A pesquisa buscou entender as percepções de eleitores das classes C e D sobre diversos temas. Os entrevistados valorizam a família e sentem pertencimento pelo bairro, mas relatam insegurança devido à violência. Eles desejam consumir mais, mas enfrentam discriminação e falta de oportunidades educacionais e de renda.
3. Especificações da pesquisa
Objetivo: Identificar as percepções dos eleitores com mais de 16 anos e
residentes em bairros da periferia do Recife sobre diversos temas. A percepção
sobre determinado tema sugere a visão de mundo do eleitor sobre ele. Tal visão
pode ser condicionada e motivada pelo ambiente em que o individuo mora, pela
sua renda, faixa etária, raça, religião e posição na economia.
Metodologia: Método qualitativo. Realização de quatro grupos focais. Os
grupos serão segmentados por faixa etária e renda. Os entrevistados residem em
diversos bairros da cidade do Recife.
Data da realização da pesquisa: 24 de maio de 2017.
4. Especificações da pesquisa
Perfil dos grupos
Grupos Faixa etária Renda familiar
Grupo 1 16 a 23 anos 1 a 2 salários mínimos
Grupo 2 24 a 64 anos 1 a 2 salários mínimos
Grupo 3 16 a 23 anos Acima de 2 a 5 salários
mínimos
Grupo 4 24 a 64 anos Acima de 2 a 5 salários
mínimos
5. Especificações da pesquisa
LOCAIS DE MORADA DOS PESQUISADOS
Bairro Bairro Bairro Bairro
Alto SantaIsabel - CasaAmarela Cardoso BeiraRio Campo Grande (Canal do Arruda)
Morro daConceição Campo do Elite Vasco daGama Beberibe
Campo Grande Córrego do Jenipapo Ilhade Joaneiro Alto do Mandú
Cabanga Afogados Santo Amaro Várzea
Afogados Ibura Arruda Córrego do Jenipapo
Corrego do Jenipapo Lagoado Araça Av. Norte ÁguaFria
Mangueira Beberibe Alto do Refúgio Arruda
ÁguaFria(Córrego Deodato) Sítio do Cardoso NovaDescoberta Campo do Cabanga
Afogados Cohab Ibura BrasíliaTeimosa Campo Grande
Bombado Hemeterio Arruda Campo Grande Hab. ViaMangue Pina
Afogados VilaSantaLuzia Canal do Arruda Beberibe
Mustardinha Jardim São Paulo Mangueira Dois Unidos
7. ANÁLISE
Os eleitores, independente da renda e faixa etária, valorizam a família. Para eles, a
família é “tudo”, “é a estrutura”, a “base”, a “fortaleza”, “carinho”, “proteção”.
Procuramos extrair dos entrevistados a confiança deles para com as instituições. Neste
momento, os participantes, mais uma vez, ressaltam que a “família é o mais
importante” e revelam desprezo para com as instituições do Estado. Nenhuma
instituição do Estado aparece como detentora da confiança e a admiração deles.
Mesmo tendo sido provocados.
Inserirmos os eleitores na seguinte situação hipotética: “Vocês, ao saírem daqui,
sofrem um assalto, ou acidente, o que vocês fazem, ligam para quem?” Eles
respondem com ênfase: “Ligamos para a família, para algum parente”. Diante desta
resposta, questionamos: “E vocês não confiam em amigos?” Alguns entrevistados
afirmam que sim, outros não. Eles sugerem, em sua totalidade, que “existem parentes
confiáveis, outros não”. Assim como existem amigos que merecem a confiança.
8. ANÁLISE
No debate sobre a família é nítido a confiança dos participantes da pesquisa para com
os familiares. A confiança é forte. Com os amigos, detectamos, também, a confiança.
Mas não do tamanho da confiança que eles têm com a família. Ressaltamos que os
entrevistados não confiam no todo da família, assim como nos amigos. A confiança
está presente em alguns membros da família, os mais próximos, como pais, irmãos,
avós e tios. Detectamos desprezo dos entrevistados para com as instituições do
Estado, independente da renda ou da idade.
10. ANÁLISE
Todos declaram que vivem bem em seu local de morada. Mostram sentimento de
pertencimento. Afirmam que “moram lá desde cedo”, “conhecem todo mundo”,
“falam com todos”, e que “é bom lá viver”. Os entrevistados mostram que pertencer
ao bairro, por “terem sido criados lá”, ou “por viverem por muito tempo”, fazem com
que tenham confiança com o local em que vivem. Mas não só confiança, também
gostem, “se sintam à vontade”, tenham o prazer de viverem no local em que possuem
raízes.
