2. Editorial
POR WILIANE S. MARRONI
É preciso quebrar o silêncio imposto pelos
que abusam de crianças, mulheres e idosos
T
odos os dias, a mídia apresenta o terrível brasileiras estão sujeitas à violência doméstica. O
quadro da violência, a qual se espalha assus- número foi averiguado a partir da pesquisa de vio-
tadoramente pelo mundo. As manchetes lência doméstica em 138 mil mulheres de 54 países.
mostram: namorado mantém mulher em cárcere Dos países pesquisados, o Brasil é o que mais sofre
privado, por temer separação; marido ciumento com a violência doméstica.
mata mulher com arma de fogo; pais irresponsá- Como um grito de alerta contra o abuso e a vio-
veis deixam filhos trancados em casa e saem para lência, diante desse quadro de dor e sofrimento, a
beber e se divertir; filho sem escrúpulos deixa a mãe Igreja Adventista do Sétimo Dia desenvolve anual-
sem alimento e remédio, porque gastou o dinheiro mente a campanha educativa “Quebrando o Silên-
da aposentadoria dela. cio”, para orientar as vítimas na busca de ajuda dos
A violência se instaurou no seio das famílias, dei- órgãos competentes, quebrando assim o ciclo da
xando marcas profundas nas gerações que são o futu- violência.
ro da nação. Crianças, mulheres e idosos são as prin- Todos precisam abrir os olhos diante dos sinais
cipais vítimas de uma sociedade doente, sem regras e da violência. Pais, não subestimem as mudanças de
sem amor. A maioria teme denunciar o agressor por comportamento de seus filhos – eles podem estar
receio de agravar a situação. gritando por socorro. Filhos, prestem atenção a
O que fazer? Alguns países têm promulgado leis qualquer atitude diferente de seus pais idosos – eles
que favorecem os mais frágeis socialmente. A socie- podem estar sendo maltratados por seus cuidadores.
dade precisa diminuir a incidência desse terrível mal. Mulheres, falem e, se for preciso, gritem, mas não se
Isso é também um dever moral de cada cidadão. deixem maltratar por qualquer outra pessoa. Que-
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a vio- brem o silêncio. Denunciem. Isso é um ato de amor
lência responde por aproximadamente 7% de todas para com vocês mesmas. Vocês merecem ser felizes.
as mortes de mulheres entre 15 e 44 anos, em todo A reação diante desse mal que destrói os lares e
o mundo. Em alguns países, até 69% das mulheres a sociedade deve partir de cada cidadão. Que cada
relatam terem sido agredidas fisicamente e até 47% leitor desta revista preparada com todo empenho e
declaram que sua primeira relação sexual foi forçada. carinho participe dessa campanha. O grito de socor-
Alcoolismo, estresse na família, desemprego e ro vem do íntimo de milhares de vítimas: Acabe
problemas econômicos são geralmente o estopim da agora com isso!
Foto: Shutterstock
violência contra as crianças, incluindo maus-tratos.
Uma pesquisa realizada pela Sociedade Mundial Wiliane S. Marroni é diretora da campanha “Quebrando o Silêncio”
de Vitimologia constatou que 23% das mulheres na américa do Sul.
2 Quebrando o Silêncio
3. Sumário 12 abuSo SilencioSo
O abuso emocional funciona
como uma lavagem cerebral.
2 editorial
16 PaSSaTeMPo
4 entrevista Atividades para que você aprenda
a se defender e a valorizar a paz.
6 estatísticas
8 SeGredoS deSaFiadoreS 18 Sua FaMÍlia
O abuso sexual infantil é “um Pode Ser FeliZ
tiro no aparelho psíquico das Fatores que contribuem
crianças”. para que a família seja estável.
24 TodoS
oS diaS
O bullying
29
Perdoar ou
é tema muito nÃo Perdoar
importante e A questão é muito
deve despertar séria: quem não
a atenção perdoa morre aos
dos pais. poucos.
21 26 reSPeiTo e 32 PreconceiTo, leGiSlaÇÃo
Quebrando diGnidade e Quebra do Silêncio
o Silêncio O idoso não Não tenha medo nem receio
Um estudo de pode ser visto de conquistar sua dignidade.
caso que pode como uma
abrir os olhos
dos pais ou
pedra no meio
do caminho. 34 aJuda
Sites, endereços e telefones para quem
responsáveis. precisa de ajuda e orientação.
caSa
Sinais dos Tempos é Marca
Publicadora
Diretor Geral: José Carlos de Lima Registrada no Instituto Nacional
braSileira
Diretor Financeiro: Edson Erthal de Medeiros de Propriedade Industrial. Todos os
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Quebrando o Silêncio 3
4. e n T r e V i S Ta • M A R I A DA P E N H A F E R N A N D E S
Ela não se calou
Maria da Penha é admirada por sua coragem, espírito de luta e iniciativa
em favor das mulheres que sofrem agressão
A Igreja Adventista do Sétimo Dia desenvolve, há mais de oito anos, uma campanha
chamada Quebrando o Silêncio, contra a violência doméstica. A violência atinge crianças,
idosos, mulheres e até mesmo homens. No entanto, os números indicam que a mulher é a
grande vítima da violência. As mulheres – Marias, Teresas, Cristinas e tantas outras – derramam
lágrimas silenciosas por causa do sofrimento que vem de um lugar inesperado: o próprio lar.
Foi, porém, uma dessas Marias que resolveu mudar a situação. Maria da Penha Fernandes,
farmacêutica bioquímica, cearense, mãe de três filhas, paraplégica por causa de um tiro
disparado pelo ex-marido, resolveu fazer a diferença. Ela foi vítima de duas tentativas de
homicídio pelo então marido, o economista colombiano Marcos Antônio Heredia Viveros.
Nesta entrevista concedida à jornalista Márcia Ebinger, conheça um pouco sobre o perfil
dessa mulher e sobre as conquistas que foram alcançadas graças à coragem que ela demonstrou.
Quebrando o Silêncio: Quando e cei a ter medo dos gritos, comecei a gavam às delegacias, ouviam a fra-
como conheceu seu ex-esposo? evitar fatos que ocasionavam aborreci- se: “O que a senhora fez para mere-
Ele sempre foi violento? mentos. Mesmo assim, não havia jei- cer isso?” As mulheres iam denunciar
Maria da Penha: Eu estava fazendo to porque as agressões começaram a e eram humilhadas. Na época em que
pós-graduação na Universidade de São ocorrer sem nenhuma causa, inclusive fui agredida (1983), não havia delega-
Paulo, quando conheci Marcos Antô- em minhas filhas. Aliás, é importante cia de apoio à mulher. Elas foram cria-
nio Viveros. Ele era uma pessoa queri- frisar que nada motiva uma agressão. das em 1985. No meu caso, o agressor
da por todos, afável, que agregava gru- Em uma relação a dois, deve haver diá- simulou um assalto e deu um tiro em
pos. Nos primeiros anos de casamento, logo e respeito mútuo. mim, enquanto eu dormia. Por conta
continuou sendo assim. Por ocasião do disso, fiquei paraplégica. Após quatro
nascimento de minhas duas primeiras Alguns anos atrás, quando não meses de internação, ele novamen-
filhas, ele conseguiu a naturalização havia legislação específica, como te tentou me matar por meio de uma
brasileira, e foi aí que comecei a ver era a vida de uma mulher que descarga elétrica no chuveiro. Mar-
sua verdadeira face. sofria o que você sofreu? cos foi julgado e condenado por duas
Na verdade, não havia nada. Os conse- vezes, e saiu do fórum em liberdade nas
Qual foi sua reação? lhos eram “ruim com ele, pior sem ele”. duas ocasiões. Foi uma frustração, uma
Naquele momento, eu me perdi. É A conversa naquele tempo era “se ele revolta muito grande.
