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código de
//
boas práticas
de higiene e
segurança
alimentar//
.aplicação dos princípios de haccp para a
hotelaria e restauração.
índice
Apresentação
Introdução
                                                                                       4
                                                                                       6


Parte I – Breves Noções de Contaminações                                              7

Capítulo I.1 – principais tipos de contaminação                                        8
Capítulo I.2 – breve referência a alguns microrganismos
               causadores de toxinfecções alimentares                                 10
Parte II – Os Pré – Requisitos para a aplicação dos princípios do HACCP               15

Capítulo II.1 – higiene pessoal dos manipuladores de alimentos                        16
I         II.1.1 – higiene individual – apresentação adequada ao trabalho             16
         II.1.2 – higiene das mãos                                                    17
I         II.1.3 – comportamento no local de trabalho e boas práticas profissionais   17
I         II.1.4 – saúde dos manipuladores                                            18
Capítulo II.2 – higiene das instalações e equipamentos                                18
         II.2.1 – concepção e manutenção                                              18
         II.2.1.1 – locais onde se manipulam alimentos                                18
         II.2.1.1.1 – pavimento                                                       18
         II.2.1.1.2 – paredes                                                         19
         II.2.1.1.3 – tectos                                                          19
         II.2.1.1.4 – portas, janelas, clarabóias                                     19
         II.2.1.1.5 – ventilação                                                      19
         II.2.1.1.6 – exaustão                                                        20
         II.2.1.1.7 – iluminação                                                      20
         II.2.1.1.8 – equipamentos                                                    20
         II.2.1.2 – instalações sanitárias e vestiários                               20
         II.2.1.3 – sala de refeições                                                 20
         II.2.2 – limpeza e desinfecção das instalações e dos equipamentos            21
         II.2.2.1 – limpeza e desinfecção                                             21
         II.2.2.2 – tratamento da loiça                                               22
         II.2.2.3 – plano de limpeza e desinfecção                                    23
         II.2.2.4 – armazenagem de produtos de limpeza                                23
Capítulo II.3 – controlo da água de abastecimento                                     24
Capítulo II.4 – controlo de pragas                                                    24
Parte III – O HACCP                                                                 27

Capítulo III.1 – apresentação do HACCP breve explicação teórica                     28
         III.1.1 – o que significa HACCP?                                           28
         III.1.2 – princípios de HACCP                                              28
Capítulo III.2 – HACCP – breve explicação teórico/prática                           28
         III.2.1 – o que é necessário fazer?                                        28
         III.2.2 – procedimentos de controlo                                        29
         III.2.3 – introduzindo procedimentos de controlo                           29
         III.2.4 – verificação dos procedimentos de controlo                        29
         III.2.5 – por onde começar?                                                30
         III.2.5.1 – por onde começar?                                              30
         III.2.5.2 – que tipo de perigos existem?                                   30
         III.2.5.3 – como identificar os perigos e as etapas em que ocorrem?        30
Capítulo III.3 – higiene alimentar e aplicação dos princípios de HACCP
- proposta de aplicação do HACCP no sector da hotelaria, da restauração e bebidas   31
         III.3.1 – introdução                                                        31
          III.3.2 – percursos genéricos dos alimentos, fluxogramas                   31
         III.3.3 – recepção de matérias - primas                                    33
         III.3.4 – armazenagem                                                      37
         III.3.5 – preparação de alimentos e ingredientes                           40
         III.3.6 – confecção e preparação de refeições                              42
         III.3.7 – serviço aos clientes/distribuição                                46
         Apresentação da análise de perigos e pontos de controlo / plano HACCP      48
Anexo 1
Fichas                                                                              51
Anexo 2
Registos                                                                            57
Anexo 3
Apresentação do HACCP – breve exposição teórica baseada no Codex Alimentarius       65
Anexo 4
Árvore de decisão                                                                   71
Anexo 5
Formação                                                                            73
Glossário                                                                           75
Bibliografia                                                                        80
APRESENTAÇÃO                                                                                |4
|ABERTURA|                                         princípios, de modo a que os mesmos sejam
                                                   exequíveis inclusivamente em pequenos res-
A UNIHSNOR – União das Associações de Ho-          taurantes e outros estabelecimentos familiares.
telaria e de Restauração do Norte de Portugal
– elaborou, em 1999, um CÓDIGO de BOAS             A APHORT – Associação Portuguesa de Hote-
PRÁTICAS DE HIGIENE PARA A RESTAU-                 laria, Restauração e Turismo, assumiu, em Abril
RAÇÃO.                                             de 2008, a continuidade associativa da União
                                                   das Associações de Hotelaria e Restauração do
Este Código mereceu, nos termos do decreto-lei     Norte de Portugal, para todos os efeitos, espe-
67/98 de 18 de Março, o parecer favorável da en-   cialmente na integralidade dos direitos e obri-
tidade oficial competente, a Direcção Geral da     gações.
Fiscalização e Controlo da Qualidade Alimen-       A APHORT, sendo a Associação representativa
tar.                                               dos estabelecimentos hoteleiros, dos estabe-
                                                   lecimentos de restauração e de bebidas e dos
Em 29 de Abril de 2004, o Parlamento Europeu       estabelecimentos de turismo no espaço rural,
e a Comissão Europeia aprovaram o Regula-          entendeu que, com o novo quadro legal e regu-
mento Europeu 852/2004 sobre higiene dos           lamentar, deveria actualizar o referido Código
géneros alimentícios, que contém, na prática,      de Boas Práticas.
um conjunto de regras de higiene e segurança
alimentar aplicáveis a todo o sector alimentar     O novo Código:
e também, portanto, aos estabelecimentos ho-       CÓDIGO DE BOAS PRÁTICAS DE HIGIENE
teleiros, aos estabelecimentos de restauração e    E SEGURANÇA ALIMENTAR
de bebidas. Adiante usaremos simplesmente a        – Aplicação prática dos princípios de HACCP
palavra “estabelecimentos” para nos referirmos     para a Hotelaria e para Restauração –
a todos eles.                                      É um documento produzido com base no re-
                                                   ferido Regulamento 852/2004, no Codex Ali-
Este Regulamento atribui um papel muito im-        mentarius, em documentos de trabalho quer da
portante aos empresários, considerando-os          Comissão Europeia, quer da HOTREC – Con-
como os principais responsáveis pela segu-         federação Europeia de Hotelaria, Restauração e
rança dos géneros alimentícios que produzem,       Cafés –, bem como na nossa própria experiên-
transformam, distribuem, comercializam e ser-      cia associativa, empresarial e profissional.
vem, devendo garantir a segurança dos seus
produtos ao longo de toda a cadeia.                A tarefa dos nossos associados e dos empresá-
Segundo o mesmo Regulamento, as empresas           rios do sector em geral não é fácil e constitui
alimentares deverão criar e aplicar programas      uma grande responsabilidade, exigindo o en-
de Segurança Alimentar baseados nos princí-        volvimento de todos os que trabalham no es-
pios do HACCP. No entanto o regulamento pre-       tabelecimento, empregados e empregadores,
vê, também, a flexibilização desses mesmos         cabendo a estes os conhecimentos necessários
5|
à implementação do sistema e a obrigação de
assegurarem a adequada formação de todos os
seus colaboradores.

Este Código, previsto no Regulamento
852/2004, constitui, para os associados e para
os empresários do sector em geral, um docu-
mento essencial nesta matéria, informando-os
e aconselhando-os sobre como deverão proce-
der para a aplicação e cumprimento do referido
regulamento Comunitário e para a implemen-
tação do HACCP.

|ÂMBITO|

Este Código destina-se a todos os que traba-
lham, empregadores e empregados, nos seguin-
tes estabelecimentos:
-Empreendimentos turísticos – estabelecimen-
tos hoteleiros – conforme decreto-lei 39/2008
de 7 de Março;
-Estabelecimentos de restauração e de bebidas
– conforme decreto-lei 234/2007 de 11 de Ju-
nho.
INTRODUÇÃO                                                                                     |6
O bem-estar, o conforto, a saúde e a segurança       A este tema dedicaremos a Parte II deste Manu-
dos nossos clientes são, para nós, valores essen-    al, organizada em 4 capítulos:
ciais. As refeições que servimos, sejam ligeiras,
como o pequeno-almoço ou o lanche, ou mais           Capítulo II.1 – Higiene pessoal de todos os ma-
substanciais, como o almoço ou o jantar, devem       nipuladores de alimentos;
ser saudáveis, no sentido em que não devem           Capítulo II.2 – Higiene das instalações e equi-
provocar doenças ou, mais especificamente, in-       pamentos;
toxicações.                                          Capitulo II.3 – Controlo da água de abasteci-
Por isso, é nosso dever eliminar todos os facto-     mento;
res que contribuam para que tal possa aconte-        Capítulo II.4 – Controlo de pragas.
cer.                                                 Estaremos, então, em condições de controlar os
Para alcançar este objectivo, e nos termos do re-    perigos associados ao processo de confecção,
ferido Regulamento 852/2004, os empresários          implementando os princípios do HACCP. A
deverão adoptar e cumprir procedimentos de           este tema dedicaremos a Parte III deste Manu-
segurança alimentar adequados à sua activida-        al.
de, com base nos princípios do HACCP – Análi-        Esta Parte III representa, sem dúvida, a grande
se dos Perigos e Controlo dos Pontos Críticos.       inovação que resulta da aplicação do já referido
A efectiva aplicação do HACCP só é possível          Regulamento Comunitário 852/2004 e está or-
se, previamente, forem cumpridas duas etapas         ganizada nos seguintes capítulos:
essenciais.                                          Capítulo III.1 – Breve apresentação do HACCP,
                                                     tendo por base o Codex Alimentarius. Aborda-
Em primeiro lugar, adquirir um conhecimento          gem do HACCP formal (tradicional) de acordo
genérico sobre os principais tipos de contami-       com o que o Codex recomenda para qualquer
nações e sobre os microrganismos que são os          indústria alimentar.
principais causadores de intoxicações alimen-        Capítulo III.2 – Breve explicação teórica e prá-
tares. A este tema, de um modo necessariamen-        tica, em linguagem acessível a todos os empre-
te genérico e não exaustivo, dedicaremos a Par-      gados e empregadores dos estabelecimentos
te I deste Manual.                                   de hotelaria, de restauração e de bebidas.
                                                     Capítulo III.3 – Proposta de aplicação do HAC-
Em seguida daremos atenção aos alicerces do          CP no sector da hotelaria e da restauração e be-
HACCP, as suas fundações, que designamos             bidas - conjugação entre a teoria e a prática, de
por «Pré-requisitos». Isto é, antes de mais, é ne-   modo a permitir aos estabelecimentos a aplica-
cessário garantir a prevenção da possibilidade       ção do HACCP, respeitando as suas especifici-
de contaminação, controlando os respectivos          dades.
perigos, tratando da higiene do que podemos          Anexos
designar de “estabelecimento” em sentido am-         Algumas definições e sugestões de fichas e de
plo, ou seja, estruturas, instalações, equipamen-    registos que os estabelecimentos poderão ter
tos e pessoal.                                       como base para a realização dos seus próprios
                                                     documentos de suporte.
PARTE I–
BREVES
NOÇÕES DE
CONTAMINA–
ÇÕES
|8
|CAPÍTULO I. – PRINCIPAIS TIPOS DE                         zar, quando obtivesse os resultados, o produto já não
CONTAMINAÇÃO|                                              se apresentaria em condições higio-sanitárias para ser
                                                           consumido. Donde se conclui que a análise deste tipo
Sabemos que existem três tipos de perigos de               de perigos tem de ser assegurada pelos fornecedores e
contaminações alimentares que nos preocu-                  nunca se poderão exigir as mesmas análises aos empre-
pam essencialmente ao nível da Segurança                   sários destes estabelecimentos.
Alimentar: Perigos Químicos, Perigos Físi-
cos e Perigos Biológicos.                                  |PERIGOS FÍSICOS|

|PERIGOS QUÍMICOS|                                         Qualquer objecto estranho a um alimento e que se in-
                                                           corpore acidentalmente no mesmo provoca a contami-
Este tipo de perigo ocorre quando um alimento é conta-     nação física desse alimento. Por exemplo, um pedaço de
minado por uma substância química durante os proces-       uma embalagem, um cabelo num prato de sopa, um bo-
sos de armazenamento, de preparação, de confecção, de      cado de palha-de-aço no puré.
serviço...
Nos estabelecimentos de hotelaria, de restauração e de     |PERIGOS BIOLÓGICOS|
bebidas, este tipo de contaminação muitas vezes é pro-
vocado por detergentes e desinfectantes. É, pois, muito    Nos perigos biológicos, podemos distinguir dois gru-
importante que os produtos de limpeza e desinfecção        pos:
estejam guardados num local diferente dos produtos         - visíveis a olho nu ou vista desarmada (macroscópi-
alimentares, e que, quando se proceda às operações de      cos);
limpeza e desinfecção, não se encontrem nesse mesmo        - não são visíveis a olho nu, apenas através de instru-
local produtos alimentares expostos.                       mentos de ampliação (microscópicos).
Nunca se devem guardar os produtos de limpeza ou de        No primeiro grupo, encontram-se os seres vivos que ge-
desinfecção dentro de embalagens de produtos alimen-       ralmente denominamos como pragas – baratas, formi-
tares, como por exemplo garrafas de água ou de refri-      gas, entre outros.
gerantes. Claro que também não se devem utilizar as        No segundo grupo, encontram-se os microrganismos.
embalagens de detergentes para acondicionar ou trans-      Sabemos que existem microrganismos benéficos para
portar alimentos.                                          os seres humanos e outros que são prejudicais, isto é, pe-
Existem, no entanto, alguns perigos químicos que po-       rigosos para o homem. Dos prejudiciais para o homem,
dem estar associados a alguns alimentos, como seja a       podemos distinguir dois grandes grupos:
presença de resíduos de antibióticos em produtos cár-      - os que provocam infecções de origem alimentar;
neos, ou resíduos de pesticidas em vegetais, cuja detec-   - os que provocam intoxicações de origem alimentar.
ção é impossível nos estabelecimentos. A realização de     O primeiro caso é causado pela mera presença num ali-
análises para a detecção destas substâncias é muito dis-   mento de um microrganismo patogénico que se multi-
pendiosa e o seu processo é demorado, o que significa      plicou, dando origem a uma infecção alimentar.
que, na prática, se um empresário optasse por as reali-
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Dentro deste grupo destacamos:                                                                 pacidade para se desenvolverem.
Salmonella*                                                                                    Podemos concluir que todos os alimentos devem ficar
Listeria monocytogenes                                                                         o mínimo tempo possível à temperatura compreendida
Escherichia coli                                                                               entre 50C e os 650C. Dito de outra forma, para impedir
                                                                                               o desenvolvimento microbiano, tem de se manter os ali-
No segundo grupo, o agente responsável pela intoxica-                                          mentos a uma temperatura inferior a 50C ou superior a
ção alimentar não é o microrganismo, mas sim a presen-                                         650C.
ça de toxinas formadas pelo mesmo. Salientamos:
Clostridium perfringens                                                                        _HUMIDADE
Clostridium botulinum
Staphhylococcus aureus                                                                         A água é um dos factores mais importantes para o de-
Bacillus cereus                                                                                senvolvimento dos seres vivos, o mesmo ocorrendo com
                                                                                               as bactérias. Sem água, elas não podem aproveitar os
|DESENVOLVIMENTO DOS MI-                                                                       nutrientes que as rodeiam. As bactérias não crescem
CRORGANISMOS|                                                                                  nem se multiplicam nos alimentos desidratados, mas
                                                                                               também não morrem. Quando estes são reconstituídos,
Todos os seres vivos, incluindo os microrganismos, ne-                                         voltam a crescer e a multiplicar-se, pelo que se deve ter
cessitam de alimento, de humidade, de temperatura e de                                         com estes alimentos os mesmos cuidados que se têm
tempo para se desenvolverem. Existem também outros                                             com os alimentos frescos.
factores que têm influência no seu desenvolvimento,
como a acidez do meio e o oxigénio.
                                                                                               _ACIDEZ DOS ALIMENTOS
Vamos deter-nos um pouco em cada um desses facto-
res.
                                                                                               Algumas bactérias não se desenvolvem em meios muito
                                                                                               ácidos e, por esse motivo, se acidificarmos um alimento
_ALIMENTO                                                                                      com vinagre ou sumo de limão, podemos impedir que os
                                                                                               micróbios cresçam e se multipliquem.
As bactérias necessitam de nutrientes para se desenvol-
verem. Preferem alimentos ricos em proteínas, como a
carne.
                                                                                               _OXIGÉNIO

_TEMPERATURA                                                                                   Alguns tipos de bactérias não crescem na presença de
                                                                                               oxigénio e outros só com oxigénio é que se desenvol-
                                                                                               vem, consoante o tipo de bactéria.
É um dos factores que melhor se deve controlar. As bac-
térias responsáveis pela maior parte das toxinfecções
alimentares desenvolvem-se melhor a uma temperatura                                            _TEMPO
de cerca de 370C, mas entre os 50C e os 650C também se
desenvolvem. A valores inferiores ou superiores a este                                         Se proporcionarmos às bactérias e aos micróbios em ge-
intervalo, os microrganismos praticamente não têm ca                                           ral as condições óptimas de temperatura, nutrientes, hu-
* De um modo muito simples podemos dizer que os nomes das bactérias são parecidos com os das pessoas, pois têm um apelido que identifica a família seguido de um nome próprio, por
exemplo Salmonella enteritidis, Salmonella typhi, a palavra Salmonella é o nome de família e o outro o nome próprio.
|10
midade, e lhes dermos o tempo necessário para se multi-   carne, nomeadamente a das aves, e pelos ovos.
plicarem, estamos a criar um “viveiro de micróbios”.      Se o alimento não é cozinhado e se se conserva de forma
                                                          inadequada, as bactérias multiplicam-se rapidamente,
|CAPÍTULO I.2 – BREVE REFERÊNCIA                          podendo dar origem a um surto de infecção alimentar.
A ALGUNS MICRORGANISMOS CAU-                              Por exemplo, quando se utiliza a mesma faca para partir
SADORES DE TOXINFECÇÕES ALI-                              um frango cru e umas fatias de carne assada, sem que
MENTARES|                                                 ela seja desinfectada entre ambas as utilizações, pode-
                                                          se estar a provocar a contaminação da carne assada.
Como já referimos anteriormente, podemos                  A maioria dos casos de toxinfecção alimentar provoca-
dividir os microrganismos patogénicos e                   da por salmonelas resulta de se ter cozinhado pouco os
causadores de toxinfecções alimentares em                 alimentos ou de contaminação cruzada, como no exem-
dois grandes grupos:                                      plo anterior.
- os que provocam infecções de origem ali-
mentar;                                                   CONDIÇÕES DE DESENVOLVIMENTO
- os que provocam intoxicações de origem                  _TEMPERATURA
alimentar.
Iremos abordar em seguida algumas carac-                  Normalmente, as bactérias desenvolvem-se em ambien-
terísticas referentes a alguns dos principais             tes com temperaturas entre 50 e 480C. A temperatura
microrganismos de cada um dos grupos.                     óptima de crescimento das mesmas situa-se entre os
                                                          350 e 370C. As salmonelas dificilmente se multiplicam à
|SALMONELLA|                                              temperatura de refrigeração.
                                                          São facilmente destruídas pelo calor, no entanto, a con-
A salmonella é responsável pela maioria dos casos de
                                                          gelação e a secagem de alimentos não as mata, simples-
infecções alimentares.
                                                          mente impede o seu desenvolvimento e multiplicação.
Pertence à família das Enterobacteriaceae.
                                                          Recuperam estas capacidades quando estão nas condi-
                                                          ções apropriadas.
ORIGEM E VEÍCULOS DE CONTAMINA-
ÇÃO                                                       PRINCIPAIS ALIMENTOS ASSOCIADOS
                                                          A INFECÇÕES POR SALMONELLA.
Estas bactérias vivem habitualmente no intestino do Ho-
mem e dos animais, em especial nos de capoeira; podem
                                                          Carne bovina crua, aves domésticas, ovos, peixe, leite e
encontrar-se na casca dos ovos, assim como nas patas
                                                          derivados.
dos roedores e dos insectos, em especial das moscas. O
Homem também pode ser um veículo de contaminação
cruzada.
                                                          |LISTERIA MONOCYTOGENES|
A salmonella pode chegar ao local de manipulação de
alimentos transportada pelos alimentos crus, como a       A Listeria monocytogenes é uma bactéria patogénica.
                                                          Desde que ocorreram várias toxinfecções devido à pre-
11|
sença desta bactéria, ela passou a ser uma preocupa-      vegetais crus, aves domésticas cruas e cozinhadas, car-
ção.                                                      nes cruas e peixes crus e fumados. A sua capacidade de
A Listeria monocytogenes pertence à família Listeriace-   crescer em temperaturas tão baixas quanto 30C permite
ae.                                                       a sua multiplicação em alimentos refrigerados.


