Este documento discute o conceito de alfabetização e letramento ao longo do tempo. Inicialmente, alfabetização era vista como o ensino de codificação e decodificação através de métodos como silábicos e globais. Mais recentemente, passou a ser ligada ao letramento e compreender diferentes gêneros textuais e contextos. Também aborda o papel da escola em alfabetizar e letrar simultaneamente, expondo crianças a diversos gêneros desde cedo.
6. A alfabetização considerada como o ensino das
habilidades de “codificação” e “decodificação” foi
transposta para a sala de aula, no final do século
XIX, mediante a criação de diferentes métodos de
alfabetização
7. Métodos sintéticos (silábicos ou fônicos)
X
Métodos analíticos (global)
que padronizaram a aprendizagem da leitura e da
escrita
As cartilhas relacionadas a esses métodos passaram a
ser amplamente utilizadas como livro didático para o
ensino nessa área.
8.
9.
10. Graciliano Ramos, em seu livro
autobiográfico Infância,
lembra que se alfabetizou – ainda no final
do século XIX, início do século XX –
através da carta do ABC
11. Respirei, meti-me na soletração, guiado por Mocinha.
Gaguejei sílabas um mês. No fim da carta elas se
reuniam, formavam sentenças graves, arrevesadas, que
me atordoavam. Eu não lia direito, mas, arfando
penosamente, conseguia mastigar os conceitos sisudos:
“A preguiça é a chave da pobreza – Quem não ouve
conselhos raras vezes acerta – Fala pouco
e bem: ter-te-ão por alguém. Esse Terteão para mim era
um homem, e não pude saber que fazia ele na página
final da carta. – Mocinha, quem é Terteão? Mocinha
estranhou a pergunta. Não havia pensado que Terteão
fosse homem. Talvez fosse. Mocinha confessou
honestamente que não conhecia Terteão. E eu fiquei
triste, remoendo a promessa de meu pai, aguardando
novas decepções.
12. A partir da década de 1980, o ensino da leitura e
da escrita centrado no desenvolvimento das
referidas habilidades, desenvolvido com o apoio
de material pedagógico que priorizava a
memorização de sílabas e/ou palavras e/ou frases
soltas, passou a ser amplamente criticado.
13. No campo da Psicologia, foram muito importantes
as contribuições dos estudos sobre a
psicogênese da língua escrita, desenvolvidos por
Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1984).
Rompendo com a concepção de língua escrita
como código
14.
15.
16.
17. Nos últimos vinte anos, principalmente a partir da
década de 1990, o conceito de
alfabetização passou a ser vinculado
a outro fenômeno: o letramento.
18. Esse mesmo termo é definido no Dicionário
Houaiss (2001)
“como um conjunto de práticas que denotam a
capacidade de uso de diferentes tipos de material
escrito”.
19.
20. No Brasil, o termo letramento não substituiu a
palavra alfabetização, mas aparece associada a
ela.
21. “alfabetizar e letrar são duas ações distintas, mas
não inseparáveis, ao contrário: o ideal seria
alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e
escrever no contexto das práticas sociais da
leitura e da escrita, de modo que o indivíduo se
tornasse, ao mesmo tempo, alfabetizado e
letrado” (p. 47).
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica,
1998.
22.
23. Para a formação de leitores e escritores
competentes, é importante a interação com
diferentes gêneros textuais, com base em
contextos diversificados de comunicação.
26. criando atividades em que os alunos sejam
solicitados a ler e produzir diferentes textos;
27. que os alunos desenvolvam autonomia para ler e
escrever seus próprios textos;
28. que as crianças se apropriem do sistema de escrita
alfabético, e essa apropriação não se dá, pelo menos
para a maioria das pessoas, espontaneamente,
valendo-se do contato com textos diversos.
29. um trabalho sistemático de reflexão sobre o
sistema de escrita alfabético não pode ser feito
apenas através da leitura e da produção de
textos.
30. o desenvolvimento de um ensino no nível da
palavra, que leve o aluno a perceber que o que a
escrita representa (nota no papel) é sua pauta
sonora, e não o seu significado, e que o faz
através da relação fonema/grafema.
31. Diariamente
uma reflexão sobre suas propriedades:
quantidade de letras e sílabas, ordem e posição
das letras, etc.
a comparação entre palavras quanto à quantidade
de letras e sílabas e à presença de letras e
sílabas iguais;
32. a exploração de rimas e aliteração (palavras que
possuem o mesmo som em distintas posições
(inicial e final, por exemplo)
33. Essas atividades de reflexão sobre as palavras
podem estar inseridas na leitura e na produção
de textos, uma vez que são muitos os gêneros
que favorecem esse trabalho, como os poemas,
as parlendas, as cantigas, etc
38. Podemos dizer que os gêneros são formas
culturais e cognitivas de ação social, estabilizadas
ao longo da história, corporificadas de modo
particular na linguagem, caracterizadas pela
função sociocomunicativa que preenchem
(BAKHTIN, 2000; MARCUSCHI, 2000, 2002).
39.
40. Assim, na escola, seria um equívoco trabalhar
com os gêneros como se fossem “moldes”
prontos, que o aluno só teria de “preencher”, sem
levar em conta a situação de interação.
41. Em sociedade, são múltiplos e diversificados os
usos da leitura. Lê-se para conhecer. Lê-se para
ficar informado. Lê-se para aprimorar a
sensibilidade estética. Lê-se para fantasiar e
imaginar. Lê-se para resolver problemas. E lê-se
também para criticar e, dessa forma, desenvolver
posicionamento diante dos fatos e das idéias que
circulam através dos textos (SILVA, 1998, p. 27).