11. ANÁLISE
Eles, inclusive os entrevistados mais jovens, não revelam intenção de irem morar em
outro bairro. Todos eles verbalizam a satisfação com o local de morada em razão da
história que tem no bairro. Neste ponto, observamos desconfiança com outros locais
entre os eleitores jovens. Estes afirmam que existem “rixas”, “disputas”, entre os
bairros, e que estas são provocadas pelo tráfico de drogas, ou, simplesmente, por você
pertencer ao bairro X e não ao bairro Y. Segundo eles, moradores do bairro Y frisam
que “ele”, é morador do bairro Y, e em razão disto, “já olham para gente diferente”.
A disputa entre bairros existem por razão do tráfico de drogas (variável causal 1) e por
sentimentos de pertencimento, o qual gera identidade com o bairro (variável causal 2).
Você ser de outro bairro sugere que você é um estranho no bairro.
Nenhum entrevistado jovem admite discriminação a pessoas de outros bairros.
13. ANÁLISE
Apesar de detectamos satisfação dos entrevistados com o seu bairro, eles relatam, ao
serem questionados, que o principal problema presente no local de morada é a
violência. “Hoje é muito perigoso ficar na porta”. “Quem assalta são os próprios
moradores do bairro”. “Tem ladrões que vêm de fora”. “Eles roubam celular”.
O sentimento de insegurança é intenso. Indagamos se a polícia faz alguma coisa. Eles
afirmam que “a polícia não tá nem ai”, “passa e não diz nada”. Os eleitores mostram
costume com os atos de violência, já que ela é corriqueira. Portanto, eles reconhecem
a intensa violência e que ela faz parte do cotidiano. Destacamos que eles não
reconhecem a Polícia como instrumento para combater a criminalidade. Eles mostram
sentimento de desprezo para com a Polícia, em razão “dela não fazer nada” para
enfrentar a criminalidade.
14. ANÁLISE
“Os policiais passam. Ver o tráfico e não faz nada”. “Ficam parados. Vendo o
movimento”. Os entrevistados sugerem que a Polícia vive em estado de inércia. Os
entrevistados jovens aproveitam para dizer que já foram vitimas de discriminação por
parte de policiais em outros bairros. E que são abordados em alguns locais por não
terem as características para estar em dado bairro.
16. ANÁLISE
Para os inquiridos, vencer na vida é realizar sonhos. Jovens e maduros ressaltam
sempre a realização dos sonhos como indicador de sucesso na vida. Mas quais
sonhos? “Adquirir uma casa”, “Saúde”, “Dinheiro”, “Ter a feirinha”, “Emprego”,
“Conforto”. Estes itens representam os sonhos dos eleitores maduros. Para os jovens,
a conquista do emprego e conforto são os sonhos dos eleitores jovens.
Existem diferenças quanto ao que é vencer na vida. Entre os eleitores maduros, estão
presentes sonhos “básicos”, os quais sugiram em virtude de sonhos não realizados e
da necessidade presente. No caso, conquista da moradia, emprego e conforto.
Destacamos a menção “ter a feirinha”, pois isto significa que muitos entrevistados
reconhecem o desafio que é fazer a feira, ou melhor, se alimentar.
17. ANÁLISE
Os jovens ainda estão sonhando. Desejam emprego e conforto. Eles ainda,
aparentemente, não sofreram, passaram, obviamente, pelas experiências de vida dos
maduros. Por isto, os sonhos são diferentes. Eles vão além dos sonhos “básicos”, ou,
ainda, não os tiveram. Os sonhos dos jovens é o sonho “esperança”, isto é, eles
acreditam que podem ter dinheiro e conforto. Os maduros têm sonhos “básicos”,
porque descobriram que não foi possível, até o instante, realizar os sonhos
“esperança”, isto é, adquirir dinheiro e conforto.
Indagamos se para vencer na vida, o dinheiro é necessário. Todos os entrevistados
responderam que sim. E responderam com entusiasmo. Para eles, saúde “é importante,
assim como o dinheiro”. “Sem dinheiro não se faz nada”. “Dinheiro é bom, quem não
gosta”. Portanto, vencer na vida para os participantes da pesquisa é, também, ter
dinheiro para realizar sonhos.