ORIGEM E VEÍCULOS DE CONTAMINA-                           |ESCHERICHIA COLI|
ÇÃO
                                                          A Escherichia coli é utilizada como organismo indica-
A Listeria monocytogenes encontra-se, geralmente, no      dor de contaminação fecal em água e em alimentos. As
solo, nos vegetais, na água, na carne e no peixe. O Ho-   bactérias do género Escherichia coli pertencem à famí-
mem e os animais são muitas vezes portadores assinto-     lia Enterobacteriaceae.
máticos da bactéria, sendo um veículo de contaminação
dos alimentos.                                            ORIGEM E VEÍCULOS DE CONTAMINA-
                                                          ÇÃO
A contaminação de matérias-primas e de alimentos que
não são sujeitos a qualquer tratamento térmico pode       O principal habitat de Escherichia coli é o tracto intes-
ser frequente.                                            tinal dos humanos e de outros animais de sangue quen-
                                                          te. Muitas das contaminações dos alimentos ocorrem
CONDIÇÕES DE DESENVOLVIMENTO                              devido à contaminação do solo com excrementos dos

_TEMPERATURA                                              animais (muitas vezes utilizados como fertilizantes sem
                                                          qualquer tratamento prévio) ou à contaminação da água
                                                          devido a descargas de esgotos. Por vezes, as más práti-
A Listeria monocytogenes desenvolve-se num intervalo
                                                          cas de higiene nos locais de abate podem ser uma fonte
de temperaturas entre 00C e 450C, tendo uma tempera-
                                                          de contaminação das carcaças. Más práticas de higiene
tura óptima de crescimento entre os 300 e os 370C.
                                                          pessoal quando se utilizam os sanitários também po-
Sabe-se que sobrevive por longos períodos em alimen-
                                                          dem conduzir a que os próprios manipuladores de ali-
tos congelados (-180C).
                                                          mentos sejam veículos de contaminação dos mesmos.

PRINCIPAIS ALIMENTOS ASSOCIA-
DOS A INFECÇÕES POR LISTERIA MO-                          CONDIÇÕES DE DESENVOLVIMENTO
NOCYTOGENES                                               _TEMPERATURA

                                                          Algumas estirpes de Escherichia coli conseguem cres-
As infecções alimentares com Listeria monocytogenes
                                                          cer em ambientes com temperaturas entre 70 e 460C e
encontram-se associadas a alimentos como o leite cru,
                                                          têm uma temperatura óptima de crescimento entre 350
leite e queijos supostamente pasteurizados, gelados,
                                                          e 400C
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_OXIGÉNIO                                                   CONDIÇÕES DE DESENVOLVIMENTO
                                                            _TEMPERATURA
Escherichia coli é uma bactéria que se desenvolve quer
na presença quer na ausência de oxigénio (anaeróbia         Staphlylococcus aureus desenvolve-se num intervalo de
facultativa).                                               temperaturas entre 70 e 460C, tendo uma temperatura
                                                            óptima de crescimento entre 350 e 370C.
PRINCIPAIS ALIMENTOS ASSOCIADOS                             A enterotoxina produz-se geralmente no intervalo de
A INFECÇÕES POR ESCHERICHIA COLI                            temperatura entre os 100 e 450C, sendo muito resistente
                                                            ao calor (é necessária a aplicação de um processo térmi-
Água, carnes mal cozinhadas, principalmente de bovi-        co muito elevado e durante muito tempo para se alcan-
nos, enchidos curados, alface e outros vegetais, queijo e   çar a destruição da mesma).
leite cru, sumos de fruta não pasteurizados.
                                                            _OXIGÉNIO
|STAPHYLOCOCCUS AUREUS|
                                                            Staphlylococcus aureus é uma bactéria que cresce na
Staphylococcus aureus é uma bactéria que pertencente        presença e na ausência de oxigénio (anaeróbia faculta-
à família Micrococcaceae.                                   tiva). A sua toxina, por sua vez, necessita de oxigénio
Estas bactérias, quando as condições são favoráveis,        para se produzir.
desenvolvem uma toxina – enterotoxina – que, normal-
mente, é responsável por uma grande parte dos proble-       ALIMENTOS MAIS FREQUENTEMENTE
mas provocados pelos alimentos. Esta toxina é muito         ASSOCIADOS A INTOXICAÇÕES POR
resistente ao calor, enquanto a bactéria Staphlylococcus    STAPHYLOCOCCUS AUREUS
aureus é facilmente destruída pelo calor.
                                                            Recheios de carne, saladas preparadas com ovo ou ma-
ORIGEM E VEÍCULOS DE CONTAMINA-                             risco, bolos com recheio, fiambre, queijo e gelados são
ÇÃO                                                         os alimentos mais frequentemente associados a into-
                                                            xicações alimentares devido à presença deste micror-
Este tipo de bactérias existe no nariz, na garganta, na     ganismo. Como se pode observar, estes alimentos são
saliva, na pele e nos golpes e lesões dos seres humanos,    sujeitos a manipulações após a sua confecção, ficando
pelo que estes são muitas vezes os principais veículos      muitas vezes a temperaturas entre 10º e 45ºC antes de
de contaminação dos alimentos.                              serem consumidos.
Qualquer pessoa que manipula os alimentos facilmente
os contamina: espirra sobre os mesmos, coça a cabeça
ou mexe na cara e depois nos alimentos, sem lavar as
mãos entretanto. Todos os cuidados de higiene pesso-
al são imprescindíveis para prevenir este tipo de infec-
ção.
13|
|CLOSTRIDIUM PERFRINGENS|                                 _OXIGÉNIO

O Clostridium perfringens tem a capacidade de, em con-    Esta bactéria desenvolve-se melhor na ausência de oxi-
dições adversas, ficar sobre a forma de esporo, isto é,   génio. Produtos com pouco ou nenhum oxigénio são
como se a bactéria ficasse protegida por uma espécie de   geralmente mais propícios ao desenvolvimento deste
“armadura”. Quando as condições adversas desapare-        microrganismo.
cem, a bactéria volta à sua forma normal e desenvolve-
se rapidamente. Os esporos de Clostridium perfringens     ALIMENTOS MAIS FREQUENTEMENTE
são muito resistentes à temperatura.                      ASSOCIADOS A INTOXICAÇÕES POR
Esta bactéria pertence à família Bacillaceae (bacilos e   CLOSTRIDIUM PERFRINGENS
cocos esporulados).
                                                          Produtos cárneos, produtos preparados em grande
ORIGEM E VEÍCULOS DE CONTAMINA-                           quantidade geralmente para banquetes (e conservados
ÇÃO                                                       durante bastante tempo à temperatura ambiente).

O microrganismo em questão é frequentemente en-           |CLOSTRIDIUM BOTULINUM|
contrado no intestino de humanos e animais. Os seus
esporos persistem no solo, em sedimentos e em áreas       As intoxicações causadas por Clostridium botulinum,
sujeitas à poluição fecal de humanos e animais.           vulgarmente designadas por botulismo, ocorrem geral-
                                                          mente devido à ingestão de uma toxina pré-formada em
CONDIÇÕES DE DESENVOLVIMENTO                              alimentos contaminados com este microrganismo. Esta
_TEMPERATURA                                              doença requer uma atenção especial, pois envolve um
                                                          risco elevado de morte.
Este microrganismo cresce num intervalo de tempera-       Clostridium botulinum é uma bactéria pertencente à fa-
tura que varia entre 120 e os 500C. A sua temperatura     mília Bacillaceae.
óptima de crescimento situa-se entre 430 e 470C.
É importante referirmos que, em condições óptimas de      ORIGEM E VEÍCULOS DE CONTAMINA-
desenvolvimento, em apenas dez minutos um destes          ÇÃO
microrganismos pode dar origem a dois.
Alguns esporos sobrevivem à ebulição durante uma          Clostridium botulinum encontra-se no solo, nos sedi-
hora.                                                     mentos marinhos, pelo que os animais são um veículo
No intervalo de temperaturas entre 300 a 400C, produ-     de transmissão aos alimentos.
zem-se toxinas; no entanto, as mesmas podem ser inac-
tivadas por aquecimento a 600C durante dez minutos.
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CONDIÇÕES DE DESENVOLVIMENTO                               ORIGEM E VEÍCULOS DE CONTAMINA-
_TEMPERATURA                                               ÇÃO

Os intervalos de temperatura de crescimento destas bac-    Este microrganismo encontra-se no solo, nos vegetais,
térias são diferentes para os vários subgrupos de Clos-    na água, em pêlos de animais e na matéria em decom-
tridium botulinum. No entanto, a maioria desenvolve-se     posição. Assim, encontramo-lo em muitos produtos
com temperaturas entre os 30 e os 480C. Os seus esporos    agrícolas e de origem animal.
são muito resistentes (para que a sua destruição ocorra,
é necessário sujeitar os alimentos a um aquecimento a      CONDIÇÕES DE DESENVOLVIMENTO
1210C durante três minutos). As toxinas produzidas são     _TEMPERATURA
destruídas no seguinte binómio tempo – temperatura: 5
minutos a 850C ou 20 a 30 minutos a 800C.                  Bacillus cereus desenvolve-se num intervalo muito alar-
                                                           gado de temperaturas entre os 40 e os 550C, tendo uma
                                                           temperatura óptima de crescimento entre 300 e 400C.
_OXIGÉNIO                                                  À temperatura de 250C inicia-se a produção da sua to-
                                                           xina.
Clostridium botulinum é uma bactéria que se desen-
volve na ausência de oxigénio (anaeróbia). No entanto,
quando se encontra em embalagens com oxigénio, este
                                                           _OXIGÉNIO
não é considerado suficiente para impedir o seu cres-
                                                           Bacillus cereus é uma bactéria que tem capacidade de
cimento, pois poderão existir no interior dos alimentos
                                                           se desenvolver quer na presença quer na ausência de
zonas de anaerobiose onde possam ocorrer o desenvol-
                                                           oxigénio (anaeróbia facultativa). Porém, a sua toxina
vimento do organismo e a produção de toxina.
                                                           produz-se melhor quando existe oxigénio.

ALIMENTOS MAIS FREQUENTEMENTE
ASSOCIADOS A INTOXICAÇÕES POR                              ALIMENTOS MAIS FREQUENTEMENTE
CLOSTRIDIUM BOTULINUM                                      ASSOCIADOS A INTOXICAÇÕES POR
                                                           BACILLUS CEREUS
A maior parte dos casos de botulismo estão associados
                                                           Intoxicações alimentares pela presença deste micror-
ao consumo de conservas caseiras (conservas de vege-
                                                           ganismos estão associadas a alimentos como vegetais,
tais, de carnes), enchidos e presunto caseiro.
                                                           carnes, peixe, leite e cereais ricos em amido (arroz, ba-

|BACILLUS CEREUS|                                          tatas, massas).


