a concílios e reuniões e pessoas em suas orações rejeitar ou a não aceitar os relacionamentos autênticos e diárias; adequados com o Espírito Santo. 3. Seja aberto à novas formas em que Deus, pelo Seu Espírito, possa estar falando à Sua Colocando-nos frente a frente com as premissas Igreja; levantadas pelas experiências carismáticas, insistimos 4. Busque os Dons do Espírito que por um mútuo espírito de abertura e amor. Se não enriquecem sua vida e o seu ministério; estivermos dispostos a compreender de forma objetiva e 5. Reconheça que mesmo sendo verdade o amorosa a experiência religiosa de outros, mesmo fato de que existem exageros no que concerne ao diferente da nossa, dificilmente poderemos manter nossa uso dos dons espirituais, isto não significa que Unidade no Espírito e a condição para testemunho de eles sejam proibidos; nossa fé cristã dentro da tradição metodista. Em face 6. Lembre-se de que a história da Igreja, os disto recomendamos: reavivamentos têm tido muitas formas diferentes e ocorridos em diferentes épocas. O reavivamento a) Diretrizes para todos carismático pode trazer uma contribuição válida para uma Igreja ecumênica 1. Seja aberto e pronto a admitir aqueles cuja 7. Não se constranja em usar o critério da experiência religiosa seja diferente da sua; razão para examinar as suas experiências religiosas. Lembre-se de que Wesley afirmava: “Nós temos o princípio fundamental de que o
  • 39. renunciar à razão é renunciar à religião, que a essencial, unidade; no não essencial, liberdade: e religião e a razão caminham de mãos dadas e que em todas as coisas, caridade”. toda a religião sem razão é falsa” (Cartas de Wesley ao Sr. Rutherforth); b) Para os pastores e pastoras carismáticos 8. Use sempre o critério bíblico de provar os espíritos para ver se os dons procedem de Deus 1. Combine sua experiência carismática com (1 Jo 4.1-8). Este discernimento é importante, pois um profundo conhecimento e um real ajuste à há muito do eu e do homem presentes nas política e à tradição do Metodismo. Lembre-se de manifestações tidas como do Espírito; que você poderá servir melhor à Igreja, através do 9. Como pastor ou pastora, procure crescer uso amoroso e disciplinado dos dons e através de em sua experiência e prática, como exegeta da sua conduta como pastor de toda a sua Bíblia, um teólogo sistemático, e um pregador em congregação, à medida em que você atue como toda a plenitude do Evangelho. Seus Sermões e um pastor ou pastora responsável e participante; estudos devem sempre manifestar uma firme base 2. Procure um relacionamento profundo com bíblica e teológica, com vitalidade espiritual, a fim seus colegas de ministério, quer sejam ou não dos de que sua congregação cresça no conhecimento que se incluam na experiência carismática; e no amor de Cristo, no seu propósito de salvar o 3. Lembre-se dos seus votos de ordenação, mundo; particularmente o de esforçar-se, o quanto 10. Finalmente, lembrando-nos que a Igreja depender de você, para manter a paz, a Metodista é teologicamente pluralista, podemos tranqüilidade e o amor entre todos os cristãos, endossar o clássico e ecumênico lema: “No
  • 40. especialmente os que estão sob sua 8. Examine sempre a sua experiência à luz da responsabilidade pastoral; Bíblia e da tradição viva da Igreja. Lembre-se que 4. Evite a tentação de impor e forçar seus o espírito de autocrítica é necessário para pontos de vista pessoais e suas experiências, mantermos o nosso equilíbrio; sobre os outros. Procure compreender aqueles 9. Na expressão de uma nova experiência não cujas experiências espirituais diferem da sua. Sua é necessário adotar costumes e gestos de grupos experiência não é final. Ela deve ser parte de um pentecostais tradicionais adquiridos em processo de crescimento e maturação; circunstâncias e contextos diferentes do nosso. 