o que acontece com a maioria das não bebe, não deixa faltar nada, não sai
mulheres: você conhece uma pes- para a farra, então, você vai reclamar A justiça era lenta nesses casos?
soa e, de repente, ela muda. É nessa do quê? Só por ele ser nervoso?” Para No meu caso, a primeira condenação
hora que nos anulamos como pesso- a sociedade, um homem assim era con- aconteceu oito anos depois do fato. Foi
as e começamos a acreditar que esta- siderado bom marido, tolerável. numa ocasião em que um movimen-
mos fazendo coisas erradas. Passamos a to de mulheres estava se mobilizando
Foto: Ricardo Silva
acreditar nas coisas que o agressor fala, Como era o tratamento dado às na minha cidade, no Estado do Ceará.
como, por exemplo: “Você não serve mulheres agredidas? Depois disso, resolvi escrever o livro:
nem para ser dona de casa.” Come- Geralmente, quando as mulheres che- Sobrevivi, Posso Contar. Coloquei no
4 Quebrando o Silêncio
5. livro o processo, o inquérito policial, as deu ao Brasil, constava a de que deve- Estado. Também foram criados os Cen-
contradições dele e os questionamen- riam me dar uma reparação simbólica tros de Referência, onde toda mulher
tos. Considero esse livro minha carta pelo que havia acontecido. Foi então pode se inteirar dos seus direitos.
de alforria. que decidiram dar meu nome à lei.
Em caso de agressão, qual é o primei-
Como aconteceu a condenação do Basicamente, o que mudou com a ro passo que uma mulher deve dar?
Brasil pela OEA em relação a esse criação da Lei Maria da Penha? Deve ir à delegacia. Mas, se não se sen-
assunto? No passado, quando a mulher chegava tir segura para fazer isso, deve ir a um
Duas ONGs importantes – o Cen- a uma delegacia, as delegadas se sen- Centro de Referência para se conscien-
tro pela Justiça e o Direito Internacio- tiam impotentes, porque não tinham tizar dos seus direitos.
nal (RJ) e o Comitê Latino-Americano nada para fazer. No máximo, registra-
em Defesa da Mulher (SP) – tomaram vam a queixa, chamavam o agressor, O que é o Instituto Maria da Penha?
conhecimento da minha história atra- conversavam com ele e pediam que É uma entidade que está sendo criada em
vés do livro que escrevi. As duas ONGs não fizesse mais aquilo. O agressor parceria com a Universidade de Pernam-
e eu denunciamos o Brasil junto à OEA prometia que iria se comportar bem e, buco. Com a ajuda de uma professora uni-
(Organização dos Estados Americanos) quando voltava para casa, dava uma versitária, vamos tratar pedagogicamente
pela negligência com que os agressores surra ainda maior na mulher. de todos os itens da lei. Teremos projetos
da mulher eram tratados aqui. Hoje, essa mulher pode sair de casa para visitar escolas, empresas, etc.
Baseada nisso, a OEA condenou o com a certidão dos filhos em mãos,
Brasil internacionalmente e deu metas chegar à delegacia, dizer que não tem Como você lida com a questão
para o país cumprir. O Brasil foi obriga- condições de voltar para casa, e todas dessa dor do passado?
do a concluir o inquérito do meu caso as medidas de proteção são dadas a ela. Superei tudo isso porque Deus não per-
antes da prescrição. Teve que prender o O agressor é retirado de casa e, se ele mitiu que minhas filhas ficassem órfãs
agressor e mudar as leis brasileiras para desobedecer a essa ordem, vai ser pre- de mãe. Quando senti que estava para
que não se perpetuassem os casos de so. Existe até prisão em flagrante para morrer, pedi a Deus que me deixasse
violência doméstica. casos de violência doméstica. viva, não importando as condições,
para poder cuidar delas. Acredito que
Como surgiu a Lei 11.340 – Lei Você tem recebido retorno de esse seja o sentimento que move as
Maria da Penha? mulheres beneficiadas pela lei? mulheres quando pensam que os filhos
A Presidência da República criou a Sim, em todos os lugares que visito correm o perigo de ficar na orfandade.
secretaria de políticas, a qual convocou sempre há uma pessoa beneficiada pela
as ONGs que trabalhavam a questão da lei. Nas comunidades mais carentes, as O que pensa da campanha “Que-
mulher. Organizou-se um consórcio de pessoas dizem: “Depois que meu vizi- brando o Silêncio”?
ONGs, com juristas, e todos os esfor- nho foi preso, nunca mais meu marido Ela é muito importante à medida que
ços foram envidados para que a mulher bateu em mim.” As notícias circulam leva a informação a locais distantes por
não visse impune seu agressor. nas comunidades e as pessoas repen- meio de materiais diversificados, que
Esse projeto de lei foi levado a vin- sam suas condutas. atendem a todos os públicos. A pre-
te assembleias legislativas do País e foi venção é o caminho. A lei prevê isso.
modificado de acordo com a realidade De que outras iniciativas você
de cada região. Em agosto de 2006, tem conhecimento de proteção à Deixe um recado para as mulheres
o presidente da República sancionou a mulher? que enfrentam o problema da vio-
Lei 11.340 – Lei Maria da Penha. Essa A própria lei determina a criação de lência e ainda não tiveram cora-
lei tem a cara do que o país precisa em casas-abrigo, que são locais sigilosos gem de se manifestar.
relação à mulher em todas as regiões. para onde a mulher agredida é enca- Você, mulher, precisa saber que tem o
minhada pelo juiz ou pela delegada. direito de viver sem violência. Por outro
Por que a lei recebeu o seu nome? Ali, por um período, ela é acolhida lado, como mães, precisamos educar
O meu caso foi o primeiro a chegar à com os filhos menores. Nesse período, bem nossos filhos. Precisamos criar
OEA sobre violência doméstica e, entre são tomadas medidas de proteção que uma cultura de paz no mundo, e a paz
as recomendações que a organização envolvem até uma possível mudança de começa dentro da nossa casa. ◾
Quebrando o Silêncio 5
6. Estatísticas
P O R D I O G O C AVA L C A N T I
PANORAMA DO HORROR
◾ No mundo, uma em cada três mulheres já
foi espancada, forçada a manter relações
sexuais ou sofreu algum tipo de abuso,
segundo informa a Anistia Internacional.
◾ O abuso sexual infantil está entre abuSo online
os 14 maiores riscos à saúde humana, Segundo o Conselho de Direitos Humanos
de acordo com a OMS. da ONU, cerca de 750 mil predadores sexuais
◾ Segundo dados da Secretaria Especial estão constantemente ligados à Internet em
de Direitos Humanos da Presidência da busca de menores. Eles entram em contato
República (SEDH), a cada oito minutos, pela rede, conquistam a amizade, praticam
um menor é abusado no Brasil. o abuso à distância (verbalmente ou usando
◾ Pelo menos 140 mil homens são abusados a webcam) e até marcam encontros em
sexualmente nas prisões dos Estados Unidos shoppings. A organização não governamental
todos os anos. O problema é até mais SaferNet Brasil recebe uma média diária de
comum em prisões de outros países como o 500 denúncias de pornogra a infantil.