Bacillus cereus é uma bactéria pertencente à família Ba-
cillaceae.
Tem capacidade para formar esporos, bem como toxi-
nas.
PARTE II–
OS PRÉ–
REQUISITOS
PARA A APLI–
CAÇÃO DOS
PRINCÍPIOS
DO HACCP
|16
Para se implementarem programas que garantam a se-       . a higiene corporal e o vestuário utilizado (muitas vezes
gurança alimentar nos estabelecimentos (baseados nos     inadequado);
princípios do HACCP), existem requisitos mínimos que     . práticas e comportamentos profissionais incorrectos
têm de ser cumpridos, designadamente:                    ou negligentes.
- Higiene pessoal de todos os manipuladores de alimen-   Existem regras básicas que qualquer manipulador de
tos;                                                     alimentos deve aplicar diariamente e que se apresentam
- Higiene das instalações e equipamentos:                de seguida.
 . Manutenção e concepção;
 . Limpeza e desinfecção das instalações e dos equipa-   |II.1.1 – HIGIENE INDIVIDUAL – APRE-
mentos;                                                  SENTAÇÃO ADEQUADA AO TRABA-
- Controlo da água de abastecimento;                     LHO|
- Controlo de pragas.
Vejamos, então, mais detalhadamente cada um destes       Diariamente e antes de se dirigirem ao local de trabalho,
pontos.                                                  os manipuladores devem efectuar a sua higiene corpo-
                                                         ral.
|CAPÍTULO II.1 – HIGIENE PESSOAL                         Adornos:
DOS MANIPULADORES DE ALIMEN-                             - os manipuladores não devem utilizar adornos, tais como
TOS|                                                     anéis, pulseiras, brincos, colares, piercings e outros. A
                                                         maioria destes objectos possuem ranhuras e orifícios
A segurança alimentar depende em grande                  que constituem locais de acumulação de resíduos, que
parte do nível de higiene individual de to-              poderão originar a contaminação dos alimentos. Além
dos os que trabalham no estabelecimento,                 disso os referidos objectos poderão soltar-se e cair sobre
empregadores e empregados, especialmente                 os alimentos sem que ninguém se aperceba, passando a
daqueles que manuseiam alimentos, e que,                 ser um factor de contaminação e podendo causar danos
neste Capítulo, designaremos por «manipu-                ao cliente.
ladores», ou seja, aqueles que produzem, pre-            Fardas:
param e transportam alimentos.                           - os manipuladores devem desenvolver as suas tarefas
                                                         devidamente fardados, de acordo com as funções exer-
Os manipuladores podem causar contaminações dos          cidas, não devendo usar nunca a roupa que utilizam na
alimentos por serem portadores de microrganismos:        rua;
- na parte externa do seu corpo (cabelo, mãos, pele…);   - as fardas devem estar sempre limpas e ser de uso exclu-
- na parte interna (garganta, boca, nariz…);             sivo no estabelecimento;
- e ainda nas suas secreções (suor, saliva, fezes…).     - as fardas dos manipuladores que trabalham nas zonas
                                                         de preparação e de confecção devem ser de cor clara, de
Podemos afirmar que os principais perigos de contami-    forma a pôr em evidência a sujidade.
nação dos alimentos estão geralmente associados aos      Cabelo:
seguintes factores:                                      - o cabelo deve estar totalmente coberto com touca ou
. o estado de saúde dos manipuladores;                   barrete, sempre que as funções sejam exercidas na cozi-
|17
nha ou na copa, ou ainda quando a tarefa o justifique      5 – Secar (com toalhetes de papel ou secador).
No exercício de outras funções, o cabelo deve estar pelo
menos preso.                                               LUVAS
|II.1.2 – HIGIENE DAS MÃOS|                                Se usar luvas para a manipulação dos produtos alimen-
                                                           tares, estas devem ser mantidas em boas condições de
As mãos são a principal fonte de contaminações bacte-      higiene.
rianas dos alimentos e, por isso, merecem uma atenção      É recomendado o uso de luvas descartáveis em opera-
muito especial.                                            ções que requerem muito manuseamento e manipula-
Para prevenir os riscos de contaminação dos alimentos,     ção de alimentos, como por exemplo:
as mãos devem ser muito bem lavadas.                       - cortar produtos de charcutaria;
As escoriações e cortes de pouca importância devem         - cortar produtos cozinhados;
ser tratados e protegidos com pensos impermeáveis e        - moldar carne picada;
de preferência de cores vivas.                             - desfiar alimentos, como bacalhau, pato entre outros;
As unhas devem estar sempre limpas, curtas sem ver-        - cortar frutas e legumes desinfectados.
niz.                                                       É muito importante referir que as tarefas executadas
                                                           com luvas descartáveis devem decorrer sem inter-
QUANDO DEVE LAVAR AS MÃOS                                  rupções, caso contrário as mesmas deverão ser subs-
                                                           tituídas.
- Antes de iniciar, durante e no fim de qualquer tarefa.   É obrigatório usar luvas sempre que houver escoria-
- Depois de usar as instalações sanitárias.                ções, queimaduras ou cortes.
- Quando mexer no cabelo, no nariz ou noutra parte do
corpo, ou usar um lenço de assoar.                         |II.1.3 – COMPORTAMENTO NO LO-
- Antes e depois de mexer em alimentos crus – legumes,     CAL DE TRABALHO E BOAS PRÁTI-
fruta, carne, ovos...                                      CAS PROFISSIONAIS|
- Depois de tocar em objectos sujos – embalagens, lixo,
superfícies sujas.                                         - Os manipuladores devem manter um elevado nível de
- Depois de fumar e comer.                                 higiene pessoal e bons hábitos de higiene durante todo
- Sempre que considere necessário.                         o período de trabalho.
                                                           - Os locais de trabalho devem manter-se sempre limpos
COMO DEVE LAVAR AS MÃOS                                    e arrumados.
                                                           - Os desperdícios e resíduos devem ser eliminados com
1 – Molhar as mãos.                                        regularidade (sem esperar que um superior ou um cole-
2 – Ensaboar bem, de preferência com sabão líquido an-     ga o peça.)
ti-séptico ou bactericida.                                 - As mãos devem ser lavadas com frequência, como já
3 – Passar por água corrente para retirar o sabão.         referimos.
4 – Desinfectar com solução desinfectante própria para     - São comportamentos expressamente proibidos nas zo-
mãos.                                                      nas onde se manipulam e armazenam alimentos:
18|
fumar, comer, mascar pastilha elástica, tomar ou           II.2.1 – CONCEPÇÃO E MANUTEN-
guardar medicamentos, mexer na cabeça, nariz ou            ÇÃO
boca, provar alimentos com os dedos.
- Para além dos comportamentos atrás enunciados, de-       |II.2.1.1 – LOCAIS ONDE SE MANIPU-
vem ainda ser tomadas medidas preventivas para que         LAM ALIMENTOS|
os manipuladores tenham práticas de higiene pessoal
sempre que mudam de tarefa, para evitar contamina-         Cada estabelecimento tem as suas características, es-
ções.                                                      truturas e dimensões próprias; no entanto, do ponto de
                                                           vista da higiene e segurança alimentar, todos devem
|II.1.4 – SAÚDE DOS MANIPULADO-                            cumprir um conjunto de requisitos mínimos definidos
RES|                                                       na legislação aplicável.
                                                           As instalações devem ser projectadas e construídas ten-
Os manipuladores, tal como os demais trabalhadores,        do em vista o fim a que se destinam, respeitando as se-
devem efectuar um exame médico completo no início da       guintes regras essenciais:
sua actividade e, pelo menos, uma vez por ano ou uma       - devem ser dotadas de saneamento e de água potável;
vez de dois em dois anos, nos termos do Código do Tra-     - todos os compartimentos devem ter iluminação e ven-
balho e legislação complementar. Este exame médico         tilação apropriadas à sua finalidade;
tem de ser feito por um Médico do Trabalho.                - devem ser concebidas de forma a impedir a queda de
Sempre que os manipuladores tenham contraído ou sus-       partículas nos géneros alimentícios e a evitar a acumu-
peitem ter contraído doenças contagiosas ou sofram de      lação de sujidade, bem como a formação de condensa-
doenças de pele, do aparelho digestivo, de inflamações     ções e bolores indesejáveis;
da garganta, ouvidos ou olhos, ficam interditos de todas   - as operações a que são sujeitos os alimentos desde que
as actividades directamente relacionadas com os ali-       são recebidos no estabelecimento até que chegam ao
mentos. Nesta situação, devem informar o seu superior      utente devem poder ser executadas de forma a impedir
hierárquico para que sejam tomadas as devidas provi-       a contaminação cruzada, quer por parte dos manipula-
dências.                                                   dores, quer aquando da utilização do equipamento e/ou
                                                           da sua instalação.
|CAPÍTULOII.2 – INSTALAÇÕES E                              Todos os locais onde se desenvolvem operações relacio-
EQUIPAMENTOS|                                              nadas com alimentos devem ser mantidos em bom esta-
                                                           do de conservação e de limpeza.
As instalações dos estabelecimentos, de um
modo geral e, em particular, os locais onde se             |II.2.1.1.1 – PAVIMENTO|
manipulam alimentos, como cozinhas, copas,
zonas de preparação e armazenagem, deve-                   O pavimento deve ser mantido em bom estado de con-
rão apresentar sempre boas condições de                    servação e construído com materiais que permitam uma
conservação, de forma a que as mesmas nun-                 fácil limpeza, ou seja, materiais impermeáveis, não ab-
ca possam ser uma fonte de contaminação                    sorventes, laváveis e resistentes. Deverá também ser
dos alimentos. Devem, portanto respeitar um                anti-derrapante, de forma a evitarem-se quedas e outros
conjunto de requisitos.
|19
acidentes de trabalho, e resistente quer à passagem de        |II.2.1.1.4 – PORTAS, JANELAS, CLA-
carrinhos e pessoas, quer à força do equipamento que          RABÓIAS|
sobre o mesmo seja exercida.
Deverão ainda existir caleiras para escoar a água, de         As portas devem ser revestidas de materiais lisos, lavá-
preferência junto aos locais onde se lavem alimentos          veis, impermeáveis e de fácil limpeza. Habitualmente,
ou utensílios. As mesmas devem ser protegidas com             as portas são uma fonte de contaminação de alimentos
grelhas amovíveis. É aconselhável que o chão seja em          pelo contacto com as mãos daqueles que as utilizam. A
declive em direcção às caleiras, de forma a facilitar o es-   zona de contacto com as mãos e os pés deverá ser cons-
coamento de água e outros líquidos.                           tituída por materiais resistentes ao desgaste do uso e
                                                              aos agentes de limpeza e desinfecção.
|II.2.1.1.2 – PAREDES|
                                                              As janelas e outras aberturas para o exterior devem ter
As paredes devem ser revestidas de material lavável, im-      dispositivos que impeçam a entrada de insectos ou ou-
permeável, não absorvente nem tóxico, e devem ser lisas       tros animais, tais como redes mosquiteiras. Estas deve-
até uma altura ajustada às operações, de forma a facilita-    rão ser removíveis para facilitar a sua correcta limpeza.
rem a limpeza e a impedirem a acumulação de qualquer          No entanto, recomenda-se que, caso a abertura das jane-
tipo de resíduo.                                              las possa ocasionar contaminações, as mesmas se man-
A união das paredes entre si e destas com o chão deve         tenham fechadas durante a laboração.
ser arredondada, de modo a não constituir um local de
acumulação de sujidade e de difícil limpeza.                  |II.2.1.1.5 – VENTILAÇÃO|
Todos os estragos, gretas, fissuras, zonas partidas devem
ser rapidamente reparados, pois estes locais são propí-       Todos os compartimentos devem ser correctamente
cios à acumulação de sujidade e são de difícil limpeza.       ventilados. Os sistemas usados podem ser naturais ou
                                                              artificiais, desde que se mantenha a contínua renovação
|II.2.1.1.3 – TECTOS|                                         do ar.
                                                              Outro factor que é necessário ter-se em atenção é o fac-
Os tectos devem ser lisos, construídos em material lavá-      to de, quando existirem sistemas de circulação de ar,
vel, impermeável e de fácil limpeza. Dever-se-á impedir       os mesmos deverem passar sempre de uma zona limpa
o desenvolvimento de bolores, por exemplo, utilizando         para uma menos limpa e nunca o inverso.
uma tinta anti-fungos ou qualquer outra solução eficaz.       A correcta ventilação de um local é muito importante,
Todos os equipamentos que nele estejam instalados não         pois condiciona a boa qualidade do ambiente e tem im-
deverão originar a contaminação dos alimentos pelo            plicações quer na contaminação dos alimentos, quer na
desprendimento de partículas ou outras substâncias ou         formação de condensação nas paredes e tectos, quer no
objectos. Por exemplo: as lâmpadas devem ser protegi-         próprio rendimento dos trabalhadores.
das, os electrocutores não deverão ser instalados por
cima dos locais onde habitualmente se manipulem ali-
mentos.
20|
|II.2.1.1.6 – EXAUSTÃO|                                        II.2.1.2 – VESTIÁRIOS E INSTALAÇÕES
                                                               SANITÁRIAS
A exaustão de fumos e cheiros é outro requisito impor-
tante e independente da ventilação do estabelecimento.         Deve existir uma zona de vestiários equipados com ca-
Os sistemas de exaustão de fumos e cheiros das cozi-           cifos individuais para cada trabalhador. Deste modo, as-
nhas deverão ser sempre construídos em material in-            segura-se que os trabalhadores têm um local para colo-
combustível, ter uma potência suficiente para retirar          car os seus objectos pessoais, caso contrário os mesmos
toda a presença de fumos e cheiros da cozinha e condu-         irão encontrar-se depositados em diferentes locais do
zir os mesmos directamente ao exterior e na parte mais         estabelecimento e irão constituir uma fonte de contami-
elevada do edifício.                                           nação (física ou biológica) dos alimentos.
Deverão ser periodicamente limpos, pois são um local
propício à acumulação de gordura, estando na origem            Devem também existir instalações sanitárias para o pes-
da maioria dos incêndios que ocorrem nos estabeleci-           soal em serviço. Estas deverão ser concebidas de acordo
mentos de restauração e bebidas.                               com o número de trabalhadores e separadas por sexos.
                                                               Os sanitários não devem dar directamente para um lo-
|II.2.1.1.7 – ILUMINAÇÃO|                                      cal onde se guardem e manuseiem alimentos. Devem ter
                                                               iluminação suficiente e a ventilação (natural ou artifi-
A iluminação poderá ser natural ou artificial. É impor-        cial) deve ser contínua, conduzindo directamente ao ex-
tante que seja suficiente para a permitir a realização de      terior. As instalações sanitárias devem estar equipadas
actividades de um modo higiénico.                              com todas as peças sanitárias (sanita, urinol, lavatório
As lâmpadas deverão ser protegidas, para se assegurar          [de preferência com torneiras não manuais]), de acordo
a protecção dos alimentos face a contaminações, por ve-        com o número de trabalhadores, e com os utensílios ne-
zes originadas pelos estilhaços produzidos devido ao re-       cessários ao seu funcionamento, nomeadamente mate-
bentamento das mesmas (ver ponto referente ao tecto).          riais para a limpeza das mãos e dispositivos de secagem
A forma que se adoptar para proteger as lâmpadas de-           higiénica (sabonete líquido, toalhas de papel ou secador
verá evitar a acumulação de poeiras e facilitar a sua lim-     de mãos, escova de unhas, papel higiénico, balde do lixo
peza.                                                          movido a pedal).


|II.2.1.1.8 – EQUIPAMENTOS E BAN-                              O pavimento, as paredes e o tecto devem ser de material
CADAS DE TRABALHO|                                             lavável, impermeável e de fácil limpeza.


As superfícies de bancadas e equipamentos que contac-          II.2.1.3 – SALA DE REFEIÇÕES
tam directamente com alimentos devem ser de mate-
riais lisos, laváveis, não tóxicos e resistentes à corrosão.   A legislação europeia referente à higiene dos géneros
As mesmas devem ser sempre mantidas em boas condi-             alimentícios não se aplica às salas de refeições. Existem,
ções de conservação e limpeza e, se necessário, desin-         no entanto, algumas indicações gerais que se devem
fectadas.                                                      cumprir, bem como outras que constam da legislação
                                                               nacional e específica do sector.
|21
As salas onde se presta o serviço de restauração e de        UMA BOA LIMPEZA
bebidas, acompanhado do serviço de cafetaria, devem
possuir equipamento e mobiliário adequados ao fim a          Uma boa limpeza compreende as etapas seguintes:
que se destinam.                                             1 – eliminar a sujidade encrostada;
Todos os materiais utilizados nas referidas salas devem      2 – lavar com água morna, à qual se adicionou um de-
ser resistentes, laváveis e de fácil limpeza. Estes locais   tergente;
devem ser suficientemente iluminados e continuamente         3 – enxaguar com água quente;
ventilados.                                                  4 – se necessário, desinfectar e enxaguar abundante-
                                                             mente com água limpa e potável.
|II.2.2 – LIMPEZA E DESINFECÇÃO
DAS INSTALAÇÕES E DOS EQUIPA-                                PRINCÍPIOS DE UMA BOA LIMPEZA E DE
MENTOS|                                                      UMA DESINFECÇÃO EFICAZ

A limpeza é uma operação extremamente importante.            Procurar limpar a fundo. Utilizar para este efeito bons
Contudo, é um assunto sobre o qual consideramos fre-         detergentes. Respeitar as dosagens e o tempo de acção
quentemente que já sabemos tudo, pois realizamos esta        prescritos.
operação várias vezes durante o dia.                         Enxaguar abundantemente com água e evacuar a água
Porque é que limpamos? Como limpamos? Quais os               de enxaguagem.
produtos mais indicados?Com que frequência devemos           Escolher um bom desinfectante. Ter em conta a eficácia
limpar? Estas são algumas das questões que surgem            do produto e a sua forma de conservação.
com mais frequência e a que tentaremos responder.            Respeitar as indicações de dosagem, de tempo de con-
                                                             tacto e o modo de aplicação do desinfectante.
|II.2.2.1 – LIMPEZA E DESINFECÇÃO|                           Enxaguar as superfícies e os aparelhos tratados com
                                                             água limpa em quantidades suficientes para eliminar os
As operações de limpeza e desinfecção, por vezes tam-        restos de detergente e de desinfectante.
bém designadas por higienização, têm por finalidade as-      Desinfectar, após as actividades de lavagem, o material
segurar que nos locais onde se manipulam, preparam e         de limpeza e outros acessórios.
confeccionam alimentos não existem micróbios, ou que,
se existirem, seja na menor quantidade possível.             O QUE É NECESSÁRIO DESINFECTAR?
Quando limpamos, removemos a sujidade, restos de ali-
mentos, gorduras ou outro tipo de detritos.                  Tudo o que estiver em contacto com as mãos, como por
Quando desinfectamos, eliminamos micróbios, invisí-          exemplo, as facas, as colheres, as bancadas, etc.
veis aos nossos olhos, e que, portanto, resistiram à lim-    Todas as superfícies que contactam com os alimentos
peza.                                                        quer no armazém, quer durante a preparação ou confec-
                                                             ção dos alimentos.
                                                             Todo o equipamento e utensílios, os quais deverão ser
                                                             desinfectados periodicamente e não apenas após a sua
                                                             utilização.
22|
A desinfecção não deve ser feita a não ser que seja ver-    - Quando se executam as operações de limpeza, todos os
dadeiramente necessária.                                    produtos alimentares devem estar devidamente protegi-
                                                            dos, não esquecendo as montras e vitrinas.
PONTOS A OBSERVAR NA REALIZAÇÃO                             - Nunca se devem utilizar materiais sujos (esponjas, es-
DE UMA DESINFECÇÃO EFICAZ                                   fregões, escovas e panos).


O desinfectante deve ser o indicado para cada situação.
                                                            |II.2.2.2 – TRATAMENTO DA LOIÇA|
O tempo de acção do produto deve ser o indicado.
Antes de desinfectar, é necessário lavar conveniente-
                                                            A louça merece uma atenção especial.
mente. Na presença de sujidade, a desinfecção não é
                                                            - Há necessidade de se tomarem precauções durante o
eficaz e a acção do desinfectante será em grande parte
                                                            tratamento da loiça que vem da sala de refeições. Para
desactivada.
                                                            evitar um dos maiores perigos – que consiste nas con-
A quantidade de desinfectante a utilizar deve respeitar a
                                                            taminações cruzadas –, o transporte da loiça e dos res-
dosagem prescrita para cada situação.
                                                            tos de comida deve ser organizado de forma a evitar o
A temperatura da água na qual o desinfectante é diluído
                                                            cruzamento com loiça limpa. Todos os que aí trabalham
não pode ser demasiado elevada para não desactivar o
                                                            devem conhecer os percursos da loiça limpa e da suja.
produto.
                                                            - Na copa suja (o local destinado à lavagem da loiça e
                                                            dos utensílios) os restos de alimentos que ficam nos pra-
CONSELHOS PRÁTICOS                                          tos devem ser rapidamente despejados para os recipien-
                                                            tes do lixo.
- Para evitar a contaminação dos alimentos assim como
                                                            - Toda a loiça que se encontre danificada (por exemplo
a contaminação cruzada, é muito importante assegurar
                                                            rachada, lascada) deverá ser substituída.
uma correcta limpeza das instalações e de todos os equi-
                                                            - A lavagem da loiça deverá ser realizada na máquina
pamentos e utensílios.
                                                            de lavar.
- Não se pode varrer a seco o pavimento das áreas de
                                                              . Uma máquina da loiça correctamente regulada é ge-
manipulação de alimentos e salas de refeições. Devem
                                                            ralmente mais rápida, económica e higiénica.
ser utilizados utensílios de limpeza que não levantem
                                                             . As instruções de funcionamento devem ser claras e
poeira.
                                                            estar, de preferência, afixadas.
- De preferência, devem ser utilizados materiais descar-
                                                             . As temperaturas da água, do ar, o dispositivo de dose-
táveis para a limpeza e desinfecção das bancadas, de for-
                                                            amento, etc. deverão ser aferidos periodicamente.
ma a evitar focos de contaminação.
                                                            - Quando for necessário lavar alguns utensílios à mão, a
- A limpeza deve ser realizada de cima para baixo, tendo
                                                            água que se utiliza deve estar muito quente e limpa.
o cuidado de não salpicar as zonas que já foram limpas.
                                                              . Primeiro procede-se à lavagem da loiça numa solu-
- Nunca utilizar para limpar superfícies de trabalho, me-
                                                            ção a cerca de 400 C e depois deve-se passá-la por água
sas, paredes e equipamentos, utensílios que se usem
                                                            muito quente e limpa.
para limpar o chão.
                                                            . A água deve ser mudada frequentemente e não se deve
- Não utilizar o mesmo equipamento de limpeza nas ca-
                                                            deixá-la estagnada no lava-loiça.
sas de banho e nas zonas de preparação de alimentos.
                                                            - A loiça e os utensílios devem secar ao ar. Não se de-
|23
ve utilizar panos para secar a loiça. Os panos são uma      biológico às superfícies limpas e desinfectadas.
das maiores fontes de propagação de microrganismos.
- É necessário fazer uma distinção correcta entre a loiça   |II.2.2.4 – ARMAZENAGEM DE PRO-
limpa e a suja. Deve estar previsto um local separado       DUTOS DE LIMPEZA|
para se colocar quer a loiça limpa quer a suja.
                                                            Os produtos de limpeza devem estar armazenados em
                                                            locais fechados e identificados, separados dos produtos
|II.2.2.3 – PLANO DE LIMPEZA E DE-
                                                            alimentares.
SINFECÇÃO|
                                                            Estes produtos deverão ser guardados sempre nas suas
                                                            embalagens de origem, no entanto, se for necessário
Em cada estabelecimento deve haver um plano de lim-
                                                            transferi-los para outros recipientes, estes terão de ser
peza e desinfecção, do qual conste:
                                                            identificados com rótulos.
- o que deve ser limpo e desinfectado;
                                                            Em nenhum caso é possível utilizar embalagens de pro-
- quando deve ser limpo e desinfectado;
                                                            dutos de limpeza e outros produtos químicos para guar-
- como deve ser limpo e desinfectado;
                                                            dar alimentos e vice-versa.
- quem deve limpar e ou desinfectar.