18. ANÁLISE
Para vencer na vida é necessário, esforço, estudo, e trabalho. Ou esforço e trabalho.
Indagamos se a fé em deus, não contribui para vencer na vida. Eles frisam que sim.
Mas não adianta ter fé, “se nós não nos esforçamos, trabalhamos”. Independente da
faixa etária, os inquiridos atrelam a fé, ao esforço, trabalho e estudo para que eles
possam vencer na vida. Solitariamente, a fé não é suficiente para fazerem com que
eles vençam na vida.
20. ANÁLISE
Os entrevistados valorizam a educação. Alguns eleitores maduros mostram
arrependimento por não terem estudado. Não estudaram em razão da ausência de
oportunidades. Muitos dos inquiridos relatam que começaram a trabalhar cedo, em
casa de família, ou precisaram ajudar os pais. Por isto, não estudaram. Outros
relataram que tiveram oportunidades, mas não aproveitaram. Os eleitores maduros
valorizam o estudo, e os que têm filhos, verbalizam com ênfase que querem que “os
filhos estudem”.
Independente da renda, os eleitores maduros não têm curso superior. Indagamos a
razão. Respondem: “Não tivemos oportunidade”, “Não temos dinheiro”. Eles dizem
que não podem estudar numa faculdade “grátis”, pois não tem “estudo”, isto é, não
estão preparados. E estudar numa “paga”, não é possível, “pois não temos dinheiro”.
Parte deles revela a esperança de um dia obter o diploma de nível superior.
21. ANÁLISE
Ressaltamos que diversos entrevistados maduros fizeram cursos técnicos com o
objetivo de aumentar as chances de conquistarem um emprego, um emprego melhor,
ou conquistar melhor posto no atual emprego. A educação é considerada pelos
eleitores maduros como instrumento de mobilidade social. Ou seja: Com mais estudo,
eles podem melhorar de vida.
Os entrevistados jovens também valorizam a educação. Entretanto, salientamos: Não
fazem com tanta ênfase, como foi observado entre os eleitores maduros. Eles mostram
o desejo de realizar um curso superior. Alguns revelam que é “difícil estudar em uma
universidade pública, pois é muito concorrido”. Os eleitores jovens associam
oportunidade com estudo. Isto é: “O diploma serve muito”, “Só com eles podemos
ganhar dinheiro”, “Se com diploma emprego é difícil, imagine sem diploma”. Tanto
jovens e maduros valorizam a educação e a veem como instrumento de mobilidade
social, isto é, melhoria de vida.
23. ANÁLISE
Os entrevistados, jovens ou maduros, mostram o desejo de consumir. Os maduros
desejam comprar “casa”, “feira”, “sapatos”, “roupas”, “carro”, “moto”. Os jovens
desejam comprar “celular”, “roupas”, “ingresso para o cinema”, “vestido para a festa
de sábado”. Todos eles verbalizam que adoram consumir. E não consomem por não ter
dinheiro.
Destacamos que os eleitores maduros mostram preocupação com o necessário. Isto é:
é importante comprar, mas o necessário, pois o “dinheiro tá curto”. As diversas
responsabilidades financeiras dos maduros fazem com que eles, apesar de gostarem de
consumir, sejam mais criteriosos/seletivos com o que consumir. Já os jovens não
mostram disposição em serem seletivos no momento de consumir.
24. ANÁLISE
Perguntamos a todos os entrevistados, se o consumo revela a posição social da pessoa.
Todos afirmam que sim. Segundo os jovens, ter um celular bom ou tênis de marca “já
faz com que alguém lhe olhe diferente”. Os maduros relatam que ter moto ou carro
possibilita que as pessoas, inclusive do próprio bairro, especulem de onde está vindo o
dinheiro.
Os jovens relatam que em determinados bairros e locais, se você não estiver bem
vestido, o outro lhe olhará com indiferença, discrimina. Por isto, é necessário estar
bem vestido para não ser discriminado. Perguntamos se eles já foram discriminados.
Todos eles afirmam que sim. Aliás, eles revelam que a discriminação faz parte do
cotidiano deles. A discriminação parte das pessoas e também da Polícia. Para os
jovens, “você é o que tem”.