Brasil, porém falta interesse geral para Fonte: SaferNet
reverter o quadro.
◾ Alguns games ensinam a estuprar. O caso
mais grave é o do jogo de computador
Rapelay, criado por uma empresa japonesa.
Nele, o jogador tem o objetivo de estuprar campanha
meninas, fotografá-las e fazê-las abortar. da SEDH
◾Mais de 100 mil meninos e meninas são
vítimas de exploração sexual no mundo,
segundo a OMS.
◾ Dados do Unicef apontam que, em todo
o mundo, mais de 150 milhões de
meninas e mais de 70 milhões
de meninos já sofreram abuso.
na Mira da Sociedade
Os abusadores estão com medo. Está cada vez mais fácil e seguro denunciá-los, seja pela internet, por telefone
ou pessoalmente. Se você já sofreu abuso, ou sabe algo sobre abuso ou exploração sexual, mesmo em sua própria
família, não pense duas vezes. Denuncie!
Delegacias / Delegacias virtuais
Disque Denúncia 100 É possível denunciar e até
O número é mantido pela mesmo processar abusadores,
Secretaria dos Direitos com total segurança
Humanos do Governo pessoalmente ou pela internet,
Federal (SEDH). Sigilo nas delegacias virtuais.
garantido.
Por e-mail
Outra forma de denunciar com
sigilo, diretamente à SEDH.
disquedenuncia@sedh.gov.br Polícia Federal
Em menos de um minuto, você
Fotos: Shutterstock / Ilustração: Thiago Lobo
pode denunciar sites ou páginas de
Conselho Tutelar sites como o Orkut com conteúdo
Ligue para o telefone do Disque 190 pornográ co infantil ou que
Conselho Tutelar mais Há casos em que a ação afetem pessoas inocentes. Basta
próximo, onde você pode deve ser imediata. Chame copiar o endereço do site (URL) e o
receber ajuda valiosa. a polícia, antes que o pior colar na página criada pela Polícia
aconteça. Federal (nightangel.dpf.gov.br).
6 Quebrando o Silêncio
7. iceberG de lÁGriMaS
ataque sexual fatal
estupro relatado
à polícia
estupro relatado
em pesquisas
orKuT É Para MaioreS
to
ex ulne
estupro estupro É comum encontrar crianças e
en
de
plo
m
ocultado devido cometido por adolescentes no Orkut e em outras
v
sa
raç abili
a vergonha, um estranho redes sociais da internet. Muitas vezes
nt o ca
ão
sentimento são os próprios pais que registram
r
ros
en do n
sex de e
de culpa, etc. os lhos nelas. Porém, esses pais se
ua
da
em rça
co
esquecem de ler a parte nesses sites
l d onôm
ou o fo
que diz: “Somente para maiores de 18
eco
c
x
anos.” Para se ter uma ideia do perigo
Se
rre ica
nte que se esconde atrás da tela, cerca
Sexo não desejado ocorrido devido a de 90% das denúncias de pornogra a
apelos, chantagem, ameaças ou engano infantil feitas à ONG SaferNet
Brasil estão relacionadas a sites de
relacionamento.
Fonte: Organização Mundial da Saúde. Fonte: SaferNet
CHUVA DE DENÚNCIAS
Criado pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Presidência da República (SEDH), o Disque Denúncia 100 tem
obtido uma adesão cada vez maior da sociedade, desde sua
criação em 2003 (veja o grá co). O serviço funciona todos os dias
das 8 às 22 horas (mesmo em domingos e feriados) e pode ser
usado para denunciar qualquer tipo de violência contra menores.
Denúncias no Disque 100
(de 2003 ao fim de 2009)
o deSaFio da idade
A população mundial está envelhecendo
rapidamente, e a sociedade não está preparada
para isso. Por volta de 2050, projeta-se uma
população mundial de dois bilhões de idosos.
Um dos maiores temores é o aumento da
violência contra os idosos, seja ela física,
emocional, nanceira ou sexual. Dados da
Organização Mundial da Saúde apontam que
1% e 10% dos idosos de países desenvolvidos
sofram algum tipo de violência. Nos países
pobres ou em desenvolvimento, as taxas são
Fotos: Shutterstock
ainda maiores, porém, faltam pesquisas e
Fonte: SEDH
políticas para reduzir o problema.
Fonte: OMS
Quebrando o Silêncio 7
8. Abuso sexual infantil
POR MARCOS BLANCO
Segredos
desafiadores
Foto: Shutterstock
Existe uma sequência de comportamentos que se pode observar nas vítimas
8 Quebrando o Silêncio
9. O
que é abuso sexual infantil? Perfil do abusador
Em termos gerais, consi- Embora seja difícil acreditar, as
dera-se abuso sexual infan- estatísticas internacionais apontam
til toda conduta em que um menor os pais biológicos como os princi-
é usado como objeto sexual por par- pais responsáveis pelos abusos intra-
te de um adulto. É uma experiência familiares. Um estudo realizado em
traumática, sendo considerada pela Buenos Aires, Argentina, entre 1989
vítima como um atentado contra e 1992, mostrou que os abusadores
sua integridade física e psicológica. foram distribuídos assim:
Vejamos o testemunho de uma ▪ 42,5 % pais biológicos.
mulher adulta que foi abusada quan- ▪ 23,7% parentes próximos: tios,
do criança: “Minha mente sabe que avós, irmãos, primos.
não foi minha culpa – foi a socieda- ▪ 17,5% conhecidos não familiares. Características de
de, com sua imundícia, que também ▪ 13,8% padrastos.
personalidade associadas
aos abusadores:
é minha. Cresci com isso como se fos- Na maioria dos casos – 90 a 95% –,
▪ negação
se parte de meu corpo; me vesti com os abusadores são do sexo masculino.
▪ excitação sexual com crianças
isso, comi com isso, chorei com isso, Devemos admitir que ignoramos a ver- ▪ Fantasias sexuais com crianças
dormi com isso. Parecia que eu jamais dadeira magnitude do abuso pratica- ▪ distorções cognitivas para justificar
poderia me separar desse problema. do por mulheres, uma vez que é difícil ou autorizar intimidades sexuais
Sem dúvida nenhuma, eu me sinto desvendá-lo por meio das vítimas e é (“não causa dano. Se a criança faz
tudo o que peço é porque ela gosta”)
absolutamente só e extremamamen- pouco registrado pelas estatísticas.
▪ relações sociais superficiais
te má. Saber que fui usada machuca ▪ incapacidade de entrar em empatia
muito mais do que a dor física. Repre- dilema das vítimas com a vítima
senta a morte da esperança.” Existe uma sequência de compor- ▪ Transtornos mentais associados:
A palavra “abuso” não é suficien- tamentos que se pode observar em uso de drogas e depressão
temente hedionda para descrever o crianças vítimas de abuso, denomina-
que alguns adultos fazem contra as da “Síndrome de acomodação ao abu-
crianças. Pode-se considerar “abuso so sexual infantil”. Cinco padrões de ela acredite que a revelação dos fatos
sexual” uma expressão desagradável, conduta aparecem na seguinte ordem: causará uma crise terrível e perigo-
mas, certamente, não reflete a sor- 1. Segredo. O segredo é uma das sa. Desse modo, a fonte de temor se
didez dos atos. Na realidade, alguns precondições para o abuso. O agres- transforma numa prisão de seguran-
definem as consequências do abu- sor precisa dele e não hesita em ame- ça: se ficar calada, tudo correrá bem.
so sexual infantil como “um tiro no açar a vítima. Procura fazer com que
aparelho psíquico das crianças”.