Estabelecer um plano de limpeza e desinfecção exige         RESUMINDO:
um bom conhecimento e uma utilização apropriada dos         FICHA: Recomendações para um esquema de limpeza/
produtos. É necessário utilizar um produto adequado,        desinfecção/plano de limpeza (F1, F2)
no local apropriado e na quantidade certa, respeitando      REGISTO: Controlo das operações de limpeza (R1)
sempre as indicações do fabricante. O plano também          CONTROLO: Visual e microbiológico
deve conter quais os equipamentos ou materiais especí-
ficos que serão necessários para a execução do mesmo.
Para assegurar que cada operação de limpeza e de de-
sinfecção é efectivamente executada, é recomendável
afixar o esquema de limpeza num local que facilite a sua
consulta (sugestões no final do manual).
O controlo dos procedimentos de limpeza e desinfecção
das instalações e equipamentos pode ser realizado de
duas formas:
- verificação regular da execução dos procedimentos de
limpeza e de desinfecção;
- inspecção visual.
Para facilitar este controlo, poderá existir uma listagem
de verificações a executar em diferentes locais, como as
cozinhas, as instalações dos que aí trabalham e os arma-
zéns (exemplos no final deste manual).
Deverá ser feito ao longo do ano um controlo micro-
24|
                                                             tipo de tratamento, o seu controlo e a sua manutenção.
|CAPÍTULO II.3 – CONTROLO DE
                                                             Nestes casos, recomenda-se que se tenha os seguintes
ABASTECIMENTO DE ÁGUA|
                                                             registos: boletins de análises periódicas; fichas técnicas
                                                             dos produtos utilizados no tratamento da água; registo
Todas as empresas alimentares devem ter
                                                             de medidas correctivas.
um abastecimento adequado de água potá-
vel. No território português a legislação (DL
306/2007) define os padrões físico-químicos                  GELO
e biológicos que a água tem de observar para
                                                             O gelo que contacta com os alimentos ou que, de algum
ser considerada potável, ou seja, adequada
                                                             modo, os possa contaminar tem de ser fabricado com
para o consumo humano.
                                                             água potável. Tem de ser ter cuidado para não contami-
                                                             nar o gelo quer no seu fabrico quer na sua armazena-
A tarefa de verificar a conformidade da qualidade da
                                                             gem.
água compete aos responsáveis pela rede de distribui-
                                                             Mais indicações podem ser encontradas na legislação
ção. Como, geralmente, a grande maioria dos estabele-
                                                             em vigor, nomeadamente no Regulamento nº 852/2004
cimentos são abastecidos com água da rede pública, os
                                                             de 29 de Abril, e no Decreto-Lei 306/2007 de 27 de Agos-
mesmos deverão pedir à entidade gestora da rede pú-
                                                             to.
blica os boletins de análise do controlo da água. No en-
tanto, é necessário referir-se que a responsabilidade da
entidade gestora cessa sempre que se comprove que o
                                                             |CAPÍTULO II.4 – CONTROLO DE PRA-
incumprimento dos resultados das análises ocorre devi-
                                                             GAS|
do a deficiências do sistema de distribuição predial (isto
é, nas canalizações, acessórios ou outros aparelhos ins-
                                                             Existem certos animais que são considerados
talados entre as torneiras e as redes de distribuição, que
                                                             nocivos e que, portanto, são indesejáveis nos
não sejam da responsabilidade da entidade gestora). Os
                                                             locais onde se manipulam, armazenam e co-
responsáveis dos estabelecimentos, além de solicitar à
                                                             mercializam alimentos. A sua presença cons-
entidade gestora de distribuição de água os resultados
                                                             titui um perigo importante para a segurança
periódicos de análises, também podem periodicamente
                                                             dos alimentos. Estes animais são habitual-
efectuar análises de rotina para atestar a qualidade da
                                                             mente designados por pragas ou parasitas.
água.
                                                             Dentre estes há alguns que constituem o grupo de pra-
Quando a água utilizada no estabelecimento não pro-
                                                             gas mais frequentes nos estabelecimentos de hotelaria,
vém da rede pública de abastecimento, mas de uma fon-
                                                             de restauração e de bebidas, dos quais destacamos:
te individual, como por exemplo um furo ou uma mina,
                                                             - pássaros;
os mesmos são equiparados a um sistema de gestão de
                                                             - roedores (ratos, ratazanas, etc.);
água e devem cumprir todas as imposições presentes
                                                             - insectos:
no Decreto-lei já referido. Relembramos alguns aspec-
                                                               . rastejantes ( baratas, formigas, etc.);
tos que têm de ser tidos em conta: a origem do abaste-
                                                               . voadores (borboletas, moscas, mosquitos, etc).
cimento, o armazenamento e distribuição, assim como o
                                                             Estes animais, como todos os seres vivos, necessitam de
|25
condições favoráveis ao seu desenvolvimento, como se-       - instalar electrocutores nos locais de entrada e saída das
jam: alimento, humidade, calor. Todas estas condições       instalações;
podem ser facilmente encontradas nos locais onde se         - proceder à descartonagem das embalagens terciárias
manipulam alimentos.                                        dos produtos na recepção dos mesmos;
                                                            - manter os locais de manipulação e armazenagem de
INDÍCIOS DA PRESENÇA DE PRAGAS                              produtos em perfeito estado de limpeza (proceder à lim-
                                                            peza sempre que se derrame ou espalhe um produto);
É de primordial importância observar as instalações         - manter os ralos e as caleiras em bom estado de limpeza
para descobrir sinais que manifestem a presença de pra-     e conservação;
gas, de forma a poderem ser tomadas rapidamente as          - colocar os resíduos sólidos (lixo) sempre em caixotes
medidas correctivas convenientes. A título de exemplo       com tampa e mantê-los sempre fechados.
indicam-se alguns desses indícios:
- presença de dejectos, ovos, larvas, pêlos de animais;     2. Controlo de Exclusão
- presença de cadáveres de animais;                         Este tipo de controlo pode ser realizado quer por meios
- cheiros inusuais;                                         físicos, quer por meios químicos. No primeiro caso pode
- presença de pegadas ou outros indícios da passagem        usar-se, para este efeito, equipamentos como electrocu-
de pragas;                                                  tores, barreiras de ar forçado nas entradas, armadilhas,
- presença de embalagens ou outros acessórios roídos        entre outros. Os meios químicos compreendem a uti-
ou danificados;                                             lização de substâncias químicas, como por exemplo in-
- presença de barulhos correspondentes ao arranhar, ao      secticidas, pesticidas, raticidas, etc.
bicar, ao roer…
                                                            QUEM DEVE FAZER O CONTROLO DE
TIPOS DE CONTROLO DE PRAGAS                                 PRAGAS?

O controlo de pragas pode ser de dois tipos:                Geralmente, os produtos químicos para o combate de
- controlo preventivo                                       pragas são muito perigosos, pelo que as desinfestações
- controlo de exclusão                                      devem ser executadas por técnicos especializados.
                                                            Quando se contratam empresas para executarem este
1. Controlo Preventivo                                      serviço, devem ser solicitadas às mesmas as seguintes
O controlo preventivo consiste essencialmente em im-        informações:
pedir a entrada e/ou a permanência das pragas nas ins-      - plano anual de controlo de pragas;
talações. Para se alcançar este objectivo, existe um con-   - fichas técnicas e segurança dos produtos utilizados;
junto de medidas que deve ser posto em prática:             - relatório de visitas;
- colocar redes mosquiteiras nas janelas e aberturas para   - mapa de localização de iscos (a utilização dos mesmos
o exterior;                                                 tem de ser muito bem ponderada, pois os iscos podem
- colocar protecções nas portas (por exemplo, molas de      ser também uma fonte de atracção de pragas).
retorno, cortinas de lamelas, etc.);
- manter as portas e as janelas fechadas;
26|
PARTE III–
O HACCP
28|
|CAPÍTULO III.1 – APRESENTAÇÃO                               7 –elaboração de documentos e registos adequados à
DO HACCP – BREVE EXPOSIÇÃO TE-                               natureza e dimensão da empresa, a fim de demonstrar
ÓRICA|                                                       a aplicação eficaz das medidas referidas nos princípios
                                                             anteriores.
|III.1.1 – O QUE SIGNIFICA HACCP?|
                                                             |CAPÍTULO III.2 – HACCP – BREVE EX-
HACCP – “Hazard Analysis Critical Control Points” mais       PLICAÇÃO TEÓRICO / PRÁTICA|
não significa, em Português, do que Análise de Perigos e
Controlo de Pontos Críticos.                                 O responsável de um estabelecimento deverá
O HACCP consiste num sistema baseado na identifica-          analisar todas as operações que compõem o
ção e avaliação de perigos específicos e na implementa-      processo produtivo, desde a recepção da ma-
ção de medidas para o seu controlo, focadas na preven-       téria-prima até ao serviço das refeições aos
ção e não na análise do produto final, de forma a garantir   seus clientes. Deve identificar as etapas de
a segurança dos alimentos.                                   transformação dos alimentos potencialmente
                                                             perigosas e inseguras para a saúde, de forma
|III.1.2 – PRINCÍPIOS DE HACCP|                              a poder estabelecer controlos suficientes
                                                             para minimizar os riscos de toxinfecções ali-
A legislação refere-se aos sete princípios do método de      mentares.
HACCP, que são os seguintes:                                 A aplicação da metodologia HACCP obriga
1 – identificação de quaisquer perigos que devam ser evi-    a um conhecimento profundo do produto, do
tados, eliminados ou reduzidos para níveis aceitáveis;       seu processo de fabrico e da sua posterior
2 – identificação dos pontos críticos de controlo na fase    utilização.
ou nas fases em que o controlo é essencial para evitar ou
eliminar um perigo ou para o reduzir para níveis aceitá-     |III.2.1 – O QUE É NECESSÁRIO FA-
veis;                                                        ZER?|
3 – estabelecimento de limites críticos em pontos de
controlo, que separem a aceitabilidade da não aceitabili-    - Identificar possíveis perigos, aquilo que pode ser noci-
dade, com vista à prevenção, eliminação ou redução dos       vo (1º Princípio do HACCP):
perigos identificados;                                         . avaliar os perigos alimentares que podem existir no
4 – estabelecimento e aplicação de processos eficazes de     estabelecimento;
vigilância em pontos críticos de controlo;                    . identificar as áreas/etapas em que os mesmos podem
5 – estabelecimento de medidas correctivas quando a          ocorrer.
vigilância indicar que um ponto crítico não se encontra      - Identificar aqueles pontos que são críticos para assegu-
sob controlo;                                                rar a segurança alimentar, isto é, em que podem ocorrer
6 – estabelecimento de processos a efectuar regular-         os perigos alimentares (2º Princípio do HACCP).
mente, para verificar se as medidas referidas nos princí-
pios 1 a 5 funcionam eficazmente;
|29
|III.2.2 – PROCEDIMENTOS DE CON-                            cumprir os requisitos legais e assegurar a higiene e a
TROLO|                                                      segurança alimentar.

Após ter identificado alguns possíveis focos de proble-     |III.2.3 – INTRODUZINDO PROCEDI-
mas, o responsável do estabelecimento tem de os con-        MENTOS DE CONTROLO|
trolar e de assegurar aos clientes que o faz. Para isso,
deve:                                                       Os mecanismos de controlo devem ser:
- garantir que existem controlos de segurança nesses        - compreensíveis, para que todos os manipuladores per-
pontos críticos para acautelar a segurança alimentar        cebam a sua finalidade e importância;
(Princípios 3º e 4º);                                       - efectivos, para que garantam que os perigos são elimi-
- vigiar (monitorizar) regularmente os controlos para ve-   nados ou reduzidos a um mínimo aceitável;
rificar que trabalham eficientemente;                       - práticos, para que possam ser aplicados de uma forma
- manter e rever todos os controlos;                        simples à realidade da empresa.
- rever, controlar e monitorizar os procedimentos (tam-     Exemplo de controlos que se devem efectuar:
bém sempre que as operações alimentares mudem)              - verificação das matérias-primas;
(Princípios 6º e 7º).                                       - rotação de stocks;
A natureza e a complexidade do sistema utilizado irá,       - verificação das temperaturas de armazenagem;
na prática, depender da natureza e da complexidade do       - aplicação correcta das regras de cozedura e de reaque-
processo produtivo.                                         cimento;
Os documentos escritos e os registos são de grande          - controlo de qualidade dos óleos de fritura.
utilidade, tanto como forma de responsabilização dos
manipuladores como para a organização da empresa, e
                                                            |III.2.4 – VERIFICAÇÃO DOS PROCE-
ainda para esta demonstrar, às diferentes entidades, que
                                                            DIMENTOS DE CONTROLO|
cumpre a legislação.
Provavelmente, em muitas empresas, já se aplicam mui-
                                                            A identificação e o controlo de perigos alimentares é um
tos controlos. Mesmo assim, todos os procedimentos da
                                                            processo contínuo.
empresa deverão ser revistos e avaliados os potenciais
                                                            A definição da frequência dos controlos está relaciona-
perigos. Poderão ser detectados problemas que até ao
                                                            da com a natureza e as dimensões da empresa e com a
momento não se tinham evidenciado ou, pelo contrário,
                                                            complexidade do processo produtivo.
poderá verificar-se que os controlos estão a funcionar
                                                            Devem existir documentos de referência, como por
correctamente. Isto é especialmente importante em cer-
                                                            exemplo, as temperaturas de conservação dos alimen-
tos pontos das operações, depois dos quais não vão exis-
                                                            tos, etc.
tir mais controlos que eliminem ou controlem os peri-
                                                            Cada empresa deve criar e organizar os seus modelos de
gos para a segurança alimentar (por exemplo, produtos
                                                            registos e de documentos de forma a demonstrar que:
que se consomem crus, ou que se cozinham, mas que se
                                                            - o sistema de controlo está efectivamente a funcionar
comem frios).
                                                            e que os alimentos confeccionados são inócuos para os
A análise de perigos irá ajudar a decidir o nível de con-
                                                            clientes;
trolo que é necessário e apropriado para a empresa
                                                            - quando se detecta que as medidas de controlo não são
30|
eficazes, serão desenvolvidas acções correctivas;          |FÍSICOS|
- todos os procedimentos são regularmente revistos, es-
pecialmente quando se alteram procedimentos de tra-        Os alimentos podem ser contaminados com algum ele-
balho;                                                     mento estranho à sua composição, como por exemplo
- se procede à identificação, monitorização dos pontos     um fragmento de vidro.
críticos e dos limites críticos.
                                                           |QUÍMICOS|
|III.2.5 - POR ONDE COMEÇAR? QUE
TIPO DE PERIGOS EXISTEM? COMO                              Contaminação dos alimentos com produtos químicos,
IDENTIFICAR OS PERIGOS E AS ETA-                           como produtos de limpeza, insecticidas ou lubrificantes
PAS EM QUE OCORREM?|                                       de máquinas.

|III.2.5.1 - POR ONDE COMEÇAR?|                            |BIOLÓGICOS/MICROBIOLÓGI-
                                                           COS|
O primeiro passo consiste em formar uma equipa de tra-
balho que, em conjunto, identificará os potenciais peri-   Contaminação dos alimentos devido à presença de pra-
gos alimentares que podem ocorrer no estabelecimento.      gas ou de microrganismos patogénicos, como por exem-
Esta equipa poderá necessitar do apoio de técnicos com     plo salmonelas (ver parte I- breves noções de contami-
conhecimentos específicos em Higiene e Segurança Ali-      nações).
mentar e do suporte de alguns manuais, devendo ter o
conhecimento da legislação existente.                      |III.2.5.3 – COMO IDENTIFICAR OS
Esta equipa deverá analisar:                               PERIGOS E AS ETAPAS EM QUE OCOR-
- os aspectos operacionais da empresa;                     REM?|
- as condições e os procedimentos de trabalho actual-
mente existentes;                                          Como posso identificar os potenciais perigos? Em que
- o nível de conhecimentos em Higiene e Segurança Ali-     etapas poderão os mesmos ocorrer? Como decidir sobre
mentar dos colaboradores                                   o tipo de controlo possível?
- os potenciais perigos.
                                                           Para facilitar a identificação dos potenciais perigos, co-
|III.2.5.2 – QUE TIPO DE PERIGOS                           nhecer as etapas em que os mesmos poderão ocorrer,
EXISTEM?|                                                  bem como decidir o tipo de controlo possível, poderá ser
                                                           útil desenhar um fluxograma (ou um percurso genérico
Essencialmente existem três categorias de perigos ali-     dos alimentos) que inclua as etapas do processamen-
mentares: Físicos, Químicos, Biológicos/Microbiológi-      to de alimentos, desde a recepção das matérias-primas
cos.                                                       até ao serviço ao cliente, e também traçar um plano de
                                                           HACCP.
|31
|CAPÍTULO III.3 – HIGIENE ALIMEN-                         rencia de intoxicações alimentares, e definindo-se me-
TAR E APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS                            todologias de controlo para as diferentes etapas do pro-
DE HACCP|                                                 cesso produtivo, independentemente dos pratos especí-
|Proposta de aplicação dos princípios                     ficos a confeccionar. A proposta consiste em estabelecer
de HACCP no sector de hotelaria e da                      pontos de controlo críticos para as matérias-primas,
restauração e bebidas|                                    para os procedimentos culinários comuns a vários pra-
                                                          tos, para o comportamento individual dos funcionários,
                                                          para as condições estruturais dos locais onde se efectu-
|III.3.1 – INTRODUÇÃO|                                    am as operações culinárias, etc.