25. ANÁLISE
Os eleitores maduros também relatam discriminação. E repetem a frase verbalizada
pelos jovens: “Você é o que tem”. Estes eleitores apontam discriminação em lojas,
locais públicos. “Chego na loja, as pessoas não me atendem, pois sou pobre”. “Tem
lugar que chego, alguns pensam que sou ladrão”. “Nos olham diferente nos
shoppings”. “Fui discriminada numa clínica de dermatologia. Pobre não pode ir ao
dermatologista?”.
Os eleitores maduros relatam que os vizinhos não o discriminam. Mas ficam curiosos
em saber de onde “está vindo o dinheiro da comprar do carro, da moto, da roupa”. “Os
vizinhos, e até os parentes, ficam logo desconfiados, pensam que a gente tá fazendo
alguma coisa errada”.
26. ANÁLISE
Constatamos que os eleitores maduros sofrem discriminação e também desconfiança.
Discriminação por não terem algo que é exigido em específico ambiente. E sofrem
com a desconfiança, pelos seus vizinhos, amigos e parentes, quanto à capacidade
financeira de conquistarem bens materiais de maneira lícita.
28. ANÁLISE
Os eleitores, maduros ou jovens, não sabem definir o que é Estado. Eles sabem o que
é governo. E para eles, o governo tem a obrigação de fazer “por nós, mas não faz”.
Eles culpam todos os governos, Federal, Estadual e Municipal. Para eles, os governos
“não fazem nada por eles”. Os eleitores maduros mostram revolta intensa com os
governos. Os jovens criticam os governos, mas não são tão revoltados.
Os eleitores maduros ao falaram mal dos governos frisam que falta “tudo no Brasil”.
Pois os governos só querem para eles. “Mentem”. E “só aparecem no dia da eleição”.
Constatamos que existe na mente dos eleitores confusão entre governo e políticos.
Neste caso, quem faz os governos são os políticos. E os governos, ou melhor, os
políticos, não fazem “nada por nós”. Eles não concebem o governo como uma
instituição impessoal e perene.
29. ANÁLISE
Entre os eleitores maduros está presente forte descrédito para com os governos. Entre
os jovens, não encontramos forte descrédito. Mas apatia para com os governos. É
como se os governos não existissem, pois eles não reconhecem as ações dos governos.
Os entrevistados consideram que os governos têm responsabilidade em provê
segurança pública, saúde e educação. Transporte público é outra obrigação do
governo. Esta presente na mente dos eleitores as obrigações dos governos para com
eles.
31. ANÁLISE
Os eleitores não sabem, ao serem provocados, opinar sobre o papel do Estado na
economia. O que eles repetem sempre é que “os governos não fazem nada”.
Insistimos quanto ao papel do Estado na economia. Então, indagamos, se eles desejam
ser empreendedores, abrir o próprio negócio. Majoritariamente, os eleitores maduros
mostram desejo de abrir o próprio negócio, mas não abrem por “ausência de verba”.
Verba é o capital necessário para abrir o “negócio”.
“Tenho vontade de abrir um mercadinho”. “Eu gostaria de vender batata frita”. “Eu já
tenho meu negócio, vendo roupa. Queria ampliar”. Durante as assertivas, os eleitores
reclamam dos governos, afirmam que estes “roubam o povo e cobram muito
imposto”. Por cobrarem muito imposto, é difícil manter “o negócio ou abrir um”.
32. ANÁLISE
Os entrevistados maduros mostram vontade e desejo de ser empreendedores. Mas falta capital
para abrir o “negócio” e o governo cobra “muito imposto”. Entretanto, eles mostram o desejo de
ser funcionários públicos. Segundo parte deles, trabalhar para o Estado possibilita que todo o
mês, o “certo entre na conta”. Portanto, empreender traz incerteza, é inseguro. Ser funcionário
público traz o “certo”. Eles desejam e elogiam a estabilidade do emprego público. Contudo,
reconhecem que é “muito difícil passar num concurso público”.
Os jovens não mostram forte disposição para o empreendedorismo. Eles preferem a estabilidade,
o “certo”. E onde está a estabilidade e o “certo”? Concurso público. Os jovens mostram o desejo
da estabilidade, por consequência, desejo de realizar concurso público. Mas tal desejo não
significa que eles são contrários ao empreendedorismo. Eles têm medo do empreender, se
sentem inseguros de abrir um negócio, pois o futuro é incerto. O concurso público, ao contrário,
traz a certeza, o “seguro”, a estabilidade.