Indicadores psicológicos específicos
▪ atitude de submissão aberta ▪ desconfiança, especialmente com pessoas importantes
▪ conduta agressiva com tendência a exteriorizar o conflito ▪ Falta de participação em atividades escolares e sociais
▪ comportamento pseudomaduro ou readaptado ▪ dificuldade de concentração nos estudos
▪ indícios de atividades sexuais ▪ brusca diminuição de rendimento escolar
▪ Jogos sexuais persistentes e inadequados com crianças ▪ Temor exacerbado em relação a homens (nos casos em
da mesma idade, com brinquedos ou com seus próprios que a vítima é menina e o abusador, um homem)
corpos, ou conduta sexualmente agressiva para com os ▪ conduta sedutora com homens (nos casos em que a
demais vítima é menina e o agressor, homem)
▪ compreensão detalhada e imprópria para a idade sobre ▪ Fugas do lar
comportamentos sexuais (principalmente menores) ▪ Transtornos do sono
Fotos: Shutterstock
▪ Permanência prolongada na escola (chegar antes da hora ▪ conduta regressiva
e sair mais tarde), sem ausentismo ▪ retraimento
▪ Má relação com os pais e dificuldades para desenvolver ▪ depressão clínica
amizades ▪ ideação suicida
Quebrando o Silêncio 9
10. 2. Desproteção. A lógica adulta 4. Revelação tardia, confliti-
espera que a criança resista ativamen- va e nada convincente. Em geral, Indicadores
te ao abuso sexual. Caso contrário, as o segredo raramente vem à tona fora físicos
crianças costumam ficar paralizadas, do grupo familiar, pelo menos de específicos
mudas e, muitas vezes, sem ter certeza forma espontânea. Muitas vezes essa ▪ lesões nas zonas
de que o fato aconteceu ou se tratou de revelação ocorre extemporaneamen- genital e/ou anal
um pesadelo. Quando o abuso acontece te, de modo conflitivo e nada con- ▪ Sangramento pela
vagina e/ou ânus
em sua própria cama, a criança faz que vincente. Consequentemente, a ver-
▪ infecções genitais ou
está dormindo, muda sua posição ou se são tem pouco crédito, uma vez que de transmissão sexual
cobre. A falta de autodefesa e o silêncio a criança desenvolve problemas de (sífilis, blenorragia,
não significam que a vítima aceita ou personalidade. aids não preexistente
desfruta o contato sexual. Representam 5. Negação. Com a raiva e o no momento do
nascimento, tumores
o mecanismo de defesa mais comum desespero que motivaram a confis-
acuminados,
diante do trauma: crer que a própria são, ficam subjacentes sentimentos conhecidos como
percepção dolorosa é improcedente ou de culpa pelo fato de a vítima acusar verrugas genitais,
negá-la completamente. um parente e por não cumprir a obri- herpes genital, fluxo
3. Acomodação. Se o abuso se tor- gação de manter a família unida. Isso vaginal infeccioso com
presença de germes
na crônico, tem início a etapa em que a faz com que as crianças se arrepen-
não habituais na flora
criança fica enredada, porque começam dam de ter revelado o segredo. normal das crianças)
a funcionar os mecanismos de adap- ▪ Gravidez
tação para se acomodar às demandas indicadores ▪ Qualquer dos
sexuais do adulto. Terminada a situa- O principal indicador do abuso indicadores acima
junto com hematomas
ção de abuso, a vítima volta à “norma- sexual é o relato feito pela criança.
ou escoriações no
lidade”, dissociando de suas atividades Sempre é importante crer na crian- restante do corpo,
normais o que experimentou durante a ça e em seu testemunho. Em estudos como consequência
agressão. As crianças sentam-se caladas realizados, apenas 1 a 4% dos casos de mau-trato físico
à mesa da família, retomam seus brin- relatados por crianças são falsos. Na associado
quedos e vão à escola. Para conseguir maioria dos casos, elas não inventam
essa aparência de normalidade, entram um abuso sexual.
em ação mecanismos de defesa que se Dependendo do estágio de expe- o que fazer em caso de suspeita
caracterizam por manter as experiên- riência traumática que a criança A primeira coisa mais importan-
cias traumáticas e os sentimentos asso- enfrenta, os indicadores psicológicos te, como já afirmamos, é acreditar no
ciados a ela totalmente separados do têm características diferentes: no iní- relato da criança. Em muitas ocasiões
restante dos hábitos diários. Todos esses cio do abuso, é mais frequente detec- em que os indícios são fortes, é neces-
mecanismos são considerados extre- tar sinais e sintomas relacionados sário interromper o contato entre a
mamente úteis para a sobrevivência na com estresse pós-traumático, ao pas- vítima e o agressor durante certo
infância. No entanto, constituem gran- so que, na fase crônica, se desenvol- tempo, para que se faça uma avalia-
des obstáculos para se conseguir a inte- vem condutas associadas à síndrome ção sem pressões sobre o menor. Se a
gração da personalidade adulta. de acomodação ao abuso reiterado. pessoa que detecta o abuso considera
que a criança se acha em situação de
alto risco e o adulto não tem elemen-
tos suficientes para intervir, deve-se
procurar a justiça para informar e
solicitar colaboração. Não é neces-
sário advogado nessa fase. Qualquer
cidadão pode fazer essas denúncias. ◾
Fotos: Shutterstock
Marcos blanco é redator-chefe da casa editora
Sudamericana em buenos aires, argentina.
10 Quebrando o Silêncio
11. Números da violência Brasil
▪ as crianças são vítimas em 69% dos casos
de abuso sexual no brasil.
▪ em 2005, a cada oito minutos uma criança
era vítima de um pedófilo: 67% eram vítimas
de padrastos e 20% dos próprios pais.
▪ Quando o pedófilo é preso, de acordo com
Bolívia o artigo 213 do código Penal, chega a ser
condenado a seis ou, no máximo, dez anos
▪ Seis em cada dez crianças e adolescentes
de prisão; mas por bom comportamento é
sofrem maus-tratos no ambiente da família.
Equador ▪ Três deles são vítimas de abuso sexual no
liberado depois de dois anos. É muito provável
que logo volte a cometer o mesmo crime.
▪ dados conservadores âmbito familiar, escolar ou no trabalho.
indicam que ao menos ▪ em 97% dos casos, a vítima de abuso
quatro em cada dez sexual é uma menina ou adolescente
crianças equatorianas abusado por parentes, padrastos ou pais.
▪ estima-se que 350 mil meninas e
entre 6 e 13 anos são
adolescentes são explorados sexualmente
Paraguai
abusadas sexualmente.
▪ o equador se tornou com finalidades comerciais na bolívia. ▪ as poucas investigações que existem falam
um destino mundial de que de 71 e 75% das prostitutas sexuais de
turismo sexual infantil. cidades como assunção, ciudad del leste e
Hernandarias são de menor idade.
▪ Quase todas são “iniciadas” nessa atividade
entre os 12 e 13 anos de idade.
Estatísticas
mundiais Uruguai
▪ uma entre quatro e seis ▪ diariamente, há
mulheres e um entre sete e Peru 10 a 12 denúncias
nove homens sofrem algum de abuso sexual
▪ cada dia, 13 casos de abuso sexual
tipo de abuso sexual antes dos contra menores.
infantil são denunciados, com total
18 anos. ▪ oitenta por cento
de quase 5 mil casos anuais.