Um estabelecimento de Restauração e de Bebidas, tal       |III.3.2. – PERCURSOS GENÉRICOS
como um estabelecimento de Hotelaria, com serviço de      DOS ALIMENTOS / FLUXOGRAMAS|
alimentação e de bebidas, é também considerado uma
empresa alimentar. No entanto, é para todos evidente      Como já referimos, os restaurantes (bem como os esta-
que, dentro do sector alimentar, estes estabelecimentos   belecimentos de hotelaria, enquanto prestadores de ser-
apresentam características específicas que os distin-     viços de alimentação e bebidas), apesar de serem empre-
guem das outras empresas alimentares, nomeadamen-         sas alimentares, apresentam uma particularidade que os
te:                                                       distingue das restantes empresas: confeccionam uma
- confeccionam uma grande variedade de pratos, geral-     grande variedade de pratos e produtos, geralmente em
mente num curto espaço de tempo e em simultâneo, e        simultâneo e num curto espaço de tempo, para consumo
maioritariamente para consumo imediato;                   imediato. Estes factores dificultam a implementação de
- usam uma multiplicidade de matérias-primas;             um sistema HACCP clássico, razão pela qual sugerimos
- sujeitam os alimentos a uma elevada manipulação du-     a implementação do sistema HACCP segundo o modelo
rante a sua confecção.                                    cujo percurso vai ser detalhado através do Fluxograma
Por todos estes motivos, e apoiados no Regulamento        desenhado.
nº 852/2004, concretamente na flexibilização da apli-     Esta abordagem dos princípios do HACCP, tal como já a
cação dos princípios HACCP, entendemos (de acordo         apresentámos anteriormente, desenvolve-se por blocos
com o que já fizemos no “Código de Boas Práticas de       ou etapas, permitindo identificar em cada uma os pon-
Higiene para a Restauração” da UNIHSNOR) que a            tos que têm de ser controlados para prevenir a ocorrên-
implementação de um sistema de segurança alimentar        cia de toxinfecções alimentares.
baseado nos princípios de HACCP deve ser alicerçada
em blocos, etapas ou processos e não em pratos confec-    Habitualmente, num estabelecimento, podemos dividir
cionados. Por outras palavras, a abordagem incide nas     em três grandes grupos o fluxo dos alimentos:
etapas do processo – Recepção das matérias-primas,
Armazenagem, Preparação de alimentos, Confecção e
Serviço –, identificando-se em cada uma os potenciais
perigos, os pontos a controlar para prevenir a ocor-
32|
1.RECEPÇÃO - ARMAZENAGEM - PRE-                             complexos.
PARAÇÃO - SERVIÇO                                           Neste grupo, encontramos preparações dissociadas de
                                                            alimentos ou a preparação de alimentos de véspera e
No primeiro grupo, estamos perante processos nos            com muita antecedência, e que, por isso, podem passar
quais não ocorre nenhum tratamento pelo calor, ou seja,     mais de uma vez pela “zona de perigo” de desenvolvi-
não há cozedura. Podemos ainda dizer, de outra forma,       mento dos microrganismos (50C a 650C). Nestes casos,
que este tipo de alimentos, se devidamente conserva-        há inclusivamente a hipótese de os mesmos poderem
dos, não se encontram na “zona de perigo” de desenvol-      vir a ser recontaminados após a sua confecção.
vimento dos microrganismos (50C a 650C). Como vimos
anteriormente, a grande maioria dos microrganismos          Como exemplo de pratos confeccionados, poderíamos
desenvolvem-se entre os 50C e os 650C.                      indicar quase todos. A grande diferença deste grupo
                                                            consiste nos procedimentos.
Exemplos de alimentos que podem estar dentro deste          Mesmo assim, referimos alguns exemplos: bacalhau
grupo: alimentos prontos a comer, produtos de charcu-       com natas e arroz de pato, entre tantos outros.
taria, produtos de pastelaria, sandes, saladas.
                                                            Assim, apresentamos um plano de HACCP sustentado
2.RECEPÇÃO - ARMAZENAGEM - CON-                             num fluxograma genérico, onde estão representadas to-
FECÇÃO - SERVIÇO                                            das as etapas pelas quais os produtos passam desde a
                                                            sua aquisição ou recepção até ao seu consumo: Recep-
Neste segundo grupo, consideramos as refeições que          ção, Armazenagem, Preparação, Confecção, Serviço.
são confeccionadas e servidas de seguida ao cliente.
Neste tipo de preparação, os alimentos são cozinhados       Em cada etapa apresentamos um esquema detalhado
de forma a destruírem os microrganismos patogénicos         das operações, especificando os passos entre a prepa-
(prejudiciais). Considera-se que estes produtos apenas      ração e o serviço, de forma a abranger várias operações
passam uma vez pela “zona de perigo” de desenvolvi-         culinárias.
mento dos microrganismos (50C a 650C).                      O percurso dos alimentos deve ser o mais linear pos-
                                                            sível, isto é, seguir segundo uma linha directa desde a
Exemplos de alimentos que podem estar neste grupo:          recepção ao serviço (sistema de marcha em frente). Sa-
tripas à moda do Porto, peixe assado, prego no prato, en-   bemos que nem sempre isto é possível devido à falta de
tre tantos outros.                                          espaço. Há situações em que os alimentos, saindo da
                                                            preparação e da confecção, voltam a ser armazenados
3.RECEPÇÃO - ARMAZENAGEM - PRE-                             nas câmaras refrigeradas até ao momento de serem ser-
PARAÇÃO - ACONDICIONAMENTO                                  vidos ou cozinhados.
CONFECÇÃO - ARREFECIMENTO -                                 Exemplos:
CONSERVAÇÃO - REAQUECIMENTO -                               - uma salada de vegetais servida ao cliente logo após a
SERVIÇO                                                     preparação ou que é armazenada no frigorífico e servida
                                                            mais tarde;
Estamos perante um conjunto de procedimentos mais
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Hotelaria restauracao aphort