5. Ore a Deus pelos dons do Espírito, Lembre-se que a cópia de certas expressões essenciais ao seu ministério. Examine físicas e verbais pode se tornar uma barreira para continuamente sua vida, no que diz respeito ao o seu testemunho. O que deve caracterizar sua fruto do Espírito; nova experiência não são suas novas expressões, 6. Procure encontrar uma significativa mas a mudança que se operou em toda a sua expressão de sua experiência pessoal, através vida; dos ministérios do testemunho comunitário, para o 10. Devemos ter cuidado em acolher pessoas enriquecimento mútuo de todos os crentes. A ou grupos que se preocupam em discutir doutrinas experiência é pessoal, mas não é individualista. e costumes em prejuízo do essencial da Ela requer o discernimento e o julgamento da mensagem cristã; Igreja, como comunidade da fé; 11. Ao participar de reuniões 7. Não forme grupos à parte. Todas as interdenominacionais não minimize as diferenças reuniões devem ser abertas a todos; existentes entre os vários grupos e esteja pronto a
  • 41. discuti-las, à luz da Verdade, sob a ação do Depois disso então julgue, como um cristão, Espírito Santo. A consciência de quem somos nos como um Ministro Metodista e como um pastor ou ajuda a crescer no Corpo de Cristo. pastora consciente e compreensivo; 4. Quando ocorrer o fato de falarem línguas c) Para os pastores e pastoras não carismáticos estranhas, procure ver o que isto significa para aquele que está falando, em sua vida particular e 1. Examine continuamente sua interpretação devocional. Observemos que o Artigo XV dos sobre a doutrina e a experiência do Espírito “Artigos de Religião” diz só respeito ao uso do Santo. Você poderá assim expressar-se com vernáculo nos serviços regulares de culto. clareza; Devemos considerar que o falar em línguas 2. Relembre as lições da história da Igreja, estranhas é considerado o menor dos dons do quando o povo de Deus atualiza verdades Espírito Santo, mesmo por muitos dos que têm perenes, que o processo é muitas vezes experiência carismática; inquietante, e chega até mesmo a envolver 5. Procure conhecer a significação dos outros distúrbios, mudanças, amarguras e “dons do Espírito” na experiência carismática, tais desentendimentos; como a excelência da sabedoria, o conhecimento, 3. Procure antes de tudo saber o significado o dom da fé, a cura, os milagres ou o dom de do reavivamento carismático para aqueles que o profecia; experimentam. Guarde seu julgamento até que 6. Os pastores e pastoras Metodistas devem esse conhecimento preliminar seja obtido. ter boa-vontade para com os benefícios a serem Consulte e analise a literatura sobre o movimento. obtidos através da mútua e variada troca de
  • 42. experiências que encontram apoio nas Escrituras. e na missão de sua Igreja demanda um chamado Por isso mesmo, os pastores e pastoras devem para diversos dons (1 Co 12.13 e 14). franquear todas as reuniões, quer sejam de orações ou de cultos ou confraternização, a todos d) Para os leigos que tenham tido experiências os membros interessados da Congregação; carismáticas 7. A experiência do Espírito Santo não torna um crente maduro de um dia para o outro. Por 1. Lembre-se de combinar com seu isso, não espere que alguém que afirme ter entusiasmo, um profundo conhecimento do passado por essa experiência revele Metodismo e um ajustamento à sua forma de imediatamente todos os traços da maturidade governo. O movimento Carismático tem uma das cristã. Lembre-se da experiência de Corinto (1 Co suas origens no movimento de santificação, que 3.1-2); faz parte de nossa tradição metodista. Converse 8. Muito cuidado com a tendência de se com o seu pastor ou pastora sobre o significado separar daqueles que têm uma experiência desta experiência para você; diferente da sua. A formação de grupos, tanto de 2. Ore para que o Espírito o ajude a entender um lado como de outro, constituem-se numa os fatos e fazer com que mantenha um sentimento arma poderosa para destruir a obra do Reino de de compreensão para com seus irmãos e irmãs Deus; Metodistas; 9. Não fique perturbado se sua experiência é 3. Lute por um conhecimento em profundidade diferente da dos outros. Isto não significa que do conteúdo das Escrituras, condizente com sua você seja um Cristão inferior. Sua tarefa na obra experiência espiritual. “Busque unir a ciência e a