▪ em 2002, 150 milhões de dos casos ocorrem
▪ estima-se que 9.600 menores foram
meninas e 73 milhões de no ambiante da
vítimas dessa exploração em 2006.
meninos abaixo de 18 anos família.
foram vítimas de relações
sexuais forçadas ou outras
formas de violência física e
Chile Argentina
sexual no mundo; mesmo
assim, cada ano se eleva ▪ durante 2008, houve 4.556 casos de
▪ estatísticas conservadoras mostram que
em 1,8 milhão o número de abusos sexuais contra menores, o que
uma em cada cinco crianças e um em cada
vítimas de maus-tratos com significa 12 crianças vitimadas por dia.
oito a dez rapazes sofreram abuso sexual
essa finalidade (unicef, 2006). ▪ o delito que mais se comete é o abuso
antes de completar 18 anos.
sexual entre menores abaixo de 14 anos.
▪ de 2006 a 2007, as denúncias diárias de
abuso sexual infantil aumentaram 50%.
América Latina: fenômeno ampliado
▪ investigações feitas por organismos não governamentais
mostram que 65% das crianças de rua nas capitais dos países
da américa latina se envolvem, de um modo ou outro, em
exploração sexual.
▪ desses, 15% sobrevivem de contatos sexuais remunerados
Ilustração: Shutterstock
e 50% se envolvem de alguma forma na exploração sexual,
embora não de forma sistemática.
▪ Segundo o uniceF, na américa latina e no caribe morrem 50
mil crianças anualmente por causas derivadas do abuso sexual.
Quebrando o Silêncio 11
12. Violência emocional
P O R C L ÁU D I A B R U S CAG I N
O abuso emocional é tão destruidor quanto o abuso físico
V
iolência doméstica e abuso vítima, quanto mais por quem está cas roxas, cortes nem ossos quebra-
podem acontecer com qual- à sua volta. Por acontecer de forma dos, mas deixa cicatrizes psicológicas
quer pessoa. Mesmo assim, sutil, muitas vezes passa despercebido profundas, destrói a autoconfiança
quase sempre esse problema é negli- pelos familiares e amigos da vítima. e a autoestima da pessoa que vive o
genciado, desculpado ou negado. Isso Em geral, a vítima não pensa nem abuso e das crianças que estão à sua
é especialmente verdadeiro quando sente que o abuso é abuso, e vai se volta, marcando um padrão futuro
o abuso é psicológico, e não físico. O anestesiando em relação a ele. Essa de comportamento: nas meninas, de
abuso emocional é frequentemente forma de abuso afeta principalmente permitirem ser abusadas pelos com-
minimizado, apesar de deixar cicatri- mulheres e crianças, não deixa mar- panheiros, e nos meninos, de serem
zes profundas e duradouras. futuros abusadores, apesar do sofri-
Normalmente, o abuso emocio- mento vivido na infância...
nal é muito difícil de ser reconhe- O abuso emocional é definido
cido, até mesmo pela própria como qualquer julgamento, não
Foto: Shutterstock
12 Quebrando o Silêncio
13. importa a origem, que paralisa ou Os abusadores agem a partir de ciclo do abuso
humilha uma pessoa, mantendo-a pre- fortes sentimentos de inadequação • Abuso – O parceiro agride com
sa ao passado, ao mesmo tempo que o e vergonha de si mesmos, e querem palavras, atitudes ou comportamen-
futuro só é visto através da perspectiva inferiorizar seus parceiros para, dessa tos agressivos e/ou que humilham. O
negativa do relacionamento abusivo. forma, sentir-se melhores. abuso é um jogo de poder para mos-
Quando está numa relação abusiva, Até que você consiga reconhecer o trar “quem manda”.
o parceiro sempre se lembra daquilo abuso emocional e verbal, você conti- • Culpa – Depois do abuso, o parcei-
que foi ruim, daquilo que o outro não nuará a sofrê-lo em sua vida, porque ro sente culpa, mas não pelo que fez.
fez certo, daquilo em que errou e afir- vai continuar a deixar que amigos, Ele está mais preocupado com a pos-
ma constantemente a incapacidade de conhecidos e até estranhos a agridam sibilidade de ser pego e com as con-
fazer algo diferente do ruim. de forma que a machuquem ou não sequências causadas pelo comporta-
O abuso emocional funciona levem em conta os seus sentimentos. mento abusivo.
como “lavagem cerebral” e a vítima Muitas vezes você até confunde ações • Comportamento “normal” – O
aprende que tudo o que faz é erra- abusivas contra você como realistas. abusador faz de tudo para conseguir o
do, tudo é sua culpa, não sabe nem Se você pensar: “Eles podem fazer isso controle novamente e manter a víti-
pode nada. Se as palavras do parceiro porque é diferente para eles; não são ma no relacionamento. Ele pode agir
a fazem sentir-se pequena, sem valor assim tão ruins ou incapazes como como se nada tivesse acontecido, ou
ou humilhada, e se ele não a respei- eu” – isso é um julgamento abusivo. ele pode agir muito sedutoramente,
ta nem leva em conta como você se Qualquer julgamento que você faça jogando todo o seu charme sobre a
sente, isso é abuso emocional. Mais sobre si mesma que negue sua habi- parceira. Essa lua de mel, esse momen-
importante ainda: isso é inaceitável. lidade para criar bons relacionamen- to de doce paz, pode dar a esperança
Os relacionamentos abusivos são tos e uma vida positiva para você, é de que ele realmente mudou desta vez
caracterizados por muito ciúme, nega- abusivo e errado. (quantas vezes isso já aconteceu?).
ção da emoção, falta de intimidade,
acessos de raiva, coerção sexual, infide-
lidade, ameaças, mentiras, promessas
quebradas, jogos de poder e controle.
O abuso emocional é tão destruidor
quanto o abuso físico, apesar de muito
mais difícil de ser reconhecido. Por isso,
também é difícil alguém se recuperar
dele. Esse abuso é tipicamente alterna-
do com declarações de amor e afirma-
ções de que tudo vai mudar. Assim, o
parceiro abusado fica “fisgado”, preso
nas promessas que nunca se cumprem.
Os relacionamentos abusivos
pioram com o tempo. O abuso
emocional e o verbal mudam, com
frequência, para ameaças mais abertas
ou para o abuso físico, particularmente
em períodos de estresse. Os abusadores
são carentes e controladores; o abuso
se intensifica quando eles sentem
que vão perder o parceiro ou quando
Foto: Shutterstock
o relacionamento acaba (75% das
mortes violentas de mulheres ocorrem
depois da separação).
Quebrando o Silêncio 13
14. Formas de
abuso emocional
▪ colocar para baixo, chamar nomes, as coisas serão diferentes e que ele 5. Comece a contar suas bênçãos.
fazer pensar que está louca, fazer jogos
realmente a ama. Entretanto, o peri- Sim, você passou por situações inima-
mentais.
▪ ameaças de machucar física ou go de permanecer na relação existe gináveis, dor e sofrimento que você
emocionalmente. ameaças de divórcio, traição, e é bem real. não merecia. Sem dúvida alguma, você
suicídio, levar as crianças embora, contar a todos Como você se recupera do ainda está muito ferida, mas tem uma
sobre intimidades. abuso emocional? escolha. Você pode ficar olhando a dor,
▪ deixar com medo através do olhar, gestos, voz
1. Entenda que a mudança ou pode começar a olhar para as coisas
alta, quebrar coisas, destruir propriedade, dirigir em
alta velocidade. é inevitável e que você tem pelas quais pode agradecer e celebrar.