  • 1. código de // boas práticas de higiene e segurança alimentar// .aplicação dos princípios de haccp para a hotelaria e restauração.
  • 2. índice Apresentação Introdução 4 6 Parte I – Breves Noções de Contaminações 7 Capítulo I.1 – principais tipos de contaminação 8 Capítulo I.2 – breve referência a alguns microrganismos causadores de toxinfecções alimentares 10 Parte II – Os Pré – Requisitos para a aplicação dos princípios do HACCP 15 Capítulo II.1 – higiene pessoal dos manipuladores de alimentos 16 I II.1.1 – higiene individual – apresentação adequada ao trabalho 16 II.1.2 – higiene das mãos 17 I II.1.3 – comportamento no local de trabalho e boas práticas profissionais 17 I II.1.4 – saúde dos manipuladores 18 Capítulo II.2 – higiene das instalações e equipamentos 18 II.2.1 – concepção e manutenção 18 II.2.1.1 – locais onde se manipulam alimentos 18 II.2.1.1.1 – pavimento 18 II.2.1.1.2 – paredes 19 II.2.1.1.3 – tectos 19 II.2.1.1.4 – portas, janelas, clarabóias 19 II.2.1.1.5 – ventilação 19 II.2.1.1.6 – exaustão 20 II.2.1.1.7 – iluminação 20 II.2.1.1.8 – equipamentos 20 II.2.1.2 – instalações sanitárias e vestiários 20 II.2.1.3 – sala de refeições 20 II.2.2 – limpeza e desinfecção das instalações e dos equipamentos 21 II.2.2.1 – limpeza e desinfecção 21 II.2.2.2 – tratamento da loiça 22 II.2.2.3 – plano de limpeza e desinfecção 23 II.2.2.4 – armazenagem de produtos de limpeza 23 Capítulo II.3 – controlo da água de abastecimento 24 Capítulo II.4 – controlo de pragas 24
  • 3. Parte III – O HACCP 27 Capítulo III.1 – apresentação do HACCP breve explicação teórica 28 III.1.1 – o que significa HACCP? 28 III.1.2 – princípios de HACCP 28 Capítulo III.2 – HACCP – breve explicação teórico/prática 28 III.2.1 – o que é necessário fazer? 28 III.2.2 – procedimentos de controlo 29 III.2.3 – introduzindo procedimentos de controlo 29 III.2.4 – verificação dos procedimentos de controlo 29 III.2.5 – por onde começar? 30 III.2.5.1 – por onde começar? 30 III.2.5.2 – que tipo de perigos existem? 30 III.2.5.3 – como identificar os perigos e as etapas em que ocorrem? 30 Capítulo III.3 – higiene alimentar e aplicação dos princípios de HACCP - proposta de aplicação do HACCP no sector da hotelaria, da restauração e bebidas 31 III.3.1 – introdução 31 III.3.2 – percursos genéricos dos alimentos, fluxogramas 31 III.3.3 – recepção de matérias - primas 33 III.3.4 – armazenagem 37 III.3.5 – preparação de alimentos e ingredientes 40 III.3.6 – confecção e preparação de refeições 42 III.3.7 – serviço aos clientes/distribuição 46 Apresentação da análise de perigos e pontos de controlo / plano HACCP 48 Anexo 1 Fichas 51 Anexo 2 Registos 57 Anexo 3 Apresentação do HACCP – breve exposição teórica baseada no Codex Alimentarius 65 Anexo 4 Árvore de decisão 71 Anexo 5 Formação 73 Glossário 75 Bibliografia 80
  • 4. APRESENTAÇÃO |4 |ABERTURA| princípios, de modo a que os mesmos sejam exequíveis inclusivamente em pequenos res- A UNIHSNOR – União das Associações de Ho- taurantes e outros estabelecimentos familiares. telaria e de Restauração do Norte de Portugal – elaborou, em 1999, um CÓDIGO de BOAS A APHORT – Associação Portuguesa de Hote- PRÁTICAS DE HIGIENE PARA A RESTAU- laria, Restauração e Turismo, assumiu, em Abril RAÇÃO. de 2008, a continuidade associativa da União das Associações de Hotelaria e Restauração do Este Código mereceu, nos termos do decreto-lei Norte de Portugal, para todos os efeitos, espe- 67/98 de 18 de Março, o parecer favorável da en- cialmente na integralidade dos direitos e obri- tidade oficial competente, a Direcção Geral da gações. Fiscalização e Controlo da Qualidade Alimen- A APHORT, sendo a Associação representativa tar. dos estabelecimentos hoteleiros, dos estabe- lecimentos de restauração e de bebidas e dos Em 29 de Abril de 2004, o Parlamento Europeu estabelecimentos de turismo no espaço rural, e a Comissão Europeia aprovaram o Regula- entendeu que, com o novo quadro legal e regu- mento Europeu 852/2004 sobre higiene dos lamentar, deveria actualizar o referido Código géneros alimentícios, que contém, na prática, de Boas Práticas. um conjunto de regras de higiene e segurança alimentar aplicáveis a todo o sector alimentar O novo Código: e também, portanto, aos estabelecimentos ho- CÓDIGO DE BOAS PRÁTICAS DE HIGIENE teleiros, aos estabelecimentos de restauração e E SEGURANÇA ALIMENTAR de bebidas. Adiante usaremos simplesmente a – Aplicação prática dos princípios de HACCP palavra “estabelecimentos” para nos referirmos para a Hotelaria e para Restauração – a todos eles. É um documento produzido com base no re- ferido Regulamento 852/2004, no Codex Ali- Este Regulamento atribui um papel muito im- mentarius, em documentos de trabalho quer da portante aos empresários, considerando-os Comissão Europeia, quer da HOTREC – Con- como os principais responsáveis pela segu- federação Europeia de Hotelaria, Restauração e rança dos géneros alimentícios que produzem, Cafés –, bem como na nossa própria experiên- transformam, distribuem, comercializam e ser- cia associativa, empresarial e profissional. vem, devendo garantir a segurança dos seus produtos ao longo de toda a cadeia. A tarefa dos nossos associados e dos empresá- Segundo o mesmo Regulamento, as empresas rios do sector em geral não é fácil e constitui alimentares deverão criar e aplicar programas uma grande responsabilidade, exigindo o en- de Segurança Alimentar baseados nos princí- volvimento de todos os que trabalham no es- pios do HACCP. No entanto o regulamento pre- tabelecimento, empregados e empregadores, vê, também, a flexibilização desses mesmos cabendo a estes os conhecimentos necessários
  • 5. 5| à implementação do sistema e a obrigação de assegurarem a adequada formação de todos os seus colaboradores. Este Código, previsto no Regulamento 852/2004, constitui, para os associados e para os empresários do sector em geral, um docu- mento essencial nesta matéria, informando-os e aconselhando-os sobre como deverão proce- der para a aplicação e cumprimento do referido regulamento Comunitário e para a implemen- tação do HACCP. |ÂMBITO| Este Código destina-se a todos os que traba- lham, empregadores e empregados, nos seguin- tes estabelecimentos: -Empreendimentos turísticos – estabelecimen- tos hoteleiros – conforme decreto-lei 39/2008 de 7 de Março; -Estabelecimentos de restauração e de bebidas – conforme decreto-lei 234/2007 de 11 de Ju- nho.
  • 6. INTRODUÇÃO |6 O bem-estar, o conforto, a saúde e a segurança A este tema dedicaremos a Parte II deste Manu- dos nossos clientes são, para nós, valores essen- al, organizada em 4 capítulos: ciais. As refeições que servimos, sejam ligeiras, como o pequeno-almoço ou o lanche, ou mais Capítulo II.1 – Higiene pessoal de todos os ma- substanciais, como o almoço ou o jantar, devem nipuladores de alimentos; ser saudáveis, no sentido em que não devem Capítulo II.2 – Higiene das instalações e equi- provocar doenças ou, mais especificamente, in- pamentos; toxicações. Capitulo II.3 – Controlo da água de abasteci- Por isso, é nosso dever eliminar todos os facto- mento; res que contribuam para que tal possa aconte- Capítulo II.4 – Controlo de pragas. cer. Estaremos, então, em condições de controlar os Para alcançar este objectivo, e nos termos do re- perigos associados ao processo de confecção, ferido Regulamento 852/2004, os empresários implementando os princípios do HACCP. A deverão adoptar e cumprir procedimentos de este tema dedicaremos a Parte III deste Manu- segurança alimentar adequados à sua activida- al. de, com base nos princípios do HACCP – Análi- Esta Parte III representa, sem dúvida, a grande se dos Perigos e Controlo dos Pontos Críticos. inovação que resulta da aplicação do já referido A efectiva aplicação do HACCP só é possível Regulamento Comunitário 852/2004 e está or- se, previamente, forem cumpridas duas etapas ganizada nos seguintes capítulos: essenciais. Capítulo III.1 – Breve apresentação do HACCP, tendo por base o Codex Alimentarius. Aborda- Em primeiro lugar, adquirir um conhecimento gem do HACCP formal (tradicional) de acordo genérico sobre os principais tipos de contami- com o que o Codex recomenda para qualquer nações e sobre os microrganismos que são os indústria alimentar. principais causadores de intoxicações alimen- Capítulo III.2 – Breve explicação teórica e prá- tares. A este tema, de um modo necessariamen- tica, em linguagem acessível a todos os empre- te genérico e não exaustivo, dedicaremos a Par- gados e empregadores dos estabelecimentos te I deste Manual. de hotelaria, de restauração e de bebidas. Capítulo III.3 – Proposta de aplicação do HAC- Em seguida daremos atenção aos alicerces do CP no sector da hotelaria e da restauração e be- HACCP, as suas fundações, que designamos bidas - conjugação entre a teoria e a prática, de por «Pré-requisitos». Isto é, antes de mais, é ne- modo a permitir aos estabelecimentos a aplica- cessário garantir a prevenção da possibilidade ção do HACCP, respeitando as suas especifici- de contaminação, controlando os respectivos dades. perigos, tratando da higiene do que podemos Anexos designar de “estabelecimento” em sentido am- Algumas definições e sugestões de fichas e de plo, ou seja, estruturas, instalações, equipamen- registos que os estabelecimentos poderão ter tos e pessoal. como base para a realização dos seus próprios documentos de suporte.
  • 8. |8 |CAPÍTULO I. – PRINCIPAIS TIPOS DE zar, quando obtivesse os resultados, o produto já não CONTAMINAÇÃO| se apresentaria em condições higio-sanitárias para ser consumido. Donde se conclui que a análise deste tipo Sabemos que existem três tipos de perigos de de perigos tem de ser assegurada pelos fornecedores e contaminações alimentares que nos preocu- nunca se poderão exigir as mesmas análises aos empre- pam essencialmente ao nível da Segurança sários destes estabelecimentos. Alimentar: Perigos Químicos, Perigos Físi- cos e Perigos Biológicos. |PERIGOS FÍSICOS| |PERIGOS QUÍMICOS| Qualquer objecto estranho a um alimento e que se in- corpore acidentalmente no mesmo provoca a contami- Este tipo de perigo ocorre quando um alimento é conta- nação física desse alimento. Por exemplo, um pedaço de minado por uma substância química durante os proces- uma embalagem, um cabelo num prato de sopa, um bo- sos de armazenamento, de preparação, de confecção, de cado de palha-de-aço no puré. serviço... Nos estabelecimentos de hotelaria, de restauração e de |PERIGOS BIOLÓGICOS| bebidas, este tipo de contaminação muitas vezes é pro- vocado por detergentes e desinfectantes. É, pois, muito Nos perigos biológicos, podemos distinguir dois gru- importante que os produtos de limpeza e desinfecção pos: estejam guardados num local diferente dos produtos - visíveis a olho nu ou vista desarmada (macroscópi- alimentares, e que, quando se proceda às operações de cos); limpeza e desinfecção, não se encontrem nesse mesmo - não são visíveis a olho nu, apenas através de instru- local produtos alimentares expostos. mentos de ampliação (microscópicos). Nunca se devem guardar os produtos de limpeza ou de No primeiro grupo, encontram-se os seres vivos que ge- desinfecção dentro de embalagens de produtos alimen- ralmente denominamos como pragas – baratas, formi- tares, como por exemplo garrafas de água ou de refri- gas, entre outros. gerantes. Claro que também não se devem utilizar as No segundo grupo, encontram-se os microrganismos. embalagens de detergentes para acondicionar ou trans- Sabemos que existem microrganismos benéficos para portar alimentos. os seres humanos e outros que são prejudicais, isto é, pe- Existem, no entanto, alguns perigos químicos que po- rigosos para o homem. Dos prejudiciais para o homem, dem estar associados a alguns alimentos, como seja a podemos distinguir dois grandes grupos: presença de resíduos de antibióticos em produtos cár- - os que provocam infecções de origem alimentar; neos, ou resíduos de pesticidas em vegetais, cuja detec- - os que provocam intoxicações de origem alimentar. ção é impossível nos estabelecimentos. A realização de O primeiro caso é causado pela mera presença num ali- análises para a detecção destas substâncias é muito dis- mento de um microrganismo patogénico que se multi- pendiosa e o seu processo é demorado, o que significa plicou, dando origem a uma infecção alimentar. que, na prática, se um empresário optasse por as reali-
  • 9. 9| Dentro deste grupo destacamos: pacidade para se desenvolverem. Salmonella* Podemos concluir que todos os alimentos devem ficar Listeria monocytogenes o mínimo tempo possível à temperatura compreendida Escherichia coli entre 50C e os 650C. Dito de outra forma, para impedir o desenvolvimento microbiano, tem de se manter os ali- No segundo grupo, o agente responsável pela intoxica- mentos a uma temperatura inferior a 50C ou superior a ção alimentar não é o microrganismo, mas sim a presen- 650C. ça de toxinas formadas pelo mesmo. Salientamos: Clostridium perfringens _HUMIDADE Clostridium botulinum Staphhylococcus aureus A água é um dos factores mais importantes para o de- Bacillus cereus senvolvimento dos seres vivos, o mesmo ocorrendo com as bactérias. Sem água, elas não podem aproveitar os |DESENVOLVIMENTO DOS MI- nutrientes que as rodeiam. As bactérias não crescem CRORGANISMOS| nem se multiplicam nos alimentos desidratados, mas também não morrem. Quando estes são reconstituídos, Todos os seres vivos, incluindo os microrganismos, ne- voltam a crescer e a multiplicar-se, pelo que se deve ter cessitam de alimento, de humidade, de temperatura e de com estes alimentos os mesmos cuidados que se têm tempo para se desenvolverem. Existem também outros com os alimentos frescos. factores que têm influência no seu desenvolvimento, como a acidez do meio e o oxigénio. _ACIDEZ DOS ALIMENTOS Vamos deter-nos um pouco em cada um desses facto- res. Algumas bactérias não se desenvolvem em meios muito ácidos e, por esse motivo, se acidificarmos um alimento _ALIMENTO com vinagre ou sumo de limão, podemos impedir que os micróbios cresçam e se multipliquem. As bactérias necessitam de nutrientes para se desenvol- verem. Preferem alimentos ricos em proteínas, como a carne. _OXIGÉNIO _TEMPERATURA Alguns tipos de bactérias não crescem na presença de oxigénio e outros só com oxigénio é que se desenvol- vem, consoante o tipo de bactéria. É um dos factores que melhor se deve controlar. As bac- térias responsáveis pela maior parte das toxinfecções alimentares desenvolvem-se melhor a uma temperatura _TEMPO de cerca de 370C, mas entre os 50C e os 650C também se desenvolvem. A valores inferiores ou superiores a este Se proporcionarmos às bactérias e aos micróbios em ge- intervalo, os microrganismos praticamente não têm ca ral as condições óptimas de temperatura, nutrientes, hu- * De um modo muito simples podemos dizer que os nomes das bactérias são parecidos com os das pessoas, pois têm um apelido que identifica a família seguido de um nome próprio, por exemplo Salmonella enteritidis, Salmonella typhi, a palavra Salmonella é o nome de família e o outro o nome próprio.
  • 10. |10 midade, e lhes dermos o tempo necessário para se multi- carne, nomeadamente a das aves, e pelos ovos. plicarem, estamos a criar um “viveiro de micróbios”. Se o alimento não é cozinhado e se se conserva de forma inadequada, as bactérias multiplicam-se rapidamente, |CAPÍTULO I.2 – BREVE REFERÊNCIA podendo dar origem a um surto de infecção alimentar. A ALGUNS MICRORGANISMOS CAU- Por exemplo, quando se utiliza a mesma faca para partir SADORES DE TOXINFECÇÕES ALI- um frango cru e umas fatias de carne assada, sem que MENTARES| ela seja desinfectada entre ambas as utilizações, pode- se estar a provocar a contaminação da carne assada. Como já referimos anteriormente, podemos A maioria dos casos de toxinfecção alimentar provoca- dividir os microrganismos patogénicos e da por salmonelas resulta de se ter cozinhado pouco os causadores de toxinfecções alimentares em alimentos ou de contaminação cruzada, como no exem- dois grandes grupos: plo anterior. - os que provocam infecções de origem ali- mentar; CONDIÇÕES DE DESENVOLVIMENTO - os que provocam intoxicações de origem _TEMPERATURA alimentar. Iremos abordar em seguida algumas carac- Normalmente, as bactérias desenvolvem-se em ambien- terísticas referentes a alguns dos principais tes com temperaturas entre 50 e 480C. A temperatura microrganismos de cada um dos grupos. óptima de crescimento das mesmas situa-se entre os 350 e 370C. As salmonelas dificilmente se multiplicam à |SALMONELLA| temperatura de refrigeração. São facilmente destruídas pelo calor, no entanto, a con- A salmonella é responsável pela maioria dos casos de gelação e a secagem de alimentos não as mata, simples- infecções alimentares. mente impede o seu desenvolvimento e multiplicação. Pertence à família das Enterobacteriaceae. Recuperam estas capacidades quando estão nas condi- ções apropriadas. ORIGEM E VEÍCULOS DE CONTAMINA- ÇÃO PRINCIPAIS ALIMENTOS ASSOCIADOS A INFECÇÕES POR SALMONELLA. Estas bactérias vivem habitualmente no intestino do Ho- mem e dos animais, em especial nos de capoeira; podem Carne bovina crua, aves domésticas, ovos, peixe, leite e encontrar-se na casca dos ovos, assim como nas patas derivados. dos roedores e dos insectos, em especial das moscas. O Homem também pode ser um veículo de contaminação cruzada. |LISTERIA MONOCYTOGENES| A salmonella pode chegar ao local de manipulação de alimentos transportada pelos alimentos crus, como a A Listeria monocytogenes é uma bactéria patogénica. Desde que ocorreram várias toxinfecções devido à pre-
  • 11. 11| sença desta bactéria, ela passou a ser uma preocupa- vegetais crus, aves domésticas cruas e cozinhadas, car- ção. nes cruas e peixes crus e fumados. A sua capacidade de A Listeria monocytogenes pertence à família Listeriace- crescer em temperaturas tão baixas quanto 30C permite ae. a sua multiplicação em alimentos refrigerados. ORIGEM E VEÍCULOS DE CONTAMINA- |ESCHERICHIA COLI| ÇÃO A Escherichia coli é utilizada como organismo indica- A Listeria monocytogenes encontra-se, geralmente, no dor de contaminação fecal em água e em alimentos. As solo, nos vegetais, na água, na carne e no peixe. O Ho- bactérias do género Escherichia coli pertencem à famí- mem e os animais são muitas vezes portadores assinto- lia Enterobacteriaceae. máticos da bactéria, sendo um veículo de contaminação dos alimentos. ORIGEM E VEÍCULOS DE CONTAMINA- ÇÃO A contaminação de matérias-primas e de alimentos que não são sujeitos a qualquer tratamento térmico pode O principal habitat de Escherichia coli é o tracto intes- ser frequente. tinal dos humanos e de outros animais de sangue quen- te. Muitas das contaminações dos alimentos ocorrem CONDIÇÕES DE DESENVOLVIMENTO devido à contaminação do solo com excrementos dos _TEMPERATURA animais (muitas vezes utilizados como fertilizantes sem qualquer tratamento prévio) ou à contaminação da água devido a descargas de esgotos. Por vezes, as más práti- A Listeria monocytogenes desenvolve-se num intervalo cas de higiene nos locais de abate podem ser uma fonte de temperaturas entre 00C e 450C, tendo uma tempera- de contaminação das carcaças. Más práticas de higiene tura óptima de crescimento entre os 300 e os 370C. pessoal quando se utilizam os sanitários também po- Sabe-se que sobrevive por longos períodos em alimen- dem conduzir a que os próprios manipuladores de ali- tos congelados (-180C). mentos sejam veículos de contaminação dos mesmos. PRINCIPAIS ALIMENTOS ASSOCIA- DOS A INFECÇÕES POR LISTERIA MO- CONDIÇÕES DE DESENVOLVIMENTO NOCYTOGENES _TEMPERATURA Algumas estirpes de Escherichia coli conseguem cres- As infecções alimentares com Listeria monocytogenes cer em ambientes com temperaturas entre 70 e 460C e encontram-se associadas a alimentos como o leite cru, têm uma temperatura óptima de crescimento entre 350 leite e queijos supostamente pasteurizados, gelados, e 400C
  • 12. |12 _OXIGÉNIO CONDIÇÕES DE DESENVOLVIMENTO _TEMPERATURA Escherichia coli é uma bactéria que se desenvolve quer na presença quer na ausência de oxigénio (anaeróbia Staphlylococcus aureus desenvolve-se num intervalo de facultativa). temperaturas entre 70 e 460C, tendo uma temperatura óptima de crescimento entre 350 e 370C. PRINCIPAIS ALIMENTOS ASSOCIADOS A enterotoxina produz-se geralmente no intervalo de A INFECÇÕES POR ESCHERICHIA COLI temperatura entre os 100 e 450C, sendo muito resistente ao calor (é necessária a aplicação de um processo térmi- Água, carnes mal cozinhadas, principalmente de bovi- co muito elevado e durante muito tempo para se alcan- nos, enchidos curados, alface e outros vegetais, queijo e çar a destruição da mesma). leite cru, sumos de fruta não pasteurizados. _OXIGÉNIO |STAPHYLOCOCCUS AUREUS| Staphlylococcus aureus é uma bactéria que cresce na Staphylococcus aureus é uma bactéria que pertencente presença e na ausência de oxigénio (anaeróbia faculta- à família Micrococcaceae. tiva). A sua toxina, por sua vez, necessita de oxigénio Estas bactérias, quando as condições são favoráveis, para se produzir. desenvolvem uma toxina – enterotoxina – que, normal- mente, é responsável por uma grande parte dos proble- ALIMENTOS MAIS FREQUENTEMENTE mas provocados pelos alimentos. Esta toxina é muito ASSOCIADOS A INTOXICAÇÕES POR resistente ao calor, enquanto a bactéria Staphlylococcus STAPHYLOCOCCUS AUREUS aureus é facilmente destruída pelo calor. Recheios de carne, saladas preparadas com ovo ou ma- ORIGEM E VEÍCULOS DE CONTAMINA- risco, bolos com recheio, fiambre, queijo e gelados são ÇÃO os alimentos mais frequentemente associados a into- xicações alimentares devido à presença deste micror- Este tipo de bactérias existe no nariz, na garganta, na ganismo. Como se pode observar, estes alimentos são saliva, na pele e nos golpes e lesões dos seres humanos, sujeitos a manipulações após a sua confecção, ficando pelo que estes são muitas vezes os principais veículos muitas vezes a temperaturas entre 10º e 45ºC antes de de contaminação dos alimentos. serem consumidos. Qualquer pessoa que manipula os alimentos facilmente os contamina: espirra sobre os mesmos, coça a cabeça ou mexe na cara e depois nos alimentos, sem lavar as mãos entretanto. Todos os cuidados de higiene pesso- al são imprescindíveis para prevenir este tipo de infec- ção.
