Nesta apresentação: a origem do projeto, as principais motivações, os principais obstáculos, como se trabalha, principais reações, o que os miúdos pensam.
A ÍcaroTV é o canal de notícias do 1.º Ciclo do Agrupamento de Escolas de Gondifelos (Vila Nova de Famalicão).
Fruto da inspiração de três professores do primeiro ciclo com um profundo gosto pelas novas tecnologias e pelos media, este projeto começou como uma forma de mostrar à comunidade todo o trabalho que era desenvolvido na sala de aulas pelos alunos e pelos professores. Tal deveu-se ao facto de termos a noção que a grande maioria da comunidade educativa desconhecia o que se fazia na escola.
O nome do canal surgiu da figura que representa o nosso agrupamento: o menino alado “Ícaro” que teve a ousadia de voar, contra a vontade dos Deuses.
Da sua lenda retemos a vontade de não nos conformarmos, ir mais longe e voar mais alto!
...estrategicamente ignoramos o final (que consideramos “moralista”) que o nosso herói teve ;-)
O departamento do primeiro ciclo já tinha uma presença na internet desde 2005, através de um blogue onde se fazia este tipo de divulgação, mas sentíamos que para os alunos já não era suficientemente interessante a ideia de um blogue, feito pelos professores onde a sua participação era muito passiva e limitada.
Desta forma procuramos idealizar um projeto onde o trabalho de divulgação seria partilhado pelos alunos e pelos professores e que estes se sintam mais envolvidos no mesmo.
Também queríamos que este tipo de trabalho melhorasse as capacidades de comunicação dos alunos, quer escrita quer oral.
Uma terceira motivação consistia na partilha de experiências entre os alunos e pais das diferentes escolas que apesar de geograficamente próximos, poucas vezes interagem uns com os outros.
Uma quarta motivação foi crescendo ao longo do projeto: partilhar as aprendizagens e simultaneamente produzir conteúdos educativos de qualidade que possam ser aproveitados por outros alunos.
Ao longo da duração do projeto o caminho não foi fácil. As dificuldades foram surgindo e algumas foram superadas e outras ainda espreitam e atrapalham.
O tempo disponível para o projeto sempre foi a maior limitação. Como este é um projeto do 1º ciclo do ensino básico e estes professores não têm direito a reduções no horário, muito do trabalho é feito pelos professores fora do seu horário de trabalho, após cumprirem as suas obrigações com as turmas. Por si só este é o maior impedimento à maior regularidade dos episódios.
Um outro obstáculo, que se foi ultrapassando foi a baixa literacia para os media que tantos os professores como os pais e (um pouco menos) os alunos tinham no início do projeto. Contudo, com o tempo, a ajuda dos professores dinamizadores e com força de vontade esta dificuldade foi-se esbatendo.
Atualmente, muito do trabalho para produzir um episódio é repartido pelos professores coordenadores (atualmente dois) e pelos docentes e alunos.
Outra dificuldade sentida é ao nível dos equipamentos: apenas temos uma câmara de filmar que não pode acorrer a todas as necessidades e já não tem as características necessárias para fazer uma reportagem de qualidade. Este obstáculo é ultrapassado pela utilização de meios próprios dos docentes e (por vezes) dos alunos. Ao nível de edição de vídeo apenas temos um computador “desktop” para editar e usamos frequentemente os computadores “Magalhães” para o trabalho mais “leve” como a escrita de guiões e a edição de pequenos clips e vídeos.
A forma como este projeto ganha vida tem vindo a mudar desde a sua gênese. Essa mudança provem da forma como o projeto em si tem vindo a “aprender” com os seus erros e com outras experiências de projetos semelhantes que encontramos.
Contudo a espinha dorsal mantem-se: este é um trabalho dos alunos (em colaboração com os professores) para os alunos e para a comunidade.
As notícias e vídeos educativos surgem sempre de atividades ou acontecimentos que estejam diretamente ligados à atividade letiva.
Os alunos desenvolvem, dependendo no nível etário e com mais ou menos autonomia os relatos dos acontecimentos; o registo visual em fotografia ou vídeo é feito, geralmente pelas crianças.
Aos professores cabe a função de rever a informação que as crianças produzem e a edição dos vídeos. No caso dos alunos com mais “à-vontade” para as tecnologias e os equipamentos necessários, é possível deixar também a edição dos conteúdos para eles.
Depois de todo este processo de criação e edição, há ainda um terceiro passo que passa pela visualização dos conteúdos produzidos e avaliação dos mesmos, de forma a encontrar erros e a melhorar o trabalho numa próxima oportunidade. Esta visualização também cumpre o objetivo de fazer os alunos aprenderem com o trabalho produzido pelos seus pares.
Atualmente encontramo-nos a produzir uma série de conteúdos educativos de forma a corresponder à necessidade sentida de partilhar as aprendizagens dos alunos e de produzir documentos de referência para as aprendizagens na sala de aulas. Esses conteúdos seguem o mesmo modelo de produção dos outros programas (informativos).
De uma forma geral quando alguém vê o logótipo do canal sente curiosidade e pergunta o que significa e para que serve. A maior surpresa surge quando as pessoas se apercebem que são os alunos que estão “à frente” do projeto e que também dão “a cara” por ele.
Após esse impacto, o feedback é esmagadoramente positivo. Sentimos que a comunidade gosta deste tipo de exposição e que conseguimos desmistificar algumas das ideias pré-concebidas que a maior parte das pessoas têm acerca do primeiro ciclo.
Atualmente já somos requisitados para fazer a cobertura mediática de vários acontecimentos na vida do agrupamento (e até eventos exteriores à comunidade educativa) e muitas vezes também somos abordados na rua por pessoas acerca de algo que viram no canal e que gostaram.
Para as crianças a reação é simplesmente a mesma: adoram! Mesmo sentido um pequeno desconforto inicial por ouvir a sua voz ou ver a sua imagem na televisão ou no computador, a grande maioria das crianças que participa ativamente na produção de conteúdo pede para voltar a trabalhar. É muito frequente haver pequenas discussões sobre quem deve fazer entrevistas e quem pode filmar. Os professores aproveitam esta motivação para sugerir que apenas os mais bem preparados podem ir para a frente das câmaras, o que faz com que eles estudem o que querem fazer e na altura certa apresentem um trabalho de qualidade.
Também já temos alunos que propõem temas e preparam, individualmente, reportagens de forma a mostrar aos outros e à comunidade aquilo que são capazes de fazer.
É um projeto recente, contudo já identificamos melhorias em todos os objetivos que motivaram este projeto.
Ainda é cedo para identificar vocações no jornalismo surgidas neste projeto, contudo notamos que as nossas crianças estão mais autónomas e possuem uma maior literacia digital e funcional.