  • 43. piedade vital” (João Wesley). Lute por integrar a um crescimento espiritual. A experiência suas experiências nas tradições teológicas de carismática é apenas uma delas; nossa Igreja; 7. Aceite as oportunidades de se tornar 4. Evite o entusiasmo não disciplinado e não pessoalmente envolvido no trabalho e na missão sóbrio em sua ansiedade por repartir sua de sua própria Igreja. Permita então que os experiência com outros. Resista à tentação de se resultados de sua experiência sejam vistos na colocar como uma autoridade superior sobre aprimorada qualidade de sua atuação como experiências espirituais dos outros. As falhas membro da Igreja. Seja um dos sustentáculos nesse comportamento levam outros Metodistas a entusiastas de sua Igreja, colaborando com o seu considerá-lo um orgulhoso espiritual; Pastor ou Pastora, com os leigos, com o seu 5. Mantenha suas reuniões de oração e outros Distrito, com a sua Região, com a Igreja geral e a tipos de reuniões abertas a todos os membros de missão de cada um desses organismos. Este será sua congregação; nunca realize reuniões o mais efetivo testemunho que você poderá dar no fechadas ou separadas. Quando pessoas não- sentido de mostrar a validade e a vitalidade de sua carismáticas estiverem presentes, coloque-as a experiência. Esforce-se por integrar sua par do propósito da reunião, com uma experiência com as tradições teológicas de sua interpretação do significado daquilo que ali se Igreja. realiza; 8. Não é necessário adotar as expressões 6. Lembre-se de que existem muitos tipos de físicas e verbais utilizadas pelo Pentecostalismo. experiências cristas que podem levar as pessoas Essas expressões específicas tornam-se, às vezes, uma barreira para o seu testemunho;
  • 44. 9. Conserve sua experiência carismática trabalho na Igreja e em sua participação na sempre em observação. Lembre-se de que isto missão de sua Igreja. Examine os ensinos das não significa que você seja melhor do que os Escrituras sobre a pessoa e a obra do Espírito outros cristãos. Cuidado com o orgulho religioso. Santo. Ore a Deus para que lhe ajude. Converse com o seu Pastor ou Pastora; e) Para os leigos não carismáticos 4. Não fique perturbado, se sua experiência é diferente da dos outros. Isto não significa que você 1. Em nossa tradição cristã, cremos que Deus seja um Cristão inferior. Sua tarefa na obra e na está constantemente procurando renovar a sua missão de sua Igreja demanda um chamado para Igreja, incluindo a Igreja Metodista. Ore a Deus diversos dons (1 o 12, 13 e 14); para que Ele revele a você o seu lugar certo no 5. No caso de o seu Pastor ou Pastora ser processo de renovação; carismático, ajude-o a ficar bem ciente das 2. Alguns membros da congregação, colegas necessidades espirituais de toda a Igreja; ajude-o seus, têm uma experiência carismática. Aceite-os a ser um mestre e pastor de todos e a apresentar efetivamente como Cristãos Metodistas. Evite a em sua pregação todos os aspectos e a plenitude tentação de “minimizar” toda e qualquer do Evangelho. experiência; 3. Muito cuidado com a tendência de você se CONCLUSÃO separar daqueles que tenham tido experiências diferentes das suas. Observe pessoalmente os Ao entregarmos esta pastoral nos anima o amor que carismáticos nas reuniões de oração, em seu sentimos por todo o rebanho que constitui a Igreja
  • 45. Metodista. Oramos ao Senhor para que entre nós se cumpra a vontade do Senhor: “Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra, a fim de que todos sejam um; e como é tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17.20-21). Se, entretanto, o perigo da dissensão rondar nossas comunidades, todas as partes envolvidas são exortadas a examinar a situação no espírito de amor, unidade e compreensão, de aceitação mútua e fraterna, em atitude de humilde oração, procurando sujeitar-se em amor a estas nossas orientações pastorais e doutrinarias. Muitas vezes a tensão e o conflito podem conduzir a Igreja a uma vivencia em Cristo mais autentica e verdadeira; portanto, todos são chamados a agir com prudência, sabedoria e moderação.