▪ ameaçar fazê-la de empregada. Tomar todas forças para fazer as mudanças Até aqui o Senhor a protegeu – você
as grandes decisões, agir como “mestre da casa”, que quer e precisa fazer. Com está saindo dessa situação. Reserve um
negligenciar responsabilidades com trabalho, cuidado
certeza, você não vai conse- tempo no seu dia, pode ser a última
dos filhos e responsabilidades da casa.
guir todas de uma só vez, por- coisa do seu dia. Seja agradecida a Deus
▪ Padrões abusivos de sedução. Forçar a fazer coisas
contra sua vontade. criticar performance sexual. que até pode nem saber exa- pela saúde, pela saúde dos seus filhos,
contar sobre relacionamentos fora da relação. tamente o que quer e precisa. pelo sorriso de uma criança, por qual-
▪ não deixar que você trabalhe ou atrapalhar Você pode começar a fazer uma quer coisa boa que tenha acontecido
seu trabalho, controlar seu acesso ao dinheiro,
ou outra pequena mudança para no seu dia. Agradeça a Deus por um
esconder investimentos.
▪ controlar o que você faz, com quem
ver como se sente. Comece, talvez, agrado recebido, pelo sol brilhante, a
sai, com quem se encontra, com a cuidar um pouco de você, sentar à beleza de uma flor. Se você se compro-
quem fala. negar acesso ao carro. mesa para tomar o café da manhã, meter a ser grata a Deus por dez bên-
deliberadamente afastar dos seus fazer exercício, tomar um banho gos- çãos recebidas, você vai precisar procu-
contatos de apoio.
toso e demorado. rar por elas. Ao criar esse hábito, verá
2. Comece a reprogramar sua men- quantas mais você vai encontrar.
te. Você pode esperar até que as coi- Essas ideias são só um começo. Todas
• Fantasia e planejamento – sas melhorem para começar a acre- essas sugestões são para afastar você da
O abusador começa a fantasiar sobre ditar que elas vão melhorar; ou pode sua dor, da sua mente de vítima para a
a maneira de abusar novamente da acelerar a marcha da sua recuperação conscientização de que é uma pessoa
parceira. Gasta muito tempo pensan- começando a acreditar nas melhoras, de valor e de que há muitas coisas para
do sobre o que ela fez de errado, com independentemente das mudanças. você conseguir e conquistar na vida. A
quem ela anda conversando no celu- Mesmo que o quadro continue o mes- jornada de recuperação do abuso emo-
lar e como ela vai pagar pelo mal fei- mo, ou tenha mudado muito pouco, cional é uma viagem para longe do
to. Então, ele planeja transformar a a grande diferença será como você se medo, da vergonha, da humilhação e
fantasia do abuso em realidade. sente a respeito dele. Sua atitude men- da incapacidade para a crença em você
• Armadilha – O abusador fica tal fará essa diferença. e numa vida melhor para você e seus
à espreita e põe seu plano em ação, 3. Procure ajuda e apoio. Existem filhos. Você não sabe o que a aguarda
criando uma situação em que ele pos- grupos de apoio, terapeutas, conse- no futuro, mas tenha certeza de que
sa justificar o abuso. lheiros, amigas e outros profissionais será muito, muito mais feliz do que
da saúde que entendem o quanto você pode imaginar agora. ◾
e o ciclo continua você está sofrendo e que poderão aju-
As desculpas e gestos de amor entre dá-la. Não se confunda: abuso emo- cláudia bruscagin é psicóloga e professora
os episódios tornam a situação muito cional é violência doméstica, sim. na Puc – SP.
difícil de ser mudada. Fica sempre a 4. Procure informações. Você não é
esperança da mudança, e com o tem- a única a estar nas mãos de um parcei-
po a pessoa abusada fica como que ro abusador. Alguns batem, outros não,
Foto: Shutterstock
anestesiada, entendendo e aceitando mas todos se comportam de modo
que a relação funciona assim – para muito parecido. Todos dizem mais ou
receber um pouco de amor e carinho, menos as mesmas coisas cruéis. Você
precisa se submeter a um período de logo vai perceber que, como todos tra-
dor e sofrimento. Ele faz a parceira balham com o mesmo script, o que eles
acreditar que ela é tudo para ele, que dizem não é sobre você, mas sobre eles.
14 Quebrando o Silêncio
15. Proibido Para Meninos Nova Chance
Indispensável Para Quando parece que tudo acabou,
Meninas Deus ainda está com você. A autora
Este livro é para adolescentes nos lembra de que, quando tudo
que lidam com os conflitos mais parece falhar, podemos ainda
comuns dessa fase da vida. ter a certeza de que “nossa hora mais
Trata de questões delicadas escura” pode ser o “momento mais
como autoestima, escolha de importante para Deus”. Leia este livro e
amizades, relacionamentos encontre segurança, encorajamento e
amorosos, doenças sexualmente esperança para enfrentar mais um dia.
transmissíveis, entre outros Cód. 10655
assuntos relacionados a garotas.
Cód. 9097
Amores que Matam
Veja neste livro, de Miguel
Ángel Núñez, questões como a
Menopausa violência doméstica, os mitos
Douglas Assunção / Imagem: Fotolia
De repente, a menopausa mostra sobre o agressor e a mulher
seus sinais. O que fazer? Neste livro agredida, o ciclo da violência e
informativo e cativante, a Dra. Gilce o que fazer frente à agressão.
Tolloto apresenta a resposta. Ela Também explica como
ressalta que o corpo feminino tem identificar um agressor.
seu mecanismo de autoequilíbrio. Cód. 8150
Mas a mulher também pode fazer
muita coisa para atravessar com
serenidade essa fase difícil.
Cód. 10448
Quebrando o Silêncio 15
*Horários de atendimento: Segunda a quinta, das 8h às 20h / Sexta, das 8h às 15h45 / Domingo, das 8h30 às 14h.
16. Passatempo
POR SUELI FERREIRA DE OLIVEIRA
Chega de violência!
Violência não tem graça, mas aqui estão algumas atividades para que você descubra
um pouco mais sobre esse assunto,
saiba como se defender
e valorize a paz
R N P O N A O T R A R E L R I G I E L E
I A B R A C N V E N C I O N A R T A R I
C N A O R E L I G I O S A B R E R F A R
P L B R C E R B O C P O B L T L A I P O
▶ Que pena!
A violência está em O T R A D I C I L A R D O S A I D C C R
toda parte. E podemos
encontrar casos de agressão B O E I A U O O O S A I C N A G I S I B
e abuso em: R N L S B R E V C I E P O S A I C B R E
FAMÍLIA Rica
A A R C R A N I I I R I E L P O B R E A
Pobre Religiosa
Não religiosa Tradicional N L E I A C E C O D C O N R L S R E L S
Não convencional A R T A C S A L A N R E L C I A G I O E
(Encontre no diagrama
em que tipo de família O E N R I A L N E R I P O A S O I S I O
podemos encontrar C L A A B R E V S A C N U E A L O E R A
violência.)