  • 13. 13| |CLOSTRIDIUM PERFRINGENS| _OXIGÉNIO O Clostridium perfringens tem a capacidade de, em con- Esta bactéria desenvolve-se melhor na ausência de oxi- dições adversas, ficar sobre a forma de esporo, isto é, génio. Produtos com pouco ou nenhum oxigénio são como se a bactéria ficasse protegida por uma espécie de geralmente mais propícios ao desenvolvimento deste “armadura”. Quando as condições adversas desapare- microrganismo. cem, a bactéria volta à sua forma normal e desenvolve- se rapidamente. Os esporos de Clostridium perfringens ALIMENTOS MAIS FREQUENTEMENTE são muito resistentes à temperatura. ASSOCIADOS A INTOXICAÇÕES POR Esta bactéria pertence à família Bacillaceae (bacilos e CLOSTRIDIUM PERFRINGENS cocos esporulados). Produtos cárneos, produtos preparados em grande ORIGEM E VEÍCULOS DE CONTAMINA- quantidade geralmente para banquetes (e conservados ÇÃO durante bastante tempo à temperatura ambiente). O microrganismo em questão é frequentemente en- |CLOSTRIDIUM BOTULINUM| contrado no intestino de humanos e animais. Os seus esporos persistem no solo, em sedimentos e em áreas As intoxicações causadas por Clostridium botulinum, sujeitas à poluição fecal de humanos e animais. vulgarmente designadas por botulismo, ocorrem geral- mente devido à ingestão de uma toxina pré-formada em CONDIÇÕES DE DESENVOLVIMENTO alimentos contaminados com este microrganismo. Esta _TEMPERATURA doença requer uma atenção especial, pois envolve um risco elevado de morte. Este microrganismo cresce num intervalo de tempera- Clostridium botulinum é uma bactéria pertencente à fa- tura que varia entre 120 e os 500C. A sua temperatura mília Bacillaceae. óptima de crescimento situa-se entre 430 e 470C. É importante referirmos que, em condições óptimas de ORIGEM E VEÍCULOS DE CONTAMINA- desenvolvimento, em apenas dez minutos um destes ÇÃO microrganismos pode dar origem a dois. Alguns esporos sobrevivem à ebulição durante uma Clostridium botulinum encontra-se no solo, nos sedi- hora. mentos marinhos, pelo que os animais são um veículo No intervalo de temperaturas entre 300 a 400C, produ- de transmissão aos alimentos. zem-se toxinas; no entanto, as mesmas podem ser inac- tivadas por aquecimento a 600C durante dez minutos.
  • 14. |14 CONDIÇÕES DE DESENVOLVIMENTO ORIGEM E VEÍCULOS DE CONTAMINA- _TEMPERATURA ÇÃO Os intervalos de temperatura de crescimento destas bac- Este microrganismo encontra-se no solo, nos vegetais, térias são diferentes para os vários subgrupos de Clos- na água, em pêlos de animais e na matéria em decom- tridium botulinum. No entanto, a maioria desenvolve-se posição. Assim, encontramo-lo em muitos produtos com temperaturas entre os 30 e os 480C. Os seus esporos agrícolas e de origem animal. são muito resistentes (para que a sua destruição ocorra, é necessário sujeitar os alimentos a um aquecimento a CONDIÇÕES DE DESENVOLVIMENTO 1210C durante três minutos). As toxinas produzidas são _TEMPERATURA destruídas no seguinte binómio tempo – temperatura: 5 minutos a 850C ou 20 a 30 minutos a 800C. Bacillus cereus desenvolve-se num intervalo muito alar- gado de temperaturas entre os 40 e os 550C, tendo uma temperatura óptima de crescimento entre 300 e 400C. _OXIGÉNIO À temperatura de 250C inicia-se a produção da sua to- xina. Clostridium botulinum é uma bactéria que se desen- volve na ausência de oxigénio (anaeróbia). No entanto, quando se encontra em embalagens com oxigénio, este _OXIGÉNIO não é considerado suficiente para impedir o seu cres- Bacillus cereus é uma bactéria que tem capacidade de cimento, pois poderão existir no interior dos alimentos se desenvolver quer na presença quer na ausência de zonas de anaerobiose onde possam ocorrer o desenvol- oxigénio (anaeróbia facultativa). Porém, a sua toxina vimento do organismo e a produção de toxina. produz-se melhor quando existe oxigénio. ALIMENTOS MAIS FREQUENTEMENTE ASSOCIADOS A INTOXICAÇÕES POR ALIMENTOS MAIS FREQUENTEMENTE CLOSTRIDIUM BOTULINUM ASSOCIADOS A INTOXICAÇÕES POR BACILLUS CEREUS A maior parte dos casos de botulismo estão associados Intoxicações alimentares pela presença deste micror- ao consumo de conservas caseiras (conservas de vege- ganismos estão associadas a alimentos como vegetais, tais, de carnes), enchidos e presunto caseiro. carnes, peixe, leite e cereais ricos em amido (arroz, ba- |BACILLUS CEREUS| tatas, massas). Bacillus cereus é uma bactéria pertencente à família Ba- cillaceae. Tem capacidade para formar esporos, bem como toxi- nas.
  • 15. PARTE II– OS PRÉ– REQUISITOS PARA A APLI– CAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DO HACCP
  • 16. |16 Para se implementarem programas que garantam a se- . a higiene corporal e o vestuário utilizado (muitas vezes gurança alimentar nos estabelecimentos (baseados nos inadequado); princípios do HACCP), existem requisitos mínimos que . práticas e comportamentos profissionais incorrectos têm de ser cumpridos, designadamente: ou negligentes. - Higiene pessoal de todos os manipuladores de alimen- Existem regras básicas que qualquer manipulador de tos; alimentos deve aplicar diariamente e que se apresentam - Higiene das instalações e equipamentos: de seguida. . Manutenção e concepção; . Limpeza e desinfecção das instalações e dos equipa- |II.1.1 – HIGIENE INDIVIDUAL – APRE- mentos; SENTAÇÃO ADEQUADA AO TRABA- - Controlo da água de abastecimento; LHO| - Controlo de pragas. Vejamos, então, mais detalhadamente cada um destes Diariamente e antes de se dirigirem ao local de trabalho, pontos. os manipuladores devem efectuar a sua higiene corpo- ral. |CAPÍTULO II.1 – HIGIENE PESSOAL Adornos: DOS MANIPULADORES DE ALIMEN- - os manipuladores não devem utilizar adornos, tais como TOS| anéis, pulseiras, brincos, colares, piercings e outros. A maioria destes objectos possuem ranhuras e orifícios A segurança alimentar depende em grande que constituem locais de acumulação de resíduos, que parte do nível de higiene individual de to- poderão originar a contaminação dos alimentos. Além dos os que trabalham no estabelecimento, disso os referidos objectos poderão soltar-se e cair sobre empregadores e empregados, especialmente os alimentos sem que ninguém se aperceba, passando a daqueles que manuseiam alimentos, e que, ser um factor de contaminação e podendo causar danos neste Capítulo, designaremos por «manipu- ao cliente. ladores», ou seja, aqueles que produzem, pre- Fardas: param e transportam alimentos. - os manipuladores devem desenvolver as suas tarefas devidamente fardados, de acordo com as funções exer- Os manipuladores podem causar contaminações dos cidas, não devendo usar nunca a roupa que utilizam na alimentos por serem portadores de microrganismos: rua; - na parte externa do seu corpo (cabelo, mãos, pele…); - as fardas devem estar sempre limpas e ser de uso exclu- - na parte interna (garganta, boca, nariz…); sivo no estabelecimento; - e ainda nas suas secreções (suor, saliva, fezes…). - as fardas dos manipuladores que trabalham nas zonas de preparação e de confecção devem ser de cor clara, de Podemos afirmar que os principais perigos de contami- forma a pôr em evidência a sujidade. nação dos alimentos estão geralmente associados aos Cabelo: seguintes factores: - o cabelo deve estar totalmente coberto com touca ou . o estado de saúde dos manipuladores; barrete, sempre que as funções sejam exercidas na cozi-
  • 17. |17 nha ou na copa, ou ainda quando a tarefa o justifique 5 – Secar (com toalhetes de papel ou secador). No exercício de outras funções, o cabelo deve estar pelo menos preso. LUVAS |II.1.2 – HIGIENE DAS MÃOS| Se usar luvas para a manipulação dos produtos alimen- tares, estas devem ser mantidas em boas condições de As mãos são a principal fonte de contaminações bacte- higiene. rianas dos alimentos e, por isso, merecem uma atenção É recomendado o uso de luvas descartáveis em opera- muito especial. ções que requerem muito manuseamento e manipula- Para prevenir os riscos de contaminação dos alimentos, ção de alimentos, como por exemplo: as mãos devem ser muito bem lavadas. - cortar produtos de charcutaria; As escoriações e cortes de pouca importância devem - cortar produtos cozinhados; ser tratados e protegidos com pensos impermeáveis e - moldar carne picada; de preferência de cores vivas. - desfiar alimentos, como bacalhau, pato entre outros; As unhas devem estar sempre limpas, curtas sem ver- - cortar frutas e legumes desinfectados. niz. É muito importante referir que as tarefas executadas com luvas descartáveis devem decorrer sem inter- QUANDO DEVE LAVAR AS MÃOS rupções, caso contrário as mesmas deverão ser subs- tituídas. - Antes de iniciar, durante e no fim de qualquer tarefa. É obrigatório usar luvas sempre que houver escoria- - Depois de usar as instalações sanitárias. ções, queimaduras ou cortes. - Quando mexer no cabelo, no nariz ou noutra parte do corpo, ou usar um lenço de assoar. |II.1.3 – COMPORTAMENTO NO LO- - Antes e depois de mexer em alimentos crus – legumes, CAL DE TRABALHO E BOAS PRÁTI- fruta, carne, ovos... CAS PROFISSIONAIS| - Depois de tocar em objectos sujos – embalagens, lixo, superfícies sujas. - Os manipuladores devem manter um elevado nível de - Depois de fumar e comer. higiene pessoal e bons hábitos de higiene durante todo - Sempre que considere necessário. o período de trabalho. - Os locais de trabalho devem manter-se sempre limpos COMO DEVE LAVAR AS MÃOS e arrumados. - Os desperdícios e resíduos devem ser eliminados com 1 – Molhar as mãos. regularidade (sem esperar que um superior ou um cole- 2 – Ensaboar bem, de preferência com sabão líquido an- ga o peça.) ti-séptico ou bactericida. - As mãos devem ser lavadas com frequência, como já 3 – Passar por água corrente para retirar o sabão. referimos. 4 – Desinfectar com solução desinfectante própria para - São comportamentos expressamente proibidos nas zo- mãos. nas onde se manipulam e armazenam alimentos:
  • 18. 18| fumar, comer, mascar pastilha elástica, tomar ou II.2.1 – CONCEPÇÃO E MANUTEN- guardar medicamentos, mexer na cabeça, nariz ou ÇÃO boca, provar alimentos com os dedos. - Para além dos comportamentos atrás enunciados, de- |II.2.1.1 – LOCAIS ONDE SE MANIPU- vem ainda ser tomadas medidas preventivas para que LAM ALIMENTOS| os manipuladores tenham práticas de higiene pessoal sempre que mudam de tarefa, para evitar contamina- Cada estabelecimento tem as suas características, es- ções. truturas e dimensões próprias; no entanto, do ponto de vista da higiene e segurança alimentar, todos devem |II.1.4 – SAÚDE DOS MANIPULADO- cumprir um conjunto de requisitos mínimos definidos RES| na legislação aplicável. As instalações devem ser projectadas e construídas ten- Os manipuladores, tal como os demais trabalhadores, do em vista o fim a que se destinam, respeitando as se- devem efectuar um exame médico completo no início da guintes regras essenciais: sua actividade e, pelo menos, uma vez por ano ou uma - devem ser dotadas de saneamento e de água potável; vez de dois em dois anos, nos termos do Código do Tra- - todos os compartimentos devem ter iluminação e ven- balho e legislação complementar. Este exame médico tilação apropriadas à sua finalidade; tem de ser feito por um Médico do Trabalho. - devem ser concebidas de forma a impedir a queda de Sempre que os manipuladores tenham contraído ou sus- partículas nos géneros alimentícios e a evitar a acumu- peitem ter contraído doenças contagiosas ou sofram de lação de sujidade, bem como a formação de condensa- doenças de pele, do aparelho digestivo, de inflamações ções e bolores indesejáveis; da garganta, ouvidos ou olhos, ficam interditos de todas - as operações a que são sujeitos os alimentos desde que as actividades directamente relacionadas com os ali- são recebidos no estabelecimento até que chegam ao mentos. Nesta situação, devem informar o seu superior utente devem poder ser executadas de forma a impedir hierárquico para que sejam tomadas as devidas provi- a contaminação cruzada, quer por parte dos manipula- dências. dores, quer aquando da utilização do equipamento e/ou da sua instalação. |CAPÍTULOII.2 – INSTALAÇÕES E Todos os locais onde se desenvolvem operações relacio- EQUIPAMENTOS| nadas com alimentos devem ser mantidos em bom esta- do de conservação e de limpeza. As instalações dos estabelecimentos, de um modo geral e, em particular, os locais onde se |II.2.1.1.1 – PAVIMENTO| manipulam alimentos, como cozinhas, copas, zonas de preparação e armazenagem, deve- O pavimento deve ser mantido em bom estado de con- rão apresentar sempre boas condições de servação e construído com materiais que permitam uma conservação, de forma a que as mesmas nun- fácil limpeza, ou seja, materiais impermeáveis, não ab- ca possam ser uma fonte de contaminação sorventes, laváveis e resistentes. Deverá também ser dos alimentos. Devem, portanto respeitar um anti-derrapante, de forma a evitarem-se quedas e outros conjunto de requisitos.
  • 19. |19 acidentes de trabalho, e resistente quer à passagem de |II.2.1.1.4 – PORTAS, JANELAS, CLA- carrinhos e pessoas, quer à força do equipamento que RABÓIAS| sobre o mesmo seja exercida. Deverão ainda existir caleiras para escoar a água, de As portas devem ser revestidas de materiais lisos, lavá- preferência junto aos locais onde se lavem alimentos veis, impermeáveis e de fácil limpeza. Habitualmente, ou utensílios. As mesmas devem ser protegidas com as portas são uma fonte de contaminação de alimentos grelhas amovíveis. É aconselhável que o chão seja em pelo contacto com as mãos daqueles que as utilizam. A declive em direcção às caleiras, de forma a facilitar o es- zona de contacto com as mãos e os pés deverá ser cons- coamento de água e outros líquidos. tituída por materiais resistentes ao desgaste do uso e aos agentes de limpeza e desinfecção. |II.2.1.1.2 – PAREDES| As janelas e outras aberturas para o exterior devem ter As paredes devem ser revestidas de material lavável, im- dispositivos que impeçam a entrada de insectos ou ou- permeável, não absorvente nem tóxico, e devem ser lisas tros animais, tais como redes mosquiteiras. Estas deve- até uma altura ajustada às operações, de forma a facilita- rão ser removíveis para facilitar a sua correcta limpeza. rem a limpeza e a impedirem a acumulação de qualquer No entanto, recomenda-se que, caso a abertura das jane- tipo de resíduo. las possa ocasionar contaminações, as mesmas se man- A união das paredes entre si e destas com o chão deve tenham fechadas durante a laboração. ser arredondada, de modo a não constituir um local de acumulação de sujidade e de difícil limpeza. |II.2.1.1.5 – VENTILAÇÃO| Todos os estragos, gretas, fissuras, zonas partidas devem ser rapidamente reparados, pois estes locais são propí- Todos os compartimentos devem ser correctamente cios à acumulação de sujidade e são de difícil limpeza. ventilados. Os sistemas usados podem ser naturais ou artificiais, desde que se mantenha a contínua renovação |II.2.1.1.3 – TECTOS| do ar. Outro factor que é necessário ter-se em atenção é o fac- Os tectos devem ser lisos, construídos em material lavá- to de, quando existirem sistemas de circulação de ar, vel, impermeável e de fácil limpeza. Dever-se-á impedir os mesmos deverem passar sempre de uma zona limpa o desenvolvimento de bolores, por exemplo, utilizando para uma menos limpa e nunca o inverso. uma tinta anti-fungos ou qualquer outra solução eficaz. A correcta ventilação de um local é muito importante, Todos os equipamentos que nele estejam instalados não pois condiciona a boa qualidade do ambiente e tem im- deverão originar a contaminação dos alimentos pelo plicações quer na contaminação dos alimentos, quer na desprendimento de partículas ou outras substâncias ou formação de condensação nas paredes e tectos, quer no objectos. Por exemplo: as lâmpadas devem ser protegi- próprio rendimento dos trabalhadores. das, os electrocutores não deverão ser instalados por cima dos locais onde habitualmente se manipulem ali- mentos.
  • 20. 20| |II.2.1.1.6 – EXAUSTÃO| II.2.1.2 – VESTIÁRIOS E INSTALAÇÕES SANITÁRIAS A exaustão de fumos e cheiros é outro requisito impor- tante e independente da ventilação do estabelecimento. Deve existir uma zona de vestiários equipados com ca- Os sistemas de exaustão de fumos e cheiros das cozi- cifos individuais para cada trabalhador. Deste modo, as- nhas deverão ser sempre construídos em material in- segura-se que os trabalhadores têm um local para colo- combustível, ter uma potência suficiente para retirar car os seus objectos pessoais, caso contrário os mesmos toda a presença de fumos e cheiros da cozinha e condu- irão encontrar-se depositados em diferentes locais do zir os mesmos directamente ao exterior e na parte mais estabelecimento e irão constituir uma fonte de contami- elevada do edifício. nação (física ou biológica) dos alimentos. Deverão ser periodicamente limpos, pois são um local propício à acumulação de gordura, estando na origem Devem também existir instalações sanitárias para o pes- da maioria dos incêndios que ocorrem nos estabeleci- soal em serviço. Estas deverão ser concebidas de acordo mentos de restauração e bebidas. com o número de trabalhadores e separadas por sexos. Os sanitários não devem dar directamente para um lo- |II.2.1.1.7 – ILUMINAÇÃO| cal onde se guardem e manuseiem alimentos. Devem ter iluminação suficiente e a ventilação (natural ou artifi- A iluminação poderá ser natural ou artificial. É impor- cial) deve ser contínua, conduzindo directamente ao ex- tante que seja suficiente para a permitir a realização de terior. As instalações sanitárias devem estar equipadas actividades de um modo higiénico. com todas as peças sanitárias (sanita, urinol, lavatório As lâmpadas deverão ser protegidas, para se assegurar [de preferência com torneiras não manuais]), de acordo a protecção dos alimentos face a contaminações, por ve- com o número de trabalhadores, e com os utensílios ne- zes originadas pelos estilhaços produzidos devido ao re- cessários ao seu funcionamento, nomeadamente mate- bentamento das mesmas (ver ponto referente ao tecto). riais para a limpeza das mãos e dispositivos de secagem A forma que se adoptar para proteger as lâmpadas de- higiénica (sabonete líquido, toalhas de papel ou secador verá evitar a acumulação de poeiras e facilitar a sua lim- de mãos, escova de unhas, papel higiénico, balde do lixo peza. movido a pedal). |II.2.1.1.8 – EQUIPAMENTOS E BAN- O pavimento, as paredes e o tecto devem ser de material CADAS DE TRABALHO| lavável, impermeável e de fácil limpeza. As superfícies de bancadas e equipamentos que contac- II.2.1.3 – SALA DE REFEIÇÕES tam directamente com alimentos devem ser de mate- riais lisos, laváveis, não tóxicos e resistentes à corrosão. A legislação europeia referente à higiene dos géneros As mesmas devem ser sempre mantidas em boas condi- alimentícios não se aplica às salas de refeições. Existem, ções de conservação e limpeza e, se necessário, desin- no entanto, algumas indicações gerais que se devem fectadas. cumprir, bem como outras que constam da legislação nacional e específica do sector.
  • 21. |21 As salas onde se presta o serviço de restauração e de UMA BOA LIMPEZA bebidas, acompanhado do serviço de cafetaria, devem possuir equipamento e mobiliário adequados ao fim a Uma boa limpeza compreende as etapas seguintes: que se destinam. 1 – eliminar a sujidade encrostada; Todos os materiais utilizados nas referidas salas devem 2 – lavar com água morna, à qual se adicionou um de- ser resistentes, laváveis e de fácil limpeza. Estes locais tergente; devem ser suficientemente iluminados e continuamente 3 – enxaguar com água quente; ventilados. 4 – se necessário, desinfectar e enxaguar abundante- mente com água limpa e potável. |II.2.2 – LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES E DOS EQUIPA- PRINCÍPIOS DE UMA BOA LIMPEZA E DE MENTOS| UMA DESINFECÇÃO EFICAZ A limpeza é uma operação extremamente importante. Procurar limpar a fundo. Utilizar para este efeito bons Contudo, é um assunto sobre o qual consideramos fre- detergentes. Respeitar as dosagens e o tempo de acção quentemente que já sabemos tudo, pois realizamos esta prescritos. operação várias vezes durante o dia. Enxaguar abundantemente com água e evacuar a água Porque é que limpamos? Como limpamos? Quais os de enxaguagem. produtos mais indicados?Com que frequência devemos Escolher um bom desinfectante. Ter em conta a eficácia limpar? Estas são algumas das questões que surgem do produto e a sua forma de conservação. com mais frequência e a que tentaremos responder. Respeitar as indicações de dosagem, de tempo de con- tacto e o modo de aplicação do desinfectante. |II.2.2.1 – LIMPEZA E DESINFECÇÃO| Enxaguar as superfícies e os aparelhos tratados com água limpa em quantidades suficientes para eliminar os As operações de limpeza e desinfecção, por vezes tam- restos de detergente e de desinfectante. bém designadas por higienização, têm por finalidade as- Desinfectar, após as actividades de lavagem, o material segurar que nos locais onde se manipulam, preparam e de limpeza e outros acessórios. confeccionam alimentos não existem micróbios, ou que, se existirem, seja na menor quantidade possível. O QUE É NECESSÁRIO DESINFECTAR? Quando limpamos, removemos a sujidade, restos de ali- mentos, gorduras ou outro tipo de detritos. Tudo o que estiver em contacto com as mãos, como por Quando desinfectamos, eliminamos micróbios, invisí- exemplo, as facas, as colheres, as bancadas, etc. veis aos nossos olhos, e que, portanto, resistiram à lim- Todas as superfícies que contactam com os alimentos peza. quer no armazém, quer durante a preparação ou confec- ção dos alimentos. Todo o equipamento e utensílios, os quais deverão ser desinfectados periodicamente e não apenas após a sua utilização.
  • 22. 22| A desinfecção não deve ser feita a não ser que seja ver- - Quando se executam as operações de limpeza, todos os dadeiramente necessária. produtos alimentares devem estar devidamente protegi- dos, não esquecendo as montras e vitrinas. PONTOS A OBSERVAR NA REALIZAÇÃO - Nunca se devem utilizar materiais sujos (esponjas, es- DE UMA DESINFECÇÃO EFICAZ fregões, escovas e panos). O desinfectante deve ser o indicado para cada situação. |II.2.2.2 – TRATAMENTO DA LOIÇA| O tempo de acção do produto deve ser o indicado. Antes de desinfectar, é necessário lavar conveniente- A louça merece uma atenção especial. mente. Na presença de sujidade, a desinfecção não é - Há necessidade de se tomarem precauções durante o eficaz e a acção do desinfectante será em grande parte tratamento da loiça que vem da sala de refeições. Para desactivada. evitar um dos maiores perigos – que consiste nas con- A quantidade de desinfectante a utilizar deve respeitar a taminações cruzadas –, o transporte da loiça e dos res- dosagem prescrita para cada situação. tos de comida deve ser organizado de forma a evitar o A temperatura da água na qual o desinfectante é diluído cruzamento com loiça limpa. Todos os que aí trabalham não pode ser demasiado elevada para não desactivar o devem conhecer os percursos da loiça limpa e da suja. produto. - Na copa suja (o local destinado à lavagem da loiça e dos utensílios) os restos de alimentos que ficam nos pra- CONSELHOS PRÁTICOS tos devem ser rapidamente despejados para os recipien- tes do lixo. - Para evitar a contaminação dos alimentos assim como - Toda a loiça que se encontre danificada (por exemplo a contaminação cruzada, é muito importante assegurar rachada, lascada) deverá ser substituída. uma correcta limpeza das instalações e de todos os equi- - A lavagem da loiça deverá ser realizada na máquina pamentos e utensílios. de lavar. - Não se pode varrer a seco o pavimento das áreas de . Uma máquina da loiça correctamente regulada é ge- manipulação de alimentos e salas de refeições. Devem ralmente mais rápida, económica e higiénica. ser utilizados utensílios de limpeza que não levantem . As instruções de funcionamento devem ser claras e poeira. estar, de preferência, afixadas. - De preferência, devem ser utilizados materiais descar- . As temperaturas da água, do ar, o dispositivo de dose- táveis para a limpeza e desinfecção das bancadas, de for- amento, etc. deverão ser aferidos periodicamente. ma a evitar focos de contaminação. - Quando for necessário lavar alguns utensílios à mão, a - A limpeza deve ser realizada de cima para baixo, tendo água que se utiliza deve estar muito quente e limpa. o cuidado de não salpicar as zonas que já foram limpas. . Primeiro procede-se à lavagem da loiça numa solu- - Nunca utilizar para limpar superfícies de trabalho, me- ção a cerca de 400 C e depois deve-se passá-la por água sas, paredes e equipamentos, utensílios que se usem muito quente e limpa. para limpar o chão. . A água deve ser mudada frequentemente e não se deve - Não utilizar o mesmo equipamento de limpeza nas ca- deixá-la estagnada no lava-loiça. sas de banho e nas zonas de preparação de alimentos. - A loiça e os utensílios devem secar ao ar. Não se de-