34. ANÁLISE
Os entrevistados mostram desconhecimento sobre políticas públicas. Insistirmos na
indagação, e alguns deles respondem que conhecem algumas políticas públicas. Os
inquiridos citam: Pacto pela Vida, Mãe Coruja, Chapéu de Palha. Citam com
dificuldade. Diante dela, os estimulamos. E citamos o Minha Casa Minha Vida,
Prouni, Fies. Todos os entrevistados mostram conhecimento, admiração e aprovação
por estes programas.
Após estimularmos os entrevistados, eles citam o Bolsa Família. Alguns aprovam este
programa. Outros não, pois segundo eles, “muitos fazem filhos para terem a Bolsa”. E
de que existem “muitas pessoas que não precisam do Bolsa Família, mas têm”.
Detectamos julgamentos positivos e negativos para com o Bolsa família. Ele não é
unanimidade.
36. ANÁLISE
Os eleitores, em sua maioria, independente da faixa etária e renda, são claros a dizer
que não sabem o que é ideologia ou questionam se ela existe. Para parte majoritária
dos entrevistados não existe Esquerda e Direita. É “tudo uma coisa só”. Eles, em sua
maioria, mostram desinteresse pela temática ideológica e diz que o que importa é a
existência de um governo eficiente, um “governo que faça por nós”. Muitos riem,
consideram engraçado o debate sobre ideologia. Eles mostram claramente que o
debate sobre ideologia não é importante. O que é importante “é quem faz por nós”.
Aqueles que optaram por definir o que é ser de Esquerda, afirmam que “ser de
Esquerda é defender o mais pobre”. Outro afirmou que ser de “Esquerda é ser contra
quem está no poder”. Quem definiu ou disse ser de Esquerda, não definiu o que é ser
de Direita.
37. ANÁLISE
Os eleitores mostram desprezo pela discussão ideológica. Entretanto, de modo
incipiente, detectamos que existem eleitores maduros que sabem definir qual político
está do lado dos pobres e o que está do lado dos ricos. A maioria dos entrevistados não
tem interesse na ideologia do governo ou do candidato, mas se “ele faz ou não pelo
povo”.
39. ANÁLISE
Os eleitores, jovens e maduros, rejeitam a classe política. Classificam-na como
egoísta, ladrona, “só querem para si”, “não faz pelo povo”. Não mostram nenhum
apreço aos políticos. E nem respeito. São incapazes de citarem um bom político. Ou
um político em que admiram.
Entretanto, parte dos eleitores maduros frisa que “Lula fez pelo povo”. E “alguns
vereadores ajudam o povo”. Ajudam como? “Na área de saúde”. Neste instante,
alguns eleitores discordam e frisam que os vereadores “só querem comer também”.
Os inquiridos são unânimes em reconhecerem os políticos como estorvo para a
sociedade, pois “tem muitos benefícios e não fazem nada pelas pessoas”.
40. ANÁLISE
Os eleitores jovens são silenciosos quanto aos políticos. Não mostram intensa revolta.
E nem admiração. Ao contrário dos eleitores maduros: mostram intensa revolta e
nenhuma admiração pelos políticos. Para todos os entrevistados os políticos não
merecem confiança. O forte descrédito com a classe política é nítido.
42. ANÁLISE
O que é melhor, um político que faz e rouba; ou um político que não faz e nem rouba?
Em sua maioria, independente do grupo, respondem que preferem o que faz e rouba.
“Pois pior, é o político não fazer nada”. Outros membros dos grupos discordam.
Mostram profunda intolerância com a corrupção pública. Vários destes afirmam que
político corrupto tem que ir para cadeia.
Os que preferem o político que rouba, revelam carência, pois segundo eles, o governo
“não faz nada. Então, quando aparece um que faz, não quero nem saber se rouba”.
Portanto, a carência de um governo eficiente para atender as demandas da população
possibilita que os eleitores sejam tolerantes com a corrupção pública.
43. ANÁLISE
Para os entrevistados, a corrupção faz parte da política. Não existe político honesto.
“Todos estão no mesmo saco”. Pedimos para falarem de um político honesto, mas não
frisam. Alguns entrevistados citam o ex-presidente Lula, como um político que é
acusado, mas que fez muito pelo povo. Outros asseveram não confiar mais no ex-
presidente. Mais uma vez detectamos tolerância/reflexão com a corrupção, caso o
político faça pelo povo, trabalhe.