O I O E D I N E O O N A C I O N N I C S
N G L A N O I C I D A R T R C A I O P O
V I C P C D C E N A N O R N R I C B O R
E N V O R A O S A O R I E V A R E L B E
N O A T P R I V L E C C V N L B A C D O
C N C R O N N D C T A I L O B R I O E S
I S O E R T A S O R I E I C I V L N L A
O A N V E C O I N A L D E S B O P V N C
E S T R R
I E R R E
▶ Onde há respeito, não há violência. Quem
respeita não agride, não fere, não ofende. R A E E I
E toda pessoa merece ser respeitada: A R I E S
homem, mulher, jovem, criança, idoso,
portador de limitações, gente de qualquer P E A S R Resp.:
nação ou língua.
T R E A I
(Coloque as letras da palavra “respeitar”
em cada um dos espaços vazios do I R E A
Ilustração: Iluminura
exercício ao lado, de maneira que as nove
letras possam ser encontradas em qualquer E P R R E
linha horizontal ou vertical e também nas
E A R T R
divisões marcadas de 3 x 3.)
16 Quebrando o Silêncio
17. ▶ E se alguém ultrapassar os limites e desrespeitar você ou alguém
que você conhece? Você sabe o que fazer? Disque 100. Tipos de violência:
(Atravesse este painel de um 100 ao outro 100, fazendo as contas
pedidas nos quadros.) Agressão Física
Agressão Emocional
+100 +20 -20 -50 +100 -20 -20 (psicológica)
Abuso Sexual
-50 -20 +50 +20 +100 +50 -100 Negligência
Testemunhar cenas
100 -20 -50 -100 +100 -20 -50 -50 100
de violência
+50 +100 +50 +50 +20 -100 +20
-100 +20 -20 -100 -50 -20 +100
+100 +100 -20 +100 +50 -100 -50 -20 -100 -50 -50
Resp.: O caminho a ser feito é: -20 +50 +100 -50 -20 +50 -20 -50
▶ E, finalmente, para promover uma vida sem violência, é importante aprender a perdoar
as ofensas. Isso significa que, ainda que tenhamos passado por uma agressão terrível,
não continuaremos o ciclo. Ele se encerra em nós, porque, no lugar da violência, o que
queremos é um mundo de paz.
(Use o espaço abaixo para escrever, desenhar ou criar uma arte para promover a paz.)
Quebrando o Silêncio 17
18. Educação
POR SÔNIA RIGOLI
S
egundo o dicionário Aurélio, famí- Elisabeth Roudinesco afirma que “a
lia é “o pai, a mãe e os filhos. Todas evolução na ordem familiar se distin-
Não há competição, as pessoas do mesmo sangue”. gue em três grandes períodos: na pri-
violência e medo “Nas últimas décadas, esse qua- meira fase, a família tradicional serve
numa família bem dro vem se transformando... A família para assegurar, acima de tudo, a trans-
moderna abriga agora não somente os missão de um patrimônio; na segunda,
estável filhos do próprio casal, como também a família moderna se torna receptáculo
os de suas outras uniões. Hoje, homos- de uma lógica afetiva modelada; e, final-
sexuais que têm filhos de uma união mente, a família contemporânea ou pós-
heterossexual anterior os educam junto moderna, que une dois indivíduos em
de seus pares. Solteiros que aceitam ter busca de relações íntimas ou realização
filhos sem a convivência do cônjuge, e o individual, sem que para isso seja neces-
Foto: Shutterstock
crescente número de jovens mães de 12, sária a união eterna”.2
13 anos configuram também os novos Gina Valbão Strozzi Nicolau vê outro
contornos familiares.”1 problema. “Com o amor no ‘centro’, ela
18 Quebrando o Silêncio
19. passou a ser, ao menos em princípio, Pesquisa feita pela Fundação Per- razão da violência
um encontro de iguais e não uma rela- seu Abramo e divulgada no ano 2002 Segundo Suzana Braun, “os maus-
ção díspar; é um laço emocional forja- mostra que: tratos por meio de ações ou omissões
do e mantido com base em atração pes- ▪ 43% das mulheres foram vítimas de são quase sempre ligados a fatores
soal, sexualidade e emoção.”3 violência sexual. sociais, como desemprego, alcoolis-
Hoje, a família tradicional enfren- ▪ 33% de alguma forma de violên- mo, drogas, exploração sexual, os
ta problemas, pois os filhos têm pou- cia física. quais podem ser fomentadores ou
co ou quase nenhum contato com os ▪ 24% de ameaças com armas ao cer- desencadeadores da violência domés-
pais. Segundo Hélio Fraga, são “filhos ceamento do direito de ir e vir. tica”.11 É por isso que as estatísticas
órfãos de pais vivos”. ▪ 22% de agressão propriamente dita. mostram que a violência está presen-
“Há irmãos crescendo como verda- ▪ 13% de estupro conjugal ou abuso. te em todas as classes sociais.
deiros estranhos, porque correm de ▪ 27% de violências psíquicas.
um lado para o outro o dia inteiro – ▪ 11% de assédio sexual. Prevenção
ginástica, natação, judô, balé, aula de ▪ Somente 57% das mulheres brasi- Primeiramente, é preciso lembrar
música, curso de inglês, terapia, lição leiras nunca sofreram qualquer tipo o propósito da família: educar os
de piano, etc. – e só se encontram de de violência por parte de algum filhos para serem vencedores, bons
passagem em casa, um chegando, o homem. cidadãos, bons pais e bons cristãos.
outro saindo. Não vivem juntos, não Transmitir mais do que caracteres físi-
saem juntos, não conversam e, para Violência contra a criança cos ou herança de bens – transmitir
verem os pais, quase é preciso mar- Segundo o relatório Situação Mun- valores e herança espiritual.
car hora. Todos os membros da famí- dial da Infância 2000 do Unicef, cerca Entretanto, o lar só alcança esse
lia ficam em seus quartos, com total de 18 mil crianças, entre 7 e 14 anos, objetivo quando o casal se ama e
liberdade e em total solidão.”4 sofrem maus-tratos físicos todos os se respeita, e as crianças são alvo de
meses no Brasil. atenção e cuidado. Quando as neces-
abuso no ambiente da família O Laboratório da Criança do Ins- sidades delas são atendidas, não existe
Diante desses problemas, em situa- tituto de Psicologia da Universidade brutalidade ou negligência. Quando
ções estressantes, em que os membros de São Paulo (Lacri) mostra, com base a criança sente o amor dos pais, pode
da família não encontram recursos em dados coletados desde 1996, os reconhecer as más intenções de um
em si mesmos ou no ambiente para seguintes números: violência física, estranho, não sendo aliciada. Pode
chegar ao equilíbrio, não surpreen- 18.194; violência sexual, 4.336; vio- recorrer aos pais quando acuada, pois
dem os casos de violência, especial- lência psicológica, 8.437; negligên- sabe que será ouvida e compreendida,
mente contra os mais frágeis, mulhe- cia, 22.606.7 e receberá cuidados redobrados.
res, crianças e idosos. Os 50 mil casos de violência sexual Não fará amizade com pessoas
contra crianças e adolescentes represen- estranhas, nem confiará em preten-
números da violência tam aproximadamente 10% dos casos, sos amigos encontrados ao acaso na
No mundo, uma em cada três mulhe- pois a maioria não é denunciada.8 internet ou próximos à escola. Pais
res (um bilhão) é espancada, forçada a Quanto aos abusadores, 71,5% deles que acompanham a criança sabem
ter relações sexuais, ou abusada de algu- são pais biológicos, 11,1%, padrastos.9 com quem ela se relaciona.
ma forma por alguém da sua própria Homens e mulheres que foram
família ou conhecido.5 Uma em cada Violência contra idosos vítimas de agressores no ambien-
cinco mulheres será vítima de violação Em 2008, somente em São Luís, a te familiar ou fora dele na infância,
ou tentativa de violação na sua vida. Delegacia de Proteção ao Idoso regis- quando buscam ajuda psicológica
Segundo a Sociedade Mundial de trou 2.456 ocorrências. Do total, 42% especializada para tratar seus traumas
Vitimologia, o Brasil é campeão da vio- das pessoas que praticam violência não reproduzirão a violência em seus
lência doméstica num ranking de 54 paí- contra pessoas idosas são integran- lares. Contrariando as estatísticas,
ses. A cada 16 segundos, uma mulher tes da família do idoso: 30%, filhos; mulheres não se unirão a homens
Foto: Shutterstock
é agredida por seu companheiro e 70% 4%, netos; e 8%, outros parentes. Nos abusivos, mas usarão sua experiência
das mulheres assassinadas foram víti- demais casos, a violência é praticada negativa para uma sábia escolha. Foi
mas de seus próprios maridos.6 por instituições ou cuidadores.10 o que aconteceu a Edilene.