  • 23. |23 ve utilizar panos para secar a loiça. Os panos são uma biológico às superfícies limpas e desinfectadas. das maiores fontes de propagação de microrganismos. - É necessário fazer uma distinção correcta entre a loiça |II.2.2.4 – ARMAZENAGEM DE PRO- limpa e a suja. Deve estar previsto um local separado DUTOS DE LIMPEZA| para se colocar quer a loiça limpa quer a suja. Os produtos de limpeza devem estar armazenados em locais fechados e identificados, separados dos produtos |II.2.2.3 – PLANO DE LIMPEZA E DE- alimentares. SINFECÇÃO| Estes produtos deverão ser guardados sempre nas suas embalagens de origem, no entanto, se for necessário Em cada estabelecimento deve haver um plano de lim- transferi-los para outros recipientes, estes terão de ser peza e desinfecção, do qual conste: identificados com rótulos. - o que deve ser limpo e desinfectado; Em nenhum caso é possível utilizar embalagens de pro- - quando deve ser limpo e desinfectado; dutos de limpeza e outros produtos químicos para guar- - como deve ser limpo e desinfectado; dar alimentos e vice-versa. - quem deve limpar e ou desinfectar. Estabelecer um plano de limpeza e desinfecção exige RESUMINDO: um bom conhecimento e uma utilização apropriada dos FICHA: Recomendações para um esquema de limpeza/ produtos. É necessário utilizar um produto adequado, desinfecção/plano de limpeza (F1, F2) no local apropriado e na quantidade certa, respeitando REGISTO: Controlo das operações de limpeza (R1) sempre as indicações do fabricante. O plano também CONTROLO: Visual e microbiológico deve conter quais os equipamentos ou materiais especí- ficos que serão necessários para a execução do mesmo. Para assegurar que cada operação de limpeza e de de- sinfecção é efectivamente executada, é recomendável afixar o esquema de limpeza num local que facilite a sua consulta (sugestões no final do manual). O controlo dos procedimentos de limpeza e desinfecção das instalações e equipamentos pode ser realizado de duas formas: - verificação regular da execução dos procedimentos de limpeza e de desinfecção; - inspecção visual. Para facilitar este controlo, poderá existir uma listagem de verificações a executar em diferentes locais, como as cozinhas, as instalações dos que aí trabalham e os arma- zéns (exemplos no final deste manual). Deverá ser feito ao longo do ano um controlo micro-
  • 24. 24| tipo de tratamento, o seu controlo e a sua manutenção. |CAPÍTULO II.3 – CONTROLO DE Nestes casos, recomenda-se que se tenha os seguintes ABASTECIMENTO DE ÁGUA| registos: boletins de análises periódicas; fichas técnicas dos produtos utilizados no tratamento da água; registo Todas as empresas alimentares devem ter de medidas correctivas. um abastecimento adequado de água potá- vel. No território português a legislação (DL 306/2007) define os padrões físico-químicos GELO e biológicos que a água tem de observar para O gelo que contacta com os alimentos ou que, de algum ser considerada potável, ou seja, adequada modo, os possa contaminar tem de ser fabricado com para o consumo humano. água potável. Tem de ser ter cuidado para não contami- nar o gelo quer no seu fabrico quer na sua armazena- A tarefa de verificar a conformidade da qualidade da gem. água compete aos responsáveis pela rede de distribui- Mais indicações podem ser encontradas na legislação ção. Como, geralmente, a grande maioria dos estabele- em vigor, nomeadamente no Regulamento nº 852/2004 cimentos são abastecidos com água da rede pública, os de 29 de Abril, e no Decreto-Lei 306/2007 de 27 de Agos- mesmos deverão pedir à entidade gestora da rede pú- to. blica os boletins de análise do controlo da água. No en- tanto, é necessário referir-se que a responsabilidade da entidade gestora cessa sempre que se comprove que o |CAPÍTULO II.4 – CONTROLO DE PRA- incumprimento dos resultados das análises ocorre devi- GAS| do a deficiências do sistema de distribuição predial (isto é, nas canalizações, acessórios ou outros aparelhos ins- Existem certos animais que são considerados talados entre as torneiras e as redes de distribuição, que nocivos e que, portanto, são indesejáveis nos não sejam da responsabilidade da entidade gestora). Os locais onde se manipulam, armazenam e co- responsáveis dos estabelecimentos, além de solicitar à mercializam alimentos. A sua presença cons- entidade gestora de distribuição de água os resultados titui um perigo importante para a segurança periódicos de análises, também podem periodicamente dos alimentos. Estes animais são habitual- efectuar análises de rotina para atestar a qualidade da mente designados por pragas ou parasitas. água. Dentre estes há alguns que constituem o grupo de pra- Quando a água utilizada no estabelecimento não pro- gas mais frequentes nos estabelecimentos de hotelaria, vém da rede pública de abastecimento, mas de uma fon- de restauração e de bebidas, dos quais destacamos: te individual, como por exemplo um furo ou uma mina, - pássaros; os mesmos são equiparados a um sistema de gestão de - roedores (ratos, ratazanas, etc.); água e devem cumprir todas as imposições presentes - insectos: no Decreto-lei já referido. Relembramos alguns aspec- . rastejantes ( baratas, formigas, etc.); tos que têm de ser tidos em conta: a origem do abaste- . voadores (borboletas, moscas, mosquitos, etc). cimento, o armazenamento e distribuição, assim como o Estes animais, como todos os seres vivos, necessitam de
  • 25. |25 condições favoráveis ao seu desenvolvimento, como se- - instalar electrocutores nos locais de entrada e saída das jam: alimento, humidade, calor. Todas estas condições instalações; podem ser facilmente encontradas nos locais onde se - proceder à descartonagem das embalagens terciárias manipulam alimentos. dos produtos na recepção dos mesmos; - manter os locais de manipulação e armazenagem de INDÍCIOS DA PRESENÇA DE PRAGAS produtos em perfeito estado de limpeza (proceder à lim- peza sempre que se derrame ou espalhe um produto); É de primordial importância observar as instalações - manter os ralos e as caleiras em bom estado de limpeza para descobrir sinais que manifestem a presença de pra- e conservação; gas, de forma a poderem ser tomadas rapidamente as - colocar os resíduos sólidos (lixo) sempre em caixotes medidas correctivas convenientes. A título de exemplo com tampa e mantê-los sempre fechados. indicam-se alguns desses indícios: - presença de dejectos, ovos, larvas, pêlos de animais; 2. Controlo de Exclusão - presença de cadáveres de animais; Este tipo de controlo pode ser realizado quer por meios - cheiros inusuais; físicos, quer por meios químicos. No primeiro caso pode - presença de pegadas ou outros indícios da passagem usar-se, para este efeito, equipamentos como electrocu- de pragas; tores, barreiras de ar forçado nas entradas, armadilhas, - presença de embalagens ou outros acessórios roídos entre outros. Os meios químicos compreendem a uti- ou danificados; lização de substâncias químicas, como por exemplo in- - presença de barulhos correspondentes ao arranhar, ao secticidas, pesticidas, raticidas, etc. bicar, ao roer… QUEM DEVE FAZER O CONTROLO DE TIPOS DE CONTROLO DE PRAGAS PRAGAS? O controlo de pragas pode ser de dois tipos: Geralmente, os produtos químicos para o combate de - controlo preventivo pragas são muito perigosos, pelo que as desinfestações - controlo de exclusão devem ser executadas por técnicos especializados. Quando se contratam empresas para executarem este 1. Controlo Preventivo serviço, devem ser solicitadas às mesmas as seguintes O controlo preventivo consiste essencialmente em im- informações: pedir a entrada e/ou a permanência das pragas nas ins- - plano anual de controlo de pragas; talações. Para se alcançar este objectivo, existe um con- - fichas técnicas e segurança dos produtos utilizados; junto de medidas que deve ser posto em prática: - relatório de visitas; - colocar redes mosquiteiras nas janelas e aberturas para - mapa de localização de iscos (a utilização dos mesmos o exterior; tem de ser muito bem ponderada, pois os iscos podem - colocar protecções nas portas (por exemplo, molas de ser também uma fonte de atracção de pragas). retorno, cortinas de lamelas, etc.); - manter as portas e as janelas fechadas;
  • 26. 26|
  • 28. 28| |CAPÍTULO III.1 – APRESENTAÇÃO 7 –elaboração de documentos e registos adequados à DO HACCP – BREVE EXPOSIÇÃO TE- natureza e dimensão da empresa, a fim de demonstrar ÓRICA| a aplicação eficaz das medidas referidas nos princípios anteriores. |III.1.1 – O QUE SIGNIFICA HACCP?| |CAPÍTULO III.2 – HACCP – BREVE EX- HACCP – “Hazard Analysis Critical Control Points” mais PLICAÇÃO TEÓRICO / PRÁTICA| não significa, em Português, do que Análise de Perigos e Controlo de Pontos Críticos. O responsável de um estabelecimento deverá O HACCP consiste num sistema baseado na identifica- analisar todas as operações que compõem o ção e avaliação de perigos específicos e na implementa- processo produtivo, desde a recepção da ma- ção de medidas para o seu controlo, focadas na preven- téria-prima até ao serviço das refeições aos ção e não na análise do produto final, de forma a garantir seus clientes. Deve identificar as etapas de a segurança dos alimentos. transformação dos alimentos potencialmente perigosas e inseguras para a saúde, de forma |III.1.2 – PRINCÍPIOS DE HACCP| a poder estabelecer controlos suficientes para minimizar os riscos de toxinfecções ali- A legislação refere-se aos sete princípios do método de mentares. HACCP, que são os seguintes: A aplicação da metodologia HACCP obriga 1 – identificação de quaisquer perigos que devam ser evi- a um conhecimento profundo do produto, do tados, eliminados ou reduzidos para níveis aceitáveis; seu processo de fabrico e da sua posterior 2 – identificação dos pontos críticos de controlo na fase utilização. ou nas fases em que o controlo é essencial para evitar ou eliminar um perigo ou para o reduzir para níveis aceitá- |III.2.1 – O QUE É NECESSÁRIO FA- veis; ZER?| 3 – estabelecimento de limites críticos em pontos de controlo, que separem a aceitabilidade da não aceitabili- - Identificar possíveis perigos, aquilo que pode ser noci- dade, com vista à prevenção, eliminação ou redução dos vo (1º Princípio do HACCP): perigos identificados; . avaliar os perigos alimentares que podem existir no 4 – estabelecimento e aplicação de processos eficazes de estabelecimento; vigilância em pontos críticos de controlo; . identificar as áreas/etapas em que os mesmos podem 5 – estabelecimento de medidas correctivas quando a ocorrer. vigilância indicar que um ponto crítico não se encontra - Identificar aqueles pontos que são críticos para assegu- sob controlo; rar a segurança alimentar, isto é, em que podem ocorrer 6 – estabelecimento de processos a efectuar regular- os perigos alimentares (2º Princípio do HACCP). mente, para verificar se as medidas referidas nos princí- pios 1 a 5 funcionam eficazmente;
  • 29. |29 |III.2.2 – PROCEDIMENTOS DE CON- cumprir os requisitos legais e assegurar a higiene e a TROLO| segurança alimentar. Após ter identificado alguns possíveis focos de proble- |III.2.3 – INTRODUZINDO PROCEDI- mas, o responsável do estabelecimento tem de os con- MENTOS DE CONTROLO| trolar e de assegurar aos clientes que o faz. Para isso, deve: Os mecanismos de controlo devem ser: - garantir que existem controlos de segurança nesses - compreensíveis, para que todos os manipuladores per- pontos críticos para acautelar a segurança alimentar cebam a sua finalidade e importância; (Princípios 3º e 4º); - efectivos, para que garantam que os perigos são elimi- - vigiar (monitorizar) regularmente os controlos para ve- nados ou reduzidos a um mínimo aceitável; rificar que trabalham eficientemente; - práticos, para que possam ser aplicados de uma forma - manter e rever todos os controlos; simples à realidade da empresa. - rever, controlar e monitorizar os procedimentos (tam- Exemplo de controlos que se devem efectuar: bém sempre que as operações alimentares mudem) - verificação das matérias-primas; (Princípios 6º e 7º). - rotação de stocks; A natureza e a complexidade do sistema utilizado irá, - verificação das temperaturas de armazenagem; na prática, depender da natureza e da complexidade do - aplicação correcta das regras de cozedura e de reaque- processo produtivo. cimento; Os documentos escritos e os registos são de grande - controlo de qualidade dos óleos de fritura. utilidade, tanto como forma de responsabilização dos manipuladores como para a organização da empresa, e |III.2.4 – VERIFICAÇÃO DOS PROCE- ainda para esta demonstrar, às diferentes entidades, que DIMENTOS DE CONTROLO| cumpre a legislação. Provavelmente, em muitas empresas, já se aplicam mui- A identificação e o controlo de perigos alimentares é um tos controlos. Mesmo assim, todos os procedimentos da processo contínuo. empresa deverão ser revistos e avaliados os potenciais A definição da frequência dos controlos está relaciona- perigos. Poderão ser detectados problemas que até ao da com a natureza e as dimensões da empresa e com a momento não se tinham evidenciado ou, pelo contrário, complexidade do processo produtivo. poderá verificar-se que os controlos estão a funcionar Devem existir documentos de referência, como por correctamente. Isto é especialmente importante em cer- exemplo, as temperaturas de conservação dos alimen- tos pontos das operações, depois dos quais não vão exis- tos, etc. tir mais controlos que eliminem ou controlem os peri- Cada empresa deve criar e organizar os seus modelos de gos para a segurança alimentar (por exemplo, produtos registos e de documentos de forma a demonstrar que: que se consomem crus, ou que se cozinham, mas que se - o sistema de controlo está efectivamente a funcionar comem frios). e que os alimentos confeccionados são inócuos para os A análise de perigos irá ajudar a decidir o nível de con- clientes; trolo que é necessário e apropriado para a empresa - quando se detecta que as medidas de controlo não são
  • 30. 30| eficazes, serão desenvolvidas acções correctivas; |FÍSICOS| - todos os procedimentos são regularmente revistos, es- pecialmente quando se alteram procedimentos de tra- Os alimentos podem ser contaminados com algum ele- balho; mento estranho à sua composição, como por exemplo - se procede à identificação, monitorização dos pontos um fragmento de vidro. críticos e dos limites críticos. |QUÍMICOS| |III.2.5 - POR ONDE COMEÇAR? QUE TIPO DE PERIGOS EXISTEM? COMO Contaminação dos alimentos com produtos químicos, IDENTIFICAR OS PERIGOS E AS ETA- como produtos de limpeza, insecticidas ou lubrificantes PAS EM QUE OCORREM?| de máquinas. |III.2.5.1 - POR ONDE COMEÇAR?| |BIOLÓGICOS/MICROBIOLÓGI- COS| O primeiro passo consiste em formar uma equipa de tra- balho que, em conjunto, identificará os potenciais peri- Contaminação dos alimentos devido à presença de pra- gos alimentares que podem ocorrer no estabelecimento. gas ou de microrganismos patogénicos, como por exem- Esta equipa poderá necessitar do apoio de técnicos com plo salmonelas (ver parte I- breves noções de contami- conhecimentos específicos em Higiene e Segurança Ali- nações). mentar e do suporte de alguns manuais, devendo ter o conhecimento da legislação existente. |III.2.5.3 – COMO IDENTIFICAR OS Esta equipa deverá analisar: PERIGOS E AS ETAPAS EM QUE OCOR- - os aspectos operacionais da empresa; REM?| - as condições e os procedimentos de trabalho actual- mente existentes; Como posso identificar os potenciais perigos? Em que - o nível de conhecimentos em Higiene e Segurança Ali- etapas poderão os mesmos ocorrer? Como decidir sobre mentar dos colaboradores o tipo de controlo possível? - os potenciais perigos. Para facilitar a identificação dos potenciais perigos, co- |III.2.5.2 – QUE TIPO DE PERIGOS nhecer as etapas em que os mesmos poderão ocorrer, EXISTEM?| bem como decidir o tipo de controlo possível, poderá ser útil desenhar um fluxograma (ou um percurso genérico Essencialmente existem três categorias de perigos ali- dos alimentos) que inclua as etapas do processamen- mentares: Físicos, Químicos, Biológicos/Microbiológi- to de alimentos, desde a recepção das matérias-primas cos. até ao serviço ao cliente, e também traçar um plano de HACCP.
  • 31. |31 |CAPÍTULO III.3 – HIGIENE ALIMEN- rencia de intoxicações alimentares, e definindo-se me- TAR E APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS todologias de controlo para as diferentes etapas do pro- DE HACCP| cesso produtivo, independentemente dos pratos especí- |Proposta de aplicação dos princípios ficos a confeccionar. A proposta consiste em estabelecer de HACCP no sector de hotelaria e da pontos de controlo críticos para as matérias-primas, restauração e bebidas| para os procedimentos culinários comuns a vários pra- tos, para o comportamento individual dos funcionários, para as condições estruturais dos locais onde se efectu- |III.3.1 – INTRODUÇÃO| am as operações culinárias, etc. Um estabelecimento de Restauração e de Bebidas, tal |III.3.2. – PERCURSOS GENÉRICOS como um estabelecimento de Hotelaria, com serviço de DOS ALIMENTOS / FLUXOGRAMAS| alimentação e de bebidas, é também considerado uma empresa alimentar. No entanto, é para todos evidente Como já referimos, os restaurantes (bem como os esta- que, dentro do sector alimentar, estes estabelecimentos belecimentos de hotelaria, enquanto prestadores de ser- apresentam características específicas que os distin- viços de alimentação e bebidas), apesar de serem empre- guem das outras empresas alimentares, nomeadamen- sas alimentares, apresentam uma particularidade que os te: distingue das restantes empresas: confeccionam uma - confeccionam uma grande variedade de pratos, geral- grande variedade de pratos e produtos, geralmente em mente num curto espaço de tempo e em simultâneo, e simultâneo e num curto espaço de tempo, para consumo maioritariamente para consumo imediato; imediato. Estes factores dificultam a implementação de - usam uma multiplicidade de matérias-primas; um sistema HACCP clássico, razão pela qual sugerimos - sujeitam os alimentos a uma elevada manipulação du- a implementação do sistema HACCP segundo o modelo rante a sua confecção. cujo percurso vai ser detalhado através do Fluxograma Por todos estes motivos, e apoiados no Regulamento desenhado. nº 852/2004, concretamente na flexibilização da apli- Esta abordagem dos princípios do HACCP, tal como já a cação dos princípios HACCP, entendemos (de acordo apresentámos anteriormente, desenvolve-se por blocos com o que já fizemos no “Código de Boas Práticas de ou etapas, permitindo identificar em cada uma os pon- Higiene para a Restauração” da UNIHSNOR) que a tos que têm de ser controlados para prevenir a ocorrên- implementação de um sistema de segurança alimentar cia de toxinfecções alimentares. baseado nos princípios de HACCP deve ser alicerçada em blocos, etapas ou processos e não em pratos confec- Habitualmente, num estabelecimento, podemos dividir cionados. Por outras palavras, a abordagem incide nas em três grandes grupos o fluxo dos alimentos: etapas do processo – Recepção das matérias-primas, Armazenagem, Preparação de alimentos, Confecção e Serviço –, identificando-se em cada uma os potenciais perigos, os pontos a controlar para prevenir a ocor-
  • 32. 32| 1.RECEPÇÃO - ARMAZENAGEM - PRE- complexos. PARAÇÃO - SERVIÇO Neste grupo, encontramos preparações dissociadas de alimentos ou a preparação de alimentos de véspera e No primeiro grupo, estamos perante processos nos com muita antecedência, e que, por isso, podem passar quais não ocorre nenhum tratamento pelo calor, ou seja, mais de uma vez pela “zona de perigo” de desenvolvi- não há cozedura. Podemos ainda dizer, de outra forma, mento dos microrganismos (50C a 650C). Nestes casos, que este tipo de alimentos, se devidamente conserva- há inclusivamente a hipótese de os mesmos poderem dos, não se encontram na “zona de perigo” de desenvol- vir a ser recontaminados após a sua confecção. vimento dos microrganismos (50C a 650C). Como vimos anteriormente, a grande maioria dos microrganismos Como exemplo de pratos confeccionados, poderíamos desenvolvem-se entre os 50C e os 650C. indicar quase todos. A grande diferença deste grupo consiste nos procedimentos. Exemplos de alimentos que podem estar dentro deste Mesmo assim, referimos alguns exemplos: bacalhau grupo: alimentos prontos a comer, produtos de charcu- com natas e arroz de pato, entre tantos outros. taria, produtos de pastelaria, sandes, saladas. Assim, apresentamos um plano de HACCP sustentado 2.RECEPÇÃO - ARMAZENAGEM - CON- num fluxograma genérico, onde estão representadas to- FECÇÃO - SERVIÇO das as etapas pelas quais os produtos passam desde a sua aquisição ou recepção até ao seu consumo: Recep- Neste segundo grupo, consideramos as refeições que ção, Armazenagem, Preparação, Confecção, Serviço. são confeccionadas e servidas de seguida ao cliente. Neste tipo de preparação, os alimentos são cozinhados Em cada etapa apresentamos um esquema detalhado de forma a destruírem os microrganismos patogénicos das operações, especificando os passos entre a prepa- (prejudiciais). Considera-se que estes produtos apenas ração e o serviço, de forma a abranger várias operações passam uma vez pela “zona de perigo” de desenvolvi- culinárias. mento dos microrganismos (50C a 650C). O percurso dos alimentos deve ser o mais linear pos- sível, isto é, seguir segundo uma linha directa desde a Exemplos de alimentos que podem estar neste grupo: recepção ao serviço (sistema de marcha em frente). Sa- tripas à moda do Porto, peixe assado, prego no prato, en- bemos que nem sempre isto é possível devido à falta de tre tantos outros. espaço. Há situações em que os alimentos, saindo da preparação e da confecção, voltam a ser armazenados 3.RECEPÇÃO - ARMAZENAGEM - PRE- nas câmaras refrigeradas até ao momento de serem ser- PARAÇÃO - ACONDICIONAMENTO vidos ou cozinhados. CONFECÇÃO - ARREFECIMENTO - Exemplos: CONSERVAÇÃO - REAQUECIMENTO - - uma salada de vegetais servida ao cliente logo após a SERVIÇO preparação ou que é armazenada no frigorífico e servida mais tarde; Estamos perante um conjunto de procedimentos mais