45. ANÁLISE
Todos os entrevistados apoiam a Operação Lava Jato. Entre os eleitores maduros
observamos intensa alegria com a Operação. Eles dizem que adoram assistir o
noticiário. Gostam de ver cada denúncia, as prisões. Os jovens aprovam a Lava Jato,
mas não são tão entusiastas. Para parte dos eleitores maduros, a referida Operação é
uma novela. Onde cada dia, eles assistem um capítulo. Já para os jovens é uma
Operação que está combatendo a corrupção.
Os inquiridos associam a Operação Lava Jato ao sentimento de justiça. De que, com a
Lava Jato, “político está indo para a cadeia, assim como ricos”. Vem dai a forte
satisfação com a Lava Jato e não necessariamente com o combate a corrupção.
Reconhecem que a Lava Jato está demorando: “E não acabam mais não?”. E alguns,
neste instante, associam a crise econômica a Lava Jato. Isto é: Se ela não parar, o
Brasil não volta a crescer.
46. ANÁLISE
O principal problema do Brasil para os entrevistados é a corrupção. Não falam com
indignação, ao contrário, sugerem que a corrupção é corriqueira, diária, faz parte do
cotidiano. A ausência de indignação não é porque a corrupção não é problema. E sim,
porque é corriqueira. Já estão acostumados. A corrupção é associada à classe política.
E não a qualquer indivíduo. Alguns entrevistados associam à corrupção a ineficiência
dos governos, como a oferta de saúde e educação.
48. ANÁLISE
Todos os eleitores estão céticos, desconfiados, com o futuro do Brasil. Os jovens
revelam pouca esperança, mas acreditam em um futuro melhor. Para eles, é tanta
confusão que não sabem quando o Brasil sairá dela. Mas continuarão tentando. Os
eleitores maduros reconhecem as crises, “a tanta confusão”, mas tem esperança, pois
esta “nunca morre”. Vão continuar “trabalhando, acreditando”.
O pessimismo está presente nos olhares e verbalizações dos participantes da pesquisa.
Eles estão descrentes com o futuro. Mostram ignorância quanto a ele, isto é, não
sabem o que vai acontecer. Atrelado ao pessimismo está a esperança de que algum dia
“as coisas vão melhorar”. Alguns eleitores maduros falam que perderam renda,
“venderam carro”. Estão desempregados. Mas que continuam acreditando que o
futuro melhor surgirá, pois sempre acreditaram e assim continuarão.
50. ANÁLISE
A família é a instituição que os eleitores mais confiam. Eles mostram desprezo às instituições do
Estado. Não as citam, mesmo sendo provocados. Tal realidade mostra a falência das instituições
estatais para os pesquisados. Esta falência é observada também nas fortes críticas que os
eleitores fazem ao governo. Para eles, governos funcionam mal. Não atendem as demandas da
população.
Morar no bairro desde a infância ou ter história no bairro cria nos entrevistados sentimento de
pertencimento. Este sentimento gera satisfação por morar no bairro. O pertencimento facilita a
vida dos moradores. Pois, em razão dele, eles conhecem todo mundo, se sentem à vontade em
conviver com as pessoas.
O sentimento de pertencimento também gera, segundo os eleitores jovens, sentimento de
diferenças. Os que moram em dado bairro são diferentes dos de outros bairros. A diferença
proporciona discriminação. Os jovens não admitem que discriminam moradores de outros
bairros. Eles reconhecem a discriminação no outro. A discriminação tem o poder de gerar
conflitos entre moradores de bairros diferentes, assim como o tráfico de drogas.
51. ANÁLISE
Realizar sonhos. Esta frase resume para os entrevistados o que é vencer na vida. Sonhos são
realizáveis com dinheiro. Portanto, vencer na vida é realizar sonhos e também ter dinheiro. Os
inquiridos valorizam a obtenção, o ganho do dinheiro.
A educação é instrumento de mobilidade social. Estudar significa ampliar as oportunidades. O
diploma de nível superior é valorizado, pois através dele é possível conquistar e manter o
emprego. Os eleitores maduros mostram tristeza por não ter conquistado o diploma. Os jovens
revelam esperança para conquistar o diploma.
