1. Os 10 Pecados Mortais de uma
Narrativa
Professora Lourdes Ramos
2. 1. Uso e mau uso das palavras
• Um defeito que um bom texto jamais deverá apresentar é a repetição de
palavras sem fins estilísticos. Claro que não estamos falando de repetições
intencionais como as anáforas, por exemplo, mas daquele tipo que
desgasta a narrativa e empobrece, inclusive, seus significados.
• Veja o exemplo:
• "A menina esteve sentada ali durante toda a tarde. Coitada da menina, não
sabia que a consulta duraria tanto e que sua mãe ficaria, então,
preocupada. A menina pediu para telefonar e falou com a mãe,
explicando-lhe a demora.“
• Dica: procure substituir os nomes por pronomes quando perceber que
você repetiu muito a mesma palavra.
3. 2. Uso de clichês
• Nada mais devastador do que o clichê, entendendo-se como clichê as
repetições de expressões, ideias ou palavras que, pelo uso constante e
popularizado, nada mais significam.
• Exclua de sua redação narrativa as expressões:
• "lindo dia de sol", "abraço cheio de emoção", "beijo doce", "ao pôr-dosol", "faces rosadas", "inocente criança", "Num belo domingo de
Primavera...", "família unida", "uma grande salva de palmas", "paixão
intensa".
• Estes são apenas alguns exemplos, claro. E depende da sensibilidade de
cada um para captar os desgastes que as palavras e expressões possuem.
4. 3. Falta de coerência interna
• Precisamos ter atenção na construção do texto narrativo, a fim de que ele, que é como
se fosse um tapete num tear, não perca suas qualidades de completude. Deixar pelo
caminho situações mal desenvolvidas, circunstâncias mal nomeadas ou esclarecidas
dão sempre a ideia de desatenção, pressa ou falta de cuidado com a tessitura do texto.
Ele deve sempre parecer um todo verossímil, capaz de convencer quem o leia.
Imitação da vida ou ultra realidade, o texto não pode, a não ser por escolha do autor,
como estilo, parecer frágil em alguns aspectos, sem resistência de continuidade.
• Mesmo que o tempo seja "cortado" e nele se insiram os flashbacks, não permita que
ele se fragmente e esses fragmentos esgarcem a compreensão do que você imprimiu à
sua história.
• Dica: lembre-se de que a narrativa é como uma vida, um trecho dela: há circunstâncias
que, se retiradas, fazem-na tornar-se = incompleta ou superficial.
5. 4. Ausência de características das personagens
• Quando construímos a personagem ou personagens, sabemos que elas
devem parecer verdadeiras, criaturas assemelhadas que são aos humanos.
Mesmo numa fábula ou num apólogo, em que animais ou coisas são
personificados, há uma tendência de caracterizá-las como criaturas do
mundo real.
• Uma personagem, sobretudo a protagonista, deve ter traços fortes, típicos,
particulares. Se você criá-las sem características específicas, não há como
ressaltar- lhe os atos e tomá-los significativos na sequência da narração.
• Dica: uma boa personagem tem um cacoete qualquer; uma cor de olhos,
tiques, manias, gestos (passar a mão no cabelo, estalar os dedos ou
balançar a cabeça de um lado para o outro.)
6. 5. Ausência de características espaciais
• Outro problema que é muito complicado para quem escreve é a caracterização do
espaço onde ocorrem as ações. Muitas vezes, ele sequer existe, como no trecho abaixo:
• "Enquanto lá fora chovia intensamente, as crianças pulavam aos berros sobre o sofá da
sala."
• Quando o corretor lê isso, sem mais nenhuma indicação posterior, o que pode imaginar
é um sofá no meio do nada e três crianças pulando sobre ele... uma janela dependurada
e lá fora a chuva intensa...
• Este aspecto é tão importante que, frequentemente, revela estados de espírito,
características psicológicas e intelectuais das personagens.
• Dica: não seja excessivamente minucioso, aborde aspectos. Por exemplo: numa
narrativa de terror ou suspense, em que uma determinada cena vai se desenvolver no
sótão ; ou no porão, é imprescindível que você, em dado momento, indique - e
descreva - os caminhos que conduzem a tais lugares.
