2. Graciliano Ramos
“Falo somente com o que falo:
com as mesmas vinte palavras
girando ao redor do sol
que as limpa do que não é faca”
(João Cabral de Melo Neto)
3. Vidas Secas – a narrativa
• Narrativa em 3ª pessoa – estilo enxuto –
economia vocabular
• O retrato social e existencial dos retirantes
nordestinos e o drama da solidão.
• O regionalismo universal.
• O lirismo advindo da objetividade.
• O romance cíclico.
4. Vidas Secas – a narrativa
• Os capítulos independentes.
• A seca como protagonista.
• A humanidade do autor – mescla na fala das
personagens.
5. "Miudinhos, perdidos no deserto queimado, os
fugitivos agarraram-se, somaram as suas desgraças e
os seus pavores. O coração de Fabiano bateu junto
ao coração de sinha Vitoria, um abraço cansado
aproximou os farrapos que os cobriam."
6. A problemática da linguagem
• A esfera de limitações: física - financeira - social –
linguística.
• A palavra transforma-se em obstáculo.
• A linguagem com instrumento de poder (cadeia –
contas).
7. A problemática da linguagem
Os níveis da linguagem
• Externo: as palavras soltas - um diálogo
inacabadas.
• Interno: coerência e organização.
8. O isolamento
• Solidão e o primitivismo: sociabilidade
ineficiente.
• Cada personagem vive seu próprio abandono.
9. As Personagens
Fabiano: o enfoque determinista – o polo da
brutalidade.
“Fabiano dava-se bem com a ignorância. Tinha o
direito de saber? Não tinha.
“E ele, Fabiano, era como a bolandeira. Não sabia
porquê, mas era.”
10. Sinha Vitória: o polo do conhecimento - o desejo de
mudança.
“Fora de propósito dissera ao marido umas
inconveniências a respeito da cama de varas.
Fabiano que não esperava semelhante desatino,
apenas grunhira: - “Hum! hum!” E amunhecada,
porque realmente mulher é bicho difícil de entender.
11. Menino mais moço: a busca pela atitude heroica – o
espelhamento na figura paterna
“E precisava crescer, ficar tão grande como Fabiano,
matar cabras a mão de pilão
12. Menino mais velho: a paixão pelas palavras
“A culpada era sinha Terta que na véspera, depois de
curar com reza a espinhal de Fabiano, soltara uma
palavra esquisita, chiando, o canudo do cachimbo
preso nas genvivas banguelas. ele tinha querido que a
palavra virasse coisa e ficara desapontado quando a
mãe se referira a um lugar ruim, com espetos e
fogueiras."
13. O soldado amarelo: o governo
“Não se inutilizava, não valia a pena inutilizar-se.
Guardava a sua força.
Vacilou e coçou a testa. Havia muitos bichinhos assim
ruins, havia um horror de bichinhos assim fracos e
ruins. Afastou-se, inquieto. Vendo-o acanalhado e
ordeiro, o soldado ganhou coragem, avançou, pisou
firme e perguntou o caminho. E Fabiano tirou o
chapéu de couro.
- Governo é governo.
14. Baleia: o catalisador emocional da família
Antropomorfizada – o contraste nome X condição.
“Baleia, que era como uma pessoa da família, sabida
como gente.”
“Deu um pontapé na cachorra, que se afastou
humilhada e com sentimentos revolucionários."
15. Tinha havido um desastre, mas Baleia não
atribuía a esse desastre a impotência em que se
achava nem percebia que estava livre de
responsabilidades. Uma angustia apertou-lhe o
pequeno coração. Precisava vigiar as cabras: àquela
hora cheiros de suçuarana deviam andar pelas
ribanceiras, rondar as moitas afastadas.
(...)
A tremura subia, deixava a barriga e chegava ao
peito de Baleia. Do peito para trás era tudo
insensibilidade e esquecimento. Mas o resto do
corpo se arrepiava, espinhos de mandacaru
penetravam na carne meio comida pela doença.
16. Baleia encostava a cabecinha fatigada na pedra. A
pedra estava fria, certamente sinha Vitória tinha
deixado o fogo apagar-se muito cedo.
Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo
cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um
Fabiano enorme. As crianças se espojariam com
ela, rolariam com ela num pátio enorme, num
chiqueiro enorme. O mundo focaria todo cheio de
preás, gordos, enormes.”
17. Vidas Secas – o eterno retorno
Fuga
“Os pés calosos, duros como cascos, metidos em
alpercatas novas, caminhariam meses. Ou não
caminhariam? Sinha Vitória achou que sim. Fabiano
agradeceu a opinião dela e gabou-lhe as pernas
grossas, as nádegas volumosas, os peitos cheios. As
bochechas de sinha Vitória avermelharam-se e
Fabiano repetiu com entusiasmo o elogio. Era. Estava
boa, estava taluda, poderia andar muito. Sinha Vitória
riu e baixou os olhos.
18. Dentro de pouco tempo estaria magra, de seios
bambos. Mas recuperaria carnes. E talvez esse lugar
pra onde iam fosse melhor que os outros onde
tinham estado. (...)
As palavras de sinha Vitória encantavam-no iriam
para diante, alcançariam uma terra desconhecida.
Fabiano estava contente e acreditava nessa terra,
porque não sabia como ela era nem onde era. Repetia
docilmente as palavras de sinha Vitória, as palavras
que sinha Vitória murmurava porque tinha confiança
nele.
19. E andavam para o sul, metidos naquele sonho. Uma
cidade grande, cheia de pessoas fortes. Os meninos
em escolas, aprendendo coisas difíceis e necessárias.
Eles dois velhinhos, acabando-se como uns
cachorros, inúteis, acabando-se como Baleia. Que
iriam fazer? Retardaram-se temerosos. Chegariam a
uma terra desconhecida e civilizada, ficariam presos
nela. E o sertão mandaria para a cidade homens
fortes, brutos, como Fabiano, Sinha Vitória e os dois
meninos.”
20. “Depois da comida, falaria com Sinha Vitória sobre a
educação dos meninos.”