42. Em sociedade, são múltiplos e diversificados os
gêneros que lemos, escrevemos,
falamos/dizemos e ouvimos
43. A escola deve, portanto, proporcionar aos alunos o
contato com uma grande diversidade de gêneros orais
e escritos, abrangendo várias esferas de circulação: a
familiar ou pessoal – cartas pessoais, bilhetes, diários,
e-mails pessoais, listas de compras, etc. –; a literária –
fábulas, contos, lendas da tradição oral, peças
teatrais, poemas, romances, crônicas, contos de
fadas, poemas de cordel, etc. –; a midiática – notícias,
reportagens, anúncios publicitários, charges, cartas
do leitor, artigos de opinião....
44. Por isso, não é preciso esperar que a criança
esteja alfabetizada para deixá-la entrar em
contato com textos dos mais diversos gêneros.
Este é, a propósito, o princípio básico da proposta
de alfabetizar letrando: a apropriação do sistema
de escrita e a inserção nas práticas de leitura e
escrita se dariam de forma simultânea e
complementar.
45. A resposta seria um “claro que sim”, justificado
pelo fato de que os gêneros nos são
inescapáveis: sempre que falamos e escrevemos,
fazemos isso por meio de gêneros; e sempre que
ouvimos ou lemos, ouvimos gêneros orais
(conversas, palestras, entrevistas, anúncios
radiofônicos, novelas de tevê, discussões, etc.), e
lemos gêneros escritos (bulas, receitas, poemas,
notícias, avisos, entrevistas, etc.).
46. A resposta seria “em todas as práticas de leitura e
de escrita”, além das práticas orais que envolvem
a escrita, de alguma maneira, como no caso das
apresentações orais que tiveram a escrita como
base ou da contação de histórias que já foram
registradas na tradição escrita.
48. O DIREITO
• O direito à Educação Básica é garantido a todos
os brasileiros e, segundo prevê a Lei 9.394, que
estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional,
“tem por finalidades desenvolver o educando,
assegurar-lhe a formação comum indispensável
para o exercício da cidadania e fornecer-lhe
meios para progredir no trabalho e em estudos
posteriores” (Art. 22)
49. Dentre outros direitos, é prioritário o ensino da
leitura e escrita, tal como previsto no artigo 32:
• Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com
duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola
pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade,
terá por objetivo a formação básica do cidadão,
mediante:
50. DIREITOS
I- o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo
como meios básicos o pleno domínio da leitura, da
escrita e do cálculo;
II- a compreensão do ambiente natural e social, do sistema
político, da tecnologia, das artes e dos valores em que
se fundamenta a sociedade;
III- o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem,
tendo em vista a aquisição de conhecimentos e
habilidades e a formação de atitudes e valores;
IV- o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de
solidariedade humana e de tolerância recíproca em que
se assenta a vida social.
51. ATENDER
Para atender às exigências previstas nas
Diretrizes, torna-se necessário delimitar os
diferentes conhecimentos e as
capacidades básicas que estão
subjacentes aos direitos
52.
53. Realizar inferências em textos de diferentes gêneros e
temáticas,lidos com autonomia.
I I/A A/C
Estabelecer relações lógicas entre partes de textos de
diferentes gêneros e temáticas, lidos pelo professor ou outro
leitor experiente
I/A A/C A/C
Estabelecer relações lógicas entre partes de textos de
diferentes gêneros e temáticas, lidos com autonomia.
I A A/C
Apreender assuntos/temas tratados em textos de diferentes
gêneros, lidos pelo professor ou outro leitor experiente.
I/A A/C C
Apreender assuntos/temas tratados em textos de diferentes
gêneros, lidos com autonomia.
I A A/C
Interpretar frases e expressões em textos de diferentes
gêneros e temáticas, lidos pelo professor ou outro leitor
experiente.
I/A A/C A/C
Interpretar frases e expressões em textos de diferentes
gêneros e temáticas, lidos com autonomia.
I/A A/C A/C
Estabelecer relação de intertextualidade entre textos. I I/A C
Relacionar textos verbais e não-verbais, construindo
sentidos.
I/A A/C A/C
Saber procurar no dicionário os significados das palavras e
a acepção mais adequada ao contexto de uso.
I A
54. CONCLUSÃO
Com a ampliação do prazo para
que todas as crianças se
alfabetizem aumentou também a
responsabilidade da escola em
alfabetizar e letrar ao mesmo
tempo.
55. BIBLIOGRAFIA
• FERREIRO,E. e TEBEROSKY,A. Psicogênese da Língua Escrita. Tradução
Myriam Lichtenstein et alli. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
• FERREIRO,E. Reflexões sobre Alfabetização. Tradução Horácio Gonzales
et alli. 25.ed.São Paulo: Cortez, 2010.
• ---------------(org.) Os filhos do Analfabetismo. Porto Alegre: Artes Médicas,
1990.
• GROSSI,E.P. e BORDIN,J. (orgs) Paixão de Aprender.13.ed. Petrópolis.
RJ: Vozes,2009.
• PCNs. Língua Portuguesa . MEC. SEF. Brasília: 1999.
• TEBEROSKY,A. Aprendendo a Escrever. Trad. Cláudia Schilling. 3.ed. São
Paulo: Ática, 2003.
• WEIZ, T. O Diálogo entre o Ensino e a Aprendizagem. 2.ed. São Paulo:
Ática, 2009.