7. 6. Uso reiterado de adjetivos
• Imagine se você lesse um início de narrativa assim:
• "Numa linda, perfeita, maravilhosa, fantástica e ensolarada manhã de primavera
brasileira, aquela extraordinária jovem de cabelos longos, negros e volumosos abriu a
ampla janela para o belíssimo e perfeito jardim..."
• Diga a verdade: você aguentaria ler o resto? É evidente que, ao descrever uma
personagem ou o ambiente em que ela se encontra, precisaremos da ajuda de adjetivos;
mas saiba priorizá-los no uso, evitando abundância desnecessária.
• Uso ampliado de adjetivos também desgasta (como no exemplo acima) o texto,
banaliza-o e nada acrescenta a ele senão um certo pernosticismo que todos queremos
evitar.
8. 7. Escrita circular
• Qual é o tamanho correto que se deva dar a um texto narrativo no vestibular?
Rigorosamente, não há tamanho exato para nenhum tipo de texto, muito menos os
narrativos.
• Mas convém não ultrapassar 40 ou 50 linhas para que não incorramos num erro muito
significativo: escrever "circularmente", ou seja, repetir, infinitamente repetir, ao redor
do mesmo tema, a mesma história ou argumentos como uma espécie de bêbado que
fala sempre a mesma coisa.
• Escrever circularmente é como andar em círculos, sem que possamos sair do lugar,
investindo em algo que é importante para qualquer narrativa: as ações novas que se
encadeiam, a peripécia dos acontecimentos, a sequência que nos permita um bom
fecho.
• Dica: antes de começar a escrever, faça um breve roteiro (não é um resumo) sobre
como quer que a história se desenvolva. Ajuda muito e nos auxilia a não nos
perdermos em descaminhos.
9. 8. Começo, meio e fim...
• Um bom texto narrativo deve seguir esta sequência: começo, meio e fim? Nem sempre.
Muita gente, quando escreve, imagina que, para ser compreendido, é preciso ser
didático. Errado, pecado mortal.
• Não acredite nisso. Uma outra pergunta que se faz muito ao intentar um texto narrativo
é se ele pode terminar em "aberto", ou seja, apenas com a sugestão de fecho, aceitando
a interferência, a interação com o leitor que pode, de acordo com suas vivências e
experiências, "fechá-lo" à sua maneira. Isso é uma boa dica, acredite, para fazer
melhor o seu texto.
• Experimente, por exemplo, começá-lo pelo clímax, assim você rompe o lugar comum e
chama mais a atenção do seu corretor, que tal?
10. 9. Esquecendo uma personagem
• Antes de começar o seu texto, lembre-se de ler com atenção todas as recomendações
do enunciado e não se esquecer de qualquer recomendação. Sobretudo quando se trata
de criar um determinado tipo de personagem. Se o enunciado pedir a você que crie um
detetive, uma mulher que lê mãos, um homem misterioso de chapéu, tais pedidos,
certamente, fazem parte fundamental do que se pretende da narrativa.
• Pior do que isso é começar a narrar e, após citar uma personagem, esquecê-la, deixá-la
de lado, não trazê-la ao fio da história para que se desenvolva plenamente.
• "Esquecer" uma personagem é ato narrativo imperdoável.
11. 10. Esquecendo uma ação
• Por fim, nada pior que esquecer uma ação exigida pelo enunciado.
• Quando ele pede um determinado componente acional, melhor prestar muita atenção e
dar um contorno de relevância a isso. Normalmente, o enunciado destaca o que pede
como imprescindível.
• E antes de passar a limpo a redação, vá ao rol de exigências e confira se cumpriu todos
os itens.
• Há duas coisas que dão nota zero na hora de elaborar o texto: fugir do modal, trocá-lo
(pede-se, por exemplo, uma narração e você faz uma dissertação..). A outra é esquecer
os itens do enunciado, descumpri-los ou relegar exigências fundamentais a
circunstâncias secundárias.