Quebrando o Silêncio 19
20. um caso
Quando Edilene tinha três ou qua-
tro anos, foi molestada por um vizinho,
que a trancava em um quartinho nos
fundos de sua casa. Enquanto estava lá,
ela fixava os olhinhos no teto e tenta-
va pensar em outra coisa. O medo era
muito grande e se agravava ainda mais
ao ela ouvir seu nome sendo chamado
aos gritos pela mãe. Como não podia
responder, sabia que ia apanhar e, para
amedrontar ainda mais a menina, o
vizinho afirmava: “Você vai apanhar e,
se contar o que aconteceu, vai apanhar
ainda mais.” Quando a menina voltava
para casa, a mãe batia nela e a xingava. da felicidade começa com Deus; por
Aos sete anos, precisou tomar anti- Quando Deus instituiu a família no isso, os casais vão à igreja, diante do
depressivos, pois tinha constantes Jardim do Éden, fez do homem o cabe- altar, pedir as bênçãos divinas para a
crises de choro. “Sempre tive medo ça do lar, e a mulher, sua ajudadora. sagrada união.
da minha mãe e isso nos impediu de Numa família em que o homem ama Quanto mais unidos a Deus, mais
sermos amigas”, conta. a esposa como a si mesmo e a esposa se unirão, e os frutos dessa união –
Depois de casada, por vários anos aceita essa liderança baseada no amor os filhos – também serão mais unidos
temia o esposo. Fazia tudo para ser e interesse pelo seu melhor, não há uns aos outros, bem como aos pais.
perfeita e sentia-se infeliz. Isso con- competição, traição ou desconfiança. Os problemas nas famílias começam
tinuou por algum tempo até que, Em lugar de abuso e violência, haverá sempre que um ou ambos se afastam de
um dia, ela “desabou”, entrando cortesia, doação e comprometimento, Deus. Portanto, o lar pode ser um peda-
novamente em mais uma crise de e isso redundará em felicidade. cinho do Céu na Terra, se a família bus-
depressão. Achava que sua vida não Crianças que nascem em tal car a Deus diariamente, orando, lendo
tinha sentido e resolveu buscar aju- ambiente têm a vantagem da segu- as Escrituras juntos e tendo momentos
da. Comprou livros sobre o assunto e rança e estabilidade das relações, para conversa e companheirismo. ◾
resolveu enfrentar seus medos. pois pais que se amam dão amor aos
Ela continua casada, mas agora é filhos. A criança amada se sente pro- Sônia rigoli é educadora.
feliz. Tem dois lindos meninos e é tegida, segura e, portanto, com mais
reFerênciaS
amiga da mãe. “Só Deus pode restau- facilidade para desenvolver amizades 1. ISTO É online, Vera Lúcia Franco, A Psicologia da
rar uma vida”, diz ela. confiáveis e mais capacidade para se Família.
2. Elisabeth Roudinesco, A Família em Desordem (Editora
desenvolver nos estudos. Zahar: Rio de Janeiro, 2003).
3. Gina Valbão Strozzi Nicolau, Família Moderna: Rupturas
Família estável e segura Crianças amadas e protegidas pelos sem Dramas. www.teologica.br.
4. Texto atribuído a Hélio Fraga, jornalista em Belo
Segundo Vera Lúcia Franco, há “pes- pais e que têm bom relacionamento Horizonte, MG (Rede SIVNet Telecomunicações LTDA), 8
soas tão importantes em nossa vida, com eles enxergam Deus nesse mode- de agosto de 2007.
5. E. L. Heise, M. Ellsberg, M. Gottemoeller, 1999.
cuja função é estruturar a base de nossa lo e têm mais facilidade para desen- 6. Dados da ActionAid Brasil Rio de Janeiro, RJ, 2002.
7. Instituto de Psicologia – Departamento de Psicologia
personalidade, a quem chamamos famí- volver valores espirituais e de cida- da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da
Personalidade, Lacri, consultado em 10/11/2002.
lia – uma instituição tão antiga quanto dania. Num ambiente assim, não há 8. Diretrizes nacionais para a política de atenção
integral à infância e à adolescência, CONANDA,
o ser humano, que garantiu sua própria espaço para nenhum tipo de abuso Ministério da Justiça, Brasília, 2001, p. 33.
existência por atender às necessidades contra alguém que é tão dependente 9. Azevedo & Guerra, 1993; Cohen, 1993; Furniss, 1993,
pesquisa realizada por Saf oti (1997) no Município de
mais básicas da vida humana”.12 e carente de cuidados e atenções. São Paulo sobre abuso incestuoso.
Foto: William de Moraes
10. São Luís, 04/08/2009 – 08:37. Idosos denunciam elevado
Uma vez que a família é tão impor- Porém, para que esse quadro seja número de violência na capital, por Marcela Mendes,
no jornal O Imparcial.
tante para a própria sobrevivência, realidade, o casal precisa primeira- 11. Suzana Braun, A Violência Sexual Infantil na Família – Do
quais são os fatores que a tornam mente buscar o amor em sua fonte. silêncio à revelação do segredo (Editora AGE Ltda.), 2002.
12. ISTO É online, Vera Lúcia Franco, A Psicologia
estável e segura? E a fonte do amor é Deus. A receita da Família.
20 Quebrando o Silêncio
21. Estudo de caso
POR TÉRCIA BARBALHO
Quando uma criança
sofre violência sexual,
algumas alterações
de comportamento
sinalizam que algo
está errado
N um dia comum de trabalho, fui
informada de que na sala de
espera havia um escrivão de polícia e
uma policial que queriam falar comi-
go. Estranhei o fato e rapidamente
fiz um balanço de minhas ações nos
dias anteriores, revendo se eu havia
descumprido alguma lei ou cometi-
do algum delito que me fizesse ser
“procurada pela polícia”. Ao verifi-
car que nada havia de extraordinário
em meu comportamento, fui ver do
que se tratava.
Ambos queriam falar comigo em
um lugar que não fosse a recepção
da faculdade, onde costumo atender
muitas pessoas durante o expediente.
Encaminhei-me juntamente com eles
para uma sala mais reservada e me
dispus a ouvi-los. Apresentaram-se
como policiais de uma delegacia pró-
Foto: Shutterstock
xima e vinham pedir ajuda para um
caso muito delicado que havia chega-
do às mãos do delegado de plantão.
Quebrando o Silêncio 21