Todos desejam consumir. Para eles, o consumo sugere a posição social do indivíduo na
sociedade. O sentimento do que você é pelo que tem é expresso pelos inquiridos. Isto significa
que eles reconhecem que para serem reconhecidos precisam consumir determinados objetos.
Estar com roupas adequadas para dado ambiente. Ter carro, celular. Como eles não possuem
condição financeira para obter determinados objetos, sofrem discriminação em dados ambientes.
Os entrevistados relatam casos de discriminação. E expressam que sabem que são diferentes em
alguns locais. Portanto, a discriminação social, advinda do consumo, expressa conflito de
classes.
52. ANÁLISE
Os eleitores jovens não mostram responsabilidade e seletividade para o consumo. Apenas o
desejo de consumir certos bens. Os maduros mostram desejo de consumir certos bens, mas
sabem que precisam ter responsabilidade, definir prioridades, pois o dinheiro é escasso.
O Estado é governo. E o governo são os políticos. O governo não atende as demandas da
sociedade. Os políticos não estão nem ai para a população. Eles só querem saber deles. Governo
e classe política são categorias rejeitadas pelos eleitores.
A impressão negativa dos governos e a existência de demandas que não são solucionadas por
eles, fazem com que os eleitores não reconheçam/citem políticas públicas espontaneamente.
Após serem estimulados, eles conseguem enumerar políticas públicas que para eles são
importantes.
O Bolsa Família é uma política pública elogiada e criticada. Ela não é unanimidade. Parte dos
entrevistados entendem que muitos pessoas se aproveitam do Bolsa Família, isto é, obtém
vantagens ou têm acesso a ele, sem precisar.
53. ANÁLISE
Não existe ideologia para os eleitores. Eles não orientam as suas escolhas eleitorais pela
ideologia. Os inquiridos não sabem conceituar o que é Esquerda e Direita. A minoria associa
Esquerda a cuidar dos pobres ou ser contra algo. A ideologia é substituída pelo desejo de que
governos façam alguma coisa por eles. Esta é a ideologia deles. Os eleitores são pragmáticos e
não ideológicos.
Os eleitores preferem, mas isto não significa que eles aprovem ou admirem, os
políticos/governos que roubam mais faz. Outros mostram indignação com este tipo de políticos.
Contudo, o relevante é que parte dos eleitores, diante das demandas que eles têm, as quais os
governos não são eficientes para atendê-las, passam a tolerar gestores que roubam mais faz.
A totalidade dos entrevistados reprova a corrupção pública. Eles consideram que a corrupção
pública faz parte do cotidiano da política e que todos os políticos estão no mesmo saco. Eles não
fazem menção à corrupção realizada por outros indivíduos, mas apenas por políticos.
54. ANÁLISE
Os políticos não servem para nada. Só desejam extrair vantagens da população. Políticos e
governos estão associados. Para os eleitores, ambos não atendem as demandas da sociedade.
Eles mostram intensa insatisfação com eles. Mostram indignação e se sentem abandonados.
Os eleitores têm vontade de ser empreendedores. Tal desejo é observado entre os eleitores
maduros. Entretanto, eles reconhecem que impostos e ausência de capital para abrir um negócio
os impedem de empreender. Concorre ao desejo de ser empreendedor, o desejo da estabilidade,
do certo. Jovens e maduros revelam opção pela segurança, estabilidade. Por isto, elogiam o
emprego estatal e mostram desejo de conquistarem emprego público.
A insatisfação com a classe política e o reconhecimento da existência da corrupção pública
fazem com que, inicialmente, os eleitores aplaudam a Operação Lava Jato. Porém, destacamos
que a prisão de empresários e políticos são, hoje, motivos que conduzem a satisfação dos
entrevistados para com a referida Operação.
55. ANÁLISE
Os eleitores estão pessimistas com o futuro do Brasil em razão da crise econômica, da descrença
com os políticos e governos. E da “confusão toda” que atinge o Brasil. “Confusão toda” significa
para eles crise econômica, corrupção, Lava Jato, perdas do emprego e renda. Eles não sabem
quando a “confusão toda” findará. Mas o não saber, não os fazem desesperançosos. Os eleitores
têm sentimentos aparentemente contraditórios. Estão pessimistas, mas esperançosos. Pois,
segundo eles, a esperança, mesmo em ambiente pessimista, é a última que morre.
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